• Nenhum resultado encontrado

O Isomorfismo Institucional nos Teatros da Região Metropolitana do Recife

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "O Isomorfismo Institucional nos Teatros da Região Metropolitana do Recife"

Copied!
14
0
0

Texto

(1)

In: ENCONTRO DE ESTUDOS ORGANIZACIONAIS, 2., 2002, Recife. Anais... Recife: Observatório da Realidade Organizacional : PROPAD/UFPE : ANPAD, 2002. 1 CD.

O Isomorfismo Institucional nos Teatros da Região Metropolitana do Recife

Flávia Lopes Pacheco

Resumo

O presente trabalho tem como objetivo principal analisar até que ponto os elementos ambientais favorecem um processo isomórfico nos teatros da região metropolitana do Recife. Para isso, foi elaborado um questionário para a realização de uma pesquisa em todos os teatros da região e, depois de uma análise minunciosa de questões como tamanho da organização, tempo de funcionamento e quantidade de peças que apresenta, seis desses teatros foram selecionados para uma análise mais aprofundada. Primeiramente é feita uma descrição do ambiente institucional em que os teatros atuam, onde são demonstradas as várias inter-relações existentes entre os diversos atores sociais que formam o campo organizacional, depois dá-se uma ênfase especial aos seis teatros pesquisados, principalmente no que diz respeito a suas estruturas e processos, a fim de se verificar a existência de algum tipo de pressão isomórfica entre eles.

Abstract

This paper has as main goal the importance of analyze how the environment elements make easier the appearance of an isomorphic process on the theaters at metropolitan area of Recife. For that, it was elaborated a structured research in all the theaters from the area and, after a criterious analysis about questions as size, age of existence and number of plays, six of them had been chosen for a deeper analysis. First of all its made the description of the institutional environment where the theaters act, and the many inter relations which exists between the many social actors who belongs to the organizational field are shown, after that is given a special emphasis on the six theaters analyzed more deeply, specially in its structures and processes, this is necessary to verify the existence of some kind of isomorphic pressure between them.

Introdução

É acordado que o teatro ocidental começou na Grécia, há muitos séculos atrás. A sua origem, segundo Andrade (2000), está ligada aos antigos mitos e à religião grega. Conforme a autora cita, o teatro se originou a partir de um acervo de mitologias, religiões e rituais que foram construídos pelo homem primitivo numa tentativa de explicação, compreensão e controle do mundo.

Com o passar dos anos, o que era somente um grupo de pessoas que se reuniam em ocasiões especiais para fazer representações teatrais com a finalidade de entretenimento, foi se aprimorando. Assim, a arte de fazer teatro iniciou um processo de profissionalização, adquirindo um público maior que antes, o que tornou necessária a construção de um espaço onde as várias apresentações pudessem ser mostradas, surgindo assim, o que hoje denominamos teatro.

O presente estudo procura conceber o teatro, não como arte, mas como o edifício onde são representadas obras dramáticas, a partir da análise da sua estrutura e processos organizacionais.

Reid (1990) aponta que, dependendo do tipo de propriedade, financiamento e programação, os teatros podem ser divididos em oito tipos, a saber: teatro comercial,

(2)

sociedades teatrais, teatros municipais, teatros em centros culturais, teatros universitários, teatros de festival, teatro de aficcionados e teatros ocasionais.

O Estado de Pernambuco, devido a sua grande diversidade cultural, é um campo fértil para a manifestação de diferentes atividades artísticas, tal como o teatro. Somente na região metropolitana do Recife existe, aproximadamente, cerca de vinte teatros que satisfazem aos padrões de organizações teatrais considerados por Reid (1990).

Este fato, por si só, já é de importância fundamental para o estudo da administração, pois a existência de organizações culturais e, mais especificamente teatrais, com uma boa representatividade e expressividade dentro da região metropolitana do Recife, torna necessária uma maior análise do ambiente a fim de identificar as relações entre os diversos atores envolvidos no processo de estruturação do campo organizacional.

Além disso, independente do tipo ou da forma como se apresentam, os teatros são organizações muito sensíveis ao seu ambiente institucional, pois se pode perceber que a maioria das decisões estratégicas tomadas por seus gestores estão fundamentadas na obtenção de legitimidade, enquanto que as preocupações inerentes ao ambiente técnico de suas atividades de trabalho, onde a eficácia e a produtividade são peças fundamentais, são postas em segundo plano.

Para sobreviver, o teatro precisa da credibilidade do público, e para que isso seja obtido, os dirigentes destas instituições acabam tomando decisões muito mais congruentes com o seu ambiente institucional do que aquelas de caráter exclusivamente técnico.

Sobre esta observação, pode-se perceber que, para se entender o funcionamento da organização, deve-se analisá-la a partir das suas transações com o seu ambiente específico. Neste caso, o presente trabalho analisa as organizações teatrais utilizando os critérios propostos por Meyer e Scott (1983), que perceberam a existência de dois tipos distintos de ambiente: o técnico que envolve tecnologias complexas e trocas de produtos ou serviços em um mercado no qual as organizações buscam eficiência e efetividade nos processos de trabalho; e o ambiente institucional, que envolve regras e valores socialmente aceitos a partir do estabelecimento de estruturas e processos corretos a fim de receber suporte e legitimidade do ambiente.

Recentemente, algumas perspectivas na Teoria Organizacional deixaram de enfatizar a tecnologia para colocar o ambiente como determinante central da estrutura organizacional. A perspectiva institucional avalia a organização em interação com o ambiente do qual faz parte, destacando a presença marcante dos elementos culturais – valores, símbolos, mitos, sistemas de crenças e programas profissionais - e argumenta que tais organizações adotam determinadas estruturas e processos em busca de uma legitimidade em relação ao seu ambiente institucional, a fim de garantir a sua sobrevivência e sucesso.

Desta forma, o presente estudo procura analisar as organizações teatrais a partir da utilização da abordagem institucional sociológica e seus principais conceitos, dando ênfase ao caráter simbólico de diversas ações cotidianas destas organizações que, segundo Carvalho (2000), são configuradas por valores, crenças e mitos compartilhados por seus diferentes grupos internos.

Através desta análise, esta pesquisa faz uma descrição do ambiente institucional em que os teatros atuam, demonstrando as várias inter-relações existentes entre os diversos atores sociais que formam o campo organizacional, dando uma ênfase especial aos seis teatros pesquisados no que diz respeito a suas estruturas e processos, a fim de se verificar a existência de algum tipo de pressão isomórfica entre eles.

O ambiente técnico versus o ambiente institucional

Ao longo do tempo, nos estudos organizacionais, o conceito de ambiente sofreu mudanças profundas, saindo de uma categoria residual para assumir uma posição de destaque.

(3)

Talvez esta reconceitualização do ambiente das organizações seja a contribuição mais importante dos teóricos institucionais para o estudo das organizações.

O funcionamento da organização deve ser analisado a partir das transações contínuas com o seu ambiente específico e, para que isso seja realizado, deve-se levar em consideração a existência de dois tipos de ambiente distintos: o ambiente técnico e o ambiente institucional. Segundo Scott (1991) houve um grande progresso científico ao se distinguir mais claramente o ambiente institucional do ambiente técnico.

De acordo com Meyer e Scott (1983), o ambiente técnico envolve tecnologias complexas e trocas de produtos ou serviços em um mercado no qual as organizações são recompensadas pelo controle eficiente e eficaz de seu processo de trabalho. Em contraste, os autores sugerem que o ambiente institucional é caracterizado pela elaboração de regras e valores socialmente aceitos, aos quais as organizações deverão se adequar se pretenderem receber suporte e legitimidade do ambiente.

Segundo a perspectiva do ambiente técnico, as organizações estão direcionadas a questões de âmbito econômico, buscando reduzir a incerteza do ambiente a partir da eficiente aplicação dos recursos na produção de bens e serviços para serem postos no mercado (Pfeffer e Salancik; Scott apud Oliver, 1997). Nesta perspectiva, os elementos essenciais que devem ser percebidos são aqueles que estão relacionados com a produção econômica como terra, capital, trabalho e suprimentos (Jacobs apud Oliver, 1997).

Por outro lado, a concepção do ambiente institucional enfatiza que os valores de sobrevivência das organizações estão baseados na estabilidade, legitimidade, aceitabilidade social e prestígio (DiMaggio, 1988). Os mecanismos de controle ambiental sobre as organizações não são dependências de recursos, mas regras, regulamentações e inspeções (Meyer et al., 1983).

O Quadro descrito a seguir aponta, a partir da análise das dimensões relevantes ao ambiente, as principais diferenças entre as perspectivas institucional e técnica.

Quadro 1: Perspectiva do ambiente institucional versus ambiente técnico

Dimensões relevantes Ambiente institucional Ambiente técnico

Contexto ambiental Político e legal Mercado

Fator de demanda chave Legitimidade Recursos

Tipo de pressão Coercitiva, mimética e

normativa Competitiva

Constituintes chave Estado, agências e associações profissionais Fontes de fatores de produção escassas Mecanismos de controles externos Regras, regulamentações, inspeções Troca crítica de dependências Fatores do sucesso organizacional Conformidade às regras e normas institucionais Aquisição e controle de recursos críticos Fonte: Oliver (1997, p.102)

Os modelos que tendiam a dar uma atenção exclusiva ao ambiente técnico foram recentemente desafiados, pois se demonstrou que este ambiente acabava incorporando elementos simbólicos e culturais, o que fazia com que perdesse o seu caráter exclusivamente técnico, tornando-o também institucionalizado. As idéias institucionais deixam de lado a visão das organizações por um prisma técnico e racional, e passam a aceitá-las como conectadas e construídas por um ambiente social maior.

As críticas ao ambiente técnico podem ser encontradas também no trabalho de Simon (apud Wood Júnior, 1995) quando este apresenta o seu conceito de ‘racionalidade limitada’ onde o autor afirma que as organizações não podem ser consideradas totalmente racionais,

(4)

pois os seus membros possuem uma rede limitada de informações. Este fato pode ser contornado pela criação de planos, normas e procedimentos, que têm a função de simplificar a realidade organizacional. O que demonstra que as atitudes das organizações estão também fortemente baseadas em questões institucionais.

Scott (1991) prefere tratar as diferenças entre os dois tipos de ambiente como dimensões nas quais os ambientes variam. Para ilustrar esta proposta, o autor apresenta as instituições bancárias, que sofrem fortes pressões tanto técnicas quanto institucionais. Já os clubes de saúde sofrem pouca pressão técnica e também institucional. Organizações como igrejas e escolas se confrontam com baixas pressões técnicas, porém altas pressões isomórficas. E, por fim, empresas manufatureiras operam em ambientes de alta pressão técnica e baixa pressão institucional.

Portanto, não há uma dicotomia entre os dois tipos de ambiente, eles fazem parte de um contínuo, onde todas as organizações apresentam características que permitem todo tipo de combinação e, por isso, não se deve tomar apenas um deles como base de interpretação. (Carvalho, Vieira e Lopes, 1998).

O campo organizacional

DiMaggio (1991) salienta a importância do conceito de campo organizacional quando determina que, para que se entenda a institucionalização das formas organizacionais, é necessário que sejam compreendidos os processos de institucionalização e estruturação do campo organizacional. No entanto, segundo o autor, este conceito não tem recebido muita atenção nos trabalhos de teoria institucional.

Vieira, Carvalho e Lopes (2001) apontam que os motivos para o baixo interesse no conceito de campo organizacional podem ser observados no pequeno número de trabalhos empíricos que tratam de questões de formação e estruturação dos campos organizacionais, o que é explicado pelo maior interesse dos pesquisadores nas relações de competição que colocam como foco as esferas do mercado.

O conceito de campo organizacional definido por DiMaggio e Powell (1983), compreende um conjunto de organizações que, no agregado, constituem uma área de reconhecida da vida institucional: fornecedores-chave, clientes de recursos e produtos, agências reguladoras e outras organizações que dispõem de produtos ou serviços semelhantes, pressupõe que as organizações operam em um “espaço” no qual os efeitos das outras organizações que operam neste campo são observadas de forma mais intensa. Assim, é possível perceber uma tendência isomórfica dentro de um campo organizacional (Leão Júnior, 2001).

DiMaggio e Powell (1991) identificam alguns indicadores de mudança isomórfica, percebidos em dois níveis: o nível organizacional e o nível do campo organizacional, explicados conforme o Quadro 2.

Quadro 2: Indicadores de mudança isomórfica

Nível Organizacional Nível do Campo Organizacional Isomorfismo

1) quanto mais dependentes são as organizações, mais parecidas elas se tornam

1) quanto mais o campo depende de um recurso único, maior o grau de isomorfismo

Coercitivo 2) a uma maior centralização no

suprimento de recursos, maior a dependência das outras organizações

2) quanto maior a interação do campo com o Estado, maior o grau

de isomorfismo Coercitivo

3) quanto maior a incerteza, mais as organizações tentarão copiar modelos bem sucedidos

3) quanto menor o número de organizações modelo, mais rápido é

(5)

4) Quanto maior a ambigüidade das metas, maior a probabilidade das organizações imitarem as bem sucedidas

4) quanto maior a incerteza tecnológica, maior o padrão de

isomorfismo Mimético

5) quanto maior a participação dos membros das organizações em associações profissionais, maior a similaridade entre as organizações

5) quanto maior o profissionalismo no campo, maior o grau de

isomorfismo Normativo

Fonte: Adaptado de DiMaggio e Powell (1991)

Utilizando estes indicadores, Leão Júnior et al. (2001) analisaram dois museus e dois teatros das cidades de Porto Alegre e Recife e perceberam que, no nível organizacional, as instituições em estudo estão sofrendo um processo de mudança isomórfica normativa, coercitiva e mimética.

No que diz respeito ao campo organizacional, os autores demonstraram que o grau de isomorfismo coercitivo tende a ser maior que os demais mecanismos isomórficos devido ao fato de que as organizações analisadas dependem financeiramente de órgãos governamentais, que regulam as suas atividades.

Vieira, Carvalho e Lopes (2001) fazem uma análise do campo organizacional de oito museus e teatros de Porto Alegre utilizando o conceito de campo organizacional definido por DiMaggio e Powell (1983) e Scott (1995), associado ao poder simbólico de Bordieu (1989). Concluíram que ainda existe uma fragilidade no campo organizacional dos museus e teatros do sul do Brasil, que as instâncias do poder público municipal e estadual são responsáveis pela legitimação de um sistema que incide na construção da realidade social vigente, e que a força exercida pelo poder público faz com que a similaridade seja causada muito mais por pressão isomórfica coercitiva que mimética.

Os dois trabalhos acima apresentados (Leão Júnior et al., 2001; Vieira, Carvalho e Lopes, 2001) percebem o Estado como um agente de grande poder dentro do campo, o que faz com que as organizações se estruturem a partir de pressões coercitivas de sua parte. Essa conclusão corrobora com o trabalho de Scott (1995) quando este afirma que o Estado é a principal força na definição do campo organizacional.

O isomorfismo institucional

Uma pergunta de crescente interesse para a literatura especializada na teoria institucional é o porque da existência de tanta homogeneidade nas estruturas e ações desenvolvidas pelas organizações estabelecidas. Tal questionamento é respondido a partir da noção de legitimidade, ou seja, a busca pela similitude dos princípios institucionais, a que chamamos isomorfismo.

Segundo Carvalho (2000), a teoria institucional não vem somente contribuir para os estudos organizacionais ao colocar o ambiente como peça fundamental para a análise das organizações. Mas também por dar espaço para a discussão, questões como isomorfismo e legitimidade, que são fatores vitais para a sobrevivência de qualquer organização.

De acordo com Suchman (1995), a legitimidade é uma percepção generalizada de que as ações da organização são desejadas, corretas e apropriadas dentro do sistema de normas, valores e crenças do ambiente.

O isomorfismo institucional é o processo que faz com que uma organização ou setor se pareça com outros que apresentem o mesmo conjunto de condições ambientais, e ocorre, segundo DiMaggio e Powell (1991), através de três mecanismos de adaptação institucional: o isomorfismo mimético, o normativo e o coercitivo. O mecanismo coercitivo se origina das pressões de uma organização forte sobre uma mais fraca. O mimético resulta da adoção de práticas de outras organizações pertencentes ao seu ambiente específico e que estão legitimadas. Por fim, o normativo se refere à interpretação dos problemas em evidência nas

(6)

organizações. Todos estes mecanismos podem ser usados em conjunto ou separadamente por uma organização a fim de se obter uma maior legitimidade no ambiente institucional.

O mecanismo mimético é produzido quando a organização se encontra num momento de grande incerteza quanto aos seus produtos, serviços ou tecnologias, ou por conflitos quanto aos seus objetivos, fazendo com que os executivos prefiram adotar procedimentos e práticas já desenvolvidos por organizações que atuem em seu ambiente específico. Este processo vem explicar a existência de manias e modas que ocorrem no mundo dos negócios.

O mecanismo normativo surge a partir das mudanças que visam a atender determinados padrões e técnicas que são consideradas pela comunidade profissional como as mais atualizadas e eficazes. As normas estabelecidas são transmitidas por intermédio de treinamentos e legitimação profissional e são baseadas nos mais altos padrões aceitos pela profissão naquele determinado momento.

O mecanismo coercitivo é a pressão externa (força da lei, determinações governamentais, diferenças de poder entre organizações) exercida sobre as organizações para que estas adotem procedimentos ou técnicas semelhantes a outras organizações mais fortes. Este tipo de relacionamento de dependência irá aumentar a homogeneidade e limitar a diversidade.

A pesquisa de Slack e Hinings (1994) em organizações esportivas apresentou que existe uma tendência para que estas organizações tomem atitudes homogêneas a outras que possuam as mesmas pressões ambientais. No entanto, este estudo também comprovou que certas características organizacionais sofrem menos alterações que outras. Isto vem a corroborar com o argumento de Ranson et al. (apud Slack e Hinings, 1994) de que os sistemas e estruturas organizacionais não são neutros, mas sim resultado de esquemas interpretativos que refletem os valores e crenças dos membros destas organizações.

O motivo que leva as organizações a assumirem uma postura isomórfica em relação às organizações líderes no seu ambiente específico deve-se ao fato de que elas estão buscando uma autodefesa em relação aos problemas que não conseguem resolver com idéias originalmente criadas por elas próprias, e assim passam a desenvolver processos semelhantes a fim de facilitar as transações interorganizacionais, favorecendo o seu funcionamento a partir da utilização de regras socialmente aceitas pela sociedade (Machado-da-Silva e Fonseca, 1993).

Slack e Hinings (1994) revelam que os três mecanismos de pressão estão presentes no processo de isomorfismo, variando apenas o seu grau de atuação. Inclusive, os autores perceberam que cada mecanismo trabalha a fim de reforçar o outro.

Nos trabalhos de Pacheco (2001) e Leão Júnior et al. (2001) é feita uma análise do ambiente cultural da cidade do Recife e o que se pode perceber nos dois trabalhos é que há uma forte pressão isomórfica coercitiva agindo no ambiente institucional dos teatros da Região Metropolitana do Recife, pois o Estado ainda é um agente regulador e financiador das atividades culturais, tornando as organizações dependentes dele.

Portanto, já que as organizações adotam determinadas estruturas e procedimentos a fim de alcançarem a legitimidade transferida pelos costumes e normas aceitas coletivamente, percebe-se que surge um conflito, no que tange à tomada decisão, entre a desejada legitimidade e as exigências técnicas que têm como fator principal a eficiência. O que acontece geralmente é que a organização age a fim de garantir a sua legitimidade institucional, indo de encontro às rígidas medidas de eficiência técnica (Carvalho, Vieira e Lopes, 1998).

O que se percebe é que a sobrevivência de uma organização irá depender desta em manter um permanente ajuste entre as pressões de legitimidade, impostas pelo seu ambiente institucional por meio de normas e costumes socialmente aceitos, e as exigências do ambiente

(7)

técnico de eficiência e eficácia. A falta de harmonia na administração deste ajuste poderá acarretar na relação conflituosa entre eficiência e legitimidade.

Metodologia

Como a pesquisa apresentada tem o objetivo de aprofundar a descrição de uma determinada realidade (Triviños, 1995), pode-se considerar que esta se trata de um estudo de caso descritivo.

No entanto, como esse estudo de caso analisa a existência de padrões de isomorfismo nos teatros da região metropolitana do Recife, este não pode ser analisado a partir do estudo de um só caso, mas sim utilizando o método de estudo de multi-casos. Porém, a lógica na qual o estudo de multi-casos se baseia é a mesma do estudo de um só caso e, portanto, cada caso deve ser cuidadosamente selecionado de modo que: a) possibilite a reprodução de resultados similares (replicação literal); ou b) produza resultados contrastantes, mas por razões previsíveis (replicação teórica) (Yin, 1994).

Pode-se, portanto, afirmar que o presente estudo de casos é de natureza descritiva, sendo que o conteúdo das suas observações e análise de dados envolvem uma parte reflexiva e interpretativa.

Para este trabalho, o nível de análise é o organizacional, já que pretende analisar as estruturas e processos organizacionais dos teatros selecionados na região metropolitana do Recife.

O período a ser analisado se refere a um determinado momento específico pelo qual as organizações teatrais passaram, pois com a pesquisa foi realizada entre outubro de 2000 e julho de 2001, o delineamento da pesquisa tem um caráter seccional.

Deve ser salientado que a pesquisa não tratou de analisar todo o universo dos teatros da região metropolitana do Recife, pois isto seria desnecessário. Foi feita uma seleção de alguns teatros que apresentaram algumas características consideradas suficientes para se demonstrar, de forma representativa, o que ocorre na maioria dos teatros da região metropolitana do Recife. A amostra do presente estudo foi estabelecida em duas etapas.

Na primeira, foi aplicado um questionário em todos os teatros existentes na Região metropolitana do Recife. Assim, pôde-se fazer uma estimativa da quantidade de teatros em atividade, além de possibilitar uma análise de determinados pontos como: orçamento, quantidade de funcionários, tipo de vinculação, existência de parcerias etc.

Depois de aplicado o questionário, foi feita uma avaliação para escolha dos teatros a ser pesquisados que analisou os seguintes critérios: grau de estruturação dos teatros, o seu nível de operação, tamanho e orçamento destes.

De acordo com os critérios citados anteriormente, foram selecionados seis teatros da Região metropolitana do Recife, sendo eles, o Teatro Barreto Júnior, Teatro do Centro de Convenções da UFPE, Teatro Guararapes, Teatro Valdemar de Oliveira e Teatro Apolo-Hermilo.

Assim, deu-se início à segunda parte do trabalho, que consistiu em uma análise mais aprofundada dos teatros acima mencionados. Para isso, foram feitas entrevistas semi-estruturadas com os diretores e responsáveis diretos de cada teatro, a fim de conhecer a história do teatro, para assim analisar o seu processo de institucionalização; além de outras questões que envolvem uma análise do ambiente e do campo organizacional, como também questões que buscavam identificar a existência de processos isomórficos coercitivos, normativos ou miméticos.

Apresentação e análise de dados

Os dezoito teatros existentes na região metropolitana do Recife estão dispostos entre as cidades do Recife, Jaboatão dos Guararapes e Olinda. Porém, estes se encontram,

(8)

predominantemente, na capital do Estado, Recife, onde há um maior apoio e incentivo do Governo do Estado e, principalmente, do Município através de suas secretarias e fundações de cultura.

Um outro ponto a ser analisado, no que se refere à predominância de teatros na cidade do Recife em relação às demais, encontra-se também no fato de que a capital do Estado é mais populosa que as outras duas cidades, o que ocasiona um público maior, permitindo uma maior diversidade e quantidade de organizações.

Desde o ano de 1997, a cidade do Recife tem desenvolvido ações que visam um maior entrosamento entre empresas privadas e o setor cultural pernambucano através de leis de incentivo à cultura. Além disso, Estado e município têm aumentado sua participação em eventos e projetos artísticos, o que possibilitou um reaquecimento das artes e trouxe mais público para os diversos tipos de manifestações culturais.

Dessa forma, pode-se tomar a cidade do recife como referência para uma melhor observação da rede de inter-relacionamentos existentes no campo organizacional dos teatros da região metropolitana do Recife, principalmente porque os seis teatros selecionados para o estudo se encontram na cidade do Recife.

Os principais agentes reguladores e financiadores dos teatros da região metropolitana do Recife são: Governo do Estado de Pernambuco e Prefeitura da Cidade do Recife. Este relacionamento se dá através de seus órgãos específicos que estão vinculados, principalmente, às suas Secretarias de Cultura.

A Secretaria de Cultura do Estado financia diretamente dois teatros da região metropolitana do Recife: o Teatro Arraial, que ainda se encontra em fase de construção; e o teatro Clênio Wanderley, que não passa de uma sala existente na Casa da Cultura (antiga Casa de Detenção do Recife, hoje um monumento histórico que possui mais de 100 lojas de artesanato e diversas opções de lazer que representam a arte e a cultura popular pernambucana) e abriga pequenos espetáculos.

O Governo do Estado ainda financia, através da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Esporte, em conjunto com a EMBRATUR, o Teatro Guararapes, pertencente ao Centro de Convenções, Feiras e Eventos de Pernambuco.

A Secretaria de Cultura da Cidade do Recife tem, sob a sua responsabilidade um grande número de organizações culturais, entre elas, cinco teatros. Para facilitar a sua administração, incorporou uma entidade privada, sem fins lucrativos, que se encontra no próprio prédio da Prefeitura da Cidade, denominada Fundação de Cultura da Cidade do Recife (FCCR) que, da mesma forma que a Secretaria de cultura, tem a finalidade de estimular e fomentar as manifestações culturais da cidade em seus diversos campos artísticos.

Além do Governo do Estado e Prefeitura, ainda existem outras organizações que estão relacionadas aos teatros da região metropolitana do Recife, que são: a Associação de Produtores de Pernambuco, o Sindicato dos Artistas do Estado de Pernambuco e Federação do Teatro Amador de Pernambuco.

Essas três organizações fazem parte do campo organizacional dos teatros em Pernambuco e existem com a finalidade de fazer cumprir os interesses dos artistas pernambucanos no que diz respeito a salário, condições de trabalho etc. No entanto, o que se percebe é que estas organizações são pouco atuantes e sua expressividade no campo é pequena. Isso ocorre devido ao baixo grau de profissionalização das pessoas que trabalham em teatro, o que ocasiona uma baixa normatização de atividades profissionais, dificultando a ação dessas organizações.

Assim, percebemos a existência de diversos atores sociais existentes no espaço organizacional dos teatros da região metropolitana do Recife, que se inter-relacionam, havendo relações de interdependência e luta de interesses, que acabam por moldar o campo

(9)

organizacional dos teatros da região metropolitana do Recife dentro de um equilíbrio dinâmico de sua estrutura social (Leão Júnior, 2001).

A fim de se obter uma melhor visualização, que irá garantir a análise das estruturas e processos encontrados nos teatros da região metropolitana do Recife, serão apresentados dois quadros comparativos utilizando os indicadores propostos por Hall (1990). A análise destes indicadores permitirá uma melhor observação da existência ou não de padrões de isomorfismo nestas organizações.

Quadro 3: Comparação das estruturas dos teatros da região metropolitana do Recife

INDICADORES UFPE ARMAZÉM

BARRE TO JÚNIOR APOLO HERMIL O GUARARAPE S VALDEMA R DE OLIVEIRA

Centralização Sim Sim Sim Sim Sim Sim

Padronização

Na parte técnica

Na parte

técnica Na parte técnica Na parte técnica Na parte técnica Na parte técnica

Complexidade Simples Simples Simples

Simples com tendência à mudança Complexa Simples

Com este quadro, pode-se perceber que a estrutura organizacional dos teatros é praticamente a mesma, principalmente no que diz respeito às centralização e à padronização.

Os teatros regidos por órgãos públicos são centralizados porque é desta forma que estes órgãos alocam os seus funcionários. Basicamente, todos eles possuem uma diretoria, composta por um diretor geral, secretária e auxiliares, que tomam as decisões, e uma parte técnica operacional. Assim, estes teatros recebem uma pressão isomórfica coercitiva, enquanto os outros acabam seguindo este formato através do mimetismo, pois esta já é uma estrutura legitimada.

É importante salientar que a nova forma estrutural que deve ser instaurada no Teatro Apolo-Hermilo irá tornar esta organização descentralizada. Além disso, esse novo modelo de gestão, com proposta inovadora, pode servir como modelo para os demais teatro, aumentando a incidência do isomorfismo do tipo mimético, e também aumentando a profissionalização do campo.

Há uma padronização das atividades na parte técnica dos teatros, que compreendem a sonoplastia, mecânica e iluminação, tais tarefas só podem ser executadas por pessoal capacitado. Em todos os teatros foi ressaltada a importância do conhecimento técnico das pessoas contratadas para esta área, inclusive, alguns funcionários já trabalharam em outros teatro e têm anos de experiência.

Para o teatro, você sabe que devemos ter um grupo de pessoas com uma certa capacitação técnica para trabalhar com o sistema de mecânica cênica, iluminação cênica, eletricidade, cenografia. (Marcelo Melo, em entrevista 21/05/2001).

Quanto à complexidade, os teatros da região metropolitana do Recife possuem uma estrutura bem simplificada, estando dividida basicamente em dois setores: direção e parte técnica. O único teatro que possui uma estrutura mais complexa, tendo inclusive um organograma formal, é o Teatro Guararapes, mas isto ocorre porque a direção do teatro é a

(10)

mesma de todo o Centro de Convenções. Como se percebe no Quadro 3, a estrutura do Teatro Apolo-Hermilo está classificada como simples, mas com tendência à mudança, ou seja, o teatro segue um caminho a uma maior complexidade quando for instaurada a sua nova estrutura organizacional.

O quadro a seguir tratará de descrever, de maneira simplificada, como estão representados os processos administrativos desenvolvidos nos seis teatros pesquisados na região metropolitana do Recife.

Quadro 4: Comparação entre os processos administrativos dos teatros da região metropolitana do Recife

INDICA-DORES UFPE ARMAZÉM

BARRE TO JÚNIOR APOLO HERMIL O GUARARAPE S VALDEMA R DE OLIVEIRA Tomada

de decisão Na cúpula Na cúpula cúpula Na cúpula Na Na cúpula Na cúpula

Regulação FADE e Associação Nacional de Centro de Convenções --- FCCR Secretari a de Cultura do Municípi o Governo do Estado e Associação Nacional de Centros de Convenções --- Financiam ento FADE Aluguel, bilheteria, patrocínios e parcerias FCCR Secretari a de Cultura do Municípi o Governo do Estado, EMBRATUR e recursos próprios Aluguel e Bilheteria Estilo de Gestão Tradicional com tendência à participativa Tradicional Tradicion al Tradicion al com tendência à participa -tiva Tradicional tradicional

Por possuírem uma estrutura organizacional centralizada, os teatros da região metropolitana do Recife têm o seu processo de tomada de decisão localizado na cúpula administrativa. Basicamente, em todos eles os diretores tomam as decisões, que são passadas hierarquicamente para baixo. Entretanto, como a maioria dos teatros, com exceção feitas ao Guararapes, são de pequeno porte, com um número pequeno de funcionários, há facilidade de comunicação entre a diretoria e a parte técnica.

No que se refere à regulação, existem dois teatros regulados pelo município através da Secretaria de Cultura e da FCCR; os dois teatros pertencentes a centros de convenções são regulados por uma associação Nacional de Centros de Convenções, mas um é também regulado pela FADE, enquanto o outro pelo Governo do Estado; e os outros dois teatros, por serem particulares, não sofrem regulação de nenhuma outra organização.

O financiamento dos teatros é feito pelos seus principais agentes reguladores e se dá da seguinte forma: o dinheiro recebido através da bilheteria e aluguel do espaço é repassado para o agente regulador, que se responsabiliza em distribuir o capital naquilo que o teatro necessita, como pagamento dos funcionários, água, energia, compra e conserto de

(11)

equipamentos etc. Em todos esses teatros, o comentário é o mesmo, não haveria condições do teatro se manter sem depender dos recursos externos.

Se o teatro não tiver um subsídio, ele não consegue se sustentar não. É muito difícil ver um teatro no Brasil conseguir se sustentar. (Lucas, coordenador do Teatro Guararapes, em entrevista, 23/05/2001).

O único teatro que recebe subsídios de um órgão público, mas não funciona da maneira descrita anteriormente é o Guararapes, pois o Centro de convenções é uma empresa de economia mista, então ela recebe subsídios da EMBRATUR e do Governo do Estado, e ainda arrecada o que recebe com as feiras, eventos e exposições.

No caso do Valdemar de Oliveira e do Armazém, por serem particulares, não recebem financiamento de órgão algum, mas o único quer tem conseguido se sustentar sem nenhum apoio é o Valdemar de Oliveira, mesmo assim, quando precisou de dinheiro para reformas após o incêndio, precisou contar com a colaboração de várias empresas e pessoas que foram nomeadas de “amigos do TAP”. O Armazém, mesmo sendo de pequeno porte, tem mais despesa que receita e, por isso, está sempre recorrendo a patrocínios e parcerias com empresas privadas, destaque dado à recente parceria desenvolvida com a CHESF.

Percebe-se uma certa heterogeneidade no quadro acima, mas isto se deve, principalmente, ao método de escolha dos seis teatros. Uma melhor visualização do que ocorre em toda a região metropolitana do Recife no tocante à regulamentação e financiamento dos teatros está descrito nos anexos desse trabalho.

Com respeito ao estilo de gestão, encontramos em todos os teatros uma gestão tradicional, centralizadora e com tomada de decisões na cúpula da administração. Mas percebe-se uma tendência a um estilo mais participativo no Teatro da UFPE e, provavelmente, quando houver a mudança no Apolo-Hermilo.

(...) a gente tem uma equipe nova, toda capacitada por nós e cobrada, trabalhando dentro de um sistema muito homogêneo, com muita solidariedade, com muita interação e interesse. A gente faz com que todos vistam a camisa da nossa proposta administrativa e estamos conseguindo isso muito bem. (Marcelo Melo, Diretor Administrativo do Teatro da UFPE em entrevista, 21/05/2001).

Com os dados acima, pode-se perceber uma certa similaridade nas estruturas organizacionais e processos administrativos dos teatros selecionados para o estudo na região metropolitana do Recife. Portanto, foram encontrados, corroborando Slack e Hinings (1994), os três mecanismos de pressão isomórfica, variando apenas o seu grau de atuação.

De forma predominante, tem-se o processo de pressão isomórfica coercitiva, pois grande parte dos teatros da região metropolitana do Recife é regulada por outras organizações que financiam e controlam suas ações. Esse tipo de relacionamento de dependência irá aumentar a homogeneidade e limitar a diversidade (DiMaggio e Powell, 1991).

Exceção dada aos teatros particulares, que não são controlados por organizações específicas, mas acabam tomando as mesmas atitudes a fim de garantir a sua legitimidade perante o ambiente institucional, o que demonstra a existência de pressões isomórficas miméticas. Porém, essas pressões são percebidas em menor escala.

O mecanismo mimético é produzido quando a organização se encontra em um momento de grande incerteza quanto aos seus produtos, serviços e tecnologias, fazendo com que os executivos prefiram adotar procedimentos e práticas já desenvolvidos por organizações que atuem em seu ambiente específico (DiMaggio e Powell, 1991).

(12)

A pressão isomórfica normativa é percebida, unicamente, na parte técnica dos teatros, pois o trabalho de cenografia, sonoplastia, iluminação e mecânica cênica só pode ser desempenhado por pessoas capacitadas para operacionalizar o maquinário utilizado. As normas são transmitidas por intermédio de treinamentos e legitimação profissional, e são baseadas nos mais altos padrões aceitos pela profissão naquele dado momento (DiMaggio e Powell, 1991).

Assim, foi constatado que as organizações teatrais estão direcionadas a incorporar práticas e procedimentos, definidos por conceitos racionalizados do trabalho organizacional e institucionalizados na sociedade. Organizações que assim o fazem aumentam a sua legitimidade e sobrevivência, independente da eficácia imediata de práticas e procedimentos adquiridos (Meyer e Rowan, 1983).

Considerações finais e recomendações para pesquisas futuras

Com os dados apresentados acima foi possível perceber que os três tipos de pressão isomórfica são encontrados no campo organizacional estudado e, muitas vezes, semelhante às conclusões de Slack e Hinings (1994), cada mecanismo de pressão trabalha a fim de reforçar o outro.

Da mesma forma que Leão Júnior et al. (2001), Vieira, Carvalho e Lopes (2001) e Pacheco (2001), percebeu-se nesse estudo que o Estado é o grande agente regulador e financiador das organizações culturais, neste caso, dos teatros, e, por isso, estes sofrem uma forte pressão isomórfica coercitiva. Segundo DiMaggio e Powell (1991), quanto mais dependentes são as organizações, mais parecidas, ou seja, isomórficas, elas se tornam.

No entanto, as organizações que não dependem de outras que as regule ou financie, sofrem uma grande incerteza do ambiente, fazendo com que elas tentem copiar os modelos bem sucedidos. Assim, percebe-se que os teatros particulares sofrem uma pressão isomórfica mimética, a fim de garantirem a sua sobrevivência por meio de ações legitimadas na sociedade. Algumas vezes, ocorre inclusive, que os teatros vão de encontro às rígidas medidas de eficiência técnica a fim de garantir a sua legitimidade institucional (Carvalho, Vieira e Lopes, 1998).

A existência de associações profissionais é pouco significativa e pouco atuante no campo estudado, o que dificulta a existência de pressões do tipo normativa. Entretanto, devido à capacitação mínima necessária para operar equipamentos da caixa cênica, percebe-se, neste setor específico, que todos os teatros sofrem pressão isomórfica normativa.

Dado o exposto, pode-se perceber que pressões do ambiente institucional como: dependência dos teatros, incerteza do ambiente e necessidade de capacitação técnica para operar máquinas, favorecem o processo de isomorfismo observado nos teatros da região metropolitana do Recife.

Embora acredite-se que o número de organizações pesquisadas, bem como a metodologia utilizada são suficientes para se alcançar as conclusões aqui apresentadas e, assim, responder à questão central de pesquisa, alguns pontos poderiam ser melhor analisados, o que traria uma complementaridade a esse estudo.

Os teatros poderiam ser mais profundamente analisados através do método de observação direta. Acredita-se que uma maior vivência dentro das organizações traria dados mais precisos que aqueles obtidos em entrevista. Além disso, questões como relacionamentos informais, jogos de poder e esquemas interpretativos teriam um destaque maior.

Estudos semelhantes envolvendo outras organizações pertencentes ao setor cultural de Pernambuco seriam de elevada importância empírica, pois este conjunto de estudos tornaria possível uma maior compreensão de como foi construída a realidade social das organizações culturais do Estado de Pernambuco.

(13)

Uma última recomendação seria a realização dessa mesma pesquisa em outros teatros brasileiros a fim de perceber se o isomorfismo existe entre outros estados e região, mesmo havendo diferentes tipos de pressões ambientais.

Referencias Bibliográficas

ANDRADE, Elza. A história dos teatros. Set. 2000. Disponível:

http://www.interpalcocom.br/histtea.1.htm.

ALDRICH, Howard. Organizations and environments. London: Prentice-Hall, 1979. BERGER, Peter L., LUCKMANN, Thomas. A construção social da realidade: tratado de sociologia do conhecimento. Petrópolis: Vozes, 1976.

BRYMAN, Alan. Research methods and organization studies. London: Routledge, 1992. BRYMAN, Alan. Quantity and quality in social research. London: Routledge, 1992. CARVALHO, Cristina A. P. de. A transformação organizacional das ONGs no Brasil: um processo de isomorfismo com as ONGs do Norte. Em ANAIS do ENEO. Brasil: ENEO, 2000.

CARVALHO, Cristina A. P. de, VIEIRA, Marcelo M. F., LOPES, Fernando Dias. Contribuições da perspectiva institucional para análise das organizações. Em ANAIS do

ENAMPAD. Brasil: ANPAD, 1998.

DAFT, Richard L. Teoria e projetos das organizações. Rio de Janeiro: LTC, 1999.

DIMAGGIO, P. J. Interest and agency in institutional theory. In ZUCKER, L. G.,

Institutional patterns and organizations: culture and environment. Cambridge, 1988.

HALL, Richard H. organizações: estrutura e processos. Rio de Janeiro: Prentice-Hall, 1984. HASSELBLADH, Hans, KALLINIKOS, Jannis. “The project of rationalization: a critique and reappraisal of neo-institutionalism in organization studies”. In Organization studies 2000, 21/04: 697-720.

KATZ, Daniel, KAHN, Robert L. Psicologia social das organizações. São Paulo: Atlas, 1978.

MACHADO-DA-SILVA, C., FONSECA, V. (1993) “Homogeneização e diversidade organizacional: uma visão integrativa” em Anais da ENAMPAD. Brasil: ANPAD.

MARTIN, Joanne. Breaking up the mono-method monopolies in organizational analysis. In HASSARD, John, PYM, Denis. The theory and philosophy of organizations: critical and new perspectives. London: Routledge, 1990.

MEYER, J. W., ROWAN, B. Institutionalized organizations: formal structure as myth and ceremony. In MEYER, J. W., SCOTT, W. R. Organizational environments: ritual and rationality. London: Sage Publications, 1983.

MEYER, J. W., SCOTT, W. R. Centralization and legitimacy problems of local government. In MEYER, J. W., SCOTT, W. R. Organizational environments: ritual and rationality. London: Sage Publications, 1983.

OLIVER, Christine. “The influence of institutional and task environment relationships on organizational performance: the canadian construction industry”. In Journal of management

studies. 34:1. january, 1997.

PEREIRA, Maria J. L. de B. Faces da decisão: as mudanças de paradigmas e o poder da decisão. São Paulo: Makron Books, 1997.

RANSON, Stewart, HININGS, Bob, GREENWOOD, Royston. “The structuring of organizational structures”. In Administrative science quarterly. V.25, n.1, p.1-17, 1980. REID, Francis. Administracion teatral. Sevilla: Padilla Libros, 1990.

SCOTT, W. R. Institutions and organizations. London: Sage Publications, 1995.

SCOTT, W. R. Introduction from technology to environment. In MEYER, J. W., SCOTT, W. R. Organizational environments: ritual and rationality. London: Sage Publications, 1983.

(14)

SCOTT, W. R. Unpacking institutional arguments. In POWELL, W. W., DIMAGGIO, P.J.

The new institutionalism in organizational analysis. Chicago: The University of Chicago

Press, 1991.

SELZNICK, Philip. A liderança na administração: uma interpretação sociológica. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas. Serv. de publicações, 1971.

SLACK, Trevor, HININGS, Bob. “Institutional pressures and isomorphic change: na empirical test”. In Organization studies 1994, 15/06:803-827.

SROUR, Robert H. Poder, cultura e ética nas organizações. Rio de Janeiro: Campus, 1998.

STAKE, Robert E. Case studies. In DEZIN, N. K., LINCOLN, Y. S. Handbook of

qualitative research. California: Sage publications, 1994.

SUCHMAN, Mark C. Managing legitimacy: strategic and institutional approaches. In

Academy of management review. V.20, n.3, 571 – 610, 1995.

TOLBERT, Pamela S., ZUCKER, Lynne G. A institucionalização da teoria institucional. Em CLEGG, Stewart R., HARDY, Cynthia, NORD, Walter R. Handbook de estudos

organizacionais. São Paulo: Atlas, 1998.

TRIVIÑOS, Augusto N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987.

VIEIRA, Marcelo M. F., MISOCCZKY, Maria C. Instituições e poder: explorando a possibilidade de transferências conceituais. Em ANAIS do ENEO. Brasil: ENEO, 2000. YIN, Robert K. Case study research: design and methods. California: Sage publications, 1994.

Referências

Documentos relacionados

A aplicação de parafina em raízes de mandioca tem sido eficiente para prolongar o seu período de conservação.. Este efeito é atribuído à diminuição da permeabilidade ao

No final, os EUA viram a maioria das questões que tinham de ser resolvidas no sentido da criação de um tribunal que lhe fosse aceitável serem estabelecidas em sentido oposto, pelo

Para analisar as Componentes de Gestão foram utilizadas questões referentes à forma como o visitante considera as condições da ilha no momento da realização do

Este estágio de 8 semanas foi dividido numa primeira semana de aulas teóricas e teórico-práticas sobre temas cirúrgicos relevantes, do qual fez parte o curso

Realizar a manipulação, o armazenamento e o processamento dessa massa enorme de dados utilizando os bancos de dados relacionais se mostrou ineficiente, pois o

Para devolver quantidade óssea na região posterior de maxila desenvolveu-se a técnica de eleva- ção do assoalho do seio maxilar, este procedimento envolve a colocação de

Estudos sobre privação de sono sugerem que neurônios da área pré-óptica lateral e do núcleo pré-óptico lateral se- jam também responsáveis pelos mecanismos que regulam o

Atualmente o predomínio dessas linguagens verbais e não verbais, ancorados nos gêneros, faz necessário introduzir o gênero capa de revista nas aulas de Língua Portuguesa, pois,