BRICS
Monitor
A Escalada Protecionista nos BRICS
no contexto pós Crise financeira
Internacional - Monitoramento de
Medidas de Política Comercial
Outubro de 2011
Núcleo de Desenvolvimento, Comércio, Finanças e Investimentos
BRICS Policy Center / Centro de Estudos e Pesquisa BRICS
BRICS
Monitor
A Escalada Protecionista nos BRICS
no contexto pós Crise financeira
Internacional - Monitoramento de
Medidas de Política Comercial
BRICS POLICY CENTER - BRICS MONITOR
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A Escalada Protecionista nos BRICS no contexto pós Crise financeira Internacional -Monitoramento de Medidas de Política Comercial
A Escalada Protecionista nos BRICS no contexto pós Crise
financeira Internacional - Monitoramento de Medidas de
Política Comercial
Elaborado por: Julia Froimtchuk do Carmo Coordenação: Leane Cornet Naidin
Introdução
A crise financeira internacional motivou esforços de coordenação no âmbito da Orga-nização Multilateral de Comércio (OMC) e das organizações que tratam dos temas de inves-timento e desenvolvimento (OCDE e UNCTAD) com vistas ao monitoramento de iniciativas de escalada protecionista que prejudicassem a recuperação da economia mundial. Com a fina-lidade de analisar a eventual escalada protecio-nista no comércio, esses organismos OMC vem publicando relatórios de acompanhamento das políticas comerciais dos países do G20. Este mo-nitor se utiliza dos resultados Report on G20 Trade Measures 1 (2011), preparado pela OMC,
que compreende o período de outubro de 2010 a abril de 20112.
Implementação de Medidas
O acompanhamento das medidas to-madas pelas economias do G20, de uma forma geral, revela que as restrições comerciais ao longo dos últimos seis meses se tornaram mais pronunciadas do que no passado. O proposito do consenso obtido no G20 de resistir a
eleva-ção do protecionismo, no contexto da crise glo-bal, pode agora estar sob ameaça. No entanto, a gravidade da crise global e os vários desa-fios importantes enfrentados pela economia mundial (como uma recuperação econômica desequilibrada, altos níveis de desemprego, os problemas da dívida soberana, o aumento dos preços das commodities, e tensões geopolíti-cas) não resultaram, em geral, segundo aprecia-ção do Secretariado da OMC, em um aumento significativo das barreiras comerciais3.
No entanto vários Estados implemen-taram certos tipos de restrições ao comércio de forma mais intensa, particularmente: aumento de tarifas de importação, o licenciamento não--automático de importação, e novas restrições às exportações. As preocupações são também levantadas sobre outras práticas discrimina-tórias menos visíveis, que podem ter conside-ráveis efeitos restritivos sobre as importações. Além disso, novas medidas de defesa comercial, embora em declínio, continuam a um nível rela-tivamente elevado. Colerela-tivamente, todas estas restrições estão alimentando temores de que o protecionismo pós-crise pode estar ganhando força. 4
Monitoramento de Medidas de Política Comercial
Medidas de Comércio dos países do G20
e BRICS
Um aspecto importante no cenário dos fluxos de comércio internacional nos últimos seis meses foi a confirmação de uma tendência de aumento das restrições à exportação impos-tas, principalmente, em produtos alimentares
e de alguns minerais com vista a assegurar o abastecimento interno e enfrentar o esgota-mento de recursos. 5
Apesar do bom desempenho do co-mércio em 2010 e das previsões positivas para 2011, as perspectivas para o comércio mundial continuam a ser ameaçadas por um número de fatores de risco, associados a problemas macro econômicos e seus efeitos de encadeamento globais, dada a crescente interdependia eco-nômica dos países líderes no cenário mundial.. Problemas de dívida soberana, a volatilidade e
certezas.6
Além disso, os efeitos da crise financeira e a recessão global devem persistir por algum tempo. A recomendação do relatório da OMC é que os países membros devem continuar a ser vigilantes e resistir a essas pressões e privilegiar a abertura dos mercados ao invés de maior
pro-tecionismo. A tabela 1 a seguir apresenta uma síntese das medidas adotadas pelos países do G20.
A grande maioria das ações do G20 que restringem, ou podem restringir o comércio se dirigiram às medidas de fronteira (aumentos de tarifas e medidas não-tarifárias, como exigên-cias de licenças de importação não automáticas e proibição de importação, assim como medi-das de defesa comercial).
Houve um aumento no número de bar-reiras não tarifárias, em particular medidas
sa-Tabela 1 - Medidas restritivas ao comércio adotadas pelos países do G20
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ção com os períodos correspondentes dos três anos anteriores. A tendência crescente nos últi-mos três anos reflete um aumento no número de medidas que não se caracterizam por ações de emergência (como surtos de doenças, pra-gas ou outros riscos de saúde urgentes), inicia-das principalmente pelos Estados Unidos e pelo Brasil. A maioria das notificações mais recentes não estão relacionadas a ações emergenciais .9
produção doméstica. O relatório da OMC apon-ta que se não fosse pelo incremento das ações iniciadas pelo Brasil, a tendência geral seria de maior queda no uso dessa política.10
Adicionalmente, observa-se crescente uso de restrições à exportação, em particular pelos países BRICS. Tais medidas podem ser im-postas para atingir objetivos políticos diversos,
Vale notar a ênfase na política de defesa comercial adotada pelos países BRICS, confor-me indicado na Tabela 2 a seguir. Brasil e Índia se destacaram no período em exame como sendo os países que mais vem recorrente a este tipo de política de proteção, sendo maiores aplicado-res de medidas dessa natureza entre os países do G20 usuários tradicionais do instrumento, como os EUA e EU, em particular medidas anti-dumping, que funcionam como instrumento de contenção de importações competitivas com a
Tabela 2- Medidas de Defesa comercial – BRICSInício de Ações Antidumping contra
parceiros comerciais
Fonte: Report on G20 Trade Measures,p.8;elaboração própria.
tais como a proteção ambiental, conservação dos recursos naturais, a promoção de indústrias de processamento a jusante, controlar as pres-sões inflacionárias, e aumentar a receita fiscal. Essas medidas podem assumir várias formas: impostos, quotas, proibições, preços mínimos para a exportação, a redução do reembolso do IVA11 (imposto sobre valor agregado) para
os exportadores e requisitos de licenciamento não-automático para a exportação.12
Monitoramento de Medidas de Política Comercial
Tabela 3 - Medidas Restritivas à Exportação - BRICS
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O impacto econômico das restrições à exportação nos mercados nacional e mun-dial depende de muitos fatores como o tipo da medida restritiva, a participação do país ex-portador nos mercados mundiais do produto em questão, bem como a natureza do produto restringido. O efeito mais imediato e óbvio de quaisquer restrições à exportação é a redução dos volumes de exportação dos produtos visa-dos e, consequentemente, o desvio do abasteci-mento para o mercado interno. Isso leva a uma pressão descendente sobre os preços domésti-cos dos produtos afetados. Em alguns casos, a diferença entre os preços domésticos e os pre-ços mundiais constitui um apoio implícito à pro-dução doméstica e, portanto, proporciona-lhes uma vantagem competitiva. Para os principais fornecedores de produtos que estão sendo res-tringidos, tais restrições à exportação podem mudar os termos de comércio a seu favor. 16
A literatura econômica indica que as restrições à exportação têm consequências negativas para os parceiros comerciais e paí-ses produtores, ao desviar as matérias-primas da exportação para os mercados domésticos. Essas restrições aumentam os preços para os consumidores e importadores estrangeiros, ao mesmo tempo em que reduz os preços internos nos países produtores, aumentando a incerteza sobre os preços futuros. Restrições à exportação desencorajam decisões de investimento na ex-tração e produção de matérias-primas, poten-cialmente reduzindo a oferta global de matérias no longo prazo. Além disso, restrições às expor-tações de um país podem levar a uma espiral de restrições similares em outros países, o que sig-nificaria distorção do comércio e aumento glo-bal de preços.17 A Tabela 3 a seguir apresenta as
medidas implementadas pelos países BRICS.
Conclusão
Segundo a apreciação da OMC, os flu-xos de comércio mostram retorno sua tendên-cia de longo prazo. O volume de exportações mundiais de mercadorias cresceu 14,5% em 2010 em relação a 2009, e a previsão é de ex-pansão de 6,5% em 2011. As exportações das economias desenvolvidas deverão crescer mais lentamente do que a média mundial neste ano (4,5%, ante 9,5% no resto do mundo). Em ter-mos de valor, as exportações mundiais de mer-cadorias cresceram 22% em 2010 para atingir 14,9 trilhões de dólares. 18
Contudo, a previsão acerca dos fluxos de comércio é obscurecida por uma série de fatores importantes, incluindo a rápida eleva-ção dos preços mundiais das commodities pri-márias, turbulência nos países exportadores de petróleo no Oriente Médio e Norte da África, a crise da dívida em curso nas economias meno-res da zona do euro e o devastador terremoto e acidente nuclear no Japão. Adicionalmente, medidas de proteção podem surtir efeitos de contração no comércio mundial ao longo do tempo.19
Há um risco de que, na ausência de re-gras claras no regime da OMC sobre o tema, os governos sejam pressionados a utilizar as res-trições à exportação para alterar a seu favor o preço relativo de suas exportações, ou para expandir a produção da indústria nacional em detrimento da produção estrangeira. O impac-to das restrições às exportações de uma eco-nomia é complexo e não se limita ao mercado do produto restrito, nem só ao país que impõe a restrição, afetando indústrias e consumidores
Monitoramento de Medidas de Política Comercial
de outros países.20 Assim, as políticas de
restri-ção às exportações se constituem em políticas “beggar-thy-neighbour” e podem induzir políti-cas de retaliação comercial. O relatório da OMC aponta para o fato de que volatilidade e as in-certezas da oferta global de alimentos e recur-sos naturais podem vir a constituir um cenário de não cooperação na política comercial e a uma espiral de elevação dos preços internacio-nais. É neste contexto eu se deve examinar os benefícios de posições negociadoras que visam maior cooperação no mercado internacional de produtos agrícolas.
Notas:
1Relatórios como estes são preparados em resposta
a pedido dos países do G20 com vistas ao monito-ramento sobre a adesão das economias do G20 ao compromisso de resistir ao protecionismo e promo-ver o comércio global. Na Cúpula de Seul (11 e 12 de novembro de 2010), os líderes do G20 reafirma-ram a extensão de seu compromisso de resistir ao protecionismo até ao final de 2013, enfatizando em particular a reversão de qualquer medida protecio-nista nova e incompatíveis com a OMC, incluindo restrições à exportação e medidas para estimular as exportações. Comentários sobe essas medidas serão apresentados neste Monitor.
2OMC. Report on G20 Trade Measures
(mid-oc-tober 2010 to april 2011), 24 mai. 2011. Disponível em <http://www.unctad.org/en/docs//unctad_oe-cd2011d5_en.pdf> Acesso em: 1 jun. 2011.
3 Ibid, p.1 4 Ibid, p.1 5 Ibid, p.1 6 Ibid, p.2 7 Ibid, p.4
8 Algumas vezes, estas medidas podem constituir um
rantirão que suas medidas sanitárias e fitossanitárias não farão discriminação arbitrária ou injustificada entre os Membros nos casos em que prevalecerem condições idênticas ou similares, incluindo entre seu próprio território e o de outros Membros. As medi-das sanitárias e fitossanitárias não serão aplicamedi-das de forma a constituir restrição disfarçada ao comércio internacional.” Para mais informações, acesse: http:// www.unctad.org/pt/docs/edmmisc232add13_ pt.pdf
9 Ibid, p.10 10 Ibid., p. 8
11 O IVA incide apenas sobre o valor agregado pelo
agente econômico, como um comerciante ou indus-trial, sendo que o imposto não incide sobre o valor original advindo da produção. O resultado é um maior incentivo aos investimentos na produção.
12 OMC. Report on G20 Trade Measures (mid-october
2010 to april 2011), 24 mai. 2011, p.15. Disponível em <http://www.unctad.org/en/docs//unctad_oe-cd2011d5_en.pdf> Acesso em: 1 jun. 2011.
13 Para mais informações, consultar: OMC. Report
on G20 Trade Measures (mid-october 2010 to april 2011), 24 mai. 2011, p.19
14 Para mais informações, consultar: OMC. Report
on G20 Trade Measures (mid-october 2010 to april 2011), 24 mai. 2011, p.20
15 OMC. Report on G20 Trade Measures (mid-october
2010 to april 2011), 24 mai. 2011, p.19 a 21. Disponí-vel em <http://www.unctad.org/en/docs//unctad_ oecd2011d5_en.pdf> Acesso em: 1 jun. 2011.
16 Ibid, p.16 17 Ibid, p.15 18 Ibid, p.2 19 Ibid, p.2 20 Ibid, p.2