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[REVISTA CONTEMPORÂNEA DOSSIÊ HISTÓRIA & ESPORTE]

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Academic year: 2021

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Niterói, dezembro de 2014.

O esporte como objeto de pesquisa a cada dia recebe mais destaque entre os pesquisadores brasileiros, a partir de distintas perspectivas. Mas o fenômeno não se restringe à academia, uma vez que os esportes se tornaram oficialmente política de Estado no Brasil na última década. Primeiro foi a decisão em 2003 de tornar o Ministério do Esporte uma pasta independente, seguida dois anos depois, em 2005, pelo lançamento do governo federal brasileiro de sua política nacional do esporte. A escolha do Brasil como sede da Copa do Mundo FIFA 2014 e da cidade do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de Verão de 2016 trouxeram o país e a região para a agenda global dos chamados megaeventos esportivos. Além disso, esta foi a primeira Copa realizada na América do Sul desde 1978, quando a Argentina sediou o evento, e serão as primeiras Olimpíadas tendo a América do Sul como anfitriã.

Atualmente, os grandes eventos como os acima citados já representam um dos principais setores da economia mundial. Nos Estados Unidos, por exemplo, os grandes eventos esportivos movimentam cifras da ordem de US$ 150 bilhões em média por ano; e a transmissão dos Jogos Olímpicos de Verão e da Copa do Mundo da FIFA representam hoje as maiores audiências mundiais (na Copa da África do Sul em 2010 o público estimado foi de 50 bilhões, por exemplo).1 Além disso, como destaca Cae Sampaio:

Para um país em desenvolvimento, como o Brasil, sediar acontecimentos desse porte tem um componente simbólico que, se bem aproveitado, equivalerá ao de um rito de passagem. Como novos integrantes desse seleto clube, o Brasil tende a estar sujeito a avaliações mais rigorosas do que as dispensadas a anfitriões tradicionais do mundo desenvolvido, cuja

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VASCONCELLOS, Douglas W. de. Esporte, Poder e Relações Internacionais. Brasília: Fundação Gusmão, 2011. Segundo o autor: “a plateia televisiva acumulada de 31 bilhões de pessoas na Copa do Mundo dos EUA-1994, de aproximadamente 4,8 bilhões nas Olimpíadas de Sidney-2000, de quase 40 bilhões de telespectadores na Copa do Mundo Coreia-Japão-2002 e de público estimado em 50 bilhões na Copa do Mundo da África do Sul-2010 (...)”, p. 22.

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competência na organização dos megaeventos já foi provada em meio de uma ocasião, caso dos Estados Unidos, do Japão e de vários países europeus.2

Neste contexto, nós da Revista Contemporânea consideramos que era pertinente neste ano dedicar um dossiê ao tema Esporte, que é também objeto de trabalho de pesquisadores do Núcleo de Estudos Contemporâneos. O crescente interesse nos esportes como política de Estado impulsionou um campo de pesquisa que já se consolidava. Porém, o mesmo cresceu de forma significativa nas últimas décadas no Brasil e no mundo.

A abordagem mais usual do tema trata do uso que regimes autoritários fazem do esporte. Os casos mais tradicionais e que marcaram durante anos os trabalhos sobre esportes e sociedade são os da Copa do Mundo da FIFA de 1934, na Itália, sob o regime fascista de Benito Mussolini; as Olimpíadas de Verão de 1936 em Berlim, que foram um palco do regime nazista de Adolf Hitler; e a Copa do Mundo da FIFA em 1978, na Argentina, quando a ditadura aproveitou o evento para renovar o consenso e melhorar a imagem do país no exterior respondendo às denúncias de violação de direitos humanos. Entretanto, pesquisas mais recentes demonstram que estas não são as únicas abordagens possíveis do esporte como objeto de estudo.

Por seu caráter aglutinador e como elemento de identidade nacional, o esporte torna-se um interessante e novo meio de análise das relações sociais. De fato, nas nações modernas que se formaram entre os séculos XVIII e XX, esporte e política sempre jogaram juntos. As disputas entre nações, em distintas categorias e em eventos como as Olimpíadas e a as Copas do Mundo, surgem no contexto de estimular as relações internacionais pacíficas entre os países. A partir da intensificação destes encontros, novas interpretações e significações foram construídas. De fato, a abordagem do esporte como elemento de identidade nacional foi a que recebeu mais atenção dos pesquisadores sobre o tema. Entretanto, ela não é a única, e os trabalhos presentes em nosso dossiê contribuem para destacar estas novas abordagens dadas ao esporte, suas manifestações e relações sociais.

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Apesar da maioria das pesquisas atuais se dedicarem ao estudo do futebol e grande parte dos artigos do dossiê ser sobre este tema –o que é compreensível pelo papel e o destaque que este esporte tem em nosso país e no mundo-, recebemos importantes contribuições de trabalhos sobre outras modalidades. O artigo “A organização da Federação Hípica Sul-Rio-Grandense (décadas de 1920 a 1940)”, de Ester Liberato Pereira e Janice Zarpellon Mazo, por exemplo, trata do processo de agenciamento do hipismo no Rio Grande do Sul. Enquanto o trabalho “Turnverein Estrela: Ginástica e esportes (1907-1930)”, de Cecília Elisa Kilpp, Alice Beatriz Assmann, Janice Zarpellon Mazo, se dedica a analisar o processo de constituição da Sociedade Ginástica Estrela, fundada em 1907, no município de Estrela/Rio Grande do Sul, até a década de 1930, quando ocorrem mudanças significativas, advindas da campanha de nacionalização do período.

Os trabalhos que têm o futebol como tema de análise se destacam pela diversidade das abordagens. O artigo “À beira do precipício, o jogo do paradoxo. Uma leitura do livro Veneno remédio: o futebol e o Brasil, de José Miguel Wisnik”, de Lucas Santiago Rodrigues de Nicola, por exemplo, aborda as relações entre o futebol e a sociedade brasileira de maneira ampla, a partir de um trabalho específico sobre o tema.

Os meios de comunicação aparecem tanto como fonte como objeto de pesquisa nos trabalhos. Em “Guerra, masculinidades e estilos de jogo: narrativas da mídia esportiva brasileira sobre a Batalha de Rosário na Copa do Mundo de 1978”, de Leonardo Turchi Pacheco, o autor trabalha com o discurso da mídia esportiva brasileira através das revistas Placar e Manchete, refletindo as categorias guerra, masculinidade e estilo de jogo e apontando as contradições e ambiguidades de tais discursos. Já o artigo de Euclides de Freitas Couto, Marcus Vinícius Costa Lage e Karen dos Santos Lima “O Independência e a dependência: análise histórica da cobertura jornalística em tempos de preparativos para a IV Copa do Mundo de futebol (1950) em Belo Horizonte/MG” se propõe a analisar historicamente a cobertura do jornal Estado de Minas problematizando suas posições ideológicas no

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bojo do novo modelo político adotado pelo país, alinhado à política dos Estados Unidos no contexto dos primeiros anos da Guerra Fria.

Assim como este artigo, outros dois se dedicam a analisar o futebol desde uma perspectiva local. “Esporte e cidade: o mundo do futebol a partir do sul catarinense/ 1910-1960”, de Emerson César de Campos e Michele Gonçalves Cardoso analisa as práticas sociais futebolísticas na cidade de Criciúma, onde o trabalho destaca que as transformações urbanas, identitárias e econômicas estão diretamente relacionadas a efervescência futebolística. Já o artigo “Memórias, tradição e sociabilidades: o surgimento da torcida garra tricolor em fortaleza”, de Gisafran Nazareno Mota Juca e Caio Lucas Pinheiro trata da fundação da Garra Tricolor, a primeira torcida organizada do Fortaleza Esporte Clube, fundada em 1980 e extinta em 1993, analisando o surgimento e a atuação das torcidas organizadas na cidade de Fortaleza.

Finalmente, o artigo de Eduardo de Souza Gomes “O Brasil na Copa do Mundo de futebol de 1934: tensões entre amadorismo e profissionalismo e os efeitos do fracasso do scratch nacional”, procura analisar as tensões existentes entre os defensores do amadorismo e os do profissionalismo no futebol brasileiro, tema que marcou o espaço futebolístico mundial na primeira metade do século XX, e os debates resultaram em uma conturbada organização, preparação e participação na Copa do Mundo de 1934. A Copa do Mundo de Futebol é mais uma vez tema de análise, porém a partir de uma abordagem diferente da questão do seu uso político.

Além dos artigos inéditos, o dossiê conta também com duas resenhas, que tratam do universo do futebol. Em “O resgate das crônicas de futebol de Mário Filho”,3 de Ademir Luiz da Silva, o autor resenha a obra. As coisas incríveis do futebol – as melhores crônicas de Mário Filho. E na resenha “arte, Futebol-força: a bola e a política” escrita por Thiago de Freitas a convite da revista sobre o livro Futebol: o outro lado do jogo, de Adriano de Freixo, o autor aborda o tema do futebol e seu estudo a partir da perspectiva das Relações Internacionais.4

3

FILHO, Mário. As coisas incríveis do futebol – as melhores crônicas de Mário Filho. São Paulo: Ex

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Consideramos importante destacar a diversidade regional dos temas tratados neste dossiê e dos autores que contribuíram para o mesmo. É uma conquista importante para a Revista o diálogo com as diversas regiões do país e seus pesquisadores, ampliando o debate e as trocas de conhecimento.

Neste sentido, destacamos e celebramos a presença nesta edição de um segundo dossiê organizado pela pesquisadora argentina Mara Burkat. Com o tema Caricaturas, o mesmo reúne artigos de pesquisadores de diversos países que apresentam seus trabalhos relacionados ao passado autoritário recente da América Latina. O dossiê foi organizado de forma autônoma e abre uma nova proposta de diálogo que acreditamos ser fundamental para ampliar o contato entre pesquisadores do Cone Sul. É um grande prazer para nós da Revista Contemporânea publicar estes trabalhos e contribuir para a divulgação e estreitamento dos laços entre os pesquisadores da região.

O ano de 2014 foi de muitas datas e eventos, entre eles os 20 anos do Núcleo de Estudos Contemporâneos. Aproveitamos este espaço para parabenizar a todos os que participaram desta trajetória e para agradecer as diversas colaborações ao longo destas duas décadas. Com a certeza de que 2015 será de novas conquistas e aprofundamento das trocas que concretizamos até agora.

Boa leitura e até o próximo número!

Lívia Gonçalves Magalhães (Editora da Revista Contemporânea, Pós doutora na UNIMONTES e pesquisadora do Núcleo de Estudos Contemporâneos, UFF)

Referências

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