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Academic year: 2021

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Fotografia de Natureza

Saiba como a intuição e a criatividade caminham junto à

percepção visual para fazer fotos cada vez mais interessantes

composição

Como respeitar e desrespeitar as leis da

Grupo de jacarés-açu: uma das regras de uma boa composição é deixar espaço para o movimento e para o olhar do observador

Grupo de jacarés-açu: uma das regras de uma boa composição é deixar espaço para o movimento e para o olhar do observador

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POR LUIZ CLÁUDIO MARIGO (texto e fotos)

C

omposição em fotogra-fia é a arte de organizar os elementos de design – formas, linhas, texturas, traste entre claro e escuro, con-traste entre cores – dentro do visor da câmera, na sensibilidade de quem vê e de quem fotografa. Burle Marx dizia que “compo-sição é sempre um jogo; uma lu-ta entre claro-escuro. É uma lulu-ta entre dominante e dominado”. O termo composição ori

-gina-se do latim e significa “co-locar junto”. Segundo o mestre francês Henri Cartier-Bresson, composição: “é uma coalizão si-multânea, a coordenação orgâ-nica de elementos visuais (…). Em fotografia, há uma plástica nova, função de linhas instan-tâneas; nós trabalhamos no mo-vimento, uma espécie de pres-sentimento da vida; e a fotogra-fia deve captar, no movimento, o equilíbrio expressivo”.

Desde a Antiguidade, com Pitágoras e Platão, os filósofos meditaram sobre o mistério da beleza para tentar compreendê-la. E até pelo menos a época do Renascimento, o conceito de be-leza esteve vinculado à noção de proporção e composição har-moniosa. Regras de composição foram elaboradas e aplicadas na arquitetura, na pintura e em ou-tras formas de arte. Dos arqui-tetos dos edifícios clássicos

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gre-Fotografia de Natureza

gos aos artistas renascentistas, todos se beneficiaram dessas leis em busca de ordem, beleza e har-monia.

Hoje, há até programas de computador para aplicar os princípios da composição, com muito menos trabalho e esforço. É, no mínimo, curioso propor a realização do trabalho criativo com uma ferramenta de com-putador... Ou melhor, é uma tra-gédia. É abrir mão da oportu-nidade de uma das mais signifi-cativas e prazerosas etapas do fazer fotográfico. Recorrer ao computador é esvaziar a foto do talento e da autoria para que um software assuma a decisão sobre a composição.

Um desses programas é o Composition Pilot que, segundo seus desenvolvedores, “foi cria-do para ser seu assistente pessoal e resolver qualquer problema de composição em fotografia. Com esse programa, você

po-derá cortar suas fotos para dei-xá-las de acordo com as ‘regras de ouro’ da composição foto-gráfica e vai conseguir bons re-sultados ao aplicar várias mol-duras para verificar se uma ima-gem se adapta às principais re-gras de composição como, por exemplo, a Regra dos Terços, a Regra da Diagonal, a Regra da Seção de Ouro, a Regra da Seção de Ouro Diagonal e outras”. Ve-ja mais em freedownloadscen- ter.com/Multimedia_and_Grap- hics/Graphics_Editors/Compo-sition_Pilot.html.

Mas, para serem realmente úteis, para fazer imagens com boa composição, essas regras deveriam ser aplicadas no mo-mento de fotografar. De nada adiantam se forem aplicadas apenas depois do disparo do ob-turador. Enquanto trabalha, o fotógrafo deve observá-las no visor da câmera ou projetá-las no mundo à sua frente.

Regras da composição

Para aplicar a Regra dos Ter-ços, o fotógrafo divide a cena em nove partes iguais, com duas linhas horizontais e duas verti-cais. Depois, posiciona o centro de interesse da foto (o assunto principal) em um dos pontos de interseção dessas linhas. Assim, posta essa regra, a composição ficará mais harmoniosa.

Para posicionar a linha do ho-rizonte usando essa mesma regra, coloque-a sobre uma das linhas horizontais que dividem a ima-gem em três partes iguais. Evite colocá-la na linha imaginária que passa no meio do quadro foto-gráfico. Isso provoca uma sensa-ção de monotonia e torna a ima-gem estática, sem dinamismo.

Para aplicar a Regra da Dia-gonal, trace uma linha ligando um dos cantos superiores ao can-to inferior oposcan-to do quadro. Divida o lado superior da foto ao meio, e a metade mais

pró-A característica de uma objetiva pode ser usada na hora de compor a cena: acima, a grande angular de 18 mm realça a perspectiva e aumenta a convergência das copas das palmeiras

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Acima, composição construída em torno do centro de interesse, o rapaz debulhando um cacho de açaí; abaixo, ao incluir espaço na direção do olhar da mulher (que vê o Lago Mamirauá, o barco e as casas flutuantes), a composição aumenta a sensação de conforto para o observador

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Fotografia de Natureza

pa lavras: menos é mais. Busque a simplicidade. Ao eliminar dis-trações e o excesso de elementos gráficos na foto, a mensagem é transmitida com mais clareza e intensidade. Por outro lado, ao buscar exclusivamente o cum-primento dessa lei, as imagens tendem a se tornarem rasas, li-neares e pobres. A complexidade também pode ser um atributo interessante da composição.

Atenção ao principal

Mais regras: coloque o ele-mento principal no lugar certo. Esse ditame da composição fo-tográfica não se refere apenas à Regra dos Terços, mas alerta o fotógrafo para evitar fusões do elemento mais importante com o fundo. Uma fusão acontece quando dois elementos estão muito próximos e as formas se embaralham ou se confundem. Por exemplo: a cabeça de uma pessoa na foto não deve so-brepor-se a uma árvore. A árvore vai parecer um cabelo ou chifres. A justaposição de duas pessoas numa imagem, que não tem pro-fundidade por ser bidimensio-nal, pode causar confusão e de-sarmonia.

Regras não faltam. Mais uma: deixe espaço para o mo-vimento e o olhar do sujeito na foto. Instintivamente, esperamos espaço nessa direção. Dessa for-ma, a foto transmitirá ao obser-vador uma sensação de conforto e satisfação.

Use linhas diagonais, con-vergentes, repetidas e paralelas ou linhas curvas em “S”, para dar dinamismo à foto e atrair a atenção do observador para o assunto principal. A ideia aqui é utilizar elementos fortes de de-sign para direcionar a visão do observador para o centro de in-teresse. A objetiva grande angu-lar aumenta a sensação de linhas convergentes ao ampliar a pers-pectiva e separar os planos (uma das características dessa lente). Considere sempre a área total do quadro fotográfico. Esse pro-xima à linha diagonal traçada,

em três partes iguais. Faça o mes-mo na lateral mais próxima ao canto superior da diagonal prin-cipal. Agora, trace diagonais pa-ralelas à diagonal central par-tindo do primeiro ponto acima e abaixo da linha principal (veja na foto que exemplifica). De acordo com a Regra da Diago-nal, os elementos importantes da foto devem ser colocados ao longo dessas linhas diagonais.

Outra regra, mais simples e facilmente aplicável, estabelece que o fotógrafo deve compor a foto em torno de um centro de interesse. Os elementos da com-posição, outras linhas e formas,

encaminharão a atenção do ob-servador para o assunto princi-pal, que ganhará importância e coerência e tornará a mensagem da fotografia mais efetiva.

Pelas mesmas razões, e de maneira muito similar, podemos aplicar mais uma regra: vá em busca de unidade. Essa lei de-termina que se o fotógrafo in-cluir vários elementos impor-tantes em sua imagem, o obser-vador terá sua atenção dividida e a fotografia perderá força. A ênfase deve se concentrar num único ponto de interesse.

Foi exatamente isso que Bur-le Marx quis dizer com domi-nante e dominado. Em outras

A Regra dos Terços: a flor (no alto) foi posicionada num dos pontos de ouro, ou seja, onde as linhas se cruzam; outra utilidade desta regra é a colocação da linha do horizonte que, na foto acima, ficou no terço inferior

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cedimento tem a vantagem téc-nica de aproveitar melhor a re-solução da câmera ao evitar cortes na edição final no computador, o que diminui o tamanho da ima-gem. Outra vantagem de fazer a composição final no momento de fotografar é que você estará refinando o olhar, a percepção e a capacidade de compor.

Ao pesquisar no Google por “composição + fotografia”, e suas variações, encontra-se uma infinidade de portais e artigos sobre o tema, em diversas lín-guas. Outras dicas e mais regras são oferecidas, com bons exem-plos de fotografias dos autores. Entretanto, quase todos – e com razão – afirmam que as regras existem para serem desobede-cidas. Um portal até apresenta um artigo sobre quebrar todas as regras – veja mais em photo- inf.com/General/Gloria_Hop- kins/Photographic_Composi-tion_Articles_Breaking_all_the_ Rules.htm. O assunto é bem dis-cutido, quase esgotado.

Regras para quê?

Nas ruas ou na natureza, com assuntos em movimento, não há tempo para pensar e apli-car tantas regras, algumas tão complexas. No entanto, será possível, ou mesmo interessante, com a câmera no tripé e ao re-gistrar assuntos estáticos, foto-grafar com essas regras em men-te? Ou mesmo em determinadas situações com total controle (em estúdio, por exemplo), aplicá-las conscienciosamente?

Como conformar o trabalho criativo à obediência de regras e fórmulas, ou aos ditames do Pilot Composition, por exem-plo? Se o trabalho criativo é o exercício da liberdade da ima-ginação, como é possível criar sob regras? É possível fotografar criativamente aplicando regras de composição? A resposta é “não” e está implícita nos termos contraditórios da pergunta: “criar – exercer a liberdade da imaginação – sob regras”.

Mais dois exemplos de uso da regra da diagonal: acima, as cabeças dos búfalos estão no traçado das linhas imaginárias; abaixo, as plantas que merecem mais destaque também seguem o padrão Regra da diagonal: as araras estão posicionadas ao longo das linhas traçadas como descrito no texto

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Fotografia de Natureza

As regras servem para ana-lisar, julgar e criticar fotografias a posteriori? Se elas existem para serem desobedecidas, de que va-lem, então? Como estabelecer critérios, se existem tantas ex-ceções? Como apreciar uma for-ma de arte com a mente obce-cada por regras ou deixar a cria-tividade de um fotógrafo nos atingir se estamos bloqueados por noções rígidas de como deve ser a fotografia?

Os verdadeiros artistas têm um dom inato para criar, o tal talento. Mozart compôs seu pri-meiro minueto para piano e se apresentou em público pela pri-meira vez aos cinco anos de ida-de. Beethoven, também aos cin-co anos, tocin-cou em um cin-concerto para cravo e, aos dez, já domi-nava todo o repertório de Bach. Prokofiev, aos sete anos, compôs sua primeira ópera. Pi-casso começou a pintar ainda criança. O que é a obra de Mi-chelangelo, de Van Gogh, de ou-tros gênios, senão a manifesta-ção de talento nato? O talento pode ser desenvolvido, aperfei-çoado com treinamento, numa determinada forma de arte, mas está lá desde sempre. Às vezes, se manifesta muito cedo, como nos gênios precoces. O inventor norte-americano Thomas Edi-son disse que “um gênio é uma pessoa de talento que faz toda a lição de casa”.

Estudar as leis da composi-ção e o trabalho dos grandes mestres da pintura e da fotogra-fia é fazer o dever de casa. Todos têm uma inclinação espontânea para a harmonia, a ordem, o equilíbrio e a completude. A mente tem uma tendência na-tural para buscar mais e mais prazer. Por isso é tão difícil con-centrarmo-nos num texto árduo quando está tocando uma mú-sica de que gostamos.

Também por isso temos uma inclinação inata para encontrar ou reconhecer a melhor com-posição artística. Quando foto-grafamos, buscamos

intuitiva-A curva em “S” é uma das formas que transmitem dinamismo na imagem e cria um centro de interesse na composição; abaixo, a foto é um exemplo de como a falta de unidade prejudica a composição e desvia a atenção das duas maracanãs-de-colar, o ponto de interesse da imagem

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mente a melhor composição, com talento e treinamento. O estudo do trabalho dos grandes artistas não deve ser um acúmu-lo de informações que rouba a liberdade da percepção e da cria-tividade. É apenas mais um re-curso, um repertório de possi-bilidades e um fundo de cultura geral para nos ajudar a ver, a descobrir no mundo a estrutura de nossas próprias composições.

Formas

Os estudos da Psicologia da Percepção promovidos pela Ges-talt (forma) apoiam essa hipó-tese. A Lei da Proximidade afir-ma que os elementos visuais se agrupam na mente segundo a distância que os separa. E a Lei da Semelhança indica que os ele-mentos de algum modo pareci-dos, por forma ou conteúdo, tendem a se agrupar.

A Lei do Fechamento enun-cia que os elementos agrupados, grosso modo, parecem comple-tar um contorno. A mente busca o completo. Pela Lei da Simpli-cidade, a mente busca explica-ções visuais simples: prefere li-nhas, curvas e formas simples, simetria e equilíbrio. (El Ojo del

Fotógrafo, de Michael Freeman;

Blume, 2008)

Para o físico alemão Albert Einstein, “a mente humana tem que construir formas, indepen-dentemente, antes de ter a ca-pacidade de encontrá-las nas coisas”. É ao estudar as regras de composição que aprendemos a construir formas e treinamos a percepção para reconhecer ou-tras possibilidades.

Creio até que podemos – tal-vez devêssemos – copiar exata-mente a composição de grandes fotógrafos e pintores. Mas ape-nas como treinamento. Podemos também fazer exercícios com cada uma das regras de compo-sição, aplicando-as consciente-mente e detalhadaconsciente-mente.

É o “dever de casa” como, provavelmente, Mozart inter-pretou as obras de Bach, e

Bee-thoven, as de Bach e Mozart, e como os pianistas treinam com os estudos de Chopin e os vio-lonistas brasileiros com os estu-dos de Villa-Lobos.

Para ajudar a fixar a lição, seguem palavras de Cartier-Bres-son. “A composição deve ser uma das nossas preocupações constantes, mas no momento de fotografar ela só pode ser intui-tiva, pois estamos às voltas com

instantes fugidios em que as re-lações são instáveis. Para aplicar a relação da seção áurea, o com-passo do fotógrafo só pode estar dentro do seu olho. Toda análise geométrica, toda redução a um esquema apenas pode se produ-zir, é óbvio, uma vez tirada a fo-to, revelada e ampliada. E so-mente servirá como matéria de reflexão. Espero que não veja-mos o dia em que o comércio

A afinidade da forma e das cores da formiga-leão acima faz com que ela se confunda sutilmente com o ambiente: é preciso estar atento a esse aspecto na hora de registrar a natureza

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Fotografia de Natureza

venderá os esquemas gravados no vidro despolido.”

Na hora de fotografar, de criar suas próprias imagens, cada fotógrafo deve aproximar-se do mundo com plena atenção e com a cabeça vazia, livre de ideias pre-concebidas, de fórmulas e regras. Como diz outro mestre, o nor-te-americano Ansel Adams: “não há regras para boas fotos; há ape-nas boas fotos”.

Técnica e composição

É com a técnica e o domínio eficiente das ferramentas que or-ganizamos os elementos do de-senho em fotografia. Por meio da escolha do ângulo de visão, da distância que vamos fotogra-far, da velocidade de obturação, do diafragma e do uso inteligente das características das lentes – da grande angular à teleobjetiva – e das relações entre todas essas variáveis, organizamos

simulta-neamente, isto é, no espaço e no tempo, os elementos gráficos da composição.

Expor aqui alguns desses procedimentos seria sugerir mais fórmulas. Já expus essas técnicas e procedimentos em diversos ou-tros artigos. Mas o dever de casa do fotógrafo é experimentar di-ferentes ângulos, com fotos to-madas de diferentes distâncias, com lentes de variadas distâncias focais (os zooms facilitam esse exercício), com diferentes dia-fragmas, profundidades de cam-po e velocidades de obturador, diante de diversas oportunidades de imagens, prestando atenção, notando e anotando.

Relação com as artes

Fotografia é arquitetura. Tanto uma quanto outra traba-lham com volumes, formas, li-nhas, perspectivas e efeitos da luz. Porém, ambas dispensam o

contato direto do artista com o material. O fotógrafo trabalha através da câmera, não usa as mãos para moldar o mundo ou produzir diretamente a fotogra-fia, como o pintor faz com tintas e pincel. O arquiteto projeta no papel ou no computador; ele não é o construtor. Mesmo as-sim, ambos imprimem o toque pessoal artístico em suas obras. Fotografia é pintura. É a or-ganização da imagem em duas dimensões, de linhas, cores, for-mas e perspectiva. É o ato de “pintar com a luz”.

Fotografia é escultura. Como o escultor, a partir da matéria bru-ta do real, do “mundo que está lá fora”, o fotógrafo lapida a imagem e, ao fazer o enquadramento, in-clui ou deixa de fora determina-dos aspectos da cena, cria relevos, volumes e sombras.

Fotografia é teatro. Uma re-portagem ou ensaio fotográfico

Construir a composição em torno de um centro de interesse é uma regra básica: acima, à direita, uma das bromélias foi destacada em primeiro plano com uma grande angular de 24 mm

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Fotografia de Natureza

pode ser um drama ou uma co-média, com informação, expres-são dos atores, emoção e cená-rio, que podem estar contidos numa única imagem ou numa fotonovela.

Fotografia é literatura, é poe-sia. Organiza informação, con-teúdos e símbolos, numa lingua-gem articulada e própria. Estão frequentemente associadas.

Fotografia é dança. É a or-ganização de formas, linhas, cor-pos, no tempo e no espaço, com sua própria linguagem. A foto-grafia de moda, por exemplo, é a expressão corporal com rou-pas, num cenário, com movi-mento e ritmo.

Fotografia é música. É a or-ganização, no tempo, de formas e silêncios (ou vazios). Assim co-mo a música, fotografia é uma composição. É inspirador foto-grafar ouvindo música, tão pró-xima é a relação das duas artes. Sobre o cinema, arte deriva-da deriva-da fotografia, basta dizer que

ele utiliza aspectos de todas as belas artes. E até a forma de pro-dução em equipe é uma compo-sição do trabalho de diversos autores e intérpretes.

Enfim, composição é orga-nização, ou seja, colocar elemen-tos numa obra de arte para trans-mitir significado e a intenção do artista. Essas comparações – a in-terconectividade de todas as for-mas de arte – ajudam-nos a ver as várias possibilidades de foto-grafar e entender a composição de uma maneira mais ampla.

Elementos significativos

Refiro-me aqui a conteúdo, informação, símbolos, clima ou atmosfera, a influência psicoló-gica das cores e referências cul-turais. A maneira como a aten-ção é “calibrada” para perceber determinados aspectos da rea-lidade é tão decisiva que, quando o fotógrafo está procurando oportunidades de fotografar pai-sagens, não vê aves; quando sai

para fotografar aves, não vê in-setos. A intenção seleciona a atenção. A atitude mental ao fo-tografar (a intenção) determina o que a atenção vai encontrar no mundo. Manter avivada na consciência a intenção de com-por uma imagem com os ele-mentos significativos torna pos-sível encontrá-los nas oportu-nidades de fotografia.

Composição total em foto-grafia é criar imagens que co-municam também esses elemen-tos significativos, além da com-posição gráfica. Por exemplo: se acredito que existe uma forte coerência na ideia de que a fo-tografia de natureza deve apre-sentar características naturais, e se creio que naturalidade, di-versidade, simplicidade, despre-tensão, espontaneidade, sutileza e assimetria são atributos da na-tureza, então fotografo tentando captar esses atributos em minhas imagens. Se mantenho minha atenção desperta para encontrar

A diversidade encontrada na foto acima só foi possível porque, ao fotografar, o autor buscou de forma consciente incluir esse aspecto da natureza tropical na composição

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Fotografia de Natureza

cenas que comunicam essas ca-racterísticas, tenho maior pos-sibilidade de aproveitar essas oportunidades.

Se, ao fotografar aves, pro-curo situá-las no ambiente, co-municar algum aspecto poético da experiência de observá-las na natureza, ou mostrar seu comportamento de acasalamen-to, nidificação ou alimentação, estou atento e me aproximo de-las de um modo diferente do que usaria para apenas registrar a espécie e identificá-la. Talvez não vá me preocupar com gran-de aproximação, com mostrar o máximo de detalhes – e o re-sultado será diferente.

Ao fazer uma reportagem sobre o lobo-guará, a ideia de que essa espécie é uma raposa do cerrado, de hábitos crepus-culares e noturnos, que anda so-bre pernas de pau, levou-me a procurar um ângulo que enfa-tizasse as pernas longas. Assim,

e eu me deitei no chão para fo-tografá-lo de baixo para cima, no cair da noite. A intenção de retratá-lo assim, de incluir esses ingredientes na composição to-tal, determinou as principais ca-racterísticas da foto.

Num ensaio fotográfico so-bre a renovação da vida na na-tureza, por exemplo, algumas possibilidades de conteúdos que transmitem essa ideia são cenas de filhotes de animais ou brotos de plantas, raios de luz atraves-sando o dossel da floresta, trans-mitindo uma atmosfera de algo novo irrompendo na paisagem; cenas de um inseto durante a metamorfose ou uma borboleta saindo da crisálida são outras soluções menos óbvias. O que interessa aqui é a intenção de incluir esses ingredientes na composição total.

Fotografar é uma atividade criativa e exige a imaginação livre na hora de disparar o obturador.

A mente deve estar vazia para per-mitir a entrada do novo, mas isso não significa que o fotógrafo deve ser absolutamente “espontâneo”. Burle Marx de novo: “Eu não acredito só no impulso. Eu acre-dito no impulso controlado. Sem o que nós nem sempre chegamos a resultados positivos”. Creio que é importante refletir sobre a ati-vidade de fotografar, desenvolver ao mesmo tempo a técnica e o olhar. E “o olho não vê o que a mente não sabe”.

Faça o dever de casa e foto-grafe, depois fotografe mais e, afinal, fotografe até que você não precise mais pensar em to-das as obrigações mecânicas, téc-nicas e estéticas, porque todas elas foram, ao longo desse pro-cesso, incorporadas por osmose e repetição. Então, no fugaz mo-mento do clique, sua ação já não depende do raciocínio, de me-mória, de regras para serem usa-das ou... desrespeitausa-das.

Na hora de compor a cena, o autor dispôs o céu, as nuvens, as montanhas e as rochas em torno do centro de interesse: a bromélia no primeiro plano, uma espécie ameaçada de extinção

Referências

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