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PECUÁRIA E DINÂMICA SOCIOPRODUTIVA NO PANTANAL SUL MATO-GROSSENSE

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PECUÁRIA E DINÂMICA SOCIOPRODUTIVA NO

PANTANAL SUL MATO-GROSSENSE

Ana Maria de Souza Mello Bicalho Universidade Federal do Rio de Janeiro anabicalho@hotmail.com

Arthur Almeida da Silva Guimarães Universidade Federal do Rio de Janeiro arthurasg@yahoo.com.br

Felipe da Silva Machado Universidade Federal do Rio de Janeiro felipemachado1@gmail.com

INTRODUÇÃO

Localizado no centro da América do Sul, mais precisamente, no extremo oeste do Brasil e em parte do Paraguai e da Bolívia, o Pantanal é a maior planície de inundação do mundo. No território brasileiro, o Pantanal Mato-Grossense distribui-se em uma área de quase 140 mil quilômetros quadrados pelos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Cerca de 65% da área total localiza-se na porção oeste do Mato Grosso do Sul. O presente trabalho tem como área de estudo o Pantanal Sul Mato-Grossense e, para melhor compreender a variação espacial da região, utiliza-se como recorte espacial a divisão regional proposta pela IBGE, onde a Mesorregião Pantanais Sul Mato-Grossense é composta por duas microrregiões homogêneas: Baixo Pantanal e Aquidauana.

Reconhecida tradicionalmente como uma área de pecuária extensiva, hoje, na região pantaneira coexistem diferentes atividades e interesses, ora integrantes, ora conflitantes. Vargas (2006) aponta que o Pantanal vem apresentando uma dinâmica espacial que combina tanto atividades tradicionais quanto atividades relacionadas à modernidade. Área de produção, população tradicional e ecossistemas frágeis dividem atualmente o uso

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da terra com áreas de preservação ambiental, paisagem turística, implementação de novas políticas públicas para gestão e ordenamento do território e a emergência de novos atores e novas atividades. Ainda que reconheça o processo em curso de mudança e a presença de novas atividades e usos no Pantanal, o trabalho tem interesse em analisar exclusivamente o quadro socioprodutivo da pecuária, atividade tradicional da região que vem passando por um processo de modernização com início em meados de 1990 e consolidação a partir de 2000.

A década de 1990 marca o início da reestruturação do espaço rural do Pantanal Sul Mato-Grossense, com a introdução de alternativas tecnológicas no sistema de produção da pecuária de corte. O movimento de mudança no Pantanal vincula-se ao processo de inserção do Brasil na economia globalizada, que teve como consequências a abertura do mercado e a reestruturação de diversos setores produtivos da economia brasileira, com o objetivo de torná-los mais competitivos no cenário global (ARAUJO, 2006; ARAUJO e BICALHO, 2010; VARGAS et al., 2010). Hoje, as práticas modernas se impõem sobre um modo de produzir tradicional, baseado na criação extensiva em pastagens naturais com baixo uso de tecnologia e de insumos industriais. Dessa forma, a criação de estratégias para que a pecuária tradicional se mantenha competitiva num ambiente de extrema complexidade deve ser uma das propostas do planejamento regional.

O Pantanal é um espaço em transformação que necessita ser compreendido no âmbito da gestão territorial. Segundo Araujo (2006), o isolamento que sempre caracterizou a região ao longo da ocupação do território brasileiro está se rompendo nos últimos anos por novas vias de acesso, pela ampliação do sistema portuário e pela melhoria da infraestrutura. Através de novas práticas de manejo, o sistema tradicional de produção pecuária está cedendo lugar a um novo sistema de produção com o emprego de técnicas modernas voltadas para o aumento da produção e a inserção da área no mercado competitivo de carne bovina.

Para criação de gado no Pantanal foi desenvolvido um sistema tradicional de produção, com técnicas próprias de manejo adaptadas às condições ecológicas locais. A base desse sistema é a prática extensiva, com os animais criados soltos nas pastagens. Assim, a criação de gado bovino de corte é parte integrante desse ambiente. O sistema tradicional de produção pecuária do Pantanal é reconhecido pela íntima relação da prática de manejo com o ambiente pantaneiro, onde em determinado período do ano, no ciclo de cheia-vazante, o tamanho do rebanho passa a ser limitado. Outra característica de

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diferenciação da área de produção do Pantanal é a presença de extensas áreas de pastagens nativas. No entanto, a baixa fertilidade dos solos e as limitações de quantidade e qualidade das forragens, especialmente durante o período seco, fazem com que a capacidade de suporte da maioria dos pastos seja baixa. No período das águas algumas áreas são inundadas e, consequentemente, áreas de pastagens são reduzidas. “Nesta época, as longas distâncias, as dificuldades de transporte, locomoção, comunicação e tamanho das invernadas tornam difícil o manejo frequente dos rebanhos. Por isto, o sistema de criação é extensivo, com ênfase na fase de cria” (ROSA et al., 2007, p.10).

Tendo como base alguns referenciais teóricos que reconhecem o Pantanal como um espaço em transformação e com novas atividades econômicas, o presente trabalho se constitui em um esforço inicial de reflexão sobre o tema. Assim, buscou-se reconhecer as mudanças em curso através de indicadores do quadro regional da produção bovina e do comportamento da população. A primeira etapa do trabalho envolveu o levantamento de dados secundários sobre a produção e a população das Microrregiões Baixo Pantanal e Aquidauana, bem como dos municípios que as integram, nos Censos Demográficos, Agropecuários e no Sistema IBGE de Recuperação Automática (SIDRA) da Fundação IBGE.

Os dados de produção analisados no trabalho correspondem ao quadro do efetivo bovino do recorte de área no período de 1975 a 2010, com intervalos de cinco anos. Além do quadro produtivo foram selecionados dados para a análise socioprodutiva da região. Dessa forma, dados acerca da estrutura fundiária, mais especificamente a condição do produtor e a divisão da terra por grupo de área foram levantados. Em relação à população, foram selecionados dados referentes à população total por sexo, idade e situação do domicílio; e população economicamente ativa por setor de atividade, tendo como anos base de referência 1970, 1991 e 2010. Os dados foram tabulados e, posteriormente, organizados em gráficos e tabelas, tanto em números absolutos quanto relativos, para sua melhor visualização e análise1.

VARIAÇÃO ESPACIAL DA PRODUÇÃO PECUÁRIA E ESTRUTURA FUNDIÁRIA

NO PANTANAL SUL MATO-GROSSENSE

Conforme apontado por Rosa et al. (2007), até princípios dos anos de 1970, o 1 Com a finalidade de manter um parâmetro de comparação, alguns dados coletados foram reorganizados. Em 2010, os cinco grupos de idade acima de 80 anos foram agregados para integrar a categoria 80 anos ou mais, seguindo a divisão de 1970 e 1991. A população economicamente ativa por setor de atividade dos anos de 1991 e 2010, que apresentava subdivisões de categorias, foi reorganizada para manter a mesma divisão do ano de 1970.

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Pantanal representava 90% do rebanho do então estado de Mato Grosso, o que representava cerca de 6% do efetivo no Brasil. Após quatro décadas, em 2010, conforme observa-se na figura 1, para um efetivo nacional de aproximadamente 209 milhões de cabeças de bovinos, o rebanho da Mesorregião Pantanal Sul Mato-Grossense representa cerca de 4,3 milhões. O mesmo efetivo perfaz apenas cerca de 6% do rebanho da Região Centro-Oeste e 19,3% do efetivo total do estado Mato Grosso do Sul, onde a produção da pecuária bovina de corte, sob o modelo da modernização, é uma atividade praticada em todas as regiões do estado, tanto em regiões pantaneiras quanto em regiões de cerrado.

Figura 1. Efetivo do rebanho bovino (cabeças) - Brasil, Região, Unidade da Federação e Mesorregião, 1980 – 2010.

Fonte dos dados: Fundação IBGE

Enquanto a região pantaneira mantinha estável o seu efetivo bovino e a mesma capacidade de suporte em suas pastagens nativas, em decorrência das suas características tradicionais de produção num ambiente com características específicas de solo e regime hidrológico único, o cerrado sofria mudanças intensas com a modernização técnica. Segundo Rosa et al. (2007), vários programas de crédito subsidiado, dentre os quais se destacam os desenvolvidos pelo CONDEPE (Conselho Nacional de Desenvolvimento da Pecuária), promoveram a melhoria de infraestrutura das fazendas e o crescimento dos

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rebanhos, com investimentos próprios para a aquisição de touros e matrizes. Junto às melhorias de infraestrutura e do rebanho, a assistência técnica para acompanhamento dos projetos possibilitou a disseminação de técnicas de formação de pastagens, uso de sal mineral, vacinas e medicamentos. Dessa forma, as áreas do Planalto Central, até então praticamente improdutivas, passaram a integrar o sistema moderno de produção agropecuária.

Ainda que de forma diferenciada das áreas de cerrado, a planície pantaneira não apresentou nas últimas décadas um comportamento exclusivamente estático e estagnado. Na tentativa de apresentar algumas características da organização espacial e da modernização da atividade de criação de bovinos no Pantanal, Araujo e Bicalho (2010) apontam que já nos intervalo entre os anos de 1970 e 1990, a região inicia, mesmo que com menos intensidade, seu processo de inserção no projeto nacional de modernização da agropecuária. Nesse período é possível identificar a formação da cadeia pecuária-indústria, com a instalação de frigoríficos e a integração da criação de gado com a industrialização da carne bovina e, consequentemente, a introdução de mudanças técnicas na pecuária para alcançar maior produtividade. A melhoria do transporte rodoviário na região, possibilitando conexão com todo o país, também é um dos exemplos que demonstram que o Pantanal, antes uma região extremamente periférica do Brasil e do mundo, nos últimos anos, vem apresentando mudanças na sua organização espacial e na sua relação com outras regiões.

Para o último intervalo, de 1990 a 2010, Araujo e Bicalho (2010) indica que a modernização do quadro produtivo é intensificado através do aprofundamento das mudanças técnicas da pecuária. A atividade, ao inserir técnicas mais modernas e ao participar do mercado competitivo de carne bovina, passa a buscar maior racionalidade espacial, chegando a se articular com redes globais. Outra característica para as mudanças em curso na produção pecuária do Pantanal é a sua diversificação, com a introdução de novas práticas de manejo para alcançar uma produção de qualidade e padrão diferenciados. Ao analisar a dinâmica produtiva do recorte espacial, nota-se que desde a década de 1970 ocorre crescimento do efetivo bovino com oscilações ao longo do processo (Figura 2). Nos anos 2000, identifica-se aumento da produção pecuária, com maior destaque para os municípios de Corumbá e Aquidauana. Dessa forma, torna-se necessário reconhecer que a região do Pantanal Sul Mato-Grossense apresenta comportamento e ritmo diferenciados quando comparada às outras áreas de pecuária do país ou ao restante da Região Centro-Oeste. Porém, nas últimas décadas, com a abertura do mercado internacional

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da carne e a potencialidade de crescimento do mercado interno, o processo de modernização da atividade pecuária foi intensificado, houve melhorias do rebanho e, consequentemente, o número de cabeças de bovinos aumentou em diferentes partes do Brasil. Em relação ao quadro do efetivo bovino (Figura 2) observa-se que na Mesorregião Pantanais Sul Mato-grossense, em 2000, o número total de cabeças era de 3472559 animais, enquanto no ano de 2010, o total apresentado foi de 4326605 animais, um aumento de 19,74%. Quando comparado o ano de 1975, quando o efetivo era representado por 3197311 cabeças, com o período de 2010, o aumento é ainda mais significativo, de 26,1%.

Figura 2. Efetivo do rebanho bovino (cabeças) - Mesorregião Pantanais Sul Mato-grossense e Microrregiões, 1975 – 2010.

Fonte dos dados: Fundação IBGE

Ainda em relação à análise do efetivo bovino, cabe ressaltar que o ritmo de crescimento do rebanho nas microrregiões e nos municípios que compõem a Mesorregião Pantanais Sul Mato-Grossense apresenta diferenças, o que indica a variação espacial e a diversidade de comportamentos da região. Nesse contexto, uma investigação mais ampla sobre as mudanças espaciais no Pantanal Sul Mato-Grossense torna-se fundamental. Na figura 3, nota-se que a Microrregião Baixo Pantanal apresentou certa estabilidade do rebanho até os anos 2000 e posterior aumento. Em termos percentuais, o comportamento

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de crescimento do efetivo bovino na Microrregião Aquidauana foi maior (Figura 4). O município de Corumbá, reconhecido por sua pecuária tradicional pantaneira, de 1975 a 2010, apresentou ora queda, ora aumento, ora estabilidade do efetivo bovino. No âmbito dos municípios que compõem as duas microrregiões analisadas (Figuras 3 e 4), observa-se grande variação, em especial, na Microrregião Baixo Pantanal, onde o município de Corumbá apresenta um número de animais muito superior aos demais municípios.

Figura 3. Efetivo do rebanho bovino (cabeças) Microrregião Baixo Pantanal e Municípios, 1975 -2010.

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Figura 4. Efetivo do rebanho bovino (cabeças) - Microrregião Aquidauana e Municípios, 1975 - 2010.

Fonte dos dados: Fundação IBGE

Desde a ocupação da região, a pecuária bovina de corte é a principal atividade econômica do Pantanal Sul Mato-Grossense, sendo a disponibilidade de terras um dos principais aspectos para o desenvolvimento da criação de gado na extensa área de planície. Tanto no passado quanto nos dias de hoje, a pecuária de corte é organizada tendo por base a estrutura da grande propriedade rural e a concentração fundiária é uma das principais características da organização do espaço rural pantaneiro. Segundo os dados do Censo Agropecuário de 2006, no estado do Mato Grosso do Sul, o grupo de área superior a 1000 ha (10,27% dos estabelecimentos agropecuários totais) ocupa em área 77,11%. Na mesorregião analisada, o mesmo grupo, representado por 21,51%, corresponde a 95,2% da área total. A característica da grande propriedade é ainda mais nítida na Microrregião Baixo Pantanal, onde o grupo dos grandes estabelecimentos agropecuários (31,61% do total) representa aproximadamente 98% da área total ocupada (Tabela 1).

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Tabela 1. Estrutura fundiária rural no Mato Grosso do Sul, Mesorregião Pantanais Sul Mato-grossense, 2006.

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Na tabela 1, ainda em relação às características fundiárias, nota-se que, mesmo que 87,96% da área total da mesorregião seja ocupada pelo grupo dos estabelecimentos agropecuários com área superior a 2500 ha, a atividade de criação de gado também é praticada em outros estabelecimentos agropecuários de diferentes tamanhos, encontrando um número significativo de pequenos e médios pecuaristas. Com um número total de 4560 estabelecimentos agropecuários com efetivo bovino, na Mesorregião Pantanais Sul Mato-Grossense, 74,87% dos produtores são proprietários da terra (Figura 5). A condição de proprietário é predominante em todos os recortes analisados. Em relação à condição do produtor, nota-se também que há um significativo número de produtores rurais na condição de assentado sem titulação definitiva. Na mesorregião analisada, esse grupo representa 21% dos 4560 produtores totais com criação de bovinos.

Figura 5. Condição do produtor nos estabelecimentos agropecuários com efetivo bovino, 2006.

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PADRÕES DE COMPORTAMENTO DA POPULAÇÃO E DOS SETORES DE

ATIVIDADE ECONÔMICA

A população das Microrregiões Baixo Pantanal e Aquidauana apresenta um padrão de distribuição por faixa etária semelhante. É possível observar que a pirâmide etária de cada uma das duas microrregiões, no ano de 1970 (Figura 6), possui uma base larga, indicando o predomínio de uma população jovem. Os dados de 1991 (Figura 7) indicam uma pirâmide etária ainda jovem, entretanto, o crescimento dessa parcela da população é acompanhado pelo aumento no número de adultos e idosos. Já em 2010 (Figura 8) a transição está consolidada, e as duas microrregiões apresentam pirâmides etárias adultas, sendo caracterizadas pela manutenção de colunas largas na base; redução do número de jovens em relação aos dados de 1991; e ampliação das colunas nas faixas de população adulta e idosa.

Os dados também indicam que nos três anos de referência existe uma relação de equilíbrio entre o número de homens e mulheres nas duas microrregiões estudadas. Em relação aos municípios, a análise dos dados indica que essa tendência se reproduz em Anastácio, Aquidauana, Corumbá, Dois Irmãos do Buriti, Ladário, Miranda e Porto Murtinho.

Figura 6. Pirâmide Etária por microrregião, 1970.

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Figura 7. Pirâmide Etária por microrregião, 1991.

Fonte dos dados: Fundação IBGE

Figura 8. Pirâmide Etária por microrregião, 2010.

Fonte dos dados: Fundação IBGE

A população total cresceu nas duas microrregiões e nos sete municípios analisados, sendo esse crescimento decorrente principalmente do aumento da população urbana na região, tanto em números absolutos quanto em números relativos, na comparação percentual com a parcela rural. As duas microrregiões e os sete municípios apresentam a mesma tendência de crescimento da população urbana, tanto em termos

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absolutos quanto relativos. Inversamente, a população rural apresenta um recuo de sua participação no conjunto da população nas duas microrregiões e nos sete municípios. Entretanto, apesar dessa diminuição percentual, os municípios de Ladário, Dois Irmãos do Buriti e Miranda apresentaram crescimento em números absolutos da população rural na comparação entre os dados de 1991 e 2010. O aumento foi de 11,83% em Ladário, 17,43% em Dois Irmãos do Buriti e 5,57% em Miranda.

Na região também é possível identificar um processo de transição demográfica associado à diminuição da população rural. Na Microrregião Aquidauana e nos municípios de Anastácio e Miranda a população rural é superior à urbana no ano de 1970, correspondendo respectivamente a 56,44%, 66,45% e 77,44% do total populacional. Já em 1991 a participação da população rural diminui para 33,93% na Microrregião Aquidauana, 27,90% em Anastácio e 47,08% em Miranda. No município de Porto Murtinho a transição ocorreu entre os anos de 1991 e 2010, quando a população rural passou de 51,72% para 34,56%. A microrregião Baixo Pantanal e os municípios de Aquidauana, Corumbá e Ladário têm desde a década de 1970 a população urbana superior à população rural. O único município que apresenta um comportamento diferenciado na região é Dois Irmãos do Buriti, onde nos anos de 1991 e 2010 a população rural é superior à população urbana. É válido mencionar que o último município foi emancipado de Anastácio no ano de 1987 (Tabela 2).

Tabela 2. População Total, Rural e Urbana - 1970/1991/2010.

Fonte dos dados: Fundação IBGE

O conjunto de dados referente à população economicamente ativa por setor de atividade indica duas tendências na escala de microrregião. A primeira é a diminuição da participação das atividades agropecuárias no conjunto dos setores. Em 1970, nas Microrregiões Baixo Pantanal e Aquidauana, a agropecuária empregava respectivamente 43,72% e 59,94% da população economicamente ativa. Já em 2010 o percentual diminuiu para 15,92% no Baixo Pantanal e 24,53% em Aquidauana (Figura 9). Apesar da diminuição no percentual de participação, os municípios de Corumbá, Ladário, Porto Murtinho e Miranda

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apresentaram crescimento absoluto no número de pessoas empregadas na agropecuária na comparação entre os dados de 1991 e 2010.

Figura 9: População Economicamente Ativa por Setor de Atividade, 1970/1991/2010.

Fonte dos dados: Fundação IBGE

A segunda tendência é o aumento da participação do comércio de mercadorias, da prestação de serviços e das atividades sociais. Se comparados os dados de 1970 e 1991, observa-se tanto o crescimento do percentual (Figura 9) quanto do número absoluto nos três setores (Tabela 3). Já na comparação entre os dados de 1991 e 2010, apesar do crescimento absoluto, observa-se uma pequena redução na participação da prestação de serviços nas duas microrregiões e na participação das atividades sociais no Baixo Pantanal. É importante destacar também que na comparação entre 1991 e 2010 houve crescimento absoluto e relativo da categoria outras atividades2.

2 De acordo com o Censo Demográfico de 1991, a categoria outras atividades inclui: instituições de crédito, de seguros e de capitalização, comércio e administração de imóveis e valores mobiliários, organizações internacionais e representações estrangeiras, e atividades não compreendidas nos demais ramos, atividades mal definidas ou não declaradas.

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Tabela 3: População Economicamente Ativa por Setor de Atividade

Fonte dos dados: Fundação IBGE

As mudanças na distribuição da mão de obra por setor podem ser relacionadas ao processo de modernização da pecuária na região, que começa na década de 1970 e ao crescimento do turismo, principalmente a partir da década de 1990. Segundo Araujo e Bicalho (2010), a modernização envolve a reorganização das relações de trabalho, ampliando o número de postos de trabalho para profissionais mais qualificados – como administradores de empresa, economistas, veterinários, agrônomos e tratoristas –, que ocupam cargos na administração, na gerência ou prestam serviços ao agronegócio pecuário. Já o turismo, enquanto uma estratégia de ampliação e diversificação da renda nas propriedades rurais, demanda uma série de serviços e infraestruturas que podem absorver a mão de obra local. De acordo com Araujo e Bicalho (2010), os primeiros turistas chegam ao Pantanal na década de 1970, sendo atraídos pela natureza da região, e dispondo de uma reduzida infraestrutura, limitada a pequenas pousadas e sem o suporte de agências de viagem ou empresas de turismo. Na década de 1990 o turismo cresce na região, ampliam-se os investimentos no setor e surgem novas modalidades, como o turismo rural e a pesca esportiva, esta última, destacada pelo Plano Regional de Desenvolvimento Sustentável da Região Alto Pantanal como um dos principais fatores de atração de turistas para a região nos últimos anos.

Em decorrência desse processo, “o turismo vem se destacando na economia pantaneira, apresentando resultados positivos, acompanhando o desempenho de setores tradicionais, tornando-se um importante fator de desenvolvimento econômico e social para a região” (ARAUJO e BICALHO, 2010, p. 106).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Pantanal Sul Mato-Grossense é um espaço em transformação. Enquanto anos atrás estava numa posição periférica às mudanças e ao restante do território brasileiro, nas últimas décadas vem acompanhando os processos de mudança socioprodutiva em curso no rural brasileiro. Ainda que de forma diferenciada do contexto nacional e regional, como pode ser observado nos dados analisados, a produção da pecuária de corte no Pantanal do Mato Grosso do Sul também não apresentou estagnação, mas grande variação no seu comportamento. Inclusive, pode-se notar aumento em algumas áreas e estabilização do efetivo bovino em outras, o que indica tentativas de manutenção e de inserção do seu quadro produtivo num mercado nacional e internacional altamente competitivo. Cabe ressaltar que para maior inserção no mercado, a atividade pecuária vem incorporando novas tecnologias voltadas para aumento da produtividade, sanidade animal e qualidade diferenciada do produto. Sendo assim, investigar as mudanças técnicas e as novas tendências da atividade de criação de bovinos torna-se fundamental para responder o comportamento da produção.

Em relação aos dados sociais, observa-se uma tendência de crescimento da população total, associada principalmente ao aumento da população urbana, bem como uma tendência de recuo da população rural, em termos de sua participação percentual no conjunto da região. Os dados socioeconômicos indicam que, apesar da redução no percentual de participação da agropecuária, o número absoluto de pessoas no setor tem crescido na comparação entre os dados de 1991 e 2010, em alguns municípios. Além disso, os setores de comércio de mercadorias, prestação de serviços e serviços sociais aumentaram sua participação ao longo das últimas quatro décadas. Essas mudanças em curso na região podem indicar um processo de reorganização do espaço para atender às novas demandas ligadas à modernização da atividade pecuária e ao surgimento de novas atividades.

AGRADECIMENTOS

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), ao Departamento de Geografia da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul e ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, pelo apoio oferecido para a realização da pesquisa.

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REFERÊNCIAS

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em transformação. 2006. 315 f. Tese

(Doutorado em Geografia) - Instituto de Geociências, Programa de Pós-graduação em Geografia - PPGG, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2006.

ARAUJO, Ana Paula Correia; BICALHO, Ana Maria de Souza Mello. O rural em movimento: a pecuária

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FUNDAÇÃO IBGE. Censo Agropecuário 2006.

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Grosso do Sul 1991 e 2010.

GOVERNO DO ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL.

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corte no pantanal brasileiro: realidade e perspectivas futuras de melhoramento.

Documentos. Corumbá, Mato Grosso do Sul: Embrapa Pantanal, 2007.

VARGAS, Icléia Albuquerque. O desenvolvimento territorial rural do Pantanal Mato-Grossense no contexto da sensibilização ambiental. In: ALASRU - Associação Latinoamericana de Sociologia Rural, Congreso Latino-Americano de

Sociología Rural, VII, 2006. Anais. Quito:

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VARGAS, Icléia Albuquerque, ARAUJO, Ana Paula Correia, BICALHO, Ana Maria Souza Mello, MARTINS, Sergio Ricardo Oliveira. O esverdeamento do boi pantaneiro: alternativas tecnológicas para a manutenção do sistema de produção tradicional no Pantanal. In: Encontro

da Rede de Estudos Rurais, IV, 2010. Anais.

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PECUÁRIA E DINÂMICA SOCIOPRODUTIVA NO PANTANAL SUL

MATO-GROSSENSE

EIXO 2 – Dinâmicas e conflitos territoriais no campo e desenvolvimento rural

RESUMO

O estado de Mato Grosso do Sul é considerado referência na produção da pecuária bovina de corte sob o modelo da modernização, sendo a atividade praticada em todas as regiões do estado, tanto em regiões pantaneiras quanto em regiões de cerrado. A pecuária é desenvolvida em sistemas de produção que constantemente incorporam novas tecnologias voltadas para produtividade, sanidade animal e qualidade do produto. Nas últimas décadas, com a abertura do mercado internacional da carne e a potencialidade de crescimento do mercado interno, o processo de modernização da atividade foi intensificado.

Entretanto, quando comparado ao comportamento da modernização da pecuária no Brasil, particularmente, na Região Centro-Oeste, o Pantanal apresenta comportamento e ritmo diferenciados. No Pantanal, a modernização da atividade teve início em meados de 1990 e se consolidou a partir da década de 2000. Partindo dessa perspectiva, o objetivo do trabalho é analisar o comportamento, as novas tendências da pecuária pantaneira e seus reflexos na dinâmica social, com ênfase no quadro fundiário e na estrutura demográfica e socioeconômica. O trabalho faz parte de uma investigação mais ampla sobre as mudanças espaciais e a gestão territorial no Pantanal Sul Mato-Grossense. Na fase atual da pesquisa são analisadas as tendências econômicas e sociais a nível de microrregião e municípios, baseadas em fontes secundárias – Censos Agropecuários e Demográficos e dados da Produção Pecuária Municipal – balizadas por conhecimento prévio da região proveniente de trabalhos anteriores. Para compreender a diversidade e os diferentes comportamentos espaciais da região, foi adotado como recorte espacial a Mesorregião Pantanais Sul Mato-Grossense, composta pelas Microrregiões Baixo Pantanal e Aquidauana. Partindo das mudanças regionais da pecuária nas décadas de 1990 e 2000, como recorte temporal, foram estabelecidos os períodos: anterior (1970-80) e posterior (2010) ao processo de modernização.

Ao analisar a dinâmica produtiva do recorte espacial, nota-se que, desde a década de 1970, ocorre crescimento do efetivo bovino com oscilações ao longo do processo. Nos anos 2000, identifica-se aumento da produção pecuária, com maior destaque para os municípios de Corumbá e Aquidauana. Face ao comportamento do efetivo bovino, as áreas de pastagens foram expandidas, o que possibilitou a manutenção do caráter extensivo da atividade na região.

Em relação às características fundiárias, ainda que 87,96% da área total seja ocupada pelo grupo dos estabelecimentos agropecuários com área superior a 2500 ha, observa-se que a atividade pecuária é praticada em estabelecimentos agropecuários de diferentes portes, encontrando um

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número significativo de pequenos e médios pecuaristas. Com um número total de 4560 estabelecimentos agropecuários com efetivo bovino, na Mesorregião Pantanais Sul Mato-Grossense, 74,87% dos produtores são proprietários da terra.

A análise dos dados também permite identificar uma dinâmica demográfica similar em todas as microrregiões e municípios. Observa-se crescimento da população total, com aumento da população urbana e diminuição da rural, seja em números absolutos ou relativos. Entretanto, a diminuição da população rural não é acentuada e o crescimento urbano não é resultado apenas da migração campo-cidade. É importante destacar que há municípios que apresentam uma participação relevante da população rural de 40% e 50% da população total.

Ademais, as duas microrregiões analisadas apresentam um padrão de mudança da pirâmide etária, com predomínio de jovens em 1970 e uma tendência de crescimento no número de adultos e idosos em 1991 e 2010. Por último, o estudo relaciona dinâmica demográfica e distribuição da população economicamente ativa nos diferentes setores de atividades, demonstrando diminuição da proporção da população economicamente ativa nas atividades agropecuárias e o aumento em outras atividades, principalmente nas atividades de prestação de serviços.

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