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ESHC019-17 - História do Pensamento Econômico

Quadrimestre: 3º. 2017 - Carga Horária: 48h

Recomendação: Pensamento Econômico e

Introdução à Economia

Prof. Maurício Martinelli Luperi –

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Aula 9 – Karl Marx (pp. 221-233)

Propriedade Privada, Capital e Capitalismo

- Marx formulou respostas para as questões que tinha levantado sobre a natureza e as origens da mais-valia. Ele mostrou que, por meio de uma série de trocas em que todas as mercadorias eram trocadas pelos seus valores, a mais-valia não era gerada na troca mas no processo de produção. - Ele mostrou que a mais-valia só poderia ser realizada na troca num sistema socioeconômico em

que o trabalhador “livre” vendia sua força de trabalho ao proprietário do capital.

- Portanto, “trabalhadores livres” que não possuíssem meios de produção relevantes era um pré-requisito para a existência do capital. Assim, o capital teria que envolver um conjunto muito específico de relações sociais.

- Mas os teóricos da economia ortodoxa na época de Marx (como continuam fazendo até o presente) simplesmente identificaram o capital com meios de produção fabricados anteriormente, isto é, uma coleção de “coisas”. Marx reconheceu que o capital envolvia, pelo menos parcialmente, os meios fabricados para produzir mais; este aspecto parcial do capital existia em todas as sociedades e em todas as épocas históricas.

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- De modo semelhante, na medida em que a produção sempre consistiu na

apropriação e transformação de recursos naturais, segue-se que algum tipo de

relações de propriedade existia em todas as sociedades e em todas as épocas

históricas,

- Contudo, o que interessava a Marx era a questão dos aspectos da propriedade que

eram peculiares e específicos aos capitalismo e como essas relações de

propriedade transformavam os meios de produção fabricados em capital. Esse

conhecimento era necessário para conhecer o capitalismo.

“O capital aparece cada vez mais como uma força social cujo agente é o capitalista. Essa

força social não se relaciona mais, em qualquer relação possível, com a força que pode

ser criada pelo trabalho de um indivíduo isolado. Torna-se uma força alternada,

independente, que se opõe à sociedade como um objeto, objeto esse que é a fonte do

poder do capitalista”.

- A base legal do capital era a lei da propriedade tal como existia no modo de

produção capitalista:

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“Inicialmente, os direitos de propriedade pareciam basear-se no próprio trabalho de

um homem. Pelo menos era necessário levantar essa hipótese, pois só os donos de

mercadorias com direitos iguais é que se relacionavam, e o único meio pelo qual um

homem poderia possuir as mercadorias de outros era alienando (abrindo mão na

troca) de suas próprias mercadorias e estas só podem ser substituídas pelo trabalho.

Atualmente, porém, a propriedade aparece como o direito do capitalista de se

apropriar do trabalho não pago (trabalho excedente) dos outros ou de seu produto, e

a impossibilidade, por parte do trabalhador, de se apropriar de seu próprio produto.

A separação entre propriedade e trabalho tornou-se consequência necessária de

uma lei que, aparentemente, se originou de sua identidade”.

- O capital e as leis da propriedade privada tinham se tornado o mecanismo, no

modo de produção capitalista, por meio do qual uma classe dominante expropriava o

excedente econômico criado pela classe operária.

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Acumulação Primitiva

- Uma vez que o capital e o trabalho livre passam a existir, o capital torna possível a geração de mais-valia, e esta torna possível o aumento de capital. Para entender verdadeiramente o capital, contudo, é preciso procurar por trás dessa espirial incessante o início real do processo.

- As origens históricas do capital não eram, segundo a argumentação de Marx, o comportamento econômico frugal e abstêmio de uma elite moral (como Malthus, Say, Senior, Bastiat e até Mill tinham argumentado).

- O sistema capitalista pressupunha uma classe operária sem propriedades e uma classe capitalista rica.

- Marx deu nome de acumulação primitiva ao processo histórico real por meio do qual essas duas classes tinham sido criadas. Citação p. 222.

- A sociedade feudal pré-capitalista tinha sido predominantemente agrícola. Portanto, a criação da classe operária envolveu a destruição dos vínculos sociais feudais pelos quais a maioria dos trabalhadores garantia seu acesso à terra, mantendo, com isso, sua capacidade produtiva.

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- Quando as relações de propriedade feudal foram destruídas e transformadas em relações de propriedade privada moderna, os agricultores foram retirados à força das terras cujo acesso fora garantido a seus antepassados pelas tradições feudais.

“A espoliação da propriedade da Igreja, a alienação fraudulenta dos domínios do Estado, o roubo de terras comuns a usurpação da propriedade feudal e dos clãs e sua transformação em moderna propriedade privada, em circunstâncias de terrorismo impiedoso, foram alguns dos muitos métodos “poéticos” de acumulação primitiva. Conquistaram os campos para agricultura capitalista, transformaram o solo em parte do capital e criaram, para as indústrias das cidades, a necessária oferta de um proletariado... “livre”.

- Quando os milhares de trabalhadores “livres” apareceram pela primeira vez, não havia, é claro, empregos preexistentes esperando por eles. Mesmo quando havia empregos nas indústrias, estes exigiam um disciplina rígida com a qual ele não estavam acostumados.

- Por isso, “eles se transformaram, em massa, em mendigos, ladrões e desordeiros... A maioria dos casos, por força das circunstâncias”.

- Além de a terra tornar-se parte do capital, ela era necessária para acumulação de grandes fortunas que pudessem ser transformadas em capital industrial.

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“A descoberta de ouro e prata na América, a aniquilação, a escravização e o emprego

forçado, nas minas, da população aborígine, o começo da conquista e da pilhagem nas

Índias Orientais, a transformação da África num viveiro de caça comercial de negros

assinalaram a aurora cor-de-rosa da era da produção capitalista. Esses procedimentos

“poéticos” são as principais forças que acionam a acumulação primitiva. São seguidas de

perto pela guerra comercial das nações europeias, tendo o mundo como palco...

A diferença forças acionaram a acumulação primitiva distribuem-se, agora, mais ou

menos em ordem cronológica, pela Espanha, Portugal, Holanda, França e Inglaterra. Na

Inglaterra do fim do século XVII, elas chegaram a uma combinação sistemática,

abarcando as colônias, a dívida nacional, o moderno sistema de tributação e o sistema de

tributação e o sistema protecionista. Esses métodos dependem, em parte, da força bruta,

quer dizer, do sistema colonial. Todos eles, porém, empregam o poder do Estado, a força

organizada concentrada da sociedade, para acelerar, promover o processo de

transformação do modo de produção feudal no modo de produção capitalista e para

apressar essa transição. A força é parteira de toda a sociedade antiga ´grávida de uma

sociedade nova”.

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- Descrevendo todo o processo de acumulação primitiva, Marx escreveu que, no período de sua criação inicial, “o capital pingava sangue e fogo da cabeça aos pés, por todos os poros”.

Acumulação de Capital

- Uma vez surgido o capitalismo, tudo isso mudou. Marx assegurava que o poder dos capitalistas passava a ser garantido pela novas leis de propriedade privada.

- Quando os capitalistas se tronaram classe dominante, eles e seus porta vozes se tornaram advogados da “lei e da ordem” – a lei da propriedade privada e a ordem do modo de produção e circulação capitalista perpetuavam seu poder.

- A separação dos operários de todos os meios de produção foi suficiente para iniciar o capitalismo dirigido por suas próprias “leis de movimento”. “Logo que a produção capitalista se firma por si mesma, não só mantém essa separação, como também a reproduz em escala sempre crescente”

- Dadas as bases sociais, legais e econômicas do sistema capitalista, suas “leis de movimento” refletiam a força motivadora que impelia o sistema – a ânsia incessante de acumular capital.

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- A posição social do capitalista e seu prestígio, bem como seu poder econômico e político, dependiam do valor do capital por ele controlado. Ele não podia ficar parado, era atacado de todos os lados pela concorrência acirrada.

- O sistema exigia que ele acumulasse e ficasse mais poderoso, a fim de vencer seus concorrentes, caso contrário, seu capital poderia ser tomado. Só pela acumulação de capital novo e melhor é que esse desafio poderia ser vencido.

Concentração Econômica

- Á medida que o capitalismo se desenvolvia, a riqueza e o poder se concentravam nas mãos de um número cada vez menor de capitalistas.

- A concentração era resultado de duas forças: a concorrência levava a absorção do fraco pelo forte e à medida em que a tecnologia ia se aperfeiçoando “havia um aumento do volume mínimo de... capital necessário para o funcionamento de uma empresa em suas condições normais”

- Para continuar concorrendo, uma firma teria de estar sempre aumentando a produtividade de seus operários. A “produtividade do trabalho... Dependia da escala de produção”.

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- Assim, a mudança de tecnologia e a concorrência entre os capitalistas criavam um inexorável movimento do sistema capitalista rumo a firmas cada vez maiores, pertencentes a um número cada vez menor de capitalistas.

- Dessa maneira, o fosso entre a pequena classe de capitalistas ricos e a grande maioria da sociedade – o proletariado – ampliava-se continuamente.

Tendência Decrescente da Taxa de Lucro

- Marx achava que “a composição do capital e as mudanças por ele sofridas durante o processo de acumulação” constituíam um dos “fatores mais importantes” de sua teoria.

- A composição do capital era “determinada pela proporção em que ele era dividido em capital constante e capital variável,(a soma dos salários), (c/v) como composição orgânica do capital. - Achava que a cumulação incessante teria o efeito, com o tempo, de aumentar

persistentemente essa composição orgânica. Ou seja, o valor dos meios de produção tenderia a aumentar em ritmo mais rápido que o valor da força de trabalho comprada para trabalhar nesses meios de produção. Uma das consequências desse aumento seria uma tendência persistente à queda da taxa de lucro.

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- Embora a mais-valia fosse criada apenas pelo capital variável, o capitalista baseava

sua taxa de lucro em todo o seu capital.

“A mais-valia, qualquer que seja sua origem, é, então, um excedente em relação ao

capital total adiantado. A razão entre esse excedente e o capital total é, portanto,

expressa pela fração s/C, onde C representa o capital total. Temos assim, a taxa de lucro:

s = s , distinta da taxa de mais-valia s”.

C c + v v

- Quando dividimos o numerador e o denominador da taxa de lucro:

s ,

(c+v)

por v, temos:

(s/v) ou (s/v) .

(c/v) + (v/v) (c/v) + 1

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- A taxa de lucro era igual à razão entre taxa de mais-valia e a composição orgânica

do capital mais 1. Portanto, aumentos na taxa de mais-valia (tomados por si

mesmos) sempre elevaria a taxa de lucro.

- Era por isso que a classe capitalista sempre tentara maximizar a duração da

jornada de trabalho, segundo Marx.

- Aumentos na composição orgânica do capital (considerados por si mesmos)

sempre diminuiriam a taxa de lucro.

- Marx achava que os esforços dos capitalistas para aumentar a taxa de mais-valia

tinham de atingir certos limites práticos. Quando isso acontecesse, “ o

crescimento gradual do capital constante em relação ao capital variável teria de

levar, necessariamente, a uma queda gradual da taxa geral de lucro.

- Lucro total, entretanto, continuaria aumentando.

- Para minorar a tendência a queda da taxa de lucros, os capitalistas agiam de

quatro maneiras.

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- Primeiramente, os capitalista poderiam aumentar a “intensidade da exploração, aumentando a jornada de trabalho e intensificando o trabalho”.

- Em segundo lugar, Marx mencionou todas as influências que pudessem levar, durante períodos variáveis, a uma “depressão dos salários abaixo do valor da força de trabalho. Essa categoria pareceria incluir a quarta influência compensatória de Marx – uma “superprodução relativa” de operários -, pois a superprodução poderia aumentar os lucros apenas diminuindo salários.

- Em terceiro lugar, Marx listou o “barateamento dos elementos do capital constante”. Isso ocorria quando a mudança tecnológica dos métodos de produção do capital constante “impedia que o valor do capital constante, embora sempre crescente, aumentasse no mesmo ritmo que seu volume material”.

- A última influência compensatória era o comércio exterior. Aqui, a análise de Marx foi muito parecida com a de Mill. “O capital investido no comércio exterior pode gerar uma taxa de lucro mais elevada” – afirmou ele. Além disso, barateava “as necessidades da vida pelas quais o capital variável ... (era) trocado” e, com isso, fazia com que “o capital variável diminuísse em relação ao constante”. Na medida em que isso acontecesse, compensaria o aumento da composição orgânica do capital, causado pela acumulação. Também aumentaria a taxa de mais-valia.

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Desequilíbrios Setoriais e Crises Econômicas

- Marx concordou com quase todos os economistas clássicos que os salários tenderiam apara a subsistência. Discordou, porém, de todos esses economistas quanto ao mecanismo social por meio do qual os salários eram mantidos naquele nível.

- Rejeitou totalmente o princípio da população de Malthus.

“Todo modo de produção histórico especial tem suas próprias leis especiais de produção historicamente válidas apenas dentro de seus limites”.

- A tendência dos salários para a subsistência socialmente definida era uma decorrência do fato de que:

“uma população trabalhadora excedente é um produto necessário da acumulação... em bases capitalistas... Forma um contingente reserva de operários disponíveis da indústria, pertencente ao capital em termos quase tão absolutos quanto se este o tivesse criado à própria custa. Independentemente dos limites do verdadeiro aumento da população, ele cria, para as necessidades variáveis da auto expansão do capital, a massa de material humano sem pronta a ser explorada”.

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- A concorrência entre os operários mantinha os salários próximos ao nível de

subsistência, porque os membros do “exército indústria de reserva”, formado por

operários desempregados, geralmente vivia abaixo do nível de subsistência e

sempre lutava para aceitar empregos que pagassem meros salários de subsistência.

- No entanto, à medida que a acumulação fosse ocorrendo, um período de expansão

provocaria um aumento tão grande da demanda por trabalho, que as reservas de

operários ficariam completamente esgotadas. Quando isso acontecia, o capitalista

verificava que tinha de pagar salários mais altos para conseguir trabalhadores em

número suficiente.

- Como cada capitalista aceitava o nível de salários como predeterminado, estando

além de seu poder de controle, procurava aproveitar-se ao máximo da situação. A

alternativa mais lucrativa parecia ser a de mudar as técnicas de produção,

introduzindo novas máquinas poupadoras de mão-de-obra, para que cada operário

passasse a trabalhar com amis capital e a produção por operário pudesse ser

aumentada.

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- Essa acumulação de capital poupadora de mão-de-obra permitia que o capitalista

expandisse a produção com a mesma quantidade de mão-de-obra ou até menos.

- Quando todos, ou a maioria dos capitalistas faziam isso, o problema dos altos

salários era temporariamente diminuído, pois o exército de reserva era

recomposto pelos demitidos por causa das novas técnicas de produção.

- A criação de desemprego tecnológico resolvia o problema temporariamente, mas

não sem criar novos problemas.

- A expansão com menos emprego de mão-de-obra permitia aumentos da

produção total, sem aumentar salários pagos aos operários.

- Portanto, enquanto novas mercadorias inundavam o mercado, os salários dos

operários eram diminuídos e a procura para consumo dessas mercadorias ficava

limitada. Faltava demanda dos consumidores.

- Para explicar isso, Marx dividiu a economia capitalista em dois setores, um de

bens de consumo e outro de bens de capital.

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- A expansão tranquila e continuada economia exigia que a troca entre esses dois setores fosse equilibrada, quer dizer, os bens de consumo demandados pelos trabalhadores e capitalistas dos setor produtor de bens de capital tinham de estar em equilíbrio com a demanda de bens de capital pelos capitalistas do setor produtor de bens de consumo. Se isso não ocorresse, a oferta não seria igual a demanda em nenhum dos dois setores. - As capacidades produtivas relativas dos dois setores, porém, tinham sido,

determinadas no período anterior à introdução da tecnologia poupadora de mão-de-obra.

- Consequentemente, após a restrição dos salários dos operários, as capacidades produtivas relativas não correspondiam à nova redistribuição de renda entre salários e lucros, e o setor produtor de bens de consumo ficava com excesso de capacidade – ou com uma demanda de mercado insuficiente por seus produtos.

- Nessa situação, os capitalistas da indústria de bens de consumo, certamente, não iriam querer ampliar imediatamente suas instalações produtivas. Portanto, cancelaram quaisquer planos de aumentar seu estoque de capital excessivo.

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- Essas decisões reduziriam significativamente a demanda por bens de capital, o que, por sua vez, provocaria uma queda da produção do setor de bens de capital.

- Diversamente de algumas crises econômicas anteriores (ou depressões), baseadas no subconsumo, a teoria de Marx identificava como causa da depressão o desequilíbrio estrutural entre as capacidade produtivas dos dois setores e a distribuição de renda entre salários e lucros (que tendem a determinar a demanda pelo produto nos dois setores).

- Quando ocorria esse desequilíbrio, o primeiro sinal óbvio de depressão poderia aparecer em quaisquer dos dois setores.

- Quando a produção de bens de capital diminuía, os trabalhadores eram despedidos, os salários totais baixavam e a procurava por consumo diminuía. Isso levava a menor produção na indústria de bens de consumo, a mais demissões, a menos procura e assim por diante, num espiral descendente.

- O resultado era uma superprodução geral ou uma abundância de mercadorias em ambos os setores – um colapso econômico geral que levava à depressão. É claro que, nesse processo, o exército industrial de reserva de desempregados era mais que reposto.

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Alienação e Miséria Crescente no Proletariado

- No processo de acumulação, vimos que trabalhadores não tinham nada além de sua

força de trabalho para vender.

- O que os trabalhadores produziam, o capital passavam a controla-los. A continuação

do processo de acumulação estendeu o domínio do capital sobre um número cada vez

maior de operários e intensificou o controle do capital sobre todos os assalariados.

- Todo o processo tinha efeitos perniciosos sobre os operários. Impedia-os

sistematicamente de desenvolver suas potencialidades. Não podiam tornar-se seres

humanos emocional, intelectual ou esteticamente desenvolvidos.

- Os seres humanos diferiam dos animais porque criavam e trabalhavam com os

instrumentos para moldar e controlar o meio externo. Os sentidos e o intelecto do

homem eram desenvolvidos e aperfeiçoados no trabalho.

- Por meio de suas relações com o que produzia, o indivíduo obtinha prazer e

auto-realização.

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- Em sistemas pré-capitalistas, como o feudalismo, um indivíduo podia, pelo menos em

aparte, atingir essa auto realização no trabalho, apesar de uma estrutura de classes

exploradora. Como as relações sociais de exploração eram não só pessoas, como

também paternalistas, o trabalho envolvia mais do que a mera venda da força de

trabalho como mercadoria. Isso mudava com o capitalismo, pois este acaba com

todas as relações paternalistas, cortou o vínculo pessoal com os “superiores naturais”.

- “Transformou o valor pessoa em valor de troca”.

- Em uma sociedade capitalista, o mercado separava e isolava o valor de troca, ou

preço em dinheiro, das qualidades que davam forma às relações dos homens com as

coisas e com os outros homens. Isso era verdadeiro, principalmente, no processo de

trabalho.

- Para o capitalista, os salários eram apenas outra despesa da produção a ser

acrescentada aos custos das matérias primas e das máquinas no cálculo do lucro. O

trabalho tornou-se mera mercadoria a ser comprada, desde que pudesse ter lucro.

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- O fato de o trabalhador poder ou não vender sua força de trabalho escapava

completamente ao seu controle. Ele dependia das condições frias e totalmente

impessoais do mercado. O produto de seu trabalho também estava totalmente

fora da vida do trabalhador, sendo propriedade do capitalista.

- Marx usou o termo alienação para descrever a condição dos homens nessa

situação. Eles se sentiam alienados ou divorciados do seu trabalho, de seu meio

institucional e cultural e de seus colegas.

- As condições de trabalho, o objeto produzido e, na verdade, a própria

possibilidade de trabalhar eram determinados pela classe numericamente

pequena de capitalistas e pelos cálculos do lucro e não por necessidades ou

aspirações humanas.

- Os efeitos dessa alienação podem ser melhor resumidos pelas próprias palavras

de Marx:

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“O que, então, constitui a alienação do trabalho? Primeiramente, o fato de o trabalho ser externo ao trabalhador, isto é, não pertencer à sua essência, em seu trabalho, portanto, ele não se afirma, mas se nega, não se sente feliz, mas infeliz, não desenvolve livremente sua energia física e mental, mas mortifica seu corpo e arruína sua mente. O trabalhador, portanto, só se sente ele mesmo fora do trabalho, no trabalho, sente-se estranho. Sente-se à vontade quando não está trabalhando, o que não acontece quando está trabalhando. Portanto, seu trabalho não é voluntário, mas algo a que ele é obrigado, é um trabalho forçado. Não é, por conseguinte, a satisfação de uma necessidade, é, meramente, um meio para satisfazer às suas necessidades fora dele. Sua natureza estranha evidencia-se claramente no fato de que, quando não existe uma obrigatoriedade física ou outro tipo de obrigação, o trabalho é evitado, como se fosse uma doença. O trabalho exterior, do qual o homem se aliena, é um trabalho de auto sacrifício ou de mortificação. Por fim, a natureza externa do trabalho, para o operário, se evidencia no fato de o trabalho não ser de quem trabalha, mas do outro, de não pertencer a ele, mas ele pertencer ao trabalho... Com isso, o homem (o operário) não se sente mais livre, a não ser em suas funções animais – comer, beber, procriar ou, quando muito, em sua morada e com relação a suas roupas, etc.; em suas funções humanas , ele se sente, portanto, apenas como um animal. O que é animal torna-se humano e o que é humano torna-se animal”.

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- É essa degradação essa total desumanização da classe operária que inibiam o desenvolvimento pessoal do homem e que o transformavam em uma mercadoria de mercado estranha às atividades que sustentavam a vida do homem, que Marx mais condenava no sistema capitalista.

- Além disso, ele argumentava que a acumulação progressiva de capital piorava a alienação do operário. A contrapartida à lei da concentração crescente do capital era o que Marx chamava de “lei da miséria crescente” do proletariado.

- 1ª. Citação p. 231

- A lei da miséria crescente não está ligada ideia de que os salários não subiriam conforme o desenvolvimento do capitalismo.

- Portanto, quando Marx escreveu “à medida que o capital se acumula, a sorte do trabalhador, quer seu pagamento seja alto quer baixo, tem de piorar”, não estava, sem dúvida alguma dizendo que os salários iriam baixar. Estava refereindo-se, claramente, a um aumento da alienação e da miséria em geral. Ele achava que, com a acumulação de capital, o potencial criativo, emocional, estético e intelectual dos operários seria sistematicamente reprimido.

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- Marx teria, sem dúvida, aceitado como evidência disso a afirmativa de um psicanalista do século XX, que disse que os administradores das modernas empresas “retiram do trabalhador o seu direito de passar e agir livremente. A vida está sendo negada, a necessidade de controle, criatividade, curiosidade e pensamento independente está sendo frustrada e o resultado disso – o resultado inevitável – é a fuga ou a luta do operário, a apatia ou destrutividade, a regressão psíquica”.

- O ponto mais importante da afirmação desse psicanalista é que, quando o capital obriga o operário a uma “regressão psíquica”, o resultado é “apatia ou destrutividade”. Marx achava que o resultado final seria a destrutividade – o operário destruiria o sistema capitalista.

- Citação p. 232

- Dos restos do antigo sistema explorador, os operários criariam um novo sistema socialista, em que a cooperação, o planejamento e o desenvolvimento humano substituiriam a concorrência, a anarquia do mercado e a degradação humana.

- Isso se daria em uma sociedade capitalista desenvolvida, com suas bases industriais e sua enorme produtividade, é que Marx achava poderem os operários estabelecer um sistema socialista humanista.

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- O sucesso do capitalismo e sua clara viabilidade, até hoje, atestam a capacidade do

sistema social capitalista de canalizar a miséria e a alienação dos operários para as

formas não-violentas de apatia, desespero, doenças emocionais, ansiedade,

isolamento e solidão.

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