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Idoso e o acesso à justiça: análise acerca da aplicação do princípio da celeridade em busca da concretização de direitos fundamentais

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GRANDE DO SUL

CAROLINA BÜNDCHEN SCHONARTH

IDOSO E O ACESSO À JUSTIÇA: ANÁLISE ACERCA DA APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA CELERIDADE EM BUSCA DA CONCRETIZAÇÃO DE DIREITOS

FUNDAMENTAIS

Santa Rosa (RS) 2016

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CAROLINA BÜNDCHEN SCHONARTH

IDOSO E O ACESSO À JUSTIÇA: ANÁLISE ACERCA DA APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA CELERIDADE EM BUSCA DA CONCRETIZAÇÃO DE DIREITOS

FUNDAMENTAIS

Monografia final do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Monografia.

UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. DCJS – Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais

Orientador (a): Msc. Francieli Formentini

Santa Rosa (RS) 2016

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Dedico este trabalho aos meus pais, que me ensinaram a batalhar por meus objetivos e me auxiliaram e ampararam-me durante estes anos da minha caminhada acadêmica.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente aos meus pais, Lauri e Susana, por todos os princípios e valores repassados, vocês são meus exemplos e serei eternamente grata por todo o amor e confiança. Sem vocês, nada disso seria possível.

Ao meu namorado, companheiro e amigo de todas as horas, Vinicius Wichrowski, pela paciência e amor, mas principalmente pelo incentivo nos momentos mais difíceis.

A minha querida orientadora, Francieli Formentini, pelos ensinamentos, dedicação e completa disponibilidade, me conduzindo pelo caminho do conhecimento.

E as demais pessoas que de alguma forma contribuíram para a minha caminhada acadêmica.

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"Nosso partido é o Brasil, e nossa ideologia é a Constituição Federal. Nossa opção é pelo povo, expressão maior da cidadania que juramos defender. Assim sempre foi, assim sempre será. Afinal, somos advogados. Lutamos por justiça!"

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RESUMO

O presente trabalho de pesquisa monográfica faz uma análise do envelhecimento da população brasileira, fenômeno que vem sendo observado ao longo dos anos e que obriga a sociedade a moldar-se para abrigar e melhor lidar com esse novo grupo social. No decorrer desse trabalho, far-se-á o reconhecimento de como o direito dos idosos - Lei nº 10.741/03 (Estatuto do Idoso) - tem sido observado pela justiça, através de ações afirmativas que visam o seu melhor cumprimento. Serão demonstrados os principais problemas enfrentados e as dificuldades na efetivação do acesso à justiça dessa classe, bem como as políticas e mecanismos adotados para mudar esta realidade. Com o aumento das demandas judiciais, surgem ações e programas que buscam suprir e enfrentar o problema da morosidade judicial. A jurisprudência, da mesma forma, entende pela priorização das lides nas quais figurem idosos, tutelando os direitos expressos na legislação vigente, no entanto, há desafios a serem enfrentados para que seja alcançado o efetivo acesso à justiça em tempo razoável.

Palavras-Chave: Idoso. Acesso à Justiça. Direitos. Estatuto do Idoso. Prioridade de tramitação.

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ABSTRACT

This working monographic research is an aging analysis of the population, a phenomenon that has been observed over the years and that forces society to shape up to house and better deal with this new social group. During this work, far shall be the recognition as the right of the elderly - Law nº 10.741 / 03 (the Elderly) - has been observed for justice through affirmative action aimed at its best compliance. The main problems and difficulties in the realization of access to justice that class, as well as the adopted policies and mechanisms for change that will be demonstrated. With the increase in lawsuits arise actions and programs that seek to meet and address the problem of judicial delays. Jurisprudence, likewise understand the prioritization of litigations in which appear elderly, tutoring rights expressed in the legislation, however, there are challenges to be faced in order to reach effective access to justice in reasonable time.

Keywords: Elderly. Access to justice. Rights. Elderly Statute. Processing priority.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...8

1 O IDOSO E A NOVA PERSPECTIVA SOCIAL...11

1.1 O envelhecimento...11

1.2 As demandas decorrentes do envelhecimento...16

1.3 A proteção jurídica dos direitos dos idosos...19

2 IDOSO E O ACESSO À JUSTIÇA...24

2.1 Principais obstáculos enfrentados...26

2.2 A luta pela concretização dos direitos dos idosos...33

2.3 O direito dos idosos a partir de experiências práticas e da jurisprudência...38

CONCLUSÃO...47

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INTRODUÇÃO

“Ser ou estar velho” caracteriza uma questão de imensurável relevância social, trazendo consigo aspectos sociais, culturais, políticos e econômicos, bem como uma série de impedimentos e dificuldades inevitáveis a serem enfrentadas. No entanto, é sabido que a população brasileira tende a "envelhecer" nas próximas décadas aumentando significativamente o número de idosos. Frente a essa nova perspectiva de organização social, é preciso conhecer as necessidades e demandas da população idosa, bem como saber se há efetividade dos direitos e garantias previstos na legislação. Assim, questiona-se no presente trabalho: como se dá o acesso à justiça e se o mesmo é capaz de tutelar/efetivar os direitos dos idosos?

A idade estabelece um importante critério jurídico adotado por diversos ordenamentos. Há inúmeras concepções sobre como deve ser entendida a questão do idoso, as quais variam com a evolução político-histórica da sociedade. Entretanto, não há uma compreensão do tema aceita como definitiva, uma vez que suas definições estão em constante construção. Atualmente, o principal objetivo adotado na busca pela defesa dos direitos dessa classe deve pautar-se pela manutenção da capacidade funcional e da independência do idoso, visando postergar ao máximo a sua autonomia.

A Lei nº 10.173 de 2001, alterou o antigo Código de Processo Civil de 1973 visando priorizar de tramitação dos procedimentos judiciais nos quais figurassem como parte pessoa com idade igual ou superior a 65 anos. Posteriormente, a Lei nº 12.008 de 2009, ampliou tal benefício ao estabelecer em favor da parte ou interessado com idade igual ou superior a 60 anos.

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Com este estudo, busca-se entender o fenômeno do envelhecimento da população que atinge grande parte dos países do mundo, numa perspectiva voltada para o acesso à justiça, de uma forma mais célere e eficaz, diante das claras necessidades e dificuldades enfrentadas pelos idosos, não só por sua condição de vulnerabilidade, como também pelo descaso da população. Ainda, procura-se demonstrar as reais dificuldades enfrentadas pelos idosos para ter direitos efetivados, bem como verificar as alternativas possíveis a fim de alcançar a tutela desses direitos.

Ademais, necessário se faz o reconhecimento da prioridade ou celeridade nas demandas propostas por idosos, pautado pelo próprio Estatuto do Idoso e disposições Constitucionais, garantido pelas instituições responsáveis pela conscientização e concretização destes ditames. Aparados pelos objetivos fundamentais previstos na Carta Magna, dentre os quais o de promover “bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação” (BRASIL, 1988), o Estado criou, ao longo dos anos, mecanismos que visam atingir a tutela dos direitos daqueles que mais necessitam, tentando ultrapassar as barreiras inerentes ao Judiciário, em razão do grande volume de ações que por ele circulam.

A questão da prioridade de tramitação, que assegura o cumprimento do princípio da celeridade processual necessita de amparo e maior sustentação no dia-a-dia do Poder Judiciário, pois a lentidão na resolução dos processos ajuizados por pessoas idosas pode gerar incontáveis problemas físicos e emocionais. Por muitas vezes esta solução chega tarde demais.

A principal motivação para o tema proposto é a possibilidade de introdução da questão do envelhecimento da população nas reflexões cotidianas, buscando superar o despreparo social para lidar da forma mais justa com essa inevitável realidade. Nesse contexto, a temática possui especial relevância quando direcionada a questão da garantia dos direitos conquistados, através de medidas e ações, amparadas pela necessária prioridade e importância. É, pois, com o intuito de contribuir, senão para que o acesso à justiça dos idosos se torne efetivo e

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garantidor, ao menos para fomentar o debate e enriquecer a reflexão sobre a matéria.

Assim, o presente trabalho acadêmico visa analisar a situação atual do Judiciário brasileiro na busca da efetiva tutela dos direitos dos idosos, garantidos pela legislação competente, enfatizando a importância da priorização destas demandas.

Dessa forma, no primeiro capítulo abordar-se-á o estudo do envelhecimento da população, fenômeno que afeta diversos países, bem com a criação das normas que buscam assegurar os direitos dos idosos, que tanto necessitam de amparo e proteção. Enquanto no segundo capítulo, será analisado o acesso à justiça e suas problemáticas, relacionando as soluções práticas que estão sendo aplicadas para rever a questão da morosidade judicial.

O presente trabalho será do tipo exploratório, onde será utilizado em seu deslinde a coleta de dados através de pesquisa bibliográfica, tanto as disponíveis em meio físico como aquelas disponíveis na rede de computadores. Dados estes que possibilitam a construção referencial sobre o tema proposto, para que se possam atingir os objetivos traçados, chegando a um resultado sobre o problema indagado, sendo feita a exposição dos resultados obtidos através de um texto escrito monográfico.

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1 IDOSO E A NOVA PERSPECTIVA SOCIAL

Denota-se que os mais velhos sempre foram alvo de soluções designadas pela cultura de cada sociedade para enfraquecer o fato da sua existência. Não era natural e digno envelhecer, e se o era, tratava-se de amenizar este declínio natural.

É notório o fato de que o número de idosos cresce não só no Brasil, como também no mundo, sendo necessária a discussão sobre ações sociais e políticas que visem “dar conta” das demandas advindas por esta nova classe social.

Insta frisar que a velhice não pode ser pensada como uma opção. Não há como descartá-la. Simplesmente é a realidade do ser humano.

Para se alcançar um envelhecimento saudável é necessário que as políticas públicas estejam voltadas as necessidades da população idosa e efetivação de seus direitos. A fragilidade característica desta fase pode e deve ser minimizada através de ações e políticas sociais implantadas e adotadas pelo Estado e pela sociedade.

Para aprofundar o estudo nessa temática, abordar-se-á primeiramente o envelhecimento na sociedade, sob diversos aspectos, bem como o tratamento jurídico dispensado aos idosos, especialmente no Estatuto do Idoso. Após, a exposição será acerca da problemática do acesso à Justiça, demonstrando-se as dificuldades enfrentadas, trazendo o Ministério Público como garantidor dos direitos fundamentais.

1.1 O envelhecimento

Primeiramente, deve-se elucidar alguns aspectos acerca da questão “idoso”. Sabe-se que o constante envelhecimento da população é caracterizado como

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fenômeno mundial e vem sendo estudado há vários anos, sendo uma consequência direta do desenvolvimento econômico e social dos países (CAMARANO, 2002).

Sessenta anos. O ingresso na velhice está definido por este marco etário. Mesmo este limite não sendo fixado em normas internacionais, a idade de 60 anos tem sido aceita como padrão para definir uma pessoa como idosa (ALMEIDA, 2011, p. 15). Atualmente a representação do “ser/estar velho” não é a mesma de outros momentos da história da humanidade, tendo em vista que está atrelada à cultura de cada povo, de cada nação.

Até janeiro de 1994, a Constituição Federal, tampouco qualquer outra inovação legislativa, delimitou a definição de idoso. Com essa omissão legal, muito se discutia sobre a conceituação do idoso (CABRERA; FREITAS JUNIOR; WAGNER JUNIOR, 2006, p. 100).

Para Carlos Cabral Cabrera, Roberto Mendes de Freitas Junior e Luiz Guilherme da Costa Wagner Junior (2006, p. 100), tal discussão encerrou-se com a promulgação da Lei nº 8.842/1994, que instituiu a Política Nacional do Idoso e considerou idosa a pessoa com idade superior a sessenta anos.

Contudo, a maioria das conceituações do senso comum sobre o envelhecimento sempre recai, primeiramente, sobre a idade cronológica de cada indivíduo. O enfoque costuma estar ligado à duração da vida como um critério principal. É claro que o aumento do tempo em idade, pela lei natural, resulta na diminuição da expectativa de vida, ou seja, quanto mais se avança em anos, menos tempo há para viver. É importante destacar o fato de que o homem nem sempre alcançou a velhice. As epidemias, a má nutrição, a própria vida de dificuldades que levava fazia com que morresse jovem. Somente alguns conseguiam prolongar sua existência (ALMEIDA, 2011, p. 17).

Importante referir que o fator etário não está livre de críticas, especialmente porque “assumir que a idade cronológica é o critério universal de classificação para a categoria idoso é correr o risco de afirmar que indivíduos de diferentes lugares e de diferentes épocas são homogêneos.” (TÓTORA, 2006, p. 169).

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Conforme Silvana Tótora (2006, p. 28-29):

Na sociedade atual, ser velho é carregar todo o peso de valores negativos. Envelhecer é sentido como perda, privação. O tempo entendido como sucessão linear e cronológica se escasseia, esvai-se com o passar dos anos, e a morte torna-se mais próxima. O corpo, suscetível às doenças, transforma-se em um fardo difícil de carregar. O desejo, na perspectiva de algo que se quer alcançar, traduz-se como carência. O incômodo da velhice parece não ser apanágio dos velhos, mas sim um fantasma que acompanha todas as idades. Não se quer envelhecer. Trata-se de um mal que se quer expugnar.

O envelhecimento populacional ou mesmo individual era visto como um empecilho ao progresso das sociedades, os idosos foram estigmatizados como dependentes e decadentes, não detinham qualquer valor nas sociedades marcadas pelo capitalismo, por isso o envelhecimento pode ser considerado um problema de saúde pública, já que ao idoso se negou qualquer forma de proteção ou tutela estatal, excluindo-os de seu bojo (MARTIN, 2011, p. 183).

As soluções práticas adotadas pelos primitivos com relação aos problemas que os velhos lhes colocam são muito diversas: pode-se matá-los, deixar que morram, conceder-lhes um mínimo vital, assegurar-lhes um fim confortável, ou mesmo honrá-los e cumulá-los de atenções. Veremos que os povos ditos civilizados lhes aplicam os mesmos tratamentos: apenas o assassinato é proibido, quando não é disfarçado. (BEAUVOIR, 1990, p. 108)

Nas sociedades antigas, o idoso detinha lugar privilegiado, conexo ao respeito e sabedoria e relacionava-se ao momento mais digno na vida de uma pessoa. Durante muito tempo, não havia qualquer abordagem social acerca da velhice, pois era vista como um simples fator biológico. Com a Revolução Industrial e com o fortalecimento/avanço do capitalismo, foi necessário melhorar as condições de vida do operário, pretendendo uma maior produtividade. A consolidação do processo de industrialização deu início a conscientização, proporcionando um aumento da expectativa de vida dos operários, haja vista que naquela época as pessoas morriam muito jovens. Não havia qualquer preocupação com a velhice, pois esta era uma fase da vida, normalmente, inatingível (MARTIN, 2011, p. 183).

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No entanto, é só a partir de meados do século XX, que o envelhecimento passa a ser visto com outros olhos pela população, tendo em vista a concretização dos princípios básicos norteadores de todo o ordenamento jurídico brasileiro. Enquanto em países da Europa a pirâmide etária já havia se invertido, ou seja, cume largo e base estreita, no Brasil, este processo só chegou mais expressivamente a partir de 1975, sendo chamada de “Era do Envelhecimento”, que estende-se até o ano de 2025 (MARTIN, 2011, p. 184).

É fato que os seres humanos não reagem de forma igual frente ao envelhecimento. Na contemporaneidade, o acesso à diferentes instrumentos permite retardar ou minimizar as limitações ou os sinais que o envelhecer impõe. A velhice nasce de um longo caminho percorrido por cada indivíduo, e não em apenas alguns meses. Algumas pessoas lutam contra a decadência evidente e se tornam mais fortes. Outros renunciam a tudo, mais cedo ou mais tarde (ALMEIDA, 2011, p. 20).

Sabe-se que, o crescimento do número de pessoas idosas na sociedade está atrelado a duas grandes transformações: a demográfica e a epidemiológica. Entretanto, a compreensão do envelhecimento não se restringe a esses dois fenômenos específicos, porque está vinculado às noções de existências e de valor entre categorias de idade tidas como distintas, e não como um percurso de encontros (BERLEZI; CAMPOS; CORREA, 2014, p. 61).

Ademais, cumpre esclarecer que na primeira década do século XXI, a população idosa brasileira já representava 11% da população (CABRERA; FREITAS JUNIOR; WAGNER JUNIOR, 2011, p. 1).

Em 1996, no Brasil, esperava-se chegar ao final do século com 8.658.000 idosos. De acordo com esses números, um em cada 20 brasileiros teria 65 anos ou mais. Em 2020, serão 16.224.000, ou seja, 1 em cada 13 estará fazendo parte da população de idosos (BERLEZI; CAMPOS; CORREA, 2014, p. 62). Ainda, no último Censo Demográfico, realizado no ano de 2010, o Estado do Rio Grande do Sul deparou-se com a maior população de indivíduos com 60 anos ou mais (IBGE, 2011).

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O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2011) divulgou ainda sua projeção da população para 2050, na qual, pela primeira vez, o número de idosos será igual ao de jovens.

Se em 2000 as pessoas com mais de 65 anos representavam 5% da população, na década de 50 deste século elas serão 18%, mesma porcentagem dos que terão entre zero e 14 anos. Em pouco mais de quatro décadas, o número de pessoas com 80 anos ou mais será quase oito vezes maior do que era há quatro anos. De 1,8 milhão, a quantidade pode chegar a 13,7 milhões.

Até 2025, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil será o sexto país do mundo em número de idosos. Ainda é grande a desinformação sobre a saúde do idoso e as particularidades e desafios do envelhecimento populacional para a saúde pública em nosso contexto social. Entre 1980 e 2000 a população com 60 anos ou mais cresceu 7,3 milhões, totalizando mais de 14,5 milhões em 2000. O aumento da expectativa média de vida também aumentou acentuadamente no país (ALMEIDA, 2011, p. 21).

Estas transformações repercutiram na estrutura política, através da necessidade maior de realização de políticas públicas voltadas ao atendimento dos idosos, bem como na esfera jurídica, com a edição de legislações protetivas, que procuram efetivar e complementar o princípio da dignidade da pessoa humana (MENDONÇA, 2008), bem como o artigo 230 (BRASIL, 1988) da nossa lei Maior, o qual define que “a família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida”.

O processo de envelhecimento exige reflexões que culminem na elaboração de políticas públicas eficientes no atendimento das demandas sociais que surgem através deste fenômeno populacional. As políticas públicas de atendimentos devem procurar garantir as necessidades básicas da pessoa idosa, mais vulnerável por diversos fatores econômicos, políticos e sociais (BERLEZI; CAMPOS; CORREA, 2014, p. 43).

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Assim, verifica-se que com o passar do tempo, a pirâmide etária está se invertendo no Brasil, em virtude da diminuição significativa da natalidade, bem como em razão do desenvolvimento tecnológico, social e cultural, o que ocasiona consequentemente uma melhora na qualidade de vida, favorecendo o aumento da população idosa. Frente a essa realidade, surgem novas demandas e a necessidade de um tratamento diferenciado por parte do Estado, a fim de garantir e efetivar os direitos dos idosos.

Assim, o legislador busca, no decorrer das últimas décadas, instrumentos legislativos infraconstitucionais que possam proporcionar maior efetividade aos direitos dos idosos, culminando com o acolhimento da proteção dos mesmos em nível constitucional (OLIVEIRA, 2007).

1.2 Demandas decorrentes do Envelhecimento

A nova realidade mundial trouxe como consequência o envelhecimento da população, em decorrência da transição demográfica, que evidencia mudanças na mortalidade e natalidade do país com população predominantemente jovem para um aumento substancial da população de idosos.

Diante da inversão das taxas de natalidade e mortalidade, a sociedade volta-se para novas preocupações, resultantes de novas necessidades advindas desta nova realidade. O envelhecimento traz consigo a diminuição da reserva funcional, deixando os idosos, diante de inúmeros fatores, mais vulneráveis a doenças, limitações físicas e psíquicas, dependência social, etc. Geralmente, esta população, limitada diante da idade avançada, encontra maiores dificuldades em levar uma vida “normal” e saudável.

Também, por consequência quase lógica desta vulnerabilidade, os idosos não conseguem manter a sua capacidade laborativa, muitas vezes, dependendo exclusivamente de auxílios, benefícios e pensões, o que diminui significativamente a renda e dificulta ainda mais a obtenção do conforto e da proteção de que tanto

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necessitam.

Questões como a capacidade funcional e a autonomia relacionam-se diretamente com a questão da qualidade de vida, tendo em vista que muitos são incapazes de realizar atividades simples e cotidianas, como, por exemplo: tomar banho, locomover-se entre pequenas distâncias, alimentar-se, vestir-se. Em virtude de tais dificuldades, tornam-se pessoas frágeis, física e emocionalmente, e necessitam de cuidados especiais.

Com o envelhecimento há o aumento da dependência e também da responsabilidade do Estado e da sociedade. Como consequências deste fenômeno, destacam-se o impacto no desenvolvimento das políticas sociais, o impacto no sistema financeiro diante da queda de produtividade e aumento das taxas de abandono de idosos pelas próprias famílias.

A implementação da aposentadoria, fez com que o idoso modificasse, de forma significativa, sua participação na sociedade, visto que o trabalho proporciona experiência dos mais variados tipos, convivência, interação, originando sentimentos que são próprios dos seres humanos.

Importante observar que este é um dos principais fatores geradores de doenças, além das adquiridas em função da idade avançada. Também, sabe-se que a saúde é o fator principal para a busca de soluções pela via judicial, quando analisadas as demandas envolvendo pessoas com mais de 60 anos. Envelhecer é direito personalíssimo, direito social, inerente a todo o ser humano, portanto, deve ser tratado como tal. Envelhecer é direito intransmissível, indisponível e irrenunciável, sendo dever de todos a sua garantia (CALDEIRA, 2009, p. 39).

É curioso que a longevidade traga dois aspectos tão contrários: de um lado, a população vive mais tempo, diante da maior expectativa de vida; por outro lado, pode trazer consigo transformações como a perda de memória, doenças crônicas, dependência.

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criação de medidas para o combater esta situação. E a prioridade é medida que se impõe.

Corroborando com esta ideia, Evelise Moraes Berlezi, Ana Cristina Viana Campos, Antônio Henrique da Mata Correa (2014, p. 15), pontuam que:

O Direito deve atuar no sentido de promoção dos direitos daqueles que, em situações de vulnerabilidade, merecem uma atenção especial. A mudança do tempo na sociedade, como é encarada a velhice, também deve ter sua atenção jurídica, de modo a garantir autonomia e dignidade aos idosos.

O envelhecimento é uma questão social, que repercute em toda a sociedade e em todas as gerações, de modo que todas elas são igualmente responsáveis pelo cumprimento dos direitos garantidos pela legislação.

É importante referir neste momento, que os anseios da sociedade fizeram com que os legisladores movessem ações no sentido de conferir aos mesmos a efetiva tutela, promovendo, por assim dizer, maior confiança no Judiciário, principalmente por se verificar a implementação dos dispositivos legais materializados em seus objetivos (OLIVEIRA, 2007).

Ademais, com a disseminação dos direitos sociais, especialmente a partir da Constituição Federal de 1988, percebe-se uma popularização dos processos judiciais, se comparado com toda a história da justiça. Antes, as relações eram mais pessoais e os conflitos solucionados de maneira direta. Atualmente a atuação da mídia e a recém-adquirida “consciência dos direitos” são determinantes para o novo hábito de “litigiar”. A transformação da sociedade e do Estado fez surgir novas situações substanciais de tutela (SILVA, [s.d.]).

Observando-se a globalização do “saber jurídico”, necessária se fez a adoção de uma nova e melhorada sistemática processual não só para atender as demandas decorrentes do envelhecimento, mas especialmente estas, quando não contempladas na via administrativa. A respeito da necessidade de renovação da sistemática processual, Ada Pelegrinni Grinover (2006, p.4 apud OLIVEIRA, 2007) aduz que:

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Um dos mais sensíveis estudiosos do acesso à justiça – Mauro Cappelletti – identificou três pontos sensíveis nesse tema, que denominou 'ondas renovatórias do direito processual': a – a assistência judiciária, que facilita o acesso à justiça do hipossuficiente; b – a tutela dos interesses difusos, permitindo que os grandes conflitos de massa sejam levados aos tribunais; c – o modo de ser do processo, cuja técnica processual deve utilizar mecanismos que levem à pacificação do conflito, com justiça.

Neste sentido, envelhecer não pode ser visto com um problema a ser enfrentado, entretanto, o envelhecimento carrega consigo uma série de fatores, externos a vontade humana, que podem sim dificultar a condução de uma vida saudável e justa. Desta forma, observa-se que os problemas oriundos desta fase da vida devem ser devidamente monitorados através das ações cabíveis para tanto.

1.3 A proteção jurídica dos direitos dos idosos

No ano de 1948 a Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou a Declaração Universal dos Direitos Humanos, dispondo em seu artigo 1º que “todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direito e todos devem agir em relação uns aos outros em espírito de fraternidade.” É extrema relevância destacar três eventos mundiais que ratificaram o preceito da Carta dos Direitos Humanos: a Assembléia Mundial sobre Envelhecimento, ocorrida em Viena, Áustria (1982), o Protocolo de San Salvador (1988) e a Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 5 de outubro de 1988, que contém princípios importantes para a efetivação da cidadania, constituindo-se fundamento legal para a regulamentação e/ou criação de leis que pretendem garantir esses princípios (BERLEZI; CAMPOS; CORREA, 2014, p. 44).

Com o passar dos anos, as Constituições instituíram direitos aos idosos. A Constituição Federal de 1988 ampliou, no entanto, o rol de direitos e garantias do idoso, sendo a primeira a abordar os direitos dos idosos de forma mais genérica. As primeiras Constituições preocuparam-se unicamente com os direitos previdenciários

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- decorrentes da atividade laboral do indivíduo - não fazendo qualquer menção acerca dos direitos do idoso.

A partir da Constituição de 1934, a pessoa idosa foi mencionada no texto constitucional, mas instituindo sempre a obrigação de previdência social ao trabalhador, conforme se verifica no art. 121, parágrafo 1º, alínea h, da Constituição Federal de 1934 (SCHIO, 2012, p. 24):

Art. 121. A lei promoverá o amparo da produção e estabelecerá as condições do trabalho, na cidade e nos campos, tendo em vista a proteção social do trabalhador e os interesses econômicos do País. [...]

h) assistência médica e sanitária ao trabalhador e à gestante, assegurando a esta descanso antes e depois do parto, sem prejuízo do salário e do emprego, e instituição de previdência, mediante contribuição igual da União, do empregador e do empregado, a favor da velhice, da invalidez, da maternidade e nos casos de acidentes de trabalho ou de morte (BRASIL, 1988).

Destarte, também seguiram no mesmo sentido as Constituições de 1937, 1946, 1967 mantendo a essência do direito do idoso apenas com relação à previdência social.

Buscando garantir maior efetividade aos ditames Constitucionais, foram promulgadas algumas leis dispondo acerca da proteção dos direitos dos idosos. A primeira delas foi a Lei nº 8.842/94, que dispõe sobre a Política Nacional do Idoso. Esta mesma Lei menciona a criação do Conselho Nacional do Idoso, bem como indica as ações governamentais a serem desenvolvidas na instituição da política nacional do idoso. Na sequência, visando regulamentar a referida Lei, foi promulgado o Decreto nº 1.948/96, que estabelece as competências dos órgãos e entidades públicas na efetivação da Política Nacional do Idoso (EMERIQUE; GUERRA, 2008, p. 188).

Seguindo esta mesma linha, em 3 de julho de 1996, o Decreto nº 1.948, regulamentou-se a chamada Lei do Idoso e foram estabelecidas diretrizes gerais para a implementação da Política do Idoso. Entretanto, tal regulamentação não foi suficiente para “abraçar” todas as necessidades inerentes à população idosa.

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Diante disto, aumentou a obrigação de criar-se um Estatuto, onde seriam impostos limites, obrigações e deveres, bem como sanções penais/administrativas para quem descumprisse a lei. Para resguardar especificamente os idosos, foi promulgado em 1º de outubro de 2003, publicado no Diário Oficial em 3 de outubro de 2003, o Estatuto do Idoso - EI, Lei nº 10.741/2003. A introdução de um instrumento como este se mostrou como um avanço sócio-jurídico de alta relevância cujos benefícios resgatou a esses os requisitos de uma cidadania (SILVA, 2013, p. 13).

Assim, o Estatuto do Idoso, conforme lembra Uadi Lammego Bulos (2007 apud SCHIO, 2012, p. 26), assegurou minuciosamente os direitos constitucionais que foram então implementados pela Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003 que instituiu o Estatuto do Idoso:

[...] os direitos e garantias fundamentais dos idosos, por assim dizer, ganharam, com o advento da Lei n. 10741/2003, um valiosíssimo impulso legislativo, cujo escopo foi 'amparar a terceira idade'. Nesse sentido tem entendido o STF em seus julgados, corroborando o fato da 'terceira idade' ter merecido tutela constitucional destacada, providência muito oportuna, pois o respeito aos idosos deve ser levado a sério, em todos os seus termos.

Até que fosse sancionado, o Estatuto do Idoso tramitou por 06 anos no Congresso Nacional. A organização do Estatuto é composta por 118 artigos, divididos em sete títulos, dos quais alguns estão subdivididos em capítulos, englobando os direitos dos idosos, as instituições incumbidas para sua defesa, as medidas protetivas e os crimes dos quais os idosos são vítimas.

A criação do Estatuto do Idoso representa uma modificação no paradigma da sociedade, visto que reflete profundamente no caráter protetivo, caracterizando uma notória ação afirmativa que visa a igualdade entre sujeitos.

Contextualizando, Paulo Alves Franco (2004) expõe em sua obra:

O Estatuto do Idoso visa amparar as pessoas com 60 (sessenta) anos ou mais, dispensando-lhes a devida atenção no que se refere à Seguridade Social, direitos à Saúde, à Assistência Social e à Previdência. A partir da idade fixada como ingresso na Lei, o idoso

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passa a gozar dos benefícios da previdência, e depois dos 65 (sessenta e cinco) anos tem a aposentadoria concedida. Muitos servidores públicos, idosos, aposentam-se com 70 anos.

O Estatuto do Idoso, sob o enfoque da celeridade processual, encontra seu fundamento de validade na Constituição Federal, tendo ainda operado efeito em sua efetividade a Emenda Constitucional nº 45/04, promulgada com vistas à melhoria do atendimento das demandas dos jurisdicionados, bem como, ao alcance do critério isonômico perpetrado em seu texto.

Tal Estatuto, com relação à matéria processual, não instituiu nenhuma norma singular que agilize o processo e o procedimento, mas o texto do artigo 71, dispõe que há prioridade na tramitação e cumprimento de diligências judiciais nas demandas nas quais figurem como parte ou interveniente pessoa com idade igual ou superior a sessenta anos, em qualquer instância (COSTA; VALLE, [s.d.]).

Ao ser reconhecida a necessidade de priorização na tramitação processual para as pessoas idosas, através do Estatuto do Idoso, o legislador demonstrou enorme sensibilidade ao vislumbrar a verdadeira essência do princípio da igualdade.

Garantida pelo próprio Estatuto, como também pelo Código de Processo Civil e pela Constituição Federal, o idoso que for parte em uma ação judicial em andamento terá prioridade na tramitação dos processos e procedimentos, em qualquer instância, basta apenas que prove que possui idade superior a 60 anos e requerer o beneficio a autoridade judiciária competente para decidir a ação. Tal Instituto prioriza todos os processos em que os idosos são parte da relação processual de acordo com o Estatuto do Idoso. (COSTA; VALLE, [s.d.]).

Importante mencionar que a Lei nº 12.008, de 29 de julho de 2009, alterou os artigos 1.211-A, 1.211-B e 1.211-C do Código de Processo Civil de 1973 que tratavam da prioridade na tramitação, implantados anteriormente pela Lei nº 10.173, de 9 de janeiro de 2001, dando prioridade às pessoas com 60 anos ou mais (e não mais 65 anos).

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Ainda, tratando-se do Estatuto do Idoso e dos instrumentos de efetivação da tutela específica, observa-se igual comportamento adotado pelos Tribunais Superiores, haja vista que o Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça editaram resoluções nesse sentido, como as de números, respectivamente, 277/03, de 11 de dezembro de 2003 e 11, de 9 de dezembro de 2003, que trazem em seus bojos dispositivos contendo indicação cogente da prioridade conferida aos feitos intentados por idosos quando se expressam: “dar-se-á prioridade na tramitação, no processamento, no julgamento e nos demais procedimentos dos feitos judiciais em que figure como parte ou interveniente pessoa com idade igual ou superior a sessenta anos” (OLIVEIRA, 2007).

O Estatuto do Idoso ratificou e disseminou um elenco de direitos e garantias, bem como, penalidades, estas últimas, com vistas a coibir o descumprimento e a inércia do poder público com vistas à efetivação de suas determinações (OLIVEIRA, 2007).

Nesse sentido, a questão do acesso à justiça foi privilegiada nas normas do Estatuto, pois ganhou uma dimensão especial. Essa ampliação tornou-se necessária diante da reconhecida morosidade, que o Judiciário possui no que diz respeito à tramitação dos processos (ANJOS et al., 2015).

No entendimento de Uadi Lammego Bulos (2007 apud SCHIO, 2012, p. 26):

[...] Os direitos e garantias fundamentais dos idosos, por assim dizer, ganharam, com o advento da Lei n. 10741/2003, um valiosíssimo impulso legislativo, cujo escopo foi 'amparar a terceira idade'. Nesse sentido tem entendido o STF em seus julgados, corroborando o fato da 'terceira idade' ter merecido tutela constitucional destacada, providência muito oportuna, pois o respeito aos idosos deve ser levado a sério, em todos os seus termos.

É notório que a legislação vem buscando se adequar as transformações sociais, buscando contemplar novos direitos, por meio de mecanismos que garantam tal cumprimento, a exemplo do Estatuto do Idoso, no entanto, a efetivação dos direitos dos idosos depara-se com incontáveis obstáculos tanto de ordem política, quanto social e financeira.

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Importante também fazer menção à Lei nº 12.213, promulgada em 20 de janeiro de 2010, que fez nascer o Fundo Nacional do Idoso, que visa financiar programas e ações voltadas a população idosa, buscando assegurar os direitos e consolidar as ações legislativas/institucionais, a fim de alcançar a tutela dos direitos dos idosos assegurados em seu Estatuto.

Certo é que o envelhecimento da população influencia toda a estrutura político-social do país, repercutindo diretamente na necessidade de serem adaptadas e/ou realizadas políticas públicas que visem o melhor atendimento aos idosos, e na esfera jurídica, editadas legislações com caráter protetivo, buscando sempre a defesa do princípio da dignidade da pessoa humana.

Assim, o Estatuto do Idoso e as demais leis voltadas aos idosos se constituem como importantes instrumentos de proteção e reconhecimento de direitos e garantias. Entretanto, embora o Estatuto do Idoso caracteriza-se como um avança na proteção dos direitos dos idosos, na prática, a efetivação de muitos direitos nele previstos não são efetivados, sendo que, em muitas situações é necessário acionar o Poder Judiciário.

2 IDOSO E O ACESSO À JUSTIÇA

A Constituição Federal de 1988, munida de democratização e valorização da pessoa humana, institui em seu artigo 5º, inciso XXXV, o direito à justiça (COSTA; VALLE, [s.d.]). Com a garantia do princípio da dignidade da pessoa humana, emerge o princípio da prioridade do idoso, do qual decorre que a pessoa idosa no âmbito jurídico deve ter prioridade em qualquer situação, tendo livre acesso à justiça, seja na relação com o Estado ou com outras pessoas, para que possa ocorrer uma igualdade substancial, com a consequente supressão da vulnerabilidade (BERLEZI; CAMPOS; CORREA, 2014, p. 18).

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cidadão com uma demanda no poder judiciário na busca de prestação jurisdicional, o alcance do acesso é muito maior, é inegável a idéia de efetivação de garantia a proteção de um direito pleiteado em juízo, ligada aos meios que dispõem o judiciário para a concretização do processo e dos meios de informação que são de suma importância para o cidadão viabilizar o acesso (SILVA, [s.d.]).

É notório que a garantia ao acesso à justiça nem sempre recebeu a atenção necessária. Nos séculos XVII e XIX, sob as premissas do modelo de Estado Político Liberalista, o direito de acesso á justiça só era garantido para os cidadãos que tinha recursos que pudessem pagar o alto custo de um processo. O direito era uma garantia formal e não material e este direito procurado e defendido hoje, era uma realidade da classe burguesa apenas (MENDES, [s.d.]).

Ao longo dos anos, assim como os valores da população da época, os ordenamentos jurídicos evoluíram. Em sua obra “Acesso á Justiça”, os autores Mauro Cappelleti e Bryant Gart (1988) explicam que atualmente a palavra acesso à justiça serve para determinar duas finalidades básicas do sistema jurídico: a primeira delas determina que o sistema deve ser justo e igualmente acessível a todos; a segunda define que ele deve produzir resultados que sejam individuais e socialmente justos.

Ocorre que, para se atingir com plenitude a tutela de alguns direitos básicos e de notória importância, se faz necessária a efetiva atuação do Estado e órgão responsáveis, sendo necessária a formulação de normas que particularizem os meios de se alcançar essa almejada efetivação (MIRANDA, 2008, p.35).

Nesta toada, vislumbra-se o acesso à justiça como a proteção jurídica oferecida pelo Estado, respeitando os princípios constitucionais citados, e não somente a facilidade de acessar o Poder Judiciário (COSTA; VALLE, [s.d.]).

Neste capítulo, demonstrar-se-á primeiramente as dificuldades que existem na realidade do acesso à justiça para os idosos que são mediados por Órgãos Públicos competentes para o auxílio e defesa de seus direitos. Após, visando à proteção destes direitos, inúmeras ações e medidas foram tomadas ao longo dos

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anos, com o firme propósito de fazer valer o que a legislação pátria traduz.

2.1 Principais obstáculos enfrentados

Não é atual a preocupação que o ser humano tem de resolver seus conflitos, criando institutos capazes de facilitar o acesso aos órgãos públicos capazes de resoluções. Analisando o Código de Hamurabi, editado entre os séculos XXI e XVII a.C., fica evidente a preocupação com os desprovidos e o acesso à justiça, mesmo que sutilmente desde os tempos remotos houve a intenção pelo menos de diminuir a desproporção e a opressão dos “mais fracos”, mesmo que teoricamente (COSTA; VALLE, [s.d.]).

O princípio da dignidade da pessoa humana, previsto no artigo 1º, inciso III da Carta Magna, norteador de todo o ordenamento jurídico nacional, reconhece os direitos da população, com todas as suas especificidades, garantindo a integridade física, psíquica e intelectual, através de mecanismos e ações gerenciadas pelo Estado e sociedade.

A dignidade da pessoa humana é norma-princípio que orienta a ordem jurídica. Ela está contida no núcleo de todos os direitos previstos na Constituição Federal, sendo considerada o seu elemento ético unificador. Na hermenêutica contemporânea, ocupa posição de destaque. É o componente cardeal na aplicação, interpretação e integração das leis (COSTA, 2010, p. 346).

Cumpre mencionar que este importante princípio confere valores éticos à Declaração Universal dos Direitos Humanos, que em seu artigo 22, refere que:

Toda a pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social; e pode legitimamente exigir a satisfação dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis, graças ao esforço nacional e à cooperação internacional, de harmonia com a organização e os recursos de cada país.

A nível mundial, a Declaração Universal dos Direitos Humanos é um dos mais importantes documentos já produzidos para a garantia de direitos. Nela estão

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elencadas normas que visam alcançar a liberdade, a igualdade e a solidariedade, estabelecendo que todos nascem livres e iguais. Essa Declaração, expressão dos anseios populares, protege grupos sociais, garantindo-lhes o direito à vida, à saúde, à segurança e qualidade de vida, assim como a Constituição Federal confere uma unidade de sentido, de valor e de concordância prática ao sistema de direitos fundamentais.

Pelo menos, de modo direto e evidente, os direitos, liberdades e garantias pessoais e os direitos econômicos sociais e culturais comuns têm a sua fonte ética na dignidade da pessoa, de todas as pessoas. Mas quase todos os outros direitos, ainda que projetados em instituições, remontam também à ideia de proteção e desenvolvimento das pessoas (MIRANDA, 2008, p. 14).

Cumpre mencionar que a base axiológica do Estado Democrático de Direito repousa nos princípios da igualdade e da dignidade da pessoa humana, caracterizando o dever de construção de uma sociedade pluralista e inclusiva (EMERIQUE; GUERRA, 2008, p. 167).

Para José Luiz Bolzan de Morais e Fabiana Marion Spengler (2008, p. 32-34), existem problemas essenciais que a Justiça ou o Judiciário enfrentam regularmente para atingir a efetividade do Processo:

1) As tradicionais limitações ao ingresso na justiça, jurídicas ou de fato (econômicas, sociais), refletem em decepções para a potencial clientela do Poder Judiciário, na impossibilidade de a sociedade empregar práticas pacificadoras, além de desgastarem o Estado na sua própria legitimidade;

2) Vencidas as limitações tradicionais e, portanto, desobstruídas as vias de acesso ao processo, deve-se viabilizar o acesso à ordem jurídica justa, que só de concretizará pela observância das garantias constitucionais do due processo of law e da inafastabilidade do controle jurisdicional;

3) A eliminação dos litígios deve atender ao critério de Justiça, pois o valor da justiça figura como objetivo-síntese da jurisdição no plano social ou, do contrário, ter-se-ia mera sucessão de arbitrariedades; 4) Inobstante percorridos os problemas anteriores, o sistema, através de seus operadores, deve estar preparado para produzir decisões que sejam capazes de propiciar a tutela mais ampla possível aos direitos reconhecidos.

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O processo, portanto, transformou-se em uma “arena” para solução de conflitos, pois nele travam-se lutas visando atingir o efetivo direito.

Neste sentido, entre os diversos fatores que dificultam o acesso á justiça, podemos citar como exemplo a morosidade da decisão judicial, o alto custo da prestação jurisdicional, infindáveis números de processos, a falta de estrutura, a escassez de funcionários, de defensores públicos, de promotores e juízes (MENDES, [s.d.]).

Insta observar que o acesso ao judiciário propriamente dito não é o real problema a ser enfrentado, visto que qualquer um pode, seja por meio de advogado ou defensor público, ingressar com uma demanda no judiciário. O verdadeiro problema nasce, cresce e se desenvolve com a morosidade do grande volume de demandas judiciais, que atualmente dificultam o cumprimento da prioridade do idoso e demais grupos desfavorecidos.

Neste sentido, cabe mencionar a relevância das Defensorias Públicas, presentes hoje em todos os estados da Federação. Intimamente ligada com a evolução da Assistência Judiciária Gratuita – AJG (atualmente assegurada pela Lei nº 1.060/50), a Defensoria, como órgão garantidor do acesso à justiça, surge a fim de orientar e defender juridicamente os mais necessitados. A necessidade de um serviço jurídico gratuito fez com que nascesse a imprescindibilidade na criação de um órgão com função e atributos próprios para prestar adequadamente a assistência jurídica integral.

A inquietação de implementação de um serviço de assistência jurídica pública motivou o Distrito Federal (na época, Rio de Janeiro/RJ), em 5 de maio de 1897, a expedir decreto instituindo oficialmente o serviço da Assistência Judiciária. Entretanto, foi somente em 1988, com a Constituição Federal, que a Defensoria Pública surgiu expressamente na legislação de âmbito nacional (BORGE, 2010).

Fato é que há uma enorme dificuldade no cumprimento de um prazo razoável de tramitação. A concretização do princípio da celeridade processual, tão importante

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para a resolução dos litígios, caracteriza-se na aplicação dos procedimentos de forma rápida e eficaz sempre atendendo o princípio constitucional da igualdade.

Buscando respostas qualitativas e quantitativamente adequadas às demandas, realizou-se, como tentativa de solucionar o problema da morosidade, uma reforma no Judiciário brasileiro com as disposições trazidas pela Emenda Constitucional nº 45 de 2004. As inovações trazidas por esta Emenda, implantadas no artigo 5º, inciso LXXVIII, introduzem a questão da celeridade, demonstrando todo o esforço legislativo no sentido de operacionalizar tal desiderato (OLIVEIRA, 2007):

Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação (BRASIL, 2004).

O inciso incorporado ao artigo 5º da Constituição Federal Brasileira, carrega consigo quatro aspectos de extrema importância, conforme relembras Morais e Spengler (2008, p. 39):

(1) Torna obrigatória a prestação jurisdicional em um prazo razoável; (2) Estabelece, ainda que de forma indireta, que prazo razoável é o prazo legal;

(3) Traz também a exigência de meios que garantam a celeridade processual;

(4) Por fim, introduz um conjunto de determinações relativas à organização do Poder Judiciário que, se implementadas de forma adequada, podem auxiliar decisivamente no cumprimento do mandamento constitucional.

Outrossim, no tocante à celeridade processual, não há como não associar o número de magistrados atuantes em todo o território nacional - tema abordado pela Emenda Constitucional nº 45/04 -, pois é necessário que exista um número proporcional de juízes, para ser possível o atendimento de todas as demandas do Poder Judiciário.

O teor do inciso XIII, do artigo 93 da CF/88, dispõe que “o número de juízes na unidade jurisdicional será proporcional à efetiva demanda judicial e à respectiva

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população” (BRASIL, 2004). Denota-se que a redação do inciso XIV do artigo acima referido faz menção à centralização dos procedimentos na pessoa do magistrado, visando conduzir com maior agilidade a operacionalização do instrumento jurídico disposto às partes litigantes. Segundo tal inciso, “os servidores receberão delegação para a prática de atos de administração e atos de mero expediente sem caráter decisório” (OLIVEIRA, 2007).

É notório que o efetivo exercício dos direitos fundamentais estabelecidos no texto da Constituição de 1988 encontra grande obstáculo na lentidão permanente que já se traduz nos atuas processuais atuais, de forma natural.

Percebe-se que simplesmente implantar rapidez na resolução dos processos não é suficiente para a preservação do princípio da democracia, visto que a simples adoção de procedimentos mais céleres não garante decisões justas e eficazes.

Para Fátima Nancy Andrighi (2004, p. 2):

Ademais, em se tratando de pessoas idosas, os obstáculos enfrentados para solucionar problemas de natureza jurídica, bem como a demora na tramitação e julgamento dos processos, podem causar males psicossomáticos à saúde dos litigantes, conseqüência comprovada cientificamente, decorrentes da aflição e da angústia geradas durante a infindável espera na definição da pendenga judicial.

Também, não há como não considerar a insegurança e o sentimento de inferioridade de um idoso quando depende da assistência judiciária gratuita para ajuizar ação ou se defender em juízo (ANDRIGHI, 2004, p. 2), o que se configura como obstáculo psicológico.

A respeito dos obstáculos para o acesso à justiça Cappelletti e Garth (1988, p. 88-93) apontam que:

(a) obstáculos de natureza financeira: altos valores praticados para a cobrança de custas processuais e honorários advocatícios, visto que por maioria das vezes os litigantes precisam suportar a grande proporção dos demais custos necessários à solução de um conflito; (b) obstáculos temporais: apoiados na morosidade, característica do

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Poder Judiciário, seja por dificuldades institucionais, relacionadas à insuficiência do número de magistrados e de servidores, seja em razão da complexidade do nosso sistema processual, que permite a interposição infindável de recursos, e;

(c) obstáculos psicológicos e culturais: extrema dificuldade para a maioria da população no sentido de até mesmo reconhecer a existência de um direito, na justificável desconfiança que a população em geral nutre em relação aos advogados e ao sistema jurídico como um todo e, ainda, na também justificável intimidação que as pessoas em geral sentem diante do formalismo do Judiciário e dos próprios advogados.

Ainda, tais obstáculos são agravados quando se trata de idosos, considerando a vulnerabilidade dos mesmos em decorrência do avanço da idade e das consequências físicas e psicológicas que surgem involuntariamente.

Outrossim, Cappelletti e Bryant (1988) descrevem a ocorrência de “três ondas” na evolução do acesso à justiça:

a) assistência judiciária ao economicamente incapaz de arcar com os custos do processo;

b) a representação adequada de direitos difusos;

c) reforma das normas procedimentais, adequando-as aos direitos a serem tutelados de modo a torná-los exeqüíveis.

Os mesmos autores, apontam algumas soluções para a problemática envolta na questão do acesso livre igualitário e eficaz ao judiciário, sendo necessário, portanto:

a) Reformular os procedimentos judiciais em geral e os próprios órgãos e sistemas judiciários;

b) Criar métodos alternativos para decidir causas judiciais (arbitragem, conciliação, etc.);

c) Criar tribunais especializados para o julgamento destinados à apreciação de causas de particular importância social;

d) Mudar os métodos utilizados para a prestação de serviços jurídicos, com o uso dos parajurídicos;

e) Simplificar o próprio direito, instituindo, por exemplo, a responsabilidade civil objetiva.

Segundo o estudo realizado pelo Ministério da Justiça (BRASIL, 2005) em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento- PNUD, restou demonstrado que os principais obstáculos inerentes ao acesso à justiça no

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Brasil, como sendo a falta de conhecimento sobre os direitos, a indisponibilidade dos serviços de assistência jurídica e os sistemas legais injustos.

Verifica-se que o problema da efetivação dos direitos dos idosos é bastante complexo e não basta um instrumento legal definindo quais os direitos dessa significativa parcela da população (ANJOS et al., 2015).

A prioridade na tramitação, que deveria garantir o atendimento mais humano ao idoso, ainda não é devidamente aplicada, muitas vezes em razão das grandes demandas judiciais. Tal realidade causa sérios danos a esta população, que mesmo amparada pelo Estatuto, não tem seus direitos devidamente tutelados.

Para os autores Morais e Spengler (2008, p. 37) não basta aplicar apenas certa agilidade na resolução das demandas para solucionar a questão da lentidão processual:

O acesso à justiça, percebido como um interesse difuso implicou – seja em nível interno, seja internacional e supranacional – a necessária incorporação ao quotidiano jurídico-jurisdicional de fórmulas diversas que permitissem não só a agilização dos procedimentos, mas, isto sim, uma problematização dos métodos clássicos desde um interrogante acerca de sua eficácia como mecanismo apto a dar respostas suficientes e eficientes para a solução dos litígios que lhe são apresentados.

Fato é que para superar os obstáculos cotidianos é de suma importância que ocorram reformas profundas no poder judiciário brasileiro. E, que tais reformas não somente focalizem os mecanismos judiciários, mas busque formas/meios que possibilitem a inserção da população ou de suas entidades representativas, no próprio planejamento institucional, para que novos mecanismos capazes de garantirem o acesso à justiça sejam criados, e, efetivamente, colocados em prática (ANJOS et al., 2015).

O Estatuto do Idoso tem como objetivo um melhor acesso ao judiciário, até porque o jurisdicionado que se submete ao mesmo não conta com tanto tempo para esperar a efetividade formal dos procedimentos que envolvem os feitos. Impõe-se

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que a novel legislação culmine com a efetiva priorização dos processos que tenham por protagonistas os assim considerados idosos (OLIVEIRA, 2007).

A falta de agilidade nos processos é uma falha constante e persistente, que vem sendo rigorosamente obedecida, em todas as instâncias. A legislação vigente é clara ao estabelecer que o idoso tem preferência ao ajuizar uma ação, devido ao periculum in mora (perigo da demora), já que tratam-se de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, e que os riscos a partir dessa idade, de contrair doenças ou moléstias, é maior do que em indivíduos com 30 anos. Esta demora se dá devido ao inquestionável saturamento de pendências judiciais, realidade do Poder Judiciário brasileiro (COSTA; VALLE, [s.d.]).

2.2 A luta pela concretização dos direitos dos idosos

A Política Nacional do Idoso, instituída pela Lei nº 8.842/94, adota novas idéias com relação ao atendimento ao idoso, constituindo-se um marco do direito, apontando em seu conteúdo aspectos relevantes que enfatizam o idoso como cidadão de direitos, evidenciando suas diretrizes norteadoras:

1. Viabilização de formas alternativas de participação, ocupação e convívio do idoso, que proporcionem sua integração às demais gerações;

2. Participação social por meio de organizações representativas, na formulação, execução e avaliação das políticas, planos, programas e projetos a serem desenvolvidos;

3. Priorização do atendimento ao idoso por suas próprias famílias, em detrimento do atendimento asilar, à exceção dos idosos que não possuam condições que garantam sua própria sobrevivência;

4. Descentralização político-administrativa;

5. Educação permanente dos recursos humanos nas áreas de geriatria e gerontologia e na prestação de serviços;

6. Instituição de sistema de informações que permita a divulgação da política, dos serviços oferecidos, dos planos, programas e projetos em cada nível de governo;

7. Estabelecimento de mecanismos que favoreçam a divulgação de informações de caráter educativo sobre os aspectos biopsicossociais do envelhecimento;

8. Priorização do atendimento ao idoso em órgãos públicos e privados prestadores de serviços, quando desabrigados e sem família;

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9. Apoio a estudos e pesquisas sobre as questões relativas ao envelhecimento (BERLEZI; CAMPOS; CORREA, 2014, p. 46-47).

Diante de tamanha dificuldade em alcançar a tutela dos direitos fundamentais inerentes à população idosa, fica evidente que não bastam apenas normas que regulamentam a questão. É necessário que a responsabilidade de garantia e manutenção dos direitos não recaia somente sobre o papel, sobre a palavra, mas que seja adotada por órgãos públicos capazes de efetivar e proteger, com total autonomia, os que necessitam.

Conforme traduz Ada Pellegrini Grinover (2006, p. 4 apud OLIVEIRA, 2007), “o acesso à justiça não indica apenas o direito de aceder aos tribunais, mas também o de alcançar, por meio de um processo cercado das garantias do devido processo legal, a tutela efetiva dos direitos violados ou ameaçados”.

Conforme expressa o artigo 129 da Constituição Federal de 1988, é função do Ministério Público defender os direitos e garantias dos idosos, através de medidas administrativas e/ou judiciais, prevista igualmente na Lei Orgânica Nacional do Ministério Público (Lei n.º 8.625/1993) e no Estatuto do Idoso (OLIVEIRA, 2007).

Ao observarem-se as disposições trazidas pelo Estatuto do Idoso, nota-se que compete ao Ministério Público a defesa da efetividade do direito estabelecido, caso o mesmo não venha a ser cumprido. Desta forma, verifica-se a legitimidade do Parquet de estabelecer medidas de proteção e fiscalização ao idoso.

Inúmeras atribuições recaíram sob a responsabilidade do Ministério Público, sendo elas de extrema importância na garantia do acesso à justiça. Conforme disposto no artigo 74 do Estatuto do Idoso (BRASIL, 2003), são algumas competências fundamentais:

Art. 74. Compete ao Ministério Público:

I – instaurar o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção dos direitos e interesses difusos ou coletivos, individuais indisponíveis e individuais homogêneos do idoso;

II – promover e acompanhar as ações de alimentos, de interdição total ou parcial, de designação de curador especial, em

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circunstâncias que justifiquem a medida e oficiar em todos os feitos em que se discutam os direitos de idosos em condições de risco; [...]

IV – promover a revogação de instrumento procuratório do idoso, nas hipóteses previstas no art. 43 desta Lei, quando necessário ou o interesse público justificar;

[...]

VII – zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias legais assegurados ao idoso, promovendo as medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis; VIII – inspecionar as entidades públicas e particulares de atendimento e os programas de que trata esta Lei, adotando de pronto as medidas administrativas ou judiciais necessárias à remoção de irregularidades porventura verificadas;

Para José Afonso da Silva (2007, p. 594), o Ministério Público é incumbido pelo ordenamento jurídico vigente de viabilizar a efetivação do acesso à justiça das classes mais vulneráveis, incluindo-se os idosos:

A Instituição ocupa lugar cada vez mais destacado na organização do Estado, em virtude do alargamento de suas funções de proteção aos direitos indisponíveis e de interesses coletivos, tendo a Constituição Federal lhe dado relevo de instituição permanente e essencial à função jurisdicional, mas que ontologicamente sua natureza permanece executiva, sendo seus membros agentes políticos, e como tal, atuam com plena e total independência funcional.

Neste sentido, o Estado, por meio das normas estabelecidas busca envolver os interesses da população idosa em uma condição especial, da qual são titulares. O artigo 43 do Estatuto do Idoso, estabelece 3 critérios para a adoção de medidas de proteção:

Art. 43. As medidas de proteção ao idoso são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados: I – por ação ou omissão da sociedade ou do Estado;

II – por falta, omissão ou abuso da família, curador ou entidade de atendimento;

III – em razão de sua condição pessoal.

Tendo em vista a realidade da população a que se dirigem todas as disposições do Estatuto do Idoso, a celeridade processual tornou-se o maior objetivo pretendido, uma vez que o idoso é portador de significativa idade, o que sugere a possibilidade da demanda chegar a termo tarde demais, assim havendo a necessidade de garantir mecanismos de aceleração da tramitação do processo e,

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por conseqüência, o acesso à justiça. Portanto, a atuação do Ministério Público na função custos legis proporcionará o efetivo alcance dos objetivos da norma (OLIVEIRA, 2007).

Cabe advertir que todas as normas afixadas pelo Estatuto do Idoso não podem ser motivo de intervenção desenfreada do Ministério Público, a fim de não ferir certos direitos fundamentais como o da liberdade e igualdade. O artigo 127 da CF/88 (BRASIL, 1988) aduz que compete ao MP “a defesa de interesses sociais e individuais indisponíveis”.

Ainda, Robson Renault Godinho (2006, p. 20), Promotor de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, afirma em sua pesquisa que:

[...] os Estados comumente criam promotorias especializadas para a defesa dos direitos dos idosos juntamente com a defesa dos direitos de pessoas portadoras de deficiência, como ocorre, por exemplo, em Minas Gerais, no Maranhão, no Rio de Janeiro e no Distrito Federal, havendo inclusive uma Associação Nacional dos Membros do Ministério Público de Defesa dos Direitos dos Idosos e Pessoas com Deficiência (AMPID). Em São Paulo, há atribuição exclusiva para a defesa do idoso, sendo que desde 1997 há um Grupo de Atuação Especial de Proteção ao Idoso, modelo que entendemos devesse ser seguido pelas demais unidades da federação.

Ainda sobre as atribuições do Ministério Público, Godinho (2006, p. 15) observa:

O Estatuto do Idoso, no art. 74, I, conferiu atribuição ao Ministério Público para instaurar o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção dos direitos e interesses difusos ou coletivos, individuais indisponíveis e individuais homogêneos do idoso. Esse dispositivo poderia até mesmo ser considerado desnecessário, já que reproduz, em nossa opinião, o que já estabelece a Constituição. Ou seja, mesmo que não houvesse esse dispositivo, ou mesmo que inexistisse o Estatuto do Idoso, o Ministério Público estaria legitimado para a tutela dos direitos metaindividuais e individuais indisponíveis dos idosos. Entretanto, em face da existência das interpretações restritivas que descrevemos em itens anteriores, a norma do Estatuto do Idoso assume particular importância, já que explicita, de maneira bastante didática, que o Ministério Público é legitimado para a defesa de direitos individuais homogêneos dos idosos, sendo que a redação do dispositivo foi feliz ao não vincular o conceito de direitos individuais homogêneos com a nota da indisponibilidade. Em suma, esse dispositivo consagra a posição defendida nos itens anteriores e

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espera-se que com a explícita consagração normativa, ao menos no que se refere aos idosos, a jurisprudência não amesquinhe a tutela dos direitos.

Nesta senda, a Carta Magna atribui ao Ministério Público a fiscalização do cumprimento das disposições do Estatuto do Idoso, compartilhada com toda a sociedade por imposição constitucional, que atribui o amparo aos idosos como dever da família, da sociedade e do Estado, os quais devem assegurar sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar, garantindo-lhes o direito à vida (OLIVEIRA, 2007).

Por fim, ao Ministério Público, que atua como custos legis, seja à frente das medidas específicas de proteção conferidas ao idoso pelo estatuto ou ainda como substituto processual, importa o fortalecimento das ações contidas em todo o texto da lei. Conforme aduz o artigo 75 do Estatuto do Idoso, nos processos e procedimentos em que não for parte, atuará o Órgão, obrigatoriamente, na defesa dos direitos e interesses dispostos com prerrogativas de diligências, produção de provas e utilização de recursos cabíveis, ensejando a falta da citada intervenção a nulidade do feito (OLIVEIRA, 2007).

Ainda, a Constituição em seu artigo 134, introduz a Defensoria Pública como órgão orientador e defensor dos direitos dos mais carentes e necessitados, devendo o idoso ser enquadrado neste atendimento, com a prioridade que lhe é assegurada por lei.

É de extrema importância a garantia do cumprimento dos direitos das pessoas idosas pela Defensoria Pública, face a assistência jurídica integral assegurada pela Constituição Federal. Seguindo o princípio norte da Dignidade da Pessoa Humana, o pronto atendimento jurídico, ou até mesmo apenas sob o caráter consultivo dos idosos garante a defesa de seus direitos como disposto e estabelecido pelo Estatuto do Idoso.

Ressalta-se que a Defensoria Pública ainda não possui a atuação necessária, tendo em vista que apenas com a emenda nº 45 de 2004 foi reconhecida sua autonomia funcional e administrativa (artigo 134, § 2º, CF/88), como o próprio

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