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O princípio da razoável duração do processo

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UNI VE RSIDADE REGI ONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

ANDRÉ DE SANTI

O PRINCÍPIO DA RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO

IJU Í (RS ) 2011

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ANDRÉ DE SANTI

O PRINCÍPIO DA RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO

Monografia fi nal Curso de Graduação em Direit o, objet ivando a aprovação no com ponent e curri cul ar Monografi a. UN IJ UI - Univers idade Regional do Noroest e do Est ado do Rio Grande do Sul.

DCJS – Departamento de Ciências Jurídi cas e Soci ais.

Orientador: MSc. Joaquim Henrique Gatto

IJU Í (RS) 2011

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Dedico este trabalho a todos que de uma forma ou outra me auxiliaram e ampararam-me durante estes anos da minha caminhada acadêmica.

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A Deus, acima de tudo, pela vida, força e coragem que me deu durante esta jornada de estudo.

A meu orientador o professor Joaquim Henrique Gatto por ter disponibilizado tempo para me orientar.

A todos que colaboraram de uma maneira ou outra durante a trajetória de construção deste trabalho, meus sinceros agradecimentos.

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“..nem sempre a melhor justiça corresponde à rapidez nos julgamentos.”

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RESUMO

A presente monografia analisa o princípio da razoável duração do processo, caracterizando o que se entende por razoável na sua duração, buscando com isso, verificar que possuímos uma sociedade cada dia mais ágil e rápida que encontra barreiras em julgar suas lides em um sistema com baixo número de agentes julgadores e alto fluxo de demandas. A razoável duração processual persegue a ideia de termos uma tramitação processual com prazo razoável para a lide que está em discussão. A importância do tema cresce de vulto, pois é necessário que a sociedade entenda o que é razoável na duração do processo. Sabemos que o processo possui seu tempo próprio diferente do tempo da sociedade, muitas vezes o que é rápido no mundo social não o é na esfera processual.

Palavras-chave: Razoável duração do processo. Emenda Constitucional n° 45/2004. Princípios processuais.

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ABSTRAT

This monograph anal yz es the principl e of reasonabl e durat i on in the process , characteriz ing wh at is m eant b y reasonabl e in duration , thereb y seeking to verif y that we have a s ociet y ever more agil e and qui ck t o find barri ers to j udge their l abors in a s yst em wit h low number of agent s and judges of hi gh flow demands. A reasonabl e durat ion of proceedings purs ues the idea of having a procedure with reasonable tim e for the deal t hat is under discussi on. The growing im port ance of t he is sue of maj or im port ance becaus e it is necess ar y for soci et y t o understand what is reasonable i n duration of the process . We know that the process has its own time than the tim e of the com pan y, which is often fast i n the soci al sphere is not procedural .

Ke y-words: R easonable length of proceedings . Constitutional Amendm ent number 45/2004. Procedural princi ples .

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 10

1.DIREITOS FUNDAMENTAIS E DEVIDO PROCESSO LEGAL ... 12

1.1 Apontamentos aos direitos fundamentais ... 12

1.2 Direito Constitucional processual ... 15

1.3 Princípios constitucionais processuais ... 17

1.4 Princípio do devido processo legal ... 20

2 DURAÇÃO RAZOÁVEL DO PROCESSO ... 24

2.1 Contextualização do tema Emenda constitucional n°45/2004 ... 24

2.2 Problemática da demora processual: tempo do processo ... 27

2.3 Princípio da razoável duração do processo: características, natureza jurídica .... 32

2.4 Medidas alternativas a prestação judicial célere ... 35

CONCLUSÃO ... 40

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INTRODUÇÃO

O princípio da razoável duração do processo foi materializado em nosso ordenamento jurídico com o advento da Emenda Constitucional n° 45/2004, a qual adicionou a Carta Magna o inciso LXXVIII ao art. 5°, estabelecendo que a todos, será garantido a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.

Para bem compreender a magnitude de determinado assunto busca-se conhecer sua origem, suas formas de interpretação, o fim a que se destina e saber primordialmente até que ponto este direito realmente faz parte do cotidiano de nosso sistema jurídico, se mostrando realmente presente no direito brasileiro, ou simplesmente servindo como um princípio que nosso ordenamento não consegue colocar em prática, tendo por muitas vezes processos lentos e intermináveis.

A garantia a razoável duração do processo, trouxe ao cidadão brasileiro, a ideia de que a todos que desejassem pleitear suas lides judicialmente, estariam resguardados por um andamento processual com razoável duração, onde se buscaria sempre uma prestação jurisdicional da maneira mais célere.

No primeiro capítulo será tratado sobre os direitos fundamentais, as garantias jurídicas que se fazem necessárias a todo cidadão brasileiro. Posteriormente será abordado o direito constitucional processual, que visa à matéria constitucional que trata dos processos. Dando

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sequência, tratar-se-á dos princípios constitucionais processuais, e por fim, do trabalhado o princípio do devido processo legal, defendido por muitos como a base dos demais princípios constitucionais processuais.

O segundo capítulo aborda a duração razoável do processo, tratando de uma maneira inicial as modificações que trouxe a Emenda Constitucional n° 45/2004, posteriormente dissertando sobre a problemática da demora processual, e qual seria o tempo razoável para um processo. Dando continuidade, foram englobados diversos conceitos e características acerca do princípio da razoável duração do processo, e ao final, elencando medidas alternativas a fim de prestar uma justiça mais célere.

Buscar-se-á mostrar ao decorrer do presente trabalho acadêmico, que as garantias do cidadão, elencadas pela Constituição Federal de 1988, necessitam de maior eficácia de utilização pelo judiciário, pois de nada adiantam, se somente escritas na Carta Constitucional estão.

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1 DIREITOS FUNDAMENTAIS E DEVIDO PROCESSO LEGAL

1.1 Apontamentos aos direitos fundamentais

Podemos conceituar os direitos fundamentais como os primeiros regramentos que fizeram com que o ser humano pudesse delimitar e nortear sua vida em sociedade, estabelecendo suas prerrogativas e seus limites. Cabe aos direitos fundamentais a idéia de regra base, onde deles germinaram os ordenamentos jurídicos presentes nas sociedades atuais. Mister destacar, que com tais direitos estabeleceu-se os princípios mínimos necessários para que o homem pudesse conviver harmonicamente com seus pares, ou seja, estabelecer os princípios básicos da vida em sociedade.

Direitos fundamentais, conforme Silva (2005, p.176), “consiste nas prerrogativas e instituições que o direito positivo concretiza em garantias de uma convivência digna, livre e igual de todas as pessoas.”

Para Cunha Junior (2008, p. 573), o conceito de direitos fundamentais representa:

[...] todas aquelas posições jurídicas favoráveis às pessoas que explicitam, direta ou indiretamente, o princípio da dignidade humana, que se encontram reconhecidas no teto da Constituição formal (fundamentalidade formal) ou que, por seu conteúdo e importância, são admitidas e equiparadas, pela própria Constituição, aos direitos que esta formalmente reconhece, embora dela não façam parte.

O célebre mestre espanhol Pérez Luño utilizando-se da terminologia direitos humanos, define os direitos fundamentais como:

[...] um conjunto de faculdades e instituições que, em cada momento histórico, concretizam as exigências de dignidade, liberdade e igualdade humanas, as quais devem ser reconhecidas positivamente pelos ordenamentos jurídicos em nível nacional e internacional. (LUÑO apud TAVARES, 2007, p. 433)

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Os princípios fundamentais, analisados sob o aspecto subjetivo, podem ser classificados, em função de que o indivíduo pode cobrar o Estado pelos direitos fundamentais estabelecidos a todos os cidadãos. Neste sentido, existe uma concepção clássica obrigacional, estabelecendo o indivíduo como credor e o Estado como devedor, ou seja, garantidor de uma sociedade com regramento e condições básicas de convivência entre os homens. Neste sentido subjetivo definem-se os direitos fundamentais como:

Faculdade de proteção que a norma atribui à pessoa no que se refere à sua vida, a sua liberdade, à igualdade, a sua participação política ou social, ou a qualquer outro aspecto fundamental que afete o seu desenvolvimento integral como pessoa, em uma comunidade de homens livres, exigindo o respeito aos demais homens, dos grupos sociais e do Estado, e com possibilidade de pôr em marcha o aparato coativo do Estado em caso de infração. (PECES-BARBA apud TAVARES, 2007, p. 433)

Para muitos doutrinadores, os direitos fundamentais, encontram essência no direito a dignidade da pessoa humana, haja vista que, a dignidade da pessoa humana condiz com uma social onde haja harmonia entre as pessoas, ou seja, onde os cidadãos possam encontram sua liberdade delimitada ao início da liberdade do outro que convive na mesma sociedade. Para eles, o direito a dignidade da pessoa humana é fonte para os direitos fundamentais, conforme prescrevem os autores Mendes, Coelho e Branco (2008, p. 237).

Não obstante a inevitável subjetividade envolvida nas tentativas de discernir a nota de fundamentalidade em um direito, e embora haja direitos formalmente incluídos na classe dos direitos fundamentais que não apresentam ligação direta e imediata com o princípio da dignidade da pessoa humana, é esse princípio que inspira os típicos direitos fundamentais, atendendo à exigência do respeito à vida, à liberdade, à integridade física e íntima de cada ser humano, ao postulado da igualdade em dignidade de todos os homens e à segurança. É o princípio da dignidade humana que demanda fórmulas de limitação do poder, prevenindo o arbítrio e a injustiça. Nessa medida, há de se convir em que os direitos fundamentais, ao menos de forma geral, podem ser considerados concretizações das exigências do princípio da dignidade da pessoa humana.

Importante mencionar, que cada sistema jurídico possui seus direitos fundamentais que lhe são peculiares, ou seja, cada ordenamento jurídico foi criado a partir de uma idéia de direitos fundamentais, onde se estabeleceu inicialmente as regras básicas da sociedade e após vieram seus regramentos pormenorizados. Neste sentido, afirma Sarlet (2007, p. 89):

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Importante considerar, ainda com relação à nota da fundamentalidade dos direitos fundamentais, que somente a análise do seu conteúdo permite a verificação de sua fundamentalidade material, isto é, da circunstância de conterem ou não, decisões fundamentais sobre a estrutura do Estado e da sociedade, de modo especial, porém, no que diz com a posição nestes ocupadas pela pessoa humana.

Com o os passar dos tempos, os direitos fundamentais são sistematicamente renovados, devido à busca de melhores condições de convívio dos seres humanos em sociedade, ou seja, os direitos fundamentais são formulados em virtude das peculiaridades de sua sociedade e de seu momento histórico.

O caráter da historicidade, ainda, explica que os direitos possam ser proclamados em certa época, desaparecendo em outras, ou que se modifiquem no tempo. Revela-se, desse modo, a índole evolutiva dos direitos fundamentais. Essa evolução é impulsionada pelas lutas em defesa de novas liberdades em face de poderes antigos – já que os direitos fundamentais costumam ir se afirmando gradualmente – e em face das novas feições assumidas pelo poder. (MENDES; COELHO; BRANCO, 2008, p. 241)

Neste mesmo sentido, leciona Martins Neto (2003, p. 94)

[...] a relatividade e historicidade dos direitos fundamentais, no sentido de serem eles variáveis no tempo e no espaço, de acordo com as escolhas de cada ordenamento jurídico concreto. Equivalente a reconhecer que não existem direitos intrinsecamente fundamentais, ou direitos fundamentais em si mesmos, pois a fundamentalidade assim entendida coloca a qualificação dos direitos na dependência de uma decisão política de poder constituinte originário, sob a influência dos princípios morais dominantes nas comunidades singulares.

Para Silva (2002, p. 181), as características dos direitos fundamentais são a historicidade, inalienabilidade, imprescritibilidade e irrenunciabilidade:

a) Historicidade: são históricos como qualquer outro direito, nascem, modificam-se e desaparecem. Eles aparecem com a revolução burguesa. Sua fundamentação primitiva está baseada no Direito Natural e na essência do homem ou na natureza das coisas;

b) Inalienabilidade: São direitos instransferíveis, inegociáveis, porque não são de conteúdo econômico-patrimonial, se a ordem Constitucional os confere a todos, deles não se pode desfazer, porque são indisponíveis; c) Imprescritibilidade: Eles nunca perdem sua validade por prescrição, pois esta é um instituto jurídico que somente atinge a exigibilidade dos Direitos patrimoniais, não os Direitos personalíssimos ou individuais; d) Irrenunciabilidade: Não se renunciam Direitos Fundamentais, alguns podem até não ser exercidos, mas nunca renunciados.

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Concluindo sobre direitos fundamentais, nota-se que estes vieram se desenvolvendo com o passar dos anos, como qualquer outro direito, foram criados, e ao longo dos tempos se modificando, seguindo suas características que lhe são próprias, em função da inalienabilidade; por serem inegociáveis, uma vez que não possuem conteúdo econômico; imprescritíveis, uma vez que nunca prescrevem, não perdem sua validade; intransferíveis, haja vista que são atinentes a cada cidadão; e irrenunciáveis, onde jamais podem ser renunciáveis embora possam até mesmo ser esquecidos ou não utilizados.

1.2 Direito constitucional processual

Direito constitucional processual é o conjunto de mecanismos incluídos na Constituição Federal que estabelecem regras relacionadas ao cidadão em questões processuais, e visa à aplicação da normativa jurídica da Constituição nos processos em geral.

Ao tratar do direito constitucional processual, é necessário entendermos que a constituição cria elementos que dão essência ao direito processual, haja vista que hoje muito se preocupa com os direitos fundamentais, onde o direito constitucional se faz presente com seus princípios.

Neste sentido, enfatiza Baracho (1984, p. 122):

A relação existente entre Constituição e Processo é apontada por vários publicistas, desde que o texto fundamental traça as linhas essenciais do sistema processual consagrado pelo Estado. A Constituição determina muitos dos institutos básicos do processo, daí as conclusões que acentuam, cada vez mais, as ligações entre a Constituição e o Processo.

Prossegue o autor, dizendo:

A jurisprudência e a doutrina preocupam-se, cada dia mais, com os direitos fundamentais, daí a necessidade de medidas processuais que tenham como finalidade tutelar a liberdade, a igualdade e a dignidade, inspirando-se em princípios, de justiça individual e social.

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O Estado de direito é um “Estado Constitucional”, contendo na Constituição Federal seus princípios político-constitucionais conformadores e os princípios jurídicos informadores da ordem jurídica nacional. Nesta linha, pode-se afirmar que os princípios de direito processual possuem sede constitucional, de forma que o Processo e Constituição estão intimamente relacionados.

Ao analisarmos a Constituição Federal Brasileira de 1988, observamos que ela estabelece garantias que norteiam o sistema processual brasileiro:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada;

XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;

LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente;

LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;

LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;

LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos; LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem;

LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos.

Para o autor Arruda Filho (2005, p. 63), as normas constitucionais que garantem a tutela constitucional do processo, hoje são vistas como cláusulas pétreas, que em função disso, não podem ser alteradas por força de emendas constitucionais:

[...] contudo, que a existência da chamada tutela constitucional do processo tem como escopo assegurar a conformação dos institutos do direito processual com os princípios e fundamentos que descendem da própria ordem constitucional, bem como o reforço do sistema de garantias e direitos do cidadão. Além disso, tais normas adquiriram “status” de cláusulas pétreas e como normas configuradoras da tutela constitucional do processo sequer podem ser objeto de emenda constitucional, por força do disposto no artigo 60, parágrafo 4º, inciso IV, da Carta Política.

Estas garantias constitucionais, que são encontradas na Constituição Federal e propriamente utilizadas no processo em geral, são denominadas de princípios constitucionais processuais, e será objeto de estudo mais aprofundado, conforme veremos a seguir.

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1.3 Princípios constitucionais processuais

Primordialmente, ao analisarmos os princípios constitucionais processuais, deve-se vislumbrar que os mesmos representam normas generalíssimas, que refletem um ideal de justiça, igualdade, legitimidade trazendo coerência ao sistema jurídico.

Partindo desta idéia básica, relevantes e objetivos são os ensinamentos de Mello (1981, p. 94):

Princípio é, por definição, mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas, compondo-lhes o espírito e servindo de critério para a sua exata compreensão e inteligência, exatamente por definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá sentido harmônico. É o conhecimento dos princípios que preside a intelecção das diferentes partes componentes do todo unitário que há por nome sistema jurídico positivo.

Segundo Bonavides (1997, p. 237), após analisar diversos conceitos de renomados autores a respeito de princípios, destaca os ensinamentos de Crisafulli:

Princípio é, com efeito, toda norma jurídica, enquanto considerada como determinante de uma ou de muitas outras subordinadas, que a pressupõem, desenvolvendo e especificando ulteriormente o preceito em direções mais particulares (menos gerais), das quais determinam, e, portanto resumem, potencialmente, o conteúdo: sejam, pois, estas efetivamente postas, sejam, ao contrário, apenas dedutíveis do respectivo princípio geral que as contém. Ressaltando a importância que os princípios constitucionais processuais trazem ao ordenamento jurídico, prossegue Bonavides (1997, p. 239):

Em verdade, os princípios são o oxigênio das Constituições na época do pós-positivismo. É graças aos princípios que os sistemas constitucionais granjeiam a unidade de sentido e auferem a valoração de sua ordem normativa.

Ao tratar sobre os princípios constitucionais se faz necessário salientar inicialmente que o processo, em qualquer de suas esferas, seja no aspecto de funcionamento, seja no aspecto de estrutura, não é criado em função de uma ordem legislativa, ou seja, não nasce da intenção do Estado para com o cidadão. Ao contrário, surge da ocorrência das transformações e dos fenômenos sociais que atingem a sociedade como um todo.

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Neste sentido, afirma Ávila (2006, p. 78):

[...] princípios são normas imediatamente finalísticas, primariamente prospectivas e com pretensão de complementaridade e de parcialidade, para cuja aplicação se demanda uma avaliação da correlação entre o estado de coisas a ser promovido e os efeitos decorrentes da conduta havida como necessária à sua promoção.

Tendo os princípios constitucionais como um ponto de partida do sistema jurídico, prescreve Plácido Silva (2001, p. 639):

Princípios, no plural, significam as normas elementares ou os requisitos primordiais instituídos como base, como alicerce de alguma coisa [...] revelam o conjunto de regras ou preceitos, que se fixam para servir de norma a toda espécie de ação jurídica, traçando, assim, a conduta a ser tida em qualquer operação jurídica [...] exprimem sentido mais relevante que o da própria norma ou regra jurídica [...] mostram-se a própria razão fundamental de ser das coisas jurídicas, convertendo-as em perfeitos axiomas [...] significam os pontos básicos, que servem de ponto de partida ou de elementos vitais do próprio Direito.

Para Espíndola (1998, p. 47-48), os princípios Constitucionais processuais, possuem o mesmo caráter de norma jurídica:

Hoje, no pensamento jurídico contemporâneo, existe unanimidade em se reconhecer aos princípios o status conceitual e positivo de norma de direito, de norma jurídica. Para este núcleo de pensamento, os princípios têm positividade, vinculatividade, são normas, obrigam, têm eficácia positiva e negativa sobre comportamentos públicos ou privados bem como sobre a interpretação e a aplicação de outras normas, como as regras e outros princípios derivados de princípios de generalizações mais abstratas.

Importante observar, que os princípios diferem das normas, as quais são cumpridas ao seu inteiro rigor, sem criar lacunas para outras soluções. Nessa seara, ressalta Canotilho (1995, p. 168):

Conseqüentemente, os princípios, ao constituírem exigências de otimização, permitem o balanceamento de valores e interesses. Não obedecem como as regras, à lógica do tudo ou nada, consoante o seu peso e a ponderação de outros princípios eventualmente conflitantes; as regras não deixam espaço para qualquer outra solução, pois se uma regra vale (tem validade) deve cumprir-se na exata medida das suas prescrições, nem mais ou menos.

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No que tange aos princípios constitucionais, importante citar os ensinamentos de Bastos (2000, p. 57), renomado autor brasileiro, que traz a seguinte lição:

Os princípios constituem idéias gerais e abstratas que expressam em menor ou maior escala todas as normas que compõem a seara do direito. Poderíamos mesmo dizer que cada área do direito não é senão a concretização de certo número de princípios, que constituem o seu núcleo central. Eles possuem uma força que permeia todo o campo sob seu alcance. Daí por que todas as normas que compõem o direito constitucional devem ser estudadas, interpretadas, compreendidas à luz desses princípios. Quanto aos princípios consagrados constitucionalmente, servem, a um só tempo, como objeto da interpretação constitucional e como diretriz para a atividade interpretativa, como guias a nortear a opção de interpretação.

Ao abordarmos a função dos princípios, devemos observar que estes atuam em várias frentes, objetivando sempre, atender a soluções de conflitos que possam não estar expressamente previstos na norma jurídica.

Sobre a função dos princípios, prescreve Canotilho (1995, p. 166-167):

Os princípios são multifuncionais. Podem desempenhar uma função argumentativa, permitindo, por exemplo, denotar a ratio legis de uma disposição ou revelar normas que não são expressas por qualquer enunciado legislativo, possibilitando aos juristas, sobretudo aos juízes, o desenvolvimento, integração e complementação do direito.

Ainda sobre os princípios constitucionais, continua Canotilho (1995, p. 167):

Os princípios historicamente objetivados e progressivamente introduzidos na consciência jurídica e que encontram uma recepção expressa ou implícita no texto constitucional. Pertencem à ordem jurídica positiva e constituem um importante fundamento para a interpretação, integração, conhecimento e aplicação do direito positivo.

Desta forma, são os princípios processuais fonte de criação do sistema jurídico, pois dos princípios é possível a criação de novas normas, de dar sentido a interpretação que o sistema jurídico necessita. Aprofundando a temática, se faz necessário tratar de forma incisiva o princípio do devido processo legal, para que, logo após, possamos analisar com magnitude o princípio da razoável duração do processo.

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1.4 Princípio do devido processo legal

Cresce de importância analisar o devido processo legal, para que posteriormente possamos de uma maneira mais incisiva abordar a razoável duração do processo. Sabemos que o direito, como as demais ciências, acaba desenvolvendo-se com o passar dos tempos, em função da sociedade verter mudanças, que são inevitáveis, conforme menciona Taruffo (2003, p. 155):

Também na cultura jurídica a superação das fronteiras nacionais (ou nacionalísticas) já é fenômeno inevitável, além de oportuno, e estreitamente conexo com a difusão e a circulação de temas de ordem, gera como as garantias constitucionais, os direitos humanos, o justo processo, a efetividade da tutela, e assim por diante.

Iniciando a abordagem do tema, mister destacar, que no surgimento do valoroso princípio, a este cabia uma concepção mais direcional quanto a seus efeitos, e com o passar do tempo, passou a revestir-se de uma concepção mais genérica, atingindo diversas áreas, servindo-lhes como base legal. No entender de Castro (2005, p. 29) “Concebida, de início, como um requisito de validade da jurisdição penal, estendeu-se, em seguida, à jurisdição civil e, mais recentemente, aos procedimentos administrativos instaurados no âmbito da Administração Pública”. No mesmo sentido continua:

Por sua crescente e prestigiosa aplicação, acabou por transformar-se essa garantia constitucional em princípio vetor das manifestações do Estado contemporâneo e das relações de toda ordem entre o Poder Público, de um lado, e a sociedade e os indivíduos, de outro. Assumiu específica importância na área do poder de polícia, considerado genérica e modernamente como a competência explícita ou implícita dos órgãos estatais para disciplinar o exercício da liberdade individual e a utilização da propriedade em benefício do bem comum, ou seja, de ordenar os direitos privados em harmonia com os superiores interesses coletivos. (CASTRO, 2005, p. 412)

Sobre o assunto, aborda Silveira (2001, p. 235-236)

A princípio, parecia que cuidava, apenas, de meras garantias processuais asseguradas ao acusado, como o julgamento pelo júri e o igual tratamento processual. Mas mesmo para se obter essas garantias, na essência, estava a limitação do poder governamental, e o que só foi percebido com clareza mais tarde. Por isso, depois, com precisão instrumental, manejável através do Judiciário, como modo de contenção do poder do chefe de governo,

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visando evitar o consentimento de arbitrariedades, como retirar de qualquer membro da comunidade seu direito à vida, liberdade ou propriedade. Com o tempo, a cláusula foi entendida e acabou alcançando os departamentos subalternos do governo.

A expressão devido processo legal deriva da expressão inglesa due process of law, conforme leciona Nery Junior (2003, p. 61):

O primeiro ordenamento que teria feito menção a esse princípio foi a Magna Charta, de João Sem Terra, do ano de 1215, quando se referiu à law of the land (art. 39), sem, ainda, ter mencionado expressamente a locução devido processo legal. O termo consagrado, due process of law, foi utilizado somente em lei inglesa em 1354, baixada no reinado de Eduardo III, denominada Statute of Westminster of the Liberties of London, por meio de um legislador desconhecido.

O autor prossegue, dizendo:

Embora a Magna Charta fosse instrumento de acentuado deliberado reacionarismo, criada como uma espécie de garantia dos nobres contra o abuso da coroa inglesa, continha exemplos de institutos originais e eficazes do ponto de vista jurídico, que até hoje têm provocado a admiração dos estudiosos da história do direito e da historiografia do direito constitucional. (NERY JUNIOR, 2003, p. 61)

O direito ao devido processo legal, é um dos princípios que norteiam o sistema processual brasileiro. Surgiu em nossa legislação na Constituição Federal Brasileira de 1988, ditando que ninguém teria sua liberdade privada ou mesmo privado de seus bens, sem o devido processo legal.

O princípio do devido processo legal, encontra-se disposto no art.5º, inciso LIV da Carta Magna:

Art.5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes.

LIV- ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal.

Sobre a abordagem que o texto constitucional deu ao princípio do devido processo legal, acrescenta Grinover (2004, p. 156)

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Não deixemos de mencionar, de passagem, que o princípio do due process of law não esteve propriamente ausente do nosso direito constitucional. Ele emergia de algumas normas de garantia do processo e do direito de segurança, inscritas entre os direitos e garantias individuais. Seu reconhecimento dependia de pesquisa no texto constitucional e deu construção doutrinária. Agora ele está expresso. Basta à doutrina compreendê-lo na evolução centenária que tanto o enriqueceu. E, sendo limpidamente expresso, pode-se até reproduzir suas potencialidades em novos avanços, mormente porque inscrito numa Constituição com tantas novidades que hão de nele repercutir.

Para o autor gaúcho Rui Portanova (2003, p. 145), o devido processo legal pode ser assim conceituado:

O devido processo legal é uma garantia do cidadão. Garantia constitucionalmente prevista que assegura tanto o exercício do direito de acesso ao poder judiciário como o desenvolvimento processual de acordo com normas previamente estabelecidas.

Prossegue o autor, dizendo que:

Assim, pelo princípio do devido processo legal, a constituição garante a todos os cidadãos que a solução de seus conflitos obedecerá aos mecanismos jurídicos de acesso e desenvolvimento do processo, conforme previamente estabelecido em leis. Em nosso parecer, bastaria a norma constitucional haver adotado o princípio do due process of law para que daí decorressem todas as consequências processuais que garantiriam aos litigantes o direito a um processo e a uma sentença justa. (PORTANOVA, 2003, p. 145).

Analisando o princípio do devido processo legal, é possível desmembrá-lo em duas vertentes: uma formal, adjetiva, que estabelece aos cidadãos um justo processo, exigindo que o Estado cumpra sua obrigação. E outra material, substantiva, visando criar limitações ao sistema judiciário, para garantir que não ocorram excessos por parte deste último.

Duas são as facetas do devido processo legal, a adjetiva (que garante aos cidadãos um processo justo e que se configura como um direito negativo, porque o conceito dele extraído apenas limita a conduta do governo quando este atua no sentido de restringir a vida, a liberdade ou o patrimônio dos cidadãos) e a substantiva (que, mediante autorização da Constituição, indica a existência de competência a ser exercida pelo Judiciário, no sentido de poder afastar a aplicabilidade de leis ou de atos governamentais na hipótese de os mesmos serem arbitrários, tudo como forma de limitar a conduta daqueles agentes públicos. (BORGES NETTO, 2000).

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Depois de resumida análise do princípio do devido processo legal, princípio que se ramifica em diversos outros princípios, passaremos agora, a analisar de maneira vertiginosa um dos princípios derivados do princípio do due process of law, o princípio da razoável duração do processo.

Abordaremos na razoável duração: suas características básicas, natureza jurídica e aspectos que deram margem ao processo de extrapolar seu prazo de duração, contrariando o princípio da celeridade processual.

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2 DURAÇÃO RAZOÁVEL DO PROCESSO

2.1 Contextualização do tema Emenda constitucional n° 45/2004

A busca do judiciário por uma prestação jurisdicional mais rápida se mostrou eficaz com o surgimento de novos mecanismos garantidores de maior celeridade processual.

Neste sentido, prescreve Ferreira (2005, p. 142):

Verifica-se que a celeridade é um dos pressupostos para que se obtenha uma prestação jurisdicional Assim, na busca de afastar a malfadada morosidade do Judiciário, visando a efetividade processual, houve algumas reformas nos processo civil brasileiro, tais como a ação monitória, a antecipação da tutela, e mais recentemente, a Lei nº 11.232/2005, que estabeleceu a execução da sentença no próprio processo de conhecimento, bem como a Emenda Constitucional nº45/2004, que acrescentou, no rol dos direitos fundamentais, o inciso LXXVII no art.5, e o inciso XII no art. 93, ambos da Constituição Federal.

Com a promulgação da Emenda Constitucional n° 45 de 8 de Dezembro de 2004, titulada como Emenda Constitucional da Reforma do Poder Judiciário, acrescentou-se aos direitos fundamentais o inciso LXXVIII ao art. 5°, que enfatiza: “A todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantem a celeridade de sua duração”.

Segue abaixo transcrito, o inciso LXXVIII do art. 5° da CF/88:

LXXVIII a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação. (Incluído pela Emenda Constitucional n° 45, de 2004)

§ 1° - As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata.

§ 2° - Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. § 3° - Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que foram aprovados, em cada casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. (Incluído pela Emenda Constitucional n° 45, de 2004)

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§ 4° - O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional e cuja criação tenha manifesto adesão. (Incluído pela Emenda Constitucional n° 45, de 2004) (BRASIL, 1988).

Sobre o texto constitucional, Scartezzini (2005, p. 43), explica:

[...] ao estabelecer o texto constitucional que o processo tenha duração razoável, prescreve-se que a justiça deva atender ao interesse público de solução de controvérsias, mediante a atuação jurisdicional, de forma breve, mas pronta a ser eficaz. Atende-se aos interesses do Estado-poder e do Estado-sociedade.

No mesmo sentido, estabelece Slaibi Filho (2002, p. 221):

Os processualistas extraem do disposto no art. 5°, XXXV da CF, não só o direito de amplo acesso à jurisdição como deste o consequente direito à pronta resposta do juiz às demandas; até mesmo, neste dispositivo, incluiu-se na Carta de 1988, a proteção judicial contra as ameaças ao direito.

Ressalta-se: o dispositivo do processo, e à celeridade de sua tramitação. Não se trata de “direito novo”, mas de direito já reconhecido pela Constituição e pelas leis e agora declarado, como reforço normativo, em texto específico, assim a afastar os entraves hoje existentes à sua concretização.

Estabeleceu-se, a partir da Emenda Constitucional n° 45, o princípio da razoável duração processual. Muito feliz foi o legislador ao acrescentar tal dispositivo a Carta Magna, porém, este não se contempla de maneira isolada, mas sim alienado aos demais princípios constitucionais fundamentais, inseridos no art. 5° da Carta Magna.

Neste sentido, disserta Mendes (2005, p. 216):

A EC n. 45/2004 introduziu norma que assegura a razoável duração do processo judicial e administrativo (art. 5, LXXVIII). Positiva-se, assim, no direito constitucional, orientação há muito perfilhada nas convenções internacionais sobre direitos humanos e que alguns autores já consideravam implícita na idéia de proteção judicial efetiva, no princípio do Estado de Direito e no próprio postulado da dignidade da pessoa humana.

É certo, por outro lado, que a pretensão que resulta da nova prescrição não parece estar além do âmbito da proteção judicial efetiva, se a entendemos como proteção assegurada em tempo adequado. A duração indefinida ou ilimitada do processo judicial afeta não apenas e de forma direta a idéia de proteção judicial efetiva, como compromete de modo decisivo a proteção da dignidade da pessoa humana, na medida em que permite a transformação do ser humano em objeto dos processos estatais.

Destarte, a Constituição conferiu significado especial ao princípio da dignidade humana como postulado essencial da ordem constitucional (art. 1, III, da CF/88). Na sua acepção originária, esse princípio proíbe a utilização ou transformação do homem em objeto dos processos e ações estatais. O

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Estado está vinculado ao dever de respeito e proteção do indivíduo contra o princípio da proteção judicial efetiva e fere o princípio da dignidade humana. O reconhecimento de um direito subjetivo a um processo célere – ou com duração razoável - impõe ao Poder Público em geral e ao Poder Judiciário, em particular, a adoção de medidas destinadas a realizar esse objetivo. Nesse cenário, abre-se um campo institucional destinado ao planejamento, controle e fiscalização de políticas públicas de prestação jurisdicional que dizem respeito à própria legitimidade de intervenções estatais que importem, ao menos potencialmente, lesão ou ameaça a direitos fundamentais.

O inciso LXXVIII do art. 5° da Constituição Federal, titulado com princípio da razoável duração do processo, se reveste de complexidade. No entender de Cárcova (1998, p. 69) o direito é indeterminado, devido a sua complexidade, sua linguagem e seu procedimento futuro incerto:

O direito é opaco, indeterminado, obscuro, por diversas razões, dentre as quais a sua criptivicidade (segredo), sua complexidade e sua linguagem, que em conjunto levam à não compreensão do Direito pelo seu destinatário, o qual pode até ter conhecimento da lei, todavia, dela não consegue extrair seu verdadeiro alcance e significado. Aliás, a situação da opacidade do Direito agrava-se diante do desconhecimento das leis pelos grandes contingentes sociais, gerando atrasos e anomalias.

Muitos juristas acreditam que a EC n° 45/2004, veio a efetivar o princípio da celeridade processual, porém, na própria promulgação da Carta Constitucional, tal princípio já existia. Neste diapasão prescreve Moraes (2005, p. 94):

A EC nº 45/04 (Reforma do Judiciário) assegurou a todos, no âmbito judicial e administrativo, a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação. Essas previsões, razoável duração do processo e celeridade processual, já estavam contempladas no texto constitucional, seja na consagração do devido processo legal, seja na previsão do princípio da eficiência aplicável à Administração Pública.

Desta forma, observamos que de grande importância foi à vinda da EC n° 45/2004 para o texto constitucional, haja vista que dela, foi reconhecido o princípio da razoável duração do processo em nosso ordenamento jurídico, objeto principal de estudo do presente trabalho.

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2.2 Problemáticas da demora processual: tempo do processo

Inicialmente, importante se faz, conceituar o que se entende como prazo razoável? Historicamente é comum trabalharmos com duas correntes. Na primeira, tratando o prazo razoável como sendo o prazo legal, previsto em lei, já na segunda, estabelecendo que o prazo razoável dependa da natureza do litígio discutido.

Sobre as duas hipóteses, menciona Rodrigues (2005, p. 289):

A primeira dessas soluções apresenta a vantagem de trabalhar com um critério objetivo, mas tem contra si o fato de que em determinadas etapas processuais, em especial aquelas relativas a atos do Poder Judiciário, não existem prazos expressamente definidos. A segunda traz um conteúdo de realidade, mas a sua adoção implicaria a negação da garantia constitucional, tendo em vista que a média de duração dos processos no Brasil encontra-se hoje muito acima do legal e razoável.

No entender de Rangel (2005, p. 45), a legislação é omissa em determinar o que é prazo razoável, não conseguindo trazer ao processo a celeridade que propõe:

A regra é inócua. Não diz nada. Não diz o que é prazo razoável de um processo. Trata-se de uma norma programática. Não possui instrumentalidade efetiva. Achar que um processo foi feito para andar rápido é ingenuidade de quem não conhece o sistema judicial brasileiro. É necessário o tempo para que haja reflexão sobre os fatos.

O processo tem seu tempo próprio. Não pode ser delimitado pelas partes que o ensejam. Porém, seu prazo de duração deve ser justo, razoável, com as partes que o ensejaram, pois o tempo é precioso para aquele que busca a efetivação de um direito. Para as partes, o tempo subjetivo é sempre maior do que realmente é para o sistema judiciário.

Por vezes, temos processos lentos, que simplesmente são esquecidos pela máquina judiciária. O processualista J. J. Calmon de Passos (1998, p. 81), menciona sua crítica referente à falta de efetividade processual:

A maioria dos problemas com que nos defrontamos, em termos de efetividade processual, deriva de uma deformação do comportamento social

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do brasileiro, incapaz de ser corrigido por vida do direito formal e das construções dogmáticas. Temos boas leis, o que nos falta são bons aplicadores, privados e públicos, do direito legislado.

No mesmo sentido, prescreve Goés (2005, p. 263):

As causas existem, são plausíveis e traduzem a realidade brasileira, sem assessores, auxiliares, escrivães, oficiais de justiça, juízes e desembargadores, todavia deveria o ordenamento jurídico pátrio simplesmente ignorar qualquer prazo para a atividade judicante.

Para J. J. Calmon de Passos (1998, p. 89) a demora na prestação jurisdicional, se reflete em função da falta de bons aplicadores do direito, seja na esfera pública, como na privada:

A maioria dos problemas com que nos defrontamos, em termos de efetividade processual, deriva de uma deformação do comportamento social do brasileiro, incapaz de ser corrigido por vida do direito formal e das construções dogmáticas. Temos boas leis, o que nos falta são bons aplicadores, privados e públicos, do direito legislado.

A Constituição Federal de 1988 vislumbra ao cidadão brasileiro um ideal de justiça simples, rápido e coerente. A grande dificuldade em tornar o processo mais célere, encontra fundamento em diversas causas, dentre elas, vale destacar o pequeno número de juízes e na aglomeração de processos no sistema judiciário, em vista das inúmeras e crescentes demandas protocoladas pelos que vêm à justiça buscando uma definição para suas demandas.

Neste sentido, Portanova (2003, p. 171) justifica:

O Estado é tímido em promover a melhor distribuição da riqueza nacional com vistas a diminuir os conflitos sociais. Já o Judiciário é tímido em promover a criação de cargos de juízes em proporcionalidade razoável ao número de feitos que acorrem à Justiça. Enquanto não diminuírem os conflitos sociais ou aumentarem os juízes, sempre haverá sobrecarga de trabalho e justificativas para a morosidade do Poder Judiciário.

.

Acerca do assunto Lopes (2002, p. 67, grifo nosso) acrescenta demais fatores que favorecem a falta de razoabilidade no prazo processual:

[...] os fundamentos que justificam a morosidade do sistema jurídico são muitos – anacronismo da organização judiciária, falta de recursos financeiros, deficiências da máquina judiciária, burocratização dos serviços, ausência de infra-estrutura adequada, baixo nível do ensino jurídico e

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aviltamento da remuneração dos servidores – e nenhuma delas isoladamente, explica o quadro atual de lentidão dos processos.

A falta de razoabilidade neste prazo de duração acaba por criar uma idéia de injustiça aos que pleiteiam suas lides, conforme o pensamento de Humberto Theodoro Júnior (1990, p. 94), “a demora na resposta jurisdicional muitas vezes invalida toda eficácia prática da tutela e quase sempre representa uma grave injustiça para quem dependa da justiça estatal.”

No mesmo sentido, Tucci (1999, p. 235-236), entende:

[...] um julgamento tardio irá perdendo progressivamente seu sentido reparador, na medida em que se postergue o momento do reconhecimento judicial do direito; e, transcorrido o tempo razoável para resolver a causa, qualquer solução será, de modo inexorável injusta, por maior que seja o mérito científico do conteúdo da decisão.

Carnelutti (2002, p.894) lembra que historicamente já foi constatado:

O tempo é inimigo do processo, pois não obstante essas poucas, porém, profundas palavras refletem a razão da busca incessante da tempestividade na prestação jurisdicional, tornando salutar a conclusão que se refere aos males de corrosão e frustração que o decurso do tempo pode trazer à vida dos direitos constituem ameaça à efetividade da promessa de tutela jurisdicional, contidas nas Constituições modernas.

Prossegue o autor (2002, p. 897), dizendo:

A ameaça é grave e nos tempos atuais é sentida, pois se firma numa garantia que só considera efetiva quando for de característica tempestiva, pois este é o grande problema que os legisladores e os doutrinadores enfrentam no intuito de encontrar um ponto de equilíbrio, ou seja, de prestar uma tutela jurisdicional tempestivamente, sem colocar em risco a segurança jurídica.

Na perspectiva de Watanabe (2000, p. 135):

O processo não apenas deve se preocupar em garantir a satisfação jurídica das partes, mas principalmente, para que essa resposta aos jurisdicionados seja justa, é imprescindível que se faça em um espaço de tempo compatível com a natureza do objeto litigado, do contrário, torna-se utópico a tutela jurisdicional de qualquer direito.

Para o jurista Notariano Júnior (2005, p.61), o órgão jurisdicional é o responsável direto por garantir a celeridade processual, conforme estabelece:

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O que se espera do órgão jurisdicional é uma resposta às questões que lhe são submetidas. Nada obstante, tal prontidão não é cega, sabe-se que devem ser respeitadas outras garantias constitucionais, portanto, o que se busca é uma atuação jurisdicional ativa na medida de reprimir, com os instrumentos que lhe são postos à disposição, qualquer tentativa deliberada de impedir a rápida solução de litígio, bem como o atraso injustificado na análise das questões que lhe são postas.

No mesmo sentido, enfatiza Góez (2005, p. 264):

O Tribunal tem a responsabilidade de mover os litígios adiante, porque a justiça tardia é uma justiça negada. Além disso, o modelo transacional de um processo civil afirma categoricamente que o fato tempo é não só uma questão de acesso à justiça, mas acima disso, um direito humano.

A rotina judiciária, representada pelas movimentações: cumprir despacho, concluso ao juiz, dentre outras, representam no entender do autor Barbosa Moreira, os chamados pontos mortos do processo. São fases em que os processos ficam parados nas prateleiras dos cartórios judiciáis, e refletem mais uma causa da demora na prestação jurisdicional.

Sobre a demora da administração judiciária, prescreve Tavares (2007, p.8), citando as palavras de Barbosa Moreira:

A outra solução para a eficácia do princípio em estudo, necessariamente se dirige para a eficiência da administração judiciária. Neste sentido, pode-se começar pela eliminação do que Babosa Moreira chamou de “pontos mortos do processo”, isto é, daquelas situações em que os autos do processo se encontram por tempo demasiado sem impulso, ao arrepio da própria norma procedimental.

Os chamados pontos mortos do processo, referidos pelo autor acima mencionado, são o momento em que o processo encontra-se em andamento, ou seja, oportunidade em que ainda não esta ocorrendo à contagem dos prazos dos atos processuais. Nos chamados pontos mortos, o processo encontra-se a disposição do burocrata sistema judiciário, não resolvendo qualquer conflito, vindo posteriormente a ser novamente movimentado pelas partes ou por terceiros.

Segundo pesquisa realizada pelo Ministério da Justiça, intitulada, Análise da Gestão e Funcionamento dos Cartórios Judiciais (2007), os cartórios judiciais produzem um grande

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impacto na morosidade do processo e no acesso à justiça, fruto da pesquisa, constatou-se que o cartório judicial é invisível aos olhos do Sistema Judiciário, e que sua organização e funcionamento são precários. Da referida pesquisa, extrai-se:

É provável que a influência dos cartórios na distribuição de justiça também não seja considerada pelo administrador da justiça e pela lei. Embora seja o responsável último pela organização dos cartórios judiciais, o Tribunal de Justiça é, para os funcionários dos cartórios estudados, uma entidade abstrata e distante. E quanto ao legislador, ele não considerou as rotinas de cartório ao disciplinar os procedimentos judiciais e, mais recentemente, ignorou o papel dos cartórios ao promover a reforma do Poder Judiciário.

Vale destacar, que nem todo o processo tem prazo de duração teratológico, que foge a idéia de razoabilidade processual. Em muitas demandas, temos prazos que justificam sua demora, devido a exaustivas fases a que são submetidos.

Nesta seara, entende Portanova (2003, p.173):

Deve ser levado em conta, ainda, que nem sempre todas as partes que participam de uma lide estão dispostas a uma solução rápida daquela contenda. Ademais, nem todos os processos são demorados. Muitos procedimentos ordinários terminam em tempo bastante razoável, considerando-se a complexidade que encerram. Outros – com procedimento especialíssimo – têm logrado as benesses legislativas de um andamento mais célere. Nestas últimas hipóteses, a lei faz verdadeiro privilégio a determinados valores especialmente guardados pelo sistema capitalista. É o caso das legislações específicas que atribuem rápidos procedimentos aos interesses das instituições financeiras.

Inúmeras são as situações em que determinados atos necessitam de um maior lapso temporal para serem efetivados, são as chamadas exceções, que devem ser analisadas caso a caso, buscando-se não cometer injustiças. As exceções devem ser minuciosamente analisadas, e constituem uma série de fatos externos, como menciona Spalding (2005, p. 38):

[...] a demora na publicação das intimações pela imprensa oficial, a necessidade de produção de prova pericial, oitiva de diversas testemunhas domiciliadas em comarcas distintas daquela onde tramita o feito, a argüição de incidentes processuais com efeito suspensivo, a ocorrência de outras causas suspensivas do processo, a presença de mais de um réu com procuradores distintos, a presença num dos pólos da ação da Fazenda Pública etc.

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Dentre os processos com maior complexidade, importante mencionarmos a questão dos recursos processuais, pois encontramos neles também, um motivo que pode levar a morosidade da prestação jurisdicional. Observa-se que o sistema jurídico é falho em estabelecer pelo viés da Carta Constitucional mecanismos que garantem a celeridade do processo, ao passo que na esfera prática processual, temos normas infraconstitucionais, que trazem meios aos litigantes de má-fé para retardar, por exemplo, o efeito de uma sentença. Por óbvio, não teríamos tantos recursos, em todas as suas modalidades, se o sistema jurídico não concedesse aos juízes a autonomia para proferirem muitas decisões interlocutórias frente a poucas sentenças.

Ao finalizar a questão da problemática com a demora processual, conclui-se que o inciso LXXVIII do art. 5° da CF/88, taxado como princípio da razoável duração do processo, busca tornar o processo breve, porém, encontra barreiras frente a diversos e relevantes motivos que o levam a muitas vezes perder seu caráter célere e até mesmo, causar uma justiça tardia a seus demandantes.

2.3 Princípio da razoável duração do processo: características e natureza jurídica

É notável a dificuldade da doutrina e da jurisprudência em estabelecer um significado uniforme para o que se entende como um processo razoável aos olhos do ordenamento jurídico. Para Gajardoni (2003, p. 87, grifo nosso), o prazo razoável do processo pode ser descrito como segue:

Apesar de corrermos o risco de ser tachados de ortodoxos, a nosso ver, em sistemas processuais preclusivos e de prazos majoritariamente peremptórios como o nosso, o prazo ideal de duração do processo é o resultado dos prazos que são fixados pelo ordenamento jurídico para cumprimento de todos os atos que compõem o procedimento, mais o tempo de trânsito em julgado dos autos. Eventuais razões que levem a uma duração que exceda o prazo fixado previamente pelo legislador, com base no direito a ser protegido, deve se fundar em um interesse jurídico superior, que permita justificar o quebramento da previsão contida na norma processual, no qual se inclui a alegação de excesso de demanda.

Neste sentido, Hoffman (2006, p. 41), em sua obra Razoável Duração do Processo, acrescenta:

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[...] não se pode, à custa de um processo mais célere, afrontar as garantias do devido processo legal nem gerar inseguranças para as partes, tampouco forçá-las a compor-se contra a vontade. Tanto é inaceitável um processo extremamente demorado como aquele injustificadamente rápido e precipitado, no qual não há tempo hábil para a produção de provas e alegações das partes, com total cerceamento de defesa.

Brilhante é a conceituação de razoável duração do processo, que estabelece Theodoro Júnior (2005, p. 37):

“trata-se de uma aproximação com o ideal do processo justo que entre os constitucionalistas contemporâneos funciona como um aprimoramento da garantia do devido processo legal. Para merecer essa nomen iuris, a prestação jurisdicional, além de atender aos requisitos tradicionais – juiz natural, forma legal, contraditório e julgamento segundo a lei – têm de proporcionar à parte um resultado compatível com a efetividade e a presteza”.

Sobre a celeridade processual, leciona Lopes Jr (2004, p. 219):

O direito a um processo sem dilações indevidas (ou de ser julgado num prazo razoável) é "jovem direito fundamental", ainda pendente de definições e mesmo de reconhecimento por parte dos tribunais brasileiros, em geral bastante tímidos na recepção de novos (e também de "velhos") direitos fundamentais, mas que já vem sendo objeto de preocupações há bastante tempo por parte do Tribunal Europeu de Direitos Humanos (TEDH), e dos sistemas processuais europeus.

Prossegue o autor dizendo:

Os principais fundamentos de uma célere tramitação do processo, sem atropelo das garantias fundamentais, é claro, estão calcados no respeito à dignidade do acusado, no interesse probatório, no interesse coletivo no correto funcionamento das instituições, e na própria confiança na capacidade da Justiça de resolver os assuntos que a ela são levados, no prazo legalmente considerado como adequado e razoável. (LOPES JR, 2004, p. 225-226).

Para o autor Carvalho Dias (2004, p. 200) o prazo processual razoável, deve sempre atender aos aspectos da complexidade da causa, o comportamento das partes e de seus representantes, e a atuação do órgão jurisdicional no caso em tela:

O caráter razoável da duração de um processo [...] deve ser apreciado conforme as circunstâncias particulares da espécie em julgamento, levando-se em conta três critérios principais, quais levando-sejam, a complexidade das questões de fato e de direito discutidas no processo, o comportamento das

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partes e de seus procuradores e a atuações dos órgãos jurisdicionais no caso concreto.

O renomado autor Lopes Jr (2004, p.115-116) continua, dizendo que a constituição estabelece a idéia do prazo indefinido, onde os prestadores da tutela jurisdicional o estabelecerão em função de diferentes aspectos:

Em síntese, o art. 5°, LXXVIII, da Constituição – incluído pela Emenda Constitucional n° 45 – adotou a doutrina do não prazo, fazendo como que exista uma indefinição de critérios e conceitos. Nessa vagueza, cremos que quatro deverão ser os referenciais adotados pelos Tribunais brasileiros, a exemplo do que já acontece nos TEDH e na CADH: - complexidade do caso; - atividade processual do interessado (imputado), que obviamente não poderá se beneficiar de sua própria demora; a conduta das autoridades judiciárias como um todo (polícia, Ministério Público, juízes, servidores, etc.); princípio da proporcionalidade. Ainda não é o modelo mais adequado, mas enquanto não se tem claros limites temporais por parte da legislação interna, já representa uma grande evolução.

No sentido de duração razoável do processo elencada no artigo 5º da Constituição Brasileira, Tavares (2007, p. 9) ressalta, novamente, que a legislação pátria foi falha ao tentar estabelecer uma duração a um mecanismo impossível de enquadrar na esfera temporal. O referido autor, assim estabelece:

Entende-se o processo como um direito-garantia constitucionalizado e de natureza fundamental – definição que resulta da escrituração do título II, da Constituição Brasileira – não se pode cogitar que um direito tenha ou não “duração” nem que esteja ou não razoável. Ao escriturar o termo “duração”, o inciso LXXVIII, do artigo 5º, da Constituição Brasileira se refere à tramitação dos procedimentos administrativos ou judiciais e não ao Processo, pois que este é um direito, e como tal impossível de ser enquadrado numa estrutura abstrata de duração do tempo, e tampouco a qualquer conceito de razoabilidade.

No mesmo sentido, estabelece Araújo (2007, p. 15) sobre a razoabilidade do prazo:

Deve estar vinculada com a emergência que toda pessoa tem de uma imediata ou breve certeza sobre a sua situação jurídica. [...] O ideal seria obedecer aos prazos previstos pela própria lei, pois se o legislador os adotou já foi de caso pensado e não aleatoriamente. Contudo, considerando determinados fatores surgidos posteriormente à edição da lei, é possível que venham a dificultar um pouco mais a entrega da prestação jurisdicional nos prazos fixados, nascendo então, uma certa dificuldade para fixar o que seria um prazo razoável para cada caso concreto.

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Para Magalhães (2006, p. 85) o princípio da razoável duração do processo, estabelecido na Constituição, tido somente como mero princípio taxativo, não resguarda a justiça célere, conforme prescreve:

Já se destacou que a garantia apenas formal não assegura acesso à justiça e, desde o início do séc. XX, em especial, foi acrescida a preocupação com o acesso efetivo. De nada adianta ir à Juízo, se não há uma resposta do Poder Judiciário em tempo hábil e capaz de realizar os objetivos da jurisdição. Há obstáculos que devem ser rompidos e um deles é o da demora da prestação jurisdicional.

Sendo assim, conclui-se que o princípio da razoável duração do processo, de grande valia é dentro do rol dos direitos fundamentais do cidadão, no caso em tela como justiça célere a todos. Porém, encontra obstáculos, em fazer valer sua garantia, em diversos contratempos, seja em função da máquina judiciária não atender as necessidades da sociedade ou mesmo seja pelo teratológico aumento de demandas judiciais que cresce dia após dia.

Portanto, é fundamental que o processo seja sempre o mais célere possível, pois para nada serve uma justiça que não consiga atingir em tempo oportuno os objetivos de quem a pleiteia.

2.4 Medidas alternativas a prestação judicial célere

Ao analisar os diversos itens acima expostos que abordam o princípio da razoável duração do processo, observa-se que inúmeros são os motivos que levam a prestação jurisdicional tardia.

Em face das diversas demandas judiciais que tem seus julgamentos tardios, cabe aos advogados buscarem meios que possam primar pelo cumprimento da celeridade judicial, haja vista que foi criada para complementar a Carta Magna. Nesse sentido, disserta Slaibi Filho (2002, p. 236-237):

O mandamento constitucional da celeridade na tramitação do processo e de sua razoável duração vai incidir quando se constata, em determinada relação processual, que a realização de seus atos se mostra desarrazoado,

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conduzindo à ultrapassagem das fases e dos atos que não se mostram essenciais para a descoberta da verdade e para a eficácia da decisão [...] Se a autoridade judiciária ou administrativa designou audiência de exame pericial para tempo longínquo, sem que a tal fosse impelida por justificável (e declarado) império das circunstâncias, medidas deverão ser adotadas pela mesma ou por autoridade superior para que os entraves sejam vencidos, porque é direito do cidadão a celeridade na tramitação do processo.

Enquanto se aguarda uma justiça mais célere, meios alternativos são lançados a fim de suprir a demora processual e ao mesmo tempo aliviar a via ordinária. Estes mecanismos são capazes de trazer mudanças no sentido de acelerar e melhorar a questão da justiça tardia, onde merecem destaque as palavras de Morais (1999, p. 108):

Esses mecanismos alternativos, entre os quais citam-se a mediação, a arbitragem, a negociação, a conciliação, [...] colocam-se ao lado do tradicional processo judicial como uma opção que visa a descongestionar os tribunais e a reduzir o custo e a demora dos procedimentos; a estimular a participação da comunidade na resolução dos conflitos e a facilitar o acesso à solução do conflito, já que, por vezes, muitos deles ficam sem resolução porque as vias de obtenção são complicadas e custosas, e as partes não têm alternativas disponíveis, a não ser, quem sabe, recorrer à força.

A utilização desses mecanismos é de grande valia, haja vista que, nosso sistema judiciário passa por inúmeras mudanças, nossa legislação é alvo constante de reformas, e nosso sistema econômico não permite mudanças drásticas capazes de trazer resultados expressivos. Desta forma acrescenta Morais (1999, p. 111-112):

Assim, os operadores jurídicos devem dar ensejo a modernizações no sistema processual que, por ser um instrumento a serviço dos cidadãos, deve fundar-se no reconhecimento da cidadania individual e coletiva e nos princípios da ordem jurídica pátria, possibilitando, através da incessante busca de maior eficiência do Poder Judiciário, a satisfação das aspirações populares [...]

No cenário brasileiro, essas medidas se referem, basicamente, à modernização da legislação processual civil, realizada com o fim precípuo de reduzir o sofrimento do jurisdicionado que aguarda, morosamente, uma solução para seu problema.

Um dos mecanismos que merece destaque é a arbitragem, que é uma forma de amenizar a via judicial, onde particulares expõem seus conflitos a apreciação de um particular por eles elegido. Trata-se de procedimento simples e muito menos complexo que a via ordinária, porém, podem se igualar a justiça comum em inúmeras frentes, como é caso da

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realização de provas periciais, oitiva de testemunhas, colhimento de depoimentos, entre outros.

A respeito da justiça que o Estado faz por meio dos particulares, estabelece Carreira Alvim (2003, p. 62):

O Estado faz justiça através das instituições que ele cria, que ele administra, pelas quais ele responde; e o faz, também, através de particulares, pessoas privadas, que não fazem parte da estrutura do estado. Isso não é novidade no Brasil. Todos conhecem a instituição do “tribunal do juri” [...] Nós, nunca, neste país, vamos ter uma estrutura judiciária adequada à solução dos nossos litígios, porque não temos juízes togados em número suficiente para “colocar nos cargos”. A reforma judiciária que estão fazendo, data vênia, é um cosmético para na realidade “fiscalizar” o juiz, e não vai resolver alguma coisa. E não vai, não. Nós vamos continuar tão morosos, tão lentos, tão lerdos e tão paquidermes quanto somos hoje.

Além da arbitragem, existem outros mecanismos capazes de conduzir as partes a uma solução para seus conflitos sem envolver a esfera judiciária. Alternativas estas que não estão vinculadas a uma sentença proferida pelo juiz, ou arbitro, mas por um terceiro que faz a intermediação entre elas, a fim de chegarem a um comum acordo. Assim explica Morais (1999, p. 135):

Ou seja: neste caso, a solução do conflito provém não de uma intermediação externa pela autoridade do Estado-Juiz ou do árbitro que dita a sentença, mas de uma confrontação explícita de pretensões, interesses, dúvidas, perplexidades, etc., que permita às partes, neste processo de troca, ascender a uma solução consensuada, apenas mediada pela figura de um terceiro cujo papel é o de facilitar os intercâmbios, e não o de ditar a resposta (sentença), que vem previamente definida no texto legislado pelo Estado, de cuja aplicação está encarregado o Poder Judiciário, no caso da jurisdição, ou que é definida pelo árbitro a partir das opções originárias dos envolvidos, no caso da arbitragem.

Temos então a mediação, que se apresenta como opção. Mais uma vez o Estado-Juiz não fará parte da discussão da lide, onde figurará somente as partes e o mediador. O papel do mediador será de não intervir, e deixar que as partes por livre arbítrio possam chegar a um acordo. Caso isso não ocorra, desta forma sim, o mediador interferirá, elencando propostas que cheguem a soluções que melhor defendam os interesses de ambos.

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