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sueli oliveira mouara

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Academic year: 2021

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(1)OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA COMO AGENTES NA FORMAÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA: OS POLÍTICOS E A CORRUPÇÃO. SUELI DE OLIVEIRA MOURA FORTUNA. São Paulo 2006.

(2) SUELI DE OLIVEIRA MOURA FORTUNA. OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA COMO AGENTES NA FORMAÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA: OS POLÍTICOS E A CORRUPÇÃO. Monografia. apresentada. à. Escola. de. Comunicação da Universidade de São Paulo para a obtenção do título de especialista em Gestão e Especialização em Comunicação Organizacional e Relações Públicas. Orientadora: Prof.ª Ms. Mariângela Haswani. São Paulo 2006.

(3) 3. Para meus filhos e meu marido..

(4) 4. AGRADECIMENTOS À minha orientadora, Prof.ª Ms. Mariângela, meu agradecimento e admiração, por suas observações, pelo empenho e dedicação com que me orientou, não medindo esforços e tornando possível a realização desta monografia..

(5) 5. “A pasteurização que nivela a política pela descaracterização do discurso tem sido apontada como um dos resultados reveladores da submersão das identidades partidárias no universo unificador da mídia, no qual é próprio que políticos não se destaquem por sua experiência, pelo programa de seu partido nem mesmo por sua capacidade de liderança no processo político, mas pela simpatia que seus marketeiros conseguem suscitar nos grandes auditórios.” D. R. TREJO.

(6) 6. RESUMO. Este trabalho apresenta uma reflexão sobre o papel dos meios de comunicação de massa no Brasil como agentes na formação da opinião publica, quando os envolvidos são os políticos e a corrupção. Para isso, relata a instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito dos Correios, pela Câmara Federal, exclusivamente sob a ótica veiculada nos meios de comunicação de massa. Paralelamente, apresenta as teorias e hipóteses relativas à comunicação de massa que versam sobre a influência dos meios na formação de juízos na opinião pública e se podem ser reconhecidas, nos relatos apresentados na mídia.. ABSTRACT. This paper presents a reflection on the mass communication media role in Brazil as agents in the public opinion formation when the politicians and corruption are the ones involved. For this reason it relates the Parliamentary Commission of Post Office Inquiry by Federal Chamber, exclusively on the view of mass communication media. In parallel, it presents the theories and hypothesis related to mass communication which talk about the mass communication influence on the public opinion formation and if they might be recognized in the reports presented in the media.. RESUMEN. Este trabajo presenta una reflexión con respecto a la función de los medios de comunicación de masa en Brasil como agentes en la formación de la opinión pública, cuando los arrollados son los políticos y la corrupción. Por lo tanto, relata la instalación de la Comisión Parlamentar de Averiguación de los Correos, por la Cámara Federal, bajo la visión difundida en los medios de comunicación de masa. En paralelo, presenta teorías y hipótesis relativas a la comunicación de masa que versan sobre la ascendencia de los medios en la formación de los juicios de la opinión pública y si pueden ser reconocidas en los relatos presentados en los medios..

(7) 1. SUMÁRIO. 1. INTRODUÇÃO...................................................................................................... 1 2. OPINIÃO PÚBLICA, RETÓRICA E PERSUASÃO ........................................ 3 2.1. Histórico..........................................................................................................................................3 2.1.1. Antiguidade..............................................................................................................................3 2.1.2. A Revolução Industrial e a comunicação de massa..................................................................7 2.2. Opinião pública, retórica e persuasão........................................................................................12. 3. A MASSA E OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO: UMA ABORDAGEM TEÓRICA................................................................................................................. 19 3.1. O campo das teorias.....................................................................................................................22 3.2. Imprensa e espetáculo..................................................................................................................56. 4. A MÍDIA E A COBERTURA DA CPMI DOS CORREIOS........................... 62 4.1. Corrupção.....................................................................................................................................62 4.2. A mídia e a cobertura da CPMI dos Correios...........................................................................66 4.3. Relações Públicas .........................................................................................................................76. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 89 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR ................................................................................................ 91 ANEXOS................................................................................................................... 96.

(8) 1. 1. INTRODUÇÃO. Os meios de comunicação de massa têm denunciado, ao longo dos anos, a corrupção no país. O presente trabalho propõe uma análise dos efeitos que a mídia é capaz de obter quanto à formação de juízos junto à opinião pública. O interesse pelo tema nasceu quando da exibição, pelas emissoras de TV, de imagens — captadas com câmera oculta — de um funcionário dos Correios recebendo propina para facilitar negócios de uma empresa e, durante o diálogo, citando o nome do deputado federal Roberto Jefferson como líder do “esquema” de indicações de nomes para cargos de confiança na instituição. Dias depois, Jefferson concedeu uma entrevista ao jornal Folha de S.Paulo que muda o foco de interesse de toda a mídia para um suposto suborno, batizado de “mensalão”, pago pelo Executivo federal a deputados e senadores que votassem favoravelmente às propostas de interesse do governo. Todas essas denúncias culminaram na instalação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para investigar o fato evidenciado no vídeo dos Correios. No entanto, o impacto e a conseqüente audiência motivados pelas imagens e pela entrevista de Roberto Jefferson provocaram uma impressionante mobilização. dos. meios. de comunicação. de massa:. passaram. a exibir,. sistematicamente, matérias e artigos sobre o assunto; denúncias — com ou sem provas e depoimentos —, mesmo de fontes de idoneidade questionável, roubaram a cena de outras notícias do cotidiano, angariando crescente interesse de leitores, telespectadores e ouvintes de rádio. Decorrem desse quadro as questões que este trabalho se propõe a investigar:  A mídia, nessas circunstâncias, é capaz de formar a opinião pública?  Existe lastro teórico capaz de dar suporte à questão anterior?  O profissional de Relações Públicas teria as ferramentas capazes de influir no processo de formação da opinião pública, mesmo sob o bombardeio de acusações da mídia? A busca das respostas a essas questões tem suporte nas teorias e hipóteses que tratam da influência dos meios sobre seus receptores. Dentre as teorias, a da.

(9) 2. Agulha Hipodérmica, a Social e a Crítica passaram por uma breve revisão, com o intuito de introduzir as hipóteses professadas pelos expoentes do movimento Communication Research, Maxwell McCombs e Elisabeth Noelle-Neumann, adotadas como principal suporte teórico do trabalho. Inicialmente, uma revisão bibliográfica resgatou os principais conceitos citados na pesquisa, como opinião pública e retórica — de que se buscou a ótica histórica, agenda setting, newsmaking e espiral do silêncio — com suas origens, proposições e perspectivas. A partir daí, foram coletadas, em jornais e revistas, matérias que ajudassem na recomposição dos fatos, sempre segundo o ponto de vista dos meios, conforme apresentado no quarto capítulo. É importante salientar que a proposta, aqui, não é uma análise de discurso, mas sim que tipo de informação a mídia disponibilizou sobre os episódios de corrupção estudados e com que qualidade. Finalmente, a exposição do conceitual sobre o profissional de Relações Públicas permitiu a análise do papel que ele desempenha nos órgãos atingidos pelas denúncias da mídia. Nas considerações finais, são relatadas as relações encontradas entre as hipóteses do agendamento e da espiral do silêncio, a opinião pública no desenrolar dos fatos e o papel que os profissionais de Relações Públicas, tão numerosos nos quadros do poder público federal, poderiam ter desempenhado antes, durante e depois da crise gerada pelas denúncias; ao que tudo indica, não tiveram oportunidade ou competência para fazer..

(10) 3. 2. OPINIÃO PÚBLICA, RETÓRICA E PERSUASÃO No senso comum e na ciência, ninguém duvida de que os meios de comunicação de massa são capazes de influenciar a opinião pública, quer com a natureza das informações veiculadas, quer com o teor mais ou menos persuasivo do discurso adotado. É também inquestionável a participação cada vez maior de diferentes áreas do conhecimento nos estudos da opinião pública, ampliando as perspectivas a partir das quais se pode estudar o assunto. Para a presente pesquisa, é importante iniciar a análise da influência que os meios de comunicação de massa têm na formação da opinião de leitores, telespectadores e radioouvintes, a partir de três pilares: a história, o conceito e o panorama atual da opinião pública.. 2.1. Histórico O estudo da história das civilizações está associado a uma relação íntima dos sistemas comunicacionais com o seu desenvolvimento mais expressivo. Ao que tudo indica, situações que nos remeteriam ao que hoje chamamos de opinião pública remontam à pré-história. 2.1.1. Antiguidade Os sofistas foram os pioneiros em exercitar a comunicação como prática e poder, e coube a Platão e Aristóteles o primeiro estudo. Platão, em seu Livro VII de A república, datado de 427-327 a.C., explana sua narrativa mais conhecida como o Mito da Caverna. O texto é dividido em dois momentos. O primeiro momento equivale à alegoria que, de acordo com HOHLFELDT (2001, p. 69), sugere a seu interlocutor imaginar uma situação sui generis: seres humanos no interior de uma caverna [...] estão voltados para a parede dos fundos, de costas para a entrada da mesma, por onde entra a luz. Sem poder virar-se para os lados, sem jamais terem abandonado aquela situação, eles apenas vislumbram as projeções de sombras dos objetos reais, existentes fora da caverna, e que, por força da luz que existe no exterior, projetam.

(11) 4. suas formas sobre as paredes da caverna, fazendo com que a humanidade acredite ser aquilo a realidade. Num segundo momento, Platão sugere que, se um daqueles indivíduos pudesse ser liberto das cadeias [...] e saísse para a luz, enfrentaria, antes de mais nada, o desafio da adaptação. Cego de início, iria fixando gradualmente a vista sobre os objetos, adaptando-se à luz e valendo-se dela para distinguir a realidade, e descobrindo, então, o engano em que vivera até então. [...] No entanto, instado a retornar à caverna para alertar aos outros de seu erro, ainda que contra sua vontade, ele enfrentaria outro desafio: causaria risos e faria os outros dizerem que a ascensão lhe gastara os olhos.. Ao refletir com maior profundidade sobre o processo de comunicação no Ocidente, Platão o faz sob o olhar negativo. Realça essa forma negativa ao processo comunicacional, fazendo uma alegoria aos homens na caverna, sugerindo que aquele ambiente de sombras era o real. E, ainda, que se algum deles saísse e relatasse aos outros a verdade seria zombado. É sob esse ponto de vista que Platão acredita ser a comunicação negativa. Foi no mundo greco-romano que essas idéias, precursoras da noção de opinião pública, encontraram terreno fértil para se desenvolver. De fato, os gregos, no Ocidente, despontam como os pioneiros a pensar a respeito da comunicação humana sob a influência dos filósofos pré-socráticos, depois que Grécia e Atenas passam a ter problemas com os acordos em Esparta, gerando as guerras do Peloponeso. O fim dos acordos diplomáticos levou ao desaparecimento da sociedade grega. Os filósofos pré-socráticos eram conhecidos por serem bastante críticos e passam a ser vistos pela sociedade como pessoas não gratas, como negativistas. HOHLFELDT (2001, p. 68) cita José Marques de Melo, ao se referir aos sofistas como um grupo de perniciosos, “cuja significação é o de acrobatas intelectuais, que ludibriam pelas palavras, que conquistam e submetem os homens pela mente”. Isso porque os sofistas tinham grande poder de persuasão. Eram intelectuais, homens preparados, com vasto conhecimento. Os filósofos sabiam que a força, o poder do homem não está nos seus músculos, e sim no seu conhecimento, no intelecto. Por isso, incomodavam e assustavam tanto a sociedade grega com suas críticas..

(12) 5. Em Roma, o imperador Caio Júlio César (102-44 a.C.) fazia questão de registrar em textos suas sucessivas vitórias, as quais hoje podem ser lidas. Não se sabe ao certo se era o próprio imperador ou se eram outras pessoas quem redigia os textos; é certo que seus escritos relatavam o fato logo que acontecia, levando-nos a concluir que ele queria suas façanhas documentadas para que todos tivessem conhecimento, inclusive a posteridade. Júlio César foi pioneiro no uso da primeira pessoa do plural, ainda que falando e referindo-se a uma só pessoa. Hoje, é bastante comum a primeira pessoa enfática, no discurso do Direito, o “eu” singular substituído pelos “nós”. Esse detalhe nos leva a acreditar que já naquela época ele tinha visão e valorização de um aspecto formal do discurso, possivelmente destinado à formação da opinião pública. Ao reformar profundamente as instituições romanas, como a adoção de um só idioma — latim — nas atividades públicas, jurídicas e comerciais visava evitar “a confusão resultante de informações múltiplas ou desencontradas, fato natural quando muitos idiomas são usados” (HOHLFELDT, 2001, p. 81). Ele sabia que, a partir do momento em que todos falassem o mesmo idioma, o controle seria possível a partir da premissa do entendimento entre pessoas e cumprimento das normas e das leis. É também de Júlio César a idéia, datada possivelmente do ano 69 a.C., das chamadas acta diurna, onde o teor dos debates do Senado romano era obrigatoriamente registrado em documentos. Estes eram afixados nos muros do Senado, para que a população tomasse conhecimento de suas atividades. Para Carlos RIZZINI (1977, p. 82), “este tipo de documento é uma espécie de ancestral jornalística, pois contém uma daquelas características que se costuma indicar como propriedade da informação jornalística, quais sejam, o relato de acontecimento, fidedigno, com periodicidade e atualidade”. Tempos depois, a acta diurna foi copiada e redistribuída para diversas regiões do império, de modo que toda a população pudesse inteirar-se da política romana. O sobrinho-neto de Júlio César, César Augusto (Júlio César Otaviano, 63 a.C.-14 d.C.), idealizou o serviço de correios. Ele mandou construir estradas especiais, a fim de facilitar a troca de informações entre a sede do império, Roma, com as sedes administrativas. A mais importante delas foi a Via Appia. Para que os.

(13) 6. serviços de postas fossem realizados havia uma grande preocupação com os cavalos, que eram tratados e criados para esse fim, prontos a percorrer os locais mais distantes do império. Esse modelo foi copiado pelos Estados Unidos, séculos depois, no episódio da conquista do oeste norte-americano, ao criar um serviço de encomenda de correspondência a cavalo. A primeira entrega realizada foi entre as cidades de St. Joseph e Sacramento, a partir de 1860, pelo pônei Express, sob a responsabilidade de Buffalo Bill. Esses registros históricos mostram que, mesmo sem essa intenção específica, tanto Júlio César quanto os norte-americanos se preocuparam com a difusão de informações, possivelmente capazes de formar a opinião pública. Dessa forma, o Império Romano deu uma nova contribuição para a história da comunicação. HOHLFELDT (2001, p. 83) acredita que, “para os romanos, os processos de comunicação serviram essencialmente para o controle social, para a garantia do poder, para o exercício político. Antecipando às crises, mantendo-se informados de tudo o que acontecia, os governantes romanos evidenciaram que uma das funções básicas da comunicação é, justamente, a de garantir não apenas a informação, quanto à opinião consensual”. Ao participar o povo sobre os caminhos e as medidas tomadas, o Império Romano, poderia criar um consenso de que fosse transparente; provavelmente, era só dessa forma que ele poderia controlar a população, e esse controle social é realizado através das informações veiculadas. Ainda hoje, os processos de comunicação têm o controle social, centralizam o poder político. Isso se deve ao fato de que a maioria das empresas de comunicação ou suas concessões está nas mãos de personalidades ou instituições que detêm o poder, governamental ou não. Alexandre Magno (356-323 a.C.), rei da Macedônia, a fim de abater a Grécia, torna-se figura da cultura helenística. Ele funda Alexandria, no longínquo Oriente, em 322 a.C., no delta do Nilo, cidade que se torna notória graças não a seu farol de 130 metros de altura, mas à biblioteca ali construída, que reunia cópias de todos os livros existentes no mundo. Presume-se que havia cerca de 700 mil volumes, tornando-se o centro da cultura antiga. A biblioteca de Alexandria “tornouse, assim, depositária de toda a sabedoria ocidental e, em breve, também oriental..

(14) 7. Copistas árabes passaram a multiplicar os textos gregos e romanos, e logo traduzidos para seus idiomas” (HOHLFELDT, 2001, p. 84). Fica aqui registrada a importância dessa biblioteca e dos copistas; sem eles, não teríamos passado nem história. Nosso conhecimento da cultura antiga deve-se em grande parte ao trabalho desses personagens. Para conquistar o Egito, Júlio César (48 a.C.) incendeia o prédio da biblioteca e rouba parte de suas obras. Entre os séculos XI e XII, com o ciclo das Cruzadas, Alexandria foi saqueada e queimada, desaparecendo inúmeros tesouros. Alguns documentos originais foram recuperados pelos europeus em suas viagens ao Oriente, na busca de especiarias.. 2.1.2. A Revolução Industrial e a comunicação de massa Não obstante a importância da Antiguidade nos primórdios das reflexões da comunicação, o marco essencial situa-se no século XVI, com a invenção do tipo móvel e do papel em maior escala. A partir daí, os processos comunicacionais passam a ocorrer com maior rapidez. Tem início a circulação de folhas informativas, “as mais fiéis antecessoras dos jornais” (HOHLFELDT, 2001, p. 88), vendidas a exemplar nas portas muradas das cidades ou nas feiras, onde todo tipo de gente se reunia, aguçando a curiosidade e fazendo com que o mais letrado, em voz alta, lesse para aqueles que estavam impossibilitados de fazê-lo, “tal como ocorre, ainda hoje, no interior do Nordeste brasileiro, com os chamados folhetos de cordel, contados pelo compositor ou simples vendedor, de modo a atrair a clientela. Essa foi, na verdade, uma nova função logo descoberta para os processos de comunicação: a popularização de novidades” (HOHLFELDT, 2001, p. 88). A Revolução Industrial atraiu para os centros urbanos a mão-de-obra até então concentrada em atividades do campo. A comunicação, nas modalidades interpessoal e grupal, já não conseguia abranger a população que se concentrava nas cidades. Comunidades em que todos se conheciam foram substituídas por multidões anônimas e esse cenário abriga o embrião da comunicação de massa. Segundo HOHLFELDT (2001, p. 62), as pessoas já não conseguiam se comunicar entre si,.

(15) 8. “passando a depender de intermediários para tal. Esses intermediários tanto implicam pessoas que desenvolvam ações de buscar a informação, tratá-la e veiculá-la — os jornalistas — quanto de tecnologias, através das quais se distribuem informações. Todo esse conjunto constitui um complexo que recebe a denominação genérica de meios de comunicação de massa ou massiva”. A partir desse período pode-se observar a existência de uma relação íntima entre os processos comunicacionais e os desenvolvimentos sociais, que, através da troca de mensagens, pode realizar uma série de funções, que segundo Harold D. Lasswell são: “informar, constituir um consenso de opinião — ou, ao menos, uma sólida maioria — persuadir ou convencer, prevenir acontecimentos, aconselhar quanto a atitudes e ações, constituir identidades, e até mesmo divertir” (apud HOHLFELDT, 2001, p. 63). Quase ao mesmo tempo, a Revolução Francesa de 1789 trouxe a divisão da sua história social. Agora o sangue azul, ou a tradição de nobreza, dava lugar à experiência real de vida. A burguesia viu-se sem passado: Tratou de valorizar o presente e investir no futuro. Por isso, a criança passou a ser reconhecida em sua autonomia e a educação ganhou status especial. Rompiam-se os laços entre a escola e a religião. Surgia a escola leiga, gratuita, pública, num processo que levaria quase um século, completando-se apenas no final do século XIX, mas cujos frutos logo se poderiam colher. A utopia da igualdade e da fraternidade com liberdade só seria possível se todos os cidadãos tivessem igual direito à educação (HOHLFELDT, 2001, p. 89).. A educação que antes era especificamente dirigida à criança nobre, pois no futuro estava fadada a assumir cargo público ou o governo, passou a ser ministrada a todo e qualquer cidadão, após a Revolução Francesa. Sabiam que sua utopia só se realizaria caso todos os cidadãos tivessem a mesma chance para o desenvolvimento intelectual. Outro movimento também é digno de nota: as atividades dos enciclopedistas..

(16) 9. O projeto, inspirado em obra similar do inglês Ephraim Chambers (1680-1740) de 1727, que pretendia reunir, em uma única obra, mediante verbetes a cargo de diferentes autores, o conjunto de conhecimentos então disponíveis na Europa (leia-se mundo). O novo empreendimento era dirigido por Jean Le Rond d’Alembert (1717-1738) e Dennis Diderot (1713-1784). Os encarregados de sua redação foram os enciclopedistas, sábios filósofos e especialistas, como Voltaire, Montesquieu, Rousseau, Jacourt e outros tantos. Coube a d’Alembert um discurso preliminar no formato de uma síntese dos conhecimentos da época e também as bases ou princípios da filosofia natural. Com 17 volumes, a Enciclopédia foi realizada, quase que totalmente e solitariamente por Diderot, isso porque alguns colaboradores, com receio de serem presos, abandonaram o projeto por ter sido a obra original interditada. Só em 1780, com o aval de Madame de Pompadour, a Enciclopédia enfim pôde ser editada (Ephraim Chambers apud HOHLFELDT, 2001, p. 89).. Sendo os filósofos homens extremamente especiais devido a sua intelectualidade, não tiveram alternativa senão se afastar. Nota-se que, já naquela época, a censura intelectual se manifestava. A primeira Revolução Industrial foi também um período de novas descobertas que marcaram o século XVIII; dentre elas, a utilização da máquina a vapor na indústria da impressão. O livro era muito caro, tanto na França quanto na Inglaterra. Esses países procuravam um meio para barateá-lo; para atingir esse objetivo, incluíram novos públicos, como as mulheres e os jovens estudantes. Tiveram também importantes conquistas técnicas que permitiram o baratear as publicações. Essa evolução estimula o desenvolvimento de novos tipos e gêneros de publicações, como o romance policial de Emile Gaboriau. No teatro, especificamente nos teatros de arrabalde, proliferavam os melodramas de Scribe. O sucesso do romance-folhetim, graças a esses melodramas, é adaptado para o palco, para a alegria do público popular. Ao adaptarem-se os romances-folhetins para o palco, também a linguagem sofreu adaptações para o bom entendimento do público. Como forma de prender a atenção do público, os desencontros amorosos tinham sempre finais felizes. Foi assim que a França, em menos de um século, experimentava um processo tão curioso quanto o vivido pelos sócios Émile de Girardin e Armand.

(17) 10. Dutacq, proporcionando, no ano de 1836, “o jornal diário vendido com antecedência, através de assinatura, tendo como chamariz o chamado romancefolhetim” (HOHLFELDT, 2001, p. 90). A principal característica do romance-folhetim era uma narrativa desenvolvida e construída em partes, que levava o público ao suspense, criando a expectativa de um acontecimento relevante que levasse à leitura do próximo número. Apresentava diálogos fáceis, rápidos, sucintos, capazes de envolver o leitor e prender sua atenção. Essas características do romance-folhetim sobrevivem hoje nas telenovelas. As histórias em quadrinhos, cinema, rádio e também a televisão preservam essa genética do romance-folhetim. De acordo com HOHLFELDT (2001, p. 91), nada fora inventado: “o espaço do folhetim já existia nas primeiras páginas dos jornais de então, na parte debaixo da folha, e servia para o comentário crítico das artes, da literatura, à ópera e ao teatro”; hoje, a crônica cumpriria essa função. A grande revolução veio através de Alexandre Dumas, o idealizador da criação de romances em série. Conforme HOHLFELDT (2001, p. 92): Ele contratava escritores razoavelmente hábeis, e os organizava em uma grande sala, em mesas dispostas em redor da mesma. Então, todos os dias pela manhã, Dumas os visitava e, munido dos resumos anteriormente elaborados, discutia e sugeria a cada um deles o desenvolvimento da trama. Como cada um deles respondia por um romance diferente, Dumas conseguia ter publicado, simultaneamente, até uma centena de jornais europeus.. Eles eram conhecidos como os “negros de Dumas”, o que hoje denominamos de ghost-writers, escritores-fantasma que apesar de redigir os textos não os assinavam. Essa responsabilidade cabia a um autor mais conhecido. Até esse momento, as únicas interferências tecnológicas na área da comunicação resumiam-se àquelas relacionadas à invenção da imprensa. A partir daí, mas principalmente da segunda década do século XX até os nossos dias, as invenções e as novas tecnologias têm sido responsáveis pela qualidade, pela precisão, pelo glamour e pela velocidade com que as informações chegam aos mais diversos receptores..

(18) 11. Foi na França, em 1895, que a modernidade surgiu, graças à invenção do cinema, pelos irmãos Lumière, que tiveram sua adaptação à arte cinematográfica por Georges Méliès. Essas imagens animadas não possuíam credibilidade para alguns, e para outros eram coisas do demônio. O cinema já encantava só pelas imagens, quando, nos anos 1930, veio o som, e nos anos 1940, a cor. As conquistas tecnológicas mais notáveis começaram por volta do século XIX. As descobertas, que haviam sido iniciadas ao longo do século XVIII, foram importantes para o Romantismo e para a recriação poética da tradição clássica da Grécia e de Roma, lá onde foram idealizadas as diferentes fases da história das artes humanas, dentre elas a Renascença, o Barroco e o próprio Romantismo. Dentre as tecnologias que contribuíram para novas atividades do conhecimento, e nele a comunicação e seus instrumentos, foi no campo das ciências físicas que grandes avanços levaram à descoberta da composição da água; nas artes plásticas, à contribuição das descobertas fotográficas de Félix Tournachon, conhecido como Nadar. Seguidores de Nadar, como Niepce (1827) e Daguerre (1837), continuaram as experiências, abrindo caminho para a fotografia. Outras invenções vieram: a eletricidade, em 1853, com o italiano Alessandro Volta; a lâmpada elétrica, em 1878, com Thomas Alva Edison; o telégrafo de Baudot, em 1878; a radiodifusão telegráfica por Guglielmo Marconi, em 1896; o telefone, por Alexander Graham Bell, em 1876. Juntas, elas ajudaram a inaugurar uma nova era no campo das comunicações. Tal contribuição, a partir das descobertas desenvolvidas durante a Segunda Guerra Mundial, levou à descoberta do rádio transistor, em 1954, do computador eletrônico pela IBM, em 1959, e dos chips, em 1960, fundamentais para a criação de computadores cada vez menores, levando a IBM a desenvolver o primeiro personal computer, em 1981. A União Soviética, em 1957, envia ao espaço o Sputnik, seu primeiro satélite artificial. Os Estados Unidos, em 1958, criam a primeira rede de comunicação informatizada, ainda com fins militares, e enviam ao espaço o Telstar, primeiro satélite de comunicações. Para Zbigniew Brzezinski, todas essas descobertas levaram à tecnotrônica, a combinação de diferentes tecnologias que permitiu um salto tecnológico em rapidez e amplitude, em menos de cinco anos..

(19) 12. Conforme HOHLFELDT (2001, p. 96), “graças às conquistas tecnológicas, retornamos, de certo modo, à condição da comunidade grega e à mesma função comunicacional”. A tão sonhada aldeia global de Marshall McLuhan concretizou-se através da internet. Não há mais distâncias geográficas, tudo acontece em tempo real, esteja você em qualquer ponto do globo terrestre. Mas as novas tecnologias também excluem, e quem não estiver conectado ficará à margem do que está acontecendo no mundo. Tanto no Oriente quanto no Ocidente, O que fica visível é que todo desenvolvimento depende, em grande parte, para a universalização e aplicabilidade, melhor, para a sua concretização e legitimação, de um eficiente sistema de comunicação, sem o que acaba por sucumbir e desaparecer. Ou seja, de certo modo, retornamos àquele conceito grego sobre a função da comunicação: a transformação do universo em imensa comunidade (Armand Mattelart, 1994, apud HOHLFELDT, 2001, p. 97).. 2.2. Opinião pública, retórica e persuasão Aristóteles, em sua obra A poética, explana a questão dos discursos, ponto relevante para o nosso trabalho. “A retórica é parte da Dialética, e com ela tem parecenças [...]; são apenas faculdades de fornecer argumentação” (apud HOHLFELDT, 2001, p. 77). A retórica tem como finalidade persuadir, sendo ela uma das qualidades humanas, podendo ser vista como uma arte: “a Retórica é a faculdade de ver teoricamente o que, em cada caso, pode ser capaz de gerar a persuasão” (HOHLFELDT, 2001, p. 77). A retórica é, portanto, todo conhecimento que o indivíduo adquiriu e que, através dele, possa argumentar e convencer o outro. Para viver em sociedade, o homem faz o uso da razão através da linguagem. A retórica está totalmente voltada ao discurso. Na visão aristotélica, o ser humano não é um ser individualista, e sim um animal social; portanto, um ser coletivo, tal qual ele afirma em sua política:.

(20) 13. É evidente que o Estado existe por natureza e que o homem é por natureza animal social [...] e, mais do que todas as abelhas e todo animal, vive em sociedade. Porque a natureza nada faz em vão: ora, só o homem, entre os animais, possui razão [...]. A linguagem serve para demonstrar o útil e o danoso, e por isso também o justo e o injusto, o que é próprio dos homens a respeito dos outros animais: ter somente ele o sentido do bem e do mal, do justo e do injusto (Aristóteles apud HOHLFELDT, 2001, p. 76).. Dentre todos os animais, o homem é o único ser pensante; portanto, o único capaz de verbalizar seus sentimentos através da linguagem. A natureza para todos os outros animais está construída. Já o homem está sempre à procura do seu bem-estar, e para isso está sempre tentando transformá-la, à procura de sua felicidade. Para atingir a excelência, a retórica deve conter três elementos, que deverão estar claramente discerníveis: o que fala, aquilo de que se fala e aquele a quem se fala. Assim, Aristóteles é tido como o primeiro teórico a manifestar a situação comunicativa por excelência. A comunicação se faz através de um emissor, uma mensagem e um receptor. Vinte séculos depois de Aristóteles, Harold D. Lasswell acrescenta ainda mais dois elementos ao processo comunicacional: em que canal e com que efeitos, pois ele acreditava que, para atingir o processo comunicativo, é necessário distinguir os gêneros, já que a situação comunicacional é dialógica, ou seja, eu falo para alguém, tenho uma resposta e tento convencê-lo de ou sobre algo. O postulado de Lasswell apresenta os seguintes elementos: quem — diz o que — em que canal — a quem — com que efeitos. Revendo o modelo de Lasswell, dois outros teóricos incluem novos elementos ao modelo proposto de comunicação: Raymund Nixon inclui os objetivos do emissor e as condições de recepção e Wilbur Schramm formula um modelo verdadeiramente comunicativo, que pressupõe a retroaliamentação, ou feedback, ao longo de todo o processo. Nixon preocupa-se com os objetivos que o emissor quer atingir, como sua informação e de que forma ela é recebida, se está havendo entendimento por parte do receptor. Schramm acredita que esse modelo comunicativo só é completo quando houver feedback entre emissor e receptor, quando houver entendimento, e de que forma o receptor pode voltar ao emissor a.

(21) 14. mensagem entendida, quando fizer ouvir sua voz e suas expectativas forem atendidas. Através da comunicação, foi possível, já naquela época, integrar, incluir dentro das normas e das leis todo cidadão da comunidade grega. John Locke, antes de Rousseau no Ensaio sobre o entendimento humano, 1671, mencionava a questão do juízo que as pessoas têm das outras pessoas ou das instituições, a partir do seguinte enunciado: “Há que distinguir três tipos de leis. A primeira, a lei divina; a segunda, a lei civil; e a terceira, a lei da virtude e do vício, da opinião ou da reputação ou — Locke emprega o termo indistintamente — a lei da moda” (NOELLE-NEUMANN, 1991, p. 98). E, ainda: para compreendê-la corretamente, há que se levar em conta que, quando os homens se unem em sociedades políticas, ainda que entreguem ao público a disposição sobre toda a sua força, de modo que não possam empregá-la contra nenhum concidadão além do que permita a lei do seu país, conservam sem dúvida o poder de pensar bem ou mal, de aprovar ou censurar as ações dos que vivem e mantêm alguma relação com eles (NOELLE-NEUMANN, 1991, p. 98).. Locke passava a consciência de que os representantes constituídos não podem jamais coibir nossa liberdade no pensar, falar ou questionar qualquer questão. São esses princípios assegurados nos regimes democráticos. A tais princípios, Clóvis de Barros Filho (apud HOHLFELDT, 2001, p. 225) acrescenta: “Quanto aos castigos conseqüentes das leis do Estado, criam-se ilusões com a esperança da impunidade. Mas ninguém que atente contra a moda e a opinião das companhias que freqüenta se livra do castigo da censura e do desagrado desta”. As leis foram feitas para serem cumpridas, incluindo aquelas que punem; é ilusão acreditar que elas não possam ser efetivadas. É preciso, portanto, conhecer a sociedade às quais pertencem, para evitar castigo e censura. O tema também faz parte de preocupação para o pensador David Hume. Em seu Tratado da natureza humana (1739), ele transfere as idéias de Locke para a teoria do Estado e.

(22) 15. reitera o princípio de que a sociedade, ainda que renunciando ao uso da força bruta, não entrega sua capacidade de aprovar ou desaprovar algo, e, como as pessoas tendem naturalmente a prestar atenção às opiniões e a amoldar-se às opiniões do meio, a opinião é essencial para os assuntos do Estado. O poder concentrado de opiniões semelhantes mantidas por pessoas particulares produz um consenso que constitui a base real de qualquer governo (Noelle-Neumann apud HOHLFELDT, 2001, p. 225). Ainda que a sociedade rejeite o uso da força bruta, ela não participa diretamente das decisões; e, como a tendência das pessoas é prestar atenção às opiniões e compactuar-se às opiniões do meio, a opinião é essencial para os assuntos do Estado. É bastante antiga a noção de opinião. Ela iniciou-se com Platão, para quem a dóksa era a base do conhecimento. Foi a partir dela que Clóvis de Barros Filho distribuiu como diretas ou indiretas referindo-se às diferentes fontes levantadas por Noelle-Neumann, tendo sua conceituação revisada de opinião pública. Pensadores como Rousseau, Locke, Hume e Madison, como fontes indiretas, sem um determinado momento, cada qual abre um questionamento que, no somatório dos conceitos buscados por Noelle-Neumann, contribuíram para criar sua hipótese de trabalho. Completando a lista, podemos citar Aristóteles, Hobbes, os federalistas norte-americanos e recentemente de Gabriel Tarde e Gustave Le Bon a Ortega y Gasset e Stuart Mill. A despeito da idéia de ter opiniões coletivas sobre certos assuntos, personalidades ou instituições, o primeiro filósofo a valer-se do termo “opinião pública” foi Jean-Jacques Rousseau. Ele entende que o Estado tem sua estrutura fundamentada em três leis: o direito público, o privado e o civil, mas reconhece que, “além dessas três classes de leis, há uma quarta, a mais importante, que não está gravada em mármore e em bronze e sim no coração dos cidadãos; uma verdadeira constituição do Estado cuja força se renova a cada dia, que dá vida às outras leis e as substitui quando envelhecem ou desaparecem [...]. Refiro-me à moral, aos costumes e, sobretudo, à opinião pública”. Rousseau, ao refletir a moral e os costumes, acredita que as outras três leis deveriam estar fundamentadas nesses princípios básicos, para fazer valer a opinião pública..

(23) 16. Noelle-Neumann vê Rousseau como um adepto da hipótese da espiral do silêncio (tratada em detalhes no capítulo 3), porque, para ele, “a opinião pública representa uma transação entre o consenso social e as convicções individuais” (apud HOHLFELDT, 2001, p. 224). Ao desenvolver o conceito de opinião pública, denominada “Do amor à fama”, Hume reconhece no espaço público a arena onde o governo se orienta na opinião, que é a essência fundamental nos países norte-americanos, como James Madison, quando se lê em seu O federalista (1788). Se bem pode ser correto que todo o governo se baseia na opinião, não o é menos, que o poder da opinião sobre cada indivíduo e sua influência prática sobre sua conduta depende em grande medida do número de pessoas que ele acredita tenham compartilhado da mesma opinião. A razão humana é como o próprio homem, tímida e precavida quando se deixa sozinha. E adquire fortaleza e confiança em proporção ao número de pessoas com as quais está associada. (HOHLFELDT, 2001, p. 226).. Se todo governo se apóia na opinião e esta reflete, a maioria dos indivíduos em grupo exerce força e poder, como sociedade civil. Para Clóvis de Barros Filho, os estudos de Elisabeth Noelle-Neumann teriam origem em Aléxis de Tocqueville. Ele teria sido o primeiro a notar e entender plenamente a força da opinião pública e o seu funcionamento. Não é por acaso que Noelle-Neumann faz longas citações de seu livro A democracia na América, de 1835-1840, onde o pensador francês faz um resumo do que já se conhecia, bem como o aprofundamento daquelas perspectivas: Quando as classes sociais são desiguais e os homens diferentes uns dos outros em sua condição, há alguns indivíduos que dispõem do poder de uma maior inteligência, saber e ilustração, enquanto a multidão está mergulhada na ignorância e no preconceito. Os homens que vivem nessas épocas aristocráticas são por isso induzidos naturalmente a configurar suas opiniões segundo o modelo de uma pessoa superior, ou de uma classe superior de pessoas, e se opõem a reconhecer a infalibilidade da massa do povo. Nas épocas de igualdade sucede o contrário. Quanto mais se aproximam os cidadãos ao nível comum de uma posição igualitária e semelhante, tanto menos disposto está cada um a ter uma fé absoluta em determinado homem ou em uma classe social determinada de homens. Mas sua.

(24) 17. inclinação a crer na multidão aumenta, e a opinião é mais que nunca dona do mundo. [...] Em períodos de igualdade, os homens não têm fé nos outros devido à sua semelhança; mas essa mesma semelhança lhes dá uma confiança quase ilimitada no juízo comum do povo. Porque pareceria provável que, como todos contam com os mesmos elementos de juízo, a maior verdade deveria ser a da maioria (apud HOHLFELDT, 2001, p. 226).. Tocqueville professa que as desigualdades entre os homens podem ressaltar as qualidades de alguns àqueles que detêm o poder e maior inteligência sobre a massa. Esses mais preparados intelectualmente sentem-se uma classe superior perante a infalibilidade da massa, do povo. Quando os cidadãos atingem uma posição igualitária e semelhante, começam a não acreditar totalmente um no outro ou em determinada classe de homens, mas tendem a acreditar mais na força do povo, e a opinião pode transformar o mundo. Quanto mais atingimos a igualdade, menos fé ou confiança creditamos aos outros devido às semelhanças; semelhança e confiança estão quase sem limites no juízo comum do povo. Se os elementos de juízo são iguais para todos, então, como maior verdade, teria de prevalecer a da maioria. Tocqueville menciona, também, que mesmo estando em meio à massa o homem tem a sensação de solidão: Quando o habitante de país democrático se compara individualmente com todos que o rodeiam, sente com orgulho que é igual a todos eles. Mas, quando considera a totalidade de seus iguais e se compara com um conjunto tão grande, sente-se imediatamente abrumado pela sensação de sua própria insignificância e debilidade. A mesma igualdade que o independentiza de cada um de seus concidadãos, tomados em conjunto, expõe-no sozinho e inerme à influência da maioria. [...] Sempre que as circunstâncias sociais são igualitárias, a opinião pública pressiona as mentes dos indivíduos com uma força enorme. Rodeia-os, dirige-os e os oprime. E isto se deve muito mais à própria constituição da sociedade que às suas leis políticas. Quanto mais se pareçam os homens, mais débil se torna cada um deles em comparação com todos os demais. Como não percebe nada que o eleve consideravelmente por cima ou o distinga deles, perde a confiança em si mesmo quando o atacam. Não apenas desconfia de sua força, como inclusive duvida de seu direito. E se acha muito próximo de reconhecer estar equivocado quando a maioria de seus compatriotas afirma que o esteja (Tocqueville apud HOHLFELDT, 2001, p. 227)..

(25) 18. Tocqueville ressalta a sensação de solidão que invade o homem em meio à massa, principalmente em países democráticos, devido às mesmas possibilidades de conhecimento e crescimento disponibilizado a todos os cidadãos. Nesse caso, ele sente-se orgulhoso, mas pode ocorrer um sentimento de insignificância quando comparado à totalidade de seus iguais. A independência assegurada perante aos iguais pode torná-lo independente dos concidadãos, mas, em conjunto, torna-o indefeso a influências sociais igualitárias. A opinião pública exerce força na mente das pessoas, que pode orientá-las ou reprimi-las. Tudo isso vai depender do contexto em que vive essa sociedade e das leis políticas que a regem. Se, quanto mais iguais forem os homens, mais débeis se tornam em comparação aos outros, e se não encontra qualidade alguma que o diferencie, perde a confiança em si próprio quando atacado. Nesse caso, desconfia de sua força, levando-o a desconfiar de seu direito, chegando a reconhecer que está errado quando a maioria dos concidadãos afirma que esteja. Assim, a força da opinião pública da maioria prevalece. Em 1922, o norte-americano Walter Lippmann, publica Public opinion. Segundo ele (apud HOHLFELDT, 2001, p. 227), “as pessoas avaliam a realidade externa enquanto imagens pintadas em seus cérebros que raramente correspondem ao que a realidade efetivamente é [...]; essas imagens vão-se tornando, com o passar do tempo, cada vez mais estabelecidas, estandardizadas, ou seja, estereotipadas”. Para Lippmann, a percepção de realidade é moldada no cérebro, estabelecendo e sedimentando estereótipos que nem sempre conduzem à realidade. Portanto, acredita que a opinião pública seria a média das opiniões referentes a um determinado momento da sociedade. Gabriel Tarde, quando escreveu Le Public et la foule, mostra que os comportamentos das pessoas em público tendem a compartilhar dos demais. Por estar inserido na multidão, o indivíduo tem tranqüilidade para agir sem precisar se identificar. Na presente pesquisa, essas abordagem são de suma importância no concernente à análise da opinião pública formada a partir da cobertura que os meios de comunicação de massa fizeram da crise política brasileira, com origem nas denúncias de corrupção ocorridas nos Correios..

(26) 19. 3. A MASSA E OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO: UMA ABORDAGEM TEÓRICA A formação da opinião pública ocorre a partir do bombardeio de informações veiculadas na mídia, com o aparecimento da idéia de comunicação de massa, durante a Revolução Industrial. Desde então, inúmeras teorias passaram a tratar do tema, sob os mais diversos pontos de vista. É sob o olhar sociológico do século XIX, ou seja, da sociedade moderna, que os termos “cultura e meios de comunicação de massa” tiveram sua origem. Os Estados Unidos e a Europa, durante o século XIX, passaram por inúmeras transformações sociais e econômicas. Conforme Giovandro Marcus FERREIRA (2001, p. 100), “tais mudanças foram objeto de reflexão das ciências sociais, em especial da sociologia”. Ferdinand Tönnies, Max Weber, Karl Marx, Alex Tocqueville e Gustave Le Bon foram alguns sociólogos com influência marcante e permanente em estudos da sociedade moderna. A diferença entre a sociedade antiga comunitária (Gemeinschaft) e a sociedade moderna urbana (Geselschaft) levou a transformações sociais, tornando-se objeto de estudo para sociólogos sobre a sociedade moderna. FERREIRA (2001, p. 101) acredita que “a concentração populacional nos espaços, caracterizados pela urbanização e industrialização, leva inevitavelmente a pensar na massificação. Surgem as organizações ditas de massa: partidos, associações, sindicatos... com suas reivindicações coletivas. Isso sem falar em outras manifestações como o espetáculo e o esporte, que vão neste mesmo sentido, como o cinema e o futebol”. Com o êxodo rural, as cidades começam a ter problemas de políticas públicas. Então, grupos passam a se reunir, a fim de pressionar e reivindicar das personalidades, políticas ou empresariais, direitos básicos para a massa. Essas reivindicações coletivas têm força e expressão porque podem parar setores da economia e da esfera pública. De acordo com FERREIRA (2001, p. 105), A interpretação da sociedade moderna enquanto sociedade de massa nasce do aprofundamento ou da fase dita metafísica das críticas às novas condições vividas pelos.

(27) 20. indivíduos, sobretudo nas aglomerações urbanas. A crítica do medo da desintegração social desdobra-se em outras críticas: [...] declínio dos grupos primários (família, grupos de vizinhos, associações esportivas...), burocratização crescente, igualdade e insegurança; por fim, uma ontologia acerca do homem-massa e da cultura que o influencia é também fomentada por ele, a cultura de massa.. A concentração de pessoas gera o surgimento de toda sorte de problemas — possivelmente ligados às más condições de vida desses indivíduos nos centros urbanos e à desintegração das famílias —, como o excesso de burocratização, que se soma à insegurança e ao nivelamento de todos como iguais, como homem-massa, gerando a cultura de massa. O sociólogo francês Gustave Le Bon, em seu estudo “A Psicologia das Multidões”, afirma que existe uma semelhança entre a multidão e a raça, pois através da miscigenação entre diferentes origens étnicas podem levar às características ou atitudes no comportamento da multidão. Explora o lado psicossociológico das multidões e acredita que, Com a presença cada vez mais constante das multidões nos espaços públicos, ele detecta o poder das multidões como um sintoma universal de todas as nações e alerta que o aparecimento das multidões marcará provavelmente as últimas etapas das civilizações ocidentais. Para o autor, a multidão é uma identidade onde os indivíduos estão submetidos a uma alma coletiva, pois ela tem sua própria natureza. A multidão, como ele descreve, é feminina, impulsiva, móvel, dominada por uma mentalidade “mágica”. Ela é influenciável, seduzida por sentimentos simples e exagerados, tem moral degradada e é intolerante e autoritária (FERREIRA, 2001, p. 105).. Para fazer valer seus direitos, pressionar governos e ganhar o apoio da opinião pública, os indivíduos se reúnem em praças públicas, formando uma multidão e gerando uma força imensurável. Essa alma coletiva busca reivindicar ou derrubar políticos legalmente constituídos. Para Le Bon, a sociologia pode explicar esse fenômeno: o cidadão sozinho não é capaz de tomar algumas atitudes; já, em grupo, se revela impulsivo, ou seja, toma atitudes por impulso e é dominado por um sentimento mágico que pode ser simples ou exagerado. Com a moral degradada, é intransigente e autoritário..

(28) 21. É bom lembrar que essas manifestações, que permitem a reunião das multidões, são comuns em países democráticos do mundo inteiro e constituem uma forma de poder. Também nessa linha de pensamento, Émile Durkheim (1858-1917) afirma: Mesmo quando há colaboração espontânea de nossa parte, para a emoção comum, a impressão que ressentimos é inteiramente diferente da que experimentaríamos se estivéssemos sozinhos. Assim também, quando nos encontramos de novo a sós, desfeita a reunião de que participávamos, os sentimentos por que acabamos de passar produzem-nos o efeito de algo estranho, neles não nos reconhecemos. Percebemos então que não os produzimos, antes muito pelo contrário, os sofremos. Pode acontecer que venham até nos causar horror, tanto eram contrários à nossa natureza (DURKHEIM, 1982, capítulo I).. Para cada ação há uma reação. No entanto, Durkheim reafirma que o indivíduo não é capaz de se reconhecer quando se manifesta na multidão. Os estádios de futebol constituem um bom exemplo, pois ali as torcidas se enfrentam até a morte, mesmo que sejam constituídas por indivíduos pacatos. Ortega y Gasset (apud FERREIRA, 2001, p. 106) também critica essa nova sociedade de massa: “O homem-massa se encontra nos vários estratos sociais e é um indivíduo abrutalhado, violento, promotor do esgarçamento social. [...] Articula o papel dos meios de comunicação pelo viés da técnica que carrega nela o primitivismo, fazendo emergir a barbárie pela ação das massas. A massa existe, então, por sua revolta, isto é, pela violência ou subversão do diferente e do singular”. A idéia de massa geralmente sugere que ela seja composta de homens simples, das classes trabalhadoras. No entanto, Ortega y Gasset amplia o homemmassa a todas as camadas sociais e acrescenta que esse indivíduo é violento, bruto e gerador de descontrole social. Os meios de comunicação trazem em si o primitivismo da barbárie da ação das massas. Dessa forma, massa é sinônimo de revolta, por ser vista como diferente e singular. Os meios de comunicação fazem a ponte entre esses indivíduos e a sociedade. Nesse contexto, o modelo sociedade de massa, utilizado para a análise dos meios de comunicação, vê, de um lado, a poderosa organização social, e, de outro, os indivíduos que acabam modelados por essas organizações..

(29) 22. A dependência do indivíduo ou homem-massa será sua subjetividade, extremamente enganosa pelas novas modalidades sociais. Esse paradigma, “sociedade de massa”, terá focado suas análises dos meios de comunicação sob a ótica de diferentes áreas do conhecimento, como a sociologia e a psicologia. Nesse universo de estudos da comunicação de massa e sobre ela, o pensamento se fechava em teorias, como a da teoria hipodérmica. As teorias relacionadas aos processos de comunicação iniciaram-se a partir dos anos 1920 a 1970, e, genericamente agrupadas, puderam assim ser denominadas, como sugere Mauro Wolf (apud HOHLFELDT, 2001, p. 187): Teoria hipodérmica ou de manipulação, teorias empíricas de campo e experimentais,. também. denominadas. de. persuasão,. teoria. funcionalista,. teoria. estruturalista, teoria crítica — mais conhecida como a Escola de Frankfurt, com todos os seus desdobramentos —, teorias culturológicas, cultural studies, teorias comunicativas (a teoria matemática, a semiótica em sentido estrito, devida a Umberto Eco, e as lingüísticas), etc.. Nesse sentido, entre esse conjunto de teorias quanto às suas fontes, os paradigmas norte-americanos e os paradigmas europeus havia um enorme espaço. O fato é que os paradigmas norte-americanos e os paradigmas europeus são bastante diferentes. Os paradigmas norte-americanos são fundamentalmente descritivistas e burocráticos, enquanto os paradigmas europeus são principalmente sociológicos, porém ideológicos em demasia, conforme os críticos norte-americanos. Uma teoria é um sistema fechado, acabado; ele é excludente. Optar por uma delas significa descartar todas as outras. Já a idéia de hipótese permite a convivência de idéias diferentes, diversas e até divergentes, que passam a se complementar, gerando um novo campo para reflexões, sem necessariamente excluir os demais.. 3.1. O campo das teorias A nomenclatura conhecida como “teoria hipodérmica”, ou “teoria da seringa” ou “bullet theory”,.

(30) 23. já se encarrega para evidenciar a onipotência (dos mass media e da sociedade) de um lado, e a vulnerabilidade (do indivíduo, do público) do outro. O termo hipodérmico ou seringa mostra como o público é comparado aos tecidos do corpo humano, que, atingido por uma substância (no caso a informação), todo o corpo social é atingido indistintamente. O termo “bullet theory” ou “teoria bala” também reforça a genialidade de um lado em atingir o alvo, no caso o público (FERREIRA, 2001, p. 107).. O indivíduo, impotente e frágil, fica à deriva, predisposto às abordagens, ao paradigma da sociedade de massa. Se, isolado, fica à margem da sociedade, entra em cena, então, os meios de comunicação, que facilmente atingem seu público a pretexto de fazer essa ponte e, a seu modo, a inclusão deste na sociedade. A teoria social recorre à teoria hipodérmica onde se originou e refere-se à crítica da sociedade moderna, caracterizada como sociedade de massa. E é nesse contexto que muitos vão em busca do resgate ao mito da sociedade de massa para entender a lógica, ou até a apologia do funcionamento massivo e massificante dos meios de comunicação. A falência das instituições faz com que o indivíduo perca seus vínculos com a sociedade. Passível às abordagens, pré-requisitos. O indivíduo, segundo a teoria social, isolado e sem cultura, de um lado; de outro lado, a teoria psicológica explica que seu comportamento é motivado de acordo com os estímulosrespostas. Se o comportamento humano não está fundamentado em conceitos como valor, atitude, enfim de toda sua subjetividade de experiência fica totalmente exposto às ações externas, ou seja, aos estímulos. Ambiente propício à teoria hipodérmica. Entram em cena, então, os meios de comunicação de massa, que à sua maneira vão preencher o vazio deixado pelas instituições inexpressivas. Laços tradicionais, como família, igreja, escola, etc., passam agora a receber novas formas de comportamento, conforme o tipo de informações; estímulos recebidos que determinaram o nosso modo de agir, de pensar e sentir. Dessa forma, afirma FERREIRA (2001, p. 109): “Os efeitos dos meios de comunicação, vistos pela teoria hipodérmica, não são objetos de estudo, já que eles são dados como certos a partir dessas bases sociológica e psicológica”. Fica bastante claro que os efeitos dos meios de comunicação de massa interferem profundamente nos indivíduos desprovidos de cultura, e sobretudo quanto.

(31) 24. à falência das instituições. Assim, os meios de comunicação ditam normas, regras e modos de vida. Na teoria crítica, a sociedade de massa deve ser vista sob a perspectiva do desenvolvimento da razão, quer emancipadora quer instrumental. Sob a perspectiva de razão emancipadora, do ponto de vista iluminista, significa que a luz é a liberdade do homem. Esse desenvolvimento da sociedade moderna será para os teóricos de Frankfurt denominada razão instrumental. Na razão instrumental, de acordo com esses teóricos, os apelos para a reorganização social e cultural serão, antes de tudo, uma maneira para superar a crise da razão (FERREIRA, 2001, p. 109). A visão emancipadora acreditava que a sociedade de massa, sob a perspectiva iluminista, traria luz e liberdade ao homem; no entanto, acabou por torná-lo totalmente dependente e manipulado acerca do desenvolvimento da razão. A razão instrumental questiona a tão sonhada luz e liberdade dos homens e os convoca para, numa tentativa de superar a crise, se reorganizarem social e culturalmente, a fim de deixarem de ser manipulados pelo sistema. Adorno, nas “Teorias Positivas”, diz serem tantos os detalhes, que por conta disso transformam-se em ideologias, propondo a dialética negativa; ele faz uma crítica da cultura, em particular e principalmente à sociedade em geral. A partir dessas abordagens, o principal foco da Escola de Frankfurt foi a chamada indústria cultural, que compreende os mass media — rádio, cinema, publicidade, televisão, etc. — e é conseqüência do desenvolvimento da razão degenerada. Conforme FERREIRA (2001, p. 110), “a indústria cultural encarna e difunde um ambiente em que a técnica arremata poder sobre a sociedade, reproduzindo e assumindo o poder econômico daqueles que já dominam a sociedade”. A indústria cultural tem o mesmo discurso daqueles que dominam a sociedade, até porque os proprietários dos meios de comunicação são, na sua maioria, políticos ou importantes empresários, pessoas que têm influência e poder econômico. Nessa direção, FERREIRA (2001, p. 110) cita M. Horkheimer: “A racionalidade técnica hoje é a racionalidade do próprio domínio, é o caráter repressivo da sociedade que se auto-aliena”..

(32) 25. A racionalidade técnica contemporânea é supremacia, é poder, é domínio: esse caráter repressivo da sociedade que torna os indivíduos vulneráveis, impotentes, legitima a própria auto-alienação. Evidencia-se a superioridade, o poder que a sociedade exerce sobre o indivíduo nas mais diferentes situações no trabalho no lazer, etc., “caracterizando uma atrofia da imaginação e da espontaneidade do consumidor cultural” (FERREIRA, 2001, p. 110). O indivíduo acaba aceitando a opinião da maioria, ou seja, aquilo que lhe é imposto pela sociedade para integrar-se ao grupo. Essa alienação faz com que ele omita ou perca a capacidade de fazer seu próprio juízo de valor, de ter opinião própria, de ter opinião sobre qualquer tema ou situação. A influência dos meios de comunicação chega a manifestar o pseudoindividualismo dominado pela cultura industrializada. A força da estrutura social e da indústria cultural exerce tamanho domínio nos indivíduos que estes não se manifestam; a força leva a “uma adesão sem reação dos indivíduos às proposições emanadas da sociedade” (FERREIRA, 2001, p. 111). Dessa forma, sob o prisma do processo de massificação, a teoria crítica confirma a vulnerabilidade, passividade do indivíduo ao consumir a cultura sem críticas, sem questionamentos, fazendo com que as características da indústria cultural e seus produtos sejam incorporados às características dos indivíduos. “Os efeitos da indústria cultural são efetivados na migração produto-consumidor” (FERREIRA, 2001, p. 111). O indivíduo acaba assumindo outra identidade, incorporando costumes e estilos de vida que não são seus. É o efeito e a influência exercida através do processo de massificação. Nos Estados Unidos, ao final dos anos 1960 e nos anos 1970, surgiu o movimento denominado communication research, no qual os pesquisadores das mais diversas teorias passaram a atuar em equipe, cruzando as informações num ambiente multidisciplinar, a fim de melhor entender a abrangência do processo comunicacional. Até o final dos anos 1970 essas teorias caminhavam na direção de que a comunicação sobre o público receptor tinha efeitos em curto prazo. A partir de então,.

(33) 26. esse paradigma apresenta-se profundamente modificado, alguns dos seus assuntos foram abandonados ou transformados: ou seja, passou-se dos efeitos entendidos como mudanças em curto prazo para efeitos entendidos como conseqüências de longo período. Conquistou-se a consciência de que as comunicações não intervêm diretamente no comportamento explícito; de preferência, tendem a influenciar o modo como o destinatário organiza a própria imagem do ambiente (WOLF, 2005, p. 138).. Três hipóteses demonstram de maneira exemplar essa nova visão: o agenda setting, a espiral do silêncio e o newsmaking. Tanto o agenda setting quanto a espiral do silêncio focam a perspectiva massificante e a imposição dos mass media sobre os indivíduos. A diferença é que o “o agenda setting detecta tal massificação na migração dos temas midiáticos enquanto temas ou agenda do público, quer dizer, os temas midiáticos se tornam conversa no dia-a-dia. Já a espiral do silêncio apreende a massificação pelo enclausuramento dos indivíduos no silêncio, quando estes têm opiniões diferentes destas veiculadas pelos mass media” (FERREIRA, 2001, p. 111). O agenda setting retrata a imposição dos mass media, dos temas veiculados sobre a agenda do público, os quais se tornam assuntos, discussão no dia-a-dia das pessoas, enquanto na espiral do silêncio a massificação é exercida de forma que o indivíduo, ainda que tenha opiniões diversificadas de tais veiculações, não as expressa. O agenda setting tem a finalidade de induzir aquilo em que o indivíduo deve pensar; essa imposição dos mass induz não só o como pensar, mas também para o que pensar. Para a teoria crítica, a massificação exercida pelos mass media impede a pessoa de pensar; já o agendamento dita a massificação àquilo que irão pensar. A imposição do agendamento possui duas vertentes. Uma delas, que foca o tema pelos mass media, também conhecida como ordem do dia, apresenta assuntos que conseqüentemente serão temas da agenda do público, ou seja, objeto das discussões entre as pessoas. Portanto, de acordo com FERREIRA (2001, p. 112), “existe, então, uma relação direta e íntima entre a agenda midiática e a do público, efetuada pela ordem do dia e pela hierarquização temática”. Se a agenda for de interesse público, tal.

Referências

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