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Variação cromática das asas em duas espécies de cigarrinhas-das-pastagens

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VARIAÇÃO CROMÁTICA DAS ASAS

EM DUAS ESPÉCIES DE CIGARRINHAS-DAS-PASTAGENS' A.L.P. PERONDINI. LYRIA MORI e I.S. MORGANTE2

RESUMO - A variação das alozimas de nove sistemas enzimáticos, codificados por doze locos, foi ana-analisada em ZuI4a enüerkna e Deo!: flavopicta. As duas espécies podem ser incluídas entre aquelas que apresentam um baixo polimorfismo para isozimas, uma vez que 18 e 27% dos locos examinados eram polimórficos, que o número médio de Meios por loco era de 1,18 e 1,36, e que exibiram uma he-terozigosidade de 6,1 e 4,6% respectivamente para Z. entreriana e D. flavopicta. O índice de similaxi-dade genética foi de 0,705. AZ. entreríana apresenta, também, um extenso polimorfismo para as man-chas das asas. Um único variante para o desenho das asas foi descrito em D. Jiavopicta. A variação ge-nética de seis locos foi estudada em espécimens de Z entreríana agrupados segundo o padrão das asas. A similaridade genética entre esses grupos variou de 0,962 a 0,999. Estes valores, transformados em distância genética, foram processados para produzir um dendrograma de similaridade bioquímica. Este indicou a existência de sub-populações caracterizadas por determinados padrões de asas e por freqüên-cias alélicas típicas.

Termos para indexação: Zulia entreríana, Deois flavopícta, polimortismo genético, isozimas, polimor-fismo alar.

STUDIES ON THE WING COLOUR PATFERNS AND ISOZYME VARIABILITY IN TWOSPECIESOF FROGHOPPERS

ABSTRACT - The enzymatic polymorphism coded by twelve loci was studied In a population ofZuIFa entreriana and Deois flavopicta. Both species bear a substancial degree of genetic variability presenting 18 and 27% of their loci polymorphic. 1.18 and 1,36 as the mean number of alleles per locus, and 6.1 and 4.6% of heterozigosity, respectively for Z entreriana and D. Jli.opicta. Nei's genetic similarity Index between them was of 0705. Z. entrar/ana Is highly polymorphic for the wing colour stripes, showing eight different patterns. A single variant morph was detected In O. flavopicta.The Isozyme variability of six loci was studied in speclmens of 7_ entreriana, pooled accordíng to the wing pat-terns. The genetic similarity arnong these groups varied from 0.962 to 0.999. These data, processed to produce a biochemical similarity dendrogram, indicate the existence of three sub-populations each showing a distinct colour pattem and specific gene frequencies.

Index terrns:Zu//a entrar/ana, Deo/s flavopicta, genetic polymorphism, isozyrnes, wing polymorphism. - INTRODUÇÃO

Espécimes de homópteros cercopídeos desta-cam-se, dentre os insetos daninhos, pelos danos causados em extensas áreas de pastagens brasilei-ras. Dentre estas espécies, a Zulia entreriana tem grande importância econômica pela sua extensa área de distribuição e por infestar diversas espé-cies de gramíneas (Guagliumi et al. 1972, Guagliu-mi 1975).

Estudos anteriormente realizados com Zulia entreriana sobre a distribuição geográfica, hospe-deiros, inimigos naturais e métodos de combate estão sumarizados por Guagliumi et aL (1972). Pos-teriormente, estudos do ciclo de vida e curva popu-lacional desta espécie apareceram na literatura

(Domingues & Silva-Santos 1975, Ramos 1976).

Aceito para publicação em 7 de agosto de 1979. 2 Biólogo, Ph.D., Departamento de Biologia, Instituto

de Biociências da Universidade de São Paulo, Caixa Postal 11.461 -CEP 01000- São Paulo, SP.

No sudeste do Brasil, a Zulia entreríana coabita com Deoisflavopicta (Guagliumi etai. 1972). Desta segunda espécie, muito pouco se sabe em relação ao ciclo de vida e dinâmica populacional, embora seja uma espécie de importância no sudeste brasi-leiro (Guagliumi et aI. 1972).

Análises genéticas detalhadas com cercopídeos foram realizadas em Philaenus spumarius, espécie da América do Norte e Europa, que, além do poli-morfismo parã várias isozimas (Saura et aL 1973), apresenta ainda uma alta variabilidade na coloca-ção dorsal do corpo (I-Ialkka et

aI.

1973, 1974a, 1975a, 1976) e nas peças quitinosas frontais da cabeça (Savala & Halkka 1974)-

0 presente trabalho relata observações prelimi-nares feitas sobre o polimorfismo cromático dos élitros e das isozimas de uma populaçio de Zulia entreriana e Deoisflavopicta.

MATERIAIS E MÉTODOS

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vopicta (Stal) (Homoptera: Cercopidae) foram

co-letadas na Fazenda Santa Terezinha, Município de Serra Negra, Estado de São Paulo, em fevereiro de 1976.

A coleta foi feita na encosta de um morro, onde havia cerca de um hectare de capim-napier planta-do no topo, e capim-pangola, em maior extensão, ao longo de toda a encosta. Esparsas pela área, ha-via touceiras de outras gramíneas e outros vegetais não identificados. A Zulia entreriana (Berg) foi coletada quase que exclusivamente no capim-na-pier, enquanto que Deoisflavopicta (Stal) ocorreu, com maior freqüência, no capim-pangola e próxi-mo às touceiras de outras gramíneas.

Os insetos foram coletados com redes entomo-lógicas em tubos plásticos e imediatamente conge-lados para o transporte até o laboratório. Os ani-mais foram contados, separados peio sexo, e os es-pécimes de Zulia entreriana, isolados segundo o pa-drão do desenho das asas. A seguir, foram indivi-dualmente preparados para uma análise eletroforé-tica.

A análise eletroforética foi feita através do siste-ma horizontal em gel de amido e "electrostarch" (1:1), usando-se três diferentes sistemas de tam-pões, dependendo do sistema enzimático a ser ana-lisado.

Para a análise da oxidase aldeídica (AO), estera-se (EST), desidrogenaestera-se do alfa-glicerofosfato (a--GPDH) e fosfoglucomutase (PGM), utilizou-se tampão borato com pH 8,1 nos eletrodos e tampão de Poulik com pH 8,6 no gel (Poulik 1957). Para os sistemas enzimáticos transaminase do glutama-to-oxalacetato (GOT), fumarase (FUM) e fosfogli-co isomerase (PGI), empregou-se o tampão de lii-dióxido de lírio com pH 7,0 (Selander etal. 1969). Para as enzimas desidrogenase isocítrica (IDH) e enzima málica (ME), foi usado o tampão tris-citra-to com pH 7,0 (Ayala et aL 1972).

As enzimas AO, EST, PGM, FUM, ME e 1DM foram reveladas segundo as técnicas descritas por Shaw &lCohen (1968). A técnica de Brewer (1970) foi utilizada para revelar a a - GPDH, a técnica de Busch & Huettel (1972) para GOT, e a técnica de Carter & Parr (1967) para PCI.

Ao mais comum dos alelos de um loco particu-lar foi dado o valor 100, enquanto que os outros Pesq. agropec. bras., Brasília, 14(4):303-310, out. 1979.

alelos foram designados numericamente de acordo com sua mobilidade relativa ao alelo 100.

A inclusão de uma ou mais isoenzimas num mesmo loco foi feita somente pelas observações dos géis Estas interpretações ainda não foram cor-roboradas por testes genéticos.

Machos e fêmea5 foram analisados separada-mente, e, como não foram observadas diferenças entre os sexos para as enzimas estudadas, os resul-tados serão apresenresul-tados para os dois sexos em conjunto.

RESULTADOS

Polimorfisrno cromático das asas

A Zulia entreriana apresenta um polimorfismo cromático das asas, em ambos os sexos, com várias listras verticais brancas ou amarelo-daras até ala-ranjadas e uma faixa invariável, da mesma cor, no terço inferior dos élitros (Mendonça Filho 1972).

A Fig. 1 mostra os padrões de asas descritas por Medonça Filho (1972), padrões que denominare-mos de A, li, D, E, F e G, em ambos os sexos. A fi-gura mostra também dois padrões novos, C (ma-chos) e H (fêmeas), que observamos entre os espé-cimens estudados neste trabalho.

As freqüências dos insetos exibindo os diferen-tes padrões, entre os 118 indivíduos coletados, es-tão mostradas na Tabela 1.

Nesta amostragem, o padrão mais freqüente en-tre as fêmeas foi o "A" (Fig. 1 e Tabela 1). É inte-ressante salientar que em outra população, coleta-da por Ramos (1976), no sul coleta-da Bahia, e na mesma época (primeiros meses de 1976), o padrão mais comum entre as fêmeas foi aquele que apresenta duas manchas longitudinais-padrões, que denomi-naremos E, F ou G.

A proporção quanto ao sexo, entre os exempla-res de nossa coleta, foi de 63 machos para 55 fê-meas, valores que não diferem significativamente de uma razão 1:1 (X 2 - 0,54; 0,30< p <0,50). Resultados semelhantes foram obtidos por Ramos (1976) na população do sul da Bahia.

A Deois flavopicta ocorreu com freqüência

se-melhante à de Zulia entreriana, em Serra Negra. Coletaram-se 129 exemplares daquela espécie, sen-do 48 fêmeas e 81 machos. A proporção quanto ao sexo desviou-se de 1:1, dando cerca de 1,68 vezes

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c

E

ri-.

VARIAÇÃO CROMÁTICA DAS ASAS 305

Li

roi

HH

ã

'_00.a

7-

outra no terço inferior dos élitros (Guagliumi et ai. 1972). Na literatura não existe menção i variação desse padrão das asas. Os autores deste trabalho encontraram, entretanto, um exemplar macho que apresentava um padrão de asas diferente do usual. Além das três manchas acima mencionadas, as transversais estavam tinidas por manchas verticais incompletas e a faixa longitudinal era um pouco mais larga, como mostra a Fig. 2.

FIG. 2.. Élitros esquerdos de D. flevopicta, mostrando o padrão comum da espécie (A) e o novo padrão descrito neste trabalho (B).

FIG. 1. Padrões cromáticos de élitros deZ. entrer,ane. Es- Variação dai alozimas

tão representados somente os élitros esquerdos. A Tabela 2 sumanza os dados obtidos pela ana- Os padrões A, 5, D, E, F e G foram tirados de lise eletroforética de nove sistemas enzimáticos em Mendonça Filho (1972). Os padrões C e H são Deoisflavopicta e Zulia entreriana.

formas novas descritas no presente trabalho. - Embora a amostragem de Zulia para alguns lo- mais machos do que fêmeas. cos tenha sido pequena, os resultados deste traba-

Esta espécie apresenta três listras em suas asas: lho indicam:

uma longitudinal, correndo na borda interna supe- a. Que os mesmos locos monomórficos de dor, e duas transversais, uma no terço superior e AO, a - GPDH, FUM, PGI, ME e IDH-1 estão TABELA 1, Freqüência dos padrões cromáticos das asas de Zuila entreriana.

Padrões A a C O E F G H Totais

Machos 49 6 7 1 O O O O 63

Fêmeas 36 4 O O 9 5 0 2 55

Total 85 10 7 1 9 5 O 2 118

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Fixados nas duas espécies;

1,. Que existem locos monomórficos diferentes fixados numa ou noutra espécie (PGM, GOT-1);

c. Que alguns genes estão presentes numa espé-cie e ausentes na outra. Assim, EST-5 está presente em Z. entreriana e IDH-2 está pre-sente em D. Jiavopicta;

d. Que elas tem, em comum, alelos de iocos po-limórficos (EST-1 e EST-2);

e. Que L). fLzvopkta é polimórfica para PGM.

A população de O. flavopicta e a de Z. entreria-na não estavam em equilíbrio de I-Iardy Weinberg TABELA 2. Freqüências gênicas de doze lotos de &oig

flavopicta e Zulia entreriana.

Loco Meio O. (lavop lera Z. entreriana

G 176 178 110 - 1,000 PGM 105 0,085 100 0.886 90 0,028 G 176 178 AO 100 1,000 1,000 G 176 178 EST-1 150 0,302 0.301 100 0,698 0,699 G 176 176 EST-2 125 0,489 0,222 100 0.511 0,778 O . 172 EST5 100 . 1,000 O 46 4 GOT-1 200 - 1,000 100 1,000 O 46 4 FUM 100 1,000 1,000 O 46 4 PGI 100 1,000 1,000 a-GPDH O 176 178 100 1,000 1.000 ME O 46 4 100 1,000 1,000 11311-1 O 46 4 100 1,000 1.000 IDH-2 O 46 100 1,000 -

O- número de genomas analisados

Pesq. agropec. bras., Brasília, 14(4):303-310, out. 1979.

para os locos EST-1 e EST-2, apresentando um ex-cesso dos dois tipos de homozigotos, exceto pela EST-2 de Zulia, que apresentou um ligeiro excesso de heterozigotos. A população de O. jlavop(cta es-tava em equilíbrio para o loco da PGM.

A variabilidade genética de ambas as espécies foi estimada por três índices: pela freqüência de locos polim6rficos, pelo número médio de alelos por loco, e pela freqüência de locos heterozigotos por indivíduo. Esses valores estão mostrados na Tabela 3.

Aiozimas e padrôeu das asas em Zuila entreriana Os resultados procedentes da análise da variação das alozimas em Zulia entreriana representam uma análise global de todos os indivíduos coletados, in-dependentemente dos padrões de asas por eles apresentados.

Nas análises que se seguem, os dados eletroforé-ticos obtidos em indivíduos portadores dos dife-rentes padrões de asas serão analisados em separa-do. Nestas análises, consideraremos somente os seis primeiros locos da Tabela 2, para os quais a amos-tragem foi suficientemente grande.

A Tabela 4 mostra as freqüências alélicas dos seis locos nos indivíduos portadores dos vários pa-drões de asas. Os vários papa-drões têm, em comum, os mesmos 'ocos monomórficos para PGM a - - GPDI-I, AO e EST-5 e os mesmos alelos para os locos polimórficos de EST-1 e EST-2. A freqüência alélica desses locos, no entanto, é variável entre os padrões.

O padrão de asa "mais diferente" ao nível bio-químico foi o de H, distinto dos outros pela apa-rente fixação do alelo 100 da EST-1. Contudo, es-tes resultados precisam ser tomados com cautela, pois somente quatro genomas desse padrão foram analisados.

A seguir, foram feitas comparações pareadas da similaridade genética entre todos os tipos de asas (Tabela 5). Os valores de 1 variaram de 0,962 a 0,999. Estes valores de 1 foram convertidos em dia-tância genética (D - -ln 1) (Tabela 5) e estes, pro-cesados pelo método de Sneath &Sokal (1973) pa-ra produzir o dendrogpa-rama de distáncia bioquími-ca da Fig. 3.

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VARIAÇÃO CROMÁTICA DAS ASAS 307 TABELA 3. Variabilidade genética e índice de similaridade de Deois flavopicta e ZuNa entreriana.

Espécie Freqüência de locos Número médio de Freqüência de locos Similaridade polimórficos elelos por loco heterozigotos por Indiv(duo

observada esperada Deois favop/cta 0,272 1,36 0,046 0,060

0,705

Zulísentreriana 0,189 1.18 0,061 0,069 Nei (1912). Distância genética (D

= li =0,349)

TABELA 4. Freqüência gênica para seis locos em Zuila entrerlana portadoras de diferentes padrões de asas.

Locos Alelo Padrões das Asas

A B C E 1' H PCM 100 1,000 1,000 1.000 1,000 1,000 1,000 AO 100 1,000 1,000 1,000 1,000 1,000 1,000 a-C3PDH 100 1,000 1,000 1,000 1,000 1,000 1,000 EST•1 150 0,245 0,450 0,357 0,450 0,300 100 0,755 0,550 0,643 0,550 0,700 1,000 EST.2 125 0,255 0,150 0,143 0,200 0,300 0,250 100 0,745 0,850 0,857 0,800 0,700 0,750 EST-5 100 1,000 1,000 1,000 1,000 1,000 1,000 Número de genomas 106 20 14 18 10 4

TABELA 5. Acima dn diagonal: similaridade genética (1) para comparações panadas dos padrões de asa de ZuNa entre- riana. Abaixo da diagonal: distância genética (D) entre todos os pares de padrões de asa.

A 8 C D F H A

.

0,989 0,995 0,991 0,999 0,989 6 0,0102 0,998 0,999 0,991 0,961 C 0,0048 0,0016

-

0,997 0,994 0,975 E 0,0087 0,0005 0,0022

-

0,993 0,962 F 0,0009 0,0086 0,0053 0,0063

.

0,983 H 0.0105 0,0393 0,0253 0,0378 0,0164 Similaridade média- 0.9883

DISCUSSÃO A análise genética para a cor do dorso de Philae- Vários grupos de insetos apresentam polimorfts. nus spumarius, cigarrinha da Europa e América do mo para o desenho ou cores das asas. Diferenças Norte, mostrou que os diversos padrões são deter-no tamanho de manchas específicas, seguidas ou minados por uma série de sete alelos, entre os não de fusão com manchas vizinhas, são conheci- quais existe uma hierarquia de dominância e co-do-das há muito tempo, principalmente em coleópte- minância, ocorrendo, ainda, genes modificadores, ros coccinelídeos (Dobzhansky 1933). Foi mos- que alteram os efeitos de alguns desses alelos trado que em Harmonia axyridis, todo um compli- (Halkka et al. 1973, 1975a).

cado sistema de desenho de asas é controlado por Não conhecemos, ainda, a determinação genéti- apenas um loco autossômico, altamente polimórfl- ca das manchas alares de Zulia entreriana. A obser- co, com doze alelos (Tan 1946). vação preliminar de que as diferentes formas ocor-

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MILHÕES DE ANOS 0,3 0,2 0.1 B E C H 0,06 1 0,04 0.02 DISTÂNCIA GENÉTICA

FIG. 3. Dendrograma de similaridade bioquímica, baseado

na distância genética (polimorfismo enzimótico) entre indivíduos portadores de diferentes padrões de asas (A. B. C, E, F eH), em urna única poputa-çãodeZentiei*flt

rem com freqüência diferente em regiões geográfl- cas distintas, sugere a existência de mudanças gra- dativas nas freqüências alélicas ("dines"), como aquelas observadas por Halkka et ai. (1974b, 1975b) para o polimorfismo de Philaenus

spuma-rira.

Outro fato a sugerir que o polimorfismo cromá- tico de Zulia talvez tenha bases genéticas similares ao de Philaenus é a expressão fenotípica diferen- cial entre os sexos. Em Zulia, as manchas alares dos machos são menores, em Philaenus, a hierar- quia de dominância e recessividade dos sete alelos do loco p (pigmentação) é diferente nos dois sexos (Halkka et

ai.

1973, 1975a).

As análises do polimorfismo enzimático deste trabalho mostraram que, mesmo sem se considera- rem as diferenças nas freqüências alélicas da EST-1

e EST-2, Zulia entre riana distingue-se de Deois fia- vopicta por quatro dentre os doze locos estudados: por apresentar a PGM monomórfica, pela presença da EST-5 e da G0T 200 e pela ausência da IDH-2. Assim, 33,3% dos genes estudados são "locos diag- nósticos", no sentido mais restrito, proposto por Ayala &Powell (1972) e amplamente discutido por Lewontin (1974).

Pesq. agropec. bras., Brasília, 14(4):303-310, aut. 1979.

1976). As cigarrinhas estariam, entretanto,'oloca-das entre as espécies que apresentam reduzidos va-lores de variabilidade (Tabela 3).

Se os resultados desta análise preliminar de uma única população, embora feita com um número significativo de genomas, especialmente para Deoi.s flavopicta, forem corroborados por análises

futu-ras, indicarão que o polimorfismo enzimádco des-ses homópteros sul-americanos é diferente do ob-servado nas grandes e altamente polimórflcas po-pulações de Philaenus que habitam o sul da Fin-lândia, aproximando-se mais do grau de variabilida-de existente nas pequenas populações variabilida-desta espécie e que ocorrem nas ilhas costeiras dessa região fim-landesa (Saura et al. 1973).

Esta é uma aparente contradição, pois as cigar-rinhas, no Brasil, encontram-se disseminadas por vastas extensões territoriais. É possível que a popu-lação de Serra Negra (SP), que examinamos, não seja representativa daquilo que ocorre com as ci-garrinhas Na região em que realizamos a amostra-gem, as cigarrinhas não haviam causado danos de grande monta, sugerindo que a população local era pequena. A baixa variabilidade das isozimas poderia, então, ser explicada por uma preponde-rância de processos estocásticos, tais como: deriva genética ou efeito de fundador, ou por uma homo-geneidade ambiental e fluxo gênico reduzido

(Dobzhansky 1970). É possível que, em popula-ções maiores, a variabilidade seja mais extensa.

Além desses processos seletivos, outros fatores poderiam estar atuando nessa população. As corre-laões observadas entre a variação nas freqüências alélicas das isozimas de indivíduos portadores de diferentes padrões de asas e que foram evidencia-das pelo dendrograma de similaridade bioquímica,. se corroboradas em análises futuras, indicariam que outros processos seletivos estão agindo nessa população de Zulia entreríana. Uma das possibili-dades seria a existência de cruzamentos preferen-ciais entre indivíduos portadores de determinados

Os resultados para as duas espécies de cigarri- nhas-das-pastagens situam-se entre os observados para outras espécies de insetos, como também de outros animais que apresentam de 20 a 86% de lo- A cos polimórficos, de 5,6 a 18,4% de locos heterozi-

F gotos por individuos e 1,98 como número médio

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VARIAÇÃO CROMÁTICA DAS ASAS

padrões das asas, o que levaria a uma divergência genética para outros locos gênicos. Fato indicativo neste sentido foi a observação de que a população de Zutia não estava em equilíbrio de Hardy-Wein-berg para as duas esterases polimórficas, apresen-tando para a EST-1 um excesso de homozigotos.

O exame da similaridade genética de diferentes populações e uma análise mais extensa da popula-ção, objeto deste estudo preliminar, poderão indi-car qual dos processos é o principal responsável pe-la baixa variabilidade aparentemente existente nes-tas duas espécies de cigarrinhas-das-pastagens.

CONCLUSÕES

1. O polimorfismo cromático das asas é multo freqüente em Z. entreriana e raro em D. flavopicta. 2. A variabilidade alélica de locos que codificam isozimas não é muito elevada, o que coloca as duas espécies de cigarrinhas entre aquelas que apresen-tam um baixo grau de variabilidade genética.

3. As duas espécies são distintas, uma da outra, por 33,3% dos locos isoenzimáticos estudados.

4. As populações de ambas as espécies não esta-vam em equilíbrio de Hardy-Weinberg para a maio-ria dos locos polimórficos.

S. Existem evidências de uma correlação entre as freqüências alélicas dos locos polimórficos e de-terminados tipos de padrões das asas de Z. entre-riana. Isto permitiu construir um dendrograma de similaridade bioquímica indicando possíveis dife-renciações intra-específicas.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao Prof. C. Pavan e Dr. F.M. Sene, pela leitura crítica do manuscrito; a André Rogatko, pelo auxílio nos métodos de com-putação; à Sra. Thelma Picard Stünkel, pelo dese-nho das figuras; à FAPESP, pelo suporte financeiro (Biol. 7610086), e à EMBRAPA, pela bolsa de Pós-.Graduação concedida a um dos autores (Lyria Mori).

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Referências

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