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Comportamentos de risco e stress em trabalhadores do sector produtivo

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Academic year: 2021

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Ana Sofia Rodrigues Tavares é licenciada em Análises Clínicas e Saúde Pública e mestre em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública.

Submetido à apreciação: 18 de Maio de 2004. Aceite para publicação: 5 de Maio de 2005.

Comportamentos de risco e stress

em trabalhadores do sector produtivo

ANA SOFIA RODRIGUES TAVARES

Este estudo procurou identificar a prevalência de compor-tamentos de risco para a saúde auto-referidos pelos traba-lhadores activos de uma empresa do sector produtivo, dos quais se destacam o consumo de tabaco e de álcool, dieta inadequada (em gorduras saturadas e fibras) e inactividade física, assim como a prevalência de indivíduos com percep-ção negativa do estado de saúde, risco elevado de stress no local de trabalho e percepção positiva de stress. Foi ainda objectivo deste estudo analisar a associação entre estas variáveis e certas características sócio-demográficas da população em estudo. Foi também estudada a associação dos comportamentos de risco entre si e a associação entre o risco/percepção de stress e a percepção da saúde. Foi utilizada uma metodologia quantitativa, sendo um estudo observacional, transversal e descritivo com componente analítica. A população estudada foi constituída pelo con-junto dos trabalhadores activos de uma empresa do sector

produtivo da região de Lisboa. Como instrumento de recolha de dados foi utilizado um questionário de auto--resposta, confidencial e anónimo. Para o tratamento dos dados foram utilizadas técnicas de estatística descritiva, testes de significância estatística com p < 0,05 e análises de regressão logística.

60% dos inquiridos consideraram o seu estado de saúde «bom» e 35,3% consideraram-no «assim-assim». Em rela-ção à prevalência de comportamentos de risco auto-refe-ridos, verificou-se que 7,5% dos inquiridos apresentaram um consumo excessivo de gorduras saturadas e 67,5% apresentaram um consumo baixo de fibras; 18,2% dos inquiridos são bebedores excessivos; 28,3% dos inquiridos são fumadores e 23% são fisicamente inactivos. Quanto ao risco de stress no local de trabalho, 14,7% dos inqui-ridos apresentaram um risco elevado de stress e 37,6% referiram sentirem necessidade de reduzir o stress a que estavam sujeitos. Em relação à associação entre os com-portamentos de risco considerados e auto-referidos com a percepção da saúde e risco/percepção de stress, neste tra-balho não se encontrou, para a maioria dos comportamen-tos de risco em estudo e para a sua ocorrência conjunta, uma associação estatisticamente significativa com a per-cepção da saúde. No entanto, a hipótese de referir uma percepção negativa do estado de saúde foi aproximada-mente três vezes maior entre os ex-fumadores do que entre os não-fumadores. O consumo de tabaco, para além de ser o comportamento de risco mais prevalente, encon-trou-se estatisticamente associado ao consumo excessivo de álcool e ao consumo elevado de gorduras saturadas, o que pode contribuir para um sinergismo no aumento das doenças crónicas. A análise de variáveis associadas com o

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número de comportamentos de risco revelou que o género está relacionado com a ocorrência conjunta de comporta-mentos de risco auto-referidos pelos inquiridos.

Os resultados obtidos podem ajudar a encontrar estraté-gias de acção na empresa em causa e apoiar possíveis apli-cações em saúde pública, especialmente no que se refere a programas de promoção da saúde no local de trabalho que se centrem em fornecerem uma combinação de alterações de políticas e ambientes e diversas opções de intervenção e incentivos para a adopção de comportamentos e estilos de vida mais saudáveis.

Palavras-chave: comportamentos de risco; stress; taba-gismo; alcoolismo; promoção da saúde; saúde ocupacional; estilos de vida.

1. Introdução

As doenças não comunicáveis (DNC) estão a aumen-tar rapidamente em todo o mundo, tendo sido cal-culado que, em 2001, as doenças cárdio-vasculares (DCV), diabetes mellitus, obesidade, cancros e doen-ças respiratórias contribuíram aproximadamente com 60% das 56,5 milhões de mortes reportadas a nível mundial e aproximadamente 46% do peso global de doença. Para o ano de 2020 espera-se que a propor-ção do peso das DNC aumente para 57% (WHO, 2003a).

Nos últimos vinte anos tem sido dada uma atenção especial a certos comportamentos (consumo de tabaco, consumo excessivo de álcool, dieta rica em gorduras saturadas e pobre em fibras e inactividade física), uma vez que estes são considerados causas de morbilidade e mortalidade. Tais comportamentos de risco foram associados ao aumento da probabili-dade de desenvolver doenças cárdio-vasculares e uma variedade de cancros, estabelecendo-se que a sua combinação aumenta, substancialmente, o risco de desenvolver doenças crónicas. De facto, existe uma forte evidência de que alterações nos hábitos alimentares, na actividade física e no controlo do tabaco podem produzir rápidas alterações nos facto-res de risco da população e consequente impacte das doenças crónicas (não comunicáveis) na com-posição do peso de doença (WHO, 2003a). O tabagismo, os erros alimentares, os problemas liga-dos ao álcool, a inactividade física e os factores psi-cossociais de stress são os factores responsáveis pela maior parte das doenças e mortes em Portugal e nos outros países da Europa (PORTUGAL. INCP, 2002). Desta forma, as principais doenças não comunicáveis (DNC), tais como as doenças cárdio-vasculares, can-cros, doença pulmonar obstrutiva crónica e diabetes, estão ligadas por factores e comportamentos de risco comuns e preveníveis. O stress psicossocial também

foi identificado como sendo importante no desenvol-vimento das doenças crónicas, especialmente nas doenças cárdio-vasculares. Adicionalmente, há claras evidências de que as DNC são influenciadas por fac-tores sócio-económicos (WHO, 2002b).

Inúmeras investigações epidemiológicas, clínicas e experimentais estabeleceram a importância de hábi-tos e estilos de vida pouco saudáveis na ocorrência das doenças cárdio-vasculares. Além disso, demons-traram que vários destes factores são passíveis de redução através da mudança de estilo de vida. Tais mudanças foram monitorizadas através de estudos de prevalência que continuam a ser realizados periodi-camente em vários países (Fonseca et al., 1999). Por isso, é necessário que se consagre uma atenção par-ticular a factores e comportamentos como o consumo de tabaco e álcool, a alimentação, o excesso de peso e a obesidade, a insuficiente actividade física e a má gestão do stress, entre outros, na medida em que são causas subjacentes às principais doenças relacionadas com os estilos de vida.

Pretende-se, com este estudo, essencialmente, iden-tificar a prevalência de comportamentos de risco, percepção da saúde e o risco/percepção de stress numa população de trabalhadores activos de uma empresa do sector produtivo, bem como analisar a associação entre essas variáveis e as variáveis sócio--demográficas consideradas neste estudo. A opção pelo local de trabalho foi uma forma de aceder à população adulta. Os resultados obtidos irão possi-bilitar, de uma forma geral, o conhecimento da pre-valência de alguns comportamentos de risco acima referidos e também a percepção de saúde e risco/ percepção de stress numa pequena parcela da popu-lação activa portuguesa e contribuir, de uma forma particular, para o aumento/reforço da sensibilização dessa empresa, para a promoção de acções e activi-dades que levem os seus trabalhadores a adoptarem estilos de vida que se reflictam positivamente na sua saúde e bem-estar, tendo como princípio que todos os investimentos feitos nesta área, por mais peque-nos que sejam, reverterão, num futuro próximo, em ganhos na saúde da população trabalhadora que se repercutirão de forma positiva na produtividade e no bem-estar social.

2. Metodologia

O presente estudo foi efectuado através de um método quantitativo e observacional (com informa-ção colhida sistematicamente, sem qualquer interven-ção do investigador). É um estudo transversal e de cariz descritivo com componente analítica. A popula-ção estudada foi constituída pela totalidade dos

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traba-lhadores activos de uma empresa do sector produtivo da região de Lisboa.

A técnica utilizada no estudo para a recolha de dados foi o questionário. O instrumento de recolha de dados utilizado foi um questionário de auto-resposta, confi-dencial e anónimo, que foi distribuído a todos os tra-balhadores activos através do correio interno da empresa em estudo. O questionário utilizado foi construído a partir de outros instrumentos do mesmo tipo já usados. O questionário utilizado foi composto pelas seguintes secções: percepção do estado de saúde, frequência de consumo de gorduras saturadas e de fibras, peso e altura auto-referidos, consumo de álcool, actividade física, consumo de tabaco, risco de stress no local de trabalho e percepção do nível de stress a que se está sujeito, assim como caracteriza-ção sócio-demográfica.

O registo dos dados foi feito mediante a utilização do programa informático de tratamento estatístico SPSS (Statistic Package for Social Science), versão 10.0.

2.1. Variáveis

As variáveis independentes utilizadas neste estudo foram:

• Variáveis de caracterização sócio-demográficas: Idade;

Género;

Habilitações académicas completas; Nível de qualificação;

Categoria profissional; Antiguidade na empresa.

• Variáveis comportamentais auto-referidas: Consumo de tabaco;

Consumo de bebidas alcoólicas; Inactividade física;

Consumo de fibras e consumo de gorduras satu-radas.

As variáveis dependentes utilizadas neste estudo foram:

• Percepção do estado de saúde; • Risco de stress no local de trabalho;Percepção de stress.

2.2. Tratamento dos dados

Para o tratamento dos dados foram utilizadas técni-cas de estatística descritiva (distribuição de

frequên-cias, média, moda e mediana e desvio-padrão e variância) e testes de significância estatística com p < 0,05, tal como o teste do quiquadrado, o teste t-Student e testes não paramétricos, tais como o teste de Man-Whitney e o teste de Kruskal-Wallis. Foi realizada uma one-way anova e testes post hoc de comparação de médias, assim como análises de regressão logística utilizando um método de inclu-são forçada das variáveis e um método de stepwise forward.

3. Resultados 3.1. Taxa de resposta

O total de questionários aplicados foi de 814, obtendo-se o retorno de 274 questionários (33,7%), constituindo a amostra em estudo. A composição da amostra ficou, no final da fase de introdução dos dados, com 266 indivíduos, que representam 32,7% dos instrumentos enviados para preenchi-mento.

3.2. Dados sócio-demográficos

Dos 266 inquiridos, e no que diz respeito ao género, 74,1% são homens e 25,9% são mulheres.

A idade média da amostra foi de 42,05 anos (DP = 10,6), em que os homens têm uma média de idade um pouco superior (média = 43,42; DP = 9,92) à das mulheres (média = 38,19; DP = 10,29). O grupo etário dos 45 aos 54 anos é o mais representado (42% dos indivíduos).

Quanto às habilitações académicas, 23,6% da amos-tra tem menos de nove anos de escolaridade (30% dos homens e 5,9% das mulheres). Com o 12.o ano e licenciados ou grau superior, existem 19% (12.o ano: 17,4% dos homens e 23,5% das mulheres; licencia-dos ou grau superior: 14,2% licencia-dos homens e 32,4 das mulheres).

Relativamente ao nível de qualificação e à categoria profissional, verificou-se que o nível de qualificação predominante é o «profissional qualificado» (47,3% da amostra: 50,5% dos homens e 38,2% das mulhe-res), o que corresponde à categoria profissional «téc-nico operacional» como a mais representada (55% da amostra: 61,1% dos homens e 38,2% das mulheres). Constatou-se uma maior proporção de mulheres na categoria profissional «quadro» (33,8%) do que homens (22,1%).

Em relação à antiguidade na empresa, a maioria dos trabalhadores (36,7%) enquadra-se no escalão entre 21 e 30 anos.

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Tabela I

Dados sócio-demográficos

Homens Mulheres Total

n Percentagem n Percentagem n Percentagem

Idade (anos) 20-24 116 3,1 15 7,2 111 4,2 25-34 139 20,0 23 33,3 162 23,5 35-44 148 24,6 18 26,1 166 25,0 45-54 189 45,6 22 31,9 111 42,0 55-64 111 5,6 11 1,4 112 4,5 65 + 112 1,0 10 0 112 0,8 Habilitações académicas < 9.o ano 157 30,0 14 5,9 161 23,6 9.o ano 125 13,2 19 13,2 134 13,2 10.o ou 11.o 124 12,6 14 20,6 138 14,7 12.o 133 17,4 16 23,5 149 19,0 Frequência universitária 116 8,4 11 1,5 117 6,6 Bacharéis 118 4,2 12 2,9 110 3,9 Licenciados 127 14,2 22 32,4 149 19,0 Nível de qualificação Quadros superiores 129 15,3 19 13,2 138 14,7 Quadros médios 113 6,8 14 20,6 127 10,5 Encarregados 125 13 11 1,5 126 10,1

Profissões altam. qualificadas122 11,6 11 16,2 133 12,8

Profissões qualificadas 196 50,5 26 38,2 122 47,3 Profissões semiqualificadas 115 2,6 17 10,3 112 4,7 Categoria profissional Quadro 142 22,1 23 33,8 165 25,2 Técnico especializado 125 13,2 12 17,6 137 14,3 Técnico operacional 116 61,1 26 38,2 142 55,0 Técnico auxiliar 117 3,7 17 10,3 114 5,4

Antiguidade na empresa (anos)

1-5 145 23,6 27 39,7 172 27,8

6-10 111 5,8 16 8,8 117 6,6

11-20 145 23,6 17 25,0 162 23,9

21-30 180 41,9 15 22,1 195 36,7

31 e + 110 5,2 13 4,4 113 5,0

3.3. Prevalência dos comportamentos de risco em estudo

3.3.1. Consumo elevado de gorduras saturadas e consumo baixo de fibras

Quanto ao consumo de gorduras saturadas, 7,5% dos inquiridos apresentaram um consumo excessivo (8,1% dos homens e 5,8% das mulheres). Em relação ao consumo de fibras, 67,5% dos inquiridos apresen-taram um consumo baixo (67,3% dos homens e 68,1% das mulheres). Desta forma, 72,1% dos inqui-ridos apresentaram uma dieta inadequada e 27,9% apresentaram uma dieta adequada.

3.3.2. Consumo de álcool

Quanto ao consumo de álcool, observou-se um con-sumo médio de, aproximadamente, 20,48 g de álcool por dia (DP = 18,85), em que as mulheres apresenta-ram uma média de consumo de 4,89 g de álcool por dia (DP = 3,94) e os homens uma média de consumo de 22,82 g de álcool por dia (DP = 19,09).

3.3.3. Consumo de tabaco

No que diz respeito ao tabaco, verificou-se uma pre-valência de consumo de 28,3% (30,6% dos homens e

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21,7% das mulheres). Em média, o consumo é de 20,11 cigarros por dia (DP = 13,46), em que as mulheres apresentam uma média de 13 cigarros por dia (DP = 10,44) e os homens uma média de 21,88 cigarros por dia (DP = 13,62). Dos fumadores, 55,4% são grandes fumadores (20 ou mais cigarros por dia).

3.3.4. Inactividade física

Em relação à actividade física, 23% dos inquiridos são inactivos (25,9% dos homens e 14,9% das mulheres).

3.4. Ocorrência conjunta de comportamentos de risco

Relativamente à ocorrência conjunta (número) de comportamentos de risco, verificou-se que 37,2% dos inquiridos possuíam um dos comportamentos de risco considerados, 13,2% possuíam dois desses comporta-mentos e 2,3% dos inquiridos possuíam três dos com-portamentos. Não se observou nenhum inquirido com os quatro comportamentos de risco considerados.

No que diz respeito aos inquiridos que possuíam apenas um comportamento de risco, verificou-se que o comportamento de risco mais prevalente era o con-sumo de tabaco (14,7%), seguido da inactividade física (13,5%), consumo excessivo de álcool (8,6%) e, por fim, consumo elevado de gorduras saturadas e baixo consumo de fibras (0,75%).

3.5. Percepção da saúde

Em geral, os inquiridos classificaram o seu estado de saúde actual como sendo «bom» (61,1%) ou «assim--assim» (35,3%). Apenas 2,0% dos inquiridos classi-ficaram o seu estado de saúde com sendo «muito bom» e 1,6% como sendo «mau». Não se registou nenhum caso que auto-avaliasse esse estado como sendo «muito mau».

3.6. Risco de stress e percepção de stress

Em relação ao risco de stress no local de trabalho, 14,7% dos inquiridos (13,7% dos homens e 17,4% das mulheres) apresentaram um risco elevado de

Tabela II

Prevalência dos comportamentos de risco

Homens Mulheres Total

n Percentagem n Percentagem n Percentagem

Consumo de gordura saturada

Baixo 199 50,3 41 59,4 140 52,6 Médio 182 41,6 24 34,8 106 39,8 Elevado 116 8,1 14 5,8 120 7,5 Consumo de fibras Baixo 132 67,3 47 68,1 179 67,5 Médio 135 17,9 13 18,8 148 18,1 Elevado 129 14,8 19 13,0 138 14,3

Classificação quanto ao consumo Álcool Abstinente 155 28,2 48 69,8 103 39,0 Bebe moderadamente 193 47,7 20 29 113 42,8 Bebe excessivamente 147 24,1 11 1,4 148 18,2 Actividade física Suficientemente activo 119 63,0 48 71,6 167 65,2 Altamente activo 121 11,1 19 13,4 130 11,7 Inactivo 149 25,9 10 14,9 159 23,0

Classificação quanto ao consumo de tabaco

Não-fumador 178 39,8 36 52,2 114 43,0

Ex-fumador 158 29,6 18 26,1 176 28,7

Fumador 160 30,6 15 21,7 175 28,3

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stress, verificando-se que 37,6% dos inquiridos (35,4% dos homens e 44,1% das mulheres) referiram sentirem necessidade de reduzir o stress a que esta-vam sujeitos.

3.7. Outras variáveis

No que diz respeito ao índice de massa corporal (IMC), verificou-se que mais de 50% dos inquiridos apresentam um IMC superior ao normal, existindo apenas quatro casos de magreza (1,5%). 41,3% dos inquiridos têm excesso de peso e existem 12,9% dos inquiridos com obesidade de grau I e 1,9% dos

inquiridos com obesidade de grau II. Verificou-se

um caso com obesidade de grau III.

A média do IMC é de 25,954 (DP = 3,942), com o género feminino a apresentar um IMC médio de 23,733 (peso normal) e o género masculino a apresentar um IMC médio de 26,724 (excesso de peso).

3.8. Hipóteses de investigação

Relativamente às hipóteses de investigação do estudo, verificou-se a existência de associações esta-tisticamente significativas entre o facto de ser ex--fumador e ter uma percepção negativa do estado de saúde (p < 0,05), entre ser altamente activo e ter uma percepção positiva do estado de saúde (p < 0,05) e, contrariamente ao que se esperava, ter uma dieta ina-dequada e ter uma percepção positiva do estado de saúde (p < 0,05) .

No que diz respeito ao género e ao número de com-portamentos de risco, verificou-se uma associação estatisticamente significativa (p < 0,05) entre o género e o número de comportamentos de risco. Desta forma, entre os inquiridos verificou-se uma afinidade entre ser mulher e não ter nenhum compor-tamento de risco e entre ser homem e ter pelo menos um comportamento de risco.

No que respeita à percepção do estado de saúde e ao género, verificou-se que a percepção do estado de

Tabela III

Outras prevalências

Homens Mulheres Total

n Percentagem n Percentagem n Percentagem

Classificação do estado de saúde

Muito bom 113 1,6 12 3,1 115 2,0 Bom 113 60,4 41 63,1 154 61,1 Assim-assim 168 36,4 21 32,3 189 35,3 Mau 113 1,6 11 1,5 114 1,6 Risco de stress no LT Baixo 170 86,3 57 82,6 227 85,3 Elevado 127 13,7 12 17,4 139 14,7

Necessidade de reduzir nível de stress Sim 169 35,4 30 44,1 199 37,6 Não 151 26,2 14 20,6 165 24,7 IMC Magreza 111 0,5 13 4,4 114 1,5 Peso normal 168 34,7 43 63,2 111 42,0 Excesso de peso 191 46,4 18 26,5 109 41,3 Obesidade grau I 130 15,3 14 5,9 134 12,9 Obesidade grau II 115 2,6 10 0 115 1,9

Obesidade grau III 111 0,5 10 0 111 0,4

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Tabela V

Análise de prevalência do número de comportamentos de risco vs. género

Característica em análise Género feminino Género masculino Valor de p

Nenhum 46 (66,7%) 79 (40,1%)

Pelo menos um 23 (33,3%) 118 (59,9%)

Total 69 (100%) 197 (100%)

p = probabilidade de erro associado ao teste estatístico χ2.

Número de comportamentos de risco < 0,001

Tabela IV

Análise de prevalência do consumo de tabaco, actividade física e dieta vs. percepção do estado de saúde

Percepção do estado saúde Positiva Negativa Total

45 26 71 (63,4%) (36,6%) (100%) 80 28 108 (74,8%) (25,2%) (100%) 33 39 72 (45,8%) (54,2%) (100%) 91 65 156 (58,3%) (41,7%) (100%) 24 5 29 (82,8%) (17,2%) (100%) 41 18 59 (69,5%) (30,5%) (100%) 34 33 67 (50,7%) (49,3%) (100%) 125 60 185 (67,6%) (32,4%) (100%)

Característica em análise Valor de p

Fumador Não fumador Ex-fumador Suficientemente activo Altamente activo Inactivo Adequada Inadequada Consumo de tabaco 0,001 Actividade física 0,025 Dieta 0,014 Tabela VI

Análise entre a percepção de stress e o género

Característica em análise Género feminino Género masculino Valor de p

Positiva 30 (68,2%) 69 (57,5%) Negativa 14 (31,8%) 51 (42,5%)

Total 44 (100%) 120 (100%)

p = probabilidade de erro associado ao teste χ2.

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saúde era homogénea em ambos os géneros, podendo ser assumido, de acordo com os resultados estatísti-cos, que a percepção do estado de saúde é indepen-dente do género.

Quanto à percepção de stress vs. género, verificou-se, através dos testes de associação, que uma percepção positiva de stress está estatisticamente associada ao género feminino (p < 0,05).

Quanto à hipótese «as pessoas de menor nível de qualificação tendem a estar sujeitas a maior risco de stress no local de trabalho», através do teste one-way anova verificou-se, de facto, que o risco de stress diferia significativamente consoante o nível de quali-ficação que os inquiridos possuíam (teste F = 3,275, com nível de significância associado = 0,007, valor < 0,05).

Através da análise de tendência verificou-se que o risco de stress nos seis níveis de qualificação era dominado pelo efeito linear (sendo o único estatistica-mente significativo: p = 0,001), o que leva a concluir pela existência de um crescimento linear do risco de stress à medida que o nível de qualificação baixa. No que respeita à hipótese «as pessoas com menos habilitações académicas e menor nível de qualifica-ção tendem a ter uma percepqualifica-ção negativa do seu estado de saúde», e face aos valores estatísticos encontrados (valores de χ2 e K. W. com p < 0,05), pode admitir-se que as pessoas com menos habilita-ções académicas e menor nível de qualificação têm uma pior percepção do seu estado de saúde do que aquelas com mais habilitações académicas e maior nível de qualificação.

Tabela VIII

Análise entre a percepção de stress e a percepção do estado de saúde

Percepção Percepção Valor positiva do E. S. negativa do E. S. de p

Positiva 50 (54,9%) 41 (45,1%) 91 (100%) Negativa 45 (72,6%) 17 (27,4%) 62 (100%)

p = probabilidade de erro associado ao teste χ2.

Característica em análise Total

Tabela VII

Análise de prevalência das habilitações académicas/nível de qualificação e percepção do estado de saúde

Percepção Percepção Valor positiva do E. S. negativa do E. S. de p Ens. sec. 88 (51,8%) 82 (48,2%) 170 (100%) Ens. sup. 67 (90,5%) 7 (9,5%) 174 (100%) Qua. sup. 31 (86,1%) 15 (13,9%) 136 (100%) Qua. méd. 22 (84,6%) 14 (15,4%) 126 (100%) Enc., chefe 10 (43,5%) 13 (56,5%) 123 (100%) Prof. alt. qual. 20 (62,5%) 12 (37,5%) 132 (100%) Prof. qual. 67 (58,3%) 48 (41,7%) 115 (100%) Prof. semiqual. 15 (41,7%) 17 (58,3%) 112 (100%)

p = probabilidade de erro associado ao teste χ2.

Notas: E. S. = estado de saúde; ens. sec. = ensino secundário e inferior; ens. sup. = ensino superior; qua. sup. =

quadro superior; qua. méd. = quadro médio; enc., chef = encarregado, chefe; prof. alt. qual. = profissional altamente qualificado; prof. qual. = profissional qualificado; prof. semiqual. = profissional semiqualificado.

Característica em análise Total

Habilitações académicas < 0,001

Nível de qualificação 0,001

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No que toca à hipótese de existir uma inter-relação entre a percepção de stress e a percepção do estado de saúde, independentemente do género, entre os inquiridos, verificou-se uma associação estatisti-camente significativa entre não sentir necessidade de reduzir o nível de stress a que se está sujeito e ter uma percepção positiva do estado de saúde (p < 0,05).

No que concerne a uma possível associação entre o consumo de bebidas alcoólicas e o consumo de tabaco entre os inquiridos, verificou-se uma associa-ção estatisticamente significativa entre ser abstinente e não ser fumador e ser bebedor excessivo e ser fumador (p < 0,05), podendo ser assumido, de acordo com os resultados estatísticos obtidos, que existe uma associação estatisticamente significativa entre o con-sumo de álcool e o concon-sumo de tabaco.

Entre os inquiridos verificou-se uma associação esta-tisticamente significativa entre o consumo de tabaco e o consumo de gorduras saturadas (p < 0,05). De facto, verificou-se que os não-fumadores e os ex--fumadores tendem a ter um baixo consumo de gor-duras saturadas, enquanto os fumadores tendem a ter um consumo médio de gorduras saturadas. Compara-tivamente, constata-se que 13,3% dos fumadores têm um consumo elevado de gorduras saturadas, contra 5,3% dos não-fumadores e ex-fumadores.

3.9. Outras associações investigadas

Quanto à análise de possíveis associações entre as variáveis em estudo (percepção do estado de saúde, consumo de tabaco, álcool, dieta e actividade física,

Tabela X

Análise entre o consumo de tabaco e o consumo de gordura saturada

Característica em análise Não-fumador Fumador Ex-fumador Valor de p

Classificação quanto ao consumo de gorduras saturadas

Baixo 160 (52,6%) 30 (40%)11 49 (64,5%)

Médio 148 (42,1%) 35 (46,7%) 23 (30,3%) 0,020

Elevado 16 (5,3%) 10 (13,3%) 4 (5,3%)

Total 114 (100%) 75 (100%) 76 (100%)

p = probabilidade de erro associado ao teste χ2.

Tabela IX

Análise entre o consumo de bebidas alcoólicas e o consumo de tabaco

Característica em análise Não-fumador Fumador Total Valor de p

Classificação quanto ao consumo de álcool

Abstinente 57 (71,3%) 23 (28,8%) 80 (100%)

Bebedor moderado 47 (58,8%) 33 (41,3%) 80 (100%) 0,034

Bebedor excessivo 10 (34,5%) 19 (65,5%) 29 (100%)

(10)

assim como risco de stress no local de trabalho) e a idade, constatou-se que existia uma associação esta-tisticamente significativa entre a percepção do estado de saúde e a idade, em que se verificou que a preva-lência de indivíduos com percepção negativa do estado de saúde foi maior entre aqueles que perten-ciam a grupos etários mais velhos (45 aos 65 e mais anos) quando comparados com grupos etários mais jovens (20 aos 44 anos); verificou-se uma associação estatisticamente significativa (p < 0,05) entre o con-sumo de tabaco e a idade, em que as pessoas mais novas tendiam a ser fumadoras e as pessoas mais velhas ex-fumadoras. Entre os inquiridos verificou--se uma associação estatisticamente significativa (p < 0,05) entre o consumo de álcool e a idade, veri-ficando-se que, entre os inquiridos, os bebedores excessivos tendiam a ter idades superiores aos 44

anos de idade. Verificou-se ainda que existia uma associação estatisticamente significativa entre perten-cer a um grupo etário mais jovem e ser altamente activo (p < 0,05) e que, entre os inquiridos, as pes-soas mais jovens estão sujeitas a um risco de stress mais elevado no local de trabalho do que as pessoas mais velhas (v. Tabela XI).

3.10. Análise logística

A análise de regressão logística foi efectuada utili-zando um método de inclusão forçada das variáveis e um método de stepwise forward, dando origem a um modelo final significativo que continha variáveis que explicavam o facto de um inquirido ter uma auto-avaliação negativa do seu estado de saúde. As

Tabela XI

Análise de prevalência da percepção do estado de saúde, consumo de tabaco, consumo de álcool, dieta e actividade física e risco de stress por grupo etário

Grupo etário Grupo etário (20-44 anos de idade) (45 aos 65 e + anos)

Percepção do estado de saúde

Positiva 109 (80,7%) 149 (42,6%)

Negativa 926 (19,3%) 166 (57,4%)

Total 135 (100%) 115 (100%)

Não-fumador 165 (46,8%) 149 (39,5%)

Classificação quanto ao consumo de tabaco

Fumador 50 (36%) 1124 (19,4%)

Ex-fumador 1124 (17,2%) 1151 (41,1%)

Total 139 (100%) 124 (100%)

Abstinente 165 (47,1%) 137 (29,8%)

Classificação quanto ao consumo de álcool

Bebedor moderado 58 (42%) 155 (44,4%)

Bebedor excessivo 115 (10,9%) 132 (25,8%)

Total 138 (100%) 124 (100%)

Suf. activo 1 181 (59,1%) 184 (71,8%)

Categorização quanto à actividade física

Altamente activo 125 (18,3%) 115 (4,3%) Inactivo 132 (22,6%) 1128 (23,9%) Total 37 (100%) 117 (100%) Baixo 112 (80,6%) 113 (90,4%) Risco de stress no LT Elevado 127 (19,4%) 12 (9,6%) Total 139 (100%) 125 (100%)

p = probabilidade de erro associado ao teste χ2.

Característica em análise Valor de p

<0,001

< 0,001

< 0,001

< 0,002

(11)

variáveis independentes consideradas eram o con-sumo de tabaco, concon-sumo excessivo de álcool, inac-tividade física, dieta inadequada e risco de stress no local de trabalho, tendo sido feita, no modelo final, uma estratificação por grupo etário, habilitações aca-démicas e nível de qualificação. Este modelo final classificou correctamente 75,4% dos casos em ter-mos globais (aproximadamente 80% dos que percepcionaram positivamente o seu estado de saúde e aproximadamente 68% dos que percepcionaram negativamente o seu estado de saúde), revelando ser um bom modelo.

No modelo final, em que apenas se considerou a variável tabaco e as variáveis de caracterização sócio-demográficas, grupo etário, habilitações acadé-micas e nível de qualificação (pois foram as únicas variáveis que apresentaram diferenças estatistica-mente significativas com a percepção do estado de saúde), verificou-se que, para α = 10%, os ex-fuma-dores apresentaram um OR > 1 (1,962), o que signi-fica que os ex-fumadores têm uma percepção nega-tiva do seu estado de saúde duas vezes maior do que os não-fumadores (valor de referência), o grupo etário mais velho (45 aos 65 e mais anos) avaliou cinco vezes mais negativamente o seu estado de saúde em relação ao grupo etário mais jovem (21 aos 44 anos) e os indivíduos com habilitações académi-cas ao nível do ensino superior avaliaram o seu estado de saúde oito vezes menos de forma negativa do que os indivíduos com o ensino secundário ou inferior. Não se verificou uma relação estatistica-mente significativa entre o nível de qualificação e a percepção do estado de saúde.

4. Discussão

O presente estudo teve como principal finalidade identificar a prevalência de comportamentos de risco auto-referidos, tais como o consumo de tabaco, álcool, dieta inadequada (em gorduras saturadas e fibras) e inactividade física, a percepção do estado de saúde e o risco/percepção de stress numa população de trabalhadores activos de uma empresa do sector produtivo. Teve ainda como finalidade analisar as possíveis associações entre essas variáveis e algumas variáveis sócio-demográficas consideradas neste estudo.

Antes de serem discutidas as possíveis implicações dos resultados encontrados é necessário fazer refe-rência a algumas questões metodológicas.

De facto, este estudo apresenta uma série de limita-ções. Dada a natureza do tipo de desenho de inves-tigação utilizado (estudo transversal), as eventuais associações de variáveis não permitem inferir, mas

apenas intuir, relações causais. Para além desta limi-tação, este estudo apresenta outras limitações, que serão seguidamente descritas.

Quanto à metodologia utilizada para recolha de infor-mação, cujo instrumento foi um questionário de auto--resposta, apesar de ter apresentado vantagens, que não se referem só à diminuição de custos e do tempo necessário para desenvolver a investigação, apresen-tou a desvantagem de ser pouco acessível, no que diz respeito a algumas questões, a certos segmentos da empresa, o que poderá comportar potenciais vieses. A taxa de resposta obtida neste estudo (33,7%), embora não seja alta, vai ao encontro do referenciado na literatura, pois o principal inconveniente dos ques-tionários auto-administrados por via postal é a extre-mamente reduzida taxa de resposta, podendo descer, segundo alguns autores, até 10% (Ghiglion e Matalon, 2001). Desta forma, para além do já apon-tado, outros factores podem ser explicativos da baixa taxa de resposta obtida, dos quais se destacam: o facto de não ter sido noticiada previamente junto dos trabalhadores a distribuição de um questionário para estudo de comportamentos de risco relacionados com a saúde e percepção do estado de saúde e risco/per-cepção de stress; a convocatória ter sido feita por via postal (correio interno da empresa) como forma de contactar os indivíduos (o que se justificou por moti-vos operacionais); a extensão e complexidade do próprio questionário, que, apesar de não ser dema-siado grande nem complexo, exigia algum tempo e atenção, o que poderá ter provocado a não resposta de pessoas muito ocupadas ou pouco letradas. Por outro lado, apesar de ser referido que o questionário era de cariz anónimo, na altura da distribuição dos questionários a empresa estava num processo de tran-sição, o que poderá ter colocado as pessoas numa situação de desconfiança e defesa.

No que diz respeito à validade interna, esta pode estar comprometida, quer devido ao instrumento uti-lizado, quer devido à taxa de resposta obtida. No entanto, através da análise comparativa entre as variáveis sócio-demográficas, género, idade, habilita-ções académicas e nível de qualificação, em que se comparou a percentagem/proporção destas na amos-tra com as da população da empresa em geral, não se encontraram diferenças percentuais consideráveis. De facto, não se encontraram grandes diferenças per-centuais entre a amostra em estudo e a população geral da empresa no que respeita às variáveis sócio--demográficas consideradas, não parecendo, em prin-cípio, que a amostra venha a ser responsável por enviesamentos siginificativos, podendo ser aparente-mente extrapolados os resultados obtidos neste estudo para a população em geral da empresa, sem grandes riscos de distorções graves.

(12)

Quanto à validade externa, a limitação tem a ver com o grau de generalização dos resultados, dada a dimensão e representatividade da amostra na popula-ção. Este estudo tem uma base institucional, não estando representada toda a população de trabalhado-res activos do sector produtivo existente em Portugal, pelo que não se podem, assim, generalizar os resul-tados obtidos. Desta forma, as conclusões retiradas deste trabalho, e com as limitações já apontadas, só serão válidas para a população em estudo.

Uma outra limitação deste estudo é basear-se em medidas de auto-avaliação, cujos problemas de vali-dade estão bem documentados (Abramson, 1990), nomeadamente os potenciais enviesamentos, devido a serem baseados na memória para avaliar tanto a exposição a certos comportamentos de risco conside-rados (por exemplo, dieta, consumo de álcool, inac-tividade física) como o risco de stress no local de trabalho ou a percepção de stress e ainda devido à tendência para ocultar ou subestimar certos compor-tamentos de risco que são socialmente indesejáveis (Sahar et al., 1999). Desta forma, a tendência para sub-reportar certos comportamentos de risco para a saúde faz com que haja uma subestimação do efeito destes sobre a saúde, assim como a avaliação da pre-valência na população estudada (Lantz et al., 1998).

5. Conclusão

Os resultados obtidos neste estudo sugerem uma ele-vada prevalência de consumo de tabaco, consumo excessivo de álcool e inactividade física, assim como uma elevada percentagem de indivíduos com dieta inadequada, excesso de peso e obesidade de diversos graus.

Apesar de a prevalência de trabalhadores com per-cepção negativa do estado de saúde ter sido inferior à observada no INS 1998/1999 para a população de trabalhadores activos, é de salientar que 36,9% dos trabalhadores têm uma percepção negativa do seu estado de saúde, sendo predominante e estatistica-mente significativa entre os trabalhadores mais velhos. As prevalências encontradas para o risco de stress no local de trabalho e a percepção de stress também são de considerar.

Neste trabalho não se encontrou para a maioria dos comportamentos de risco em estudo e para a sua ocorrência conjunta uma associação estatisticamente significativa com a percepção do estado de saúde

(o que poderá ter sido devido à dimensão das obser-vações em causa).

O consumo de tabaco, para além de ser o comporta-mento de risco mais prevalente [a prevalência de fumadores encontrada neste estudo é bastante ele-vada (28,3%), sendo superior à encontrada pelo INS para a população em geral com 10 ou mais anos (19,2%) e também superior à prevalência encontrada no estudo de Barros e Nahas (2001) em trabalhadores da indústria brasileira], encontrou-se estatisticamente associado ao consumo excessivo de álcool e ao con-sumo elevado de gorduras saturadas, o que pode contribuir para um sinergismo no aumento das doen-ças crónicas.

Entre os inquiridos, a diferença na prevalência de consumo de tabaco entre os géneros não foi estatis-ticamente significativa, o que leva a crer que o padrão encontrado entre os inquiridos acompanha o padrão dos países desenvolvidos, onde a diferença entre homens e mulheres é pequena.

Os inquiridos mais jovens estão mais expostos ao consumo de tabaco, ao consumo de gorduras satura-das e a um risco de stress mais elevado no local de trabalho do que os inquiridos mais velhos.

Os homens, de um modo geral, estão mais expostos a comportamentos de risco, tais como o consumo de tabaco, consumo excessivo de álcool, consumo ele-vado de gorduras saturadas e inactividade física, assim como um IMC superior ao normal, que têm impacto directo sobre a saúde.

As mulheres, apesar de apresentarem também uma exposição elevada quanto ao consumo de tabaco, estão mais expostas a uma percepção positiva de stress, ou seja, sentem uma maior necessidade de reduzirem o nível de stress a que estão sujeitas no dia a dia, tomando a forma de risco indirecto para a saúde.

Aqueles que não promovem a sua saúde (por exem-plo, consumidores excessivos de álcool e indivíduos com dieta inadequada) sentem-se igualmente de boa saúde, o que levanta inúmeras questões quanto à difi-culdade de mudar hábitos e estilos de vida em quem se sente de boa saúde (Natário, 1992).

Os resultados obtidos neste estudo enaltecem o quão importante é que as intervenções desenhadas com o intuito de prevenir as DNC sejam dirigidas quer aos indivíduos, quer às organizações, uma vez que os comportamentos de risco circulam entre estes dois meios e não podem ser desintegrados de um contexto social e cultural em que ocorrem.

(13)

Referências bibliográficas

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Abstract

HEALTH RISK BEHAVIOURS AND STRESS IN PRODUC-TION SECTOR WORKERS

The aim of this study was to search the prevalence of health risk behaviours, such as cigarette smoking, alcohol consump-tion, inadequate diet and exercise, and perception of (negative) self rated health and high risk of stress at work, among em-ployees working in a enterprise of a production sector. Its objective was to analyse the association between this variables and certain socio-demographic characteristics, and the associa-tion between the risk behaviours and the associaassocia-tion of the risk/perception of stress and self rated health. The method was a cross-sectional study in a population of employees working in an enterprise. The data were collected through self-admin-istered questionnaires. Statistical analysis was performed using descriptive statistic, signification tests statistics with p < 0,05, and logistic regression analysis. 60% of the subjects reported «good health» and 35,3% reported «thus thus». The prevalence of excessive consumption of saturated fats was 7,5% ad 67,5% of the subjects reported a low consumption of fibers; 18,2% a high consumption of alcohol and 28,3% were smokers and 23% were physically inactive. 14,7% of the subjects demon-strate a high risk of stress. In this study, we did not find any association between the so considered major risk behaviours with the perception of health and risk/perception of stress. Cigarette consumption, the most prevalent risk behavior, was statistically associated with high consumption of alcohol and high consumption of saturated fats, which could elevate the synergism of chronic diseases. The analysis of variables asso-ciated with the number of risk behaviors, showed that the gen-der is related with the co-occurrence of the self-reported health risk behaviours. These results can help to find strategies for action in the enterprise in study, and support possible applica-tion in public health, specially in promoting healthy lifestyles among staff, which can be focused in a combination of policies and environments.

Keywords: risk behavior; stress; smoking; alcoholism; health promotion; occupational health; life styles.

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Tabela II
Tabela III
Tabela IV
Tabela VIII
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Referências

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