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Preditores de agressão sexual em delinquentes

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Academic year: 2021

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Preditores de agressão sexual em delinquentes

Dissertação de Mestrado em Psicologia Clínica

Eduarda Zenaida Gomes Ramião Orientador: Professor Doutor Ricardo Barroso

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Preditores de agressão sexual em delinquentes

Dissertação de Mestrado em Psicologia Especialização em Psicologia Clínica

Eduarda Zenaida Gomes Ramião

Orientador: Professor Doutor Ricardo Barroso

Composição do Júri:

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Agradecimentos

Ao Professor Doutor Ricardo Barroso pelo incentivo para que eu abraçasse esta área tão enriquecedora e por toda a dedicação ao longo deste processo. Pela partilha dos seus conhecimentos, e por toda a excelente orientação, disponibilidade, apoio e confiança.

À Mami por permitir que eu seja uma Zenaidinha de que tanto me orgulho, por estar sempre presente em tudo o que é tão importante ao longo da minha vida, por todo o apoio e incentivo e por em todos os momentos ser a maior/melhor mestre que alguém pode ter/conhecer.

À Nicas por sempre ter assumido o papel de irmã mais velha, ser uma inspiração e me ter incentivado e apoiado em todos os momentos.

Ao João pelo amor, companheirismo, paciência e todo o apoio incondicional.

A toda a minha família e amigas(os) que em diversos momentos tiveram uma palavra de carinho e incentivo.

A todas(os) que direta e indiretamente fizeram parte da minha formação, o meu muito obrigada!

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Índice

Agradecimentos………. v

Lista de Tabelas……… ix

Lista de Siglas e Acrónimos……….. x

Introdução……….xii

I PARTE Preditores de agressão sexual em delinquentes: Revisão Teórica I Parte – Artigo Teórico……….... 1

Resumo………... 5

Abstract……….... 6

Enquadramento teórico……… 7

Delinquência Juvenil……… 9

Violência Sexual Juvenil……… 12

Fatores explicativos para a Violência Sexual Juvenil……… 14

Conclusão………... 19

Referências………. 23

II PARTE Preditores de agressão sexual em delinquentes II Parte – Artigo Empírico……….. 28

Resumo………...…… 31 Abstract ………..… 32 Enquadramento teórico ...………. 33 Método……… 41 Participantes……… 41 Instrumentos……… 43

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Grelha de recolha de dados processuais……….…. 43

YSR – Youth Self Report……… 44

Questionário de Agressão (QA)……….. 45

Escala de Fantasias Sexuais de Wilson (EFS-W)………... 46

Procedimentos………. 48 Análise Estatística………... 49 Considerações Éticas………... 51 Resultados………... 52 Discussão……… 62 Referências………. 69

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Lista de Tabelas

Tabela 1 Caracterização da amostra

Tabela 2 Caracterização etária nos três grupos amostrais

Tabela 3a Resultados dos valores de consistência interna do Questionário YSR Tabela 3b Resultados dos valores de consistência interna do Questionário YSR

(continuação)

Tabela 4 Resultados dos valores de consistência interna do Questionário de Agressão

Tabela 5 Resultados dos valores de consistência interna da EFS-W – Escala de Fantasias Sexuais de Wilson

Tabela 6 Percentagem de incidência de potenciais preditores e nível de significância entre JAS-V e JAS-A

Tabela 7 Percentagem de incidência de potenciais preditores e nível de significância entre JANS e JAS-V

Tabela 8 Percentagem de incidência de potenciais preditores e nível de significância entre JANS e JAS-A

Tabela 9 Preditores de agressão sexual: comparação entre JAS-V e JAS-A – Regressão Logística

Tabela 10 Preditores de agressão sexual: comparação entre JANS e JAS-V – Regressão Logística

Tabela 11 Preditores de agressão sexual: comparação entre JANS e JAS-A – Regressão Logística

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Lista de Siglas e Acrónimos

ANOVA Análise de Variância

CDOPP Código Deontológico da Ordem dos Psicólogos Portugueses DGRSP Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais

DSM Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais EFS-W Escala de Fantasias Sexuais de Wilson

IATSO International Association for the Treatment of Sexual Offenders JANS Jovens Agressores Não Sexuais

JAS Jovens Agressores Sexuais

JAS-A Jovens Agressores Sexuais Abusadores sexuais de Crianças JAS-V Jovens Agressores Sexuais Violadores

LTE Lei Tutelar Educativa QA Questionário de Agressão

SPSS Statistical Package for the Social Science WISC Escala de Inteligência de Wechsler YSR Youth Self Report

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Introdução

A delinquência juvenil assume um carácter polimorfo que engloba diversas formas de comportamento. Embora a delinquência juvenil não seja um assunto contemporâneo, os primeiros trabalhos sobre a violência sexual centram-se quase exclusivamente em agressores sexuais adultos. Atualmente existe uma maior atenção, por parte de diversas entidades, quer a nível internacional, quer nacional, às agressões sexuais perpetradas por jovens agressores, uma vez que os primeiros atos de violência sexual poderão começar na adolescência e prolongar-se até à idade adulta. Estudos acerca de jovens agressores sexuais (JAS) têm ganho reconhecimento por

investigadores e profissionais da área, procurando-se compreender o aparecimento e evolução dos agressores sexuais, bem como o que leva alguns adolescentes a terem comportamentos sexualmente agressivos.

Os JAS poder-se-ão distinguir de outros jovens agressores, existindo fatores explicativos das agressões sexuais, diferentes de outras agressões cometidas por jovens agressores não sexuais (JANS). Explicações teóricas sobre o agressor sexual na

adolescência tendem a se concentrar em fatores específicos do delito, ou seja, em características da vítima (e.g., idade da vítima) e do agressor e no tipo de agressão perpetrada. Os atos sexualmente violentos poderão incluir violações, abuso sexual, coação sexual, prostituição forçada e tráfico para exploração sexual. No entanto, os atos sexuais mais comuns, cometidos por jovens menores de idade, abrangem as violações e os abusos sexuais a outros menores. Os fatores explicativos, e os de risco, para a prática das agressões sexuais, e de que forma é que JAS se distinguem de outros jovens

delinquentes em termos destes fatores, permanecem em pesquisa.

A presente investigação pretende alargar o âmbito das perspetivas existentes, contribuindo para o estudo dos fatores de risco inerentes à prática de agressões sexuais

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cometidas por menores. O conhecimento pormenorizado das características dos JAS poderá ter utilidade científica em diversas realidades, como no âmbito da psicologia clínica e forense, permitindo a prevenção, avaliações psicológicas e intervenções psicoterapêuticas mais específicas e melhoradas.

No que diz respeito à estruturação da presente dissertação de mestrado, esta engloba duas partes: a primeira corresponde à componente teórica do estudo e apresenta um enquadramento teórico com base nos resultados e várias pesquisas teóricas e

empíricas no âmbito da delinquência juvenil e da violência sexual juvenil. A segunda parte diz respeito a um estudo empírico que teve como objetivo explorar quais os fatores que predizem a agressão sexual e quais os fatores que diferenciam os grupos de jovens agressores sexuais de jovens agressores não sexuais, subdividindo o grupo dos JAS pelo tipo de crime praticado (violadores e abusadores sexuais de crianças). Pretende-se que os resultados sejam revistos à luz de outras perspetivas existentes e implicações

metodológicas, contribuindo para o desenvolvimento da teoria, bem como uma possível avaliação, intervenção na violência sexual juvenil.

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I PARTE ARTIGO TEÓRICO

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Preditores de agressão sexual em delinquentes: Revisão Teórica Eduarda Z. Ramião & Ricardo Barroso

Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Notas de autor

Eduarda Ramião e Ricardo Barroso, Departamento de Educação e Psicologia, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Correspondência acerca deste artigo deve ser endereçada para Eduarda Ramião, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Departamento de Educação e

Psicologia, Quinta de Prados, Edifício Complexo Pedagógico – Apartado 1013, 5001-801 Vila Real. E-mail: eduarda_ramiao@hotmail.com

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Resumo

A violência sexual juvenil constitui-se como uma das formas de violência mais grave. Avaliar os preditores deste comportamento agressivo pode ajudar a entender a sua trajetória, bem como contribuir para o desenvolvimento de intervenções psicológicas. Até ao momento as pesquisas incidem nos jovens agressores sexuais, quais os seus fatores explicativos e em que medida as subcategorias deste grupo de jovens se distinguem entre si e de outros jovens delinquentes. Sabe-se que os jovens agressores sexuais apresentam características heterogéneas, podendo os tipos de crimes sexuais diferir em relação às características da vítima (e.g., idade da vítima), características dos agressores e tipo de agressão praticada. Quando comparados jovens agressores sexuais com outros jovens delinquentes, as categorias em estudo abrangem, na maioria das vezes, os fatores individuais, socioculturais e do delito dos jovens agressores sexuais. Os resultados sugerem que estes jovens são semelhantes aos jovens agressores não sexuais nas suas tendências antissociais, mas significativamente diferentes noutras categorias (e.g., fatores específicos do delito). Numa análise ainda mais pormenorizada, verifica-se que os jovens agressores violadores diferem dos jovens agressores abusadores sexuais de crianças, apresentando maiores índices de comportamentos de externalização. Persiste a necessidade de realização de estudos para se percecionar detalhadamente quais os fatores explicativos para a prática das tipologias de violência sexual juvenil e de que modo é que estes jovens se diferenciam de outros jovens agressores, possibilitando a avaliação e intervenção focalizada nas particularidades de cada tipologia de jovens agressores sexuais juvenis.

Palavras-chave: jovens agressores sexuais, jovens violadores, jovens abusadores sexuais de crianças, delinquência juvenil

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Abstract

Juvenile sexual violence constitutes one of the most serious forms of violence. To evaluate the predictors of this aggressive behavior can help to understand its trajectory, as well as contribute to the development of psychological interventions. The surveys focus on juvenile sex offenders and what are its explanatory factors and to what extent the subcategories of this group are distinguishable, and from other juvenile offenders. It is a known fact that juvenile sex offenders have heterogeneous features, the types of sexual crimes may differ with respect to victim characteristics (e.g., the victim's age), characteristics of offenders and type of aggression practiced. Comparing juvenile sex offenders with other juvenile offenders, the categories under consideration include, for the most part, individual, sociocultural and the offense of juvenile sex offenders factors. The results suggest that these young people are similar to non-sex juvenile offenders in their antisocial tendencies, but significantly different in other categories (eg, specific factors of the offense). In a closer look juvenile rapists differ from juvenile child sex abusers, because the former have higher rates of externalizing behaviors. There is a need for studies to perceive closely what explanatory factors for the practice of the types of juvenile sexual violence and how is that these young people are different from other juvenile offenders, allowing the assessment and focused intervention on the particularities of each type of juvenile sex offenders.

Keywords: juvenile sex offenders, juvenile rapists, juvenile child sex abusers, juvenile delinquency

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Preditores de agressão sexual em delinquentes: Revisão Teórica

A violência sexual tem vindo a assumir maior relevo no campo da investigação, sendo que os primeiros estudos datam de meados dos anos quarenta do século XX (Malin, Saleh, & Grudzinskas, 2014). Apesar de o género não ter impacto sobre a probabilidade de um indivíduo vir a cometer um crime, os dados disponíveis indicam que as agressões perpetradas por elementos do género feminino são escassas. A maioria das pesquisas sobre perpetradores de violência (sexual e não-sexual) centram-se em indivíduos adultos do género masculino (Seto & Lalumière, 2010; Stephenson,

Woodhams, & Cooke, 2014; Yeater, Lenberg, & Bryan, 2012). Diferentes trajetórias, de comportamentos agressivos e delinquentes, na infância e adolescência, têm sido

identificadas em estudos longitudinais (Abbey & McAuslan, 2004; Aebi, Giger, Plattner, Metzke, & Steinhausen, 2014; Jennings et al., 2014; Loeber et al., 2015; Worling & Langton, 2015; Yeater et al., 2012).

De acordo com a prevalência da atividade sexual, os indivíduos relataram ter tido a primeira relação sexual em média aos 13 anos (Yeater et al., 2012) e cometerem a primeira agressão sexual antes dos 18 anos (Barbaree & Marshall, 2006; Stephenson et al., 2014). No entanto, apenas uma pequena minoria dos jovens agressores sexuais (JAS) tende a manter esse comportamento ao longo do tempo (Barroso, 2012). Segundo a International Association for the Treatment of Sexual Offenders (IATSO) um jovem agressor sexual é um indivíduo com uma idade compreendida entre os 12 e os 18 anos, que tenha sido oficialmente acusado de um crime sexual, e/ou tenha realizado um ato que poderia ser legalmente considerado um crime sexual e/ou tenha cometido alguma forma de abuso sexual ou comportamento sexualmente agressivo (Miner et al., 2006). A normatividade destes comportamentos sexuais, nesta faixa etária, é posta em causa a

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partir do momento em que a curiosidade e exploração deixam de estar presentes (Barroso, 2012).

Na sociedade contemporânea, a agressão sexual tornou-se um problema social devido ao seu impacto negativo na vida dos indivíduos, sendo esta uma das formas mais graves de violência (Carvalho, 2011; Stephenson et al., 2014; Worling, 2012).

Explicações que incidem na distinção entre JAS e jovens agressores não sexuais (JANS) sugerem que estes diferem ao nível dos seus interesses sexuais, nos fatores individuais e desenvolvimentais (Seto & Lalumière, 2010; Ward & Beech, 2006). A maioria das pesquisas que investigam a relação entre JANS e JAS centram-se em adolescentes condenados por um delito sexual (Glowacz & Born, 2013; Van der Put & Asscher, 2015; Yeater et al., 2012).Os JAS poderão apresentar diferentes associações de acordo com fatores específicos do delito (Malin et al., 2014; Seto & Lalumière, 2010), de acordo com as características da vítima e do ato sexual cometido (Aebi et al., 2014; Glowacz & Born, 2013; Kemper & Kistner, 2010; Malin et al.,2014).

O presente artigo pretende efetuar uma revisão teórica no âmbito da violência sexual, permitindo a discussão acerca dos fatores explicativos das agressões sexuais perpetradas por jovens, procurando perceber quais os fatores preditores das

subcategorias de JAS, em comparação com JANS. Parece-nos importante iniciar esta revisão com um foco na análise conceptual da delinquência juvenil, bem como nas características e circunstâncias que a rodeiam.

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Delinquência Juvenil

Do ponto de vista do desenvolvimento, a adolescência apresenta grandes aquisições e mudanças físicas, emocionais e cognitivas, que alteram os padrões de interação do indivíduo com os outros, nos seus contextos desenvolvimentais (Barroso, 2012; Feldman, 2007). Devido às complexas alterações nesta fase do ciclo vital, alguns adolescentes podem apresentar problemas ao nível psicológico e comportamental, tornando-se numa fase de desenvolvimento que pode desencadear problemas de externalização, como o comportamento antissocial e/ou delinquência, que poderão ser transferidos e generalizados para outros contextos (Farrington, 2000, 2006). O

comportamento antissocial poderá ser uma forma de afirmação da independência em relação ao mundo adulto e às suas regras, uma forma de obter a atenção e o respeito dos seus pares, uma forma de compensação das limitadas competências pessoais, ou como uma resposta à carência de oportunidades legítimas (Farrington, 2000, 2006).

É neste período que ocorrem as principais mudanças ao nível da agressividade e da violência. Contudo, a maioria dos jovens com comportamento delinquente acaba por abandonar este comportamento no final da adolescência. A precocidade e a persistência dos atos delitivos constituem-se como importantes preditores da severidade e da

continuidade da sua prática (Farrington, 2006), bem como de outros problemas psicossociais.

A violência é uma forma de agressão que visa causar dano extremo, que envolve a aplicação intencional da força física em relação a outro ser humano, ou ameaça

iminente de tal força. Os jovens que praticam violência, muitas vezes, apresentam a prática de outros delitos menos graves e comorbilidade com algumas perturbações mentais que incrementam a probabilidade do comportamento violento (e.g., problemas de autorregulação; impulsividade) (Ward & Beech, 2006).

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No que diz respeito ao sistema de justiça de menores, a nível nacional, verifica-se uma evolução no que respeita à intervenção judicial no âmbito da jurisdição de menores. A Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP) constitui-se como uma entidade de apoio técnico aos tribunais na tomada de decisões,

nomeadamente no âmbito do processo tutelar educativo, de acordo com a Lei Tutelar Educativa (LTE), aprovada pela Lei n.º166/99, de 14 de setembro, com a primeira alteração à LTE a 15 de janeiro de 2015 (Lei nº4/2015), que determina a intervenção junto de menores com idades compreendidas entre os 12 e os 16 anos, que tenham cometido um facto tipificado na lei como crime. A intervenção tutelar educativa deve ser proporcional à gravidade do facto, e à necessidade de educação do menor para o direito, seguindo o princípio da legalidade na execução de medidas tutelares. Os dados estatísticos da DGRSP, de internamento de jovens em centro educativo, indicaram uma prevalência significativa de crimes perpetrados por jovens do género masculino, 229 jovens em 2013 (91.24%) e 219 jovens em 2014 (90.12%), sendo que um dos tipos de delito mais prevalente é o de violência contra pessoas. No caso dos crimes na área sexual, no ano de 2014, não houve registo da prática de crimes perpetrados por jovens do género feminino. Num total de 236 crimes de violência contra pessoas, 12 foram por abuso sexual de crianças ou de outros menores (5%), 11 por violações (4%) e 7 por outros crimes contra a liberdade e a autodeterminação sexual (3%) (DGRSP, 2014).

No decurso desenvolvimental de crianças e adolescentes verifica-se a necessidade de se certificar se certos comportamentos são atos isolados ou se se apresentam já como padrão, representando uma alteração significativa ao

comportamento esperado para indivíduos do mesmo género e idade, em determinada cultura. No mesmo sentido afigura-se pertinente analisar-se se o polimorfismo e precocidade do comportamento delitivo do jovem poderá aumentar a probabilidade de

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persistência do mesmo, aumentando a probabilidade da sua frequência, variedade e durabilidade (Barroso, 2012; Farrington 2000, 2006).

Os fatores explicativos para a prática dos comportamentos delituosos poderão centrar-se no papel dos fatores biológicos (e.g., em mudanças individuais) e nas interações entre o genótipo e o fenótipo dos indivíduos ao longo da vida dos mesmos (Loeber, Byrd, & Farrington, 2015). Segundo Seto e Lalumière (2010), uma explicação geral de delinquência, distinguindo delinquentes de não delinquentes, incide sobre variáveis como características antissociais de personalidade, problemas de conduta, atitudes e crenças antissociais, práticas parentais, supervisão parental, interações com pares delinquentes e abuso de substâncias.

Num estudo longitudinal (Jennings et al., 2014) verificou-se que a alta prevalência de continuidade do uso de drogas (e.g., na adolescência e idade adulta) implicava um maior risco de cometerem crimes violentos e não violentos. O estudo foi realizado com uma amostra de 441 jovens do género masculino, residentes em Londres, que participavam num estudo sobre o desenvolvimento da delinquência e onde se investigavam as associações entre o abuso de substâncias e a prática de crime violento e não violento. Contudo, os autores referem que a associação encontrada não considera o modo como o consumo de substâncias poderá afetar o desenvolvimento neurobiológico, pessoal e psicossocial, mas que os fatores de risco individuais e ambientais também são preditores relevantes para a prática de crimes (Jennings et al., 2014).

Aebi et al. (2014) num estudo longitudinal, que decorreu entre 1994 e 2006, perspetivaram testar fatores de risco psicossociais e psicopatológicos, em crianças e adolescentes, como preditores de resultados criminosos na idade adulta, numa amostra de 1086 jovens da comunidade Suíça. Os autores concluíram que os comportamentos de externalização, psicopatologia, consumo etílico e meio socioeconómico foram

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preditores relevantes da prática de crimes. Apresentando, também, o comportamento de evitamento como preponderante para um estilo de personalidade antissocial. Outros fatores de risco psicossociais na infância e adolescência centraram-se nos

comportamentos parentais e familiares desadequados (Aebi et al., 2014).

Por outro lado, a idade da prática dos crimes pode ser um fator preponderante, centrando-se, a sua maioria, entre os 10 e os 18 anos de idade, sendo que a tendência é para que a violência ocorra numa fase mais tardia do que a prática de outros crimes (e.g., furtos). A idade poderá ter um efeito direto sobre o delito, presumivelmente por causa da maturação cerebral, mas os fatores sociais também são relevantes (Loeber et al., 2015). Assim, os indivíduos podem representar diferentes idades de início e diferentes padrões de persistência e de desistência do ato delitivo.

Violência Sexual Juvenil

O desenvolvimento sexual é uma parte integral e típica do desenvolvimento de uma adolescência saudável. A transição da pré-adolescência para a adolescência é marcada por mudanças físicas, emocionais, cognitivas e do autoconceito (Bancroft et al., 2004; Feldman, 2007; Worling, 2012). Concomitantemente com as mudanças físicas e estruturais que ocorrem na adolescência, têm lugar, para muitos jovens, as suas

primeiras experiências sexuais interpessoais (Bancroft et al., 2004; Worling, 2012; Yeater et al., 2012). É nesses contextos que os seus comportamentos sexuais são definidos como normativos, desviantes ou criminais, estando os jovens suscetíveis a se envolverem em comportamentos sexuais de risco e também a experienciarem

dificuldades sexuais (Bancroft et al., 2004; Worling, 2012).

A definição dos atos que constituem agressão sexual não pode ser abordada apenas em termos de comportamento, deve-se considerar também as relações, a

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dinâmica e o impacto dessas condutas. Na lei portuguesa, não existe definição para jovem agressor sexual. Considera-se um jovem agressor sexual, quando o adolescente, entre os 12 e os 16 anos, pratica um crime contra a liberdade e a autodeterminação sexual, qualificado como crime no Código Penal. Na literatura, os JAS são definidos como indivíduos que cometam um ato sexual, com outro indivíduo (independentemente da faixa etária) contra a vontade da vítima, ou de forma agressiva, exploradora ou ameaçadora (Carvalho, 2011; Malin et al., 2014). Ao discutir a excitação sexual, o termo desviante poderia referir-se a uma série de práticas sexuais incomuns. Em referência aos indivíduos menores que cometem crimes sexuais o termo desviante é mais tipicamente aplicado a excitação sexual por crianças pré-púberes e/ou violência sexual (Worling, 2012). O abuso sexual pode envolver o toque, o despir e a exposição a materiais sexuais ou a exposição a comportamentos sexuais. O abuso sexual de menores perpetrado por JAS é o interesse sexual em crianças pré-púberes que são menores de 12 anos de idade e, pelo menos, 4 anos mais novas do que o agressor. A violação inclui qualquer ato sexual forçado (e.g., prática de sexo oral, penetração anal, vaginal, oral) perpetrado com o uso de força física, ameaça, violência, abuso da autoridade e falta de consentimento. Tanto as ameaças, como os comportamentos violentos são pouco comuns no abuso sexual de crianças, uma vez que é geralmente possível coagir uma criança sem recorrer à violência ou à força. Com adolescentes a coação tende a ser mais utilizada para garantir o sigilo e a não revelação, após uma interação em que são

antecipadas consequências negativas (Bancroft et al., 2004; Carvalho, 2011; Worling, 2012; Worling & Langton, 2015).

Explicações que incidem sobre o interesse sexual atípico sugerem que alguns agressores sexuais adolescentes diferem de outros JANS nos seus interesses sexuais em crianças ou em sexo coercivo com colegas ou adultos, e que esses interesses sexuais

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atípicos motivam crimes sexuais (Seto & Lalumière, 2010).Os interesses sexuais atípicos podem incluir fantasias, ou incidir em atividades parafílicas, variáveis que refletem o comportamento parafílico não criminoso (e.g., masoquismo ou fetichismo) e medidas psicofisiológicas de excitação sexual em atividades atípicas (e.g., agressões em crianças pré-púberes ou coerção sexual) (Seto & Lalumière, 2010).

Fatores explicativos para a Violência Sexual Juvenil

Na teoria integrativa, Ward e Beech (2006) procuraram incorporar fatores explicativos para a violência sexual juvenil. Esses fatores englobam a seleção evolutiva, os fatores socioculturais e os fatores individuais, tais como predisposições genéticas, as primeiras experiências de abuso sexual ou físico, e as diferenças individuais na empatia, distorções cognitivas, problemas emocionais, competência interpessoal e interesses sexuais. Procurando teorizar sobre os jovens agressores sexuais, interligaram conceitos de biologia, psicologia e neurociência. Os resultados de Ward e Beech (2006),

demonstram que os jovens agressores sexuais diferem de outros adolescentes infratores quanto às suas histórias de abuso sexual e físico, problemas de regulação emocional, traços de personalidade (e.g., impulsividade e empatia), competências sociais, atitudes e crenças sobre o ofensor sexual e interesses sexuais atípicos.

Do mesmo modo, Seto e Lalumière (2010) indicaram que os JAS apresentam uma prevalência de abuso sexual, abuso físico e negligência, exposição à violência sexual, isolamento social, exposição precoce ao sexo e/ou pornografia, manifestam mais interesses sexuais atípicos e tendem a apresentar problemas de regulação de humor, ansiedade e baixa autoestima. Quando comparados com JANS, estes apresentam índices maiores de consumo de substâncias. Em relação ao nível cognitivo, embora não tenham sido encontradas diferenças significativas, entre JAS e JANS, a tendência foi para os

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JAS apresentarem limitações cognitivas. Os indivíduos com competências cognitivas inferiores podem apresentar maior dificuldade no controlo dos impulsos e serem mais propensos a cometerem crimes sexuais oportunistas, ou mais propensos a serem

sexualmente rejeitados, recorrendo a atos sexuais com crianças ou a coerção sexual com pares. Neste sentido, os autores chamam a atenção para a necessidade de se estudar com mais detalhe a influência dos aspetos do desenvolvimento, nomeadamente sexual, dos interesses sexuais atípicos e da exposição ao sexo e/ou pornografia nas agressões sexuais cometidas por adolescentes.

No mesmo sentido, Worling (2012) refere que uma história de vitimização sexual, influências socioculturais e influências genéticas ao longo do desenvolvimento podem ser fatores influenciadores/desencadeadores da excitação sexual desviante em adolescentes.

Através de análises de regressão logística, Stephenson et al. (2014),

identificaram fatores de risco para as agressões violentas cometidas por jovens. Foram registadas informações sobre as condições de vida dos jovens, relações familiares e pessoais, educação, saúde emocional/mental, de pensamento e de comportamento, e atitudes em relação à agressão. Os resultados indicaram que os jovens que cometeram um crime violento foram mais propensos a apresentarem comportamentos impulsivos, menos propensos a ceder à pressão e a demonstrarem remorsos/sentimentos de culpa face ao crime praticado. A nível escolar, apresentavam necessidades educativas especiais e dificuldades na alfabetização, com maior propensão a serem excluídos da escola (Stephenson et al., 2014).

Com vista a explorar os fatores de risco para a agressão sexual entre JAS do género masculino, Yeater e colaboradores (2012), procuraram avaliar através de um estudo longitudinal quais os preditores de agressão sexual, nomeadamente no que diz

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respeito ao uso de substâncias e comportamentos sexuais de risco. A amostra foi

constituída por 404 adolescentes do género masculino, com idades compreendidas entre os 14 e 17 anos, que tivessem cometido um facto qualificado pela lei como crime. As suas análises revelaram que os indivíduos que relataram maiores consumos de

substâncias e prática de delitos menos graves, ou que relataram maior impulsividade, busca de sensações e comportamentos de externalização, também relataram participar em agressões sexuais mais graves. No entanto, outros fatores não se relacionaram com a agressão sexual, incluindo a idade, etnia e situação de vida. As variáveis relativas à experiência sexual, destinadas a avaliar a promiscuidade sexual, não foram

significativamente associadas com a agressão sexual.

Procurando avaliar critérios de classificação para distinguir tipologias de JAS, de acordo com a idade da vítima, características pessoais e antecedentes criminais, um estudo de Kemper e Kistner (2010) comparou jovens abusadores sexuais de crianças (JAS-A), com outros JAS. Os autores concluíram não existirem diferenças significativas no que concerne aos critérios de classificação/distinção entre JAS (Kemper & Kistner, 2010), o que coincide com os resultados obtidos por Fanniff e Kolko (2012) que identificaram que as características clínicas podem ser mais úteis para estabelecer tipologias de JAS (e.g., jovens abusadores sexuais de crianças) do que as características da prática dos crimes. Concluíram, ainda, que os JAS poderão ter experienciado

violência sexual no seu desenvolvimento, enquanto os JANS poderão não lhes ter sido proporcionada uma adequada supervisão parental (Fanniff & Kolko, 2012).

Do mesmo modo, um estudo de Glowacz e Born (2013) procurou identificar duas tipologias de criminosos sexuais em função da idade da vítima e da diferença de idade entre o agressor e a vítima (abusadores sexuais de crianças vs. abusadores sexuais de pares), e comparar as características de personalidade destes dois subgrupos com os

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de JANS. A amostra foi constituída por 67 adolescentes infratores belgas, com idade compreendida entre os 13 e os 18 anos, que tivessem sido julgados pela prática de crimes (sexuais ou não sexuais). Foi administrado o Millon Adolescent Clinical

Inventory (MACI) e os resultados indicaram que os jovens abusadores sexuais de pares apresentaram maiores índices nas escalas de personalidade antissocial e de abuso de substâncias, à semelhança de JANS. Concluíram, também, existirem diferenças, entre JAS-A e jovens abusadores sexuais de pares, ao nível das características de

personalidade e síndromes clínicas. Sendo que os JAS-A apresentam mais problemas de internalização e de níveis de ansiedade social ou generalizada, do que os jovens

abusadores sexuais de pares, que apresentam mais problemas de externalização e questões antissociais. Além disso, a única diferenciação entre os JANS e os outros dois subgrupos de JAS foi ao nível da escala de desconforto sexual, que reflete a ansiedade em relação aos pensamentos e emoções relacionados com a sexualidade, bem como o estado de tensão que emerge de impulsos sexuais, que refletem um problema observado em agressores sexuais em geral. Os JAS-A diferem dos outros dois grupos, porque experienciam sentimentos mais ansiosos na escala de síndromes clínicas (Glowacz & Born, 2013).

Num estudo prospetivo de Worling e Langton (2015), com o objetivo de avaliar a desistência ou reincidência em adolescentes que cometeram pelo menos um delito sexual (n= 81), entre os 12 e os 19 anos de idade no momento da avaliação, foram utilizados os instrumentos ERASOR e a Escala BERS-Parent Rating. Os autores verificaram que o vínculo afetivo tem um papel preponderante na prática das agressões sexuais cometidas por adolescentes, bem como na desistência ou reincidência dessas práticas, à semelhança do que foi verificado noutros estudos (Klein, Rettenberger, Yoon, Kohler, & Briken, 2015; Ward & Beech, 2006). Adolescentes com experiência

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de vínculo afetivo seguro apresentam-no como um fator protetor, tendo uma associação direta com a desistência da agressão sexual entre JAS. Também identificaram que os fatores de proteção podem incluir empatia pelos outros, a sensação de que outros se preocupam com as suas necessidades, e processos desenvolvimentais que decorram em ambientes familiares onde a resolução de conflitos se efetua com utilização de estilos comunicacionais que não envolvem agressão/violência. Especificamente, os JAS-A relataram estilos de vinculação insegura, em comparação com os jovens agressores sexuais violadores (JAS-V), delinquentes com comportamentos violentos e delinquentes com comportamentos não violentos. É importante considerar-se que os fatores

implicados no aparecimento de um comportamento podem não ser necessariamente os mesmos fatores ligados à manutenção desse comportamento (Worling & Langton, 2015).

Na mesma linha, e analisando fatores de proteção, outros autores (Van der Put & Asscher, 2015) tiveram como objetivo examinar a presença e o impacto de fatores dinâmicos de proteção / risco para a delinquência em JAS-A, JAS-V e JANS. Os resultados mostraram que, em JANS, o número de fatores de risco foi maior do que o número de fatores de proteção, ao passo que em JAS, e especialmente JAS-A, o número de fatores protetores era maior do que o número de fatores de risco. Os resultados referentes a fatores de risco estão em concordância com os resultados de Seto e

Lalumière (2010) que, quando comparados JAS, os JAS-A apresentam menores atitudes antissociais, problemas de conduta, uso de substâncias, associações com pares

delinquentes e traços de personalidade antissocial. Este estudo mostrou que o impacto da maioria dos fatores de proteção foi significativamente maior nos JAS do que nos JANS, verificando-se que os fatores de risco/ proteção estão exclusivamente

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significativos nos jovens com antecedentes de crimes sexuais, em comparação com outros jovens delinquentes (Van der Put & Asscher, 2015).

Conclusão

Muitas vezes, as raízes do comportamento criminoso surgem na infância e prolongam-se até à idade adulta, sendo este um desafio importante para a teorização dos comportamentos dos adolescentes e para se encontrarem intervenções preventivas. Com o objetivo de melhor cumprir esta tarefa, é necessário uma compreensão abrangente dos processos de desenvolvimento do comportamento delinquente. Como supra referido, muitas das pesquisas centram-se em agressores sexuais adultos, sendo mais reduzidos os estudos sobre a agressão sexual perpetrada por adolescentes. As investigações têm procurado avaliar os JAS, quais os fatores explicativos dos seus comportamentos em comparação com outros jovens delinquentes, ou como as agressões sexuais podem persistir na idade adulta. São mais escassos estudos que incidam sobre os fatores explicativos que distingam as tipologias de JAS. Avaliar os preditores de agressão sexual praticada por adolescentes pode ajudar a entender a trajetória deste

comportamento, permitindo a prevenção, com o intuito de reduzir a agressão sexual. Concomitantemente, avaliar adolescentes com práticas delinquentes poderá contribuir para a compreensão de risco em comportamentos de agressão sexual.

A avaliação dos estudos relevantes, e das suas especificidades, na comparação entre JAS e JANS, permite retirar hipóteses que possam vir a explicar as diferenciações, individuais e gerais, dos jovens agressores sexuais. De uma maneira geral, concluiu-se que os JAS são semelhantes aos JANS nas suas tendências antissociais, mas

significativamente diferentes noutras categorias (e.g., fatores específicos do delito). Assim, as explicações gerais de delinquência não são suficientes para se entender as

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agressões sexuais perpetradas por jovens (Aebi et al., 2014; Jennings et al., 2014; Seto & Lamumiére, 2010).

Na tentativa de explicar os preditores da violência sexual juvenil, os autores, na sua maioria, englobaram os fatores que diziam respeito ao genótipo do indivíduo, ao seu fenótipo e às características específicas do delito. Esses fatores reuniram, então, a seleção evolutiva, os fatores socioculturais (e.g., negligência parental, supervisão parental, vínculo afetivo), os fatores individuais, (e.g., predisposições genéticas, as primeiras experiências de abuso sexual ou físico, exposição à violência, e as diferenças individuais na empatia, traços de personalidade, distorções cognitivas, problemas emocionais, competências sociais e interesses sexuais) e os fatores do delito (Glowacz & Born, 2013;Seto & Lalumiére, 2010; Stephenson et al., 2014; Ward & Beech, 2006; Worling, 2012; Yeater et al, 2012). Em interação, os fatores culturais, biológicos e individuais suportam ou desencorajam o agressor sexual, verificando-se que os fatores preditores poderão ter um papel preponderante para a prática, desistência ou

reincidência dos crimes sexuais. Os fatores protetores (e.g., como um vínculo parental seguro) influenciam a desistência da prática de crimes sexuais.

Quando verificadas as subcategorias de JAS (JAS-V e JAS-A), verificou-se que nos diversos estudos os mesmos distinguem-se em: características específicas do delito e em características psicopatológicas. Nestas últimas, os JAS-A apresentam mais problemas de internalização, ansiedade social, vinculação insegura e traços de personalidade antissocial (Glowacz & Born, 2013; Worling & Langton, 2015). Contudo, os JAS-V assemelham-se mais aos JANS, apresentando maiores índices de problemas de externalização. Todos os grupos apresentaram associações significativas para o abuso de substâncias, sendo esta uma variável identificada como preditora para a delinquência juvenil (Aebi et al., 2014; Jennings et al., 2014).

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Contudo, as variáveis de sexualidade não costumam ser frequentemente

avaliadas nas diversas investigações, não se obtendo características/associações no que diz respeito aos aspetos do desenvolvimento sexual, da exposição à violência sexual, e da exposição ao sexo e/ou pornografia, embora os estudos de Seto e Lalumière (2010) e de Ward e Beech (2006) apresentem estas possibilidades como fatores causais para a violência sexual juvenil.

Verificando-se a não existência de uma teoria globalizante, que distinga JAS de outros jovens delinquentes, seria pertinente, em pesquisas futuras, avaliar-se quais os fatores de risco dos JAS e em que medida é que estes se diferenciam dos JANS, o que poderia facilitar a avaliação e a implementação de intervenções no âmbito da prevenção e não apenas da manutenção. Outra avaliação que se nos afigura pertinente refere-se à necessidade de se avaliar em que medida os tratamentos destinados à delinquência em geral podem ser benéficos para os JAS, tendo-se em conta que o tratamento deve ser adaptado especificamente para cada adolescente com base nas conclusões de uma avaliação abrangente (Worling, 2012). Por outro lado, alguns autores refletem que as pesquisas longitudinais poderão ser preponderantes para a identificação de preditores de agressão sexual, e essas informações poderão facilitar o desenvolvimento de

intervenções para diminuir a agressão sexual (Aebi et al., 2014; Jennings et al., 2014; Ward & Beech, 2006; Yeater et al., 2012).

De acordo com Ward e Beech (2006) múltiplos fatores e diversas pesquisas poderiam unificar a teoria sobre a violência sexual. Os fatores contextuais,

socioculturais e os fatores individuais podem, individualmente, ou coletivamente, conceber vulnerabilidades relacionadas com a prática do delito, ou seja, os diferentes tipos de défices nestes sistemas serão associados a diferentes variáveis para a prática do

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delito sexual. Assim, os jovens poderão cometer crimes sexuais por razões bastante diversas.

Concluindo-se, os JAS são semelhantes aos jovens delinquentes nos traços de personalidade antissocial, mas diferem na forma como estas características são

expressas. De um modo geral, os JAS podem diferir dos JANS através das histórias de abuso sexual e físico, problemas de regulação emocional, traços de personalidade (e.g., impulsividade, empatia), competências sociais, atitudes/comportamentos do agressor sexual e interesses sexuais atípicos (Van der Put & Asscher, 2015; Seto & Lalumière, 2010; Ward & Beech, 2006). Por outro lado, os JAS poderão ser distinguidos pelas características específicas do delito, como a idade vítima, as características do agressor e os comportamentos sexuais praticados.

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II PARTE ARTIGO EMPÍRICO

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Preditores de agressão sexual em delinquentes Eduarda Z. Ramião & Ricardo Barroso Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Notas de autor

Eduarda Ramião e Ricardo Barroso, Departamento de Educação e Psicologia, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Correspondência acerca deste artigo deve ser endereçada para Eduarda Ramião, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Departamento de Educação e

Psicologia, Quinta de Prados, Edifício Complexo Pedagógico – Apartado 1013, 5001-801 Vila Real. E-mail: eduarda_ramiao@hotmail.com

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Resumo

Os padrões de comportamento desenvolvidos na adolescência podem persistir na vida adulta. Avaliar prospetivamente os preditores da agressão sexual entre os adolescentes pode ajudar a entender a trajetória deste comportamento, possibilitando o desenvolvimento de intervenções que possam prevenir e reduzir a agressão sexual. O propósito deste estudo foi explorar quais os fatores que predizem a agressão sexual e quais os fatores que diferenciam os grupos de jovens agressores sexuais de jovens agressores não sexuais, subdividindo estes últimos pelo tipo de crime praticado: violadores e abusadores sexuais de crianças. A recolha de dados foi realizada em instituições sob tutela da Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais, concretamente em centros educativos, estabelecimentos prisionais e equipas tutelares educativas. A amostra foi dividida em três categorias com base no tipo de crime praticado: abusadores sexuais de crianças (n= 76), violadores (n=64) e jovens agressores não sexuais (n=130). Os resultados obtidos permitiram verificar que os jovens violadores se distinguem dos jovens abusadores sexuais de crianças por serem mais velhos, praticarem agressão às vítimas e apresentarem maiores hábitos etílicos, enquanto os jovens abusadores sexuais de crianças apresentam resultados cognitivos inferiores à média. Quando comparados individualmente com os jovens agressores não sexuais não se encontraram, na sua maioria, preditores distintos entre os subgrupos de jovens agressores sexuais. Estes apresentam uma atitude negativa face ao crime, sendo a vítima do género feminino e com idade mais jovem. Os resultados são discutidos tendo em conta aspetos de avaliação e intervenção clínica com esta população.

Palavras-chave: jovens agressores sexuais, jovens violadores, abusadores sexuais de crianças

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Abstract

Behavioral patterns developed in adolescence can persist throughout adult life. Assess prospectively the predictors of sexual aggression between teenagers can help to understand the trajectory of this behavior, enabling the development of interventions that can prevent and reduce sexual aggression. The purpose of this study was to explore the factors that predict sexual assault and which differentiate among groups of juvenile sex offenders of juvenile non-sex offenders, dividing by type of crime: juvenile rapists and juvenile child sex abusers. The gathering of data was executed in institutions under the tutelage of the Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais, specifically in educational centers, prisons and educational guardianship teams. The sample was divided into three categories based on the type of crime committed: juvenile child sex abusers (n = 76), juvenile rapists (n = 64) and juvenile non-sex offenders (n = 130). The results obtained confirmed that the juvenile rapists differentiate themselves from juvenile child sex abusers by being older, practicing battering to the victims and showing bigger drinking habits, meanwhile the juvenile child sex abusers show cognitive outcomes below average. If compared individually to the juvenile sex offenders they will not be found, in most cases, distinct predictors among subgroups of juvenile sex offenders. They present a negative attitude to towards crime, being the victim younger and of the female gender. The results are discussed having in consideration the aspects of evaluation and clinic intervention with this population.

Keywords: juvenile sex offenders, juvenile sexual offending, juvenile rapists, juvenile child sex abusers.

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Preditores de agressão sexual em delinquentes

A maioria das pesquisas sobre perpetradores de violência sexual ou de violência não sexual tem-se centrado em estudantes universitários ou em adultos com ligação ao sistema judicial por crimes desta natureza. No entanto, os primeiros trabalhos sobre as causas da agressão centram-se, quase exclusivamente, em adultos perpetradores de violência. Pouco se tem estudado sobre a agressão sexual entre os adolescentes, não se identificando os fatores de risco conducentes a estes comportamentos nesta faixa etária (Abbey & McAuslan, 2004; Seto & Lalumière, 2010; Yeater, Lenberg, & Bryan, 2012). As pesquisas académicas com jovens agressores sexuais representam um campo

relativamente novo, que data de meados dos anos quarenta do século XX (Malin, Saleh, & Grudzinskas, 2014). Muitos investigadores estão agora a reconhecer que o estudo de adolescentes infratores pode constituir-se como pertinente para a compreensão do início e curso das agressões cometidas por adolescentes, embora a delinquência juvenil não seja um assunto contemporâneo (Barroso, 2012; Malin et al., 2014; Seto & Lalumière, 2010).

A adolescência apresenta grandes mudanças e aquisições físicas, emocionais e cognitivas, que alteram os padrões de interação do indivíduo com os outros, nos seus contextos desenvolvimentais (Barroso, 2012; Feldman, 2007; Seto & Lalumière, 2010). Devido às complexas alterações nesta fase do ciclo vital, alguns adolescentes podem apresentar problemas ao nível psicológico e comportamental, tornando-se numa fase de desenvolvimento suscetível de desencadear problemas de externalização, como o comportamento antissocial e/ou delinquência (Farrington, 2000, 2006).

O ser humano é um ser complexo, como tal apresenta um conjunto de fatores socioculturais e individuais, nos contextos onde se insere e de acordo com o seu

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desenvolvimento e o comportamento dos adolescentes, sendo que um ambiente relacional problemático poderá produzir riscos significativos a nível biológico e psicológico (Feldman, 2007; Manita, 2008; Seto & Lalumière, 2010). As primeiras experiências adversas do indivíduo podem influenciar o desenvolvimento do controlo inibitório sobre as tendências agressivas e o desejo sexual normal, bem como provocar interesses sexuais atípicos com um impacto causal significativo (Seto & Lalumière, 2010). É relevante salientar que os comportamentos sexuais em função dos contextos familiares, sociais e culturais influenciam o entendimento sobre a normalidade dos comportamentos sexuais, bem como o desenvolvimento sexual tipificado, ou seja, os comportamentos sexuais poderão ser normais numas culturas em relação a outras (Barroso, 2012; Feldman, 2007; Manita, 2008). Os fatores de risco e os fatores de proteção dos jovens agressores sexuais ao longo do seu desenvolvimento poderão ser preponderantes na desistência ou reincidência das agressões sexuais. Os fatores de proteção englobam os comportamentos pró sociais (e.g., resiliência) e a prevenção dos comportamentos de risco que modificam a resposta a fatores de risco. Assim, fatores como a supervisão parental e o vínculo parental poderão ser preponderantes para a desistência ou reincidência desses comportamentos (Klein, Rettenberger, Yoon, Kohler, & Briken, 2015; Van der Put & Asscher, 2015;Ward & Beech, 2006; Worling &

Langton, 2015).

Os JAS poderão distinguir-se de outros jovens agressores, existindo fatores explicativos das agressões sexuais, diferentes de outras agressões cometidas por jovens agressores não sexuais (JANS) (Barroso, 2012). Explicações teóricas sobre os JAS tendem a concentrar-se em fatores específicos do delito, ou seja, sobre as causas que são tidas como exclusivamente relevantes para crimes sexuais (Malin et al., 2014; Seto & Lalumière, 2010). Os atos sexuais mais comuns cometidos por jovens menores de idade

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abrangem as violações e os abusos sexuais de outros menores (Barroso, 2012). Os fatores que diferenciam estas tipologias de agressores sexuais são relacionadas com as características específicas das vítimas (e.g., idade da vítima), dos perpetradores e do tipo de comportamentos sexualmente agressivo (Aebi, Giger, Plattner, Metzke, &

Steinhausen, 2014; Glowacz & Born, 2013; Kemper & Kistner, 2010; Malin et

al.,2014). Na literatura, os jovens abusadores sexuais de crianças (JAS-A) são aqueles que praticam a agressão sexual contra indivíduos menores, com diferença significativa, entre o agressor e a vítima, de pelo menos quatro anos. Na avaliação desta categoria, a diferença de idades e o comportamento são suficientes para definir o problema. Por outro lado, os jovens agressores sexuais violadores (JAS-V) são aqueles que cometem qualquer ato sexual forçado (e.g., prática de sexo oral, penetração vaginal, anal, oral) com recurso à força física, ameaça, violência e abuso de autoridade (Carvalho, 2011; Glowacz & Born, 2013; Kemper & Kistner, 2010). Comparativamente com os JAS-A, os JAS-V tendem a cometer mais atos de violência extrafamiliar e preferencialmente com vítimas do género feminino (Fannif & Kolko, 2012).

Os JAS podem diferir dos JANS através das suas histórias de abuso sexual e físico, problemas de regulação emocional, traços de personalidade (e.g., impulsividade), competências sociais, atitudes e crenças sobre o agressor sexual e interesses sexuais atípicos (Seto & Lalumière, 2010; Ward & Beech, 2006).

Nesse sentido, Kemper e Kistner (2010) procuraram avaliar critérios de

classificação para distinguir atos cometidos pelos JAS, de acordo com a idade da vítima, características pessoais, antecedentes criminais, comparando JAS-A, com outros JAS. Os autores concluíram não existirem diferenças significativas no que concerne aos critérios de classificação/distinção de JAS (Kemper & Kistner, 2010). O que vai ao encontro de Fanniff e Kolko (2012) que concluíram que as tipologias com base em

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características clínicas podem ser mais úteis para estabelecer subgrupos significativos, do que características da prática dos crimes. Referindo que os JAS poderão ter tido contacto com violência sexual no seu desenvolvimento, enquanto aos JANS poderão não lhes ter sido proporcionada uma adequada supervisão parental (Fanniff & Kolko, 2012).

Glowacz e Born (2013) estudaram as características de personalidade de dois grupos de jovens agressores sexuais masculinos Belgas: um com base na idade da vítima e o outro sobre a diferença de idade entre o agressor e a vítima (de abusadores sexuais de crianças ou abusadores sexuais de pares) e comparou-os com um grupo de jovens não agressores sexuais. A amostra foi constituída por 67 adolescentes entre os 13 anos e os 18 anos de idade, que foram julgados por crimes sexuais ou não sexuais. Para avaliar as características de personalidade utilizaram o Millon Adolescent Clinical Inventory (MACI). Os abusadores sexuais de crianças apresentaram índices maiores nas escalas de traços de submissão e conformismo e ansiedade do que os grupos em

comparação. Por sua vez, os abusadores sexuais de pares apresentaram maiores índices de traços de personalidade de comportamento desviante, insensibilidade social,

predisposição para a delinquência e abuso de substâncias, sendo estes resultados semelhantes ao dos JANS. Questionando, os autores, se os JAS-A devem ser classificados nas mesmas configurações dos abusadores sexuais de pares e dos infratores não-sexuais (Glowacz & Born, 2013).

Um estudo longitudinal, entre 1994 e 2006, de Aebi e colaboradores (2014), analisou os fatores de risco psicossociais e psicopatológicos, em crianças e

adolescentes, como preditores de comportamentos criminosos na idade adulta. A amostra foi constituída 1086 indivíduos Suíços, de ambos os géneros. Foram utilizadas análises de regressão logística univariadas e multivariadas, com fatores de risco

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avaliados na infância e adolescência, incluindo os estados socioeconómicos, o historial de migração, o comportamento parental e familiar percebido, as competências sociais, os estilos de coping, os problemas de externalização e internalização (Questionário YSR – Youth Self Report) e o abuso de substâncias, incluindo o consumo etílico problemático (Aebi et al., 2014). O presente estudo revelou que os indivíduos do género masculino têm maior risco de praticarem crimes na idade adulta do que indivíduos do género feminino. Os comportamentos de evitamento (cognitivo e emocional) exercem efeitos a longo prazo sobre o comportamento criminoso, independentemente de problemas de externalização e abuso de substâncias. Os indivíduos que denotam este comportamento apresentam reduzidas competências para enfrentar os seus problemas e maiores índices de stresse, que se traduzir-se-á em comportamentos antissociais. Contudo, o papel da externalização e abuso de drogas na adolescência tornam-se os principais preditores de condenações penais na idade adulta. Concluíram que o consumo etílico problemático durante a adolescência apresenta-se como potenciador da prática de crimes na idade adulta, podendo, inclusive, triplicar o risco de cometimento de atos ilícitos. As explicações centram-se nos efeitos de desinibição induzidos pelo do consumo etílico, nas desadequadas estratégia de coping, que tenderá a aumentar os comportamentos delinquentes e o facto do consumo etílico poder ser um ponto de partida para o consumo de substâncias ilegais. A externalização, o comportamento etílico e o baixo rendimento socioeconómico constituíram-se como preditores relevantes. Finalmente, outros fatores de risco psicossociais na infância e adolescência, como comportamentos parentais e familiares inadequados, foram correlacionados com problemas de saúde mental e previram significativamente a prática de delitos (Aebi et al., 2014).

Perante a constatação de que os homens são mais propensos, do que as mulheres, a cometerem agressões e delitos mais graves, alguns investigadores referem poder-se ter

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como explicação as diferenças nos processos de socialização relativamente ao género (Stephenson, Woodhams, & Cooke, 2014). Em resposta às preocupações sobre o aumento da criminalidade violenta juvenil feminina, e a escassez de pesquisas

específicas de género (Stephenson et al., 2014), o estudo teve como objetivo identificar, através de análises de regressão logística, preditores para as agressões violentas

cometidas por raparigas, explorando, então, a existência de diferenças entre os géneros, e identificando os fatores de risco para as agressões violentas cometidas por jovens, bem como, determinar a extensão em que esses fatores de risco poderiam predizer as

agressões violentas em ambos os grupos de género. Os dados foram extraídos de avaliações de risco de 586 jovens delinquentes de ambos os géneros (com idades entre 11-17 anos), acusados da prática de delitos violentos ou não-violentos, realizado entre 2005 e 2009. Foram registadas informações sobre as condições de vida dos jovens, relações familiares e pessoais, educação, saúde emocional/mental, de pensamento e de comportamento, e atitudes em relação ao agressor. As comparações foram efetuadas entre jovens agressores do género masculino, jovens agressores do género feminino, jovens não agressores do género masculino e jovens não agressores do género feminino. Os resultados indicaram que as jovens que cometeram um delito violento apresentaram como preditor mais significativo a automutilação. Verificando-se, ainda, que o ceder à pressão dos outros, tentativa(s) de suicídio, estar a viver em condições desfavorecidas e desorganizadas, ter um membro da família envolvido em atividades criminosas e ter testemunhado violência em contexto familiar, são igualmente preditores em jovens agressoras quando comparadas com os jovens agressores. Além disso, as raparigas que não cometeram um crime violento foram significativamente menos propensas a perder o controlo do seu comportamento e mais propensas a ceder à pressão dos outros do que os rapazes que cometeram um crime violento. Os jovens não violentos foram

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significativamente menos propensos a perder o controlo de seu comportamento e mais propensos a automutilação e a ceder à pressão dos outros, comparativamente com os jovens do género masculino violentos. Os rapazes que apresentavam comportamentos violentos eram mais propensos a ter necessidades educativas especiais e dificuldades na alfabetização do que as raparigas com idênticos comportamentos. Na área de

pensamento e comportamento, os resultados indicaram que a impulsividade, e a falta de controlo comportamental, foram particularmente prevalentes entre os dois grupos de jovens delinquentes. Os jovens violentos eram mais propensos a ser excluídos da escola, serem impulsivos, e não ter o controlo sobre as suas ações, em comparação com os indivíduos não-violentos. Eram, contudo, menos propensos a demonstrar sentimentos de culpa, ceder à pressão dos outros e automutilação. Embora não encontrassem uma diferença significativa ao nível de sentimentos de culpa, entre criminosos violentos e não-violentos, esta variável não prevê as agressões violentas para ambos os géneros (Stephenson et al., 2014).

Por outro lado, Yeater e colaboradores (2012) realizaram um estudo

longitudinal, sobre preditores de agressão sexual, com 404 jovens delinquentes (com participação judicial), do género masculino, com idades compreendidas entre 14 e 17 anos, que foram recrutados para um estudo prospetivo de abuso de substâncias e comportamentos sexuais de risco. Aos 6 meses de follow-up, as análises de correlação mostraram que os participantes que consumiam drogas e/ou álcool, e que praticavam delitos menos graves, ou que relataram maior impulsividade, busca de sensações e comportamentos de externalização, também mencionavam cometer agressões sexuais. Encontraram, também, fatores que não estavam relacionados com a agressão sexual, incluindo a idade, etnia e situação de vida. As variáveis de experiência sexual destinadas a avaliar a promiscuidade sexual (e.g., número de parceiros sexuais) não

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foram tão fortemente associadas com a agressão sexual. A idade da primeira relação sexual e o número de parceiros sexuais não tinham relação com a gravidade e/ou tipo de agressão sexual cometida (Yeater et al., 2012).

Em última análise, muitos dos estudos sobre o desenvolvimento da sexualidade nos jovens foca-se nas suas consequências, e na eliminação dos comportamentos sexuais. A pesquisa académica tem-se centrado na reincidência, no tratamento,

avaliação de risco, características e tipologias de JAS e nas respostas sociopolíticas para estes. Compreender as características específicas das vítimas ou dos agressores,

nomeadamente as dinâmicas do crime, permite a construção de subcategorias de infratores e poderá conduzir a um tratamento mais eficaz, com menor reincidência e menos vítimas (Malin et al., 2014).

O conhecimento pormenorizado dos fatores de risco em JAS, em comparação com JANS, poderá apresentar pertinência científica em diversas realidades, como no âmbito da psicologia clínica e forense, permitindo uma avaliação psicológica, intervenção psicoterapêutica e prevenção mais específicas e melhoradas.

Torna-se, assim, pertinente explorar quais os fatores que predizem a agressão sexual e quais diferenciam os grupos de JAS e JANS numa amostra Portuguesa. Deste modo, poder-se-á verificar quais as particularidades dos JAS, encontrar as diferenças significativas entre os JAS e os JANS, e de que modo é que as subcategorias de JAS (violadores e abusadores sexuais de crianças) se distinguem em termos de preditores, quando comparados entre si e com os JANS. A partir dos resultados encontrados nos estudos mencionados, a previsão é de que os seguintes fatores de risco sejam

prevalentes nos JAS: sociodemográficos (e.g., contexto comunitário, práticas parentais); características dos crimes (e.g., idade e género da vítima); comportamentos de agressão

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e/ou outras dimensões associadas; psicopatologia (e.g., ansiedade e depressão) e fantasias sexuais.

Método

Este estudo é de caráter transversal e quantitativo. A transversalidade do estudo refere-se ao facto dos dados serem retirados da amostra num único momento. O seu carácter quantitativo refere-se à componente estatística, numérica e à tipificação da investigação para contexto clínico, sendo que não recorre a uma distribuição aleatória da amostra, e não existe controlo das variáveis independentes.

Participantes

A presente investigação apresentou foco nas agressões sexuais cometidas por rapazes, uma vez que, quer a nível nacional quer a nível internacional, os dados

disponíveis indicam que as agressões perpetradas por raparigas são escassas, apesar de não serem inexistentes (Barroso, 2012; Seto & Lalumière, 2010; Stephenson et al., 2014).

A amostra inicial foi composta por 427 jovens que cometeram um facto

tipificado na lei como crime. Após à aplicação dos critérios de exclusão e definição de objetivos, a amostra foi reduzida para 270 jovens, entre os 12 e os 18 anos de idade. Esta a amostra é constituída por 140 (51.9%) jovens agressores sexuais (JAS) e os 130 jovens agressores não sexuais. Foram definidos como critérios de inclusão na amostra indivíduos do género masculino que tenham cometido um facto qualificado pela lei como crime (sexual e não sexual), entre os 12 e os 18 anos, e que soubessem ler e escrever. Excluíram-se todos os sujeitos que manifestassem perturbações psicóticas e/ou presença de atraso mental, por existir eventual impacto na obtenção de informação relevante, em particular nos instrumentos de autorrelato.

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Tabela 1  Caracterização da amostra  N  %  Amostra Global  270  100  Género  Masculino  270  100  Crime praticado  JAS  140  51.9  JANS  130  48.1

Referências

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