UNIVERSIDADE
FEDERAL
DE
SANTA
CATARINA
CENTRO
sócio-Ecøuómsco
% ^DEPARTAMENTO
DE
SERVIÇOSDCEAL
` IPERsPE‹.:T|vÀs
TEÓR¡co/mET0DoLÓa|cAs
D9
Social pela
Acadêmica
Letícia
Zimmermann
"Dedico
este
trabalho,ao
senhor,
vô.Que
inicioucomigo
estabusca,
mas
não
pode
estarfisicamente
presente
atéo
fim.Tenho
certeza
que
onde
o senhor
estiver
estará
orgulhoso
de sua
neta.
Aos
meus
pais, Ivo e Maria,que
compartilharamcomigo
este ideal,sendo
sempre
uma
presença amiga.A
voces omeu
profundo respeito eamor.
Aos
meus
irmãos Luciano e Fabiano, pelo incentivo e brincadeirasque
ajudaram a superar osmomentos
difíceis.À
supervisora, Regina, pela dedicação e amizade.A
ti,meu
respeito eadmiração.
Às
colegas de estágio, Fabiana, Marisete, Fernanda, Alessandra, Luciana, Valta, Daniela e Luciana.Aos
funcionários daPROMENOR,
que
me
acolheramcom
tanta receptividade, omeu
agradecimentoÀs
crianças e adolescentes daPROMENOR,
todo omeu
carinho.À
Luciana, presença marcante e de incentivo durante todo o curso.À
Danielaque
tornou-seuma
grandeamiga
em
um
momento
tao dificil. Valeu a força.Às
minhas
colegas de turma,que
compartilhamos juntas esse ideal.Conseguimos!
'
A
Alexa pela amizade e carinhodemonstrados
durante o período deestágio e
que
é presente até hoje. Saudades.Ao
professor Vilmarque
orientou este trabalho.Ao
José pela disponibilidadeem
digitar este trabalho.INTRGDUÇÃO
... _.Capítulo
l -Aspectos
Teórico/Metodológicos na
Construção
da
Prática Social ... ..1.1. Teoria
Metodologia
- Prática social x Prática Profissionaldo
Assistente Social ... ..1.2.
Dimensões
Teórico/Metodológicasdo
Serviço social ... ._1.2.1.
Antropológico
... _.1.2.2.
Cosmológico
... _.1.2.4.
Pragmático
... ..34
1.3.
Procedimentos
Essenciaisda
Teoria eMetodologia
do
Serviço Social ... .. ... .. 381.3.1. Nível
de
Conscientização
... .. 391.3.2. Nivel
de
Participação ... _.45
Capítulo
ll -O
Desafio
Teórico/Metodológico na
InstituiçãoPROMENOR
... ..52
2.1.
Resgate
Histórico Teórico/Metodológicodo
Serviço Socialna
PROMENOR
... ..532.2.
A
Experiência Teórico/Metodológicado
Serviço social ... ..693.
Considerações
Finais ... ..834.
Sugestões
... ..86INTRODUÇÃO
Entendemos
o Serviço Social-comouma
profissãoque tem
como
especificidade a intervenção na realidade social.É
justamente devido a esta característica de intervenção prática,que
nospreocupamos
com
o referencial teórico/metodoiógico da profissão, por considerarmos a realidade socialcomplexa
e contraditória.A
preocupação
quanto ao referencial teóricolmetodológico daprofissão
tem
sido o centro das discussõesdo
Serviço Social nas últimasdécadas.
A
profissão vê-se diante deum
desafio metodológico devido acomplexidade da realidade.
Como
viabilizaruma
prática transformadoraem
uma
sociedadeamplamente complexa
e contraditória?É
diante deste questionamentoque
o Serviço Socialsegue buscando
um
aprimoramentodo
enfoque metodológico, rejeitando oempirismo
evoluntarismo da pátria.
Acreditamos
em
uma
prática profissional eficiente e comprometida,que busca
o respaldo teórico para suas ações, rejeita oempirismo
e dáuma
direção consciente a prática.
Nossa
atenção neste trabalho está voltada aalgumas
reflexõesem
torno
do
problema da teoria e metodologia no Serviço Social.A
opção
pela escolhado tema
surgiu da necessidade e da dificuldade9
Para
um
melher entendimento das perspectivas teórico/metodológicasdo
Serviço social naPROMENOR,
que
é onosso
objetivo,ordenaremos
aexposição
dos
capítulos da seguinte forma:No
primeiro capitulo, inicialmente, problematizamos a aspecto teóricometodológico
que
influencia o Serviço Social enquanto profissão,procurando enfatiizá-lo no seu desenvolvimento
desde
o início da profissão.Abordamos
também
algumas
variáveisque
influenciam e interferem napostura política a ser
assumida
pelo profissional e explicitamos categorias -conscientização e participação -
que
indicamum
nível de processualidade àprática.
No segundo
capítulo, apresentamos o aspecto teórico metodológicoda forma
como vem
sendo
efetuado naPROMENOR,
desde
a sua origem eapresentamos
também
a nossa prática de estágio efetivando-se através decAPiTuLo
|~
AsPEcTos
'rEÓR|co/|v|EToDoLÓG|cos
NA
coNsTRuçAo
DA
1.1
1.1 -
Teoria/Metodologia
e
Prática SocialX
Prática Profissionaldo
Serviço
Social -Para problematizarmos o aspecto teórico metodológico na prática
social e profissional
do
Serviço Social, gostaríamos, inicalmente, de situar o Serviço Social,como uma
profissãoque
se afirmacomo
tal, através dasnecessidades sociais derivadas da prática histórica das classes na luta pela sobrevivência.
O
Serviço Social está inserido na divisão sócio técnicado
trabalho esua
especificidade,como
profissão, é a intervenção na realidadeem
que busca
contribuir para a transformação damesma,
e esta intervençãose dá
ao
nível de assistência,não
deum
assistencialismo imediato,em
que
se atendeapenas
as necessidades concretascomo:
leite, feijão. Mas, referimos-nos a
uma
racionalização da assistência,em
que
sebusca
auxiliar noconcreto,
mas
preocupa-setambém
em
ir além,com
vistas adimensão
e
que entendam
a sua situação de pobreza, nãocomo uma
deficiência particularmente sua,mas como
um
produto da situaçãoem
que
se encontra a sociedade:A
assistência enquantouma
mediação
fundamental da práticado
Assistente Social.Historicamente o Serviço Social surge
como uma
especialização nasociedade
que busca
entendê-la paraque
possa intervir nesse processosocial,
não
tendo por base a prevalênciado
saber."A profissão limitou
sua
elaboração teórica amodelos
de intervençãona
realidade,com
oobjetivo de tratar enfermidades
que ocorrem no
chamado
organismo sociaI". (LIMA, 1975: 64) Paracompreender
a práticado
Serviço Social, na suadimensão
histórica, é necessárioque
haja redefinições na profissão. Considerando-seque
a sociedadenão
é estática, éque surgem novas
situaçõesque
secolocam
a serviço da prática profissional.E
é nesse processo de redefiniçõesque
o Serviço Social, ao longo de sua história, foi refazendo o seu fazerprofissional.
Surge então o Serviço Social de casos,
década
de 1920,como
um
procedimento metodológico
em
que
a ação profissional se dá,no
plano individual de auto ajudabuscando
conhecimentos na psicologia."Aos
poucos
o Serviço Social transferesua
visão individualista para ocampo
mais amplo
que
focalizou ohomem
atuandoem
pequenos
grupos
e macro-grupos,passando
ao aspecto13
Passa-se a interpretar o indivíduo
como
integrante de diferentes grupos: família, trabalho, lazer, etc.Na década
de 40, os americanos ampliaram ométodo
de grupo, atéentão utilizados por eles para a Organização de
Comunidade,
trazendo essenovo
método
ao Brasil."Passa da influência
do
pensamento
conservador europeu, franco-belga,
nos seus
primórdios, para a sociologia conservadora
.norte americana, a partir
dos anos
40. incorpora anoção
decomunidade
como
matrizanalítica da sociedade capitalista e
como
projeto norteador da ação profissional". (Iamamoto, 1992: 26)Com
a finalidade de adaptar ohomem
à sociedade, o Serviço Socialatribuiu a
sua
metodologia a tradicional tricotomia: Serviço Social de Caso, Serviço Social deGrupo
e Serviço Social deComunidade.
O
Serviço Social preocupou-seapenas
com
a operacionalização, tornando-seuma
prática repetitiva,que acumula
informações enão
astransforma. Formalizou-se
como
técnica a serviçodos
dominantes.Segundo
José
Paulo Netto, a metodologia entendida dessa forma:"ela atribui verniz "metodológico "a
meras
seqüências empíricas de ação, confundindo
metodologia
com
procedimentos particularesde intervenção e procurando viabilizar a totalização,
num
flagrante ecletismo, depsicologismo e
do
desenvoIv¡mentismo".- (1988: 12)'
Na década
de 60, namedida
que
o capitalismo vai se desenvolvendo,vão
se colocando questões sociais diferenciadas a profissão.Com
isso o Serviço Social é colocadoem
cheque
e sua intervenção é consideradaineficaz.
"Histor¡camente, o continente latino-americano
tempo onde
seengendrou
essemovimento
dequestionamento crítico da própria realidade e
no
interior desta da prática profiss¡onaI".(Martinelli, 1989: 127)
Esses
profissionaisque estavam
atrelados auma
postura mais crítica,na
década
de 60,com
a proposta deromper
com
osmodelos
importados,engajam-se
num
movimento que
ficou conhecido, na profissão,como
Movimento
de Reconceituação. Estemovimento
abriuespaço
para debates,reflexão e crítica da situação
do
Serviço Social naAmérica
Latina,em
âmbitodo
exercício profissional e no âmbito teórico. Busca-se referencial teórico parauma
práticado
Serviço Social Latino Americano.O
movimento
de reconceituação evidenciou a presença de diferentesenfoques teóricos sobre as
concepções
de Serviço Social,mas
omovimento
não
conseguiu realizaruma
crítica teórica radicaldos
paradigmas tradicionaisque
norteavam a prática.Substitui-se então,
no
campo
da metodologia, a tradicional tricotomia15
metodológicas: "fun‹cionaIismo", "materialismo histórico-dialético e "fenomenologia".
É
importante ressaltar, aqui,que
entendenos o Serviço Socialcomo
uma
especificidade das ciências sociais eque não tem
uma
metodologia própria eque
os pressupostos teóricosdo
Serviço socialfundamentam-se
nateoria marxista e nas ciências sociais.
"Essencialmente o
que
sustento éque
foiexatamente a "saída"do
campo
profissional, o remeter-se ao "exterior"do Sen/iço Social, o referenciar-se pelaschamadas
Ciências Sociaisou
pela tradição marxista - malgradotodos os equívocos aí registrados -
que
-
assegurou avanços
verificados entrenós
nasduas
últimasdécadas
"(NETTO,
1989: 147)Na
década
de 70, surge, nas universidades,uma
perspectiva deromper
com
oque
era tradicional,romper
com
a autocracia burguesa. Propõe-seuma
análise' critica da realidade e se busca as fontes originais de
Marx que
vem
aser de grande importância para o Serviço Social,
que
passa a se verno
processo de exploração capitalista,em
que
échamado
a dar contados
serviços sociais
que
o Estado,bem
como,
asempresas
privadas nãoconseguem
mais danconta.Nessa
crítica. ao tradicional, éque
sebusca
uma
ação
profissional transformadora.E
aconcepção
marxista aparececomo
alternativanegar o posicionamento-que., historicamente, o Serviço Social adquiriu, de instrumento da classe dominante, e voltar-se para a classe dominada.
Essa
nova
natureza da prática encontra-se no tratamento teórico-político, atribuído àprática. Daí a necessidade metodológica de se entender a
sociedade capitalista
em
suas múltiplas determinações,como uma
totalidade, enfatizando-se desta forma oconhecimento
da realidade, para que, a partirdesta, o Serviço Social
busque
a transformação.O
conhecimento
e a ação se interagem dialeticamente nabusca
datransformação de situações reais.
E
tanto a atividade teórica, quanto a atividade prática definem o objeto da ação profissional, o objeto entendidocomo
a representação dessa realidade concretaem
que
o Serviço Social vai atuar.A
formação
profissional, elatem
a função de, através deum
distanciamento critico,
compreender
e apontar possibilidades teórico-práticasda profissão, apresentadas pela realidade.
O
desenvolvimento profissional éum
movimento
permanente, diante darealidade social imposta à profissão, devido às relações sociais de produção.
A
medida que
as -relações sociaisvão
se modificando e se colocando deforma diferenciada na sociedade, o profissional deve
acompanhar
estemovimento.
É
neste sentidoque
a formação profissionalsupõe
um
sólido suporte teórico metodológico paraque
se reconstrua a prática.' "A
teoria aparece,
no
processode produção
deNeste sentido, as
mudanças
ocorridas nasconsequente-17
mente
transformaçõesnas
formasde pensar
seu
objeto".(MACEDO,
1982: 21)A
A
teoria é
um
conjunto de princípios e idéiasque
orientam oshomens
no
processo de conhecimento. Ela indica à prática, possiveiscaminhos
detransformação.
A
teorianos
possibilita ultrapassar osenso
comum,
consciência ingênua, levando-nos a
uma
reflexão critica da sociedade.A
essaação
humana
éque
chamamos
de práxis, busca deconhecimentos
paraque
se
possa
chegar a transformaçao.Segundo
Kameyana,
teoria e práticasão
uma
unidade indissoiúvel.A
prática é o ponto de partida para o conhecimento, e é fundamental para ateoria,
sendo que
os conhecimentos e a teoriasurgem
através dasnecessidades da vida.
É
na práticaque
os conceitos e teoriassão
colocadosã prova. (1989 : 100)
O
Serviço Socialbusca
rejeitar o impirismo procurando teórica e criticamente desvendar a prática social - prática da sociedadeem
movimento
-
como
condição para realizar a prática profissionaldando
uma
direçãoconsciente.
Sendo
que
a prática profissional, éuma
expressão da prática social, dessa totalidadedo movimento
da sociedade."Entender a prática profissional
supõe
inseri-Iaseus
mecanismos
depoder
econômico,político e cultural, preservando
no
entanto, asparticularidades da profissão enquanto
atividade inscrita
na
divisão socio e técnicado
O
Serviço Social seexpande
como
parte deuma
estratégiados
dominantes para agir entre os dominados.
A
aparênciaque
o Serviço Social apresenta, de seruma
profissãoque
faz, oque
todospodem
fazer, reafirma a práticanão
dando
contado
significado sócio político da profissão,que
sópode
ser apreendidono desvendamento
da dinâmica da vida social.Ao
buscar entender e captar a dinâmica da realidade social, o Serviço Social se dá conta deque
esta realidade éamplamente
complexa, ao sedeparar
com
suas
contradições e percebe,que
diante desta realidade, não dámais para improvisar. Sente a necessidade de
uma
construçãoteóricolmetodológica
que
ultrapasse o voluntarismo da prática, a improvisação, osenso
comum,
por considerar que, agindo desta forma, oServiço Social perde o seu referencial enquanto profissão.
A
teoria implica a construção, no níveldo
pensamento, dessemovimento do
real, apreendido nassuas
contradições, nassuas
tendências,nas suas relações e inúmeras determinações.
Ao
se recusar 0 empirismo da prática e assumirum
papel teórico-crítico,
buscando
desvendar a prática social, para implantar estratégias deação
que
impliquemem
uma
nova direção social, se estádando
uma
direção consciente a prática profissional.Segundo
Kameyana,
a atividade profissional éum
tipo de trabalhoque
possuiuma
dimensão
politica.A
prática profissional estáintimamemnte
relacionada
com
o direcionamento teórico-políticoque
o profissional dá a sua19
dessa clarificação, é
que
se poderá fazeruma
prática consistente,quando
se remete sua prática aos interesses da classe dominante ou aos interessesdos
dominados. '
A
prática profissional é determinada pelomovimento
das forças sociaisem
luta na sociedade e a dinâmica da realidadevem
exigindoum
trabalhosocial
como
prática políticaem
termos de vinculaçãocom
as forças detransformação, e essa transformação, entendida
como
um
processo políticoamplo que
se desenvolve na luta de classes a partir das contradições.Podemos,
assim, enfatizar a prática profissionaldo
assistente social diante da categoria de intelectual orgânico, expressaem
Gramsci.O
intelectual orgânico da classe trabalhadora,que
está vinculada a classedominada,
como
um
intelctualque
orienta asmassas
no processo interno deorganização, orienta a espontaneidade da massa, para
que desenvolvam
consciência política de classe expressa na prática política organizada.
Segundo
Boris Alexis Lima, o Serviço Sociai revolucionário definenovos
objetivos que, paraserem
alcançados,exigem
um
novo
agenteprofissional, co-participanteda ideologia das classes sociais
que
constituem1.2.
Dimensões
Teórica/Metodológicas
do
Serviço
Social
'#1
ANTRoPo|_Ós|co
s
A
dimensão
e o direcionamento político,que
o profissional atribui a suaprática,
vem
sendo
ponto fundamental para o Serviço social, e traz consigo,ao longo de
sua
história, a finalidade de ajustar e adaptar ohomem
a sociedade.De
acordocom
o positivismo, o estudo científiconão pode
se basearem
juízos de valor, defende a neutralidade.E
é justamente contrário a istoque
nos referimos,
quando
colocamos
da necessidade deum
direcionamentopolítico na profissão; o profissional posicionando-se frente a visão de
homem
que
defende.Posicionar-se frente a
uma
visão dehomem,
requer, inicialmente,que
situemos esse
homem.
Consideramos
ohomem
como
um
ser situadono
mundo, que
viveem
relaçãocom
os outroshomens
ecom
a realidadeque
"O
homem
é essencialmente sociável; sozinhonão
pode
vir a estemundo, não
pode
crescer,não
pode
educar-se; sozinhonão
pode
nem
aomenos
satisfazersuas
necessidades maiselevadas; ele
pode
obter tudo issoapenas
em
companhia dos
outros.Por
isso,desde
0seu
aparecimento sobre a terra,
encontramos
ohomem
sempre
colocadoem
grupos
sociaissempre
maiores (a aldeia, a cidade, o estado) (1926: 155)Mondin
coloca ohomem
como
pessoa,como
singular e individual,como
ser único e insubstituível e considera o conceito mais completo depessoa o de Boécio, para o qual "a pessoa é
uma
substância individual denatureza racional" (1926: 292).
A
pessoacomo
ser concretoque
ama, sente efaz julgamentos.
Frente a ideologia positivista, de adaptar o
homem
a sociedade, estepassa a ser tratado
como
objetocom uma
ação de caráter assitencialista.Busca
levar ohomem
auma
conformação
de sua situação enão
como
serparticipante
que
reage a esse assistencialismoque
o manipula. Nestecontexto o
homem
é visto de forma isolada,como
desajustado.O
que
salientamos éque
ohomem,
ao qual o Serviço Social se devevoltar
não
éum homem
isolado,mas
simum
homem
visto dentro da classe social aque
pertence., classe explorada pelo sistema capitalista,em
que
se valoriza omundo
das coisas e cada vez mais se desvaloriza omundo
do
homem.
O
homem
é vistocomo
mão-de-obra barata e por isso interessante23
"A
opção que
defendemos
é deque
ohomem
seja objeto e sujeito desua
própria transformação.Ao
ser atordo
processo de desenvolvimento social torna-seseu
criador,sendo
chamado
a transformarseu mundo.
Somente
ohomem
se obriga a superar a falsa consciência introjetada, pela sociedadecapitalista, mediante a estrutura objetiva das
relações de
produção
e a ideologia dasclasses dominantes.
É
imprescindível aoindivíduo participar
de
todas as fasesdo
processo demudança
para teracesso
asua
própria Iibertaçäo". (LIMA, 1975: 26)
É
necessárioque
o Assistente Social entenda ohomem
como
ser histórico deuma
realidade,em
que
os relacionamentossão
frutos dascontradições.
O
Assistente Social, ao entender ohomem
como
"ator"do seu processo de transformação, busca fazercom
que
o objeto da sua açãoprofissional se converta
em
sujeito da açao.Myrtes coloca
que
o Serviço Socialpode
abordar a questãodo
sujeito e objetosob
dois enfoques:"um
enfoque é mais restrito,abordando
aquestão
do
sujeitoou do
objeto isoladamente,o outro é mais abrangente, tentando abordar a
questão
em
termos de totalidade,formada
pelo (1982: 34)Situar o
homem,
comosujeito do
Serviço Social, é partirdo
pressu-posto de
que
estetem
o potencial de capacidade de transformação, eque
ohomem
é sujeito da sua transformação.Uma
ação
profissional, voltada para ohomem
oprimido, leva oprofissional a
uma
compreensão
crítica da sociedade, percebendo-acomo
contraditória,
em
que
os interesses das classes divergem entre si."A ação profissional desenvolvida nessa perspectiva libertadora implica
uma
açãovoltada para o
homem
- sujeito, enquantoagente
do
processo de transformação dasociedade, levando esse
_homem
auma
consciência crítica de si
mesmo
edo
mundo
asua
volta". (SILVA, 1982: 94)Ao
pretender conhecer ohomem,
através das relações sociais estabelecidas na sociedade, o profissional de Serviço Social iniciaum
processo de construção teóricolmetodológico através de
uma
posiçãoideológica,
sendo que
a ideologia condiciona a visãoque
setem
da realidade. "A reflexão teóricanão
constróium
objeto, ela reconstrói o objeto historicamente dado". (Netto, 1989: 143)A
atitude decompromisso
com
a ideologiados
dominados,uma
ideologia de renovação, é caracterizada por defender o
homem
como
sujeitoda transformação da realidade. ' '
"A filosofia de Marx, parte
do
estudo dialéticodo
homem
como
ser históricono mundo.
Desta12%:
concreto, vivendo
no mundo,
em
lutaconstante' contra a natureza e
em
relaçaocom
os outros homens".
(MACEDO,
1982: 43)O
homem,
fazendo a sua história, agindo dentro da sociedade, diantedas relações de produção
que
lhesão
impostas, é sujeito dasua
história.Voltando-se a
uma
ideologia de renovação e valorizaçãodo
homem,
afirma Boris que:
"se este
homem
oprimido é oque
provoca aação
profissional, os objetivosdo
trabalhonão
politização, organização, mobilrzaçao e participação
do
indivíduoem
busca
dan
libertação (1975: 82)
A
conscientização possibilita aohomem
a critica deuma
situaçãoconcreta, da realidade, possibilitando, assim, que, através da organização e participação, ele
possa
transforma-la.1.2.2.
cosMo|_Óeico
A
terra éum
ponto na imensidãodo
universo e este envolve ohomem
por seu
espaço
e, justamente, por estar inserido neste espaço, ohomem
procura compreendê-lo.
Segundo
Nogare:"A ciência, a verdadeira ciência,
bem
longe de diminuir ohomem
frente ao universo, oengrandece,
como
capacidade e esforço parapenetrá-Io". (1988: 307).
O
homem,
na tentativa de entender o universo, provocamudanças
nasua
vida etambém
no universo, e estasmudanças
e transformaçõesvão
sedando
num
nível de evolução, modificando o presente e influenciando nofuturo. Estas
mudanças
podem
ser positivas,como também
negativas,»
segundo nos
coloca Nogare: .'
..."Não
devemos
esquecerque
ohomem,
27
un¡verso,_pode tornar-se o ser
mais
perversodo
universo". (1988: 307)O
posicionamento politico, essa formacomo
o profissionalconcebe
arealidade, traz implícita
uma
visão dehomem
emundo.
Não
existe sóuma
maneira de observar
um
fenômeno
e de agir sobre ele e asconcepções
e visões demundo
são
asque
sobrevivem diante da constituição de teorias e práticas eexpõem
suas tendências.Partindo da
sua
visão demundo,
o Assistente Socialpode
teruma
consciência ingênua de
senso
comum,
assumindo
a aparênciados
fatoscomo
realidadeou pode
teruma
consciência critica,quando
háum
processode
desvendamento
da realidade, buscando-se ir além da aparênciados
fatos equestionando-se a realidade.
É
influenciado pela visão demundo
que
o Assistente Social dirige o seu posicionamento político na profissão. Através da visão demundo,
da formacomo
vê ohomem
na relaçãocom
os outroshomens,
éque
sefundamenta
uma
orientação determinada na esfera social, política e moral da vida dohomem.
Salientamos a importância da visão de
mundo
que
norteia oprofissional mas,
não
devemos
esquecer que, no confrontodo
Assitente Socialcom
a realidade social, é necessário,que
o profissional tenhaum
suporte teórico pois,_ para partir para se conheceruma
dada
realidade, deve-se ter claro as implicações estruturais da sociedade, entendendo-a na sua
"Neste contexto, a transformação social deve
ser
pensada
em
seu
sentido amplo,envolvendo as leis fundamentais
da
sociedadee,
em
suas
particularidades específicas, ocontexto sócio histórico
onde
a ação será desenvoIvida".(SOUZA,
1982: 92).Para apreender o sentido político da prática
do
Serviço Social, é preciso ir além das aparências e deuma
prática burocratizada e filantrópica.É
necessárioque
se faça as mediações,sendo que
a prática socialnão
seconhece
de forma imediata. Precisamos entendê-la dentro da totalidade dasociedade capitalista. E entender o fato dentro de
uma
visão de totalidade, énão deter o fato
como
um
dado
isolado,mas
sim percebê-lo dentro de toda adinâmica da sociedade, diante das relações sociais e contradições
que
se fazem presentes."A
ação
desenvolvida pelo Assitente Social é "situada",ou
seja,não
existe fora deuma
realidade concreta, estando diretamente referenciada ao estágio sócio-culturaI-econômico
e políticoem
que
esta se encontra(Martinelli, 1978: 20)
Devemos
não
só terum
domínio deconhecimentos
básicos daprofissão,
mas
terum
conhecimento
apurado da realidade,sendo que
é sobre29
"Construir as categorias
de
análise para cadaconjuntura de trabalho, visualizando as
relações de força e os blocos
em
presença épressuposto metodológico fundamental da
construção de
uma
racionalidade aomesmo
tempo
emancipatória e instrumentalque
permita unir o
macro
com
a micro política".(FALEIROS, 1989: 126)
A
"clienteIa"do Serviço Social geralmente é institucionalizadacomo:
idosos, crianças, exepcionais, etc, eentendemos que
estapode
seruma
forma de facilitar a organização desses grupos,
mas
diante deuma
visão demundo
em
que
se quer apreender o ser social dentro da totalidade dasociedade,
não
sepode
esquecerque
estes diferentes grupos de pessoas,pertencem a
uma
mesma
classe eque
vivemem
situação socialcomum.
A
situação alque
nos referimos acima, éuma
situação de dominação,em
que
a maioria daspessoas éexplorada
e manipulada poruma
minoria.Não podemos
perder de vista a relaçãoque
existe na sociedade capitalista,entre dominantes e
dominados
eque
é, nesta relação,que aparecem
asdivergências de interesses,
em
que
paraum
é interessante a relação deexploração, e para outro esta situação torna-se insuportável.
Diante desta diferença de interesses, torna-se mais evidente a divisão entre as classes, fortalecendo-se
também
desta forma a luta entre as classes.É
neste conteiztoque
gostaríamos de enfatizar a visão demundo,
estacomo
sendo
determinante naopção do
direcionamento da prática aque
o1.2.3.
ÉTICOITELEOLÓGICO
A
práticado
Serviço Social,desde
o seu surgimento até a década de 1960, foi centradanos
principios da dignidadehumana
edo
bem
comum,
baseados
na doutrina deSão
Tomás
de Aquino,em
que
para este, asociedade é a união de
homens
com
o
propósito de efetivar obem comum.
Baseado
no
prncípio da dignidadehumana,
o Serviço Social vaidesenvolvendo sua
prática,com
vistas a manter a harmoniaem
um
sistemadesigual, afirmando
uma
visão idealista da realidade,não
considerando atotalidade.
Conforme
enfatiza Boris:"Um
conjunto de teorias,métodos
e técnicasordenam-se
conscientemente para a ação,buscando
promover
ajuste, equilíbrio,ou
provocar
mudanças
nas
relações sociais". (LIMA, 1975: 78).fil
Para superar esta prática idealista, é necessário
que
se tenha claro aquestão da economia, das relações
que
se estabelecem na sociedade edos
seus
valores,buscando
apreender a totalidade.O
Serviço Social, muitas vezes, se perdeem um
discurso idealista dedignidade
huamana, buscando
soluções para os problemasno
mundo
dasidéias,
quando
oque
se busca. sãocaminhos que
possibilitemuma
transformação real
do
mundo
concreto.Vivemos
em
um
modelo
capitalista de sociedade,em
que
os interessesgiram
em
torno daprodução
e ohomem
vale peloque
produz,conforme
afirma lamamoto:
"A valorização
do
mundo
das
coisascorrespondeu a desvalorização
do
mundo
do
homem.
A
força da vida, criadorade
valoreshumanos
foi tragada pela mercadoria, símbolodo
capitaI". (lamamoto, 1989: 33)Percebemos
que
diante desta despersonalização gerada pelo capitalismo, a sociedade aspira pela valorizaçãodo
serhumano,
justiça e transformação.E
daí a importânciado
Serviço Social, que, ao compartilhardesses
"ideais", apresenta-secomo uma
maneira,um
caminho
paraque
se viabilize essa transformação.Para superar essa ética idealista, é necessário
uma
ética voltada para osociedade e verificar
como
aos valores incidem nanossa
cultura,possibilitando
que
aspessoas
reflitam e questionem seus valores.Ao
nos
referirmos aosvaores
deuma
sociedade, estespodem
ser estéticos, políticose morais.A
ética nos auxilia a discutir os valores dacultura da sociedade, para
que
possamos
perceber a totalidade damesma.
Percebemos
que
a valorização de certos objetos e atos, muitas vezes, nãosão
uma
decisão individual,mas
apenas
a incorporação deum
valorque
já é culturamente aceito pela sociedade."O
indivíduo pertence auma
época
e,como
sersocial, se insere
sempre
na rede de relaçõesde
determinada sociedade, encontra-se
igualmente imerso
numa
dada
cultura, da qualse nutre espiritualmente, e a
sua
apreciaçãodas
coisasou
osseus
juízosde
valor seconformam
com
regras, critérios e valoresque
não
inventaou
descobrepessoalmente
eque
tem, portanto,
uma
significação sociaI". (Vasquez, 1985: 123)Vasquez nos
coloca aindaque
os valoressão
criaçõeshumanas
eque
só
existem na relaçãocom
oshomens.
Considerandoque não sendo
assimqual seria o sentido da solidariedade se não existissem os
homens
paraserem
solidários? `-
Percebendo
o Serviço Socialcomo
agente importante na busca detransformações, enfatizamos
novamente
a importânciado
aspecto'SS
concretas,
quando
colocadaem
prática,-sendoque
a teoriasomente
em
nivelde consciência
dos
fatosnão
altera osmesmos,
conforme
enfatiza Bóris: "A realidade social torna-se abase
para elaboração de teorias e aomesmo
tempo
áreade
aplicaçãodas
mesmas,
numa
dinâmica transformadora e de transformação constante (1975: 88)O
Serviço Social,amparado
porum
suporte teóricolmetodológico,que
possibiliteuma
leitura críticado
real e o direcione nabusca
da transformação,apresenta-se a sociedade
como
uma
profissãocom
finshumanizadores
e transformadores,buscando
uma
transformação da situação concreta dasociedade, para
que
se reverta esse quadro de exploração e desvalorização1.2.4.
PRAGMÁTICQ
O
Serviço Social, apesar de sua especifidade interventiva, ainda apresentauma
deficiência quanto a utilização de instrumentos e técnicas necessários ã práticado
Serviço Social, perdendo-seem
uma
práticarotineira,
mecanizada
e formatizada.O
profissionaltem
impregnado,em
suas ações, o caráter administrativo, aparececomo
administrador de recursos, exercendo a função de planejar, dirigir, organizar e controlar. Atravésdo
planejamento, decide osobjetivos e
como
atingi-los, organiza seus recursos para atender as necessidades aque
se propõe.Esse
planejamento deve ser feito de forma,em
que
os usuários participem dessa definição de objetivos e prioridades.O
Assistente Social se encarrega de conduzir os trabalhos de acordocom
as exigências já formalizadas, reduzindo a prática auma
relação burocráticaou
a simples prestação de serviços.35
"Se o Assistente Social se restringe a executar irrefletidamente as diretrizes institucionais,
sequer
percebe a significaçãodas suas
açõesquanto mais as possibilidades de redefini-las
em
função da problemática da populaçãoobjeto desta
sua
ação". (1982: 87)Percebemos,
então,que
a práticanão
sepode
tornaruma
mera
execução
de procedimentosque
já foram anteriormente estabelecidas,buscando
"enquadrar"aspessoas
que
o procuram, dentrodos
padrõesque
jáestao colocados.
_ Desta forma, efetiva-se
uma
prática burocratizada,em
que
os serviçossão
prestados àquelesque
estão dentrodo
padrão estabelecido, não se redefinindo a prática diante de situaçõesnovas
que
secolocam
na sociedade.A
práticado
gerenciamento de recursos éuma
práticaque
leva apopulação a procurar o Assistente Social, porque este constitui-se
num
agente pelo qual, dentro da rotina administrativa de
uma
instituição, aspessoas
têm que
passar para chegar aos recursosque são
ali oferecidos.O
Assistente Social, muitas vezes,tem
a função de coordenar eassessorar cursos e serviços, supervisionar convênios, dar pareceres
em
processos,
mas
muitos profissionaisnão
valorizam esta prática,achando que
isto
não
é Serviço Social. Consideroque
é desta forma que, muitas vezes, oServiço Social
acaba perdendo espaço
para outros profissionais, poismuitas vezes, foram conquistados para a população através
do
ServiçoSocial. ~
Segundo
lamamoto, a partir de qualquer referência metodológica, há anecessidade de procedimentos e estratégias para implementação
do
fazerprofissional. (1992) l
Daí a necessidade de termos clareza quanto aos instrumentos técnicos operatórios
que
auxiliam a profissão, na buscado
conhecimento, paraque
sechegue
a transformação, instrumentoscomo:
entrevista, relatório, visitadomiciliar, reunião, observação, etc.
A
técnica de grupo é bastante utilizada pelo Serviço Social,que
busca, através deste, desenvolver açõesque expressam
a vontade coletivados
integrantes
do
grupo. Utiliza-se,também,
entre outras da técnica derelacionamento;
em
que busca
estabeleceruma
relação afetiva e cognitiva,procurando refletir
com
aspessoas
as relações sociaisque
se estabelecemna sociedade.
O
Serviço Social utiliza-se desses instrumentos tendouma
intencionalidade
que pode
serapenas mera
formalidade, obtenção dedados
para constarem
em
arquivos,como também
pode
ser paraque
sebusque
conhecer a realidade vivida pelas pessoas,buscando
entendê-la nas suasmúltiplas relações,
como
alternativa para superar esta realidade. Para Faleiros:"a re-presentação da situação vivida pelo
dominado
na óticado dominante
implica a contextualização da situaçãonos
prontuários5 1'
isolados, entrevista episódica
na
padronizaçãodos
formuIários". (1989: 125)O
Assistente Social precisa ultrapassar esta visão referenciada por Faleiros, utilizando-sedos
instrumentoscomo
formas de ação,como
caminhos
para viabilização demudanças
das situações concretasque
nossão
postas pela realidade.Colocando que
é através desses procedimentostécnico operativos
que
osconhecimentos
adquiridossão
transformadosem
ações concretas, possibilitando-se a transformação.Não
sedeve
desprezar ouso
de instrumental técnico,mas
direciona-losde forma
que
estes instrumentos sirvam de estratégias paraum
agirprofissional condizente
com
a problemática da população.E
éno
processo dereflexão -
ação que
se identifica os instrumentos maisadequados
a açãoque
se quer desenvolver.É
importante ressaltarque
a separaçãoque
fizemos dessasdimensões
da Teoria e Metodologiado
Serviço Social éapenas
a nivel didático paraum
melhor entendimento
do
trabalho, pois estassão
concomitantes eformam
1.3.
Procedimentos
Essenciais
da
Teoria
e
Metodoiogia
do
Serviço
social
Do
ponto de vista da dinâmica da participação popular a Teoria eMetodologia
do
Serviço Social privilegia duasdimensões
essenciais no seuprocedimento:
A
Conscientizaçãoea
Participaçãoque passaremos
aapresentar
em
seguida. _39
pf
1.3.2.
NÍVEL
DE coNsc|ENTizAçAo
~Para falarmos
em
conscientização,consideramos
como
ponto de partida o conceito de aienação,em
Marx.‹
"AIienar-se é vivenciar o
mundo
e a simesmo
passivamente
como
algo alheio, estranho,separado.
É
anegação
da produtividade é o'
homem
não
reconhecer-secomo
agente ativoque deve
controlar omundo
de objetospor
ele criado,mas
ao contrário vivenciar a inversãode
ser controlado, determinado pelos objetosde
sua
criação. " (1993:10)A
conscientização é justamenteuma
forma de livrar ohomem
destaalienação, possibilitando a este perceber-se dentro dessas relações
que
dominam
e alienam, implica ultrapassagem desta consciência ingênua.A
realidade,num
primeiromomento, não
se dá aconhecer
de formaA
conscientização implica justamente ultrapassar essa visão ingênua da realidade, paraque
se alcanceuma
visão criticaem
que
ohomem
sepropõe a conhecer esta realidade para transforma-la, possibilitando ao
homem
assumir o seu papel de sujeitoque
constrói a sua história.'
"A conscientização
não
pode
existir fora dapráxis
ou
melhor,sem
o ato ação-reflexão. Estaunidade dialética constitui,
de
maneirapermanente, o
modo
de serou de
transformaro
mundo
que
caracteriza oshomens.
"(Freire,
1980:26)
-
É
necessárioentendermos
a conscientizaçãonão
como
algo acabado,mas
como
um
processoque
vai se fazendo namedida que
a realidade vai semostrando
diferente.E
nabusca
de entender a realidade concretaem
que
vive, o
homem
vai transformando-a e recriando-a, vai fazendo asua
história.Para Souza:
..."A conscientização é
um
processo
contínuode
compreensão
crítica da realidade existencialque
se tem, passa-se auma
percepçãoampliada dessa realidade, estabelecem-se
correlações de causa e efeito e formulam-se
~ juízos e críticos
que
direcionam a formulação41
É necessário refletir sobre a realidade vivida, sobre o
homem
e o meioconcreto
em
que
este vive, paraque
a partir daí ohomem
passe a ser sujeitode sua história.
Segundo
Freire:"O
homem
chega
a ser sujeitopor
uma
reflexãosobre
sua
situação, sobreseu
ambienteconcreto.
Quanto mais
refletir sobre arealidade, sobre
sua
situação concreta, maisemerge,
plenamente
consciente,comprometido, pronto a intervir
na
realidadepara mudá-la. " (1980:35)
E
paraque
ohomem
chegue
a ser sujeito e participe ativamente dahistória e da transformação da realidade, é necessário
que
ele seja auxiliado atomar consciência da realidade concreta
em
que
vive e dasua
própriacapacidade de transforma-la.
Nesse
momento
éque consideramos
defundamental importância a participação
do
Serviço social,como
um
educador
que
auxilia aspessoas no
seu processo de conscientização e a se tornarsujeito da
sua
história.Para ajudar o
homem
a fim deque
este seengage
na construção dasociedade, é necessário
que
oajudemos
a alcançaruma
captação mais críticada realidade.
`
Considerando que,
conforme
enfatizaDEMO:
..."Sua inconsciência
pode
aparecercomo
que
a situação dedominado
seria incorporadacomo
condição normal da história,não
eclodindo a necessidade de
mudança.
"(1988:27) ,
Essa
inconsciência ou consciência ingênua daspessoas
torna-seuma
aliada
dos
dominantes paraque
semantenha
aordem
vigente.Segundo
Freire:"0s oprimidos
não
obterão a liberdadepor
acaso, se
não
procurando-aem
sua
práxis ereconhecendo
nelaque
é necessário lutar paraconquista-Ia. " (1 989:5?)
As
pessoas que
seencontram
em
estado de miséria,são
consideradospela sociedade
como
pessoas
marginalizadas,que não conseguiram
incluir-se nas relações estabelecidas na sociedade.
O
sistema capitalistaem
que
vivemos, faz
com
que, muitas vezes, estas pessoas marginalizadas, na intenção de se "incluírem"na sociedade, Iutem para adquirirem poder e se tornarem opressores aexemplo
de seus opressores.Esta visão imposta pelos dominantes e aceita pela consciência ingênua
dos
homens
não
os permite perceber esta situaçãocomo uma
condiçãoque
lhe é imposta pelos dominantes e
que
a questãonão
é "incIuir-se" na6.5
Para
que
se alcance essa libertaçãodo
oprimido, é necessário partirpara
um
processo de conscientização,buscando
um
conhecimento
crítico darealidade para
que
sepossa
transformá-Ia.Freire mostra-nos a conscientização levando-nos a assumir
um
compromisso
decritica da realidade,mas uma
critica construtiva,que busque
alternativas para
que
sepossa
superar e transformar os pontos falhos percebidos.A
conscientizaçãosupõe
superar essa consciência ingênua,que
sedetém
na aparênciados
fatos e os aceita, e partir parauma
inserção crítica dapessoa conscientizada
numa
realidade desmistificada.A
conscientizaçãocomo
um
esforço para superar os obstáculosque
impedem
uma
percepçaocrítica da realidade.
"O papel fundamental
dos que
estãocomprometidos
numa
ação
cultural para aconscientização
não
é propriamente falar sobrecomo
construir a idéia Iibertadora,mas
convidar os
homens
a captarcom
seu
espíritoa verdade de
sua
própria realidade. " (Freire,1980:91)
Para finalizar,
podemos
demonstrarum
pouco desse
processo deconscientização, olhando para a história
do
Serviço Social.Nas
palavras deMartinelli:
"Tomando
consciênciade
seu
tempo
e das condições históricasque
o peculiarizavam, os"agentesf',
procuravam
somar
esforços paradestruir 'a pseudoconcreticidade, para se
libertar das formas reificadas de prática
que
vinha,
marcando
sua caminhada
profissional."(19a9z1z3)
Como
percebemos, nadécada
de 60, a profissãopassou
porum
processo de conscientização e, a partir daí,
buscou
transformações.E
énesse sentido
que
entendemos
a conscientizaçãocomo
ponto de partida para a transformação.M1
1.3.1.
NÍVEL
DE PARTICIPAÇÃO
Em
nossos
estudos, ressaltados ao longo desse trabalho,podemos
constatar
que
a realidade social apresenta sérias dificuldades referente adesigualdade existente entre as classes.
E
paraque
essas desigualdades sejam superadas é necessárioque
sebusque
uma
práxis social,em
que
sebusca conhecer, para intervir e transformar.
Para apresentar
um
caminho
possível, para a transformação desta sociedade, éque
vamos
falarum
pouco
da participação."Participação
não tem
razão de ser, para nós,como
estratégiaque
visa legitimar e consolidar`
uma
situaçãoou
um
sistema dados,mas
objetiva a distribuição
dos bens
da sociedade,`
assumindo
um
caráter transformadordos
mecanismos
que
mantém
e/oureproduzem
as desigualdades sociais. "(AMMANN,
1980:25)Para
que
busquemos
a participaçãocomo
um
caminho
para superação das desigualdades,vamos
enfatizá-lacomo
um
processo a ser conquistado.AMMANN
evidencia a participaçãocomo
sendo
direta - ascamadas
populares
tomando
parte diretamente na produção - e a participação indiretaas
camadas
populares participando da produção mediante ao associativismo.Segundo
AMMANN:
- "A
produção
constitui abase
daordem
social,logo é ao nível da
produção que se
definem aqualidade, o tipo e o grau de participação
dos
grupos
deuma
dada
sociedade. " (1980:47)O homem
por seu trabalho e, para suprir as necessidades,domina
etransforma a natureza paraproduzir bens materiais. E é nesse processo de produção
que
ohomem
vai estabelecendo relaçãocom
os outroshomens.
Para produzirem os bens materiais necessários para satisfazer as suas necessidades básicas, os
homens
entramem
relaçãocom
os outroshomens
e dessas relaçõesvão
se definindo os diversosmodos
de produção.E
é portanto desta formaque
a sociedade produz a simesma, quando
estabeleceas relações para a
produção dos
bens materiais."A sociedade
não
representasó
o trabalho,mas
igualmente trabalho sobre trabalho.Não
significaapenas produção
de bens,mas
produção
e transformaçãode
si epor
sl47
Na
relação entre os proprietários e osnão
proprietáriosdos meios
de produção, estes últimossão obrigados a produzir para osdonos dos
meios de produção e desta formavão
cada vez participandomenos
do
processoprodutivo.
Dentro
do
sistema capitalistaem
que
vivemos, ascamadas
populares são, de certa forma, excluídasdo
processo de participação,sendo que tem
a possibilidade de participarapenas nos espaços que
lhessão
concedidos. Eentendemos que
a participação éum
processo inacabado e deve serconquistada.
Se
nosconformarmos apenas
com
osepaços
de participaçãoque
nossão
concedidos, pornossos
dominantes, será muito dificilque
consigamos romper
com
as desigualdades sociais, poiscomo
afirmaDEMO:
"O
problema
de fundo éque
o Estado écontrolado pelos iguais. Interessa a esses
que
os desiguaisnão façam
o confronto." (1988:32)Participar
não
é só produzir.É
também
usufruirdos bens
que
produz. Eo
que percebemos
éque
ascamadas
populares participamsó
da produção,pois o usufruto lhes é negado.
Se
a população produz,mas
não
usufrui, elaAs
pessoas que produzem
a riquezados
paísnão
participam dousufruto desses bens, eles-apenas
ganham
um
salário, que, para a grandemaioria,
não
supre assuas
necessidades básicas.Sabemos
que
aspessoas que
vivemem
situação sócio-econômicamuito deficitária
têm
suas preocupações imediatas voltadas para asobrevivência e
que
esta luta é tão exaustivaque
aspessoas
acabam
ficandosó no imediato,
não
sepreocupando
em
garantir a sobrevivênciacomo
direito definitivo.Como
podemos
perceber, as relações sociais vigentes na sociedade sãoum
fatorque
interfereno
nível de oportunidade da participação social.Portanto, a participação social se dá na prática cotidiana. Ela se define nas
relaçoes sociais.
Diante das relações
que
as pessoas estabelecem na sociedade, estapode
redefinir-se e transformar-se.O
homem
émarcado
pelos resultados desua prórpia ação na reiação
com
omundo.
"A intensidade da participação social
pode
serampliada
ou
reduzidaem
decorrência decondições propiciadas a nível societal e ainda
por
razõesque se colocam
na área daconscientização. "
(AMMANN,
1980:27)A
participação,quando
atingemomentos
significativos, é algoque
assusta os detentores
do
poder.Somos
um
povo que não tem
história de49
quando
participamos demodo
significativo na luta contra as injustiças, ospoderosos
sentem-seameaçados, sendo que
é através da participaçãoque
amaioria poderá impedir
que
a minoriaimponha
suas decisões.Segundo
DEMO:
..."0rganizar-se para conquistar
seu
espaço,para gerir
seu
próprio destino, para ter vez evoz, é o
abecê
da participação. " (1988:26)E
é através da organizaçãoque chegaremos
a efetivação da nossaparticipação, fazendo então
com
que
nossas opiniões e direitos sejamrespeitados. '
O
voto éum
dos
mecanismos
de participação mais frequente na nossasociedade,
sabemos,
porém,que não
bastasó
podermos
votar,mas
conforme
enfatizaAMMANN:
"Urge
que
a população esteja informada arespeito de
porque
votar,quando
votar,em
quem
votar e paraque
votar, atéonde
vaiseu
direito a associação e à representatividade..."
(1980:35)
Somente quando
a população for informadaou
conscientizada desseinstrumento
que
é colocado-a sua disposição, éque
esta poderá usá-Io ou não da formaque
achar correto.Encontramos, muitas vezes, atitudes de aceitação e passividade
em
que
aspessoas
interpretam a sua situação de misériacomo
vontade de Deus,ou destino e isso
impede
o processo de participação.E
é nesses casosque
se faz necessária a informação, a conscientização, propiciando a estaspessoas
uma
visão critica da sociedade,buscando
entendê-la dentro dasrelações sociais estabelecidas e
que
a partir desta clareza é importantebuscar transformá-la.
A
participação indireta, a qualAMMANN
refere-se,supõe
o associativismocomo
um
instrumentoque pode
serusado
na luta pela participação. ~Segundo
AMMANN:
"Os processos sociais
geram
um
fenômeno
social muito importante: ogrupo
social."(1980:55)
É
noagrupamento
socialque
se consolida a associatividade eem
que
se torna possivel instrumentalizar a participação social.Através da associação, as
camadas
sociais sepodem
engajarem
grupos voluntários e a partir daí ter acesso à participação social.
‹
"Os
grupamentos
voluntários assumirao,portanto, significância,
na
proporçãoem
que
funcionem
como
veículosde
participaçãosocial. Mediante a associação, as diversas
camadas
sociaispodem
partilhar seus'51
problemas
e interesses, adquirirpoder
reivindicatório e indiretamente ter acesso à
gestão da sociedade. "
AMMANN,
1980:57)Desta forma,
entendemos que
participarnão
ésó
estarou
nãointegrado a
um
grupoou
associação,mas
em
termos de contribuição e utilização de recursos e serviços da sociedade.AMMANN
enfatiza que:"0 cidadão, entretanto, reinvidica
não só
ascondições materiais,
mas
igualmente os*
direitos civis, o direito político e os direitos sociais. " (1980:83)
As
sociedades, nominalmente, apresentam vários direitos a todos oscidadãos,