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EXPANSÃO DA POPULAÇÃO ASIÁTICA NO BRASIL E NO RIO GRANDE DO SUL (2000 – 2010)

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Porto Alegre, n. 28, p. 124-139, set. 2016

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EXPANSÃO DA POPULAÇÃO ASIÁTICA NO BRASIL E NO RIO GRANDE

DO SUL (2000 – 2010)

Gisele da Silva Ferreira

Estatística, Mestre em Economia Analista Pesquisadora da FEE-RS

E-mail: gisele@fee.tche.br

RESUMO

O Censo Demográfico do IBGE revelou que, enquanto a população brasileira cresceu 12,3% e a gaúcha 5,0% na década de 2000, a população de origem asiática registrou um crescimento de 176,4% no país e 267,5% no Rio Grande do Sul no mesmo período. Foram investigadas as possíveis origens desse elevado crescimento, como mudanças no padrão de resposta dos Censos Demográficos e grandes acontecimentos da economia global. Como um dos principais fatores para esse crescimento, foi identificado o efeito da globalização no Século XXI, que fez com que muitos migrantes brasileiros retornassem ao Brasil com suas famílias após a crise econômica mundial de 2008. O presente estudo tem por objetivo apresentar as características demográficas e socioeconômicas da população de origem asiática no Rio Grande do Sul analisando dados de 2000 e 2010 e refletir sobre as mudanças ocorridas em seu perfil ao longo da década.

PALAVRAS-CHAVE: Asiáticos; migrações; crescimento populacional; demografia; Rio Grande do Sul.

EXPANSION OF ASIAN POPULATION IN BRAZIL AND RIO GRANDE DO

SUL (2000 - 2010)

ABSTRACT

The IBGE Census revealed that, while the brazilian population grew by 12.3% and the Rio Grande do Sul population grew by 5.0% in the 2000s, the population of Asian origin registered a growth of 176.4% and 267.5% in the country and in Rio Grande do Sul in the same period. We have investigated possible origins of this high growth, as changes in response pattern of Population Censuses and major events in the global economy. As one of the main factors for this growth, we can mention the effect of globalization in the XXI Century, which has caused many Brazilian migrants return to Brazil with their families after the global economic crisis of 2008. This study aims to present the demographic and socioeconomic characteristics of Asian origin population in Rio Grande do Sul analyzing 2000 and 2010 data and think over the changes in its profile over the decade.

KEYWORDS: Asian; migration; population growth; demography; Rio Grande do Sul.

INTRODUÇÃO

A variação do número de habitantes de determinada localidade depende de quatro fatores: nascimentos, óbitos e migrações (imigrações e emigrações). Dentre esses fatores, as migrações são

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os fenômenos mais complexos de serem estudados, pois ao mesmo tempo em que são um importante fator de incremento populacional, são muito difíceis de serem projetadas, em consequência de sua imprevisibilidade. A análise das migrações de determinada região representa uma tentativa de compreender fenômenos econômicos, culturais e sociais que a influenciam.

Ao longo da história, o sul do País recebeu grandes imigrações: açoriana no século XVIII e alemã e italiana no século XIX (HERÉDIA, 2001). Em 1752 iniciou-se a açoriana, com a chegada de 60 casais portugueses trazidos por meio do Tratado de Madri para se instalarem nas Missões, região do Noroeste do Estado que estava sendo entregue ao governo português em troca da Colônia de Sacramento, nas margens do Rio da Prata, mas com a demora na demarcação dessas terras, os açorianos acabaram permanecendo no então chamado Porto de Viamão, primeira denominação de Porto Alegre, quando a capital do Estado era a cidade de Viamão (DIAS, 2011). A partir de 1824, o Estado passou a receber imigrantes de todo o mundo: espanhóis, africanos, poloneses, judeus, libaneses e, sobretudo, alemães e italianos.A partir do início do século XIX, a Alemanha sofreu um processo de industrialização e urbanização, que favoreceu a vinda para o sul do Brasil de pequenos camponeses alemães (SALAMONI, 2001). No período de 1824 até 1830 chegaram aproximadamente 5.300 colonos alemães no Rio Grande do Sul, dispersando-se aos poucos ao longo dos rios que formam o estuário do Guaíba (HERÉDIA, 2001). No período de 1875 até 1914, a estimativa oficial foi de que imigraram 84.000 italianos no Rio Grande do Sul (HERÉDIA, 2001).

No início do século XX, o Brasil começou a receber imigrantes japoneses. O início das relações oficiais entre Japão e Brasil ocorreu em 1895 com a assinatura do Tratado de Amizade, Comércio e Navegação, e, em 1907, foi assinado um contrato para o translado de 3 mil migrantes em 3 anos, que permitiu que os primeiros imigrantes japoneses chegassem ao Brasil em 1908, com a vinda de 158 famílias que totalizavam 781 japoneses que, no início, dedicaram-se às atividades agrícolas e, aos poucos, foram desenvolvendo outras atividades como comércio, indústria e profissões como professores, médicos, dentistas, etc. (BELTRÃO et al., 2006).

De acordo com informações do site do Consulado Geral do Japão em São Paulo, a imigração japonesa no Brasil iniciou-se em junho de 1908 e continuou até a eclosão da II Guerra Mundial em 1941. Somente após o término da II Guerra Mundial foi retomado o processo de imigração, em 1952, estendendo-se por 10 anos, período em que vieram cerca de 50 mil imigrantes agricultores para o Brasil. A leva auge do pós- guerra foi em 1959, na vinda de 7.041 imigrantes japoneses para o país. No início da década de 1960 o Japão entrou numa fase de grande prosperidade e de rápido crescimento econômico, e, com a economia brasileira também em ascensão, o Brasil não

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necessitava mais de trabalhadores agrícolas estrangeiros. Nessa época, a fase de predomínio da imigração entre Japão e Brasil foi substituída por outra, baseada no intercâmbio econômico. No decorrer dos anos, o Brasil adotou a política de receber somente imigrantes que dispunham de capacidade financeira para aplicar em empreendimentos agrícolas ou profissionais qualificados no setor industrial. Nessas condições aportaram no Brasil mais alguns milhares de japoneses.

No último período intercensitário ocorreu um significativo aumento no número de asiáticos residentes no Brasil,que foi recentemente registrado escassamente por meio de reportagens da mídia brasileira, carecendo de estudos aprofundados de pesquisadores. O presente estudo procura investigar a expansão da população asiática no Brasil e no Rio Grande do Sul, buscando suas possíveis causas, os países de origem e o perfil da população asiática residente no Estado.

O objetivo deste trabalho é analisar as causas da expansão da população asiática no Brasil e as mudanças ocorridas no perfil da população asiática residente no Rio Grande do Sul desde o início da década de 2000. O trabalho também se propõe a mapear onde a população residia no início e no final da década de 2000.

MATERIAIS E MÉTODOS

Foram utilizados para as análises do presente estudo: os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2001 a 2013, os Microdados da Amostra dos Censos Demográficos de 2000 e 2010 e os resultados de pesquisas anteriores. A população asiática que foi considerada nas análises do presente estudo é composta de todas as pessoas que se autodeclararam de cor ou raça amarela nas pesquisas do IBGE. Para a análise da concentração da população asiática residente no Rio Grande do Sul foi utilizado o método de Quebras Naturais que, através do algoritmo de Jenks, busca agrupar os dados minimizando a variância intra-classes e maximizando a variância inter-classes, com o objetivo de criar grupos internamente homogêneos e heterogêneos entre si.

Foi levantada a hipótese de que o aumento da população asiática poderia ser explicado por uma possível mudança no padrão de resposta à pergunta de cor/raça dos filhos de uniões de etnias mistas nos Censos Demográficos. Essa hipótese foi testada neste trabalho, a fim de detectar se os filhos de mãe ou pai asiático estão identificando-se mais ou menos com suas origens asiáticas. Foram também averiguadas possíveis influências para a intensa imigração asiática verificada: em mudanças estruturais nos países de emigração e nas regiões de imigração.

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As análises que seguem buscam articular possíveis causas associadas à intensificação recente no processode imigração asiática no Brasil e no Rio Grande do Sul. Para este estudo, foram feitas análises à nível nacional, regional e estadual.

EXPANSÃO DA POPULAÇÃO ASIÁTICA NO BRASIL

De acordo com os dados dos Censos Demográficos do IBGE, a população asiática no Rio Grande do Sul quase quadruplicou de 2000 para 2010, registrando um aumento de 267,5%, enquanto o crescimento total da população residente no estado foi de apenas 5,0%. A população asiática residente no Brasil cresceu 176,4% ao decorrer da década de 2000, representando, em 2010, 1,1% da população total que vive no país.Nos últimos anos, a população de origem asiática tem apresentado um crescimento extremamente grande em todas as regiões do país (Figura 1). Em 2010, a população asiática residente no Brasil chegou a 2,1 milhões de pessoas (Tabela 1).

Figura 1 - Crescimento da população asiática e população asiática absoluta residente nas Regiões do Brasil - 2000 e

2010

Fonte dos dados brutos: IBGE - Censos Demográficos 2000 e 2010.

A população brasileira cresceu 12,3% no período 2000-2010. Enquanto a cor ou raça que apresentou maior crescimento no país foi a amarela, com crescimento de 176,4%, a única cor/raça que apresentou redução na população foi a branca e a cor/raça indígena obteve um crescimento inferior à média nacional, de 11,9% no período. A população da cor/raça preta nas regiões Sudeste e Sul cresceu abaixo da média geral brasileira de 12,3% e acima desta média nas regiões

Centro-0% 100% 200% 300% 400% 500% 600% 700% 800% 900% 0 100.000 200.000 300.000 400.000 500.000 600.000 700.000 800.000 900.000 1.000.000 2000 2010 Crescimento %

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Oeste, Norte e Nordeste. Ao longo da década 2000-2010, as regiões Sudeste e Sul do Brasil perderam população indígena enquanto nas regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste ela cresceu muito acima da média brasileira.

Tabela 1 - População asiática por Unidade da Federação e no Brasil – 2010

Ranking UF e Brasil Asiáticos 1º São Paulo 570.150 2º Minas Gerais 187.869 3º Bahia 161.502 4º Paraná 124.279 5º Rio de Janeiro 122.552 6º Ceará 103.879 7º Goiás 100.797 8º Pernambuco 83.569 9º Maranhão 74.265 10º Pará 69.412 11º Piauí 66.163 12º Paraíba 46.631 13º Distrito Federal 42.679 14º Mato Grosso 35.834 15º Rio Grande do Sul 35.590

16º Alagoas 35.183

17º Rio Grande do Norte 33.857 18º Amazonas 31.837 19º Mato Grosso do Sul 29.433 20º Tocantins 27.036 21º Sergipe 26.515 22º Santa Catarina 25.726 23º Rondônia 22.643 24º Espírito Santo 22.159 25º Acre 14.404 26º Amapá 7.050 27º Roraima 4.338 Brasil 2.105.353

Fonte dos dados brutos: IBGE - Censo Demográfico 2010.

O crescimento relativo da população asiática no período 2000-2010 foi abaixo da média nacional nas regiões de maior população asiática, Sul e Sudeste, e acima da média nacional nas regiões que apresentavam menor população asiática, principalmente na região Nordeste. O Sudeste era, em 2000, a região que apresentava a maior proporção de asiáticos (0,71%) e foi a que apresentou o menor crescimento populacional de asiáticos (75,4%) na década de 2000, enquanto o Nordeste apresentava, em 2000, a menor proporção de asiáticos (0,14%) e foi a região que apresentou o maior crescimento populacional desse contingente (839,3%) no mesmo período. A

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grande procura dos imigrantes asiáticos pela região Nordeste do país pode ser explicada pelo aquecimento econômico desta região, que recebeu muitos investimentos em infraestrutura e serviços e apresenta um aumento na demanda por mão de obra.

São Paulo e Paraná eram os estados de maior população asiática no ano 2000 e também foram os dois estados com menor crescimento dessa população durante os dez anos seguintes (24,9% e 40,5%, respectivamente). Em 2010, o Paraná acabou perdendo o posto de segundo estado com maior população asiática do Brasil para Minas Gerais (Tabela 1).

EXPANSÃO DA POPULAÇÃO ASIÁTICA NO RIO GRANDE DO SUL

De acordo com os últimos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), o período que registrou o maior crescimento na população asiática residente no país desde 2001 foi o de 2007-08 (Figura 2). A data de referência utilizada na PNAD é o final do mês de setembro.

Figura 2 - Crescimento da população asiática residente no Brasil e Rio Grande do Sul – 2003 a 2012

Fonte dos dados brutos: IBGE – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), 2002 a 2012.

No Rio Grande do Sul, os anos que registraram o maior aumento na população asiática foram: 2008 (175,0%), 2013 (70,0%) e 2002 (66,7%) (Figura 3). O elevado crescimento observado em 2008 pode ser explicado como uma consequência da globalização em um momento em que o mundo viveu uma grave crise econômica mundial.

-15% -10% -5% 0% 5% 10% 15% 20% 25% 2003 e 2004 2005 e2006 2007 e2008 2009 e2010 2011 e2012 Brasil

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Figura 3 - Crescimento da população asiática residente no Rio Grande do Sul – 2002 a 2013

Fonte dos dados brutos: IBGE – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), 2001 a 2013.

De acordo com BOTEGA et al. (2015), como consequência da globalização, o fenômeno da migração internacional tem experimentado uma heterogeneidade em relação aos países de origem e destino e, por resultado da crise econômica mundial, a partir de 2007 observou-se um fenômeno de retorno de migrantes brasileiros com suas famílias ao Brasil.

ORIGEM DOS ASIÁTICOS NASCIDOS NO EXTERIOR

De acordo com os dados do último Censo Demográfico, da população asiática residente no Rio Grande do Sul que não nasceu no estado, 65,8% são brasileiros natos, 7,6% são brasileiros naturalizados e 26,6% são estrangeiros. Dos naturalizados e estrangeiros, 10,1% fixaram residência no Brasil em 1959 (vindos do Japão) e 9,2% em 1998 (oriundos principalmente da China).

A crise financeira asiática de 1997/1998 deve ter sido a principal causa da volumosa migração de asiáticos para o Brasil registrada em 1998. Foi uma crise de desdobramentos de alcance global em uma região de referência mundial no crescimento econômico rápido e sustentado (CANUTO, 2000) e sua principal consequência foi implodir a confiança na economia regional asiática (OLIVEIRA, 1999). -100% -50% 0% 50% 100% 150% 200% 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 66,7% 10,0% -18,2% 22,2% -18,2% -55,6% 175,0% 9,1% -4,2% -8,3% -9,1% 70,0%

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DECLARAÇÃO DE COR OU RAÇA EM CASAMENTOS MISTOS

Beltrão et al. (2008) fez um estudo sobre os padrões da declaração de cor ou raça dos filhos de pais de diferentes cores ou raças, por ser essa compreensão importante na análise das mudanças na composição racial da população brasileira, utilizando dados dos Censos Demográficos de 1960 e 2000. O estudo concluiu que, no Censo Demográfico de 2000, filhos de brancos com amarelos foram declarados brancos em 73% dos casos, amarelos em 21% e pardos em 5%, filhos de pretos com amarelos foram declarados pardos em 35% dos casos, pretos em 31%, amarelos em 20% e brancos em 12% e filhos de pardos com amarelos foram declarados pardos em 57% dos casos, brancos em 21% e amarelos em 19% (as composições que envolviam indígenas não foram analisadas devido ao reduzido número de ocorrências). Ele concluiu que, de forma geral, em 2000, a cor da mãe prevalecia na declaração da cor/raça de seu filho, provavelmente devido ao fato de que geralmente é a mãe quem declara as informações e tem a tendência a aproximar os filhos da sua própria cor/raça. Porém, apenas para as uniões de casais de brancos e amarelos, a cor dos pais (por oposição à cor das mães) foi a que prevaleceu na caracterização dos filhos dos casais.

Em 2010, a análise da cor/raça declarada dos filhos de pai e/ou mãe amarelo(s) revela que a cor da mãe prevalece, em média, mais do que a cor do pai1

1 Enquanto os censos anteriores agregavam filhos e enteados do responsável domiciliar na base de dados com o mesmo

código identificador, o censo 2010 separou-os em: 1) filho(a) do responsável e cônjuge; 2) filho(a) somente do responsável; 3) Enteado. O que permitiu com que as análises pudessem ser feitas somente com os que fossem filhos do responsável domiciliar e de seu cônjuge para a análise do padrão de declaração de cor/raça dos pais.

. Contudo, os filhos tendem a não serem declarados como amarelos, isto é, quando o pai ou a mãe é amarelo e tem o filho com uma pessoa de raça diferente, a outra raça é a que predomina na declaração da cor/raça dos filhos, em detrimento à cor/raça amarela (Tabela 2).

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Tabela 2 - Distribuição percentual das cores/raças dos filhos de amarelos2

Cor/raça da mãe

no RS de acordo com a cor/raça da mãe e do pai - 2010 Cor/raça do pai Filho da cor/raça da mãe Filho da cor/raça do pai Filho de cor/raça diferente das dos pais Branca Amarela 77,6% 15,6% 6,8% Preta Amarela 50,5% 30,1% 19,4% Parda Amarela 65,8% 10,1% 24,1% Amarela Amarela 47,1% 47,1% 5,8% Amarela Branca 20,3% 72,0% 7,8% Amarela Preta 33,8% 35,3% 30,9% Amarela Parda 21,1% 49,7% 29,2% Média 46,5% 43,2% 10,3%

Fonte dos dados brutos: IBGE - Censo Demográfico 2010.

Pode-se concluir então que o grande aumento populacional da cor/raça amarela no estado não tem como uma de suas causas a maior identificação dos filhos de pai ou mãe da cor/raça amarela em “uniões mistas”3

Uma grande diferença entre os dois países de origem também pode ser vista quanto ao grau de instrução: enquanto 42,4% dos nascidos no Japão não tem instrução ou possuem apenas o Ensino Fundamental incompleto, 42,6% dos nascidos na China possuem o Ensino Médio completo ou Superior incompleto. Outro diferencial dos dois grupos é a categoria ocupacional

com suas origens asiáticas.

CARACTERÍSTICAS DA POPULAÇÃO ASIÁTICA

Da população asiática residente no Rio Grande do Sul em 2010 que residia em país estrangeiro em 2005, 36,2% estavam no Japão e 29,2% na China.A população asiática residente no Rio Grande do Sul é predominantemente urbana (79,7% residem em domicílios urbanos). Dentre os que nasceram em países estrangeiros, os principais países de nascimento são o Japão (46,4%) e a China (37,4%). Os nascidos no Japão apresentam o maior percentual de residentes em domicílios rurais, 18,4%, enquanto 100% dos nascidos na China residem em domicílios urbanos.

4

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As composições que envolviam indígenas não foram analisadas devido ao reduzido número de ocorrências.

3 Pai e mãe de cor/raça diferentes.

4 Foi construída uma hierarquia sócio-ocupacional composta por 24 categorias, mais detalhes em MAMMARELLA et al, 2015.

, 45,0% dos nascidos no Japão são agricultores, ao mesmo tempo em que dos que nasceram na China 30,5% são trabalhadores do comércio e 29,1% são pequenos empregadores. Enquanto a população asiática

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residente no estado cresceu 267,5% no período 2000-2010, os asiáticos ocupados residentes no RS registraram um crescimento de 301,7% no mesmo período (Tabela 3).

Tabela 3 - Distribuição percentual, crescimento e rendimento médio no trabalho principal da população asiática

ocupada no RS segundo a estrutura sócio-ocupacional (2000- 2010)

Categorias ocupacionais 2000 2010 Cresc. 2000-10 Rend. médio trab. princ. em R$ (2010) Dirigentes 5,6% 0,9% -37,5% 4.007,01 Grandes Empregadores 4,9% 0,6% -47,1% 3.777,73

Dirigentes do Setor Público (1) 0,2% (1) 4.656,02 Dirigentes do Setor Privado 0,7% (1) -100,0% (1) Profissionais de nível superior 5,1% 4,9% 283,4% 5.948,74 Profissionais Autônomos de Nível Superior 0,8% 0,7% 288,8% 5.341,09 Profissionais Empregados de Nível Superior 2,4% 2,6% 341,2% 3.317,59 Profissionais Estatutários de Nível Superior 0,4% 0,4% 241,1% 33.238,56 Professores de Nível Superior 1,5% 1,2% 202,3% 3.945,19 Pequenos empregadores 4,8% 1,8% 52,1% 3.116,84 Pequenos Empregadores 4,8% 1,8% 52,1% 3.116,84 Ocupações médias 22,8% 14,9% 162,1% 1.333,06 Ocupações de Escritório 5,9% 3,9% 169,5% 806,19 Ocupações de Supervisão 4,5% 2,9% 159,0% 2.369,87 Ocupações Técnicas 6,7% 3,5% 113,1% 1.280,25

Ocupações Médias da Saúde e Educação 3,8% 2,8% 191,0% 1.172,68 Ocupações de Segurança Pública, Justiça e 1,3% 0,6% 92,8% 1.561,04 Ocupações Artísticas e Similares 0,7% 1,1% 573,2% 942,72 Trabalhadores do terciário especializado 14,7% 14,7% 301,1% 843,34 Trabalhadores do Comércio 8,6% 7,4% 245,7% 806,35 Prestadores de Serviços Especializados 6,2% 7,3% 378,0% 880,48 Trabalhadores do secundário 19,4% 25,7% 432,4% 885,50 Trabalhadores da Indústria Moderna 5,3% 4,9% 268,1% 939,56 Trabalhadores da Indústria Tradicional 4,3% 6,7% 520,6% 694,14 Operários dos Serviços Auxiliares 2,8% 6,2% 786,2% 1.076,68 Operários da Construção Civil 6,9% 7,9% 360,0% 865,07 Trabalhadores do terciário não especializado 10,9% 13,6% 400,3% 645,12 Prestadores de Serviços Não Especializados 3,2% 4,9% 506,4% 626,49 Trabalhadores Domésticos 4,6% 7,0% 508,8% 425,53 Ambulantes e Biscateiros 3,1% 1,8% 129,4% 1.560,44

Agricultores 16,7% 23,5% 467,0% 396,48

Agricultores 16,7% 23,5% 467,0% 396,48

Total 100,0% 100,0% 301,7% 1.113,38

Fonte dos dados brutos: IBGE - Censos Demográficos 2000 e 2010. (1) A amostra não comporta desagregação para esta categoria.

Na Tabela 3 estão destacadas em laranja as categorias ocupacionais que apresentaram crescimento inferior à média ou decréscimo no período 2000-10, enquanto a cor azul é utilizada

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para dar destaque às categorias ocupacionais que apresentaram crescimento superior à média. Observa-se na Tabela 3 que as categorias sócio-ocupacionais mais elevadas (Dirigentes, Profissionais de nível superior, Pequenos empregadores, Ocupações médias e Trabalhadores do terciário especializado) registraram um aumento de trabalhadores menor do que o aumento médio observado na década (301,7%), enquanto as categorias sócio-ocupacionais de menores remunerações (Trabalhadores do secundário, Trabalhadores do terciário não especializado e Agricultores) apresentaram um crescimento no número de trabalhadores superior ao aumento médio dos asiáticos ocupados no período. As atividades que mais concentram trabalhadores asiáticos no RS são, em ordem decrescente: lavoura; serviços domésticos; comércio de produtos alimentícios, bebidas e fumo; fabricação de calçados e partes para calçados, de qualquer material e; serviços especializados para construção.

Em 2000, em relação à posição na ocupação, os asiáticos ocupados residentes no estado dividiam-se, principalmente, em trabalhadores com carteira assinada (30,9%) e conta própria (30,4%). Já no ano de 2010 é observada uma concentração bem maior no trabalho por conta própria, com 41,7% dos trabalhadores, e apenas 27,4% são empregados com carteira assinada. Dos chineses, 47,2% são trabalhadores por conta própria e dos japoneses 51,3%.

O rendimento médio no trabalho principal, em 2010, dos asiáticos residentes no Rio Grande do Sul que nasceram na China, era de R$ 2.320,40 e o rendimento (somando o rendimento de todos os trabalhos) médio domiciliar per capita de R$ 1.441,95. Já entre os que nasceram no Japão, o rendimento médio do trabalho principal era de R$ 1.309,48 e o rendimento (somando o rendimento de todos os trabalhos) médio domiciliar per capita de R$ 2.189,00. Os chineses que vivem no estado têm, em média, 1,1 filhos, enquanto os japoneses têm, em média, 3,0 filhos. Essa diferença pode ser explicada pela política do filho único instaurada pelo governo chinês em 1979 (WANG, 2011) e pelos japoneses concentrarem-se mais do que os chineses no meio agrícola, que influencia positivamente na decisão destes terem mais filhos. Os imigrantes chineses se concentram em meios urbanos, enquanto os japoneses dividem-se entre o rural e o urbano. Dos que nasceram na China, 84,9% residem na Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA) e 8,0% residem na Aglomeração Urbana do Nordeste (AUNE), já dos que nasceram no Japão, 53,6% residem na RMPA, 24,5% residem fora de aglomerações urbanas e 17,7% residem na Aglomeração Urbana do Sul (AUSUL).

Os municípios do estado que concentram o maior número absoluto de asiáticos são: Porto Alegre (12,35%), Caxias do Sul (4,91%), Pelotas (2,89%), Viamão (2,18%), Rio Grande (2,04%), Santo Ângelo (2,01%), São Leopoldo (1,85%), Vacaria (1,65%) e Passo Fundo (1,61%) (Figura 4).

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Já os que possuem a maior concentração de asiáticos em relação à sua população total são: Bossoroca (4,27%), Tupanci do Sul (3,16%), Lagoa Bonita do Sul (2,91%) e Monte Alegre dos Campos (2,61%). Já no ano de 2000 observa-se que os asiáticos concentravam-se mais na Capital Gaúcha (25,0%), depois em Pelotas (4,7%) e Viamão (4,5%) e os municípios com maior concentração em relação à sua população eram: Mato Castelhano (1,82%), São Francisco de Paula (1,49%), Hulha Negra (1,43%) e Mata (1,42%).

Figura 4 - Classificação da concentração da população asiática residente no Rio Grande do Sul por município

utilizando o método de Quebras Naturais (Natural Breaks Jenks) – 2010

Fonte dos dados brutos: IBGE - Censos Demográficos 2000 e 2010.

Dos asiáticos do RS nascidos em países estrangeiros, os japoneses concentram-se em Pelotas (20,6%) e Porto Alegre (18,0%) e os chineses em Porto Alegre (80,5%) e São Leopoldo (6,4%). Os japoneses residentes em Porto Alegre trabalham principalmente em atividades do comércio, já os residentes em Pelotas concentram-se em atividades agrícolas. Os chineses residentes em Porto

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Alegre trabalham majoritariamente no comércio lojista e os que residem em São Leopoldo no comércio ambulante.

Segundo Burke (2003), encontros culturais geram quatro possíveis reações conscientes ou estratégias deliberadas: aceitação, rejeição, segregação e adaptação. O mesmo autor afirma que os imigrantes, diante do encontro cultural, tendem a agir inicialmente com segregação cultural, isto é, absorvendo apenas parte da cultura externa ou influenciando seu modo de vida em apenas parte de sua cultura doméstica. Contudo, não é possível manter-se a segregação cultural em longo prazo e esta acaba por transformar-se em adaptação cultural já na segunda ou terceira gerações, que seria uma apropriação da cultura alheia à sua própria cultura (BURKE, 2003). Um exemplo de adaptação cultural pode ser visto em relação à religião dos imigrantes asiáticos.

O budismo foi trazido ao Brasil com a chegada dos primeiros imigrantes japoneses no país em 1908, mas com o falecimento desses imigrantes nascidos no Japão que eram comprometidos com a religião, o budismo enfraqueceu-se e sofreu um forte declínio no número de adeptos, principalmente nas regiões urbanas e metropolitanas (USARSKI, 2008). No Censo Demográfico de 2000, 6,5% da população asiática residente no Rio Grande do Sul declarou pertencer à religião budista. Em 2010 esse percentual caiu para 1,4%. Dentre esses, considerando apenas os nascidos em países estrangeiros, 63% nasceram no Japão e 36% na China. Tanto em 2000 quanto em 2010, a maioria da população asiática residente no estado declarou-se Católica. Os asiáticos sem religião ocupavam o segundo lugar no ranking de crenças religiosas nos dois anos. O Budismo, que ocupava o terceiro lugar em número de adeptos asiáticos em 2000, perdeu muitas posições ao longo da década e a Igreja Evangélica Assembleia de Deus passou a ocupar a terceira posição no ano de 2010.

A idade média da população asiática do Rio Grande do Sul passou de 33,6 anos em 2000 para 34,9 anos em 2010. Em 2000, 50,8% dos asiáticos eram do sexo feminino, passando para 51,6% em 2010. Entre os japoneses, 57,4% eram do sexo masculino no Rio Grande do Sul e, entre os chineses, 55,3%5

Em 2000, dos asiáticos com 10 ou mais anos de idade, 46,6% eram solteiros e 42,8% casados, enquanto, em 2010, 52,9% eram solteiros e 34,6% eram casados. Em 2010, dos que , em 2010. O tempo de moradia no estado reduziu-se de 29,3 anos para 20,3, e no município aumentou de 16,1 anos para 17,6 anos. A média de filhos reduziu de 2,3 em 2000 para 2,1 em 2010.

5 A China é um país de alta mortalidade infantil feminina causada por abortos, em consequência da política do filho

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nasceram na China, 36,7% eram solteiros e 48,0% eram casados, e dos que nasceram no Japão, apenas 12,6% eram solteiros e 67,8% eram casados.

Em 2000, os asiáticos residentes no estado possuíam, em média, 6,3 anos de estudo. A proporção de analfabetos reduziu de 17,3% em 2000 para 9,9% em 2010, mas, em 2010, 64,7% não possuíam o Ensino Fundamental Completo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A globalização é um fator muito importante para as recentes alterações dos fluxos migratórios entre os países. O período pós II Guerra registrou a maior vinda de japoneses para o Brasil da história e a Crise Financeira Asiática trouxe o maior número de chineses para o Brasil já registrado. O retorno de migrantes brasileiros com suas famílias ao Brasil após a crise econômica mundial de 2008 foi o fator que mais contribuiu para o aumento significativo de asiáticos no Brasil ao longo da década de 2000.

Nos últimos anos a população asiática tem escolhido residir nas regiões do Brasil que apresentavam menos asiáticos no início da década de 2000, principalmente na Região Nordeste, que foi alvo de grandes investimentos recentes em infraestrutura e onde observa-se um grande aumento na demanda por mão de obra.

A maior parte dos asiáticos residentes no Rio Grande do Sul é de brasileiros natos. Os naturalizados e estrangeiros chegaram ao país, principalmente, nos anos de 1959 e 1998. O principal país de origem é o Japão e, em segundo lugar, a China.

Enquanto a totalidade dos chineses no estado opta por residir em domicílios urbanos, muitos dos japoneses residem em domicílios rurais e apresentam nível de instrução em média muito inferior ao dos chineses. A ocupação de japoneses e chineses também é muito distinta: enquanto os japoneses concentram-se em atividades ligadas à agricultura, os chineses trabalham mais no comércio e como pequenos empregadores.

Foi registrado um grande aumento no número de trabalhadores asiáticos residentes no RS nas ocupações que remuneram menos, uma redução no percentual de trabalhadores com carteira assinada e um grande aumento nos trabalhadores por conta própria.

Como sugestão para trabalhos futuros, fica o aprofundamento da investigação da autodeclaração de cor/raça dos filhos de mães ou pais asiáticos nos últimos Censos Demográficos nas diversas regiões do Brasil, a fim de identificar o quanto as diferenças dos padrões de autodeclaração das regiões afetam os crescimentos diferenciados da população asiática nas

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diferentes regiões do país. Outra investigação interessante pode ser feita a fim de descobrir-se quais possíveis fatos podem ter influenciado a vinda maciça de imigrantes asiáticos para o Brasil em outros anos além dos especificados neste trabalho.

REFERÊNCIAS

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população de origem japonesa segundo os censos entre 1980 e 2000. Encontro Nacional de

Estudos Populacionais, 2006.

BELTRÃO, K. I.; SUGAHARA, S.; TEIXEIRA, M. P. FILHO DE PEIXE..: declaração de

cor/raça dos filhos de casamentos mistos. XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais,

ABEP. Caxambu, 2008.

BOTEGA, T.; CAVALCANTI, L.; OLIVEIRA, A. T. (Orgs.). Migrações Internacionais de

Retorno no Brasil. Brasília: Relatório, 2015.

BURKE, P. Hibridismo cultural. São Leopoldo: Editora Unisinos, 2003.

CANUTO, O. A crise asiática e seus desdobramentos. Econômica, v. 2, n. 4, p. 25-60, 2000.

Consulado Geral do Japão em São Paulo. Disponível em: <

http://www.sp.br.emb-japan.go.jp/pt/comunidade/historico.htm> Acesso em 31 de maio de 2015.

DIAS, T. S. A Expansão da ocupação urbana sobre o relevo do município de Porto Alegre–RS. Monografia (Graduação em Geografia) – Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 2011.

HERÉDIA, V. A imigração européia no século XIX: o Programa de Colonização no Rio Grande do Sul. Scripta Nova: revista electrónica de geografía y cienciassociales, n. 5, p. 10, 2001.

MAMMARELLA, R.; PESSOA, M. L.; FERREIRA, G. DA S.; TARTARUGA, I. G. P. Estrutura Social e Organização Social do Território: Região Metropolitana de Porto Alegre – 1980-2010. In: FEDOZZI, L., SOARES, P.R.R. (Editores). Porto Alegre: Transformações na ordem urbana. Rio de Janeiro, Observatório das Metrópoles; Letra Capital, 2015. p.133-185.

OLIVEIRA, H. A. A crise Asiática e a China. Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA/USP). São Paulo, 1999.

SALAMONI, G. A imigração alemã no Rio Grande do Sul: o caso da comunidade pomerana de Pelotas. História em Revista, Pelotas, v. 7, n. 1, p. 25-42, 2001.

SEN, A. A economia da vida e da morte. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, n. 23, p. 138-145, 1993.

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USARSKI, F. Declínio do budismo “amarelo” no Brasil. Tempo Social, revista de sociologia da

USP, v. 20, n. 2, p. 134, 2008.

WANG, R. O Problema da Demografia Chinesa. Universidade Técnica de Lisboa. Lisboa, 2011.

Recebido em: 27/05/2016 Aceito em: 11/07/2016

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