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A prática do turismo como fator de inclusão social

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(1)Revista de Ciências Gerenciais Vol. XII, Nº. 16, Ano 2008. Hélida Vilela Oliveira Faculdade Anhanguera de Anápolis. A PRÁTICA DO TURISMO COMO FATOR DE INCLUSÃO SOCIAL. RESUMO. helidavilela@bol.com.br. Propõe-se pensar na prática do Turismo como elemento eficaz para a inclusão social. Busca-se analisar o potencial do Turismo como elemento gerador de renda e propulsor da inclusão social. Considera também, um turismo que dê prioridade ao ser humano, que valorize o artesanato, o folclore e tradições culturais e não tão somente ao capital, envolvendo assim a comunidade local na gestão e planejamento dos empreendimentos turísticos, estimulando como alternativa a confecção do artesanato com matéria prima local. Comunidade local esta que se organiza de modo consciente de seu papel de anfitriã, preparada para receber bem e tratar com honestidade e presteza seus visitantes. Palavras-Chave: Turismo, inclusão, comunidade.. ABSTRACT It proposes a reflection on the Tourism practice as an effective element for social inclusion. Intend to analyze the potential of tourism as a generator of income and propeller of social inclusion, as well a tourism that gives priority to human beings, which values the handicraft, folklore and cultural traditions and not only to capital, involving the local community in planning and management of tourism enterprises, encouraging the manufacture of handicrafts with local raw material. Local community that this is organized so conscious of its role as host, ready to well receive and treat with honesty and readiness the visitors. Keywords: Tourism, inclusion, community.. Anhanguera Educacional S.A. Correspondência/Contato Alameda Maria Tereza, 2000 Valinhos, São Paulo CEP. 13.278-181 rc.ipade@unianhanguera.edu.br Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Artigo Original Recebido em: 2/6/2008 Avaliado em: 4/8/2008 Publicação: 19 de dezembro de 2008 91.

(2) 92. A prática do turismo como fator de inclusão social. 1.. INTRODUÇÃO Almejar a busca pela inclusão social provém de um processo criterioso de incluir no ambiente social todos aqueles que se encontram por algum motivo, aparentemente excluídos da sociedade. São exclusões oriundas da dificuldade de acesso à educação, as políticas públicas e saúde (condições especiais). Essa desejável inclusão deve considerar os aspectos econômicos, culturais, políticos, ambientais, entre outros. Segundo Landim (2003, p. 13) “as formas de exclusão são as mais variadas possíveis, contudo a perda do direito a segurança alimentar é considerada a mais extrema e cruel das exclusões, pois vem sempre acrescida das demais exclusões, tais como: saúde, educação, habitação, cultura, meio ambiente, lazer e turismo”. A importância do Turismo na economia mundial tem se tornado inquestionável, devido aos altos índices de geração de divisas e renda. Porém, sua importância vai muito além do significativo fator econômico. Faz-se necessário pensar o Turismo como ferramenta transformadora, um agente de resgate da tradição local. O Turismo tem sido foco de estudo e pesquisas para várias áreas da ciência, reconhecendo a necessidade de compreender seu rápido e tão expressivo crescimento em todo o mundo. Dispomos no Brasil de municípios que exploram de maneira pura e simples os recursos naturais e culturais sem planejamento ou qualquer estudo de seus impactos ao meio ambiente. O país tem destaque em âmbito mundial por sua diversidade cultural, ampla extensão territorial, inúmeros atrativos naturais, clima tropical, população calorosa e hospitaleira. Fazendo assim, com que se torne alvo de diversos públicos, estrangeiro e também como atrativo para os próprios brasileiros. Permitindo a prática de diversas modalidades de turismo (religioso, ecoturismo, compras, saúde, negócios, aventura, eventos, cidades históricas, sol e praia, dentre outros). Como conseqüência da receptividade de diferentes pessoas para a prática do turismo nas mais variadas modalidades agregam o envolvimento sócio-econômicocultural, sendo estes capazes de unir o acumulo de renda ao envolvimento e conscientização positiva da população local para a prática do turismo como elemento propulsor e eficaz para ampliação da inclusão social e econômica da região. Ao se refletir sobre a relação turista/comunidade local, é necessário compreender a situação em que cada indivíduo envolvido se encontra. Segundo Krippendor (2001, p. 83) “a liberdade e o prazer de um são fardo e trabalho do outro”. Ou seja, en-. Revista de Ciências Gerenciais • Vol. XII, Nº. 16, Ano 2008 • p. 91-103.

(3) Hélida Vilela Oliveira. quanto a comunidade receptora trabalha em período integral, os turistas desfrutam de seu lazer e ócio.. 2.. INCLUSÃO SOCIAL A prática da atividade turística (lazer, entretenimento, viagens de curta ou longa duração, acesso a eventos culturais, etc.) ainda é vista no contexto geral como um elemento superficial, de luxo. Inclusão (inserir, abranger, introduzir, integrar) Social (toda a sociedade). Integrar significa ser participante, ser considerado, fazer parte de um “todo” em condições semelhantes. A integração requer a promoção das qualidades próprias de um indivíduo, sem segregação. Nos dias atuais é cada vez mais comum ouvir falar sobre inclusão social, é tema de novela, marketing de empresas, anúncios publicitários. A realidade é que a sociedade enxerga somente aquilo que deseja ou o que mais aproxima de seu convívio do seu dia-a-dia, ou seja, se para uma determinada família que realiza duas viagens ao exterior e outras diversas viagens curtas durante o ano, pouco imagina que existem outras milhares de pessoas que jamais se deslocaram se quer a uma cidade vizinha para desfrutar de momentos de lazer. Nesse contexto, existe também uma clientela que requer serviços especializados: as pessoas portadoras de necessidades especiais. A questão da inclusão de pessoas com algum tipo de deficiência em todos os recursos da sociedade ainda é muito incipiente no Brasil. Áreas de lazer, esportes, cultura e meios de transportes ainda não existem projetos abrangentes e obrigatórios de acessibilidade que atendam a todos os tipos de deficiência. Um ponto importante é que para garantir o processo de “incluir” significa também, que é necessário capacitar os profissionais do turismo que irão realizar os atendimentos, os agentes, comerciantes, hoteleiros, recepcionistas e outros, pois a eles competem a maior tarefa de hospitalidade e de inserção aos atrativos turísticos. Quando fazemos referência à inclusão social não consideramos tão somente os portadores de necessidades especiais, mas sim diferentes formas de inclusão social sejam elas por distinção de raça, crença, condição sócio-econômica, sexo, preferência sexual, etc. A inclusão social é o que podemos chamar de processo de atitudes afirmati-. Revista de Ciências Gerenciais • Vol. XII, Nº. 16, Ano 2008 • p. 91-103. 93.

(4) 94. A prática do turismo como fator de inclusão social. vas, no sentido de inserir os menos favorecidos no contexto social, nas práticas de lazer e entretenimento. O processo de inclusão social funciona de mão dupla: a sociedade o os segmentos até então excluídos buscam equacionar soluções alternativas, para garantir a equiparação de oportunidades e direitos. O principal objetivo é inserir os indivíduos na sociedade que não possuem condições devido aos mais diversos fatores.. 3.. FATORES QUE VISAM CONTRIBUIR PARA A PROMOÇÃO DA INCLUSÃO SOCIAL ATRAVÉS DO TURISMO Para acompanhar o rápido desenvolvimento do Turismo no Brasil propiciando a real projeção sócio-econômico de forma a auxiliar na conservação dos recursos da região e envolvimento das comunidades locais – deve-se priorizar o desenvolvimento de atividades educativas e de sensibilização, ligadas ao planejamento integrado da atividade turística. É importante destacar que em diversos municípios brasileiros quase tudo que existe ainda se constitui como potencialidade e não como produto turístico. Mesmo que as localidades disponham de enorme potencial e vocação para o turismo, a atividade turística só se consolida se houver investimentos, principalmente no ser humano. Não se deveria atuar profissionalmente no trade turístico sem uma formação teórica x prática. Para trabalhar no setor do Turismo é preciso não apenas dominar os conhecimentos técnicos, mas também estar constantemente atento às diversidades. Eliminando assim, vários riscos oriundos da falta de experiência e contextualização do segmento turístico. Segundo maior parte no consumo e venda de produtos intangíveis. É preciso preparar a comunidade para a “hospitalidade” e Hospitalidade não é negócio. Nada tem a ver com negócio. O turista quer chegar à cidade e além da excelência na prestação dos serviços já comprados (estrutura física) ele quer receber a simpatia, aconchego, o sorriso no rosto enfim, a “alegria” em ser recepcionado pela comunidade local. Quer ser bem recebido, aceito. Cria expectativas, apesar dos poucos dias determinados de permanência na região, vivenciar de modo bem próximo a realidade social através dos hábitos e costumes dos moradores da cidade visitada. Os impactos positivos irão existir, se houver um planejamento consistente do turismo, em que esteja previsto a conservação do patrimônio e a consolidação da identidade cultural. Assim será possível um intercâmbio cultural entre a comunidade local e os turistas. Será possível conhecer costumes, crenças, hábitos e idiomas de diferentes. Revista de Ciências Gerenciais • Vol. XII, Nº. 16, Ano 2008 • p. 91-103.

(5) Hélida Vilela Oliveira. localidades mantendo Holanda (2003, p. 18), existem inúmeras localidades que não conseguem se firmar como um produto turístico pela ausência de investimentos em recursos humanos. Afinal, a atividade turística se constitui em sua a real identidade do núcleo receptor.. 4.. O TURISMO COMO FATOR DE MUDANÇA POSITIVA NA COMUMIDADE LOCAL Muitas regiões periféricas acabam identificando no turismo uma possibilidade de alternativa para o seu crescimento, pois a atividade pode dar início ao processo de desenvolvimento local. As melhorias alcançadas pela acumulação de renda, que a atividade turística provoca para as comunidades locais, são percebidas como estratégia na geração de emprego e renda, sendo necessário que a própria comunidade possa refletir e definir o tipo de turismo que melhor se aproxima da realidade local, transformandose em agente principal do desenvolvimento. O empreendimento turístico que não envolver a comunidade, oferecendo empregos e outros incentivos, estará se auto induzindo ao fracasso. Pois a exclusão da comunidade no processo de implantação do Turismo gera revolta na população, que não possuirá estímulo algum para tratar de maneira hospitaleira os turistas. Pelo contrário tenderá a sabotar a atividade turística local. É necessário planejamento, as comunidades necessitam saber da sua importância no processo. O ideal é a contratação de consultorias especializadas para assessoramento no levantamento de dados, inventário, criação de metas, logística e suporte durante a implantação. Não se deve esquecer que a comunidade não são apenas os moradores, mas também as pessoas que possuem algum negócio na cidade, imóveis e não necessariamente, lá residem. Outro suporte fundamental se dá pelos elementos representantes do governo local. É necessário convocar órgãos públicos e entidades privadas para trabalharem pela implantação de políticas oficiais de incremento ao turismo, como alternativa econômica ou como investimento em lazer e entretenimento. O fato de que o Turismo quando bem planejado, dentro de um modelo adequado, onde as comunidades participam do processo, possibilita a inclusão dos mais variadas classes sociais, pois os recursos gerados circularão através dos gastos praticados em restaurantes, hotéis, panificadoras, lanchonetes, parques, áreas de convivência e entretenimento. É um ciclo onde todo o comércio e população poderá ser beneficiado.. Revista de Ciências Gerenciais • Vol. XII, Nº. 16, Ano 2008 • p. 91-103. 95.

(6) 96. A prática do turismo como fator de inclusão social. Para a comunidade alcançar os benefícios proporcionados pelo turismo, o trabalho não termina na fase do planejamento. Durante a implantação do plano de ação é necessário que haja uma forte coordenação e cooperação entre os diferentes setores públicos e privados (OMT, 1998, p. 15). Algumas maneiras das quais a gestão participativa do Turismo podem auxiliar no desenvolvimento turístico de um município:. 5.. •. Lançar campanhas de conscientização, através de ações diretas via cursos, palestras, eventos culturais e outros;. •. Incluir nos currículos escolares do município a mensagem sobre a importância do Turismo, suas principais características e como colaborar para o seu desenvolvimento;. •. Esclarecer a população de que o Turismo pode proporcionar melhoria na qualidade de vida e elevar o sentimento de cidadania;. •. Mostrar a importância da cortesia e hospitalidade que deve ser dada aos visitantes;. •. Estimular a população a participar da gestão do Turismo. Opinando,criticando,decidindo e orientando. Contribuindo assim para uma cidade melhor e auferindo rendas através do Turismo.. PRODUÇÃO DE ARTESANATO A produção artesanal não se restringe tão somente a organização turística, mas também vem demonstrando ser uma importante fonte de emprego, um instrumento de divulgação do Turismo, de geração de renda e inclusão social. Pode-se dizer que quando um turista adquire um artesanato “souvenir” do local que visitou e leva para casa apresentando este a outras pessoas estará criando um ciclo. Logo, este simples artigo de lembrança do local visitado irá transformar em um instrumento de divulgação para a cidade, atraindo assim novos turistas para a região. Para a criação do objeto de lembrança seja um instrumento rico em informação, simbologia e atração, se fará necessário que mesmo, com suas singularidades seja uma referência do local. Que na sua produção seja utilizado de recursos naturais devidamente encontrados na região. Caso contrário, este artesanato irá se desvincular da sua função e utilidade, como transmissor das diversidades locais, perdendo sua essência, enquanto idéia criativa e diferencial do município. O que ocorre bastante em dias atuais em cidades já desenvolvidas turisticamente é a perda desta simbologia, o que tem crescido bastante o aumento do comércio de objetos que pouco tem haver com as características locais. E na falta de opção de o-. Revista de Ciências Gerenciais • Vol. XII, Nº. 16, Ano 2008 • p. 91-103.

(7) Hélida Vilela Oliveira. ferta o turista acaba levando mais um objeto que pode ter ou não alguma característica nova, porém de fato não oferece um produto que existe um vínculo entre o objeto e a cidade visitada. É necessário que se faça uma diferenciação entre o produto que não tem referências locais, que é rotulado e vendido como da cidade e o produto que recebe referências locais, que é etiquetado e vendido como lembrança da cidade e o produto que recebe referenciais locais, que é rotulado como sendo da cidade de referência, porém é comercializado em outra cidade. É válido refletir, sobre a reação do turista no que se refere à satisfação em adquirir esses produtos que na prática pouco expressam a realidade local. Ao adquirir uma peça artesanal a identidade não é só diretamente ligada ao artefato de lembrança em si, mas ao artesão. Desta forma, o que se pretende é não somente evitar a extinção dos artigos de lembranças originais, mas a preservação das peculiaridades de cada região e ainda a criação constante destes objetos, que muito representam para a atividade turística. Além de fortalecer o setor, o objetivo maior é estimular a produção cultural, a geração de trabalho e renda fazendo do artesanato uma atividade sustentável.. 6.. TURISMO COM CARACTERÍSTICAS SOCIAIS A maioria das pessoas já incorporou o “direito ao lazer”, independente do espaço de uma viagem a outra ou da distância do seu local de origem ou de possuir ou não condições socioeconômicas abastadas. Afirma Ruschmann, quando trata da importância da qualidade de vida para os indivíduos: Em relação ao turismo, que exige a pose de recursos financeiros para a viagem, o alojamento, a alimentação e para atividades de entretenimento, ele deve ser incorporado às conquistas sociais fundamentas, que neste caso se relacionam com o turismo popular social, praticamente inexistente nos países em desenvolvimento ou subdesenvolvidos. Além disso, a qualidade de vida dos cidadãos deve alcançar níveis desejáveis em todos os campos: físico, cultural, social e psíquico. (RUSCHMANN, 1997, p.18).. O sonho de viajar está presente em todas as classes sociais e está diretamente ligado às necessidades humanas diversas e profundas, Necessidades do ser humano de espaço, movimento, bem-estar, expansão e repouso longe das tarefas impostas pelo trabalho cotidiano. Tenta-se escapar da rotina, conhecer novos prazeres, descobrir novos horizontes. (RUSCHMANN, 1997, p. 32).. O novo posicionamento em relação à qualidade de vida está apenas começando, só será verdadeiramente completa quando a procura de bem-estar e acesso aos. Revista de Ciências Gerenciais • Vol. XII, Nº. 16, Ano 2008 • p. 91-103. 97.

(8) 98. A prática do turismo como fator de inclusão social. bens culturais, através da prática do Turismo, for um direito de todos, um empenho de muitos, um valor novo em uma nova visão de cidadania e responsabilidade social. A prática do Turismo Social surgiu na Europa entre os anos de 1920 e 1940. Nestas décadas os Sindicatos, Associações não-governamentais e países como Itália, União Soviética Alemanha iniciaram com a criação de infra-estruturas e incentivos para que os trabalhadores de baixa renda fizessem turismo coletivo. O conceito de Turismo Social é da França, com a criação em 1937 da Tourisme – Vacanes Pour Tous, uma Instituição administrada por trabalhadores. E, com o passar dos anos, a procura e o acesso a este tipo de turismo em grupo, com valores bem acessíveis, foi só aumentando. Tanto que, em 1963, nasceu na Bélgica, o Bureau International du Tourisme Social- BITS, uma entidade filantrópica internacional, que tem como missão promover o Turismo Social sem fins lucrativos. O BITS define o Turismo Social como “o conjunto de relações e fenômenos resultantes da participação no turismo de camadas sociais menos favorecidas, participação que se torna possível ou facilitada por medidas de caráter social bem definidas, mas que implicam um predomínio de idéia de serviço e não de lucro”. Realiza reflexões visando o aprofundamento de todas as faces do conceito de turismo social através de seminários, colóquios, congressos. Tudo isso promovendo sempre a prática do turismo com características sociais a baixo custo, aproximando organizações privadas,poder público e comunidade, constituindo parcerias nos diversos segmentos. Desde a criação da Organização Mundial do Turismo- OMT em 1946, o BITS desempenhou um papel significativo no centro desta importante organização internacional. O Código Mundial de Ética do Turismo, adotado pela OMT, reconhece a importância do Turismo Social: Art. 7º - Direto do Turismo 1.. A possibilidade de acesso, direta e pessoalmente, ao descobrimento das riquezas do planeta constitui um direito igualmente aberto a todos os habitantes do mundo; a participação cada vez mais ampla no turismo nacional e internacional deve ser considerada como uma das melhores expressões possíveis de crescimento contínuo do tempo livre, e não deve ser impedida;. 2.. O direito ao turismo para todos deve versar como resultado do tempo livre, e especialmente do direito a uma limitação razoável da duração de trabalho e das férias remuneradas periódicas, garantindo pelo artigo 24º da Declaração Universal dos Direitos Humanos e pelo artigo 7º do Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais;. 3.. O Turismo Social, e em especial o turismo associativo, que permite o acesso de grande número de pessoas ao lazer, às viagens e às férias, deve ser desenvolvido com o apoio das autoridades públicas;. Revista de Ciências Gerenciais • Vol. XII, Nº. 16, Ano 2008 • p. 91-103.

(9) Hélida Vilela Oliveira. 4.. O turismo familiar, juvenil e estudantil, de pessoas maiores e pessoas portadoras de necessidades especiais deve ser estimulado e facilitado.. A prática do Turismo com características sociais implica na democratização do Turismo, contribuindo contra as iniqüidades e contra a exclusão, uma vez que favorece a coesão social. É uma política de curto prazo considerar o acesso ao turismo e às férias como uma prioridade secundária que deveria ceder passagem a outras questões sociais (educação, saúde, moradia, emprego). Ao contrário, as realizações do turismo social favorecem o encontro entre os diversos públicos, grupos sociais. Podem ser desenvolvidas atividades de prevenção social para a juventude e as populações em risco. Atividades estas que são preventivas também no aspecto da saúde física mental, para o conjunto da população. Os efeitos do turismo social na qualidade familiar são evidentes. O acesso ao turismo não está relacionado unicamente a visitantes. É notório que também oferece aos visitados a oportunidade de freqüentar seus próprios recursos turísticos, aos benefícios do turismo, as melhorias criadas que ali permanecerão encaminhando à conservação dos patrimônios. Ao induzir uma relação de solidariedade entre turistas e a população local, com o objetivo comum do desenvolvimento sustentável, o turismo social difere-se integralmente do turismo de massas, alienador e explorador dos recursos naturais.. 7.. INSERINDO O TURISMO NA COMUNIDADE Ao se planejar a atividade turística numa comunidade seu principal objetivo é a melhoria da qualidade de vida dos moradores e que consequentemente promover a proteção e reconhecimento da cultura e recursos naturais. Vários benefícios econômicos podem ser alcançados com o Turismo para aqueles municípios que definirem como prioridade em seu Plano Diretor o desenvolvimento da atividade turística na região. O planejamento turístico serve como alavanca em vários setores da economia. Dentre os benefícios estão: aumento da urbanização, geração e aumento de dividas, incremento no comércio, geração de mais postos de trabalho, conscientização da proteção do meio ambiente. A implantação da atividade turística no município não depende somente de apoio e conscientização dos residentes, fatores como água tratada, rede de esgoto, energia elétrica, telefone, saúde pública, lazer, segurança, enfim fatores que proporcionem o bem estar da população devem ser feitos antes da introdução do turismo, pois a. Revista de Ciências Gerenciais • Vol. XII, Nº. 16, Ano 2008 • p. 91-103. 99.

(10) 100. A prática do turismo como fator de inclusão social. cidade deve ser agradável aos moradores, para se tornarem agradáveis e atrativas aos visitantes. Os impactos positivos e negativos poderão vir a atingir a localidade advinda da implementação do Turismo. Conforme a OMT (1988, p. 11), são de três ordens: impactos econômicos, impactos socioculturais e impactos ambientais. Os impactos econômicos positivos que podem ser provocados com a diversificação e até ampliação da economia, conseqüentes do maior fluxo de moeda estrangeira no país. É claro, que poderão existir impactos negativos, com a excessiva dependência da economia na atividade turística, em detrimento a outras áreas. Em relação à percepção dos impactos do Turismo Beisle e Hoy (1980), Pizam (1978) e Sheldon e Var (1984) (apud ROSS 2002, p. 139) descobriram que ela diminui à medida que aumenta a distância entre a moradia dos residentes e a zona turística.É preocupante o fato de que o Turismo vai contra o modo de vida da população local, gerando futuros conflitos, como: congestionamento no trânsito, aglomeração de gente, filas enormes no comércio, lotação em estacionamentos, alteração na aparência da comunidade entre outros. Reflete-se assim no impasse de que o Turismo por um lado conserva a cultura local, por outro cria um cenário de cultura artificial para os turistas. Num primeiro momento os residentes receberiam os turistas com entusiasmo e euforia, sendo visto como uma atividade que gera fonte de renda e prazer. Depois com o aumento do fluxo de turistas o contato entre eles e a comunidade local vai se tornando menos pessoal, e a comunidade sente pressão por parte dos turistas de ter uma infra-estrutura turística mais completa. Assim o Turismo se torna não mais uma novidade, e os residentes já estão mais apáticos em relação à atividade, vendo-a como uma maneira de obter lucro fácil. Quando o fluxo de turistas aumenta ainda mais gerando mudanças na localidade como preços elevados podem exercer limites de tolerância e sabotagem por parte da comunidade, causando irritação e conflitos. Sendo assim, neste contexto a comunidade local passaria a agir com hostilidade em relação aos turistas. O número excessivo de visitantes pode satisfazer os interesses econômicos de alguns, mas na verdade é que a sua influência na localidade receptora ultrapassa esses limites. O impacto sobre os ambientes naturais e também aqueles construídos pelo homem são maiores se o número de pessoas que os visitam ultrapassam sua capacidade de uso. Além disso, a qualidade de experiência do próprio turista pode ser comprometida na chegada a locais tomados por outros turistas.. Revista de Ciências Gerenciais • Vol. XII, Nº. 16, Ano 2008 • p. 91-103.

(11) Hélida Vilela Oliveira. É necessário que haja monitoramento na localidade anfitriã, para que se possa identificar em que estágio se encontra a relação entre os turistas e a população local, e também sua percepção com relação ao turismo e aos turistas. Ao que tange aos impactos socioculturais, podem ocorrer perda de identidade local, conseqüente da influência da cultura estrangeira, trazida pelos turistas. Em pequenas localidades pode ocorrer uma mudança nos padrões de consumo, geralmente criadas pelos hábitos de compra dos turistas, onde poderão ser despertadas necessidades de consumo até então estranhas aos moradores. Também corre-se o risco do aumento de problemas sociais como consumo de drogas ilícitas, alcoolismo e prostituição.. 8.. DIFICULDADES DE PERMANÊNCIA E ATUAÇÃO PROFISSIONAL NO TURISMO O turismo depende da população, em muitos aspectos, para a imprescindível hospitalidade e os investimentos necessários. O que se testemunha no mercado de trabalho é a atuação de profissionais que vêem na atividade turística uma fonte direta de renda. Imediata, eterna. Poucos são os profissionais que possuem formação e consciência adequada sobre princípios norteadores de preservação e sustentabilidade. Os contatos entre os residentes e turistas se resumem à contatos comerciais, superficiais. O grande número de empregos servis sazonais que o turismo gera, além de uma política geralmente difundida de que “o turista é o rei” ou “o cliente tem sempre razão!”, a comunidade local tende a se organizar de maneira a satisfazer as necessidades do turista, o que pode ter um custo inestimável. Algumas cidades com poucas disponibilidades de Unidades Habitacionais - UH’s, acabam dispondo de suas casas durante épocas de maior demanda as deixando totalmente mobiliadas nas mãos de turistas, pessoas desconhecidos, em troca de taxas de aluguéis de temporada. Segundo Krippendorf (2001, p. 86) (apud JURDÃO ARRONES, 1992) “no hotel ou na praia só se toma conhecimento dos autóctones por causa de suas funções como serviçais [...] a arrumadeira, o vigia, os vendedores de souvenirs, os músicos, os dançarinos, etc.” Os cargos de alto escalão gerência, chefia, diretoria especialmente nas redes internacionais acabam sendo assumidas por estrangeiros. Uma das principais características da empregabilidade no setor do turismo é a informalidade. O baixo número de formalização do registro na carteira de trabalho e as. Revista de Ciências Gerenciais • Vol. XII, Nº. 16, Ano 2008 • p. 91-103. 101.

(12) 102. A prática do turismo como fator de inclusão social. baixas remunerações dificultam a permanência e a busca por qualificações profissionais neste segmento. O descrédito e a ausência de informações esclarecedoras, bem como o reconhecimento da profissão Turismólogo, denominação dada ao indivíduo portador de curso superior em Turismo, dificultam a atuação profissional bem qualificada na gestão do Turismo.. 9.. CONSIDERAÇÕES FINAIS Propõe-se criar e gerir planejamentos turísticos específicos em cada localidade, onde seja verificada cada peculiaridade e vocação do município, apensando antecipadamente os conflitos que possa vir a surgir antes de sua implantação. Faz-se necessário refletir sobre os benefícios oriundos da prática do Turismo de modo inclusivo, agraciando a comunidade local nos aspectos econômicos, sociais e de infra-estrutura. Os estudos e discussões sobre os impactos socioculturais do Turismo vêm chamar a atenção da necessidade cada vez maior de se contar com a participação da comunidade nas decisões quanto ao planejamento e desenvolvimento do Turismo em seu município. O Turismo é uma ferramenta motivacional, transformadora, criativa, viva. Sendo utilizada de modo organizado pode induzir ao resgate da cultura local e favorecer a inclusão social das diversas esferas da comunidade. É fundamental construir os planos turísticos com o apoio participativo dos moradores, elegendo os atrativos turísticos, envolvendo na confecção de artesanatos com características peculiares do município, demonstrando os valores específicos da cultura local. As organizações governamentais, associações de classe, sociedade devem ampliar seus horizontes, e descobrir um novo olhar em relação à atividade turística no que tange sua condição de país subdesenvolvido, que visa o desenvolvimento acelerado e auto-sustentável, através de um turismo planejado e com qualidade.. REFERÊNCIAS HOLANDA, Ivete A. I Ciclo de Debates: Turismo e Inclusão Social. Fortaleza. Editora INESP, 2003. JURDÃO, Francisco Arrones. Los mitos del Turismo. Madrid: Endymion, 1992. LANDIM, Gislaine. I Ciclo de Debates: Turismo e Inclusão Social. Fortaleza. Editora INESP, 2003.. Revista de Ciências Gerenciais • Vol. XII, Nº. 16, Ano 2008 • p. 91-103.

(13) Hélida Vilela Oliveira. KRIPPENDORF, Jost. Sociologia do Turismo – para uma nova compreensão do lazer e das viagens. São Paulo:Aleph, 2001. ROSS, Glenn F. Psicologia do Turismo. São Paulo: Contexto, 2002. RUSCHMANN, Doris. Turismo e planejamento sustentável: A proteção do meio ambiente. Campinas, SP: Papirus, 1997. OMT. Desenvolvimento de Turismo sustentável: manual para organizadores locais. 1998.. Revista de Ciências Gerenciais • Vol. XII, Nº. 16, Ano 2008 • p. 91-103. 103.

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