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A construcao de uma alternativa curricular na pre-escola : a experiencia do NEI Canto da Lagoa /: Ana Cristina Coll Delgado.-

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(1)

A

CQNSTRUÇÃQ

DE

UMA

ALTERNATIVA

Í .

CURRICULAR

NA

PRE-ESCOLA:

A

experiência

do

_

NEI

Canto

da

Lagoa

(2)

ANA

CRISTINA

COLL

DELGADO

A CoNsTRUCÃo

DE

UMA

ALTERNATIVA

CURRICULAR

NA

PRÉ-EsCoLAz

A

experiência

do

NEI

Canto

da

Lagoa

Dissertação apresentada

ao

Curso de Mestrado

em

Educação

da

Universidade Federal

de

Santa Catarina

como

requisito parcial

à

obtenção do

título

de

Mestre

em

Educação

Orientadora: Professora Dra.Nadir

Zago

Co-Orientadora:

Professora

Doutoranda

Beatriz Bittencourt

C.

Hanff

FLORIANÓPOLIS

CENTRO DE

EDUCAÇÃO

DA

UESC

(3)

DEDIcATÓRIAz

“Este

trabalho é

dedicado aos profissionais

de

Educação

Infantil

que continuam

resistindo e

lutando

pela

garantia

do

cuidado

e

educação

para

as

crianças

(4)

AGRADECIMENTOS:

Gostaria

de

agradecer a todas as pessoas

que

acreditaram

na

concretização deste estudo.

Ainda que

alguns

nomes

não

sejam

mencionados,

este texto está

carregado

destas contribuições.

Em

primeiro lugar, aos

meus

pais, pelo

exemplo de

honestidade, justiça e determinação.

A

todos

que,

de

alguma

forma, participaram

da

construção deste trabalho,

através

de

leituras e sugestões: Eloisa , Cecília , Claudio, e

Simone, que

fez a revisão

final.

À

Olga

Miranda, por

ter

proporcionado

meu

afastamento para

o mestrado

e pelas

lições

de

vida

que

tem

ensinado.

Ao

Rogério, Eliane, e

Beth

pela

amizade

e disponibilidade.

Às

professoras Marli

Auras

e

Leda

Scheibe, pela leitura

minuciosa

do

projeto

que

originou esta investigação e pelas suas observações positivas

que

me

levaram adiante.

Ao

professor

Marcos

Herter,

que

me

ajudou durante

o mestrado

com

sugestões

de

bibliografia, apesar

de

tantos

compromissos.

À

Bel,

que

também

ofereceu seu apoio e fez sugestões.

_

Aos

colegas

do

mestrado,

com

os quais partilhei

momentos

tão agradáveis: Pedro, Ivan,

Louisa

Carla, Giana,

Ana

Cristina, Jorge Alexandre, entre outros.

À

Deborah

e Nico,

companheiros de

todas as horas,

que sempre demonstraram amizade

e

solidariedade.

Especialmente à

Nadir Zago,

pelo apoio e pela orientação

comprometida

que

demonstrou

desde

nossos primeiros encontros e

que

se estendeu, até

mesmo,

durante seu

afastamento

do

país.

À

co-orientação, dedicação e apoio

da

professora Beatriz Bittencourt.

Ao

Rodrigo

e a tantas outras crianças

com

as quais tenho convivido e aprendido.

Às

coordenadoras da

Divisão

de

Educação

Pré-Escolar

da

Secretaria

Municipal

de

Educação

de

Florianópolis, pelo atendimento e disponibilidade para as entrevistas.

Quero

agradecer, principalmente, aos profissionais, crianças e

moradores

do

Canto da Lagoa, que

me

receberam

tão

bem

desde os primeiros encontros e

que

(5)

“Ao

fiindo

de

um

pátio arborizado,

numa

noite quente

de

dezembro,

eu

fui

convidada

para entrar

numa

roda de

ciranda. Dali

para a frente, a

roda

e

vocês todos

tornaram-se parte

da

minha

vida durante

quase

três anos.

O

teatro, os sons

dos tambores

e a vida

que não

se perdia entre aquelas portas e janelas. Ali, a vida pulsava entre as contradições, os erros e acertos

que vocês iam

experimentando.

Eu

ia e voltava para casa, cheia

de

anotações

que

continham

histórias,

vozes

e músicas.

Vou

confessar

um

segredo:

sinto

saudade

daquele

imenso

pátio cercado

por

uma

lagoa,

da

noite enluarada

com

a

Mari

tocando

violão e das

vozes

que

cantavam

até a

madrugada...Vocês

acreditaram

no

estudo e

me

convidaram

a fazer parte

da roda de

ciranda.

Enquanto

dançava, ia

pensando

no

imenso desafio de

transformar estas histórias

num

texto, Sorte

minha que

guardei

um

pouquinho do

mágico da

(6)

SUMÁRIO

RESUMO

... ..

RESUME

... ..

INTRODUÇÃO

... .. 11-13

PARTE

1

CONTEXTUALIZAÇÃO

DO

.

ESTUDO

E

METODOLOGIA

PESQUISA

... ..

1.1-O

CONTEXTO

SOCIOCULTURAL

NO

CURRÍCULO

DA

EDUCAÇÃO

INFANTIL

... ..

14-29

1.2-A

PROBLEMÁTICA

DE ESTUDO

E

SUA

METODOLOGIA

... ..

30-42

PARTE

2

O

BAIRRO

cANTO

DA

LAGOA

E

O

NúcLEO

DE

EDUCAÇÃO

INFANTIL;

história

da

elaboração

do

projeto

político

-

pedagógico

... ..

2.1-O

LOCAL

E

SUA

CARACTERIZAÇÃO

... ..

43-só

2.2-O

NÚCLEO

DE

EDUCAÇÃO

INFANTIL

CANTO

DA

LAGOA

... .. 57-61

2.3-ORIGEM

E

ANTECEDENTES

DO

PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO

.62-70

2.4-O

PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO

“EM

BUSCA DE

UMA

ALTERNATIVA

CURRICULAR”

... ..

71-82

PARTE

3

1 ~

O NUCLEO

DE

EDUCAÇAO

INFANTIL E

SEUS

ATORES

SOCIAIS:

caracterização, interações e expectativas

... ..

3.1-ALGUMAS

QUESTÕES

QUE

APROXIMAM

O

COLETIVO

DOCENTE...

83-96

3.2-As

INTERAÇOES ENTRE

O NUCLEO DE EDUCAÇÃO

INFANTIL

E Os

(7)

PARTE

4

A

MEDIAÇÃO

soc|ocuLTuRAL

NA

PRÁTICA

PEDAGÓGICA

... .§ ... ..

113-115

4.1-

A

oRGANIzAÇÃo

E

PLANEJAMENTO

Do

TRABALHO PEDAGÓGICO

... ..

nó-121

4.2-

0

CURRÍCULO REAL E

sUAs

MANIFESTAÇÕES

NA

PRÁTICA

PEDAGÓGICA

... ..

122-147

CONSIDERAÇOES

FINAIS:

As

Possibilidades e Limites

de

uma

Proposta

Curricular

Integrada

com

a

População

Local

... _.

148-153

BIBLIOGRAFIA

... _.

154-159

ANEXOS

... ..

160-167

(8)

RESUMO

O

objetivo central

que

norteou este estudo foi

“compreender

como

ocorre a integração das questões socioculturais

na

proposta

de

alternativa curricular e na prática

pedagógica de

uma

unidade

pré-escolar”.

Para

o

alcance deste objetivo optei

por

investigar

o

Núcleo

de

Educação

Infantil

Canto da Lagoa,

no

qual seus profissionais,

em

parceria

com

familiares e

moradores de

um

local, construíram,

num

periodo

de

dez anos,

um

projeto politico-pedagógico

denominado

“Em

Busca

de

Uma

Altemativa Curricular”.

O

referencial teórico

que

subsidiou a análise

dos dados

está baseado: a)

em

estudos

que

defendem

a importância

do

contexto sociocultural das crianças e familiares nas propostas

curriculares

de

Educação

Infantil a partir

da década de

80; b) nas relações entre currículo e cultura

aprofimdadas

por

representantes

da

Nova

Sociologia

da

Educação

e

da

Teoria Crítica

do

Currículo; c)

em

autores

que

vêm

apontando novos

rumos

para a

formação

dos

profissionais

de

educação.

A

investigação

mantém

afinidades

com

as abordagens qualitativas

de

pesquisa e

com

os estudos

de

caráter etnográfico.

A

partir

da

problemática central, três eixos delimitaram

o

campo

de

análise: a caracterização

do

projeto político-pedagógico, seus

fundamentos

teóricos e processo de elaboração; a

mediação

sociocultural

na

prática pedagógica; e as interações, expectativas e

caracterização

dos

diferentes atores sociais envolvidos

no

processo.

Os

resultados

da

pesquisa

apontam

para a importância

da

integração entre familiares e profissionais

de

educação no

processo

de

construção

de

uma

altemativa curricular;

da formação

em

serviço e

reflexão

sobre

o

fazer pedagógico; e

do compromisso

com uma

proposta educativa para a pré-escola.

O

caráter

de

provisoriedade e as contradições

do

currículo

também

são enfatizados, pois

o

projeto é construído

no

dia á dia

da

unidade pré-escolar

(9)

RÉsUMÉ

Cet étude a

été guide par

un

objectif central:

“comprendre

comment

Pintégration des

questions socio-culturelles a lieu

dans

la proposition d”alternative curriculaire et

dans

la pratique

pédagogique d”une

école matemelle”.

Pour

atteindre cet objectif, j°ai iopté

pour

Finvestigation

du Núcleo

de

Educação

Infantil

Canto da

Lagoa,

dont les professionnels,

en

association

avec

les familles et les habitants

de

la cornmunauté, ont bâti,

pendant

dix

ans,

un

projet politico-pédagogique appelé

“À

la recherche d'une alternative

curriculaire”.

Les

références théoriques qui ont contribué à l'analyse des

donnés

sont fondées: a) sur des études qui soutiennent l'importance

du

contexte socio-culturel des enfants et

de

leur familles dans les propositions currículaires d°éducation des enfants à partir des

années

80; b) sur les rapports entre curriculum et culture approfondis par des représentants

de

la

Nouvelle

Sociologie

de

lӃducation et

de

la Théorie Critique

du

Curriculum; c) sur des auters qui indiquent des nouvelles directions

pour

la fonnation des professiormels

de

Féducation. L°investigation

possède

des affinités avec les

approches

qualitatives

de

recherche et avec les études d'ordre ethnographique.

À

partir

du

problème

central, le

champ

d'analyse a été délimité par trois axes: la caractérisation

du

projet politico-pédagogique, ses

fondements

théoriques et son processus d”élaboration;

la

médiation

socio-culturelle dans la pratique pédagogique; et les interactions, les attentes

et la caractérisation des dilférents acteurs sociaux

engagés dans

le processus.

Les

résultats

de

la recherche se directionnent vers l°importance

de

l°intégration entre les familles et les professionnels en éducation dans le processus

de

construction

d”une

altemative curriculaire;

de

la formation

en

service et de la réfléxion sur le faire

pédagogique;

et

du compromis

avec

une

proposition

pédagogique

éducative

pour

lӎcole

matemelle.

Le

caractere provisiore et les contradictions

du

curriculum sont aussi

mis en

emphase,

puisque le projet est construit

dans

le quotidien

de

lӎcole

matemelle

et qu°il

(10)

rNTRoDUÇÃo

A

necessidade

de

desenvolver

um

estudo

que contemplasse

a

Educação

pré-escolar

tem

suas raízes

na minha

história profissional, especialmente a partir

de

1991,

quando

passei a trabalhar

com

formação de

professores

que

atuam

com

crianças

de

quatro a seis anos.

Entre

as alunas, percebia certa angústia

mas

também

o

desejo

de

vislumbrar saidas, alternativas possiveis frente às inúmeras dificuldades

que o

cotidiano

nos

impõe.

Talvez

precipitadamente

eu

denorninava esses anseios

de

“procura

de

receitas”.

Hoje

reavalio essa visão apressada,

que

me

impediu, durante certo

tempo, de

refletir sobre a

complexidade da

questão.

Se

as alunas

procuravam

respostas é porque, certamente,

estavam

cansadas

da

crítica

ou

da

denúncia que, muitas vezes, transforma professores

em

vilões e certas linhas teóricas

em

verdadeiras tábuas

de

salvação para a educação.

.- \

Ao

ingressar

no

curso

de

.Mestrado

em

Educação,

tinha claro

que

pretendia realizar

uma

pesquisa

que

apresentasse possibilidades, talvez

uma

forma de

responder

aos

desafios

que

me

foram

colocados.,

Da

mesma

forma, vinha questionando

o

predomínio de

análises psicológicas-em detrimento

de abordagens

sociológicas,

filosóficas

e históricas-na

Educação

Infantil. Essas constatações,

somadas

ao

contato

com

o

cotidiano

de

classes pre'-escolares e as leituras

que eu

vinha

aprofundando

sobre

Educaçao

Infantil e Teoria Crítica

do

Currículo, possibilitaram

um

traçado inicial

do

que

seria

o

meu

projeto

de

pesquisa.

A

denorninaçao “pré escola” justifica-se

por

meu

campo

de

estudo estar direcionado à faixa

dos

quatro aos seis anos.

Segundo

a atual política

de

Educação

Infantil

do

Ministério

da Educação

e

do

Desporto-MEC

(l994)l, as instituições

que

oferecem

Educação

Infantil, integrantes

do

Sistema

de

Ensino, são as creches e pré-

escolas, cuja clientela se divide pelo critério exclusivo

da

faixa etária,

ou

seja, zero a três

anos na

creche e quatro a seis anos

na

pré-escola.

1

De

acordo

com

BARRETO

(l996:8), o Ministério da Educação e do Desporto elaborou urna proposta de Política de Educacão Infantil que foi discutida

com

segmentos governamentais e não-govemamentais. Ela foi aprovada

em

1994

como

a Política Nacional de Educação Infantil, na qual

ficam

explicitados os

objetivos, diretrizes gerais e linhas de ação prioritárias que deverão orientar a ação do

MEC, em

parceria

(11)

12

Desde

a primeira versão

do

projeto

que

originou este trabalho, tinha

pensado

em

pesquisar

uma

pré-escola

com uma

proposta diferenciada,

na

qual seus .profissionais estivessem

comprometidos

com

o

cuidado e

educação da população

infantil atendida.

Desta

forma, a pesquisa

buscou

uma

aproximação

com

o

que Geertz

(1989)

denomina

de

“visão

de

pos1'11`vidade”,

ou

seja, a tentativa

de

ultrapassar a ótica

da

privação,

da

denúncia

das faltas. Pretendia encontrar,

fundamentalmente, o que

uma

instituição

de

Educação

Infantil

tem

a oferecer,

ao

invés

de

apenas apontar as suas limitações.

Foi

em

função

desse interesse

que

escolhi investigar a proposta curricular e a

prática

pedagógica de

uma

pré-escola públicaf*

o

Núcleo

de

Educação

Infantil

Canto da

Lagoa,

que tem

como

preocupação

a inserção

do

contexto sociocultural das crianças e

familiares

no

seu cotidiano.

O

grupo de

profissionais

que

ali atuava estava

desenvolvendo

uma

proposta

pedagógica

integrada

com

a realidade sociocultural

da

sua

população

e iniciou,

em

1994, a elaboração

do

projeto político-pedagógico

“Em

Busca

de

uma

Alternativa Curricular”.

Tenho

a convicção

de que o

momento

é

de

mostrar as alternativas possiveis,

fiente

às condiçoes,

cada vez mais

limitadas, impostas aos profissionais

da

educação.

Nesse

sentido,

concordo

com

a

observação de Kramer:

“Numa

espécie

de

democratização perversa,

temos

assistido à difusão

do

conceito

de

carência

que passou

a ser dirigido

também

aos professores. Parece-

me

que

esse é

um

dos

critérios

que

orienta,

embora

não de forma

intencional, as

mais

diferentes estratégias

de formação

(prévia

ou

em

serviço)

que

se

propõem

a

implantar propostas, desconsiderando a experiência

dos

professores,

negando

seu conhecimento,

apagando

sua história e

pretendendo

substituir sua prática

por

outra

tomada

como

mais correta,

avançada

ou

melhor

fimdamentada”

(1994: 18- 19).

Este

estudo

tem

justamente

o

propósito

de

colocar

em

destaque a experiência

vivenciada

por

um

grupo de

profissionais, pais e

moradores de

um

local

com

caracteristicas específicas e suas influências

na

construção

de

uma

alternativa curricular.

O

trabalho está dividido nas seguintes partes:

Na

primeira parte, “Contextualização

do

Estudo

e

Metodologia de

Pesquisa”, faço

um

levantamento

da produçao

teórica, a partir

de

1980, acerca

da

importância

do

contexto sociocultural das crianças e famílias nas propostas curriculares

da

Educação

Infantil, destacando

algumas

contribuições

da

Nova

Sociologia

da

Educação

ao

debate sobre curriculo e cultura.

Após,

apresento a problemática

da

pesquisa e sua metodologia:

(12)

a

opção

pela pesquisa

de

tipo qualitativo,

o

trabalho

de

campo

e os instrumentos

de

pesquisa,

bem

como

a

análise e sistematização

dos

dados.

Na

segtmda

parte,

“O

Bairro

Canto da

Lagoa

e

o

Núcleo

de

Educação

Infantil:

história

da

elaboração

do

projeto político-pedagógico,” faço

uma

descrição

do

local

de

pesquisa e

do

NEI

Canto da

Lagoa

e suas relações

com

o

Movimento

de

Reorientação Curricular

da

Secretaria Municipal

de

Educação

de

Florianópolis.

Em

seguida, reconstituo

a

história

da

proposta

pedagógica

do NEI,

desde

sua inauguração até a construção

dc

projeto político-pedagógico. I

Na

terceira parte,_

“O

Núcleo

de

Educação

Infantil e

Seus

Principais Atores Sociais: caracterização, interações e expectativas,” são analisadas

algumas

questões

que

mobilizam

o

coletivo docente e suas

concepções de

organização

do

trabalho pedagógico.

Resgato,

também,

as interações e expectativas

dos

familiares das crianças

no

processo

de

construção

de

um

trabalho coletivo.

Na

quarta parte,“A

Mediação

Sociocultural

na

Prática PedagÓgica,”analiso

o

currículo real e suas manifestações

na

prática

pedagógica

do NEI,

abordando

a inserção

da

cultura

nos

projetos

do

núcleo, as manifestações socioculturais das crianças e as relações

de gênero

observadas nas

duas turmas

de

pré-escola

que

foram

estudadas.

//E

Entendo que

um

projeto político-pedagógico construído através

da

participação

de

vários atores sociais

não

deve,

em

nenhum momento

do

processo, ser considerado “pronto”,

mas

permanentemente

revisitado e questionado.

Num

estudo etnográfico,

como

observa Geertz,

“não

conclusões

a

serem

apresentadas,

apenas

uma

discussão

a

ser sustentada”(1989).

É

neste sentido

que encaminho

a parte final deste trabalho.

(13)

PARTE

1.

CONTEXTUALIZAÇÃO

DO

ESTUDO

E

METODOLOGIA

DE PESQUISA

1.1

-

o

coNrEx'ro

soc1ocULrURAL

No

CURRÍCULO

DA

EDUCAÇÃO

INFANTIL

Ainda que não

tenha a intenção

de

fazer

uma

retrospectiva histórica

da Educação

Infantil

no

Brasil, alguns aspectos

foram

propositalmente retomados,

como

forma de

caracterizar os estudos

que defendem

a importância

do

contexto sociocultural das crianças e

de

suas famílias nas propostas pré-escolares, especialmente a partir dos anos 80.

As

críticas feitas à ideologia

da

privação cultural propiciaram,

de

certa forma,

o

surgimento de

uma

corrente

de pensamento,

dentro

da

Educação

Infantil,

que

defende a

importância

da

diversidade cultural nas propostas curriculares.

Como

veremos

mais adiante, esta é

uma

tendência mundial, cuja discussão

no

Brasil, ainda é recente.

A

abordagem

da

privação

cultural .

O

conceito

de

privação cultural surgiu

na década de

60,

nos Estados

Unidos,

num

momento

caracterizado por confrontos raciais,

desemprego,

segregação social e educacional, atingindo principalmente a

população

negra e os imigrantes pobres (Nicolacci:

1987

e Soares:l989).

A

teoria

da

privação

ou

carência cultural,

em

sintese, responsabilizava essas

camadas da população

pelo próprio fracasso social e escolar.

O

fracasso

passou

a ser atribuído às privações culturais e linguísticas provenientes de meios familiares considerados inadequados.

Dentro

desta análise, a função

da

escola deveria ser

de

oferecer

programas

que

compensassem

as supostas carências desses grupos.

No

Brasil, os discursos oficiais e as propostas

de educação

pré-escolar

passaram

a utilizar a “Ideologia

da

Privação Cultural”

como

forma de

prevenir

o

fracasso escolar, então atribuído às deficiências socioculturais e linguísticas das crianças e famílias das

camadas

populares.

A

transposição dessa

abordagem

para

o nosso

país ocorreu nos anos

(14)

'

Os

programas

preventivos

tinham

como

objetivos principais reduzir

ou

eliminar

deficiências antes

da

escola regular; prevenir futuros

problemas

de aprendizagem

e

adaptação na

pré-escola; e

submeter

as crianças a atividades

de

socialização adequada,

o

que

pressupunha

que a

socialização vivenciada

no

contexto familiar e cultural era

considerada deficiente (Soares, 1989). .

Comprovando

a influência desses

programas

preventivos,

o

Diagnóstico Preliminar

da

Educação

Pré-Escolar

no

Brasil, realizado pelo

Departamento de Ensino

Fundamental

do

Ministério

da

Educação

e Cultura -

MEC,

em

1975, estabelecia

que

“as

deficiências

de

estimulação sensórío-motora, afetiva, social e. verbal,

próprias

de

ambientes

debaixo

nível

sócioeconômico

ínfluenciam

negativamente

0

desenvolvimento

infantil” (Nicolacci,

1987

: 29).

Logo,

caberia à

educação

pré-escolar suprir tais

deficiências, visando

um

melhor

rendimento nas séries posteriores.

'

Os

efeitos

da

abordagem

da

privação cultural analisados

por

Soares: 1989, Nicolacci: 1987, Patto: 1993,

Kramer:

1992,

Abramovay:

1991, entre outros autores,

demonstram

que

os

padrões

culturais das classes

dominadas passaram

a ser considerados

como

subculturas e os das classes dominantes,

como

“cultura legítima”.

A

“diferença”,

nesta perspectiva,

começou

a ser percebida

como

deficiência

ou

inferioridade (Soares, 1989: 15).

As

crianças

que não possuíam

a herança cultural e linguistica legitirnadas pela escola

passaram

a ser tratadas

como

se tivessem nascido

“sem

cultura”.

Consequentemente,

isso

acabou

justificando a inculcação

de

hábitos, valores e

comportamentos

da

“cultura oficial”,

que

era a

de

classe

média

branca.

De

acordo

com

Kramer

(1992: 12), ainda

que

esses

programas não tenham

sido

implementados

com

sucesso

em

todo o

Brasil pela ausência

de

recursos próprios para a

educação

pré-escolar, teoricamente difundiu-se

o

preconceito

de

quê' as crianças e

familias das classes populares

apresentavam

um

déficit sociocultural, a ser

compensado

,

como

forma de

prevenir

o

fracasso escolar.

Assim, a pré-escola consagrou-se, nesse periodo,

como

meio de

salvação

da

escola

de

primeiro

grau

e das crianças consideradas carentes.

Esse

conceito

de

carência cultural

merece

ser questionado,

duas décadas

depois

de

ter se infiltrado

no

ideário

pedagógico

brasileiro,

porque

suas

marcas

ainda resistem

ao

tempo

e as criticas.

A

(15)

16

raça negra,

na

verdade,

omitem

a

dominação de

uma

classe social sobre outra, pois

como

observa

Patto:

“(...)

numa

sociedade

em

que

a discriminação e a exploração incidem

predominantemente

sobre

determinados grupos

étnicos, a definição

de

superioridade

de

uma

linhagem a partir

da

notoriedade

de

seus

membros

pode

resultar

num

grande mal

entendido: acreditar

que

é natural

o

que,

na

verdade, é socialmente

determinado”

(1993: 39).

Durante

essa fase,

na

Educação

Infantil brasileira

predominaram

propostas, cuja

preocupação

central, era a inculcação ideológica

dos

valores e hábitos das

camadas

dominantes,

o

que

propiciou

uma

série

de

críticas aos

programas

compensatórios e à

abordagem

da

privação cultural.

Novos

rumos

para

a

Educação

Infantil

Na

metade da década de

80, as propostas centradas

no

assistencialismo,

guarda

e

compensação

das carências culturais,

no âmbito da

Educação

Infantil,

começaram

a ser

questionadas

no

Brasil.

A

importância

da

função educativa aliada

ao

cuidado passou a ser discutida

nos

meios

acadêmicos.

Estudos

realizados

por

Kramer

(1982, 1989, 1991, 1992), Ferrari (1980, 1982),

Rosemberg

(1987, 1989, 1993),

Campos

(1986, 1989, 1991, 1992, 1994), entre outros, contribuiram para

o

crescimento

do

debate

na

área.

A

busca de

uma

identidade para a

Educação

de

zero a seis anos

vem

ocorrendo

especialmente

em

duas

instâncias:

na

discussão acadêmica,

de onde

emergem

esses estudos, e

na

elaboração

da

Constituição

de

1988,

que contou

com

a participação de diversos

segmentos da

população.

Durante

a fase de elaboração

da

Constituição

de

1988, a

Educação

Infantil foi

reconhecida

como

um

direito

da

população, pois

o

Movimento

Nacional Criança e

Constituinte obteve alguns avanços,

como,

por

exemplo, vincular a

Educação

de zero a seis

anos

ao

ciclo básico, obrigando a

União

a proporcionar sua oferta,

devendo

esta ser

contemplada nos orçamentos

do

MEC

e das Secretarias

de

Educação

Estaduais e

Municipais.

A

garantia dessas conquistas, sofreu alterações

com

a

aprovação

do

projeto

complementar da

Lei

de

Diretrizes e

Bases

(dezembro de

1996),

do

senador

Darcy

(16)

Básica,

a

distribuição

de

verbas e recursos específicos para a área ficou'

comprometida,

no

momento

em

que

a responsabilidade foi repassada aos municípios e

de

forma

secundarizada.

Apesar

de mais

da metade da população

infantil

de

baixa

renda

não

ter acesso a

creches e pré-escolas,

convém

ressaltar

que

houve

uma

expansão

do

atendimento nas

duas

últimas décadasz.

A

expansão da

oferta fez crescer,

também,

a discussão sobre

o

papel social e político

da

pré-escola e sobre

o

exercício

de

sua

função

pedagógica.

A

implementação de

propostas

pedagógicas

ou

curriculares

que

interessem às

populações

infantis, especiahnente das classes populares,

tem

sido

pieocupação

central

de

autoras

como

Kramer

(1992),

Abramovay

(1991), entre outros.

Entendem

estas

educadoras

que

a função

pedagógica

é possibilitada

mediante

um

trabalho

que

toma

a cultura

de origem

das crianças

como

base para a aquisição

de novos

conhecirnentos.

Logo,

deve

partir

do

que

a criança

conhece

e domina. Salientam, ainda,

que

é preciso favorecer

o

acesso aos

conhecimentos da

cultura

dominante sendo

esse propiciado

de forma

critica, para possibilitar à criança

compreender

seu

mundo

e sua realidade sociocultural. Finalmente,

o

trabalho

pedagógico

da

pré-escola

não

pode

se limitar a

um

único

padrão de

cultura,

mas

abranger a diversidade cultural, respeitando as diferenças

de

classe, raça, sexo, religião e outras, existentes entre as crianças.

Tecidas essas considerações,

o

presente trabalho pretende questionar

como

uma

unidade

pre'-escolar

que

diz priorizar

o

contexto sociocultural das crianças organiza sua

proposta

curricular e sua prática pedagógica.

Como

na

Educação

Infantil,

o

debate ainda

é recente, fez-se

um

levantamento

da produção

teórica sobre currículo e cultura

de

forma mais

ampla,

ou

seja,

não

direcionado exclusivamente à. pré-escola.

O

redimensionamento

do

conceito

de

currículo e suas relações

com

a cultura

tem

sido alvo

do

debate realizado por representantes

da

Nova

Sociologia

da Educação.

O

primeiro

ponto

a ser considerado,

na

nova

abordagem,

é a superação

do

significado

2

O

Ministério da Educação e Desporto

em

1994, no documento “Educação Infantil no Brasil: Situação Atual” confrontou os dados da população de zero a seis anos, levantados pelo censo de 1991 do IBGE,

com

os de matrícula na pré-escola pesquisados pelo Serviço de Estatísticas do l\/HEC, e concluiu quea proporção de crianças atendidas na pré-escola cresceu de 5,5% para 15,5% da população de zero a seis

anos, entre 1979 e 1991, no Brasil.

O

documento salienta que, embora o atendimento educacional às

crianças de zero a seis anos tenha apresentado expansao no país, os índices ainda sao baixos,

(17)

18

tradicional

de

currículo, geralmente

compreendido

como

controle sobre

o

processo

de

ensino/aprendizagem, ou, ainda,

como uma

listagem

de

conteúdos.

Essa

revisão

do

modo

de

pensar

o

currículo, possibilita,

de

certa forma,

uma

aproximação

com

o

debate

sobre propostas curriculares

na

Educação

Infantil.

Currículo

e cultura

De

acordo

com

Forquin, a corrente denorninada

Nova

Sociologia

da

Educação

surgiu

na Grã-Bretanha

no

final

da

década de

60, através

de

um

livro organizado

por

Michael

Young

em

1971.

Em

seu artigo,

Young

insistia

no

fato

de

que

“os

processos

de

seleção e

de

organização dos conteúdos

cognitivos e culturais

do

ensino

traduzem

os

pressupostos

ideológicos e os interesses sociais

dos

grupos

dominantes

” (Forquin,

1993: 92).

A

partir desta publicação, surgiram outros estudos

que

relacionaram currículo e cultura. t

«

_

O

significado

de

currículo, expresso pelos teóricos

da

Nova

Sociologia

da

Educação,

caracteriza

o termo

como

“um

conjunto contínuo

de

situações

de

aprendizagem (leaming

experiences)

às

quais

um

indivíduo vê-se exposto

ao

longo de

um

dado

periodo,

no

contexto

de

uma

instituição

de educação-

formal

" (Forquin,

l993:22).

O

“cun'ículo”, nessa

abordagem,

vai

além

do

plano cognitivo, alcançando as relaçoes afetivas e sociais.

Segundo

a análise

de

Forquin, essa corrente

busca

refletir, a partir

dos

contextos

culturais,

como

emergem

e se institucionalizam os currículos. Isto

tem

provocado

uma

reelaboração

da

problemática cultural

da educação

(l993:24) e,

em

decorrência,

delineou-se

um

embate

teórico

marcado

por posicionamentos

variados acerca das relações entre currículo e contextos culturais.

Os

trabalhos

produzidos na Grã-Bretanha

no

periodo

1960-1985 trouxeram

elementos significativos para a

formação de

uma

visão critica

de

currículo. Esta temática,

mais

tarde, alcançou os

Estados Unidos,

através

de

autores

como

Apple

(1982, 1989,

1991) ,

Giroux (1992,1994)

, Connell (1995), entre outros.

Nos

Estados

Unidos, a

preocupação maior dos

representantes

da

Sociologia

do

Currículo é

compreender

a favor

de

quem

ele trabalha e

como

fazê-lo trabalhar

em

prol

(18)

,19

destaco Applle (1982, 1989) e Connell (1995),

que

apontam

a possibilidade

de

o

curriculo

não

vir só a reproduzir a ideologia dominante,

mas

fundamentalmente, a produzir,

também,

o

efeito contrário, isto é, as manifestações socioculturais até então

negadas

e excluídas

poderem

conquistar

um

espaço nas escolas.

Connell (1995) desenvolve

o

conceito

de

“justiça curricular” que,

segundo

ele,

supera

a questão

do

acesso à escola.

O

autor analisa os diferentes resultados

de

escolarização para as classes populares e

dominantes

relacionados

com

tipos especificos

de

curriculo.

Nesta

perspectiva, os currículos dominantes

contêm

uma

história

de

classe

que

inclui e exclui crianças,

de acordo

com

sua

camada

social.

Um

currículo democrático e justo, para Connell, será construído

em

tomo

dos

interesses

dos grupos

com

menor

vantagem.

Ele

denomina

esta estratégia

de

“reversão

da

hegemonia”, que deve

ser generalizada para

todo

o

sistema,

mantendo

suas

particularidades.

Dessa

forma,

não

pode

ser

um

projeto

contra-hegemônico

único,

devendo

reconhecer as diferenças

de

gênero, raça e classe, pois,

“Se

quisermos

ensinar sobre relações étnicas e raciais,

por exemplo,

é possível

obtermos

uma

compreensão mais

inclusiva e mais

profunda

se construirmos

um

curriculo a partir

do

ponto de

vista

dos grupos

étnicos subordinados

do

que

se trabalharmos a partir

do

ponto

de

vista

do

grupo dominante”

(1995: 22).

na

França,

o

surgimento dessa corrente foi mais tardio,

conforme

explica

Forquin

em

seu livro “Escola e cultura” (1993).

Nesse

trabalho,

o

autor estabelece

relações entre currículo e cultura,

apontando

saberes, competências, representações, papéis e valores adquiridos

na

escola, muitas vezes ausentes

dos programas

oficiais.

Para

Forquin, se

o

homem

é

um

ser

de

“cultura”, é necessário colocar a

educação no

centro

da

questão antropológica.

Se

a cultura é

o conteúdo

principal

da

educaçao,

uma

não

pode

ser

pensada

sem

a outra, pois

todo

ato educativo traz implícito

um

processo

de

seleção

de

uma

cultura.

A

esse respeito ele observa: _ “

(...) pode-se dizer perfeitamente

que

a cultura é

o conteúdo

substancial

da

educação, sua fonte e sua justificação última: a

educação não

é

nada

fora

da

cultura e

sem

ela (...)

uma

não

pode

ser

pensada

sem

a outra e

toda reflexão

sobre

uma

desemboca

imediatamente

na

consideração

da

outra” (1993: 14).

O

Brasil

começou

a receber a influência desses autores estrangeiros

na metade da

década de

80.

A

produçao

teórica sobre currículo foi aos

poucos superando

a Ótica

mais

(19)

20

~

teórica

da

Nova

Sociologia

da Educaçao, Moreira

e Silva

começaram

a sustentar

uma

visão diferenciada

de

currículo.

Para

Silva (1996),

uma

relação entre cuniculo e cultura,

na

medida

em

que o

currículo e a

educação

são

“campos

de

produçãoativa

de

cultura

quanto

campos

contestados”.

Nesse

sentido, a cultura é inseparável

dos grupos

e classes sociais pois é

o

“o terreno

em

que

se

enfientam

diferentes e conflitantes

concepções de

vida social, é aquilo

pelo qual

se luta e

não

aquilo

que

recebemos”

(1994: 27).

Dentro

dessa

abordagem

crítica

do

curriculo, utilizarei, para a

condução

da

análise

da

prática pedagógica,

o

conceito

de

“currículo real,” desenvolvido

por Forquin

(1996), e Sacristàn (1996).

Faço

essa

opção, por

ser

o

curriculo real

compreendido

como

o que

é realmente ensinado

em

aula,

o que

podemos

conhecer por

enquete

ou

observaçao

junto às professoras e alunos, ou,

mais

especificamente,

o que

acontece

na

prática

pedagógica

diária

em

oposição aos

programas

oficiais (Forquin:1996,191).

Igualmente

para Sacristàn,

o

currículo real

pode

apontar intenções e significados

“desligados

das

intenções curriculares explícitas ”(1996: 36).

A

interdependência entre cultura e

educação

também

é

abordada por

Sacristàn

quando

chama

a atenção para a importância

de

pensarmos na

“cultura currícularizada”,

que

irá favorecer a descoberta

de

novas

formas de

refletir sobre

o

currículo (1996: 34).

Para

o

autor, se

o

curriculo faz escolhas

no

interior

da

cultura,

presenciamos

nas escolas

visões particulares

ou

reconstruções

da

cultura.

Em

outrasipalavras,

encontramos

nas instituições escolares

não

a cultura

em

estado

bmto,

mas

uma

versão escolarizada desta.

Semelhante

aos autores já citados, Sacristàn,

ao

compreendero

currículo

como

uma

seleção

de conteúdos

da

cultura, tenta definir

o

que

esta última significa.

Duas

abordagens

diferentes,

mas

nao

incompatíveis, transitam

nos meios

educacionais,

de acordo

com

este autor.

A

primeira delas é a cultura

numa

perspectiva antropológica,

compreendida

como

`

“(...)

um

conjunto

de

significados

ou

informações e

comportamentos de

tipo intelectual, ético, estético, social, técnico, mítico etc.

que

caracteriza

um

grupo

social

do

qual se diz

que

tem

uma

detemiinada

cultura”

(1996

140).

A

segunda

abordagem

refere-se à alta cultura,

“ao

melhor

da

condição

universal

humana”

(l996:41).

O

maior

desafio da

escola,

segundo

Sacristàn é a

busca

do

(20)

“Se

a

educação

tem

como

missão

situar

0

estudante diante

do

mundo

para compreendê-lo, é preciso adotar a

acepção

antropológica

de

cultura

na hora de

selecionar conteúdos,

mas

contando sempre

com

as

melhores

contribuições

da

chamada

“alta cultura” (l996:42)”.

Semelhante

aos questionamentos feitos

por

Sacristàn, outros autores

têm

problematizado

a inserção

da

cultura

de origem dos

alunos

nos

currículos. Forquin,

ao

analisar

os

posicionamentos

dos

representantes

da

Nova

Sociologia

da

Educação

na Grã-

Bretanha, admite

que

as críticas feitas à

abordagem do

déficit cultural originaram

uma

reelaboração

da

problemática

da

cultura.

A

cultura das crianças

que

fracassavam

na

escola

passou

a ser concebida,

não

mais sob a perspectiva

do

déficit

ou

da

pobreza,

mas

como uma

cultura diferente

que

se encontra

num

processo

de

ruptura

em

relação à

cultura

dominante

(1993: 127).

Uma

nova

visão

pedagógica passou

a defender

o

respeito às caracteristicas culturais

da

comunidade na

qual vive a criança, na tentativa

de

estabelecer

uma

maior

inter-relação entre a escola e

o

meio

local.

No

Brasil, é inegável a contribuição

de Paulo

Freire,

um

dos

primeiros

educadores

a apontar a necessidade

de

inclusão

da

cultura

de origem

e a experiência

do

aluno

como

pontos de

partida para

uma

prática

pedagógica

voltada aos setores populares.

A

partir de Freire, outros autores

foram aprofundando

essa discussão,

como

é

o

caso

de Moreira

(1995),

segundoo

qual é preciso valorizar a cultura das

camadas

populares e

promover

seu diálogo

com

a cultura erudita.

Para o

autor, é indispensável

não

mistificar

uma

ou

outra,

não romantizando o

saber popular e

percebendo

os riscos

de

uma

idealização

do

saber erudito.

Forquin

tem

questionado as criticas

da esquerda

feitas

ao

curriculo

comum.

Ele

destaca dois blocos

de argumentações

que

defendem

um

curriculo diferenciado,

conhecidos

como

“obreirista”e “comunitarista”.

O

obreirista enfatiza a necessidade

dos

trabalhadores

terem

sua identidade cultural e seus interesses materiais

de

classe expressos

no

curriculo. Já

o

comunitarista

defende

a cultura

da

comunidade

local e seu contexto

como

o

“suporte,

o

objeto e

0

beneficiário

principal

do

ensino

dado

aos

alunos

" (1993: 128).

Uma

vez

que

a realidade social

aponta

para

uma

pluralidade de grupos,

o

emprego do

termo “comunidade”,

por parecer nostálgico

ou

mítico é criticado pelo

(21)

22

deve

enfatizar

o que de

mais geral

em

termos de

conhecimento, sob

pena

de

discriminação das crianças

no

acesso

ao

saber:

“A

alternativa pluralista e comunitária radical

provoca

objeções igualmente

no

plano ético e pedagógico;

Pode-se

temer,

com

efeito,

que

ela

tome

a encerrar

o

indivíduo

na

sua

comunidade de

pertinência suposta, a reduzir sua identidade pessoal

a

uma

identidade social, privando-o das possibilidades

de

ampliação

de

conhecimentos

e

do

desenvolvimento intelectual

que

traz

um

ensino liberto

da

tirania

do

contexto

próximo”

(1993: 133-134).

Reconhecendo

que

as sociedades são multiculturais e

que

o

curriculo

pode

ser

pensado a

partir dessa constatação,

na

perspectiva

de

Forquin, os aspectos gerais e

constantes das manifestações

da

cultura

humana devem

ser priorizados.

Para

ele,

o

contexto espacial e social

próximo

não

pode

ser

o

único referencial

do

currículo.

No

âmbito da educação

pré-escolar, entretanto, necessário se faz estabelecer

certa diferenciação entre as críticas aos limites das perspectivas localistas, principalmente

porque

se referem

a

uma

etapa

da

escolarização diferente

da

faixa

dos

zero aos seis anos.

Uma

proposta

de

Educação

Infantil direcionada

somente

à realidade local das crianças é,

por

Óbvio, limitante,

mas

é indiscutível,

também,

que o ponto de

partida

deve

ser a

compreensão

do

seu

meio

sociocultural para, após, alcançar os

conhecimentos mais

gerais.

Considerando-se,

como

explica Soares (1989: 14),

que

todas as culturas são “estruturadas, coerentes, cornplexas”,

não

podem

os profissionais

da educação

permitir a exclusão das culturas silenciadas - tidas

como

subculturas -

dos

currículos.

A

diversidade, pelo contrário, precisa s_er respeitada, seja na pre'-escola, seja nas séries

posteriores.

Currículo

e contexto sociocultural

na

Educação

Infantil

Os

posicionamentos sobre currículo e sua relação

com

o

contexto sociocultural

na

Educação

Infantil

tomaram

irnpulso

no

final

dos

anos 80.

No

Brasil, várias autoras

têm

colaborado

com

este debate,

conforme veremos no

transcorrer deste estudo.

Kramer

(1991, 1993) evidencia a importância de

um

cuniculo pré-escolar

que

problematize e contextualize a criança

em

seu ambiente sociocultural.

A

autora alerta,

em

algumas

publicações, para

que não

sejam desprezados os

conhecimentos

(22)

vivencia,

bem como

os

conhecimentos

do

mundo

fisico e social (1991: 54-55).

O

eixo

do

currículo

(Kramer,

1993)

deve

articular, então, a realidade sociocultural das crianças,

o

desenvolvimento

infantil e os interesses específicos

que

elas manifestam.

Machado

afirma

que o

currículo pré-escolar é diferente

do

de

primeiro grau, já

que

suas diretrizes (autonomia, rotinas, regras, interações,

linguagem

e outras) levariam à inclusão

de

uma

série

de conteúdos

a

serem

trabalhados,

sem

quebrar a continuidade

do

processo

de conhecimento

existente nessa fase (1991:7 8).

Nos

anos

80, Assis desenvolveu idéias

mais afinadas

com

a

proposta de Kramer.

A

autora

chama

a atenção para a importância das bases antropológicas

na

elaboração curricular,

defendendo

a necessidade

de conhecimento

do meio

em

que

vive a criança, pela pesquisa participante. Nesta, os pais seriam incorporados

ao

processo

de

discussão e análise

de

sua própria situação.

Para

Assis, se a escola aproveita a experiência educativa-cultural

de

uma

comunidade

pode

gerar

conteúdos

e

métodos que

impulsionem o

desenvolvimento das crianças

de

quatro a seis

anos

(1991 :80).

A

integração

com

os familiares nas propostas curriculares

de

Educação

Infantil é

uma

tendência internacional

que

vem

sendo

implementada nos

últimos anos.

Um

exemplo

é

o

livro organizado por

Rosemberg

e

Campos

(1994),

onde

são apresentadas

experiências

de educação

e cuidado infantis,

em

cinco países

do

hemisfério norte:

Estados Unidos,

Suécia, Itália,

França

e Grã-Bretanha.

A

experiência

da

Emilia

Romagna,

região localizada

ao

norte

da

Itália, prioriza a

relação entre creche e bairro,

envolvendo

famílias, representantes comunitários e crianças

na construção

coletiva das programações.

Para

Campos,

nessa região existe

um

vínculo

entre creche e território

que

extrapola a relação

com

as familias, atingindo “o

ambiente

natural e cultural,

as

organizações comunitárias, os

demais equipamentos de uso

coletivo e

os

profissionais

que

neles

trabalham”

(1994:340).

A

interação

do

currículo

com

o

contexto sociocultural,

na

Educação

Infantil,

predomina

nas cinco experiências analisadas. Assim,

o

aspecto

da

diversidade cultural,

principalmente relacionada

com

as discriminações

de

gênero e raça, faz parte

de todos

os currículos,

conforme o

livro

acima

indicado.

(23)

_24

Em

outra publicação sobre experiências internacionais3, Christos

Frangos

(1996:

145)

salienta

que

a

noção de

cultura

ocupa

atualmente

uma

parte considerável nas ciências

da

educação.

Para

o

autor,

foram

as descobertas e posicionamentos teóricos

de

I_._.S.

Vygotsky,

A. Luria e Jean Piaget

que apontaram

a importância

do

fator cultural,

com

destaque

para

Vygotsky,

hoje considerado

um

teórico e pesquisador

da

cultura.

Frangos

também

relata experiências pré-escolares

na

Grécia

que

valorizam

o

conhecimento da

realidade, através

de

visitas a locais vizinhos,

espaçosde

trabalho,

ateliers, aeroportos, entre outros (1996:155).

Neumann

(1996)

por

sua vez,

comenta

sobre

a

experiência

na Alemanha,

onde

a atual política

de

Educação

Infantil valoriza

a

inclusão das familias

nos

projetos educativos,

em

relação a

América

Latina,

Espinosa

(1992)4 faz

uma

critica aos curriculos pré-escolares,

que desprezam

os estilos

de

vida próprios

de

uma

localidade e

não

adquirem

significado e relevância para os

grupos

sociais.

Segundo

essa autora:

“Preguntémonos

solamente

qué

imágines

vem

nuestros niños

en

los jardines

infantiles, que' cuentos, canciones, rimas

escuchan y

dicen;

qué

concepto

de

niño

y hombre

se favorece? El

de

su

comunidad

o aquellos

que

transmitem los

medios

de

comunicación

social,

y que son

tan ajenos a su realidad, atentando por tanto su

auto

estima?” (1992: 11).

A

autora defende, igualmente,

uma

não

“folclorização”

do

curriculo, ao

afirmar

que

é preciso considerar as contribuições de todos os âmbitos culturais.

No

caso brasileiro, a

preocupação

com

a diversidade sociocultural das crianças

também

está presente

na

Política

de

Educação

Infantil estabelecida pelo

MEC.

O

documento

de

1994, elenca três

dimensões

essenciais

que

devem

nortear as propostas

curriculares: “o

grau

de desenvolvimento

da

criança,

a

diversidade social e cultural

das

populações

infantis e

os

conhecimentos

que

se

pretendam

universalizar” (1994: 15).

Dando

continuidade

ao

debate sobre curriculo

na

Educação

Infantil,

em

1996,

o

MEC

publicou

um

cademo

sobre propostas pedagógicas e curriculares na

Educação

Infantil. Tal

documento

é resultado

de

um

confronto entre as propostas sobre

o

tema

existentes

no

Brasil

na

faixa

dos

zero aos seis anos. Participaram dessa pesquisa técnicos

3

RAYNA,

syrvâe,

LAEVERS,

Fem

et

DELEAU

ivnchei (¢ooraozmé>

UÉDUCATION

PRÉSCÓLAIRE

fiyels Objectifs Pédagoggq ucs?

INRP

et Nathan, 1996.

4

Texto apresentado no XI Congresso Brasileiro de Educação Infantil /

OMEP/

17 a 21 de Julho 1995.

(24)

do

MEC

e cinco consultoras

de

Educação

Infantil (Kishimoto, Oliveira, Mello,

Kramer

e

Machado). Vejamos

quais são os posicionamentos destas consultoras sobre curriculo e

como

suas conceituações

podem

ajudar

no

direcionamento deste estudo.

Para

Kishimoto, ou curriculo são intenções

que

dirigem a escola e

que colocam

em

prática experiências

de aprendizagem

consideradasz importantes para as crianças e seus pais.

Proposta pedagógica

seria a explicitação

de

qualquer orientação presente

na

escola

ou

na

rede.

Na

escolha

de

um

curriculo,

Kishimoto

enfatiza a importância

de responder

às seguintes indagações: a

que

criança se destina? qual a

concepção de educação

presente?

o

que

ensinar?

como?

de

que forma? o

que

e

como

avaliar? (1996: 13-14).

Numa

perspectiva sócio-interacionista, Oliveira evidencia

que

é

no

espaço

construido

na

interação

com

outras pessoas

que

acontece a

ação

educativa.

O

curriculo é

como

um

roteiro

de

viagem,

de

responsabilidade

do

educador

ou

professor.

As

atividades

devem

incluir

o

cuidado,

mas

o

foco central é

o

trabalho

pedagógico

realizado

com

as crianças.

O

planejamento curricular

deve

explicitar a

fiindamentação

teórica e as alternativas

de

organização

do

ambiente de

aprendizagem

e

desenvolvimento

das crianças. Finalmente, ela destaca

que

planejamento curricular e

formaçao

em

serviço

devem

estar integrados (1996: 14-15). -

Para

Mello, as instituições de

Educação

Infantil

devem

exercer sua função social

de educar

e cuidar as crianças.

Baseada

em

Cesar

Coll,

defende

um

curriculo aberto

definindo três fatores

que

devem

fazer parte

da

sua elaboração: a realidade

dos

equipamentos de

Educação

Infantil, a

formação

e

opção pedagógica dos educadores

e as

necessidades biopsicossocias das crianças

de

zero a seis anos.

Kramer

não

diferencia currículo

de

proposta pedagógica,

“compreendendo

curriculo

ou

altemativa curricular de

forma

ampla,

dinâmica

e flexível,

que

é, via

de

regra,

a

maneira

como

se

tem concebido

uma

proposta pedagógica”.

Na

sua ótica,

em

se tratando

de

curriculo

ou

proposta pedagógica, é preciso reunir as bases teóricas, as diretrizes práticas e os aspectos técnicos

que

possibilitam sua concretização.

As

propostas

pedagógicas

têm

uma

história

que

justifica sua razão

de

existir,

o

que

também

reforça

a

idéia de

que

as experiências

acumuladas

têm

seu valor.

Fundamentada

em

(25)

26

“das perguntas

vivas

de

uma

comunidade

atuante e

reconhecida

como

tal,

por

reificarem

respostas

de

um

lugar

que

não

é

o

seu”

(1996: 17-18).

Machado

estabelece diferenciação entre os termos, fazendo

uma

opção mais

voltada

à

Educação

Infantil através

do

que

denomina

“projeto educacional-pedagógico”. Projeto, para a autora, traz a

noção de

incompletude,

de

algo

que

está

em

permanente

construção.

O

tenno

“educacional” sugere

que o

adulto é responsável pelo

desenvolvimento

da

criança, tanto a nível fisico,

como

psicológico e social.

Nesse

sentido,

os

profissionais são encarregados

do

cuidado e

educação

das crianças. Finalmente,

o termo “pedagógico”

significa “intencionalidade assumida, planejada,

acompanhada,

sistematizada pelos

profissionais que

desta tarefa

participam"

(199ózó-s). ~

`

Considerando

os diferentes posicionamentos sobre as propostas curriculares

na

pré-escola,

o que

também

enriquece

o

debate,

pude

constatar

algumas aproximações

entre as proposições das autoras

mencionadas

e a realidade pesquisada.

São pontos

comuns:

-

A

importância

do

cuidado e

de

um

trabalho

de

cunho pedagógico

nas propostas

curriculares das creches e pré-escolas; .

-

A

necessidade

de

evidenciar o eixo teórico e as

formas de

concretização

da

prática pedagógica,

respondendo

sobre a

concepção de

infância e

educação que

norteia tais propostas curriculares;

-

O

caráter aberto e dinâmico

que deve permear

uma

proposta curricular para a

pré-escola;

-

A

formação permanente

dos profissionais, assim

como

a participação destes e

de

suas experiências

na

construçao destas propostas, ou' seja,

que

passem

de

executores

para

“construtores” nesse processo;

-

Por fim,

a exigência

de

que

as propostas sejam construídas

com

a participação

de todos

os sujeitos (crianças, profissionais, familias,

moradores)

considerando suas

necessidades ne realidade.

Como

esta é múltipla e contraditória,

Kramer

destaca a impossibilidade

de

uma

proposta única.

Nesse

sentido, para a construção

de

um

curriculo

(26)

que

leve _em conta a heterogeneidade é preciso valorizar os fatores socioculturais

(MEC,

1996: 19).

Estas questões levantadas pelas autoras se

aproximam

da

realidade

que

pesquisei.

Evidentemente,

trata-se

de

um

processo próprio

de

construção entre os atores sociaiss

envolvidos, que, naquele período,

não tinham definido

as conceituações

de

proposta, currículo

ou

projeto. Acredito

que

a

adoção de

um

termo

ou

outro,

não

é questão central desse estudo, cuja problemática e

metodologia

serão apresentadas

a

seguir.

^`\'V;

5

..,

.. . . _.

A

expressão “atores socia1s”e frequentemente utilizada na sociologia da educaçao para designar os

participantes do processo educativo. Este termo será utilizado neste estudo, porque sugere movimento e participação ativa nos rumos de

um

projeto político-pedagógico, que envolveu profissionais, crianças,

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