_-§¢-._ Éfflí-' ____¿
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EEE
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‹-__=_'-'='-'--_.- EEEEEE
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í
m
'-._-_-= ___§-- ___-1 l/3 If] 042023PROGRAMA
DE
Pos-cRADuAçAo
EM
ENGENHARIA
DE
PRODUÇÃO
QUALIDADE
DE
VIDA”:
AVALIAÇÃO
DO
DISCURSO
OFICIAL
EM
CURITIBA.
Estudo de caso
«-O
Anjor
Mujica
de
Paula
Dissertação
apresentada
ao
Programa de
Pós-graduação
em
Engenharia
de
Produção
da
Universidade
Federal
de
Santa
Catarina
como
requisito parcial
para
obtenção
do
titulode
Mestre
em
Engenharia
de
Produção
F
Iorianópolis2001
Anjor Mujica
de
Paula
“QUALIDADE
DE
VIDA":
AVALIAÇAO
DO
DISCURSO
OFICIAL
EM
CURITIBA.
Estudo
de
caso
Esta
Dissertação
foijulgada
e aprovada
para
a obtenção
do
título
de
Mestre
em
Engenharia
de
Produção no Programa
de Pós-Graduação
em
Engenharia
de Produção da
UNIVERSIDADE
FEDERAL
DE
SANTA
CATARINA
Florianópolis,
24 de setembro de
2001.Prof. Ricardo
Miranda
Barcia, Ph.D.Coordenador do Curso
BANCA
EXAMINADORA:
1°
®:¬_L
Qi
DÁ
Profa.Dora
OrthAi
Orientador2°
|A\
“"
f. Paul I.›= ado, Dr.
I
III
3°
QQQI
Prof. Roöerto
de
Oliveira, Ph.D. 4°¶ÉøLwz~,Â'z¿¿%
À
minha
mãe
Anafi/de, a coisamais
lindaque
eu
vi nestemundo
AGRADECIMENTOS
Por entender
que
o Mestrado
representaum
marco
em
minha
vida;agradeço
aMami,
Papi, Ariel, Cristina, Vivi, Julião, Abuelita, Tatá, Tetoe
Totó por teremme
guiadocom
amor
e
sabedoria até aqui.A
maiorpaz
é saberque posso
contarcom
vocês.A
Nana,
Élcioe Yolanda
que
tiveramo
carinho,a
paciênciae
acompreensão
necessários paraa
realizaçãodo
trabalho.À
Universidade FederalDe
Santa
Catarina,A
Coordenação do
excelentePrograma
de
Pós-graduação Engenharia
da
Produção
desta Universidade,aos competentes
professores: Salm, Maria Ester,Alexandre
Lerípio, Roberto Cruz,Sandra
Zulamita, AlineFrança e
ZuleicaMa.
Patrício; pela riqueza
dos ensinamentos
transmitidos.Pela , ajuda,
amizade e
principalmente a agradávelcompania
dos
colegasde
mestrado: Donato,
Carmen,
Carlos, Shirley, Arthur, Tomelin; especialmenteo
Ronaldo e o
Sérgio.Ao
Magnus
e a
Keka
pela torcida.Agradecimentos
especiais a Sociólogae
professora Maria TarcisaBega
dd
UFPR
e
aGeógrafa
Rosa
Moura, cujas contribuições foram decisivas paraa
realizaçãodo
estudo,o
qual poderia tertomado
outrosrumos que
talveznão
me
satisfizessemtanto
quanto
eu
me
sinto nestemomento.
Ao
Dr. PauloDelgado
pelas críticase
pronta colaboraçãona
participaçãoda
banca.
Todo
o
meu
agradecimento
e
afeto a profa. Dora,que
do nosso
primeiroao
últimoencontro, fez jus integralmente
a
tudo aquiloque
se espera
de
uma
boa
orientação;acolhendo,
guiando
e encorajando-me a
seguirem
frentenos
momentos
difíceis,na árdua
tarefada
concretização deste trabalho,amadureci
muitocom
ele. Obrigadol.suMÁR|o
Lista
de
Tabelas
... ..viiLista
de
Quadros
... ..viiLista
de
Figuras
... ..viLista
de
Siglas ... ..ixResumo
... ..xAbstract
... ..x|Resumen
... ..xiicAPíTu|.o
1-introdução
... ..o1 1.1Apresentação
... ..011.2 Relevância
e
Limitações ... ..031.3 Metodologia ... ..05
1.4 Estrutura
do
Trabalho ... ..06CAPÍTULO
2-Fundamentação
Teórica
... ..082.1 Histórico
do
Conceitode
Qualidadede
Vida ... ..082.2 Indicadores
de
Qualidadede
Vida ... ..102.3
Sociedade e
Qualidadede
Vida:Uma
visãoampla
... ..152.4
Necessidades
Humanas
e aDinâmica
do
Mercado
... ..212.5
A
Questão Urbana no
Finaldo
SéculoXX
... ..222.6
Desenvolvimento
Sustentável ... ..272.7 Sustentabilidade
do
Meio
Urbano
... ..29CAPÍTULO
3-A
Qualidade
de
Vida
Discursada
em
Curitiba ... ..323.1 Introdução ... ..32
3.2
Evolução Urbana de
Curitiba ... ..323.3
A
“Gestão
Ecológica"Jaime
Lerner (1989-1992) ... ..413.4
A
Gestão
RafaelGreca
(1993-1996) ... ..544.2
Composição
dos
índices ... ._4.3 Longevidade,
Educação,
Renda
... ._4.4 Infância
e
Habitação ... __4.5
Considerações
Finais ... ._CONCLUSÕES
... __LISTA
DE
TABELAS
1.
MUNICÍPIO
DE
CURITIBA -
POPULAÇÃO
TOTAL
1950/2000
... ..342. Coleta
Anual do
Lixo Domiciliar-
Lixo Orgânicoe
inorgânico-
(1 989-2000) ... ..40
3. Coleta
de
Materiais Recicláveis (1989-2000):Caminhão
Lixoque
não
é
lixoe
Programa
Câmbio
Verde
... ..404.
íNQ|cE
DE
DEsENvo|_v|MENTo
HuMANo
DE
ALGUNS
PAÍSES
DA
A|v|ER|cA
LAT|NA
... ..655. Índice Municipal
de
Desenvolvimento
Humano
-
Estados
Rio
Grande do
Sul,Paraná e Minas
Gerais,1970,1980
e 1991 ... ..656. Índice Municipal
de
Desenvolvimento
Humano
-
Porto Alegre , Curitibae Belo Horizonte ... ..66 7.
LoNGEv|DADE
... ..ô8 8.EDUCAÇÃO
... ..ô9 9.RENDA
... ..71 1o.INFÂNCIA
... ..72 1 1.HAB|TAÇÃo
... ..73LISTA
DE
QUADROS
1.
Semelhanças
entremodelos
de
cidadesno
atual contextode
competitividade urbana. ... ..25
2. Indicadores
de
qualidadede
vida (Gestão Greca) ... ..572. Plano
Agaohe
... __3. Município
de
Curitiba-
Plano Preliminarde
Urbanismo
-1965
4.Região
Metropolitanade
Curitiba ... _.5. Jardim Botânico ... _.
6.
Ópera de
Arame
... ._7.
Rua
24
Horas
... ._8.
Rua
da
Cidadania ... ._APPUC
- Assessoriade
Pesquisae
PlanejamentoUrbano
de
CuritibaCMMAD
-Comissão
MundialSobre
oMeio Ambiente
eDesenvolvimento
QV
-Qualidade
de
VidaIBGE
- Instituto Brasileirode
Geografia
e
Estatística ICV.- Índicede
Condições
de
VidaIDH
-Índicede Desenvolvimento
Humano
lDH-M
- Índicede
Desenvolvimento
Humano
MunicipalIPPUC
- Institutode
Pesquisa
e
PlanejamentoUrbano de
CuritibaOMS
-Organização
Mundialda
Saúde
ONU
-Organização das
Nações
Unidas
PIB
- Produto Interno BrutoPNUD
-Programa
das
Nações
Unidas
parao Desenvolvimento
PMC
-
Prefeitura Municipalde
CuritibaRESUMO
Adotando-se
como
referênciaa
qualidadede
vida discursada pelosmeios
oficiais
de
uma
cidade tãoconhecida
como
Curitiba, este trabalho avaliao
discursoem
suas mais
diversas manifestações, atravésda
análise críticados
indicadorespor ele veiculados.
Para
isso, utilizou-sede
pesquisadocumental
como
recursometodológico,
no
intuitode
identificare
reconstituir os discursosdos
principaisatores envolvidos
nas
publicações, prospectos edocumentos
oficiaisda
PMC
-Prefeitura Municipal
de
Curitiba.Recorreu
também
à
revisão bibliográfica pertinente à qualidadede
vidado
serhumano
e
àquestão urbana na
atualidade.Num
enfoque
histórico resumido,o
tema
Qualidade
de
Vida
é apresentado
desde
o seu
surgimento atéos
dias atuais,culminando
com
a
conceituaçãodo
termo qua/idadede
vidae a
problemáticaenvolvendo sua
mensuração
na
utilizaçãode
indicadores sociais.
Numa
análise macrossocial,o
referencial teóricoem
Ramos
eDe
Masi
responde
satisfatoriamentequanto às
condiçõesde
vidaa
que
o
serhumano
está expostono
ambiente
propiciado pelasociedade
de mercado,
compreendendo
como
esse
meio
tolera, reprimeou
estimulao
exercicioda
multidimensionalidade
do
indivíduo.A
partir daí, entraem
cena
o discurso oficialda
qualidadede
vidanas
trêsúltimas gestões curitibanas
(1989 à
2000).O
estudo mostracomo
são
praticadasas políticas
urbanas
em
Curitibae
verificao
graude
eficácia atingido pelo discursoacima
aludido.As
análises e avaliaçõessão
baseadas,em um
primeiromomento,
nos
indicadores identificadosnos
discursos oficiais estudados, e,em um
segundo
momento,
nos
indicadoresIDH
e
ICV, aquiapresentados de forma
comparativa paraas
cidadesde
Porto Alegre, Curitibae
Belo Horizonte.Ao
finaldo
trabalho,registram-se
sugestões
paraa
realizaçãode
futuros estudos.ABSTRACT
Taking life quality in the
way
it is consideredby
governmental authorities insuch
a wellknown
cityas
Curitiba, this studyaims
to evaluate the official discourse in its different senses. This evaluation isaccomplished
through a critical analysis ofthe indicators
which
that discourse isbased
on.To
reach that goal, the authorhas
made
use
ofdocumental researchas
a methodological support in order to identifyand
rebuild the ideasexposed
in writtenspeeches as
wellas
in pamphlets,and
officialdocuments
of Curitiba's Prefecture.The
authorhas
made
use as
well of bíbliographic reviewon
human
quality of livingand on
actual urban questions.From
a concise historical perspective, Life Quality is presented from its origin
up
to modernity, including the concept of quality of livingand
itsmeasurement
related tosocial indicators. ln a macrosocial context,
Ramos' and
De
Masi's theoretical position offers satisfactoryanswers on
human
being's living conditions in marketsociety,
and
explainshow
that social environment tolerates, restrains or stimulates individual's multiplicity.Then
the author concentrates in the last three Curitlban governments' discourseon
life quality,and
bymeans
ofsuch an
analysis, the studyshows
how
urban policieshas
been
taken into practice in Curitibaand
which
efficacy indexhas
been
reached by
quality of living discourse. All the analysesand
evaluations arebased on
the indicators identified in the analyzed offlcial declarations as wellas
on
Human
Development
Index (HDI)and
on
Living Conditions Index (LCI),which
arepresented in a comparative context involving the cities of Porto Alegre, Curitiba,
and
Belo Horizonte.
ln the conclusion of this study there are suggestions that
can be
useful for furtherresearches.
t
RESUMEN
Tomando como
referencia Ia calidadde
vida talcomo
la presentan losmedios
oficialesde
una
ciudad tan conocidacomo
Io es Curitiba, este trabajoevalúa
ese
discursoen sus
distintos aspectos, y lohace
a través del análisis críticode
los indicadoresen
losque
aquél se basa.Para
Iograrlo,ha
recurrido el autora
la investigación documental,como
recurso metodológico,con
mirasa
identificar y reconstituir los discursosde
los principales actores citadosen
las publicaciones, lospanfletos y
documentos
oficialesde
la Alcaldíade
Curitiba.Ha
realizadoasimismo
revisión bibliográfica relacionada a Ia calidadde
vida del serhumano
y a Iaproblemática
urbana
en
Ia actualidad.A
partirde un enfoque
histórico resumido, eltema
Calidadde
Vidase
presentadesde
sus orígenes hasta los días actuales,culminando con
elconcepto
del término calidadde
vida y Ia problemáticaque
envuelve su
mensuración en
eluso
de
indicadores sociales.En
base
aun
análisismacrosocial, el referencial teórico
en
Ramos
yDe
Masi
responde
satisfactoriamenteen
loque
se refiere a las condicionesde
vidaa
lasque
el serhumano
estáexpuesto en
elambiente
propiciado por la sociedadde
mercado,
comprendendo
cómo
ese
medio
tolera, reprime o estimula el ejercicio del carácter multidimensionaldel individuo.
A
partirde ese
punto, entraen escena
el discurso oficialde
la calidadde
vida durante los tres últimos gobiernos municipalesen
Cutiriba. El estudiomuestra
cómo
han
sido practicadas las políticasurbanas
en
dicha ciudad a Iavez
que
investiga el gradode
eficaciaque ha alcanzado
el discurso oficialde
Ia calidadde
vida.Los
análisis y evaluaciones se basan,en
un
primermomento, en
los indicadores identificadosen
los discursos oficiales estudiados, yen
una segunda
fase,
en
los indicadores indicede
DesarrolloHumano
(IDH)e
Indicede
Condiciones
de
Vida (ICV) presentadoscomparativamente
entre las ciudadesde
Porto Alegre, Cutiriba y Belo Horizonte.
Al final del estudio, se ofrecen sugerencias para la realizacipón
de
futuras investigaciones.cAPiTu|.o
1-introdução
1.1_APRESENTAÇÃO
Uma
das
característicasmarcantes
do
séculoXX
é
a urbanização,processo
acelerado principalmente a partirda
segunda metade da
centúria eque
faz
com
que
mais
de
50%
da população
mundial atualmente vivanas
cidades.Segundo dados
oficiais,no caso
brasileiro,81,2%
da população
resideem
áreas urbanas,
a
maior parteem
precárias condiçõesde
vida.A
urbanizaçãobrasileira caracterizou-se pelo
agravamento da
desigualdadena
repartiçãoda
renda
entre regiõese
classes sociais,o
crescimentodesordenado das
cidades,assim
como
a degradação
do
meio ambiente
e ouso
predatóriodos
recursosnaturais.
A
maioriadas
cidades brasileiras, especialmenteas
grandes,apresentam
sériosproblemas
socioambientais, taiscomo,
exclusão social, poluiçãodo
ar edos
recursos hídricos, transportes ineficientes, acidentesde
trânsito, violência
urbana
etc.A
dificuldadede
acesso aos
sen/içosde
saúde, educação, transporte, lazer, etc.e
de
infra-estruturaurbana
- água, esgoto, iluminação,drenagem
- evidenciaas condições indignas
em
que
se
encontra a maioriada
nossa população
brasileira.
Nesses
termos, amanutenção do
equilíbriodo
meio
socioambientalurbano
tornou-senão
só difícilde
ser alcançada, mas,acima
de
tudo,uma
questão cada vez mais
preocupante.Para
Kowarick (2000),a causa desses
problemas
estariana
crescente ineficáciadas
políticas públicas, atualmentesob a
égide
da
ideologia neoliberal reinante, juntocom
a desativaçãodo
Estado na
prestação
de
serviços básicos.“Tudo
isso aliadoa
uma
grave criseeconômica
que
tem
persistido, produziu funestasconseqüências
no
dia-a-diados
habitantesde
nossas
cidades,das
quaisse
pode
destacaro
espraiamento
da
violênciaem
seus
múltiplos sentidos". (Kowarick, 2000, p.120).No
entanto,apesar
desse
panorama
desoladorda
urbanizaçãono
Brasil,uma
cidade brasileiravem
se destacando
mundialmente. Curitibase consagrou
nacional
e
internacionalmentecomo
uma
cidade modelo.Desde
os anos 70
do
século XX,
a
partirde
algumas
realizaçõesbem
sucedidasno
campo
do
planejamento urbano, Curitiba ampliou
o seu sucesso e
tornou-se íconeda
década de
90,alcançando
outros títulos :“
Capital Ecológica”, “Capital
de
PrimeiroMundo” e
; dentre eles, a “Capital brasileirada
qualidade
de
vida".Destarte, a partir
dos
anos
90,da
passada
centúria, surgeem
Curitiba a qualidadede
vidacomo
uma
das questões
centraisdo
discurso oficial. Esteentendido
como
a manifestaçãodo
poder
públicoexpressa
a
partirde
inúmeras
fontesde
caráter heterogêneo,como
documentos,
relatórios, prospectos,ou
declarações
aos meios de comunicação das
principais autoridades envolvidas,e
que
promoveram,
sistematicamente,uma
imagem
positivada
cidade.Percebemos
anecessidade
de
iralém
desse
discurso,aprofundando o
debate
no
intuitonão
só
de
entendero
sentidode
suas mensagens,
mas também
de
responderàs
seguintes perguntasde
pesquisa:Como
o
discursoda
qualidadede
vida surgiuem
Curitiba?Qual é o seu
papel
na
estratégia política municipalda
cidade?Qual a sua
finalidade?Para
Garcia (1997), a partirdos anos
90,do
século passado, assistimos aum
processo
crescentede
"curitibal¡zação"com
a
cristalizaçäodas
experiências urbanísticasbem-sucedidas da
década
de
70
e
pelas diversas tentativasde
exportação
do modelo
da
"cidadeque deu
certo".Nos
últimos30
anos,o
projetode
modernização urbana adotado
em
Curitiba permitiua
consolidaçãoda
imagem
de
uma
cidademodelo
a ser seguida nacional e internacionalmente,o
que,necessário
um
forte apelodo
poder
público peranteos
seus
cidadãos,obscurecendo
o
senso
crítico:“como
cidadãos, entretanto,parecemos
um
pouco
anestesiados,aninhados
nos
confortáveis
braços
do
senso
comum.
Acostumados,
que
estamos,a
lera
cidadeno
prismada
linguagem
oficial" (Garcia, 1997, p.12).Com
a intençãode
superaro senso
comum
e
de
mostraruma
nova
leiturada
cidade,propomos
estudaro
discurso
oficialsobre
a
qualidade
de
vidaem
Curitibade
1989
ao ano
de
2000, períodoque
corresponde
a
três gestões municipaisque
tiveram tal propostacomo
tema
central.A
qualidadede
vida éuma
questão complexa e
multifacetada. Existemvárias maneiras,
no
marco do
debate
atual,de
refletir sobreo
tema
proposto.No
entanto,propomos
discuti-lo a partirdo
discurso oflcial,dada
sua
forte evidência,nos
últimos anos,em
Curitiba.Para
uma
abordagem
mais
ampla do tema
eleito, este serádesdobrado nos
seguintes objetivos específicos:
- conceituar qualidade
de
vida;- realizar
um
resumo
histórioo acercada
utilizaçãoda
expressão
qualidadede
vida pelo discurso oficial;
- avaliar
as
políticasurbanas
praticadasna
atualidade;- identificarlavaliar
os
indicadoresde
qualidadede
vida encontradosno
discursooficial
em
Curitiba, durante o períodode
1989
a 2000. 1.2__RELEVÂNCIA
E
LIMITAÇÕES
Dois aspectos
nos
chamam
a atenção,e
talvezajudem
a explicara grande
complexidade
eo
relevantepeso
que
a qualidadede
vidavem
adquirindona
atual sociedade.Sobre
o primeiro,Carmo
(1993)nos
oferece a idéiade
que
" .... ..a qualidade
de
vidapode
ser utilizadacomo
um
conceito unificadoro
qual permiterelacionar
as necessidades
humanas, os ambientes
individuaise
sociais,e 0
desenvolvimento
humano"
(Carmo, p.39).Quanto ao segundo
aspecto,De
Masi
(1999)
nos
mostraque
a qualidadede
vida surgecomo
um
dos
valoresemergentes
da
sociedade
pós-industrial,em
contraposiçãoaos
da
sua
antecessora:
a sociedade
industrial:"enfim, emerge o valor da qualidade de vida, contraposto a
um
posicionamento de sacrificio, fatalista, expiatório, calvinista.As
poucas necessidades "fortes" que têmangustiado a existência dos trabalhadores industriais, compelindo-os a se fatigar a vida toda para sustentar a família, para comprar
uma
casa, para custear os estudos do primogênito, vão se desintegrandonuma
mídia de necessidades "frágeis" ligadas à cultura e à volúpia, próprias deuma
sociedade que atingiu o bem-estar e que pretendegozá-lo nesta vida ten'ena
sem
esperar a beatificação do além "(De
Masi, 1999,p.207)
No
intuitode
contribuir parao preenchimento da
lacunaacima
aludida, estetrabalho pretende discutir
a
qualidade vida,mesmo
sendo
um
tema
abrangente;de
conteúdo
aindaobscuro
no meio
urbano.Ao
término, serãoapresentadas
sugestoes
para a realizaçãode
novas
pesquisas.Destarte, espera-se
que
este estudopossa
aportar contribuições válidaspara a discussão teórica empírica
da
noção da
qualidadede
vidanas
cidades. Tratarda
qualidadede
vidano meio
urbano,a
partirdo
discursode
uma
cidadecom
aexpressão
de
Curitiba,poderá
trazertambém
aportesde ordem
prática, oxaláque
relevantes,em
beneficioda
coletividade.Dada
sua ampla
abrangência, a qualidadede
vidase
constituiem um
termo
"guarda-chuva", servindo
de
abrigo parainúmeras noções
e associações muitasprisma
do
discurso oficial, este sim,bem
definido,com
início, finalidade e sentidospróprios.
É
importante destacarque
o objetivoda
pesquisanão
é analisara
qualidade
de
vidade
Curitiba conclusivamente,e
sim, a qualidadede
vidaapresentada
pelosórgãos
oficiaisda
cidade atravésda
identiflcaçãoe
análisede
indicadores.1.3__METoDoLoGiA
Neste
item , serãoabordados os
métodos
e
as técnicas necessários paraa
busca
de dados
e
informações, tendoem
vista atingiros
objetivos propostos nesta pesquisa.Para
Gil (1987),método
científico "é ocaminho
parase chegar a
determinado
fim.É
o
método
científicocomo
o
conjuntode
procedimentosintelectuais
e
técnicasadotados
para se atingir o conhecimento".A
metodologia deste trabalhocombina
revisãoda
bibliografia pertinentecom
pesquisa documental.Segundo
Cen/o e
Bervian (1983), a pesquisabibliográfica "é
meio
de formação
por excelência "e
tem
por objetivoa
procurade
referenciais teóricos publicados
em
documentos,
ou
seja,tomar conhecimento e
analisaras
contribuições científicas sobreo
assuntoem
questão.A
pesquisadocumental é
utilizada para investigardocumentos
"aflm
de
se
poder
descrevere comparar usos
e costumes, tendências, diferençase
outrascaracterísticas" (Cervio
e
Bervian, op. cit., p. 57).Para
Gil (1999),esse
tipode
pesquisa
pode
ser elaborado a partirdo uso
de
materiaisque não
receberam
tratamento analítico.
Foram
realizados levantamentos bibliográficos durante todoo processo de
desenvolvimento
do
estudo, principalmente para ostemas
centrais: qualidadede
vida
do
serhumano
e a questãourbana
na
atualidade,e
abusca
reveloupesquisa
documental
identificoue
reconstituiuos
discursosdos
principais atores envolvidos.Para
isso,foram
utilizadasas
seguintes fontes: livros, jornais, revistas, teses, dissertações,assim
como
publicações, prospectose
documentos
oficiais
da
PMC
- Prefeitura Municipalde
Curitiba -como,
por exemplo,os
relatórios anuais
de
fim
de
ano, dentre outros.Os
levantamentosforam
realizadosnas
bibliotecasda
Universidade Federalde
Santa
Catarina(UFSC),
Universidade Federaldo
Paraná (UFPR),
Universidade Livre
do
Meio Ambiente
( Curitiba/PR ),na
Biblioteca Públicado
Paraná,
no
Institutode
Pesquisa
e Planejamento
Urbano
de
Curitiba(IPPUC) e no
IPARDES
- InstitutoParanaense
de
Desenvolvimento
Econômico
e
Social.1.4_ESTRUTURA
DO TRABALHO
2O
trabalho está estruturadoem
cinco capítulos, cujosconteúdos resumidos
encontram-se
a seguir:O
capítulo 1 contextualizao
leitorcom
relaçãoàs
linhas geraisdo
trabalhorealizado,
contendo os
seguintes aspectos: descriçãodo
problema, objetivos,relevância
e
estruturação,bem
como
a
metodologiaque
norteoua
elaboraçãoda
pesquisa.
O
capítulo2
trabalha abase
conceitualdo
estudo,no
intuitode
buscarreferenciais teóricos
na
literatura sobrea
qualidadede
vidado
serhumano,
assim
como
das
politicasurbanas
em
voga na
atualidade.O
capítulo3
fazum
resumo
históricoda
qualidadede
vida divulgada pelosmeios
oficiais
em
Curitiba, identificandoe
analisando,no
discurso,os
principais índicesO
capítulo4
apresentauma
análise comparativa, atravésdos
indicadoresdo
IDH
e
ICV, entre as cidadesde
Porto Alegre, Curitibae
Belo Horizonte. Justifica-sea
análise destas très cidades brasileiras, por
serem
similaresem
funções e
porte,permitindo reforçar a avaliação
do
discurso sobre a qualidadede
vidaem
relaçãoao
discurso oficialem
Curitiba.O
capítulo 5 apresentaos
resultados e as considerações finais, realizandouma
sínteseda abordagem
oficialda
qualidadede
vidaem
Curitiba, evidenciandoo
alcance
de
seus
pressupostos,assim
como
as
carências encontradasao
longodo
CAPÍTULO
2-Fundamentação
Teórica
2.1_
HISTÓRICO
DO
CONCEITO DE QUALIDADE DE
VIDA
Inicialmente,
abordaremos
a qualidadede
vidasob
um
enfoque
históricoresumido, analisando
o seu
surgimentocomo
uma
questão
centralda
atualsociedade.
Em
seguida, tentaremos conceituá-lae
medi-la.Para
tanto,estudaremos
diversos autoresque
se
debruçaram
sobreo
tema, finalizandocom
um
estudo acercada
problemáticaenvolvendo a
utilizaçãodos
indicadoressociais.
Ernest
Haeckel
foio
primeiroa cunhar o
termoecologia
ao
utilizá-loem
sua
obra “Morfologia geraldos
organismos” (1866).Nesta
o
autor especificaque
aecologia deveria ser
uma
disciplina cientifica ligadaao
campo
da
biologia.Etimologicamente, a palavra ecologia significa “ciência
da
casa”. Limitada inicialmenteàs
ciências biológicas,na
década de 60 do
séculoXX,
desde
aquela época,a
ecologiavem
ampliando seu
raiode
abrangência, incorporandonovos
conhecimentos
ao
seu
campo
teórico.Entre
as décadas
de 20
e
30 da
centúria passada, a ecologia incorporaa
dimensão
humana
atravésdos
trabalhosda
Escolade
Chicago.Na
tentativade
enfrentar certos
problemas
práticos urgentes, oriundosdo
rápidoprocesso
de
industrialização, verificado principalmente
nas grandes
cidadesdos
EUA,
os
estudiosos
daquela
Escolabuscaram compreender
a
organizaçãoda
cidadecomo
unidade
geográfica, ecológicae
econômica.Os
estudos ecológicos,mais
especificamente
os
da
EcologiaHumana, passaram
a se preocupar
não apenas
com
as inter-relações entre os animaise o
meio,mas
a
estudartambém
as formas
de
organizaçãodo
homem
em
seu ambiente
especifico,bem como
as
relaçõesMackenzie (apud
Carmo
1993), definea
EcologiaHumana como
a
disciplinaque
estuda as relações espaciais temporaisde
sereshumanos
e
como
estas
são
influenciadas pelas forças seletivas, distribuidorase
acumulativasdo
meio.
Mais
tarde,ao
finaldos anos
70 do
século XX,René
Dubos
(apud Carmo,
1993)
ao
abordar o conceitode
qualidadede
vidao
fazem
contraposiçãoaos
aspectos negativos
do
progresso material,os
quais,na
opinião dele, prejudicamessa
qualidadede
vida (Carmo, 1993, p. 22).No
mesmo
diapasão,em
“ASociedade
Pós-industrial”De
Mais
(1999),com
base
em
diversospensadores
contemporâneos,
como
Toffler, Touraine,Hegedus,
Thurrow, Bell, dentre outrosque
estudaram
o período recente e analisaramalgumas
tendênciasda
atualsociedade, explica
que
a qua/idadede
vida surgecomo
um
dos
valoresemergentes
dos nossos
dias,em
contraposiçãoaos
valoresda
sociedade
industrial.
Continuando
aindacom
De
Mais
(op. c¡t.),o
modo
de
produção e
oprogresso tecnológico
são as
peculiaridadesque
marcam
asociedade
industrial,sendo
a fábricao seu elemento
estruturante,concentrando
em
tornode
sio
tempo
e o local
de
trabalho.Os
valoresdessa
sociedadesão a
racionalidade,o
machismo, a
padronização, a especialização, entre outros. Por outro lado,na nova
sociedade, os
elementos
centrais aindanão
estão definidos.Para
alguns autores,esse
fatoré a
informação; para outros,o
impactoda programação; e
para outros,a estrutura
da
personalidade. Talvez,uma
de
suas
características sejaexatamente
o fatode
ser policêntrica.Por
enquanto, o autor preferechamá-la de
sociedade
Pós-industria/, provisoriamente, atéque
seus elementos
estruturantesse consolidem.
De
Masi
(1999),entende
que
aindapensamos de
acordo
com
a
era"....não é a realidade que está
em
crise e sim nossomodo
de compreendê-la e deavaliá-Ia:
como
as categorias mentais assimiladas da época industrial nãopodem
mais nos explicar o que está acontecendo, somos induzidos a desconfiar do que estáacontecendo e a perceber o advento do futuro como crise do presente”
(De Masi
,1999,p.28)
2.2_
INDICADORES
DE QUALIDADE
DE
VIDA
Na
década de 70 do
séculoXX,
muitos esforçosforam
realizadosna
tentativade
quantificara
qualidadede
vida.As
medidas econômicas
tradicionais,como
o
crescimentoper
cápitada
renda nacional,passaram a
ser questionadascomo
indicadoresde
qualidadede
vida.Dados
osproblemas
sociaise
ambientaisdecorrentes
do
modelo de
desenvolvimento até então,houve
a
iniciativade
aferição diretada
qualidadede
vida pormeio
de
indicadoresque
permitissemacompanhar
a
evoluçãodos
níveisde
bem-estar social.Um
exemplo
disso foramos
trabalhosde
Andrews
e Withey (apud Carmo,
1993), os quais ressaltam
a
duplanoção de
qualidadede
vida.A
primeira,em
relação
ao melo ambiente
num
sentido amplo,porém
relacionadoa
fatoresexternos
ao
indivíduo,como
: poluição, qualidadeda
habitação, trânsito, etc.A
segunda
estaria relacionadaa
aspectos individuais taiscomo:
senso
de
realização, liberdade, etc.,
que
são
inerentes àpercepção
do
serhumano.
Assim,segundo
estes autores,um
adequado
monitoramento
da
qualidadede
vidadeverá
levarem
consideraçãonão
só
aspectos físicose
tecnológicosda
vida,más também
paracomo
as
condiçõesde
vidasão
percebidase
avaliadas pelosindivíduos.
O
conceitoda
qualidadede
vida para Gallopín(apud Carmo,
1993) estáfundamentado na
referência pessoal individual, que, porsua
vez,é
resultanteda
saúde
psicossomáticae do
sentimentode
satisfaçãode
um
indivíduo.Nesse
contexto, a
saúde depende
dos
processos intemosda
pessoa e
do
graude
cobertura
das suas necessidades
(que serãoabordadas
posteriormente).Já a
aspirações.
Para o
mesmo
autor, as condiçõesdo
ambiente
de
uma
sociedade,somadas
à
organização internado
sistemahumano
societal,são os
fatoresprincipais
que
incidem sobre a qualidadede
vidados
indivíduos. Referenteao
contexto acima,
Carmo
diz que: “ .... .. a qualidadede
vidapode
ser utilizadacomo
um
conceito unificadoro
qua/ permite relacionaras necessidades
humanas,
os
ambientes
individuaise
sociais,e
o desenvolvimento
humano”
(Carmo, 1993,p.39).
Roche
(apudCarmo,
1993),na
década de 90 do
séculoXX, sugere
trêsdimensões de
indicadores para medir a qualidadede
vida,a
primeiradas
quaisenglobaria aqueles referentes
à
cultura.Reconhecendo
a dificuldadena
valorização empírica,
o
autor cita anecessidade
de
criar,com
os
indicadores,uma
noção de
categoria quantificável para medira
felicidadehumana.
Dentreesses
indicadores estariam: conceitos
de
terra, pátria e propriedade, arraigo territorial, sentidodominante
das
relaçõeshumanas,
privilégiosda
famíliae amizade
sobrea
produção e a
competição,o
consenso
como
instrumentode
relação, etc.Uma
segunda dimensão
englobaria indicadores ambientais,os
quaispodem
ser “duros”ou
“brandos".Os
primeiros, verificáveis estatisticamente;os
segundos,
de
percepção e
valorização por partedo
serhumano.
Esses
indicadores
permitem
avaliaro
desenvolvimento relativodas
condiçõesexistenciais
do
homem
em
sociedade.Exemplos
desses
indicadores são:a
educação, o
trabalho,as
condiçõesdo
habitat,o ambiente
ecológico,o acesso a
instituições intermediárias- (partidos políticos, sindicatos, clubes, etc.)
como
instrumentos
de
participação social;acesso aos meios
de
comunicação
socialpara avaliação
do
entomo
e
como
instrumento paraa
tomada de
decisõesA
terceiradimensão
englobariaos
indicadores referentes à tecnologia.São
aqueles
que
medem
o
desenvolvimento relativosob
um
olhar utilitarista,o
qualcom
freqüênciase
transformaem
mecanismos de dominação e
submissão.A
propostade
Roche
é complexa
e partedo
argumento
de
que,no
cotidianoda
vida,o
cidadão procura, conscienteou
inconscientemente,a
felicidade pessoale
coletiva.Para
Carley(apud Carmo,
1993), a utilizaçãode
indicadores sociaisapresenta, essencialmente, três dificuldades.
Em
primeiro lugar,o
caráterheterogêneo
das
fontesde
informaçõescomo
educação,
censos, pesquisasdomiciliares, etc.,
o
que
dificultauma
análise comparativa e integrada,assim
como
a "visibilidade"
do
impactodas
políticas públicasno
processode
desenvolvimentosocial. Outra dificuldade,
segundo
o
autor,é a
faltade
um
modelo
conceitualque
permita desenvolver
um
conjunto congruentee
sistemáticode
indicadores sociais,o
que impede
a
organizaçãode
informaçõesem
bases
consistentese sua
validade empírica.
Nesses
termos, ressaltaCarmo
(1993, p.51): “Trabalharcom
indicadores trazproblemas
do
ponto
de
vista metodológico,do
tipo:como
expressaros
indicadores sociais.”Segundo
o
autor,uma
das
alternativas para resolver oproblema
seriaa
utilizaçãode
modelos
matemáticos,que
apresentam algumas
vantagens:melhor
integração entre
os
indicadoreseconômicos e
sociais, flexibilidadee
fácilmanipulação
para ouso
de
computadores.Esse modelo de
indicadores,como
ele próprio adverte, longede
refletir a realidadedos
fenômenos
socioeconômicos,se
constitui
apenas
em um
“instrumento possível-
dentre outros-
para
tornara
realidade
mais
palpávele
controlável, objetivandocom
isso elencaras
condiçõesplausíveis
para a implementação das
transformações desejadas”.Como
terceiradificuldade, existe ainda o risco
da
manipulação dos
dados
com
fins políticos.objetivas
com
indicadoresde
percepção, pormeio
de
um
arcabouço
rigorosoe
sistemático, a fimde
que
seja possível a articulaçãodo
conceitode
qualidadede
vida através
dos
indicadores sociais.Dessa
forma, aOrganização das
Nações
Unidas
propuseram
oIDH
-
Índice
de
Desenvolvimento
Humano.
Este índice sintético, criado porum
grupo
de
especialistas liderados pelo cientista
Mahdub
UI Haq, visa mediro
progressohumano,
resultadoda
combinação de
indicadoresdas
áreasde
saúde,educação
e
renda.Desde
1990, oPNUD
-Programa das
Nações
Unidas
parao
Desenvolvimento
- publicao
relatóriodo
desenvolvimentohumano
no
mundo, o
qual foi publicado pela primeira
vez no
Brasilem
1996.Esse
índicetem
porobjetivo contribuir para
o
acompanhamento,
a análise ea
avaliaçãodas
políticas públicas brasileiras,em
todos os níveisda
Federação.Nesse
mesmo
ano
(1996) ,o
PNUD,
em
parceriacom
o
IPEA
e a
Fundação
João
Pinheiro, publicouo
relatório
do
“DesenvolvimentoHumano
eCondições
de
Vida: Indicadores Brasileiros”,que
tevecomo
objetivo aproximaro
conceitode
desenvolvimentohumano
sustentávelà
realidade local brasileira.Para
isso,e
tendo por foco centralas
pessoas
como
razão fundamentaldo
processode
desenvolvimento,foram
criados dois
novos
indices:o
IDHM
(Índicede
Desenvolvimento
Humano
Municipal)
e
oICV
(Índicede
Condições de
Vida).O
primeiro focalizao
municípiocomo
unidade
de
análisee
tem
metodologia similar àdo
IDH
da
ONU.
O
segundo
também
utilizao
municípiocomo
unidadede
análisede
referência,mas
engloba
um
número
maiorde
dimensões e
indicadores básicosem
sua
construção.Esses
índices,que
serãoabordados
em
suas
especificidadesmais
adiante,têm
porbase
os
dados
oriundosdo
IBGE.Para
Herculano' (1998),o
IDH
é insuficiente para avaliar o nívelde
desenvolvimento
humano,
uma
vez
que não
incorporaa
dimensão
ambiental:I
Herculano Selene C.
A
Qualidade de Vida e seus Indicadores. Ambiente E Sociedade-Ano I-"as pessoas
podem
ter boa escolaridade, longa expectativa de vida, acesso àsriquezas geradas,
mas
morarem e trabalharemem
locais poluídos, sujeitos a riscos,conviverem
com
águas sujas, respirarem poluentes e habitarem compactamente selvas de pedra deprimentes, onde as cores predominantes sejam os tons de cinza docimento e do asfalto". ( Herculano, 1998,p.92 ).
Assim, aquele autor
propõe
oIQV
- Índicede
Qualidadede
Vida
-,o
qualseria
composto
pelos itens hojemensurados
peloIDH mais
indicadoresambientais
que
expressem
a qualidadedo ambiente do urbano
como
área verde e/ou áreasamenas
urbanas
e
per
capita; níveisde
emissão
de
CFC
(clorofluorcarbono),
de
dióxidode
carbono e de
outros dejetos químicos; destinodado
ao
lixo;volume e
qualidadeda
água
potável disponível, dentre outros.Como
a maioria destes índices já existem isoladamente, para Herculano,
é
perfeitamente viável,do
pontode
vista metodológico,a execução de
um
indicador únicoque
avalie aspectos
humanos
e
ambientais.Um
outro ponto importantea
ser consideradoé
a
tensão entre fatores objetivose
subjetivosna composição
do
conceitode
qualidadede
vida. Contudo, faceà
dificuldadena
avaliaçãodos
fatores subjetivos, verifica-seuma
tendênciaà
utilizaçãoconjugada
de
ambos
os
fatores.Segundo
Carmo
(1993),ao
acompanhar
o processo
de
“complexificação”da
organização social,o
conceitoda
qualidade
de
vida ampliou asua
perspectiva.Carley
(apud Carmo,
1993),chama
aatenção
para anecessidade
de
estabelecer
um
quadro
referencial coerentecom
a realidadedo
recente finalde
século. Assim, visando a
uma
melhor
utilizaçãodos
indicadores,só
atingirãomelhores
níveisde
qualidadede
vidada
população,na
medida
em
que
esses
indicadores atribuam valor
a essa dimensão
qualitativa.O
autor concluique
o
quadro
referencial necessário,ao
qualnos
referimos anteriormente, seriapropiciado pelo desenvolvimento sustentável, haja vista a relevância
da
questão
Essa
dimensão
ambiental,especificamente
no meio
urbano, seráabordada
mais
adiante.2.3_
SOCIEDADE
E
QUALIDADE DE
VIDA:
UMA
VISÃO
AMPLA
Este estudo parte
do
pressupostode que
o
atualmomento
se
caracterizapor
um
chamamento
à
reflexãoa
respeitodos
valoresque
estruturamo
paradigma
da
modernidade
.Considerando a
qualidadede
vida explicitadano
último capítulo,e
compreendendo que
é necessárioexaminar
como
o meio
tolera, reprimeou
estimula o exercicioda
multidimensionalidadedo
serhumano,
objetivamos entenderas
condiçõesde
vida às quaiso
serhumano
está exposto “no ambiente”propiciado pela
sociedade
de
mercado,
atualparadigmaz
social vigenteno
mundo
ocidental.Para
efeitodesse
objetivo, utilizaremosas
contribuições teóricasde
Ramos
(1989), que,a nosso
ver,são
satisfatóriase
fundamentais,não
só
para análiseda
qualidadede
vidaao
nível macrossocial,mas também
porque
preparao
terreno para
a
posterior análise específica sobre as políticasurbanas
praticadasno
finaldo
séculorecém
passado.Desde
ostempos
mais
remotos,o
mercado
tem
constituídoa maneira mais
eficaz para
a
trocade
bens
de
acordo
com
as necessidades
individuaisde
cada
pessoa nas
diversas sociedades.No
entanto,o
mercado sempre
foium
espaço
físico delimitado parao
qual aspessoas
se dirigiam a fimde
realizarsuas
trocas.O
comportamento
humano
no
interiordo
mercado
era orientado pelabusca
do
interesse própriodos
indivíduosou
pequenos
grupos
sociais.Com
o
advento
da
revolução industrialhá aproximadamente
300
anos,o
sistema
de
mercado
obteveas
condições excepcionais parao
seu
crescimento,2
vindo a expandir-se
de
talforma
que
atualmentetêm
implicaçóesem
quase
todosos
aspectosda
vidahumana
associada.Antes
da
revolução industrial,nas
demais
sociedades
anterioresa
vida simbólica foipredominante
em
relação à economica,mantendo
ospadrões
de
economicidade
numa
condiçãode
subordinação.A
atividade simbólica
é
um
fimem
simesma,
jáas
atividadesde
naturezaeconómica são
um
meio
para se conseguirum
fim,e
fazem
parte essencialmentede
regras operacionais formaisque
limitama
interação simbólica.O
problema é
que
atualmente, as relaçõesde
mercado
têm
influênciaem
quase
todos os aspectosda
vidahumana
associada.“o mercado tende a transformar-se
numa
categoria de abrangência total, quanto à ordenação da vida individual e social.Na
sociedade centrada no mercado, aseconomias são livres para modelar a mente de seus membros e a vida de seus cidadãos, de
um
modo
geral”(Ramos,
1989, p. 148).A
exagerada
busca
do
interesse próprio,a
qual estána
base dos
valoresda
atual sociedade,
provocou
o desenvolvimentoexagerado
da
razão instrumentalem
detrimentoda
razão substantiva.Segundo
Ramos
(op. cit.), a razão é o conceito básicode
qualquer ciênciada
sociedade. Ela prescrevecomo
os sereshumanos
deveriam
ordenarsua
vidapessoal e social.
Segundo
o
autor, a razão éuma
força ativana
psiquehumana,
e
não apenas
uma
categoria sociomórfica, isto,é
interpretadacomo
um
atributodos processos
históricose
sociais, característicada
razãomoderna.
Ramos
(op.cit.) define a razão instrumental
como
aquelaque
“aliaos meios aos
fins".Nesse
sentido, a razão instrumental
é
calculista, pragmática, utilitarista,e ê
largamente utilizadana
atual sociedade. Já a razão substantiva está relacionadaà emoção,
e à espiritualidade,à
simbolicidade,e nunca poderá
serconfinada
num
enunciado
interpretativo.
Somente
atravésda
livre experiênciada
realidade entreos
sereshumanos
éque
poderá
sercompreendida.
Para
Marcuse
(1982),quanto mais
funcionalmente racional for
uma
sociedade, maioré o seu
controle sobre oÉ
importante ressaltarque
Ramos
(1989)não
é contrao
sistemade
mercado,
muitomenos
a
sua
eliminação,mas
combate
oseu
caráter expansionistae
como
aquele
vem
invadindoe
influenciando praticamente todasas
esferas
da
vidahumana
associada. Eledefende
que
o
mercado
deverá
serconfinado
ao seu
enclave,em
termosde espaço
vital, dentre outrosnão
menos
importantes
no
planejamentode
sistemas sociais.Dada
a natureza multidimensionaldo
serhumano,
esta requer cenáriossociais múltiplos,
ou
sejauma
variedadede
enclaves,ou
espaços,dos
quais aeconomia
é
apenas
um
deles.A
economia é
um
espaço
altamente prescritivo,que
como
foi visto anteriormente, prevaleceo
cálculodas conseqüencias na
dimensão
da
razão, ena
sociala
comportamental. Outrosespaços
existenciaisnecessários para
uma
adequada
satisfaçãodos
diferentes tiposde
necessidades
humanas
são as
isonomiase
fenonomias.A
fenonomia é
um
espaço
existencialno
qual existe a oportunidade parao
exercícioda
realização pessoal.Por
isso éconcebido
como
um
espaço
personalístico, o qual permite omáximo de opção
pessoal
com
um
mínimo de
prescrições operacionais formais. Aqui,o
serhumano
encontra o sentimento
de
satisfação íntimana
realizaçãode
atividadesrelacionadas
com
as
artes, trabalhos intelectuais e/oude
trabalhos ligados àcoletividade.
As
isonomiassão espaços
existenciais coletivosonde
prevaleceo
exercício
da
convivialidadedo
serhumano
num
contexto socialde
igualdade.Nas
isonomias as
pessoas se ocupam,
não
trabalham. Nelas,seus
membros
livremente associados realizam atividades
compensadoras
em
simesmas
onde
a
autoridade
é
definidaem
consenso.Exemplos de
ambientes
isonomicossão
associações
de
paise
professores,grupos
de
cidadãos interessadosem
assuntosda
comunidade
,dentre outros.As
isonomiasnão
são
economias,embora
com
elas
possam
se
relacionar; é ocaso
de
alguns sistemasde
produção
como
porÉ
importante salientarque
cada
um
destesespaços
requer requisitosadequados dadas
as especificidadesde cada
contexto.Tendo
em
vistasuma
realidade social multicentrica
no
planejamentode
sistemas sociais, estesrequisitos
são abordados
porRamos
(1989)em
sua
TeoriaDa
DelimitaçãoDos
Sistemas
Sociais.Segundo
Ramos
(1989, p.136), aexpansão do
mercado,
hojeem
dia,atingiu
um
pontode
rendimentos decrescentesem
termos de
bem-estarhumano.
“Os
resultados atuaisda
modernização, taiscomo
a
insegurança psicológica,a
degradação
da
qualidadede
vida, a poluição,o
desperdício, aexaustão
dos
limitados recursos
do
planeta,e
assim por
diante,mal
disfarçamo
caráterenganador das
sociedades
contemporâneas”.O
conceitode
unidimensionalização,assim
como
oda
qualidadede
vida,nos remete
ao
da
multidimensionalidadedo
serhumano,
a nosso
ver, fundamentalpara
o entendimento
deste trabalho. Assim,é
necessário discutircom
mais
profundidade a
concepção
da
essênciahumana.
O
serhumano
é dotado
de
múltiplas
dimensões,
as quais,segundo
Ramos
(op. cit.),são
três: mental, sociale
física.
Nesse
sentido, aOrganização
Mundialda Saúde
-OMS
- corrobora estaafirmativa
ao
estabelecero
conceitode saúde
como:
"um
estadode
completo
bem-estar
fisico,mental
e
sociale
não apenas
a
ausênciade
doença". Assim,o
ser
humano
é
dotado
de
uma
forçaque
lhe permite ordenar a vidaem
sua
psique.Essa
forçaé
arazão
descoberta pelosgregos no
século IV a.C.,e
jáabordada
neste capítulo.
No
exercíciode sua dimensão
social,o
serhumano
se relacionacom
oseu
ambiente
pormeio
da
convivialidadee do comportamento,
aqui entendidoscomo
a
situaçãoem
que
o
coletivo se apropriada
mente
e
do
poder de
escolhado
indivíduo.