• Nenhum resultado encontrado

Efeito da pré exposição numa tarefa de EMN

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Efeito da pré exposição numa tarefa de EMN"

Copied!
59
0
0

Texto

(1)

Efeito da pré exposição numa tarefa de EMN

A presente investigação é parte integrante do projeto “contributos para uma teoria geral da afetividade” da responsabilidade do Prof. Francisco

Cardoso e teve a colaboração de Soraia Pinheiro.

Dissertação de Mestrado em Psicologia Clínica

Paula Cristina Teixeira Ribeiro

Orientador: Professor Doutor Francisco Cardoso

(2)

I Efeitos da pré exposição a imagens neutras, positivas e negativas em julgamentos de

gravidade sobre comportamentos antissociais

Verificação do efeito da pré exposição, com estímulos afetivos de dois níveis de intensidade, de valência negativa, numa tarefa de EMN de comportamentos antissociais: Um estudo

exploratório

A presente investigação é parte integrante do projeto “contributos para uma teoria geral da afetividade” da responsabilidade do Prof. Francisco

Cardoso e teve a colaboração de Soraia Pinheiro.

Dissertação de Mestrado em Psicologia Clínica

Paula Cristina Teixeira Ribeiro

Orientador: Professor Doutor Francisco Cardoso

Composição do Júri:

Prof. Doutor Ricardo Nuno Serralheiro Gonçalves Barroso (Presidente) Prof. Doutor José Jacinto Branco Vasconcelos Raposo (Arguente) Prof. Doutor Francisco Manuel dos Santos Cardoso (Orientador)

(3)

II Dissertação de mestrado apresentada à Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, para a obtenção do grau de Mestre em Psicologia Clínica, sob orientação do Professor Doutor Francisco Cardoso.

(4)

III tantos obstáculos ultrapassei e tantos sacríficos fiz mas, sem dúvida a etapa mais desejada da minha vida: terminar o meu curso superior, que acredito com sucesso. No final desta caminhada tenho uma certeza: tudo é possível desde que se acredite que é possível.

Todo este percurso não se deve exclusivamente a mim, desta caminhada fazem parte várias pessoas, que à sua maneira possibilitaram o alcançar desta meta. As palavras não serão suficientes para expressar o quão agradecida estou, todavia são uma tentativa, sincera e emocionada, de gratidão.

Agradeço, em primeiro lugar, aos meus pais, Ana e António, por em momento algum me terem persuadido a desistir daquele que sempre foi o meu sonho, apesar das dificuldades que esse apoio acarreta. Pelo apoio constante, pelos conselhos, pelo carinho e por acreditarem sempre em mim, nas minhas capacidades. Aos meus irmãos, Zé, Vitor e Cátia, pela paciência nos meus momentos difíceis, pelas brincadeiras, pela compreensão, pelo apoio, pelo incentivo constante e pelos conselhos.

À pessoa que mais contribuiu para que esta dissertação de mestrado pudesse ser terminada, à pessoa à qual não tenho uma única crítica a conceber, a uma pessoa que adoro: à Soraia Pinheiro. Obrigada pela companhia constante, atenção, conselhos, pelos momentos de apoio, de aprendizagem, de diversão, de descoberta, pelas experiências únicas e indiscritíveis, pelas aventuras, pelo trabalho árduo e significativo que desenvolveste na produção deste trabalho. Obrigada pela tua sincera amizade.

Ao Professor Doutor Francisco Cardoso, pelos conhecimentos partilhados, pelo apoio prestado, pelo incentivo constante e por acreditar na possibilidade do desenvolvimento de um trabalho com valor.

A todos os amigos, que direta ou indiretamente contribuíram para o meu bem-estar, boa disposição e vida social sem a qual seria impossível a motivação e alento necessários para o término desta caminhada. Aos colegas de curso que de uma ou de outra forma ficarão sempre na memória e no coração. Pelos momentos de aprendizagem, de diversão, de discussão e de descoberta.

(Autor desconhecido)

(5)

IV

Resumo Geral ... 1

Efeitos da pré exposição a imagens neutras, positivas e negativas em julgamentos de gravidade sobre comportamentos antissociais Resumo ... 3

Abstract ... 4

Introdução ... 5

Objetivos e Pertinência da Presente Investigação ... 8

Esclarecimentos Metodológicos ... 9

Metodologia ... 10

Participantes ... 10

Instrumentos ... 10

Suporte físico e programa utilizado. ... 10

Estímulos - imagens. ... 10

Medida das respostas emocionais. ... 10

Listagem de comportamentos antissociais. ... 11

Procedimento ... 11

Estudo piloto. ... 11

Distribuição dos sujeitos pelas condições experimentais. ... 11

Fase I. ... 12 Fase II. ... 12 Fase III. ... 12 Estatística de dados. ... 13 Considerações Éticas ... 13 Resultados ... 14

Validação das Condições Experimentais ... 14

Efeito da Pré Exposição Negativa em uma Tarefa de EMN ... 15

Discussão ... 16

(6)

V exploratório

Resumo ... 26

Abstract ... 27

Introdução ... 28

Objetivos e Pertinência da Presente Investigação ... 31

Esclarecimentos Metodológicos ... 32

Metodologia ... 32

Participantes ... 32

Suporte físico e programa utilizado. ... 32

Estímulos - imagens. ... 32

Medida das respostas emocionais. ... 33

Listagem de comportamentos antissociais. ... 34

Procedimento ... 34

Distribuição dos sujeitos pelas condições experimentais. ... 34

Fase I. ... 34 Fase II. ... 34 Fase III. ... 35 Estatística de dados. ... 35 Considerações Éticas ... 36 Resultados ... 36

Validação das Condições Experimentais ... 36

Efeito da Pré Exposição Negativa em uma Tarefa de EMN ... 37

Discussão ... 38

Conclusão ... 41

Referências Bibliográficas ... 42

Considerações Finais ... 46

(7)

VI DE – Dessensibilização Emocional

DP – Desvio Padrão

EMN – Estimação de Magnitude Numérica

HDE – Hipótese da Dessensibilização Emocional

IAPS – International Affective Picture System

IC – Intervalos de Confiança

SAM – Self-Assessment Manikin

(8)

1 Resumo Geral

O âmbito desta investigação enquadra-se numa necessidade de completar os conhecimentos acerca do processo da Dessensibilização Emocional (DE) recorrendo à metodologia priming. Assim, a presente dissertação procura testar a Hipótese da Dessensibilização Emocional (HDE) recorrendo a variáveis diferentes das já utilizadas, procurando criar e dar respostas. O primeiro estudo tenta perceber de que forma a variação da qualidade de valência se implica no julgamento respeitante à magnitude de gravidade de comportamentos antissociais. O segundo estudo tem como propósito avaliar o efeito priming negativo com dois níveis de intensidade através de uma tarefa de Estimação de Magnitude Numérica (EMN), colocando como hipótese o aumento da DE em função do nível de intensidade emocional do priming.

Deste modo, a presente dissertação é constituída por dois estudos de natureza empírica. Em ambos os estudos, numa primeira parte, é apresentada uma revisão da literatura acerca da DE e do conceito de priming, bem como a importância do desenvolvimento do nosso estudo e do levantamento das questões que nos propomos responder no âmbito do tema. Posteriormente, é apresentada a metodologia, dando a conhecer os procedimentos para a realização dos estudos.

Neste seguimento, os resultados do primeiro estudo confirmam que um único momento de pré exposição a estímulos de valência negativa é suficiente para desencadear o processo da DE, que se traduziu na atribuição, por parte do grupo pré exposto a estímulos de valência negativa, de julgamentos de menor gravidade, comparativamente ao grupo pré exposto com estímulos de valência positiva e neutra.

Contrariamente ao sucedido no primeiro estudo, no segundo estudo a hipótese inicialmente levantada não foi comprovada: não se verificou uma acentuação da DE, que se traduziria pela menor gravidade nos julgamentos atribuídos no grupo submetido às imagens legendadas. Os grupos não se distinguiram na atribuição da gravidade aos comportamentos antissociais. É plausível, assim, afirmar que a DE não se acentua em função da intensidade dos estímulos a que os indivíduos são expostos.

(9)

Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Efeitos da pré exposição a imagens neutras, positivas e negativas em julgamentos de gravidade sobre comportamentos antissociais

Nota do autor:

Paula Ribeiro, mestranda em Psicologia, especialização em Psicologia Clínica, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila Real;

Professor Doutor Francisco Cardoso, Departamento de Educação e Psicologia, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila Real.

Soraia Pinheiro, mestranda em psicologia, participou como investigadora na fase experimental.

A correspondência relativa a este artigo deverá ser endereçada para Francisco Cardoso ou Paula Ribeiro, Departamento de Educação e Psicologia, Escola de Ciências Humanas e Sociais, Pólo I,

Quinta de Prados, 5001-801 Vila Real.

(10)

3 Resumo

O efeito da pré exposição a estímulos de diferentes valências testa a Hipótese da Dessensibilização Emocional (HDE). O objetivo do presente estudo foi o de perceber de que forma a variação da qualidade da valência se implica no julgamento respeitante à magnitude de gravidade de comportamentos antissociais. Na investigação participaram 37 estudantes universitários do mesmo grupo turma, do género feminino, entre os 18 e os 24 anos de idade (M = 19.53; DP = 1.06). As participantes foram distribuídas por três condições experimentais: valência neutra, valência positiva e valência negativa. As participantes visualizaram um conjunto de 18 imagens do IAPS da valência da respetiva condição experimental, registando na SAM o estado afetivo que as imagens produziam. Após a pré exposição as participantes julgaram a gravidade de 15 comportamentos antissociais. Os resultados mostram que a pré exposição de valência negativa exerceu efeito significativo no julgamento de gravidade: verificando-se o processo de Dessensibilização Emocional (DE).

(11)

4 Abstract

The aim of this study was to understand how the pre-exposition to the stimulus of the negative valence could affect judgments of magnitude estimation. Participated 37 females’ college students from the same class group, between 18 and 24 years of age (M = 19.53, SD = 1.06). Participants were distributed in three experimental conditions: neutral valence, positive valence, and negative valence. The participants viewed a series of 18 pictures of the IAPS -corresponding to the valence of the respective experimental condition, registering on the SAM the affective state produced by the images. After that, the participants judged the severity of fifteen antisocial behaviors. The results show that there was a priming effect for negative valence stimulus on the judgments, in accord with the emotional desensitization hypotheses (DE).

(12)

5 Introdução

Estudos experimentais têm colocado em evidência a influência do estado afetivo, genericamente entendido, e emocional, em especificidade, no processamento cognitivo. A título de exemplo: no domínio da atenção (Carvalho, 2009), na atribuição de julgamentos (Fajardo & Leão, 2014) e no tempo de reação perante tarefas de tomadas de decisão (Pereira & Pereira, 2011).

Esse estado afetivo ou emocional observado como influenciador tem sido induzido através de uma pré exposição denominada de priming. O priming é uma metodologia na qual o indivíduo é exposto a um estímulo antecedente (prime) suscetível de influenciar a resposta a um estímulo posterior, estímulo alvo; pode também visar uma preparação para uma tarefa subsequente (Borine, 2007; Fajardo & Leão, 2014; Oliveira et al., 2010).

A pré expoisção, priming, pode ser induzida de forma subliminar ou supraliminar. É subliminar quando o tempo de exposição aos estímulos é insuficiente para haver uma perceção consciente (Borine, 2007). No âmbito da pré exposição subliminar são vários os estudos (Busnello, Stein, & Salles, 2008; Manso, 2009; Pereira, 2010; Siegel & Warren, 2013; Victoria, Soares, & Morati, 2005; Winkielman, Zajonc, & Schwarz, 1997) que submetem os seus participantes a exposições não suficientemente duradouras, de forma a não serem captadas pela perceção consciente (p.ex., tempo de exposição 30 ms com ‘SOA1’ inferior a 100 ms; Quilan & Dyson, 2008). Por sua vez, quando os participantes percebem conscientemente o estímulo apresentado considera-se haver uma pré exposição supraliminar (Borine, 2007), tal como sucede nos estudos de Bradley, Houbova, Miccoli, Costa, e Lang (2011); Lerner, Small, e Loewenstein (2004); Pereira e Pereira (2011); Piovaccari (2014); Salles, Machado, e Janczura (2011); Wangelin, Bradley, Kastner, e Lang (2012); Zillmann e Weaver (1999).

Na presente investigação as participantes foram submetidas a uma pré exposição supraliminar em que cada estímulo foi exposto durante seis segundos. De facto, são vários os estudos que pré expuseram a nível supraliminar os participantes: A título de exemplo será de referir Dill, Brown, e Collins (2008) que apresentaram cada estímulo (imagens) durante dez segundos e Arriaga, Monteiro, e Esteves (2011), Bradley e Lang (1994), Esteves e Monteiro

(13)

6 (2007) e Lang, Bradley, e Cuthbert (1997) em que cada imagem foi exibida durante seis segundos.

O estudo de Carvalho (2009) analisou os efeitos imediatos de uma breve exposição a imagens de violência numa tarefa de atenção que passava por pressionar a tecla que correspondia à direção da seta apresentada num monitor, medindo assim, o efeito da exposição prévia na tarefa de atenção através dos erros cometidos e do tempo de reação. Os resultados sugerem que a prévia exposição a imagens de conteúdo negativo reduz o poder dos estímulos emocionais perturbadores na modulação afetiva da atenção e contribui, para uma menor ativação emocional. Por sua vez, Fajardo e Leão (2014) nos seus estudos sobre a influência da pré ativação semântica numa tarefa de julgamentos éticos, concluiu que os indivíduos sujeitos à leitura de uma notícia sobre fraude, foram mais severos no julgamento de gravidade da situação que tinham de avaliar e às quais fizeram corresponder uma maior punição. Nos seus estudos sobre o priming Pereira e Pereira (2011) procuraram verificar se a ativação dos estereótipos da categoria “político”, através de exposição breve ligada a esta categoria, reduzia o tempo de resposta numa tarefa de decisão lexical, concluindo os autores, que as palavras relacionadas ao estereótipo reduziram o tempo de resposta apesar de não ter sido obtido o efeito priming desejado.

No seguimento do exposto, cabe notar que o estudo da influência da pré exposição supraliminar numa tarefa subsequente tem sido estudada através de diferentes métodos como palavras e textos (priming semântico - mais comummente utilizados) (Borine, 2007; Fajardo & Leão, 2014; Pereira & Pereira, 2011; Salles et al., 2011; Zajonc, 1968; Zajonc & Rajeck, 1969), conceitos/ traços da personalidade (Mussweiler & Damisch, 2008), rostos (Moreland & Zajonc, 1982; Zajonc, Markus, & Wilson, 1974), letras, localização espacial de objetos (Borine, 2007), stroop, cálculos de desempenho tarefa intelectual, ideogramas chineses e japoneses associados a rostos (Winkielman et al., 1997), pronúncias (sons), jogos eletrónicos (Adrião, Arriaga, & Esteves, 2013; Arriaga et al., 2011; Esteves & Monteiro, 2007), vídeos (Lerner et al., 2004; Zillmann & Weaver, 1999), degustação e música (Bueno, 2006), caricaturas sexuais e observações sexistas depreciativas (Rickwood & Price, 1988), objetos (Kay, Wheeler, Bargh, & Ross, 2004) a imagens (Bradley, Codispoti, Cuthbert, & Lang, 2011; Bradley et al., 2011; Carvalho, 2009; Dill et al., 2008).

Esses estímulos apresentados são compostos por um determinado tipo de valência: Positiva ou negativa (Moll et al., 2001). Como refere Belzung (2010) as emoções de valência

(14)

7 positiva remetem no sujeito uma vivência subjetiva agradável, divertida, já as emoções de valência negativa remetem para uma vivência subjetiva desagradável, maçadora. São exemplo de emoções de valência positiva, a alegria e de emoções de valência negativa, a cólera, a tristeza, entre outras. A valência evoca assim um distanciar da neutralidade emocional (Bradley & Lang, 1994; Lang et al., 1997; Oliveira, Janczura, & Castilho, 2013).

Além da dimensão valência tem sido considerada a dimensão arousal. Vários autores (Bradley et al., 2001; Oliveira et al., 2013) referem ainda que diferentes combinações de valência e arousal influenciam diretamente, entre outros aspetos, o desempenho na tomada de decisão (função cognitiva). Assim, este estudo procurou controlar esta variável de modo a tornar evidente o papel da valência.

Ao nível dos instrumentos que nos propomos a utilizar, são vários os estudos que recorrem às imagens do International Affective Picture System (IAPS) e à Self – Assessment Manikin (SAM). O estado afetivo evocado pelas imagens do IAPS, base de dados composta por imagens de cenas da vida real, é captado através do preenchimento da SAM, isto é, o estado afetivo é mensurado diretamente através da autoavaliação, no qual o sujeito relata diretamente o estado afetivo.

A decisão pela utilização da SAM relaciona-se com o facto de o seu desenvolvimento surgir a partir de um referencial teórico sobre as emoções e por apresentar ainda, boas propriedades psicométricas de acordo com Bradley e Lang (1994) e Morris (1995). Segundo Morris (1995) é ainda uma escala de rápida e de simples administração, o que permite avaliar um maior número de estímulos num curto espaço de tempo e, elimina ainda, a maioria dos problemas que se encontram associados às escalas verbais, por exemplo. Na SAM, a tarefa do sujeito passará por assinalar uma das cinco figuras ou os pontos entre elas. Vários são os autores que utilizam este instrumento nos seus estudos sobre os efeitos da pré exposição (Adrião et al., 2013; Arriaga et al., 2011; Esteves & Monteiro, 2007) e no âmbito da investigação sobre a emoção com materiais verbais (Oliveira et al., 2013).

No âmbito do estudo da DE e, de forma mais ampla, das emoções, estes têm sido os instrumentos utilizados. O processo de DE, segundo diversas pesquisas, é caraterizado pela redução da atividade emocional inicial que após uma prolongada e repetida exposição à violência poderá facilitar a DE - modificação afetiva e percetiva que poderá generalizar-se para os mais variados contextos, isto é, quando o indivíduo se depara com situações semelhantes demonstra

(15)

8 menos sensibilidade emocional tanto para situações agradáveis como para situações desagradáveis (Adrião et al., 2013; Arriaga et al., 2011; Cardia, 2003; Carvalho, 2009; Esteves & Monteiro, 2007; Funk, Baldaci, Pasold, & Baumgardner, 2004).

Da literatura consultada acerca da DE nenhuma investigação estudou a influência da pré exposição numa tarefa de EMN através da metodologia aqui apresentada.

O estudo de Fajardo e Leão (2014) apesar de procurar avaliar de que forma o efeito priming pode condicionar o julgamento de fraudes, o mesmo não recorre a imagens para pré expor os participantes como o presente estudo usa, mas sim, a textos como estímulos.

As investigações relativas à DE - tentam perceber os efeitos a curto e a longo prazo de jogar jogos eletrónicos violentos (Adrião et al., 2013; Arriaga et al., 2011; Esteves & Monteiro, 2007); analisam os efeitos imediatos de uma breve exposição a imagens de violência e a possibilidade da DE se generalizar a imagens de conteúdo positivo – eróticas (Carvalho, 2009); investigam a influência do priming afetivo a partir de estímulos visuais subliminares sobre a cognição mediada pela atenção humana (Borine, 2006); e ainda, avaliam de forma mais explícita a vista motivacional afetiva, no domínio de foto induzida (Bradley et al., 2001).

De acordo com Bradley e Lang (1994) a gravidade dos julgamentos é influenciada pela valência e pelo arousal. Neste sentido, e tendo por base a DE, parece-nos plausível afirmar que quando os indivíduos são pré ativados positivamente, tendam a julgar com maior gravidade os comportamentos violentos, contrariamente aos indivíduos pré ativados negativamente, que julgam com menor gravidade esses mesmos comportamentos.

Objetivos e Pertinência da Presente Investigação

No presente estudo, pretendemos avaliar o efeito do priming de valência negativa através de uma tarefa de EMN por comparação com grupos pré expostos a estímulos de valência positiva e neutra. Assim, colocamos a hipótese de que os participantes expostos aos estímulos de valência negativa julguem com menor gravidade os comportamentos antissociais de acordo com o que é predito pela HDE. Para a HDE a pré exposição causa uma diminuição de magnitude de resposta emocional, perante situações subsequentes da mesma valência emocional. Neste sentido, é nosso interesse perceber de que forma a variação de qualidade da valência afetiva (variável independente), pré ativada, se implica no julgamento cognitivo respeitante à magnitude de gravidade de comportamentos antissociais (variável dependente).

(16)

9 A resposta à hipótese principal torna-se crucial dado o aumento das horas passadas a ver televisão que incluem a visualização de violência. Mendes e Fernandes (2003), por exemplo, sublinham que estudos americanos e europeus verificaram que entre as 6 e as 9 horas da manhã 160 cenas de violência eram transmitidas e Adrião et al. (2013) referem que entre as 14 e as 17 horas eram transmitidas, na televisão, 190 cenas violentas. Neste sentido, e à semelhança do que é afirmado por Adrião et al., (2013), Bradley et al., (2001), Carvalho (2009), Dias, Cruz, e Fonseca (2010), parece-nos pertinente haver mais estudos que permitam englobar as emoções e as dimensões afetivas (valência e arousal) de forma a testar a DE quando expostos a estímulos de elevada intensidade afetiva.

Esclarecimentos Metodológicos

Para se alcançarem os objetivos propostos, desenvolvemos a experiência ao longo de três fases. Na fase I as participantes foram expostas aos estímulos (priming) e registaram as respostas quanto à ativação fisiológica e quanto à agradabilidade/desagradabilidade sentida. Entre o primeiro momento (pré exposição) e o segundo momento da experiência (tarefa subsequente) houve um período de latência de (aproximadamente) 4 minutos - fase II. Nesta fase as participantes realizaram tarefas distrativas da investigação de forma a se distanciarem do estado fisiológico induzido pela fase I. A terceira e última fase contempla a fase experimental propiamente dita – tarefa de EMN de comportamentos antissociais.

Por seu turno, a validação das condições experimentais é uma precondição para a análise do efeito experimental observada na tarefa de EMN.

Na dimensão valência, na fase I, prevê-se que os grupos apresentem valores médios que os distingam entre si: O grupo pré ativado com estímulos de valência positiva se distinga do grupo pré ativado com estímulos de valência negativa; e que estes se distingam do grupo de controlo (pré exposto a estímulos de valência neutra).

Na dimensão arousal, na fase I, espera-se que o grupo pré ativado com estímulos de valência negativa apresente um valor médio que não se distinga do grupo pré ativado com estímulos de valência positiva. Todavia, presumimos ainda, que estes dois grupos se distingam do grupo de controlo.

(17)

10 Metodologia

Participantes

Participaram 37 estudantes universitárias de um mesmo grupo turma, do género feminino, da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, que aceitaram, livremente, colaborar em uma investigação cujo objetivo anunciado visava uma comparação intercultural de respostas emocionais a estímulos de diferentes valências. As suas idades variavam entre os 18 e os 24 anos de idade (M = 19.53; DP = 1.06).

Instrumentos

Suporte físico e programa utilizado.

Os estímulos foram apresentados através de um TOSHBA Satellite 15G e projetados numa tela (1,96cm X 1,94cm), numa sala de aula.

O Microsoft PowerPoint 2013 foi o programa utilizado para a projeção das apresentações.

Estímulos - imagens.

Selecionámos 54 imagens do IAPS (Apêndice A). O IAPS é uma vasta base de dados composta por imagens a cores, estandardizadas e acessíveis internacionalmente que retratam vários cenários da vida real e tem sido desenvolvida para fornecer um conjunto de estímulos emocionais que possam ser usados em investigações experimentais nas áreas da emoção e da atenção (Lang et al., 1997).

As imagens selecionadas compreendem 18 imagens de valência negativa (mutilações, ataques e morte), 18 imagens de valência positiva (eróticas, homens atrativos e família) e 18 imagens de conteúdo neutro (ilustrações abstratas e objetos).

Na seleção procurámos extrair imagens de diferentes níveis de ativação fisiológica, segundo indicadores de resposta afetiva de acordo com o manual do IAPS. A padronização destas imagens tem sido efetuada através da SAM.

Medida das respostas emocionais.

As respostas emocionais foram medidas pela SAM. A SAM é uma escala pictórica, com figuras humanoides que contempla a avaliação de três dimensões: valência

(18)

11 (agradabilidade/desagradabilidade), arousal (excitação/perturbação) e dominância (controlo/domínio) (Bradley & Lang, 1994). A escala de valência varia de uma figura sorridente/feliz a uma figura triste; na sua cotação o ponto 9 corresponde a uma valência muito agradável, o ponto 5 corresponde à neutralidade, já o ponto 1 representa uma valência muito desagradável; a escala de arousal (ativação corporal) varia de uma figura entusiasmada de olhos abertos a uma figura sonolenta e relaxada; na cotação da dimensão do arousal o ponto 9 corresponde a uma ativação corporal muito ativada e o ponto 1 corresponde a uma ativação corporal nada ativada (Bradley & Lang, 1994). Contempla também uma dimensão que mede o domínio; todavia esta dimensão não será tida em consideração, por não estar considerada nos objetivos propostos.

De forma a diminuir a ocorrência de erros no registo das respostas, criámos um livreto no qual cada página continha uma escala pictórica relativamente à valência e ao arousal.

Listagem de comportamentos antissociais.

Usamos uma listagem de 15 comportamentos antissociais (p.ex., um assaltante rouba bens no valor de Mil Euros que estavam no pátio de entrada de uma moradia), que foram retirados e adaptados de Lodge (1981), como estímulos para a produção de estimações de magnitude. Esta tarefa visou observar o efeito do estado afetivo produzido pelos estímulos do IAPS, de diferentes valências, na atividade cognitiva de estimação de magnitude.

Procedimento

Estudo piloto.

Realizámos um estudo piloto para testar o aparato experimental e para verificação das opções metodológicas: Tempos de apresentação, tempos de resposta, manuseamento do livreto, luminosidade, qualidade da projeção das imagens e adequabilidade das instruções dadas.

Distribuição dos sujeitos pelas condições experimentais.

As participantes foram distribuídas, pelos investigadores, por três condições experimentais, através de um sorteio de modo a assegurar a aleatoriedade; os grupos ficaram constituídos da seguinte forma: Condição valência neutra – 12 participantes; condição valência positiva – 13 participantes; condição valência negativa – 11 participantes.

(19)

12 É de referir que no grupo de condição valência negativa uma das estudantes desistiu a caminho da sala de aula onde decorreu a experiência.

No final da experiência procurámos assegurar que o grupo que terminara não tinha contato com o grupo que iria ser ainda sujeito à experiência.

Fase I.

Cada grupo foi exposto a 18 imagens do IAPS cuja valência correspondia à condição experimental sorteada. Cada imagem foi apresentada durante seis segundos. Seguiu-se um slide sem conteúdo (granido) durante cinco segundos; durante este slide as participantes procederam ao registo das suas respostas dos julgamentos relativos à valência sentida e à magnitude do arousal na SAM. Por fim, sucedia-se um slide com uma cruz, durante 3 segundos, que tinha por finalidade captar a atenção do sujeito para uma nova imagem.

No final do registo da resposta na SAM, as participantes deveriam virar a página para procederem ao registo da resposta da nova imagem apresentada. Depois das instruções e de forma a familiarizar as participantes com os procedimentos foram efetuados dois ensaios com imagens de valência neutra selecionadas a partir do IAPS.

Fase II.

A fase II constituiu uma fase intercalar entre a apresentação de estímulos e a tarefa de EMN. Este período, que teve a duração (aproximada) de 4 minutos, foi ocupado com tarefas distrativas da investigação com a finalidade de distanciar as participantes do estado fisiológico causado pela fase I. Estas tarefas compreenderam o preenchimento dos dados sociodemográficos e uma tarefa treino de EMN consistindo na atribuição de grau de prestígio de cinco cidades.

Fase III.

Trata-se da fase experimental propriamente dita. Nesta fase, as participantes tiveram como tarefa proceder a julgamentos de magnitude numérica relativos à gravidade de comportamentos antissociais – procedimento já aprendido na fase II (fase de treino). Os julgamentos foram realizados por comparação com um estímulo-módulo (referência 100) previamente definido (“roubar uma bicicleta do parqueamento de bicicletas numa rua”), segundo as seguintes instruções: “Relativamente a este comportamento antissocial, gostaríamos de saber

(20)

13 quanto grave consideras os comportamentos que se encontram listados na tabela seguinte. Se considerares que valem o dobro deverás registar 200, se considerares que valem metade deverás atribuir o valor de 50; se considerares que vale o triplo deverás atribuir o valor de 300; se considerares que vale um pouco mais de gravidade ou um pouco menos deverás atribuir a proporção respetiva, etc. Tal qual o exemplo anterior. Não há limites para as estimações, desde que sejam realizadas em proporção.”

Estatística de dados.

Para tratamento estatístico recorremos ao Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 22, tendo sido realizados cálculos, como as médias e transformação logarítmica dos dados brutos, no Excel, versão 2013.

Numa primeira fase, validámos as condições experimentais (ANOVA, intervalos de confiança, contrastes planeados, média e desvio padrão). Posteriormente, efetuámos a transformação logarítmica dos dados brutos relativos à tarefa de EMN. Este procedimento é comummente usado na metodologia psicofísica por as EMN seguirem uma progressão geométrica e não aritmética.

Numa terceira fase, calculámos valores de referência (p.ex., média, desvio padrão, Skewness, Kurtosis), por grupo, das respostas dos sujeitos para cada estímulo. Para a verificação do efeito da pré-exposição aos estímulos de diferentes valências, procedemos à comparação entre grupos (ANOVA) e à realização dos contrastes planeados.

Considerações Éticas

O projeto da dissertação da qual a presente investigação faz parte foi entregue à direção de curso e instruído ao conselho científico tendo sido aprovado.

Por considerámos que o conhecimento do verdadeiro objetivo da investigação poderia enviesar os resultados, optou-se pela não comunicação do mesmo. Não acarretando, tal procedimento, riscos para a integridade humana das participantes.

As participantes foram informadas que as respostas eram confidenciais e que a colaboração era livre e voluntária, podendo as participantes desistir a qualquer momento sem que daí adviessem quaisquer consequências.

(21)

14 Resultados

Na análise prévia aos resultados da SAM, com o intuito de verificar os parâmetros da distribuição normal, verificámos existirem duas respostas extremas capazes de afetar os resultados; por esta razão, foram suprimidos.

Validação das Condições Experimentais

Pela observação dos valores das médias e dos intervalos de confiança (Tabela 1) aventa-se a validação das condições experimentais. De facto, respeitante à valência, registou-se um efeito de grupo [F(2, 31) = 141.76, p = 0.000] e os contrastes planeados indicaram haver uma diferença estatisticamente significativa entre a condição de valência neutra comparativamente com as condições positiva e negativa [t(31) = 2.88, p = 0.007]; e entre as condições de valência positiva e negativa comparadas entre si [t(31) = 16.72, p = 0.000]. Em relação aos valores de arousal também se registou um efeito de grupo [F(2, 31) = 4.61, p = 0.018] e os contraste planeados indicaram que o grupo da condição neutra se diferencia significativamente dos grupos da condição positiva e negativa [t(31) = -2.96, p = 0.006]; por sua vez, não foram registadas diferenças estatisticamente significativas entre estes dois grupos, quando comparados entre si como se pretendia [contrastes planeados: t(31) = 0.507, p = 0.616]. Assim, pode-se afirmar que todos os resultados obtidos e referidos confirmam a validação das condições experimentais.

(22)

15

Tabela 1

Valores Estatísticos de Referência, Relativos às Dimensões Valência e Arousal das Condições Experimentais da Fase 1 n M DP 95% IC L U Mín Máx Mdn Sk Ku K-S S-W Valência Neutras 12 5.36 0.50 5.04 5.68 4.28 5.89 5.44 -0.92 0.38 0.20 0.21 Positivas 12 7.13 0.82 6.60 7.65 5.33 8.33 7.06 -0.59 0.81 0.20 0.63 Negativas 10 2.16 0.73 1.64 2.68 1.11 3.56 2.11 0.49 0.11 0.20 0.66 Neutras 12 3.93 1.46 3.00 4.86 1.22 5.39 4.39 -0.88 -0.70 0.13 0.46 Arousal Positivas 12 5.58 1.25 4.79 6.38 3.33 8.28 5.53 0.38 1.38 0.20 0.81 Negativas 10 5.28 1.52 4.19 6.36 3.11 7.61 5.06 0.32 -0.93 0.20 0.74

Legenda: n = participantes; M = média; DP = Desvio Padrão; Mdn = mediana; Sk = Skewness; Ku = Kustosis; K-S= Kolmogorof-Smirnov; S-W = Shapiro Wilks

Efeito da Pré Exposição Negativa em uma Tarefa de EMN

Uma vez validadas as condições experimentais, prosseguimos com a análise do efeito da valência numa tarefa de EMN (Apêndice B), tarefa tida como de processamento cognitivo e bastante estudada ao nível da psicofísica.

A comparação da média, entre grupos (Tabela 2), permite ver que o grupo pré ativado com estímulos de valência negativa estimou com menor gravidade os comportamentos antissociais. Essa diferença encontra-se estatisticamente sustentada pelo efeito de grupo [F(2, 42) = 3.18, p = 0.052] e pela análise dos contrastes planeados: Comparação entre o grupo pré ativado com valência positiva com o grupo de valência neutra (grupo não pré-ativado): t(42) = 0.322 , p = 0.749; comparação entre o grupo pré ativado com valência positiva reunido com grupo valência neutra com o grupo pré ativado de valência negativa: t(42) = -2.500, p = 0.016. Observou-se uma magnitude de efeito de η² = 0.28.

(23)

16

Tabela 2

Efeito do Priming de Valência Negativa Medido Através de Uma Tarefa de EMN de Comportamentos Antissociais

n M DP 95% IC L U Mín Máx Mdn Sk Ku K-S S-W Estimação de magnitude numérica Neutras 15 2.34 0.24 2.20 2.47 1.70 2.64 2.34 -1.15 2.41 0.20 0.13 Positivas 15 2.37 0.26 2.22 2.51 1.71 2.76 2.31 -0.67 1.67 0.20 0.11 Negativas 15 2.16 0.24 2.02 2.29 1.63 2.47 2.12 -0.35 0.10 0.20 0.26

Legenda: n = Número de itens da listagem de comportamentos antissociais

Discussão

A presente investigação propôs-se a estudar de que forma o processamento afetivo e cognitivo se implicam entre si. Para tal, procurámos compreender de que forma a qualidade da valência (neutra, positiva e negativa) interfere na estimação de gravidade de comportamentos antissociais, colocando-se assim a HDE. Para esse efeito foram criados três grupos, cada um desses grupos foi exposto a um priming (imagens) de diferente valência (neutra, positiva e negativa) criando assim três condições experimentais.

Em Portugal, segundo dados disponíveis, não encontrámos estudos que contemplassem uma metodologia semelhante à usada nesta investigação. O estudo de Carvalho (2009) apesar de se assemelhar à presente investigação, apenas o é na primeira fase, ou seja, utilizou o mesmo tipo de priming (imagens) e as duas dimensões emocionais (valência e arousal) que foram registadas na SAM. No entanto, esta autora mediu o impacto da exposição ao priming numa tarefa de atenção. Contrariamente, a fase seguinte da presente investigação avaliou o impacto que a exposição ao priming provoca na tomada de decisão, nomeadamente, no julgamento de comportamentos antissociais. Já Winkielman et al., (1997) procuraram no seu estudo conhecer os julgamentos dos participantes acerca de ideogramas chineses, por sua vez, Harrison, Skau, Franconeri, Lu, e Chang (2013) estudaram os julgamentos visuais realizados pelos participantes a gráficos após estes terem sido ativados com histórias de priming positivo e negativo. Rickwood e Price (1988) também avaliaram os julgamentos das participantes quanto à atratividade de modelos masculinos apresentados em fotografias, sendo este julgamento realizado através de uma

(24)

17 escala tipo Likert de 7 pontos, enquanto Piovaccari (2014) analisou os julgamentos dos sujeitos sobre a desonestidade académica numa escala de um a cinco pontos.

Tais experiências não são, portanto, um meio de comparação fidedigno com o presente estudo. Neste sentido, este é um trabalho original, com uma metodologia e uma hipótese de trabalho que se distingue da restante bibliografia consultada.

No que respeita à validade interna da presente investigação, os grupos distinguem-se entre si no grau de ativação emocional (valência e arousal) produzido pelos primings. Observou-se, como esperado, uma distinção dos três grupos entre si quanto à valência. Na dimensão arousal o grupo pré ativado positivamente não se distingue do grupo pré ativado negativamente, no entanto, como expectamos, estes dois grupos distinguem-se do grupo de controlo.

Assim, asseguradas as condições experimentais, prosseguimos com a análise dos resultados. Deste modo, os resultados da investigação apoiam a hipótese colocada – HDE, que prevê que a pré exposição a priming de conteúdo negativo diminui a magnitude de resposta respeitante à gravidade dos comportamentos antissociais. A HDE sustenta a implicação mútua do sistema emocional e cognitivo, como sustenta Borine (2007) na sua hipótese de trabalho quando revela que:

as tarefas de cognição, especialmente as relacionadas à atenção, são suscetíveis a alterações e interferências emocionais mensuráveis quantitativamente, de modo a fornecer um perfil de resposta de indivíduos com variação de desempenho cognitivo de acordo com o seu estado emocional. (p. 69).

Os resultados revelaram que o grupo pré ativado com priming de valência negativa foi menos severo nos julgamentos realizados dos comportamentos antissociais a que foram submetidos, comparativamente ao grupo pré ativado com priming de valência positiva, o que valida a HDE. A menor gravidade dos julgamentos, uma vez controlada a variável do arousal, deve-se assim, à valência com que o grupo foi pré ativado. Na medida em que os grupos pré expostos a estímulos de valência negativa e positiva distinguem-se entre si.

Os resultados obtidos no presente estudo convergem com os de estudos envoltos na mesma temática (DE) apesar da metodologia e objetivos dos mesmos se distinguirem do que aqui foi proposto. Os nossos resultados apoiam os achados de Carvalho (2009) que observou no seu estudo, resultados semelhantes relativamente à DE - este processo manifestou-se com uma única exposição e num curto período de tempo. É interessante notar a este respeito que Arriaga et al.,

(25)

18 (2011) também concluíram que a DE pode surgir num curto período de tempo, afetando a forma como nos sentimos, mesmo quando o priming diz respeito a jogos eletrónicos.

Resultados semelhantes foram também encontrados em Esteves e Monteiro (2007), em que os participantes jogaram um jogo eletrónico violento durante 7 minutos, sendo este tempo suficiente para alterar a perceção sobre a valência das imagens de violência real. Com uma exposição menor à usada por Arriaga et al., (2011), a nossa investigação expôs as participantes a 1 minuto e 48 segundos de imagens da valência sorteada, o que comprova que a HDE pode surgir num período inferior ao encontrado pelos autores supra citados.

O estudo de Zilmann e Weaver (1999) descobriu que os participantes que visualizaram um filme provocativo, durante 4 dias consecutivos, desenvolveram avaliações menos favoráveis quanto à cortesia e apoio, e ainda, avaliações favoráveis quanto à hostilidade do investigador. O estudo anterior mostra que quando a exposição é repetida e prolongada (quatro dias consecutivos) advêm consequências mesmo que exista um intervalo temporal (um dia). Tais resultados atestam o mencionado por Lerner et al., (2004) na medida em que, segundo estes autores, uma situação provoca uma emoção, essa emoção ou tais avaliações persistem além desse evento, tonando-se assim, uma lente implícita para interpretar situações futuras. Ou seja, como seriam os julgamentos das participantes se fossem solicitadas a fazê-los um dia apôs terem sido expostas aos primings? Este seria um aspeto interessante e importante a ser explorado em investigações futuras, de forma a completar os conhecimentos acerca da HDE.

Importa relatar o contributo que teria trazido à investigação a utilização de indicadores emocionais fisiológicos. As medidas fisiológicas seriam um bom e necessário complemento ao registo subjetivo que as participantes realizaram, na medida em que, o registo fisiológico não pode ser alterado pelas participantes correspondendo assim à verdade e não sujeitas a enviesamentos, voluntários ou não.

Algumas limitações importam ser apontadas e discutidas. A realização da presente investigação em contexto laboratorial (individualmente) possibilitaria um maior controlo, necessário e importante, de distratores, da luminosidade, de ruídos, da qualidade da imagem projetada e da posição do sujeito perante a projeção. Outro aspeto a salientar respeita ao facto de a amostra ser apenas constituída pelo género feminino o que impossibilita a generalização dos resultados ao género masculino.

(26)

19 Conclusão

A metodologia aplicada revelou-se eficiente para a produção das condições experimentais predefinidas. Assim, os resultados registados permitem concluir que o grupo pré ativado com imagens do IAPS de valência negativa estimou os comportamentos antissociais com menor gravidade comparativamente com o grupo pré ativado com valência positiva e com o grupo não pré ativado, exposto a imagens de valência neutra. Este resultado poderá ser interpretado de acordo com a HDE, na medida em que havia congruência entre a fase I e a fase III relativa à valência negativa dos estímulos apresentados.

Os resultados permitem, ainda, observar que a dimensão valência é a responsável pelas diferenças encontradas entre os grupos na EMN realizada, na medida em que os grupos pré ativados com valência positiva e negativa não se distinguiram na dimensão arousal. Neste sentido, seria interessante estudar a variação do arousal numa tarefa cognitiva (julgamentos) de valência negativa e positiva.

Em suma, os resultados da presente investigação sugerem, fundamentalmente, que uma breve confrontação com estímulos de valência negativa foi suficiente para que os sujeitos estimassem com menor gravidade a listagem de comportamentos na tarefa de estimação de magnitude.

Por fim, queremos assinalar que nos parece ser importante dar continuidade ao estudo da DE dada a possibilidade deste processo ocorrer num período de tempo tão reduzido, como sugere a presente investigação, o que torna este assunto ainda mais preocupante.

Assim, salienta-se a importância de estudos futuros procurarem analisar a possibilidade da generalização da DE para as mais variadas situações, como no caso dos comportamentos de generosidade.

(27)

20 Referências Bibliográficas

Adrião, J., Arriaga, P., & Esteves, F. (2013). Emoções num piscar de olho: brincar com a

violência e reflexo de sobressalto durante a exposição a estímulos afetivos. In Associação

Portuguesa de Psicologia (Ed.), VIII Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia

(pp. 512-522). Lisboa.

Arriaga, P., Monteiro, M., & Esteves, F. (2011). Effects of Playing Violent Computer Games on

Emotional Desensitization and Aggressive Behavior. Journal of Applied Social

Psychology, 41(8), 1900-1925.

Belzung, C. (2010). Biologia das emoções. Lisboa: Instituto Piaget.

Borine, M. (2007). Consciência, emoção e cognição: o efeito do priming afetivo subliminar em

tarefas de atenção. Ciências e Cognição, 11, 67-79.

Bradley, M., & Lang, P. (1994). Measuring emotion: the self-assessment manikin and the

semantic differential. Journal of Behavior Therapy and Experimental Psychiatry, 25(1),

49-59.

Bradley, M., Codispoti, M., Cuthbert, B., & Lang, P. (2001). Emotion and motivation I:

defensive and appetitive reactions in picture processing. Emotion, 1(3), 276-298. doi:

10.1037//1528-3542.1.3.276.

Bradley, M., Houbova, P., Miccoli, L., Costa, V., & Lang, P., (2011). Scan patterns when

viewing natural scenes: Emotion, complexity, and repetition. Psichophysiology, 48(11),

1544-1553. doi:10.1111/j.1469-8986.2011.01223.x.

Bueno, V. (2006). Efeito da associação de sabor e música sobre o julgamento gustativo e o

estado de ânimo de crianças (Tese de mestrado não publicada). Instituto de Psicologia

(28)

21 Busnello, R., Stein, L., & Salles, J. (2008). Efeito de priming de identidade subliminar na decisão

lexical com universitários brasileiros. Psico, 39(1), 41-47.

Cardia, N. (2003). Exposição à violência: seus efeitos sobre valores e crenças em relação a

violência, polícia e direitos humanos. Lusotopie, 299-328.

Carvalho, N. (2009). Dessensibilização emocional a estímulos violentos: efeitos numa tarefa de

atenção. (Tese de mestrado não publicada). ISCTE, Lisboa.

Dias, C., Cruz, J., & Fonseca, A. (2010). Emoções: Passado, presente e futuro. Revista

PSICOLOGIA, 22(2), 11-31. Disponível em:

http://repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/17371.

Dill, K., Brown, B., & Collins M. (2008). Effects of exposure to sex-stereotyped video game

characters on tolerance of sexual harassment. Journal of Experimental Social

Psychology, (44), 1402-1408. doi:10.1016.

Esteves, M., & Monteiro, M. (2007). Violência em jogos electrónicos e reações emocionais a

imagens da vida real: a hipótese da dessensibilização. Percursos da Investigação em

Psicologia Social e Organizacional (pp.119-143). Lisboa: Edições Colibri.

Fajardo, B., & Leão, G. (2014). O Efeito Priming na Avaliação de Ações Antiéticas: Um Estudo

Experimental. Revista de Administração Contemporânea, 18(1), 59-77.

Funk, J., Baldaci, H., Pasold, T., & Baumgardner, J. (2004). Violence exposure in real-life, video

games, television, movies, and the internet: is there desensitization? Journal of

Adolescence, (27), 23-29. doi: 10.1016.

Harrison, L., Skau, D., Franconeri, S., Lu, A., & Chang, R. (2013). Influencing visual

(29)

22 Kay, A., Wheeler, C., Bargh, J., & Ross, L. (2004). Material priming: the influence of mundane

physical objects on situational construal and competitive behavioral choice.

Organizational Behavior and Human Decision Processes, 95, 83–96.

doi:10.1016/j.obhdp.2004.06.003.

Lang. J, Bradley. M., & Cuthbert, N. (1997). International affective picture system (IAPS):

technical manual and affective ratings. NIMH: Center of the Study of Emotion and

Attention.

Lerner, J., Small, D., & Loewenstein, G. (2004). Heart strings and purse strings: Carryover

effects of emotions on economic decisions. Psychological Science, 15(5), 337-341.

Lodge, M. (1981). Magnitude scaling. Quantitative measurement of opinions. Newbury Park

(USA), London: Sage.

Manso, M. (2009). O processamento visual das emoções: O efeito do arousal na atenção. (Tese

de mestrado não publicada). ISCTE, Lisboa.

Mendes, P., & Fernandes, A. (2003). A criança e a televisão. Acta Pediátrica Portuguesa,

Portugal, 34.

Moll, J., Oliveira-Souza, R., Miranda, J., Bramati, B., Veras, R., & Magalhães, A. (2001). Efeitos

distintos da valência emocional positiva e negativa na ativação cerebral. Revista

Brasileira Psiquiatria, 23(1), 42-45.

Moreland, R., & Zajonc, R. (1982). Exposure effects in person perception: familiarity, similarity

and attraction. Journal of experimental social psychology, 18, 395-415.

Morris, J. (1995). Observations: SAM: The Self-Assessment Manikin an efficient cross-cultural

(30)

23 Mussweiler, T., & Damisch, L. (2008). Going back to donald: How comparisons shape

judgmental priming effects. Journal of personality and social psychology, 95(6),

1295-1315. doi: 10. 1037/a0013261.

Oliveira, F., Machado, R., Filho, C., Santos, T., Júnior, A., Lameira, A., Matsushima, E., &

Gawryszewski, L. (2010). Efeito priming entre figuras de partes do corpo. Psico, 41(1),

118-127.

Oliveira, N., Janczura, G., & Castilho, G. (2013). Normas de Alerta e Valência para 908 Palavras

da Língua Portuguesa.Psicologia: Teoria e Pesquisa, 29(2), 185-200.

Pereira, R. (2010). A relação entre estereótipos e automatismos por meio de estudos em priming

(Tese de mestrado não publicada). Universidade Federal da Bahia, Salvador.

Pereira, R., & Pereira, M. (2011). O uso de priming conceitual supraliminar na ativação do

estereótipo de político: um estudo empírico. Ciências e Cognição, 16(2), 002-012.

Piovaccari, E. (2014). O efeito priming na avaliação de comportamentos académicos desonestos:

Um estudo experimental (Tese de mestrado não publicada). Insper Instituto e Ensino e

Pesquisa, São Paulo.

Quilan, P., & Dyson, B. (2008). Cognitive Psychology. Edinburg. Pearson.

Rickwood, L., & Price, G. (1988). Hedonic arousal, time intervals, and excitation transfer.

Research & Review, 7(3), 241-256.

Salles, J., Machado, L., & Janczura, G. (2011). Efeitos de priming semântico em tarefa de

decisão lexical em crianças de 3ª série. Psicologia: Reflexão e Crítica, 24(3), 597-608.

Siegel, P., & Warren, R. (2013). Less is still more: maintenance of the very brief exposure effect

1 year later. American Psychological Association, 13(2), 338-344. doi:

(31)

24 Victoria, M., Soares, A., & Moratori, P. (2005). A influência de estados emocionais positivos e

negativos no processamento cognitivo. Estudos e pesquisas em psicologia, 2(5).

Wangelin, B., Bradley, M., Kastner, A., & Lang, P. (2012). Affective engagement for facial

expressions and emotional scenes: The influence of social anxiety. Biol Psychol, 91(1),

103-110.

Winkielman, P. Zajonc, R., & Schwarz. N. (1997). Subliminal affective priming resists

attribution interventions. Cognition and emotion, 11(4), 433-465.

Zajonc, R., & Rajeck, D. (1969). Exposure and affect: A field experiment. Psychological Science,

17(4), 216-217.

Zajonc, R. (1968). Attitudinal effects of mere exposure. Journal of Personality and Social

Psychology, 9(2).

Zajonc, R., Markus, H., & Wilson, W. (1974). Exposure Effects and Associative Learning.

Journal of experimental social psychology, 10, 248-263.

Zillmann, D., & Weaver, J. (1999). Effects of Prolonged Exposure to Gratuitous Media Violence

on Provoked and Unprovoked Hostile Behavior. Journal of Applied Social Psychology,

(32)

Verificação do efeito da pré exposição, com estímulos afetivos de dois níveis de intensidade, de valência negativa, numa tarefa de EMN de comportamentos

antissociais: Um estudo exploratório

Nota do autor:

Paula Ribeiro, mestranda em Psicologia, especialização em Psicologia Clínica, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila Real;

Professor Doutor Francisco Cardoso, Departamento de Educação e Psicologia, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila Real.

Soraia Pinheiro, mestranda em psicologia, participou como investigadora na fase experimental.

A correspondência relativa a este artigo deverá ser endereçada para Francisco Cardoso ou Paula Ribeiro, Departamento de Educação e Psicologia, Escola de Ciências Humanas e Sociais, Pólo I, Quinta de Prados, 5001-801 Vila Real.

(33)

26 Resumo

Partindo-se do estudo dos efeitos de priming, em tarefas subsequentes, e dos estudos acerca da Dessensibilização Emocional (DE), o presente estudo tem como objetivo avaliar o efeito do priming de valência negativa com dois níveis de intensidade, através de uma tarefa de Estimação de Magnitude Numérica (EMN): Colocando como hipótese de a magnitude da DE ser função do nível de intensidade afetiva do priming. Participaram 22 estudantes universitários do mesmo grupo turma, com idades compreendidas entre os 19 e os 40 anos (M = 21.52; DP = 3.64). Os participantes foram distribuídos por duas condições experimentais: Condição G1, valência negativa sem legenda e condição G2, valência negativa com legenda. Os participantes, por grupo, visualizaram 15 imagens do IAPS da valência correspondente à condição experimental, que foram projetadas em tela. As respostas emocionais, evocadas por cada imagem, foram registadas na SAM. Após um intervalo, de cerca de quatro minutos, tiveram como tarefa proceder a julgamentos de magnitude numérica relativos à gravidade de um conjunto de comportamentos antissociais que foram apresentados em uma lista. Os resultados registados indicaram não haver efeito significativamente diferente entre o grupo pré ativado com valência negativa sem legenda e o grupo pré ativado com valência negativa com legenda.

(34)

27 Abstract

The present research was exploratory. The principal objective was to evaluate the effect of negative priming, with two levels of intensity, in a Numerical Magnitude Estimation task (NEM). We postulate the hypothesis that the emotion desensitization (ED) increases with the degree of pre-exposition intensity. Participated 22 college students, from the same class group, aged 19 to 40 years (M = 21:52; SD = 3.64). Participants were divided into two experimental conditions: Low negative valence images and high negative valence images. After that, each group viewed a set of 15 images (IAPS) of the respective experimental condition. Emotional responses evoked by each image were registered on the SAM scale. After four minutes, we ask the participants to produce judgments of numerical magnitude estimation concerning antisocial behaviors. The results indicate that there were no statistically significant differences between groups.

(35)

28 Introdução

A população em geral é objeto, no seu dia-a-dia, de vários estímulos. Somos influenciados, mesmo de forma não consciente, pelo meio ambiente que nos rodeia (Adrião, Arriaga, & Esteves, 2013; Garcia-Marques, 2005); e uma dessas influências será certamente, produzida pela visualização de violência. Nesta linha de pensamento, diferentes estudos têm clarificado que a visualização de violência nos diferentes tipos de media (televisão, jogos eletrónios, filmes) conduz a um aumento de atitudes, valores, cognições, sentimentos e comportamentos agressivos (Carnagey, Anderson, & Bushman 2007; Murray, 2008). Segundo Huesmann (2007) desde 1960 que a evidência empírica sugere que a exposição à violência, nomeadamente, violência na televisão, nos filmes, nos jogos eletrónicos, nos telemóveis, na internet e até na música (Pimentel & Günther, 2009) propiciam um maior risco de comportamentos violentos, antissociais. De modo semelhante, crescer num ambiente opressor e presenciar diariamente situações de violência, também aumenta o risco de comportamentos violentos, antissociais (Huesmann, 2007).

Essas consequências da visualização de violência tornam-se muito prováveis de ocorrer quando nos deparamos com números como os que são apresentados por Mendes e Fernandes (2003): Os autores afirmam que estudos americanos e europeus verificaram que entre as 6 e as 9 horas da manhã eram transmitidas 160 cenas de violência e entre as 14 e as 17 horas esse número aumentava para 190. Dentro da mesma preocupação, em Portugal foi realizado um estudo por Monteiro (1999) com crianças do 1º, 2º e 3º ciclo que concluiu que em média, por dia, estas passavam duas horas durante a semana e três horas e meia no fim-de-semana a ver televisão. Valores alarmantes tanto mais quanto não refletem o tempo despendido com outras formas de visualizar violência: Filmes, jogos eletrónicos ou de computador e a navegação na internet (Monteiro, 1999). Num estudo realizado por Vala, Lima, e Jerónimo (2000), que teve por

objetivo avaliar a violência televisiva nos quatro canais da televisão portuguesa, em 1977, identificaram que 89% da programação recreativa destinada às crianças tem a presença de violência (percentagem de programas com pelo menos uma cena de violência). A percentagem encontrada por estes autores para a média de tempo de programa ocupado com cenas violentas foi de 15,9% - média superior à densidade de violência em programas destinados a adultos e à programação informativa.

(36)

29 Desta forma, quando o ser humano é exposto a estímulos de conteúdo negativo surge uma elevada ativação emocional acompanhada por respostas fisiológicas (sudoração, ritmo cardíaco acelerado) e relatos de desagrado (Bradley, Codispoti, Cuthbert, & Lang, 2001; Carvalho, 2009). Porém, quando existe uma exposição prolongada e repetida a estímulos de conteúdo negativo, o que se verifica é que o individuo quando se depara com situações semelhantes demonstra menor sensibilidade emocional, tanto para situações desagradáveis como agradáveis (Adrião et al., 2013; Carvalho, 2009).

Sendo certo que parece ser aceitável, por exemplo, que os soldados em combate se encontrem dessensibilizados para os cenários de horror que a guerra acarreta, o que permite que combatam eficazmente (Carnagey et al., 2007), o mesmo não se poderá afirmar que em outros contextos a dessensibilização a estímulos violentos possa ser benéfica para o indivíduo e para a sociedade (Carnagey et al., 2007).

Em face disso, várias investigações têm procurado perceber quais são os efeitos da exposição à violência, através da análise da DE (Arriaga, Monteiro, & Esteves, 2011; Bartholow, Bushman, & Sestir, 2006; Carnagey et al., 2007; Esteves & Monteiro, 2007; Funk, Baldaci, Pasold, & Baumgardner, 2004; Funk, Buchman, Jenks, & Bechtoldt, 2003; Huesmann, Moise-Titus, Podolski, & Eron 2003).

Mas importará no momento, esclarecer, um pouco melhor o conceito da DE. Este processo refere-se a uma das principais respostas corporais implícitas resultantes dos efeitos da exposição à violência (Funk et al., 2004). De acordo com Rule e Ferguson (1986), cit. por Carnagey et al., (2007) significa uma atenuação ou eliminação, em casos extremos de respostas comportamentais, cognitivas e emocionais a um estímulo, após uma repetida e continua exposição a um estímulo idêntico. Como referem Esteves e Monteiro (2007), a reação emocional inicial, desencadeada pela observação de violência tem tendência a diminuir em função da frequência de exposição a essas cenas. Huesmann et al., (2003) refere mesmo que os observadores se tornam insensíveis.

Alguns estudos concluíram que o efeito da exposição a estímulos de conteúdo negativo também poderá ser significativo a curto prazo (Bushman & Anderson, 2009) e, ainda, apenas com uma única exposição a esses estímulos (Siegel & Warren, 2013). Entre esses, refiram-se os que têm apontado que uma única exposição à violência apresentada em filme é suficiente para reduzir as respostas emocionais à violência na vida real (Thomas, Horton, Lippincott, &

(37)

30 Drabman, 1977) e diminuir o comportamento de intervenção numa tarefa agressiva na vida real (Drabman & Thomas, 1974). De modo semelhante, Bartholow et al., (2006) e Carnagey et al. (2007) indicam que jogar jogos eletrônicos violentos provoca uma dessensibilização à violência na vida real e produz um sentimento de controlo face à violência (Adrião, 2011; Arriaga et al., 2011).

Bushman e Anderson (2009) verificaram no seu estudo que a exposição a um jogo violento (durante 20 minutos), assim como a exposição a um filme de conteúdo violento, reduziu a ajuda perante vítimas em sofrimento e necessidade. Assim, as consequências que advêm da DE, mediante estes autores, são: Uma diminuição da atenção perante acontecimentos violentos; uma menor perceção da gravidade relativamente à situação de emergência e das lesões; e diminuição dos sentimentos de empatia e compaixão para com a vítima, bem como, a responsabilidade pessoal, existindo um aumento da crença de que a violência é normativa, é aceitável. Por sua vez, Siegel e Warren (2013) observaram que a exposição a estímulos fóbicos, mesmo em exposições breves, tinha efeito passado um ano mais tarde nos mesmos participantes.

O priming é uma pré ativação que pode ser subliminar (estímulos com exposição insuficiente, os quais não são captados pela consciência) ou supraliminar (estímulos com exposição suficiente para serem captados pela consciência), que despoleta uma cognição (Borine, 2007). Por exemplo, visualizar uma arma está inerentemente ligado ao conceito de agressão, bem como, olhar para uma face triste ou ouvir uma palavra como “funeral” parece tornar mais acessível, pensamentos com idêntica valência (Garcia-Marques, 2005; Huesmann, 2007).

Este tipo de metodologia tem sido utilizado em diferentes investigações. Adrião et al., (2013), no seu estudo pré ativaram os participantes com jogos violentos e jogos não violentos. Por outro lado, Bradley et al., (2001) utilizaram como priming imagens do IAPS (International Affective Picture System), tal como Carvalho (2009). Winkielman, Zajonc, e Schwarz (1997), para pré ativar os participantes apresentaram um rosto ou um polígono. No estudo de Victoria, Soares, e Moratori (2005), as palavras foram utilizadas como priming, à semelhança de Pereira e Pereira (2011) que utilizaram este tipo de priming para ativar estereótipos.

Assim, segundo Bradley e Lang (1994), os julgamentos humanos são influenciados pela valência (prazer/desprazer) e pelo arousal (calmo/ativado). Estas duas dimensões têm um papel importante neste estudo, uma vez que não se correlacionam linearmente, ou seja, quer exista um

(38)

31 aumento no prazer como no desprazer, origina uma maior ativação nos indivíduos (Adrião, 2011; Bradley & Lang, 1994). Por conseguinte, estas duas dimensões podem ajudar na explicação da DE.

Entre as diferentes investigações que se têm dedicado ao estudo do efeito da pré exposição a estímulos, pela metodologia priming, verifica-se haver a frequente utilização do IAPS como estímulos de ativação e da SAM (Self-Assessment Manikin) como instrumento de recolha de respostas (p.ex., Arriaga et al., 2011; Esteves & Monteiro, 2007; Oliveira, Janczura, & Castilho, 2013). As imagens do IAPS são utilizadas para provocar um estado afetivo nos participantes que, por sua vez, é captado através do preenchimento da SAM, nas dimensões valência, arousal e domínio (Bradley et al., 2001). A decisão pela utilização da escala SAM relaciona-se com o facto de o seu desenvolvimento surgir a partir de um referencial teórico sobre as emoções e apresentar boas propriedades psicométricas, de acordo com Bradley e Lang (1994) e Morris (1995). Este autor afirma ainda, tratar-se de uma escala de rápida e de simples administração, o que permite avaliar um maior número de estímulos num curto espaço de tempo; elimina, ainda, a maioria dos problemas que se encontram associados às escalas verbais.

Decorre do exposto, e à semelhança do que é afirmado por Adrião, Arriaga, e Esteves (2013), Bradley et al., (2001), Carvalho (2009), Dias, Cruz, e Fonseca (2010), que são necessários mais estudos que permitam englobar as emoções e as dimensões afetivas (valência e arousal) de forma a testar a DE quando expostos a estímulos de elevada intensidade afetiva.

Objetivos e Pertinência da Presente Investigação

Face ao maior número de horas passadas em contacto com os media e à quantidade de informação sobre violência assistida e às respetivas consequências nefastas para os indivíduos, torna-se essencial dar continuidade aos trabalhos sobre o impacto da exposição a tais conteúdos, agora para saber se a DE será função dos diferentes níveis de intensidade dos estímulos. Concretamente, propomo-nos avaliar o efeito do priming negativo com dois níveis de intensidade, através de uma tarefa de EMN. Assim, colocamos a hipótese de que quanto maior for a intensidade negativa dos estímulos apresentados, previamente, aos participantes, maior será a DE. O aumento da DE traduzir-se-á numa diminuição da gravidade dos julgamentos resultante do grupo que visualizou os estímulos com maior intensidade afetiva.

Referências

Documentos relacionados

Assim, o Sistema de Gestão da Ética do Poder Executivo Federal, dispõe sobre a conduta Ética no âmbito do Executivo Federal, competindo-lhe: I - integrar os

It should be noted that grating during the time spittlebug eggs are in the soil and during lhe lime nymphs are present was of short duration (2-4 days). Information from one

É Doutorando em Engenharia e Gestão pelo Instituto Superior Técnico de Lisboa, Mestre em Gestão Internacional pela Universidade Católica Portuguesa, tem MBA pela

Considerando apenas os centros públicos, 5 responderam que a atividade foi interrompida completamente e 5 que foi interrompida parcialmente (destes, em 4 foram

to transmit facts about the world in an entirely objective manner, this hegemonic discourse ostensibly eschews all authorial manipulation and uses clearly defi ned terms

Este período é crítico para a vaca leiteira, que irá atravessar um período de alterações metabólicas, endócrinas e de maneio que irão contribuir para uma maior

ACESSÓRIOS 15 CABEÇOTE DE CORTE 11 CAIXA DE VENTILAÇÃO 10 CARBURADOR 8 CARTER 6 CILINDRO 7 PARTIDA RETRÁTIL 5.. SISTEMA DE IGNIÇÃO E

escolha forçada...25 Figura 6 Memória contextual induzida pelo TMT testada 24h após o condicionamento...31 Figura 7 Memória contextual induzida pelo TMT testada 7