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Avaliação do papel de manchas de vegetação semeada no incremento das populações de insectos polinizadores, em macieira, na Região do Dão: influência na produção

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Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

AVALIAÇÃO DO PAPEL DE MANCHAS DE VEGETAÇÃO

SEMEADA NO INCREMENTO DAS POPULAÇÕES DE

INSECTOS POLINIZADORES, EM MACIEIRA, NA REGIÃO

DO DÃO

Influência na produção

Dissertação de Mestrado em Engenharia Agronómica

Vanda Cristina Azevedo da Costa Batista

(2)

Dissertação submetida por Vanda Cristina Azevedo da Costa Batista à Universidade de Trás - os – Montes e Alto Douro para a obtenção do grau de Mestre em Engenharia Agronómica, sob a orientação do Professor Doutor António Maria Luís Crespí, do Departamento de Engenharia Biológica e Ambiental da Universidade de Trás - os – Montes e Alto Douro e co-orientação do Engenheiro Mestre em Agricultura e Horticultura Sustentáveis, pelo Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa, Rui Manuel Maia de Sousa do INRB, I.P. / L-INIA Centro de Actividades da Fruticultura, Alcobaça.

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AGRADECIMENTOS

O agradecimento a todos aqueles que contribuíram para a elaboração desta dissertação é inevitável. São palavras sinceras que me permitem agraciar todos os que me acompanharam nesta etapa.

Ao Professor Doutor António Luis Crespí pelo seu valioso contributo e pela positividade que espelhou na orientação deste trabalho.

Ao Engenheiro Mestre Rui Maia de Sousa por ter assumido este desafio, pela sua inteira disponibilidade e sobretudo pela sua verdadeira amizade.

Ao Director Regional da Direcção Regional de Agricultura e Pesca do Centro, Eng. Rui Moreira, e ao Director de Serviços, Eng. José Santos, pela possibilidade dada para a realização deste trabalho. À Chefe de Divisão, Eng. Maria Helena Pinto, pela sua dedicação e estima.

À Professora Doutora Isabel Marques Cortêz, pelo apoio evidenciado nas mais diversas situações e à Professora Doutora Laura Monteiro Torres pelo contributo prestado.

À Eng. Leontina Fonseca que com a sua enorme generosidade foi o meu principal alicerce para a conclusão do trabalho.

À Eng. Arminda Lopes pelo contributo concedido na interpretação dos dados estatísticos.

Aos colegas da empresa Syngenta, Mónica Teixeira, Paula Martins, Joaquim Pedras, Pedro Sabino, Geoff Coates e Jean-Jacques Schott pelo apoio concedido nas diversas fases de implementação e execução do projecto.

Ao Mike Edwards pelos conhecimentos transmitidos e, em especial, pela partilha de informação e imagens.

Ao Eng. Cabral Menezes por ter permitido a realização deste trabalho na Sociedade Agrícola Quinta de Vilar, ao responsável técnico Eng. João Calixto e a todos os trabalhadores pela sua colaboração.

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À minha amiga Lúcia Quental pela sua preciosa ajuda, sem a qual não teria sido possível desenvolver a componente prática.

Ao meu amigo Manuel Salazar pela sua amizade e companheirismo.

Aos meus filhos que são a minha fonte de inspiração. Ao meu marido, avó, mãe e irmã por serem a minha âncora emocional.

Com todos partilho uma frase de Fernando Pessoa que exprime as lutas e vitórias que edificam a nossa existência.

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RESUMO

A maçã é um fruto único com uma enorme diversidade de aromas, cores, tamanhos e sabores, estando a sua qualidade intrinsecamente associada à polinização. São vários os factores que contribuem para o seu êxito, mas são as abelhas domésticas que assumem um papel determinante neste processo. Todavia as abelhas domésticas não são os únicos agentes polinizadores na macieira e as abelhas selvagens, abelhões e outros, surgem como parceiros indispensáveis nesta missão.

Contudo, a sobrevivência destes polinizadores encontra-se ameaçada. Desde 2006 que o Sindroma do Despovoamento de Colónias de Abelhas, mais conhecido por Colony Collapse Disorder (CCD), tem dizimado um número inquantificável de insectos polinizadores por todo o mundo. Até ao momento, ainda não foram definidas as causas que estão na origem desta mortalidade. No entanto, factores biológicos, ambientais, químicos e procedimentos inerentes ao manuseamento de colmeias estão a ser os principais factores apontados pelos especialistas, que sustentam não se tratar de um factor isolado, mas sim um conjunto de causas a actuar negativamente sobre as abelhas.

Considerando que um dos factores referidos assenta na falta de variedade na oferta de alimento que induz a deficits quantitativos e qualitativos de pólen, a empresa Syngenta desenvolve, desde 2001, um projecto alicerçado nos benefícios que a agricultura pode trazer à biodiversidade. Iniciado no Reino Unido com a designação “The Buzz Project” este projecto promove a instalação de manchas de vegetação semeada, criando locais de refúgio e de fonte de néctar e pólen para os polinizadores.

Desde 2009 que o projecto adoptou o nome “Operation Pollinator”, onde está patente o adicional objectivo de criar metodologias facilmente praticáveis pelo agricultor, com reconhecidos contributos para a biodiversidade agrícola e para obtenção de frutos em quantidade com qualidade. O presente trabalho, cuja implementação em macieiras foi pioneira a nível nacional, é o resultado da aplicação e do acompanhamento das práticas concebidas no âmbito deste projecto.

Palavras-chave: maçã, polinização, insectos polinizadores, biodiversidade, mancha de vegetação

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ABSTRAT

The apple is a fruit only with a huge variety of flavors, colors, sizes and flavors, and its quality intrinsically associated with pollination. There are several factors that contribute to its success, but the honeybees play an important role in this process. But honeybees are not the only pollinators in apple; wild bees, bumblebees and others emerge as indispensable partners in this mission.

However, the survival of these pollinators is threatened. Since 2006, the syndrome of the depopulation of bee colonies, better known as Colony Collapse Disorder (CCD), has decimated an unquantifiable number of pollinators around the world. So far have not been defined the causes that have led to the death. However, biological, environmental, and chemical handling procedures inherent in the hives are to be appointed by the experts, who argue it is not an isolated factor, but rather a set of causes to act negatively on the bees. Considering that one of the factors mentioned as a cause of death of the insect pollinators, based on the lack of biodiversity in providing food that induces quantitative and qualitative deficits pollen, Syngenta develops since 2001 a project grounded in the benefits that agriculture can bring to biodiversity. Started in the United Kingdom with the title "The Buzz Project" this project promotes the installation of patches of vegetation planted, creating places of refuge and source of nectar and pollen for pollinators.

Since 2009 the project adopted the name "Operation Pollinator", where the patent is intended to create additional methodologies easily practicable by the farmer, with recognized contributions to agricultural biodiversity and to obtain fruits in quantity with quality. This report, whose deployment has been a pioneer in apple trees at the national level, is the result of the implementation and monitoring practices designed under this project.

(7)

ÍNDICE 1. Introdução 1 2. Revisão bibliográfica 3 2.1. A Macieira 3 2.1.1. A importância económica 3 2.1.2. Características botânicas 6 2.1.3. Floração e polinização 8

2.1.4. Polinização e qualidade dos frutos 10

2.1.5. Agentes polinizadores 11

2.1.5.1. Polinizadores em macieira 13

2.1.6. Declínio das populações de insectos polinizadores 16

2.1.6.1. Possíveis causas 17

2.1.7. Biodiversidade agrícola 21

2.1.7.1. Contributo da polinização e insectos polinizadores 23 2.1.7.2. Manchas de vegetação semeada e sua importância 25

2.1.8. Projecto “Operation Pollinator” 27

3. Trabalho experimental 30

3.1. Material e métodos 30

3.1.1. Caracterização do campo experimental 30

3.1.1.1. Localização 30

3.1.1.2. Características edafo-climáticas 31

3.1.1.3. Caracterização da parcela 32

3.1.1.4. Caracterização da mancha de vegetação semeada 34

3.1.2. Delineamento experimental 35

3.1.3. Observações 36

3.1.3.1. Na mancha de vegetação semeada, talude e zona de vegetação

espontânea 36 3.1.3.2. Insectos polinizadores 39 3.1.3.3. No pomar 43 3.1.3.3.1. Floração 43 3.1.3.3.2. Percentagem de vingamento 43 3.1.3.3.3. Produção 44 3.1.3.3.4. Tratamento de dados 45

(8)

4. Resultados e discussão 46 4.1. Avaliação do desenvolvimento florístico da mancha de vegetação semeada, talude e zona de vegetação espontânea e insectos polinizadores 46

4.2. No pomar 63

4.2.1. Registos na floração 63

4.2.2. Percentagem de vingamento 66

4.2.3. Produção 72

4.2.3.1. Peso 75

4.2.3.2. Determinação das classes de calibre 77

4.2.3.3. Dureza da polpa 80 4.2.3.4. Índice refractométrico 82 4.2.3.5. Acidez total 84 4.2.3.6. Número de sementes 86 5. Discussão e conclusões 88 Referências bibliográficas 92

ANEXO I - Estados fenológicos da macieira (escala de Fleckinger) ANEXO II - Boletim da análise de terra

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Estados fenológicos da cultivar e polinizadora 63

Quadro 2 – Teste estatístico Qui-Quadrado para o número de frutos vingados 68

Quadro 3 – Dados da análise estatística por parcela e respectivas árvores de cada repetição 74

Quadro 4 – Teste – T para médias do número de frutos produzidos por parcela 74

Quadro 5 – Dados da análise estatística por distância e respectivas árvores de cada repetição 74

Quadro 6 – Teste – T para médias do número de frutos produzidos considerando a distância 75

Quadro 7 – Dados da análise estatística do peso dos frutos obtido por parcela e repetição 76

Quadro 8 – Teste – T para médias do peso dos frutos por parcela 76

Quadro 9 – Dados da análise estatística do calibre dos frutos obtidos por parcela e repetição 78

Quadro 10 – Teste – T para médias do calibre dos frutos por parcela 78

Quadro 11 – Dados da análise estatística dos valores de dureza da polpa obtidos por parcela

e repetição 80

Quadro 12 – Teste – T para médias da dureza da polpa dos frutos por parcela 81

Quadro 13 – Dados da análise estatística dos valores de teor de açúcar obtidos por parcela

e repetição 82

Quadro 14 – Teste – T para médias do teor de açúcar dos frutos por parcela 83

Quadro 15 – Dados da análise estatística dos valores da acidez total obtidos por parcela e

repetição 84

Quadro 16 – Teste – T para médias da acidez total dos frutos por parcela 85

Quadro 17 – Dados da análise estatística dos valores do número de sementes obtidos por parcela

e repetição 86

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Área e produção mundial de maçã em 2004 e 2005 (Fonte: GPP, 2007) 3

Figura 2 – Produção no triénio 2007-2009 (Fonte: INE, 2010) 5

Figura 3 – Flor da macieira 7

Figura 4 – Flor de macieira e fruto (Fonte: Evangelista, 2011) 8

Figura 5 – Borboleta na flor de luzerna 12

Figura 6 – Abelha selvagem da família Halictidae e sub-família Rophitinae visita regular de espécies

do género Convolvulus L. 15

Figura 7 – Filogenia das abelhas (Danforth, 2007) 15

Figura 8 – Principais ameaças do declínio das populações de abelhas (Adaptado de EFSA, 2009) 17

Figura 9 – Distribuição do “Pollinator Partnership” 24

Figura 10 – Logotipos dos projectos desenvolvidos pela Syngenta 27

Figura 11 – Distribuição do projecto “Operation Pollinator” na Europa 28

Figura 12 – Localização da Sociedade Agrícola Quinta do Vilar, Lda. 30

Figura 13 – Vista do pomar da cultivar ´Fuji Kiku 8´ 31

Figura 14 – Sociedade Agrícola Quinta do Vilar, Lda. e localização da área em estudo 32

Figura 15 – Mancha de vegetação semeada, pomar e zona de talude 33

Figura 16 – a) Preparação do solo; b) Sementeira a lanço 34

Figura 17 – Localização das parcelas, respectivas repetições e distâncias 36

Figura 18 – a) Medicago sativa L.; b) Foeniculum vulgare Mill.; c) Chrysanthemum segetum L.;

d) Carthamus lanatus L.; e) Salva verbenaca L. (adaptado de Blamey & Grey-Wilson, 2004) 39

Figura 19 – a) Geoff Coates (esquerda) e Mike Edwards (direita); b) Formação em campo 40

Figura 20 – a) Abelha doméstica na recolha de pólen; b) Abelha doméstica com pólen humedecido

as patas (Fonte: Mike Edwards, 2011) 41

Figura 21 – a) Abelhão no topo das anteras (Fonte: Mike Edwards, 2011); b) Abelhão com pólen

(11)

Figura 22 – a) Abelha selvagem no topo das anteras (Fonte: Mike Edwards, 2011); b) Abelha

selvagem com pólen seco nas patas 42

Figura 23 – Espécie Osmia leaiana (Fonte: Mike Edwards, 2011) 42

Figura 24 – Bee-fly (Marlin, 2011); b) Sirfideo (Soares, 2010) 43

Figura 25 – a) Sacos colocados nos corimbos “não polinizados”; b) Vista da 1ª linha junto à

margem 43

Figura 26 – a) Aspecto geral da margem; b) Trevo-encarnado e trevo-da-Pérsia 46

Figura 27 – a) Abelha doméstica; b) Insecto; c) Larva de coccinelideo; d) Adulto de coccinelideo 47

Figura 28 – a) Aspecto geral da margem; b) Serradela e trevo-encarnado 47

Figura 29 – Desenvolvimento florístico, em 12 de Março, da mancha semeada 48

Figura 30 – a) e b) Tojos em floração no talude; c) Margaças na zona de vegetação

espontânea 48

Figura 31 – Ninho de abelha selvagem no talude 49

Figura 32 – a) Aspecto geral; b) Serradela (pormenor); c) Serradela e trevo encarnado em inicio de

floração 49

Figura 33 – Desenvolvimento florístico, em 7 de Abril, da mancha de vegetação semeada referente

às espécies da mistura 50

Figura 34 – Desenvolvimento florístico, em 7 de Abril, da mancha de vegetação semeada referente

às espécies não pertencentes à mistura 50

Figura 35 – a) Aspecto geral; b) Pormenor da mancha de vegetação semeada 51

Figura 36 – Desenvolvimento florístico, em 20 de Abril, da mancha de vegetação semeada referente

às espécies da mistura 52

Figura 37 – Desenvolvimento florístico, em 20 de Abril, da mancha de vegetação semeada referente

às espécies não pertencentes à mistura 52

Figura 38 – Aspecto geral da mancha de vegetação semeada 53

Figura 39 – a) Luzerna; b) Trevo encarnado 53

Figura 40 – Desenvolvimento florístico, em 3 de Maio, da mancha de vegetação semeada referente

às espécies da mistura 54

Figura 41 – Desenvolvimento florístico, em 3 de Maio, da mancha de vegetação semeada referente

às espécies não pertencentes à mistura 54

(12)

Figura 43 – a) e b) Aspecto do talude a 17 de Maio, com uma tripa-de-ovelha (Andryala integrifolia L.)

em evidência 55

Figura 44 – a) Final da floração de trevo-encarnado; b) Sanfeno; c) trevo-da-Pérsia;

d) trevo-dos-prados 56

Figura 45 – a) Composta tipo cardo; b) Composta tipo malmequer 56

Figura 46 – Desenvolvimento florístico, em 17 de Maio, da mancha de vegetação semeada referente

às espécies da mistura 57

Figura 47 – Desenvolvimento florístico, em 17 de Maio, da mancha de vegetação semeada referente

às espécies não pertencentes à mistura 57

Figura 48 – a) Abelhão no trevo-da-Pérsia; b) Bee-fly 58

Figura 49 – Aspecto geral a 1 de Junho; a) Cornichão; b) Trevo vesiculoso; c) Sanfeno 58

Figura 50 – Desenvolvimento florístico, em 1 de Junho, da mancha de vegetação semeada referente

às espécies da mistura 59

Figura 51 – Desenvolvimento florístico, em 1 de Junho, da mancha de vegetação semeada referente

às espécies não pertencentes à mistura 59

Figura 52 – a) e b) Abelhão a visitar a flor de trevo vesiculoso; c) Abelhão no trevo encarnado; d)

Abelhas selvagens; e) Abelha selvagem na luzerna; f) Abelha selvagem no trevo-da-Pérsia 60

Figura 53 – Dinâmica populacional dos insectos polinizadores entre talude, pomar e mancha

semeada 61

Figura 54 – Quebra da dinâmica populacional dos insectos polinizadores entre talude, pomar e a

mancha semeada 62

Figura 55 – Polinizadora e cultivar no dia 1 de Abril 63

Figura 56 – Distribuição dos polinizadores nas parcelas A e B às 11:00 horas 64

Figura 57 – Distribuição dos polinizadores nas parcelas A e B às 15:00 horas 64

Figura 58 – a) Abelha doméstica no topo das anteras; b) Abelha doméstica com pólen humedecido

nas patas 65

Figura 59 – a) Abelhão no topo das anteras; b) Abelhão com pólen humedecido nas patas 65

Figura 60 – a) e b) Abelha selvagem com pólen 65

Figura 61 – a) e b) Megachilid com pólen no abdómen 66

Figura 62 – Número total de flores nas parcelas A e B 66

Figura 63 – Número total de flores por quadrante 67

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Figura 65 – Número de frutos polinizados e não polinizados nas parcelas A e B 68

Figura 66 – Distribuição de frutos pela parcela A e B e respectivos quadrantes 69

Figura 67 – Distribuição de frutos na 1ª repetição nos respectivos quadrantes 69

Figura 68 – Distribuição de frutos na 2ª repetição nos respectivos quadrantes 70

Figura 69 – Distribuição de frutos na 3ª repetição nos respectivos quadrantes 70

Figura 70 – Distribuição de frutos na 4ª repetição nos respectivos quadrantes 71

Figura 71 – Análise estatística entre o número de frutos e a distância das repetições 71

Figura 72 – Número total de frutos à colheita (árvore e chão) 72

Figura 73 – Número de frutos obtidos por repetição em cada parcela 73

Figura 74 – Número de frutos considerando a distância 73

Figura 75 – Peso dos frutos por repetição nas parcelas A e B 75

Figura 76 – Análise estatística entre o peso dos frutos e a distância das repetições 76

Figura 77 – Análise estatística do peso dos frutos em relação à parcela 77

Figura 78 – Calibre dos frutos por repetição nas parcelas A e B 77

Figura 79 – Análise estatística entre o calibre dos frutos e a distância das repetições 78

Figura 80 – Análise estatística do calibre dos frutos em relação à parcela 79

Figura 81 – Distribuição percentual dos frutos por classes de calibre 79

Figura 82 – Dureza da polpa por repetição nas parcelas A e B 80

Figura 83 – Análise estatística entre a dureza da polpa e a distância das repetições 81

Figura 84 – Análise estatística da dureza da polpa em relação à parcela 81

Figura 85 – Teor em açúcar por repetição nas parcelas A e B 82

Figura 86 – Análise estatística entre o teor em açúcar e a distância das repetições 83

Figura 87 – Análise estatística do teor em açúcar em relação à parcela 83

Figura 88 – Acidez total por repetição nas parcelas A e B 84

Figura 89 – Análise estatística entre a acidez total e a distância das repetições 85

Figura 90 – Análise estatística da acidez total em relação à parcela 85

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Figura 92 – Análise estatística entre o número de sementes e a distância das repetições 87

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LISTA DE ABREVIATURAS

BEE DOC – Bees in Europe & the Decline of Honeybee Colonies CCD – Colony Collapse Disorder

CCE – Comissão das Comunidades Europeias CE – Comunidade Europeia

DOP – Denominação de Origem Protegida EFSA – European Food Safety Authority FAO – Food and Agriculture Organization GPP – Gabinete de Planeamento e Políticas IAPV – Israeli acute paralysis virus

IGP – Indicação Geográfica Protegida INE – Instituto Nacional de Estatística

OILB-SROP – Organisation Internationale de lutte biologique et intégrée contre les animaux

et les plantes nuisibles – Section Régionale Quest Paléarctique

OGM – Organismo Geneticamente Modificado UE – União Europeia

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1

1 – INTRODUÇÃO

São inúmeras as exaltações à maçã conhecidas ao longo da história. As maçãs sempre estiveram associadas ao amor, beleza, sorte, conforto, prazer, sabedoria, tentação, sensualidade, virilidade e fertilidade. As expedições militares e o comércio entre as primeiras civilizações potenciaram a expansão da cultura, originária das montanhas Thien Shan no Cazaquistão. Há 8000 a.C. os terrenos férteis dos rios Nilo e Eufrates foram o berço da cultura da maçã.

Desde então, vários apontamentos preenchem as páginas da história da Humanidade. O primeiro registo da sua importância socio-económica remonta a 5000 a.C., quando um diplomata chinês a aborda como um empreendimento comercial. Desde então, o negócio floresceu, passando por altos e baixos.

A maçã é um fruto único com uma enorme diversidade de aromas, cores, tamanhos e sabores, estando a sua qualidade intrinsecamente associada à polinização. Vários são os factores que intervêm neste processo, mas são as abelhas que assumem um papel determinante para o seu êxito, principalmente as abelhas domésticas, também conhecidas por abelhas melíferas (Apis mellifera L.), de cujo desempenho dependem cerca de 80% das espécies cultivadas a nível mundial.

No entanto, desde 2006, que este cenário se encontra sob ameaça, com o surgimento do Sindroma do Despovoamento de Colónias de Abelhas, mais conhecido por Colony Collapse Disorder (CCD), que tem dizimado um número inquantificável de abelhas domésticas por todo o mundo. Estas são os principais vectores de pólen na macieira e a sua perda teria consequências devastadoras para o sector frutícola. Aliás Albert Einstein referiu que “se as abelhas desaparecessem da face da Terra, a espécie humana teria somente mais quatro anos de vida. Sem abelhas não há polinização, ou seja, não há plantas, animas e Homens.”

Até ao momento ainda não foram definidas as causas que estão na origem desta mortalidade. No entanto, factores biológicos, ambientais, químicos e procedimentos inerentes ao manuseamento de colmeias estão a ser apontados pelos especialistas, que sustentam não se tratar de um factor isolado, mas sim um conjunto de causas a actuar negativamente sobre as abelhas.

Sendo o único insecto domesticado pelo Homem, a abelha doméstica foi seleccionada em função da sua docilidade e não em função da sua resistência a factores adversos, o que possivelmente contribui para que a sua frágil robustez seja severamente deteriorada.

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2

Contudo as abelhas domésticas não são os únicos insectos polinizadores na macieira e as abelhas selvagens, abelhões (Bombus sp.) e outros, surgem como parceiros indispensáveis nesta missão. No entanto, as ameaças são transversais a todos os insectos polinizadores e é necessário agir.

Considerando que um dos factores apontados, como causa da morte dos insectos polinizadores, assenta na falta de variedade na oferta de alimento, que induz a deficits quantitativos e qualitativos de pólen, a Comissão Europeia defende a prevenção e erradicação das causas que originam a redução ou perda desta biodiversidade.

Os serviços prestados pela polinização estão associados à biodiversidade. Deste modo, é fundamental assegurar esta ligação e interacção, criando locais que permitam a nidificação dos polinizadores, associando-os a comunidades florais responsáveis pelo fornecimento diversificado de alimento. A esta prática está subjacente a conservação e protecção dos polinizadores, sendo os agricultores parte integrante na gestão dos seus componentes. Inspirado no conceito de infra-estrutura ecológica, designação da OILBsrop, a empresa Syngenta desenvolve, desde 2001, um projecto alicerçado nos benefícios que a agricultura pode trazer à biodiversidade. Iniciado no Reino Unido com a designação “The Buzz Project” este projecto promove a instalação de manchas de vegetação semeada, criando locais de refúgio e de fonte de néctar e pólen para os polinizadores.

Os números reflectem o sucesso desta acção que contribuiu para o incremento em 600% da população de abelhas e regenerou a espécie Bombus ruderatus que se encontrava em vias de extinção. Desde 2009 que o projecto adoptou o nome “Operation Pollinator”, onde está patente o adicional objectivo de criar metodologias facilmente praticáveis pelo agricultor, visto ser este o elemento chave, de maior importância, em todo o processo.

O presente trabalho, cuja implementação em macieiras foi pioneira a nível nacional, é o resultado da aplicação e do acompanhamento das práticas concebidas no âmbito deste projecto e teve como principais objectivos: avaliar a viabilidade da sua execução por parte dos agricultores; determinar as mais-valias decorrentes da sua implementação, nomeadamente o contributo das manchas de vegetação semeada no incremento da população de insectos polinizadores; na biodiversidade agrícola e seus efeitos na produção, visto que os serviços prestados pelos polinizadores são a base para a obtenção de frutos em quantidade com qualidade.

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2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 – A MACIEIRA

2.1.1 - Importância económica

No final do ano 2000, a produção mundial de maçã estimou-se em 60 milhões de toneladas. Em 2002, ultrapassou as 57 milhões de toneladas. A produção do hemisfério norte representa 90% da produção mundial, sendo os maiores produtores a China, Estados-Unidos e Europa (Trillot et al., 2002). A China, ao produzir 32% do total mundial, ocupa destacadamente o primeiro lugar, seguida da Europa com 30% e dos Estados Unidos com 11% (Lopes, 2010).

Dados da FAO de 2004 e 2005, citados pelo GPP (2007), relacionando áreas e produções, mostram que a China vem incrementando a área e a respectiva produção de maçã (Figura 1). Actualmente, este país continua a manter-se na liderança com 63,5 milhões de toneladas produzidas, distribuídas por uma superfície de 5,2 milhões de hectares, área significativamente superior aos 3 milhões de hectares estimados por Trillot et al., em 2002.

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4

O continente asiático assumiu-se como o principal produtor mundial, com 67% da área e 75% da quantidade de maçã produzida. A Europa é o segundo produtor mundial de maçã, com 25% da área e 23% da produção, com destaque para a Itália, França e Polónia. Seguem-se os Estados Unidos, Turquia e Irão (Balbi, 2009; Moreira et al., 2008, Lemos et al., 2009).

Os países emergentes do hemisfério sul atingiram 4 milhões de toneladas nos finais dos anos 90, sendo os principais países produtores Chile, Nova - Zelândia e África do Sul (Trillot et al., 2002).

A Nova Zelândia, África do Sul e a América do Sul representam respectivamente 1,3% e 5% da produção mundial (Lopes, 2010). Dados de 2004/2005 apontam como maiores produtores da América do Sul a Argentina e Chile com 2% da produção (GPP, 2007).

No que concerne à União Europeia (UE) a 15, onde a produção de maçã atingiu 7,5 milhões de toneladas/ano, ou seja, 17% da produção mundial, cabe à Itália e à França a maior fatia, respectivamente com 28% e 27%. Os lugares seguintes são ocupados pela Espanha e Alemanha com 11% cada, Holanda 7%, Bélgica 6% e Grécia 4%. Na cauda desta série encontra-se Portugal e o Reino Unido, com a cota de 3% cada (Lopes, 2010).

Nos anos 90 a produção oscilou entre 7,5 e 8,5 milhões de toneladas, com o maior contributo da Itália e França. A Itália lidera com uma produção aproximada de 2 milhões de toneladas, repartidas por 71 000 hectares (Trillot et al., 2002).

Em 2004, o alargamento da UE, de 15 para 25 países, veio aumentar significativamente as quantidades de maçã produzidas na Comunidade. Nesse ano cifrou-se um diferencial de 3,6 milhões de toneladas, passando a 2,8 milhões de toneladas em 2005 (GPP, 2007). Saliente-se o facto de o ano 2005 Saliente-ser caracterizado por uma fraca produção o que explica as diferenças obtidas.

Na Europa a 27 a posição de países produtores sofreu alterações. As duas maiores áreas de pomares encontram-se na Polónia (165 715 ha), seguido da Roménia (60 494 ha), Itália (55 225 ha) e França (40 113 ha) (Ollier, Cardoso & Dinu, 2009).

A idade dos pomares surge como um dos factores de competitividade. A região de Mazowieckie suporta 40% da produção de maçã na Polónia, com 43% dos pomares com idade inferior a 10 anos, 26% entre os 10 e 15 anos e 32% acima dos 15 anos. Alguns países, como a Bélgica, Luxemburgo e Holanda, são caracterizados por possuírem mais de 60% de pomares com menos de 10 anos de plantação.

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5

Países como Estónia e Republica Checa possuem as plantações mais antigas, com 60% e 43% de pomares com idade superior a 25 anos, respectivamente (Ollier, Cardoso & Dinu, 2009).

A produção nacional corresponde a 3,6% da produção da Europa a 15 Estados Membros, reduzindo-se para 2,5% se consideramos a Europa a 25 Estados Membro (GPP, 2007). Dados recentes indicam que a UE tem uma produção anual de cerca de 11 milhões de toneladas, dos quais Portugal produz 3,6% (cerca de 400 mil toneladas) (Balbi, 2009). Em Portugal, a maçã é a espécie com maior peso na produção de frutos frescos representando 26,5% do seu volume total (GPP, 2007). Em 1999 existiam 33 573 explorações com a cultura da maçã, distribuídas em 19 813 ha. A superfície sofreu um aumento nos últimos anos conforme (Figura 2). Segundo dados do INE (2010) a área destinada à produção de maçã evoluiu de 20 488 ha, em 2007, para 20 625 ha, em 2009. Este aumento também se reflectiu na produção que atingiu as 280 078 toneladas no ano 2009.

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A principal região de produção é o Ribatejo e Oeste, com 40% da área e da produção nacional. Segue-se a região de Trás-os-Montes, onde se concentra cerca de 30% da área e da produção de maçã. A Beira Litoral e Beira Interior, representam em conjunto cerca de 25% da área e produção, com quotas muito semelhantes (INE, 2010; Lemos et al., 2009; GPP, 2007; Vieira, 2006).

Na Beira Litoral existem duas áreas distintas de produção: a Norte, englobando concelhos do Agrupamento de Zonas Agrárias do Dão e Lafões e outra mais a Sul confinada praticamente aos concelhos de Leiria, Porto de Mós e Batalha (Lopes, 2010).

A região da Beira Alta apresenta condições propícias à cultura de maçã, sendo uma actividade com grandes tradições e das que aparenta ter maiores potencialidades económicas. A cultura da macieira, encontrou nesta região, por entre a diversidade de microclimas, que a orografia e a fisiografia proporcionaram ao longo do tempo, não apenas boas condições para viver, como meios favoráveis à sua naturalização (Lemos et al., 2009).

Na região da Beira Alta, a macieira é uma cultura que possui uma significativa representatividade, existindo inclusivamente na região uma Indicação Geográfica Protegida (IGP) - “Maçã da Beira Alta” - e uma Denominação de Origem Protegida (DOP) - “Bravo Esmolfe”, que assume alguma expressão nos pomares novos da região (Lemos et al., 2009; Moreira et al., 2008).

Franco (2010) citado por Correia (2011) refere que, em Portugal, entre as cultivares com mais expressão contam-se a ´Golden Delicious´, ´Red Delicious´, ´Starking´, ´Gala´ (´Royal Gala´), ´Jonagold´, ´Reineta Parda´, ´Bravo de Esmolfe´, ´Fuji´, ´Braeburn´, ´Casa Nova´, ´Riscadinha de Palmela´ e ´Granny Smith´.

2.1.2 – Características botânicas

A macieira pertence à família Rosaceae, subfamília Maloideae, género Malus, sendo a Malus domestica Borkh., a espécie mais comum. De acordo com Vieira (2006), a macieira é uma árvore de folha caduca, com ciclo longo, de porte pequeno a médio, podendo atingir excepcionalmente 10 m de altura como sucede em árvores da cultivar ´Bravo de Esmolfe´ exploradas de forma tradicional.

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Tem folhas simples, inteiras, ovado-elípticas a ovado-oblongas, medindo até 12 x 6 cm, serradas ou crenadas, bastante tomentosas na página inferior e ligeiramente pubescentes na página superior. As flores com diâmetro até 5 cm, tem 5 pétalas branco-rosadas, 5 pistilos e 5 sépalas e dispõem-se em inflorescências curtas e simples (Figura 3).

Figura 3 – Flor da macieira

Os frutos são pomos de tamanho e forma variável, consoante a cultivar. Muito variáveis são também a cor da epiderme, textura e sabor da polpa, bem como o tamanho do pedúnculo (Vieira, 2006). As maçãs são um fruto único, com uma enorme variedade de aromas, açúcares e ácidos. Possuem polpa com diferentes texturas e suculências (Gonçalves, 2007).

Ao longo do seu ciclo vegetativo são vários os estados fenológicos que caracterizam a macieira: repouso vegetativo (A), pré-abrolhamento (B), abrolhamento (C), botão verde (D), botão rosa (E), desabrochamento (F1), plena floração (F2), inicio da queda das pétalas (G), queda das últimas pétalas (H), vingamento dos frutos (I), frutos em desenvolvimento (J) e frutos maduros (ANEXO I).

Não subestimando os restantes estados fenológicos, a floração é a fase mais importante que ocorre ao longo do ciclo vegetativo das fruteiras e obviamente o da macieira, opinião sustentada por Sousa (2007) que acrescenta ser nesta fase que a produção se começa a definir (Figura 4).

Se 5% a 10% das flores formadas produzirem fruto, já se obtém uma boa produção final. Considerando porém o facto de muitos frutos poderem cair, por causas naturais ou não, a

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Figura 4 – Flor de macieira e fruto (Fonte: Evangelista, 2011)

2.1.3 - Floração e polinização

Segundo Abdelhamid et al. (1984) os primeiros registos sobre polinização datam de 2000 anos a.C.. Bozzini (1979) citado pelo mesmo autor referiu que o insucesso das colheitas era atribuído a vários factores, nomeadamente a práticas culturais, falta de nutrientes, questões climáticas, doenças e predadores. A polinização e suas condicionantes raramente eram referidas.

O facto é que a floração da macieira e a polinização estão intimamente ligadas e do seu sucesso depende a produção do pomar. Em climas temperados, a maior parte das espécies e variedades de árvores de fruto precisam de uma eficaz polinização, para produzirem boas colheitas (Ribaflor, 2011).

Do ponto de vista botânico a polinização é o transporte do grão do pólen desde as anteras dos estames até ao estigma do pistilo. A fecundação é a união do gâmeta masculino (pólen) com o gâmeta feminino (óvulo) resultando o ovo (semente). A fecundação ocorre quando o grão de pólen, após se ter fixado no estigma e desenvolvido um tubo polínico através do estilete, alcança o óvulo, fundindo-se e formando o ovo no interior do ovário (Sousa, 2007).

Algumas cultivares produzem os seus frutos quando polinizadas com o seu pólen (autopolinização) e outras são parcialmente autoférteis. Como exemplo, o morangueiro, ameixeira, pereira, macieira e mirtilo são espécies fruteiras que necessitam de polinização cruzada, com pólen de outra variedade, para produzir em quantidade e qualidade (Ribaflor, 2011).

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A polinização cruzada é a transferência dos grãos de pólen da antera de uma flor para o estigma de outra flor da mesma espécie, mas de cultivares diferentes. Neste caso, a polinização cruzada pode ser chamada também de alogamia (Universidade Federal de Viçosa, 2011). A flor da macieira é hermafrodita e com forte tendência para a alogamia (Trillot et al., 2002). Para obter produções competitivas é necessário que o pólen fecundante provenha de outra cultivar, ou seja, tem de existir polinização cruzada (Sousa, 2007).

A velocidade de crescimento do tubo polínico é de grande importância. Os óvulos maduros tem um período de vida limitado e a fertilização destes pelos gâmetas masculinos tem de ocorrer ao longo desse período para assegurar a fecundação. O período de polinização efectiva calcula-se subtraindo ao número de dias de longevidade do óvulo o número de dias que o tubo polínico necessita para alcançar o saco embrionário (Sousa, 2007).

Na macieira, a longevidade do óvulo é de 10 a 15 dias. O tempo de desenvolvimento do tubo polínico também varia de 1 a 3 dias até 5 a 7 dias (Sousa, 2007), contudo Trillot et al. (2002) referem entre 2 a 8 dias e de uma maneira geral a receptividade dos estigmas começa 1 a 2 dias após a abertura da flor e dura 6 a 8 dias. Uma polinização tardia pode impedir que os grãos de pólen alcancem o saco embrionário quando este está receptivo, impedindo assim a fecundação do óvulo (Sousa, 2007).

A polinização é afectada pelas condições ambientais, principalmente, a temperatura e a humidade. Em macieiras a germinação do pólen dura 6 dias a 10ºC e somente 3 dias a 20ºC. A 5ºC o pólen não germina. Temperaturas extremas também podem dar lugar a pólen estéril (Sousa, 2007). Além disso, também induzem um efeito secante sobre os tecidos da flor e em especial do pequeno fruto (Carvalhão, 2005). Trillot et al. (2002) referem 20ºC como temperatura óptima e aos 11ºC são necessários 4 a 6 dias para se efectuar a polinização.

Contudo, e sempre que não se alcançam temperaturas de geada, são preferíveis os ventos frios, porque a baixa temperatura só provoca um leve efeito secante e não degrada a flor, mantendo-se viável para ser polinizada. Ao contrário, os ventos fortes e quentes são aqueles que na opinião de vários autores têm um efeito devastador sobre a frutificação (Carvalhão, 2005). A humidade também tem consequências muito negativas para a frutificação. Na plena floração a chuva intensa arrasta os grãos de pólen, opinião apoiada por Carvalhão (2005) quando referiu que a chuva provoca um efeito de lavagem do pólen depositado sobre o estigma e também das secreções estigmáticas responsáveis pela germinação do pólen, inibindo a emissão do tubo polínico.

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2.1.4 – Polinização e qualidade dos frutos

A qualidade dos frutos está intimamente relacionada com a polinização. Segundo Thomson & Goodell (2001) citados por Batista et al. (s/d), não existem dúvidas de que a quantidade de frutos produzidos e a sua qualidade são afectados quando se verificam condições inadequadas de polinização.

De acordo com Carvalhão (2005), uma adequada polinização induz um crescimento regular de todos os frutos, obtendo-se calibres homogéneos e maturação simultânea. Um fruto com grande quantidade de sementes possui maior calibre e peso, menor extensão de rugosidade na epiderme (carepa) e forma mais regular.

Os frutos cujas flores são visitadas adequadamente pelas abelhas são mais pesados, menos ácidos e com maior número de sementes (Souza, Evangelista-Rodrigues & Pinto, 2007).

Durante a conservação, um fruto com maior número de sementes tende a perder menos água e, também, uma menor incidência de Bitter-pit, melhorando por conseguinte a conservação. Herrero (1992), citado por Carvalhão (2005), relatou que o aumento do peso dos frutos é directamente proporcional ao aumento do número de sementes por fruto.

Marceau et al. (1998) demonstraram que maçãs com maior número de sementes eram maiores, mais vermelhas e menos deformadas. Além de melhorar a qualidade da fruta, os resultados indicaram que a conservação é tanto melhor quanto maior o número de sementes.

Considerando que a conservação dos frutos pós-colheita é uma das principais preocupações da comercialização, o trabalho desenvolvido por Marceau et al. (1998) demonstrou que a taxa de polinização melhora a conservação a curto prazo (3 meses). Também confirmou a importância da polinização, não só nas características originais da fruta, mas também na conservação pós-colheita.

Os frutos sem sementes ou com poucas sementes, são mais susceptíveis ao desprendimento das árvores e a cair no chão, principalmente logo a seguir à queda das pétalas, quando há uma forte competição entre os frutos, os ramos e as raízes em crescimento (Soares, Silva & Alexandre, 2001).

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2.1.5 - Agentes polinizadores

As plantas não podem locomover-se em busca de parceiros sexuais e têm que depender de agentes abióticos e bióticos para alcançarem a polinização, particularmente na polinização cruzada. Esses agentes, designados por “agentes polinizadores”, são o vento, a água e muitos animais distintos como, por exemplo, morcegos, pássaros e insectos. Os insectos são indubitavelmente os polinizadores mais importantes em termos do número de espécies de plantas que dependem deles para obter a polinização. Acredita-se que eles sejam responsáveis pela polinização de 86% de todas as plantações comerciais de frutas e de sementes (Freitas, 2010).

O trabalho ecológico de polinização levado a cabo por uma vasta gama de

organismos, quer sejam insectos, aves ou mamíferos, possibilita benefícios

económicos e ambientais de valor incalculável para a humanidade e natureza que a

rodeia (Batista

et al

., s/d).

Quase 90% das plantas dependem dos animais polinizadores para a sua fertilização, e cerca de 200 000 espécies de animais agem como polinizadores. Destes, 1 000 são beija-flores, morcegos e pequenos mamíferos, como ratos. Tudo o resto são insectos como besouros, abelhas, formigas, vespas, borboletas e mariposas (Hilton Pond Center, 2003).

Segundo o autor, pequenos besouros esbarram nos estames das flores que depositam o seu pólen nas diferentes partes do seu corpo. As borboletas e mariposas também transportam o pólen (Figura 5).

Alguns morcegos estão adaptados para recolher o pólen de diversas plantas, como a espécie Musonycteris harrisonii, conhecida como Morcego Banana. Para a FAO (2008) os morcegos desempenham um papel importante na polinização, estando registada a sua utilidade na polinização de 500 espécies de plantas tropicais.

No entanto, os morcegos são extremamente vulneráveis aos impactos humanos e, actualmente, 22% das espécies estão ameaçadas e outras 23% em quase ameaça. Também os beija-flores são peças chave na polinização de muitas plantas nativas e contribuem para a polinização de algumas espécies fruteiras, como a papaia e o quiabo. Os beija-flores possuem um bico perfeitamente adaptado às plantas de forma tubular (Hilton Pond Center, 2003).

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Figura 5 – Borboleta na flor de luzerna

Existem em regiões tropicais cerca de 42 famílias de dípteros polinizadores e 30 delas são moscas. As moscas são maiores e mais robustas, o que facilita o contacto com os grãos de pólen. A polinização dá-se principalmente com a ajuda do labelo, superfície húmida e sem pêlos, na extremidade da probóscide, à qual os grãos de pólen aderem com frequência. Em visitas sucessivas, o pólen é transferido para outras flores (Souza Silva, Fontenelle & Martins, 2001). Contudo, a FAO (2008) considera que é difícil de relacionar o papel destes insectos na polinização, atendendo que os impactos sobre a biodiversidade também atingem negativamente a população de moscas. Os sirfideos, conhecidos predadores de afídeos, também exercem funções polinizadoras quando visitam as flores.

Apesar de existir um grande número de agentes polinizadores, as abelhas surgem como o principal insecto polinizador. A sua existência remonta, segundo Praz (2011), ao tempo dos dinossauros, há 100 milhões de anos atrás. O autor sustenta que o aparecimento de plantas com flores, há aproximadamente 150 milhões de anos, deu origem à grande diversificação do número de insectos que começaram a alimentar-se de pólen. Antes só havia coníferas e arbustos que se reproduziam por esporos.

No século XVIII, um botânico alemão descobriu que insectos transportavam pólen de umas flores para as outras, participando activamente no processo da polinização. Entre os insectos polinizadores destacava-se a abelha por contribuir para a polinização de inúmeras espécies cultivadas (Abdelhamid et al., 1984).

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As abelhas são os principais agentes polinizadores dos vegetais e em troca os vegetais produzem substâncias adocicadas que as atraem, levando nos seus pêlos o pólen dessa planta. O pólen é importante para o desenvolvimento da colmeia, pois é a principal fonte de proteínas que garante o desenvolvimento das colónias e estas, por sua vez, perpetuam a espécie vegetal (Souza, Evangelista-Rodrigues & Pinto, 2007). Alguns factores podem afectar a actividade das abelhas, como a temperatura, vento e precipitação.

Segundo Sousa (2007), o efeito da temperatura afecta directamente a actividade das abelhas, cuja actividade é máxima a temperaturas médias de 20ºC a 22ºC. O autor Tasei (1975) citado por Abdelhamid et al. (1984) referiu a eficácia superior dos polinizadores a temperaturas acima dos 18ºC, sendo a sua actividade nula abaixo dos 7ºC e mediana entre os 7ºC e 14ºC. Bretaudeau (1979), citado pelo mesmo autor, referiu que o óptimo se verifica a temperaturas na ordem dos 21ºC, em que 10 a 15 flores são visitadas por minuto.

Para além da temperatura, o vento também condiciona a actividade dos polinizadores. Velocidades acima dos 30 Km/hora dificultam a actividade das abelhas (Abdelhamid et al., 1984). A chuva também impede a saída das abelhas, condicionando a polinização cruzada.

A população de abelhas domésticas desempenha um papel importante tanto na polinização, como na produção de mel e de outros produtos apícolas (Comissão Europeia, 2010), sendo o único insecto domesticado pelo Homem (Praz, 2011). Contudo, fruto de uma selecção secular, a abelha doméstica é apenas uma das 20 mil espécies conhecidas no Mundo, das quais aproximadamente 2 500 se encontram na Europa (Praz, 2011).

2.1.5.1 - Polinizadores em macieira

A eficácia da polinização depende, essencialmente, da qualidade do pólen das variedades polinizadoras e da presença de vectores de pólen – abelhas (Trillot et al., 2002).

Na medida em que para as diferentes cultivares a floração não é simultânea, torna-se necessário dispor de um número suficiente de árvores polinizadoras, que possam florescer ao mesmo tempo que a cultivar principal. A disposição espacial no pomar das polinizadoras em relação às polinizadas, também constitui um aspecto essencial para que a polinização possa ser bem sucedida (Batista et al, s/d).

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Os principais vectores de pólen na macieira são as abelhas domésticas que constituem 60% a 95% da fauna polinizadora. As abelhas visitam entre 6 a 15 flores por minuto e os abelhões, 15 a 20 flores por minuto (Trillot et al., 2002). Os produtores de maçã tentam resolver o problema, dispondo de um número suficiente de polinizadoras e recorrendo frequentemente à introdução de colmeias no pomar (Batista et al., s/d). Recomenda-se a colocação de 4 colmeias por hectare para garantir uma boa polinização (Trillot et al., 2002).

As abelhas domésticas são consideradas os polinizadores ideais devido à sua capacidade de produzir milhares de indivíduos por colmeia, associado ao facto de serem transportáveis de pomar em pomar durante o período de floração. São polinizadores especializados e amplamente distribuídos nos ecossistemas agrários.

Contudo, as abelhas domésticas não são os únicos agentes polinizadores da macieira. Também as abelhas selvagens são agentes polinizadores conhecidos pela sua eficiência na polinização de maçãs (Dantforth, s/d). O autor, citando Losey & Vaughn (2006), refere que a importância económica dos seus serviços de polinização está estimada em 3,07 biliões de dólares. Em macieira a sua importância ronda os 158 milhões por ano.

Segundo Gardner & Ascher (2006) citados por Dantforth (s/d), existem mais de 30 espécies de abelhas selvagens a visitarem os pomares de macieira durante a floração. Foram identificadas as espécies Osmia sp. e Andrena sp. que possuem uma eficiência superior às abelhas domésticas. Parker et al. (1987), citados pelo mesmo autor, referem que no Japão a espécie selvagem Osmia cornifrons é utilizada nos pomares de macieira. Uma fêmea é responsável pela polinização de 2 450 flores por dia, ficando a abelha doméstica muito aquém dessa meta, dado que só poliniza 80 flores por dia.

Park, Losey & Danforth (2011), compararam a eficiência da abelha selvagem dominante nos pomares da região de Nova Iorque, Andrena sub-género Melandrena, com a abelha doméstica. O estudo concluiu que a abelha selvagem deposita nas flores uma quantidade de pólen três vezes superior à abelha doméstica. Foi o agente polinizador mais representativo em 70% dos pomares amostrados, sendo registado também um maior número de flores visitadas. Estes resultados fazem jus à designação “super-polinizadoras” atribuída pela National Wildlife Federation.

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De acordo com Park, Losey & Danforth (2011) outras espécies foram identificadas nos pomares dos Estados Unidos, como Osmia lignaria, Colletes (Batra 1980), Bombus (Heinrich 1979), Andrena (Schrader & LaBerge 1978, Osgood 1989). Igualmente Trillot et al. (2002) mencionaram as espécies Andrena nitida, Andrena gravida, Andrena carantonica, Halictus sp., Osmia rufa e Osmia cornuta.

Entre 2008 e 2009, Danforth desenvolveu um estudo que permitiu identificar as espécies de abelhas presentes nos pomares de macieira da região de Finger Lakes, nos Estados Unidos. Deste trabalho resulta uma lista de espécies pertencentes às famílias Andrenidae, Apidae, Colletidae, Halictidae e Megachilidae (Figura 6 e 7).

Figura 6 – Abelha selvagem da família Halictidae e sub-família Rophitinae visita regular de espécies

do género Convolvulus L.

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2.1.6 - Declínio das populações de insectos polinizadores

Nos últimos anos, registou-se um aumento da mortalidade das abelhas domésticas, tanto na Europa como fora dela, o que suscitou sérias preocupações em todo o mundo (Comissão Europeia, 2010).

O alarme soou nos EUA em 2006, com a devastação da indústria de abelhas domésticas, desde logo conhecido como "Colony Collapse Disorder" (CCD) (Bee Doc, 2011). No último trimestre desse ano, verificou-se o inicio do abandono das colónias de abelhas, atingindo, em 2007 e 2008, níveis variáveis entre 70% a 90%, com a redução média de 30% a 35% da produção de mel em 35 Estados (Amaro, 2009).

Em Portugal é designado por Sindroma do Despovoamento de Colónias de Abelhas e é caracterizado pelo sintoma típico e inédito de colapso das colónias das abelhas, traduzido pelo abandono das colmeias pela maioria da população de adultos, sem evidência de abelhas mortas na proximidade das colmeias. Mantêm-se a presença de larvas e de um pequeno grupo de adultos junto da rainha, além das reservas de pólen e de néctar (Amaro, 2009).

Em 2007, alguns apicultores, perderam 90% das colmeias, embora a média nacional tivesse sido de 31%. Entre Setembro de 2007 a Março de 2008, desapareceram 36% das abelhas. Actualmente o número de colmeias é metade das existentes há 70 anos (Silva, 2008).

Em todos os continentes, excepto na Antárctica, há registos de redução de populações de polinizadores, em pelo menos uma região. Nos Estados Unidos o número de colmeias de abelhas domésticas decresceu, de 5,9 milhões em 1940 para 1,9 milhões em 1996. A mesma situação se registou em vários locais da Itália, Áustria, França, Alemanha, Holanda, Suécia e Hungria. Registos se sucederam relativamente a outras espécies, a Apis laboriosa no Nepal, um declínio drástico de populações de abelhões na Grã-Bretanha, Bélgica e Alemanha e de abelhas selvagens na Alemanha e Grã-Bretanha (FAO, 2008).

A Comissão das Comunidades Europeias (2010a) referiu que na década passada, o sector apícola, em diferentes países no mundo inteiro, foi afectado por diversos problemas de saúde. O desaparecimento das abelhas tem sido alvo de investigação intensiva por parte da comunidade científica (Silva, 2008) e, segundo Amaro (2009), a ausência das abelhas mortas tem dificultado o estudo das causas do CCD.

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Vários factores têm sido apontados como causas do declínio das populações de insectos polinizadores, mas no final do ano de 2010 a Comissão Europeia referiu que os estudos científicos ainda não tinham conseguido determinar a causa exacta ou a gravidade desse fenómeno. Também nos Estados Unidos, apesar dos esforços de pesquisa investidos, nenhum agente único ou factor emergiu como a causa definitiva do fenómeno (BEE DOC, 2011).

2.1.6.1 - Possíveis causas

O documento intitulado «Bee mortality and bee surveillance in Europe» publicado em 2009 pela EFSA (European Food Safety Authority), sugere que há muitos factores envolvidos na diminuição dos efectivos apícolas. Foram apontadas as doenças e pragas das abelhas, o envenenamento por pesticidas, o impacto de culturas geneticamente modificadas, o stress associado a mudanças de nutrição e condições climáticas (Figura 8).

O mesmo documento refere que há um consenso entre a comunidade científica de que é provável que a causa da perda de colónias na Europa e nos Estados Unidos é multi-factorial. A mesma opinião surge na BEE DOC (Bees in Europe & the Decline of Honeybee Colonies) que sugere um conjunto de causas associadas a parasitas, vírus e pesticidas.

.

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Também Amaro (2009) refere um conjunto de causas que se admite poderem actuar em conjunto ou por interacção:

 Predadores (ex. ácaro varroa);

Parasitas (ex. protozoário Nosema ceranae; Vírus IAPV);

 Deficiência na nutrição das abelhas;

 Stresses ambientais relacionados com o transporte de colmeias, o excesso de população ou outros de natureza ambiental ou biológica;

 Pesticidas e seus resíduos no néctar, pólen, água e efeitos cumulativos de doses subletais de diversos pesticidas (ex. neonicotinóides e piretróides), incluindo os usados no tratamento do varroa.

É frequente a referência a outras hipóteses, como os organismos geneticamente modificados e as radiações electromagnéticas dos telemóveis.

No que respeita aos Organismos Geneticamente Modificados (OGM), não foi encontrada, até agora, nenhuma prova que permita relacionar esses organismos e a saúde das abelhas (Comissão Europeia, 2010a). Não foi relatada nenhuma diferença entre as áreas em que os OGM são amplamente cultivados (Américas) e as áreas em que os OGM são muito menos comuns (Europa), ou mesmo nos Estados-Membros da UE onde o seu cultivo foi proibido. Esta situação não apoia a hipótese de o aumento da mortalidade das abelhas estar relacionado com o aumento do cultivo de OGM.

Alguns investigadores sustentam que as micro-ondas emitidas pelos telemóveis têm afectado o sentido de orientação das abelhas e são responsáveis pela queda repentina da população mundial destes insectos. Uma pesquisa levada a cabo por Daniel Favre, do Instituto Federal de Tecnologia da Suíça, concluiu que os telemóveis podem ser a razão para esta diminuição. O estudo, realizado em 2009, concluiu que os sinais electromagnéticos emitidos pelos telemóveis afastam as abelhas das colmeias e chegam mesmo a matá-las. O aparelho emite um barulho durante as ligações que as confunde, fazendo com que voem de maneira desordenada e, a seguir, morram repentinamente (TVnet, 2011).

No documento publicado, em Dezembro de 2010, pela Comissão do Parlamento Europeu relativa à saúde das abelhas, foram identificados e esclarecidas as questões essenciais relacionadas com a saúde das abelhas, bem como as acções essenciais que a Comissão tenciona adoptar para as resolver.

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A Comissão Europeia (2010a) afirma que a saúde das abelhas está aliada a muitos factores, uns de natureza biológica, bacteriana, viral, parasitária, etc., e outros, de natureza diversa tais como a disponibilidade de tratamentos adequados, espécies invasivas e mudanças ambientais. Outros factores a considerar incluem a utilização de pesticidas na agricultura, a fim de clarificar, pelo menos, em que medida podem desempenhar um papel negativo na saúde das abelhas. Entretanto, as abelhas estão a morrer e ninguém sabe porquê.

Práticas de manutenção

As práticas de manutenção e conservação das colmeias surgem associadas ao stress causado às colónias. Deste modo, más práticas, como a densidade e idade das colmeias, nutrição insuficiente e condições de migração, conduzem ao enfraquecimento das populações, contribuindo para um aumento da sua vulnerabilidade a outros factores externos.

Factores Biológicos

Uma série de agentes biológicos estão identificados como responsáveis pela destruição de colmeias. Os vírus são os agentes mais frequentemente mencionados, pois existem mais de 15 vírus diferentes conhecidos por infectar abelhas. Dos oito vírus citados na literatura, o IAPV é o mais frequentemente mencionado, e alguns cientistas consideram-no como uma das causas do CCD nos Estados Unidos.

A entomóloga Diana Cox-Foster apontou como principal suspeito o IAPV, um vírus descoberto em Israel em 2004. Os pesquisadores recorreram à sequenciação genética dos microrganismos encontrados nos intestinos de abelhas recolhidas em colmeias afectadas e colmeias «sãs» durante um período de três anos (Silva, 2008).

O IAPV foi o único microrganismo presente em quase todas as amostras extraídas de colmeias afectadas. Contudo, Jeffery Pettis, entomólogo americano do Ministério da Agricultura e outro dos autores do estudo publicado na revista Science, explicou na altura que «esta pesquisa revela uma boa pista, mas é pouco provável que o IAPV seja a única causa» (Silva, 2008).

A Varroa, Nosema sp. e Acarapis woodi também são agentes biológicos que causam inúmeros distúrbios nas colmeias. Cameron et al. (2011) referem um decréscimo de 96% nas populações de quatro espécies de abelhões nos Estados Unidos. As populações apresentavam elevados níveis do parasita Nosema bombi e uma baixa diversidade genética.

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Segundo Praz (2011), estes problemas são resultado de uma má selecção da espécie, pois durante centenas de anos, foram seleccionadas em função da docilidade e não em função da resistência a pragas e doenças. Optimista, o autor refere que devemos deixar a Natureza mudar os critérios de selecção para obter uma espécie mais resistente, pois existem abelhas muito próximas da abelha doméstica vivendo em estado selvagem em certos países da Ásia, que são muito agressivas e essas abelhas tornaram-se resistentes ao varroa. Em algum lugar, um grupo de abelhas domésticas vai descobrir esta técnica dentro da espécie para seleccionar as mais resistentes.

Factores Químicos

A comunidade científica encontra-se dividida sobre o impacto dos pesticidas na morte das abelhas. A controvérsia tem sido gerada em torno dos insecticidas da família dos neocotinóides, em particular, das substâncias activas imidaclopride, clotianidina e fipronil (EFSA, 2009).

Segundo Amaro (2009), desde 1994 que em França o uso do produto Gaúcho, à base de imidaclopride, utilizado no tratamento de sementes de girassol, levou à suspeita de ser a causa da morte das abelhas. Desde então, a controvérsia manteve-se, envolvendo várias entidades governamentais e privadas.

Em 2001 e 2002 foi proibida a sua utilização no tratamento de sementes de girassol e milho. Durante esse processo também foram suspensas as substâncias fipronil e clotianidina.

Em 2008, na Alemanha, também foram proibidos 8 insecticidas indicados para o tratamento de sementes da família química dos neocotinóides. Esta suspensão teve como causas os prejuízos causados na Alemanha do Sul. A mesma situação se verificou na Itália com o cancelamento das substâncias clotiadinina, imidaclopride, tiametoxame, fenilpirazol e fiprodinil. Nesse mesmo ano também foi proibido o uso da clotidianida e imadaclopride.

Presentemente, são conhecidas as insuficiências relativas aos actuais critérios de classificação toxicológica dos pesticidas para as abelhas, com excessiva e, por vezes, única referência à toxicidade aguda e mais raramente ao coeficiente de perigo.

Porém, só após a conclusão da revisão das Regras da Ecotoxicologia Terrestre, pela EFSA, é que será atribuída a devida importância à toxicidade crónica, aos efeitos nas larvas das abelhas, ao comportamento das abelhas e à sobrevivência e ao desenvolvimento das colónias após o uso dos pesticidas (Amaro & Godinho, 2011).

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Factores ambientais

A Comissão Europeia (2010a), relata que a saúde das abelhas também é afectada pela perda de biodiversidade. A falta de biodiversidade induz um stress nutricional sobre as abelhas devido ao deficit quantitativo e qualitativo de pólen (EFSA, 2009).

Uma das principais causas directas da perda de biodiversidade é a mudança da utilização dos solos e a intensificação mal gerida, por um lado, e o abandono da terra, por outro, assim como a perda das práticas agrícolas e silvícolas tradicionais, que frequentemente geraram habitats ricos de espécies. A perda e fragmentação de habitats, a poluição e os organismos patogénicos são alguns dos potenciais factores por detrás desta tendência (Comissão Europeia, 2010a).

Outro factor pode ser a perturbação do calendário de polinização devida às alterações climáticas (Comissão Europeia, 2010a). As alterações climáticas têm influência sobre o meio ambiente, provocando alterações comportamentais das colónias (EFSA, 2009).

A espécie Melipona beecheii existente no México também foi devastada, sendo as causas atribuídas à desflorestação, competição com a espécie africana de Apis mellifera L., estragos causados por furacões e diminuição dos apoios aos agricultores (FAO, 2008).

2.1.7 - Biodiversidade agrícola

De acordo com o plano de acção, em matéria de biodiversidade para o sector agrícola, aprovado pela Comissão das Comunidades Europeias (CCE), publicado em 27 de Março de 2001, considera-se essencial traçar medidas que visam a “estratégia comunitária para

prever, prevenir e erradicar as causas da redução significativa ou perda de biodiversidade”.

Segundo o definido pela Convenção sobre a Diversidade Biológica e pela Estratégia Pan -Europeia de Diversidade Biológica e Paisagística, o conceito de biodiversidade não se resume à questão dos recursos genéticos ou à conservação das espécies ameaçadas. Deste modo, a biodiversidade inclui a diversidade da vida e dos seus processos (Comissão das Comunidades Europeias, 2001).

É reconhecido que a sustentabilidade da conservação da biodiversidade não é simplesmente uma questão de conservação, mas também a conservação de suas interações e ligações, o que tem sido chamado de "a conservação da biodiversidade interativa" (FAO, 2010).

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Segundo a Comissão das Comunidades Europeias (2001) a biodiversidade é reconhecida a três níveis:

Diversidade genética – variedade dos constituintes genéticos encontrados em cada um dos representantes de uma espécie;

Diversidade de espécies – variedade de organismos vivos que se encontram num determinado lugar;

Diversidade de ecossistemas – variedade de espécies, funções e processos ecológicos, tanto em espécie como em número, que surgem em diversos contextos físicos.

Surge assim uma estratégia global para a agricultura onde se pretende, através de instrumentos apropriados, abranger os três principais domínios da biodiversidade:

1. A variedade genética das plantas e animais domesticados (património genético, património natural, paisagens, etc.), que surge após anos, a maior parte das vezes séculos, de equilíbrio entre as actividades humanas e os ecossistemas naturais. 2. A biodiversidade “selvagem” (flora e fauna selvagens relacionadas com as terras

agrícolas), que a atenção especial normalmente consagrada às espécies e aos ecossistemas ameaçados de extinção não deveria fazer subestimar.

3. Os sistemas de apoio à vida (incluindo os microorganismos do solo, os polinizadores, os predadores), todos os organismos que sustentam a fertilidade e a produtividade dos agro-ecossistemas.

A biodiversidade agrícola é essencial para satisfazer as necessidades básicas humanas. A conservação nos sistemas de produção está intrinsecamente ligada a uma utilização sustentável dos recursos. A agricultura sustentável significa que os sistemas de exploração agrícola devem manter-se produtivos a longo prazo, sob uma série de pontos de vista: biológico, económico e social, e não apenas do ponto de vista ecológico (Comissão das Comunidades Europeias, 2001).

O ambiente rural é, antes de mais, um meio vivo onde a fauna, a flora, os habitats e as actividades agrícolas têm evoluído de forma interdependente. Ao longo dos séculos desenvolveu-se uma verdadeira simbiose: a manutenção de várias espécies e ecossistemas depende da continuação de determinadas actividades agrícolas, e a agricultura também é a primeira beneficiada pela diversidade biológica (Comissão das Comunidades Europeias, 2001).

Referências

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