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O trabalho ecológico de polinização levado a cabo por uma vasta gama de organismos, quer sejam insectos, aves ou mamíferos, possibilita benefícios

5 – DISCUSSÃO E CONCLUSÕES

O desenvolvimento do trabalho e os resultados obtidos permite afirmar que todas as práticas relativas à instalação e manutenção da mancha de vegetação semeada são de fácil execução, podendo ser adoptadas pelos agricultores, sem grande dificuldade. No entanto, numa fase inicial, é fundamental o acompanhamento pelos responsáveis técnicos de modo a aferir metodologias.

Acresce, ainda, que a presença da mancha de vegetação semeada não constituiu obstáculo à circulação de máquinas ou a outras operações culturais.

Relativamente à mancha de vegetação semeada pode-se concluir que as espécies utilizadas se revelaram bem adaptadas às condições climáticas da região do Dão, mesmo considerando os condicionalismos verificados no ano de instalação. No entanto, a escassez de informação relativamente às espécies presentes na margem condicionou o acompanhamento da mesma.

O talude mostrou ser o suporte de vida dos insectos polinizadores até à entrada em floração do pomar e da mancha de vegetação semeada. A sua localização a nascente promoveu a nidificação das abelhas selvagens. Na floração do pomar, a dinâmica dos polinizadores foi alterada, uma vez que, no pomar, a actividade polinizadora era evidente e no talude, a única espécie visitada era o tojo.

Finda a floração do pomar os polinizadores deslocaram-se para as primeira flores que começavam a surgir na mancha de vegetação semeada. A floração escalonada das diferentes espécies da mistura e outras, proporcionou-lhes um fornecimento constante de alimento.

Deste modo, julga-se que a escolha do local foi adequada, pois foram asseguradas estruturas de refúgio e fonte de alimento permanente e diferenciada, conforme o exposto pela Comissão das Comunidades Europeias (2001).

O número de insectos polinizadores foi visivelmente inferior na zona de vegetação espontânea, o que indica que as espécies presentes não foram relevantes como fonte de néctar e pólen. Por sua vez, a falta de diversidade florística na zona de vegetação espontânea revelou ser um factor limitante no ecossistema.

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A realização de duas observações a horas distintas mostrou que os factores climáticos são determinantes na acção dos insectos polinizadores. O número registado às 11:00 horas, com céu nublado, vento e a 13,5ºC de temperatura, foi claramente inferior ao registado às 15:00 horas, com céu limpo, sem vento e com temperaturas de 16ºC. Conforme o referido por Abdelhamid et al. (1984) a eficiência dos polinizadores é mediana entre os 7ºC e 14ºC, sendo mais eficaz a temperaturas superiores.

A monitorização de polinizadores na floração do pomar permitiu observar a presença de outros insectos para além das abelhas domésticas. De realçar a presença de abelhas selvagens, abelhões e “bee-flies”, insectos que também desempenham um papel de extrema relevância em todo o processo da polinização. Contudo a sua acção não foi quantificada, sendo esta uma linha de trabalho a desenvolver em futuros estudos, bem como proceder à identificação das espécies presentes.

Comparando as parcelas A e B o número de polinizadores foi superior na parcela A, localizada junto à mancha de vegetação semeada e talude.

Também foi possível relacionar o insecto polinizador e sua apetência para as espécies existentes. Por exemplo, os abelhões eram frequentemente vistos nos trevos e as abelhas selvagens na luzerna e serradela. Independentemente das espécies presentes, a actuação dos polinizadores manteve-se, sendo esta a garantia de que a fonte de alimento constituiu um factor essencial para a sua fixação no local.

Para esta constatação contribuiu o observado noutra área monitorizada, onde a escassez de alimento, originada pela menor diversidade florística da mancha semeada e destruição da zona de vegetação espontânea, potenciou a dispersão dos polinizadores.

O protocolo, resultante da aferição de métodos desenvolvidos por outros parceiros internacionais, pretendendo uniformizar e simplificar as metodologias de observação, revelou estar bem adaptado às diferentes culturas e misturas, em que é utilizado. Contudo, a sua implementação requer um acompanhamento sequenciado, de modo a aferir os procedimentos aí constantes. A sua aplicação por parte dos agricultores e técnicos pode ser condicionada pela especificidade de algumas observações, nomeadamente, na identificação e classificação de plantas e insectos polinizadores.

Relativamente ao pomar verificou-se um desfasamento do período de floração, entre a cultivar e a polinizadora, o que poderá ter afectado o vingamento dos frutos.

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Em ambas as parcelas, foi registado um número de flores inferior na modalidade “polinizada”. Após o vingamento, o número de frutos foi visivelmente superior na parcela A, resultado considerado estatisticamente significativo.

Quanto aos resultados por quadrante, obteve-se um maior número de flores nos quadrantes Este e Oeste, mas o número de frutos vingados foi mais elevado nos quadrantes Norte e Sul. Esta situação poderá estar relacionada com a orientação das linhas de plantação que favorece a deslocação dos insectos ao longo da linha.

Na parcela B o número dos frutos por quadrante foi superior no quadrante Oeste, o mesmo se verificando em todas as repetições, enquanto na parcela A, os frutos se repartiram em número idêntico por todos os quadrantes.

À colheita, os frutos observados corresponderam à totalidade dos frutos obtidos por cada repetição e parcela. A reduzida quantidade de frutos não permitiu uma análise por quadrante, conforme objectivo inicialmente definido. Tal facto deveu-se à monda manual, realizada pelo produtor e ao vento intenso próximo da colheita que favoreceu a queda dos frutos.

A produção foi superior na parcela A sendo também mais homogénea. No entanto, o facto de não se ter obtido produção nas repetições 2 e 3 na parcela B, condicionou o tratamento dos dados.

Quanto a peso médio e número de sementes é possível estabelecer a relação referida por Herrero (1992), citada por Carvalhão (2005), quando mencionou que o aumento de peso é directamente proporcional ao número de sementes por fruto. Esta relação foi observada na parcela A, onde os frutos continham um número de sementes e peso superiores.

Na mesma parcela também se observaram calibres superiores e mais homogéneos, onde a sua ligação com o número de sementes é fundamentada por Carvalhão (2005) e Marceau et al. (1998).

A polpa também revelou maior dureza na parcela A, factor que adquire especial relevância na conservação, considerando que é uma das principais preocupações da comercialização (Marceau et al., 1998). O teor em açúcares também foi mais elevado nos frutos da parcela A.

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No que se refere à acidez total, a tendência foi inversa nos frutos da parcela A, ou seja, os frutos da parcela B revelaram um maior índice de acidez, situação que vem ao encontro do referido por Sousa, Evangelista & Pinto (2007) quando afirmaram que os frutos resultantes de frutos adequadamente visitados pelos polinizadores são menos ácidos.

Embora estas diferenças não se tenham revelado estatisticamente significativas, não deixa de ser assinalável a mais-valia ofertada pelos polinizadores totalmente em simbiose com o talude, pomar e mancha de vegetação semeada. Numa fase inicial, a disponibilidade de alimento e abrigo fornecido pelo talude foi essencial na fixação dos insectos polinizadores. Essa garantia também foi dada pela mancha de vegetação semeada, que após a floração do pomar, permitiu um fornecimento constante de pólen e néctar. O sucesso desta união espelhou-se na produção obtida que revelou ser superior na parcela A, a nível quantitativo e qualitativo.

Considerando a comercialização da maçã a 0,50 €/kilo, o valor obtido num hectare, seria de 3330 €, na parcela A, e 1475 €, na parcela B. Podemos referir que o contributo dos polinizadores foi de 1855 €/ha, sendo este o valor referente aos serviços de polinização prestados, conforme descrito por Dantforth (s/d) e pela FAO (2009).

A implementação deste projecto ou outros de natureza semelhante, representa uma mais- valia indiscutível para o fruticultor que assegura a obtenção de frutos com qualidade superior e contribui para a sustentabilidade do ecossistema do pomar, em particular na preservação dos insectos polinizadores.

Contudo, a obtenção de elementos credíveis em fruticultura é morosa, sendo necessários quatro a cinco anos de registos para aferir a validade dos resultados, pelo que será benéfico a continuação das observações nos anos seguintes e melhorar alguns aspectos do delineamento experimental do trabalho, nomeadamente, a introdução de uma parcela padrão que nos permita fazer uma comparação entre mancha semeada e mancha de vegetação espontânea, a quantificação do número de flores visitadas pelos polinizadores e a identificação das espécies selvagens presentes.

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