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Do Alcool : sua acção physiologica e seu emprego no tratamento das doenças agudas e no curativo das feridas

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7 ^ ^w,

DO ALCOOL

SUA ACÇÃO PHYSIOLOG1GA E SEU EMPREGO NO TRATAMENTO

DAS DOENÇAS AGUDAS E NO CURATIVO DAS FERIDAS

DISSERTAÇÃO INAUGURAL

PARA

Acto Grande

APRESENTADA Á

iscou iiBisMMiiisá m mm

JMBA SER DCFESDIOA

S08 A PRESIDÊNCIA

DO

ILL.™ E EXC.m° SNR.

ovmiomla xoxuawiivn) An) olvWacii Vsxu^oi

POR

ANTONIO AUGUSTO DA COSTA SAMPAIO

PORTO

IMPRENSA POPULAR DE MATTOS CARVALHO 4 VIEIRA PAIVA 67, Rua do Bomjardim, 69

1873

(2)

ESCOLA MEDICO-CIRURGICA DO PORTO

D I R E C T O R 0 ILL."10 E EXC.mo SNR.

CONSELHEIRO MANOEL MARIA DA COSTA LEITE

S E C R E T A R I O O ILL.™0 E EXC.m0 SNR. JOSÉ JOAQUIM DA SILVA AMADO

CORPO CATHEDRATICO

L E N T E S P R O P R I E T Á R I O S

OS i n . .m 0 ! E EXC.m o s E SNBS.

1.* CADEIRA—Anatomia descriptiva e João Pereira Dias Lebre, gorai

2." CADEIRA—Physiologia Dr. José Carlos Lopes Junior. 3.* CADEIBA—Historianatu ral dos

me-dicamentos. Materia medica João Xavier d'Oliveira Barros. 4.* CADEIBA—Pathologia externa e

Thcrapentica externa Illidio Ayres Pereira do Valle. 5.* CADEIRA—Medicina operatória... Pedro Augusto Dias. 6.* CADEIRA—Partos, moléstias das

mulheres de parto e dos

recem-nascidos José Joaquim da Silva Amado. 7.'

CADEIRA—Pathologiaintcma.The-rapentica interna.Historia medica. José d'Andrade Gramaxo. 8.a CADEIRA—Clinica medica Antonio d'Oliveira Monteiro.

9.a CADEIRA—Clinica cirúrgica Agostinho Antonio do Souto.

10." CADEIRA—Anatomia pathologica.. Eduardo Pereira Pimenta. 11.* CADEIRA—Medicina legal.

Hygie-ne privada e publica. Toxicologia

geral Dr. José F. Ayres de Gouvêa Osório. Curso de pathologia geral Antonio Joaquim de Moraes Caldas.

L E N T E S J U B I L A D O S

Í

Dr. José Pereira Reis. Dr. Francisco Velloso da Cruz. Dr. Antonio Ferreira de Macedo Pinto.

! Antonio Bernardino d'Almeida. Luiz Pereira da Fonseca.

Conselheiro Manoel M. da Costa Leite. L E N T E S S U B S T I T U T O S

Secção medica j Vaga.

Secção cirur"ica } A n t o n i o Joaquim de Moraei Caldas.

) Vaga.

L E N T E D E M O N S T R A D O R Secção cirúrgica Vaga.

(3)

A Escola nao responde pelas doutrinas expendidas na dissertação e enun-ciadas nas proposiçSes.

(REGULAMENTO DA ESCOLA DE 23 DE ABIUL DE 1850,

(4)

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TRIBUTO DE SAUDADE

(5)

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A MEU PAE

RESPEITO E GRATIDÃO

A MEUS IRMÃOS Ë IRMÃS

AMIZADE FRATERNAL

(6)

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A MEU TIO

0 ILL."10 SNR,

JOAQUIM ESVAIO SA COSTA SAMPAIO

MEDICO-CIRORGIÃO PELA ESCOLA DO PORTO

Ao dar á estampa este meu pobre escripto não posso deixar de vencer com o pensamento a distancia que nos separa, e voar nas azas da gratidão ás terras de Santa Cruz a deposital­o em vossas mãos. Bem mesquinha é a offerta, ainda assim aceitae­a como o primeiro tributo do meu reconhecimento pelos contínuos e es­ pontâneos benefícios que me tendes prodiga­ lisado.

DO VOSSO SOBRINHO muito grito

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ANTONIO AUGUSTO DA COSTA SAMPAIO. &>

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(7)

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A EXC.m» SNR.»

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EM TESTEMUNHO OE RESPEITOS* AMIZADE E GRATIDÃO

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O AUGTOR.

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AD MEU PRESIDENTS

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Antonio Joaquim de Moraes Caldas

EM SIGNAL DE RESPEITO E DEDICAÇÃO

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AO MEU INTIMO AMIGO

O ILL.™ SNR.

KíftèanccJca eut (bajfa cxeietka

COMO PitOVA DE SINCERA AMIZADE

OFF.

(10)

INTRODUCÇÃO

As sciencias são o producto directo e natural do es-pirito do homem que obra e funcciona incessantemente, aguilhoado pela curiosidade, que lhe é propria, e pelas necessidades contínuas da vida.

r

E á custa do trabalho accumulado dos séculos que as sciencias teem feito os seus progressos; e por isso só com o decorrer dos tempos e com as tentativas porfia-das do espirito humano em procura da verdade, é que vão surgindo verdades novas e acquisições preciosas que são o fundo solido dos nossos conhecimentos.

Das tentativas surgem hypotheses, criam-se theorias, estabelecem-se systemas que muitas vezes cáhem para deixar campo a outros.

È a lei da perfectibilidade das sciencias.

E se isto tem acontecido com todas as sciencias, • ainda com aquellas cuja idéa fundamental é a mais sim-ples, a menos complexa, o que acontecerá na medicina? Aqui, no labyrintho diuturno, em que se engolpha a sciencia, devem forçosamente surgir a cada passo

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-ves embaraços, profundas hesitações e problemas inso-lúveis; e o cabedal da sciencia deve oscillar constan-temente e de mil modos com cada nova difficuldade que surge.

Sem duvida a medicina é uma das sciencias, cujo cam-po é mais vasto, e cujo assumpto é mais complicado e dif-ficil; pois que estuda o organismo humano no estado são e no de doença, e além d'isso occupa-se das influen-cias capazes, quer de manter o exercício funccional na sua regularidade, quer de o desviar d'esta regularida-de, quer finalmente de corrigir de modo favorável este desvio.

A medicina, e nomeadamente a therapeutica, não é hoje um conjuncto de preceitos e meios mysticos em que depois da sua creação scientifica, tão brilhantemente inaugurada por Hippocrates, a absorveram as ideas e aspirações supersticiosas, fomentadas pelo influxo reli-gioso. ,

Hoje, passados os tempos de lucta das escolas, os cabedaes da sciencia, aquilatados á luz das idéas mo-dernas, mal sentem o rumor que após si deixaram as idéas iatro-mecanicas de Boerhave, as idéas animistas de Stall, as seducções de Brown e as ruidosas doutri-nas de Broussais, que tão longe levaram o seu influxo.

Hoje a medicina, pronunciando um juizo austero por um critério sobremodo judicioso acerca de tudo quanto até aqui avultava na sciencia, procura recon-struir-se a par das outras, e entra segura de si na classe em que ellas se apresentam actualmente, e a que muito incontestavelmente tem jus.

E como a therapeutica é o fim ultimo da medicina e aquelle para o qual tendem todas as outras partes d'ella, como um preparatório, qualquer passo que na

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sciencia se dê, deve constantemente visar a esse fim ultimo e único, sem o que seria improfícuo e impro-ductivo.

D'aqui resalta a importância capital e fundamental da therapeutica. E sendo hoje a therapeutica tão rica de meios e agentes, todos tão importantes, o estudo mi-nucioso de cada um em especial é de si não só igual-mente importante, mas necessário e indispensável.

Além d'isso, como observa Marveau, a sciencia tem suas preferencias, segundo cadaepocha, para tal ou tal ramo da medicina; e um dos agentes therapeuticos para os quaes modernamente teem convergido as attenções e os estudos, tem sido o alcool pelo seu tríplice papel considerado na hygiene, na pathologia e na therapeu-tica.

Eis aqui, pois, a razão da preferencia d'esté agente para assumpto do presente trabalho.

No estudo que vamos emprehender não é nossa in-tenção consideral-o debaixo do tríplice ponto de vista enunciado; isso levar-nos-hia muito longe, o que seria incompatível com os estreitos limites d'um trabalho d'esta natureza.

Por isto limitaremos o nosso estudo á parte que diz respeito á therapeutica, como sendo a de mais subida importância, e dividil-o-hemos em três partes; estudando na primeira a historia e propriedades do alcool; na se-gunda a sua acção physiologica; na terceira finalmente as suas applicações therapeuticas mais importantes e o seu modo de administração.

Se é pobre e incompleto o nosso trabalho, não lhe motiva o objecto que de si presta indubitavelmente para muito.

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HISTORIA Ë PROPRIEDADES DO ALCOOL

Attribue-se geralmente a Arnaud de Villeneuve, medico que vivia em Montpellier no anno de 1300, a descoberta do alcool nos líquidos fermentados; porém é certo que os chinezes, como diz Morewood, prepararam esta substancia muito antes de ser conhecida na Asia e Africa. Além d'isso diz-se que Albucasis, medico ara-be, foi o primeiro que fallou do espirito de vinbo, em quanto que outros asseveram que a honra da descoberta pertence a Raymond Lulle.

Nada mais se sabe a respeito da historia da desco-berta do alcool.

Vejamos agora em resumo quaes são as proprieda-des principaes d'esté liquido para intelligencia do que vai seguir-se.

O alcool é um dos productos da fermentação das matérias assucaradas. No seu estado de pureza (abso-luto) tem por fórmula O H6 O2; sua densidade á

tem-peratura de 15° é de 0,794; ferve a 78°,41, sem altera-ção, á pressão ordinária, e não pôde ser solidificado pelo frio produzido nos laboratórios.

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Debaixo da influencia do oxygenio transforma-se pri-meiro em aldehyde e acido acético, e depois em acido carbónico e agua.

O alcool rectificado marca 88° a 90° centésimos; è um liquido incolor, inflammavel, e cuja fluidez não cede á do ether; contém hahitualmente agua, uma ma-teria corante, um ou muitos ethers, e um óleo volatil:

Os três gráos alcoólicos mais usados em therapeu-tica são: o alcool a 88° C , o alcool a 80° C , e o al-cool a 56° ou aguardente.

Existe completamente formado nos licores espiri-tuosos, e toma différentes nomes, segundo a natureza dos líquidos de que é extrahido: Chama-se aguardente o producto da distillação do vinho; rhum o producto dis-tillado do sueco da canna d'assucar; genebra e uhirky, as aguas ardentes de cereaes aromatisadas, etc.

No estudo que vamos encetar, limitar-nos-hemos a considerar o alcool desembaraçado das substancias com as quaes está habitualmente em relação, levando ape-nas em conta na apreciação da sua acção physiologica, a maior ou menor quantidade d'agua, que, combinada com elle, atténua os effeitos d'esté agente enérgico.

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ACÇÃO PHYSIOLOGIC* DO ALCOOL

ACÇÃO TÓPICA

Applicado na pelle intacta, o alcool produz uma sensação de frio devida á sua evaporação rápida, e em seguida um ligeiro calor acompanhado de injecção dos tecidos. N'uma solução de continuidade, n'uma mucosa ou na pelle despojada da epiderme, determina uma ir-ritação mais ou menos intensa, que se traduz por pica-das, sensação de queimadura, contracção dos capillares, pallidez da região, coagulação da serosidade e endure-cimento da superficie. A estes effeitos seguem-se como phenomenos consecutivos, a dilatação dos vasos capil-lares, calor e inflammação dos tecidos, e, segundo G-u-bler, estes podem até, quando o alcool é bastante con-centrado, ser destruidos superficialmente, formando-se uma ligeira escara.

ACÇÃO SOBRE 0 TUBO DIGESTIVO

O alcool apresenta um sabor picante, um pouco as-sucarado^ e produz na sua passagem, através da

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gar-ganta uma sensação de ardor mais ou menos dura-doura, acompanhada d'uma turgencia das papillas lin-guaes e de salivação. Em dose moderada ou diluido

em agua, o alcool actua como estimulante, e activa a secreção grastrica, pancreática e biliar, favorecendo d'esté modo a digestão.

Em dose elevada, per turba a secreção d'estes líqui-dos, coagula a pepsina e o muco estomacal, e estes ef-feitos são tanto mais notáveis quanto mais concentrado for o alcool, podendo-se até observar uma forte hype-remia da mucosa.

O alcool exerce também uma acção dissolvente so-bre as gorduras, e favorece por conseguinte a sua emulsão ulterior.

Emfim o alcool determina, por seu contacto dire-cto com a mucosa digestiva, uma acção reflexa, seguida d'uma hypercrinia do sueco gástrico e d'um augmente de energia das contracções musculares do estômago, circumstancias estas que favorecem consideravelmente o acto mecânico da digestão.

ACÇÃO SOBRE 0 SANGUE

O alcool, introduzido na economia pelo tubo diges-tivo, via mais natural e ordinária e de maior energia para a absorpção d'esté liquido, é levado á veia das portas, em seguida ao fígado e d'ahi entra na circula-ção geral. .

Pondo de parte as velhas hypotheses e theorias para explicar a acção do alcool sobre o sangue, determine-mos, em face dos trabalhos modernos emprehendidos

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-e -ex-ecutados -escrupulosa -e -exclusivam-ent-e d-ebaixo do methodo experimental, qual é a acção do alcool sobre os glóbulos sanguíneos. E este, sem duvida, o ponto mais importante e mais positivo da questão, pois que a acção do alcool sobre as outras partes do sangue, como por exemplo sobre fibrina, não é ainda bem conhecida, dizendo uns que aquelle agente coagula esta substan-cia, outros que a torna mais fluida.

De experiências recentes, nomeadamente de Bou-chardat e Sandras, resulta que a introducção do alcool na economia transforma em negra a côr rutilante do sangue. Assim estes experimentadores observaram que produzindo a embriaguez alcoólica n'um gallo pela in-gestão de pão imbebido d'alcool, a crista se tornou pro-gressivamente negra perdendo a côr rubra natural. O resultado d'estas experiências é confirmado por outras feitas em idênticas circumstancias; assim introduzindo rãs em agua com uma quantidade, ainda que fraca, d'alcool ámylico, observou Rabuteau que a pelle d'es-ses animaes apresentava uma côr escura e o sangue tor-nava-se negro emquanto continha alcool, retomando a côr rutilante quando terminava a eliminação d'esté li-quido.

D'estes factos pode concluir-se que o alcool tem de-cidida acção sobre os glóbulos sanguíneos, cujas func-ções altera, acção característica, ainda que por emquanto não esteja tão bem determinada como a do oxydo de carbone. E por esta acção do alcool sobre os glóbulos sanguíneos que, além dos phenomenos da nutrição, como adiante veremos, se podem explicar as mortes sú-bitas produzidas pelo envenenamento alcoólico.

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CIRCULAÇÃO E RESPIRAÇÃO

Em dose moderada o alcool accelera, a principio, as pulsações do coração, augmenta a frequência do pulso, a face injecta-se, e n'uma palavra, excita a circulação. Este effeito pôde ser único se a dose d'esté liquido é pouco considerável, ou se supprimirmos rapidamente a sua administração. Se porém administrarmos uma dose elevada, as pulsações do coração tornam-se irregulares e demoram-se consideravelmente.

O dr. Angel Marveau nas suas indagações acerca da acção do alcool sobre a circulação, por meio do ap-parelho de Marey, chegou a esta conclusão importante: que o alcool longe de ser um excitante do coração,

mo-dera e enfraquece as contracções d'esté órgão.

As observações de Poiseulle e as experiências de Hering levam-nos também ao resultado de que o alcool, introduzido na torrente circulatória, determina uma de-mora notável no curso do sangue.

Introduzindo prussiato amarello de potassa na ju-gular d'um cavallo, Hering reconheceu que sendo ne-cessário a esta substancia 25 a 30 segundos para per-correr todo o trajecto circulatório, ella não apparecia na e: rnmidade superior da veia senão depois de 40 a 50 minutos, quando se injectava previamente no sangue uma certa quantidade d'alcool.

Quando a dése d'alcool administrado é elevada e sufficiente para prodiiair a mcjrte, observa-se que a cir-culação não se suspende senão depois de todas as ou-tras funcções: cor primum vivens, ultimum morwns.

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-Debaixo da influencia do alcool a respiração segue a mesma marcha da circulação, conservando-se regular por algum tempo e acabando por tornar-se lenta, diffi-cil e estertorosa.

ACÇÃO SOBRE A NUTRIÇÃO E TEMPERATURA

O papel que o alcool representa na nutrição tem dado logar a numerosas controvérsias, e a sciencia os-cilla ainda entre duas conclusões oppostas.

Por muito tempo o alcool foi considerado como um alimento respiratório; porém esta opinião, que parecia incontestável, foi profundamente abalada depois das in-dagações do Perrin, Ludger, Lallemand e Duroy, os quaes chegaram a resultados em completa opposição com as idéas até então recebidas.

Eram, com effeito, ponderosas as razões para con-siderar o alcool como um alimento. A composição chi-mica d'esta substancia; o consumo considerável de be-bidas espirituosas nos paises onde o homem tem ne-cessidade de supprir, por uma producção exagerada de calor natural, as perdas consideráveis no meio d'uma baixa temperatura; o facto bem averiguado de indiví-duos submettidos, durante muito tempo, ao regimen das bebidas alcoólicas sem perderem o vigor physico, taes eram as razões que levaram os physiologistas distinctos Liebig, Magendie, Segalas, Bouchardat, Sandras e ou-tros, a considerar o alcool como uma substancia com-bustível.

Segundo esta theoria, o alcool, absorvido e intro-duzido na torrente circulatória, transformaj-se-hia de-baixo da acção do oxygenio, dando como últimos

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pro-duetos agua e acido carbónico, que seriam eliminados por différentes excreções; e d'esté modo obstaria por sua propria combustão á destruição d'outros materiaes combustíveis, que a economia aproveitaria em sua uti-lidade.

Tal era o estado da sciencia até 1860, epocha em. que appareceram os trabalhos de Perrin, Ludger, Lal-lemand e Duroy.

O facto capital d'esta theoria é a refutação da opi-nião antiga, que considera o alcool como um alimento.

De suas indagações tão multiplicadas, como. enge-nhosas, estes hábeis experimentadores concluíram que o alcool é eliminado por todas as vias de excreção sem soffrer alteração alguma; que, portanto, não é oxydado na economia, e que toda a sua acção se limita a exer-cer uma influencia moderadora sobre a desassimilação, de modo que não augmentaria a receita, mas diminui-ria a despeza.

Tal theoria foi recebida com enthusiasmo, e, cousa notável, admittiram-se geralmente sem reacção todos os factos, não se procurando saber a veracidade d'elles. Isto, porém, durou pouco tempo: as experiências de di-versos auetores fizeram vêr que nenhuma das duas theo-rias podia ser recebida isoladamente pelo absolutismo das suas conclusões.

Que parte do alcool é eliminado sem soffrer altera-ção na economia é um facto incontestável de que não deixam duvida as experiências de Perrin, Lallemand e Duroy. Se ingerirmos, seguindo o exemplo d'estes au-etores, uma pequena quantidade d'alcool diluido, este alcool absorvido vai encontrar-se, em primeiro logar, nos produetos da expiração, em seguida nas urinas e fi-nalmente na pelle.

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Perrin levou mais longe a sua analyse; encontrou o alcool inalterado no sangue, no fígado e sobretudo na substancia cerebral.

Mas em que proporção o alcool é eliminado? É total, ou parcialmente?

Experiências rigorosas foram emprehendidas para se obter resposta satisfactoria a estas perguntas. A este respeito o primeiro trabalho digno de menção é o de Hugo Schulinus, que, depois de verificar igualmente a presença do alcool nos órgãos e nas excreções, chegou ao resultado seguinte: que a quantidade d'alcool excre-tado é sempre inferior á porção absorvida.

Mais tarde veio á luz um trabalho, que, segundo nos parece, dá a solução do problema em litigio. Foi a memoria de Sulzynski e Maryam.

Misturando o alcool, n'um caso com sangue fresco saído dos vasos, e n'outro com sangue que se tinha demorado por algum tempo fora das veias, estes expe-rimentadores encontraram pela distillação que no pri-meiro caso existia menos alcool do que no segundo. D'aqui concluíram, e com razão, que esta substancia sofixe parcialmente uma verdadeira destruição no san-gue, que está em relação com a quantidade de oxyge-nio livre n'este liquido. O resto é eliminado pelos dif-férentes emunctorios.

Em virtude d'estas experiências e attendendo á af-finidade que o alcool e o oxygenio já manifestam em contacto do ar, não comprehenderiamos como estes dous elementos, achando-se em presença no mesmo meio, o sangue, não reagissem um sobre o outro, dando lo-gar a uma combustão parcial. Esta combustão parcial do alcool no organismo diminue a despeza material da economia, porque o calor animal, em vez de ser

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en-tretido pela substancia orgânica que faz ou deve fazer parte do systerna vivo, é alimentado por uma pequena parte do alcool absorvido.

Ha, porém, um facto que muito tem servido a Per-rin e seus partidários contra a opinião dos adversários: é a diminuição d'urêa, d'acido carbónico, e o abaixa-mento de temperatura depois da ingestão d'uma certa quantidade d'alcool. Como conceber a combustão do al-cool na economia sem que augmente o acido carbónico e se eleve a temperatura orgânica?

Berzelius quiz attribuir o resultado da diminuição do acido carbónico a que, sendo as inspirações mais frequentes debaixo da influencia das bebidas espirituo-sas, devia resultar para cada uma d'ellas uma diminui-ção d'acido carbónico, bem que n'um tempo dado a quantidade absoluta fosse a mesma.

As experiências porém de Prout, confirmadas nos últimos tempos por Perrin, Lallemand e outros, não dei-xam duvida de que a quantidade d'acido carbónico di-minue effectivamente depois da ingestão do alcool em doses pequenas e continuadas.

Alguns physiologistas, vendo que na composição do alcool o hydrogenio excedia o carbone, quizeram explicar o facto péla maior combustão do hydrogenio, d'onde resultaria augmenta na quantidade do vapor d'agua com diminuição correspondente no acido car-bónico.

Esta interpretação, posto que baseada na composi-ção chimica do alcool, não nos dá a explicacomposi-ção de to-dos os effeitos observato-dos na applicação d'esta substan-cia, e além d'isso as observações d'alguns auetores pa-recem demonstrar que não só ha diminuição d'acido carbónico, mas também d'agua. Julgamos pois anteín

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3 1

-preferível a opinião de Eabuteau que se concilia per-feitamente com os factos. '

Sabe-se que os glóbulos sanguíneos debaixo da in-fluencia do alcool estão n'uma espécie de asphyxia, dif-férente, é verdade, da asphyxia produzida pelo oxydo de carbone, mas produzindo os mesmos resultados. Os glóbulos sanguineos, que são os agentes directos das oxydações, cessam então de preencher normalmente as suas funcções, e este estado irá actuar sobre a nu-trição, regulando a desassimilação, isto é, cóllocando os princípios, assimilados ou assimiláveis em estado de servir por mais tempo no funccionalismo dos órgãos e na manutenção da vida.

Esta acção sobre os glóbulos e os effeitos que d'elLi resultam dão-nos a explicação, não só da diminuição do acido carbónico, da urêa e acido úrico, e por con-seguinte do abaixamento de temperatura, mas também da accumulação de gordura.

Foi em virtude d'esta acção sobre a nutrição que Rabuteau collocou o alcool na classe dos moderadores da nutrição ou da hematose; que Hammond disse que esta substancia augmentava o peso do corpo, demorando a metamorphose dos antigos tecidos, favorecendo a for-mação dos novos e limitando a destruição das matérias gordurosas; e que finalmente Perrin admittiu que elle sustentava o organismo, não nutrindo, mas impedindo a desassimilação, isto é, não augmentando a receita, mas diminuindo a despeza.

Do que fica dito, podemos concluir que o alcool é em pequena parte oxydado no organismo, produzindo agua e acido carbónico, sem que por isso se deva sup-pôr que estes dous elementos, agua e acido carbónico, devam apparecer nos productos de excreção em maior

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quantidade do que no estado normal; mas a maior parte escapa a esta combustão, e pela acção que tem sobre os glóbulos sanguíneos è um alimento indirecto ou compensador: esta parte em seguida é eliminada pe-los différentes emunctorios naturaes, pulmSes rins e pelle.

Visto que o alcool modera os processos d'oxydaçao, pôde prever-se qual seja a sua influencia depressiva so-bre a temperatura orgânica.

Este facto annuncíado pela primeira vez em 1848 por M. M. Dumeril e Demarquay, é posto em eviden-cia pelas experiêneviden-cias de E. Smith, de S. Ringer, de W. Richards, de Perrin e mais recentemente ainda pe-las de M. M. Regnard e Godfrin.

Estes últimos, experimentando em si próprios, ob-servaram que o thermometro applicado no recto descia, debaixo da influencia de 150 grammas de aguardente e no espaço d'uma hora, de 1°,1 para o primeiro, e de 0°,5 para o segundo.

Tal é d'uma maneira geral a acção do alcool sobre a nutrição e temperatura.

ACÇÃO SOBRE AS SECREÇÕES E EXCREÇÕES

Uma vez introduzido na torrente circulatória, o al-cool percorre todo o organismo para se pôr em conta-cto com os elementos dos tecidos, e depois d'um espaço de tempo variável para os différentes apparelhos é eli-minado em parte, como já dissemos, sem soffrer alte-ração pelas différentes vias de excreção.

O pulmão é o órgão que em primeiro logar se presta a esta eliminação. O cheiro alcoólico que exhala o

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ha 33 ha

-lito dos ébrios dispensa qualquer analyse ehimica. Se-gundo Perrin, a eliminação do alcool ;pelo pulmão pro-longate durante cerca de oito horas. É a esta acção dos vapores alcoólicos sobre o parenchyma pulmonar, que se deve attribuir, senão a frequência da pneumonia dos ébrios, pelo menos a sua gravidade excepcional.

A pelle é na opinião de Perrin o órgão em que a eliminação do alcool se faz em maior quantidade, bem que seja difficil dar uma prova directa em consequên-cia do estado de extrema divisibilidade dos productos da perspiração cutanea.

A eliminação do alcool pelos rins negada por Tied-man, Bouchardat e Sandras, é hoje um facto averi-guado. Perrin, diz ter observado a presença do alcool nas urinas, dezeseis horas depois da sua ingestão, por meio d'um licor de prova composto de bicromato de potassa dissolvido em acido sulphurico.

Relativamente á acção do alcool sobre o parenchyma renal os seus effeitos variam segundo a dose, desde a simples congestão do órgão, até uma desorganisação consecutiva ao mal de Brigth.

Immediatamente, o alcool activa a secreção urinaria, augmentando sobretudo a parte aquosa, o que.se deve attribuir á excitação determinada na glândula pela pas-sagem do alcool em natureza.

Emfim o alcool imprime uma modificação muito im-portante á funcção da desassimilação de que o rim é encarregado. Esta modificação traduz-se por, uma dimi-nuição d'urêa, d'acido úrico e dos princípios-'sólidos contidos na urina. Esta acção do alcool sobre a secre-ção urinaria, análoga á que elle exerce sobre os produ-ctos da combustão respiratória, parece-nos a mais/con-forme ás leis da physiologia.

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Com effeito, estes productos urêa e acido carbónico são a expressão intima do movimento da nutrição; po-dem augmentar e diminuir segundo a intensidade da nutrição; mas n'estas variações, ha sempre solidarie-dade intima entre estes dous elementos: urêa e acido carbónico.

ACÇÃO SOBRE 0 SYSTEMA NERVOSO

Desde muito tempo que a presença do alcool no systema nervoso, principalmente no cérebro, tinha sido prevista, pois que se tinha. observado que algumas ve-zes o cérebro de indivíduos mortos d'embriaguez exha-lava um cheiro activo a alcool.

Hoje porém está experimentalmente reconhecida a presença d'esté liquido nos centros nervosos, pois que por meio da distillação da materia nervosa, tirada dos cen-tros nervosos d'animaes previamente embriagados, se tem extrahido uma certa quantidade d'alcool.

i ; Lallemand, Perrin e Duroy, a quem se devem estas experiências, quizeram levar mais longe o seu estudo e procuraram determinar em que elemento da substan-cia nervosa reside o alcool, e o modo de sua acção; to-davia a experimentação não foi por emquanto mais longe em resultados positivos, únicos scientificos.

Segundo estes experimentadores, o alcool accumu-late nos centros nervosos em virtude d'uma affinidade especial, e n'elle se demora mais tempo que nos outros órgãos, eliminando-se com morosidade.

A influencia do alcool sobre o systema nervoso ma-nifesta-se por uma serie progressiva e constante de sym»

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35

-ptomas, reproduzindo-se approximadamente com a mes-ma intensidade em todos os indivíduos.

Estes symptomas são classificados pela maior parte dos auctores em três períodos ou gráos. Gubler designa-os assim: 1.° embriaguez ligeira; 2.° embriaguez confirma-da; 3.° embriaguez comatosa.

Eis aqui em resumo os principaes symptomas que caracterisam os différentes gráos de embriaguez:

1.° gráo. Excitação da intelligencia, abundância e vivacidade de idéas, loquacidade, agitação geral, rapi-dez nos gestos e movimentos—augmente de calor or-gânico, acceleração do pulso e da respiração—injecção e turgencia dos vasos da face—algumas vezes transpi-ração.

2.° gráo. Torpor intellectual, incoherencia nas pa-lavras e nas idéas, irregularidade e indecisão nos mo-vimentos—preversão da sensibilidade, zumbidos nos ou-vidos, perturbações na visão—falta de equilíbrio—tur-gencia vascular do collo e da face, contracção das pupillas—plenitude do pulso, irregularidade na respi-ração e circulação.

3.° gráo. Completa suspensão da intelligencia, da sensibilidade e da motilidade—torpor dos sentidos, eva-cuações involuntárias d'urinas e matérias fecaes—face pallida, abatida, olhos embaciados, dilatação perma-nente das pupillas—pulso pequeno, respiração esterto-rosa, emfim enercia completa.

A este estado succede-se um somno profundo, raras vezes agitado, que pôde prolongar-se até dezeseis, vinte e quatro e quarenta e oito horas.

Observam-se ainda como phenomenos consecutivos, um mal estar geral, pezo de cabeça e abatimento, phe-nomenos estes que raras vezes falham, e a algumas

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zes, um embaraço gástrico, nauseas, vómitos e diarrhea biliosa. Emfim a morte pôde ter logar, sobretudo no terceiro período.

Na serie de symptomas descriptos se vê que a pri-meira impressão do alcool sobre o systema nervoso se traduz por uma excitação das principaes funcções da economia, e que a acção continuada d'esté agente dá em resultado a preversão e aniquilamento das mesmas funcções.

É tendo em vista unicamente esta primeira acção excitante do alcool sobre o systema nervoso, que mui-tos therapeutas o collocam na classe dos agentes esti-mulantes, e a nosso vêr com mais justa razão deveria elle occupar um logar distincto entre os anesthesicos.

Com effeito, comparando-se as perturbações referi-das dependentes da embriaguez alcoólica, com as de-terminadas pelos principaes anesthesicos, não se pôde deixar de reconhecer uma certa relação d'analogia.

A abolição da sensibilidade produzida pelo alcool era já um facto conhecido na sciencia, muito tempo an-tes do descobrimento dos anesthesicos, chegando-se até a praticar operações cirúrgicas durante o torpor al-coólico.

Provada a anesthesia alcoólica e reconhecida a pro-duzida pelos agentes anesthesicos restará á sciencia de-terminar a relação d'uma para outra.

Com este fim Lallemand e Perrin emprehenderam experiências comparativas d'onde resultou reconhecer -se completa analogia entre os phenomenos produzidos pelos différentes agentes anesthesicos e pelo alcool, ana-logia que chega a ser admirável.

Por estes resultados fica completamente destruída a opinião d'alguns physiologistas que estabeleciam uma

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-distincção entre os phenomenos produzidos pelo alcool e pelos anesthesicos. Lallemand e Perrin deduziram das suas experiências as conclusões seguintes:

1.° O alcool e os anesthesicos exercem sobre o sys-tema nervoso cerebro-spinal uma acção especial.

2.° Produzem, primeiro phenomenos de excitação mais ou menos pronunciados segundo a sua natureza, parecendo que o período de excitação está em relação com a solubilidade e volatibilidade de cada um d'elles; depois suspendem a sensibilidade e motilidade, termi-nando por abolil-as.

3.° Accumulam-se nos centros nervosos em virtude d'uma affinidade de eleição especial.

Estes resultados foram verificados experimental-mente pelo illustre Claudio Bernard, que perfilhou es-tas ideas e as desenvolveu.

Mas como actua o alcool sobre o systema nervoso? Apesar de numerosos estudos emprehendidos n'este sentido, o modo porque o alcool actua sobre o systema nervoso é ponto ainda muito controverso na sciencia. Vejamos resumidamente as principaes theorias que se teem estabelecido para explicar o assumpto.

Alguns physiologistas, e em particular Orfila e Bro-die, são de opinião que o alcool actua sobre os centros nervosos pela excitação das extremidades dos nervos da mucosa estomacal, com a qual está em contacto. A embriaguez teria pois o seu ponto de partida no estô-mago e constituiria um phenomeno reflexo.

Esta opinião é insustentável, visto que a embriaguez se produz indiferentemente depois da injecção do al-cool na torrente circulatória, como depois da absorpção d'esté liquido no tubo digestivo.

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pu-ramente dynamica e consiste «n'uma impressão mole-cular de contacto, por intermédio do sangue, compará-vel á que se admitte para explicar a acção de quasi todos os princípios medicamentosos e tóxicos.»

Outros teem invocado uma alteração orgânica dos elementos nervosos. Esta alteração consistiria em uma decomposição parcial do protacfono, que seria destruido não só na substancia nervosa, mas também no sangue. Este effeito, produzido pelo alcool e pelos anesthesicos, seria sufficiente para explicar, até certo ponto, a aboli-ção das funcções nervosas. .

Sedillot admitte uma mudança nas relações dos ele-mentos nervosos, mudança que resulta da interposição do alcool ou dos anesthesicos entre os poios das molé-culas da substancia nervosa; e attribue a diversidade dos phenomenos observados com différentes substancias ao modo especial porque cada uma se interpõe entre as moléculas, afastando-as por mais ou menos tempo.

Alguns auctores e nomeadamente Blac, Perigoff, Coze, etc., explicam a anesthesia por uma acção pura-mente mecânica. Segundo este ultimo, a anesthesia se-ria «o resultado da compressão do cérebro pelos vapo-res tendo uma tenção elevada, similhante á que é de-vida a uma causa traumatica deprimindo uma parte do craneo.»

Mais recentemente Lacassagne, seguindo o princi-pio, admittido por alguns physiologistas, de que todos os actos da vida, ainda os mais elevados, se executam por movimentos da materia, pretende que os anesthe-sicos, e em particular o chloroformio, teem n'um dado momento, o poder de produzir um estado de catalepsia das fibras e cellulas nervosas, e de suspender o movi-mento começado.

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-Taès são as principaes theorias sobre a anesthesia e a embriaguez alcoólica. Cada ûma d'ellas é apresen-tada por uma notabilidade scientifica, e nenhuma ex-plica, todavia, satisfatoriamente os phenomenos obser-vados.

Assim, como diz Marveau, poder-se-ba no estado actual da sciencia deduzir do que ha de positivo o se-guinte:

1.° Que o alcool exerce a sua acção sobre o sys-tema nervoso por meio de modificações na circulação cerebral;

2.° Que esta acção é directa sobre os próprios ele-mentos, a qual é ainda desconhecida na sua natureza e nos seus caracteres, mas que, todavia, pôde ser devida a uma lesão orgânica, transitória (alcoolismo agudo), ou persistente (alcoolismo chronico).

Marcet concluiu das suas experiências feitas em cães e rãs: 1.° que o alcool actua sobre os centros ner-vosos principalmente, mas não exclusivamente, por in-termédio da circulação; 2.° que exerce uma acção leve, mas distincta, sobre os centros nervosos por intermé-dio dos nervos independentemente da circulação; 3.° que esta ultima acção pode ser de dous modos: dar lo-gar a um choque, ou suspensão temporária do movi-mento e sensibilidade com conservação da respiração; ou ter só por effeito encurtar a vida.

Para Marveau só duas explicações propostas para ex-plicar a successão dos eflfeitos do alcool merecem ser con-sideradas: 1.° a de Lallemand e Perrin, que encaram a acção do alcool como geral e instantânea nos elemen-tos do systema nervoso, attribuindo os effeielemen-tos successi-vos á menor excitabilidade da medulla sobre o cérebro em relação a agentes medicamentosos ou tóxicos; 2.° a

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de C. Bernard; que admitte uma acção por influencia análoga á acção eléctrica, exercida pelo cérebro sobre a medulla.

De todo este conjuncto de opiniões se pôde ver a obscuridade que reina ainda na sciencia sobre esta ma-teria, mas são taes e tantos os esforços e tamanhas as capacidades scientificas que se empenham n'este senti-do, que são justamente fundadas as esperanças d'um

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APPLICAÇÕES THEMPEIMCAS DO ALCOOL

Nas considerações que vão seguir-se, não é nossa intenção percorrei' o cyclo inteiro da pathologia. Limi-tar-nos-hemos a um pequeno numero de estados patho-logicos, que debaixo d'esté ponto de vista apresentam um verdadeiro interesse prático.

Referiremo-nos em primeiro logar ás phlegmasias e pyrexias, nas quaes o tratamento pelo alcool tem, na maior parte dos casos, vantagens incontestáveis, e em seguida trataremos da applicação d'esta substancia no curativo das feridas.

Antes porém de entrarmos na materia, julgamos in-teressante apresentar algumas considerações históricas sobre o emprego do alcool em tfierapeutica.

HISTORIA

Se a questão da descoberta do alcool é ponto con-troverso, o mesmo acontece quando se investiga qual

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foi o primeiro que o empregou como agente hygienico e therapeutico.

Posto que ainda se diga que a invenção pertence a Arnaud de Villeneuve, todavia da leitura das suas obras, como diz Behier, não pôde deduzir-se tal asserção: falia da utilidade da aguardente em différentes doenças, pa-recendo porém indicar que este meio therapeutico já era conhecido, e lhe tinha sido transmittido. É muito pro-vável que Arnaud de Villeneuve, que vivia em 1285 em Hespanha, onde existia grande numero de medicos arabes, recebesse d'estes o conhecimento do alcool e de seus usos.

Quer fossem, porém, os chinezes, os arabes, Ray-mond Lulle, ou Arnaud de Villeneuve, que descobris-sem o alcool, quer estes ou aquelles fosdescobris-sem os primei-ros a empregal-o como meio therapeutico, pouco im-porta. Pôde esta questão entreter espíritos curiosos, mas nada interessa á sciencia.

Todavia é forçoso confessar que muito devemos a Arnaud por ter generalisado as applicações d'esté agen-te. No seu tratado intitulado: De conservada juventute

et retardando, senectute, o préconisa contra o cancro da

bocca, contra o albugo, hydropesia, etc. Igualmente o considera como um excellente modificador das feridas. Maravilhados por seus effeitos estimulantes os me-dicos não tardaram a empregar o alcool no tratamento das doenças. Hoíf Marin em 1687, Lanzoni em 1715, Holf em 1590, referem observações muito importantes de febres curadas pelo emprego do alcool e do vinho. Em Portugal, onde os medicos não são indifféren-tes aos progressos da sciencia, o alcool ó empregado ha muitos annos. Encontramos já em 1718 Francisco Cor-reia de Amaral, que nos dá úteis conselhos, acerca da

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-applieação d'esté agente, não só no curativo das feri-das, ulceras, etc., mas também do uso da aguardente no tratamento da pleurisia e em certos incommodos do estômago.

No hospital de Coimbra é muito antigo o emprego do alcool camphorado como tópico no curativo das fe-ridas e ulceras.

Foi sobretudo durante o reinado das doutrinas Brow-nianas que o emprego d'esté liquido se tornou geral.

Brown reconhecia nas doenças apenas duas ordens de causas: sthenia ou excesso de força, e a asthenia, e era a asthenia que predominava na maioria dos casos. D'aqui já pôde prever-se a latitude concedida á me-dicação estimulante, e os resultados felizes que os es-pirituosos deviam prometter contra os diversos estados pathologicos em que se apresentava a asthenia.

Broussais, porém, estabelecendo o seu systema, in-dicou a necessidade, para conduzir os órgãos ao seu estado physiologico, de combater esse estado phlogis-tico que representava o primeiro papel em quasi todas as doenças. Então a medicação alcoólica foi banida da prática como perigosa e incendiaria.

Todavia apesar do império da doutrina do funda-dor da escola physiologica, a medicação alcoólica não deixou de ter adeptos.

Laenec, Chomel e Franck empregaram o alcool na pneumonia dos velhos; Petit e Pinei fizeram uso do vi-nho nas febres typhoides adynamicas.

Salvo estas raras excepções todos os práticos eram unanimes em afnrmar os inconvenientes e perigos de que os espirituosos podiam ameaçar o organismo doente. Era natural que do paiz, em que Brown tinha pu-blicado as suas idéas, partisse a reacção que devia

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ope-rar-se em favor da medicação alcoólica, estendendo-se por toda a Europa. Foi um medico inglez, Charmichael Smith, o primeiro que demonstrou as vantagens incon-testáveis do alcool.

Depois d'este, Alison, Graves e Stokes, protestaram contra a dieta absoluta geralmente seguida em muitos estados pathologicos e fizeram uso da medicação alcoó-lica no typho, nas febres eruptivas, na pneumonia, etc.

Mas é particularmente a Tood a quem cabe a glo-ria de rehabilitar este precioso medicamento, e de lhe assignar na materia medica e na therapeutica o logar que jamais deve perder.

Tood affirmando altamente as vantagens do alcool nas phlegmasias e pyrexias em geral, applica este medi-camento em vasta escala, formula as regras que devem presidir ao seu emprego, precisa suas principaes indi-cações, e imprime assim á therapeutica uma via nova, já fecunda por seus resultados.

A doutrina de Tood, fundada sobre a hypothèse da evolução natural das afifecções agudas e sobre a neces-sidade de sustentar o organismo doente a fim de levar a cabo sem perigo esta evolução, reconhece no alcool as qualidades necessárias para preencher esta ultima indi-cação.

A prática do illustre medico inglez não encontrou assentimento geral, e até em Inglaterra, onde esta dou-trina teve origem, se levantaram as criticas mais apai-xonadas.

O terror que causavam os irritantes era tão grande que decorreram largos annos antes das ideas inglezas poderem atravessar o estreito, para serem recebidas no continente.

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con 45 con

-tribuiu para demonstrar os bons effeitos da medicação alcoólica em certas affecções.

Antes d'elle, Trousseau tinha já chamado a atten-ção sobre os excellentes effeitos do vinho de Malaga em certos casos de febre typhoide, e Arant tinha dado a aguardente nas febres e nas pneumonias dos velhos com caracter typhoide, mas nenhum d'elles tinha em-pregado a medicação alcoólica, segundo os preceitos da medicina ingleza.

Influenciado pelas novas ideas, e seguindo o exem-plo de Stokes, Moneret empregou o vinho em altas do-ses nas febres typhoïdes adynamicas, e notou que sob a influencia dos espirituosos as perturbações abdomi-naes diminuíam, e que as hemorrhagias, quer intesti-naes, quer nasaes se tornavam menos frequentes.

Terrier, Pursell e Beale reconheceram também os bons effeitos do alcool em todos os estados typhicos, nos quaes este medicamento luctava energicamente contra a depressão das forças.

Finalmente, Jaccoud, sem deixar de reconhecer o que ha de exagerado nos princípios formulados por Tood, acaba por preconisar o emprego dos espirituo-sos não só na pneumonia, mas também na febre ty-phoide, na variola, na scarlatina, na erysipela, e em summa, em todas as pyrexias de cyclo contínuo e defi-nido, em que o prático necessite de produzir uma esti-mulação do systema nervoso, ou um abaixamento rá-pido da temperatura.

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PHLEGMASIAS

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Pneumonia.—Entre os variados tratamentos da

pneu-monia, o alcool tem sido preconisado nos tempos mo-dernos como meio therapeutico soberano n'esta doença, chegando até Tood, instituidor d'esté tratamento, como já dissemos, a recommendal-o como único e constante; porém o tratamento da pneumonia, como geralmente o de todas as doenças, é dictado pelas indicações.

O alcool pela acção rápida que tem sobre o syste-ma nervoso, estimulando-o, acção que lhe trouxe o nome de estimulante diffusivo, convém n'aquellas pneumonias em que a prostração e a adynamia são os symptomas predominantes. Os práticos concordam hoje em adoptar este tratamento preconisado por grande numero d'au-ctores, e Trastour, no estudo que consagrou á medica-ção alcoólica na pneumonia, enumera como indicações principaes do alcool a fraqueza dos individuos, a au-sência de reacções, a pallidez da face, a velhice, a de-pressão excessiva causada pelos antimoniaes, etc.

Na pneumonia contrahida pelos bebedores, o alcool, como observa Rabuteau, tem também vantagens incon-testáveis, e convém portanto empregal-o, seguindo a prática já indicada por Chomel. N'este caso, com ef-feito, o cérebro rapidamente subtraindo á influencia do alcool, que era o seu estimulante habitual, vae ter, por este facto a um estado d'abatimento, d'onde podem re-sultar o delírio e outros sérios inconvenientes.

A utilidade do alcool é finalmente reconhecida hoje em todas as doenças eminentemente febris, e portanto nas

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-pneumonias francas, com elevação considerável de tem-peratura, nos indivíduos vigorosos e de temperamento sanguíneo.

Os effeitos d'esté medicamento explicam-se facil-mente pela" acção que tem sobre a nutrição, diminuindo a temperatura e o pulso; vae combater, como disse Guin-geot, e mais recentemente Godfrin, o elemento febre que devora o doente.

O alcool, porém, não pode ser dado impunemente por muito tempo, ainda em doses moderadas, porque os seus effeitos podem exceder certos limites e preju-dicar os doentes, principalmente .no estado de fraqueza, no qual pôde facilmente produzir-se a embriaguez. Além d'isso, havendo, como observa Jaccoud, diminuição do oxygenio pelo facto da doença e actuando o alcool so-bre os glóbulos sanguíneos no mesmo sentido, pode esta

substancia dar logar á asphyxia ou pelo menos a um estado de anciedade que muito prejudicaria o doente. Se o alcool, portanto, tem vantagens incontestáveis, tem também sérios inconvenientes, e por isso ao medico pertence em cada caso particular estabelecer bem as indicações para auxiliar o doente na evolução dos pheno-menos mórbidos. É mister ter sempre em vista o pre-ceito: Primo non nocere.

Erysipela.—O dr. Legras (contribution a l'emploi

thérapeutique de l'alcool 1866) refere quatro casos de

erysipela tratados com successo pelo alcool, que parece imprimir á doença uma marcha mais rápida, ao mesmo tempo que acalma as perturbações nervosas, complica-ção tão frequente e tão grave na erysipela da face. Este methodo de tratamento tem também dado excel-lentes resultados nas mãos de Behier e Tremy.

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Rheumatismo articular agudo.—O professor Behier tem empregado o alcool com reconhecida vantagem no tratamento d'esta affecção. Debaixo da influencia d'esta substancia, Behier observou a cessação das dores e do delirio e uma diminuição na frequência do pulso.

Iguaes resultados tem sido obtidos recentemente por M. Marveau, que em quinze casos d'esta affecção re-fere treze curas.

O alcool parece, portanto, indicado no rheumatismo articular agudo, já como excitante contra a adynamia nos indivíduos debilitados, já como antipyretico contra a agudeza dos accidentes ligados essencialmente ao ca-lor febril.

PYREXIAS

Febres intermittentes.—Empregado primeiro por Lanzoni e Albrechet, o alcool tem sido preconisado por Guiber e Burdel no tratamento das febres intermittentes. Em virtude da sua acção antipyretica, directa e ra-•pida os doentes podem supprir ou attenuar considera-velmente a accesso, ingerindo um copo de vinho da Madeira, rhum, ou genebra, no começo do tremor.

Segundo alguns práticos o uso de vinho da Madeira e um regimen escolhido são suficientes para debellar as febres intermittentes ligeiras.

Teem-se obtido effeitos igualmente vantajosos do emprego de fortes doses de vinho para combater a ca-chexia pallustre.

Febre typhoide.—A febre typhoïde é uma doença longa e de cyclo definido, que percorre todas as suais

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-phases, independentemente de qualquer tratamento, in-stituído, quer com o fim de a debellar, quer de abreviar.

O tratamento é, portanto, puramente symptomatico, e o papel do medico limita-se a auxiliar o doente a le-var a cabo sem perigo o trabalho encetado pela natu-reza.

A morte sobrevem ordinariamente em virtude de complicações gravíssimas de duas ordens: umas resul-tam de lesões orgânicas imprevistas, taes são as perfura-ções intestinaes, a péritonite, enterorrhagias abundan-tes, para as quaes o medico tem poucos recursos; as outras são constituídas pela exageração de certas per-turbações funccionaes, que consistem em desordem do systema nervoso (adynamia, ataxia, delirio), ou da nu-trição (elevação considerável de temperatura, combus-tão febril).

É contra estas ultimas complicações que o medico deve empregar todos os seus esforços, já para as com-bater, já para as prevenir.

Em taes condições em que a medicação deve ser ou estimulante, se houvermos de combater uma pros-tração profunda, ou antipyretica se a temperatura for excessiva, o alcool deve preencher uma boa parte n'es-tas duas indicações.

Posto que pareça racional recorrer-se á medicação alcoólica n'este estado mórbido, comtudo, até hoje, os casos tratados com successo não fornecem apoio suffi-ciente em favor d'esta innovação therapeutica.

Assim Behier confessa que este methodo de trata-mento lhe tem falhado em cinco casos em que o ap-plicou.

No estado actual da sciencia parece-nos conveniente esperar, até que factos mais numerosos e variados nos

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auctorisem a estabelecer um juizo seguro sobre o valor da medicação alcoólica no tratamento da doença em questão.

Variola, scarlatina e sarampo.—Também se pôde empregar o alcool n'estes estados mórbidos, já para combater a adynamia, já para moderar o calor febril, que de per si só é muitas vezes causa de morte.

O dr. Angel de Marveau, diz ter empregado esta substancia com excellentes resultados em mais de 300 doentes, durante o cerco de Paris no inverno de 1871 a 1872.

EMPREGO DO ALCOOL NO CURATIVO DAS FERIDAS

No vasto campo da cirurgia, é o tratamento das fe-ridas um dos assumptos que mais tem preoccupado o espirito dos práticos. Apesar de todos os esforços e nu-merosos ensaios postos em prática, os resultados obti-dos estão ainda longe de satisfazer as aspirações da sciencia, e os bálsamos de que nos faliam os poetas an-tigos, a serem realidade, excederiam em virtudes os agentes conhecidos na actualidade.

Segundo as différentes epochas porque vae atraves-sando a arte de curar, assim os différentes tópicos teem a sua voga e predomínio particular, até que uns cáhem em abandono para outros lhe virem supprir o emprego. No século xiv havia uns poucos de systemas princi-paes conforme as escolas seguidas. A escola de Salerno tratava pelo secco, isto é, cataplasmas e emollientes; a de Bologne usava do secco, cujo typo era o vinho;

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ou 51 ou

-tros, segundo o celebre prático Gruilhaume de Salicet, tratavam com óleos e corpos gordurosos.

Também havia quem fizesse particular emprego de licores e folhas de couves; emfim certa classe de gente, mais simplória, em todos os tempos esperou mais das promessas feitas aos santos do que da medicina.

Posteriormente entrou em voga o emprego do al-cool, como um dos melhores tópicos.

Arnaud de Villeneuve, Guy de Chauliac, Parecelse, Ambrósio Pareu, o nosso Francisco Correia do Ama-ral e outros empregaram o alcool no penso das feridas, quer fossem antigas, quer recentes.

É principalmente a Batailhé e Guillet a quem cabe a honra de levantar á altura que deve occupar entre os agentes curativos este importante liquido, o qual es-tava despresado e supplantado pela dominação despótica da escola physiologica.

Nelaton, Gaulejac, Chedevergne fizeram publicações importantes sobre o emprego do alcool em cirurgia, e depois d'estes muito se tem escripto sobre esta ma-teria.

Graças aos trabalhos d'estes auctores, o alcool é con-siderado hoje como um dos tópicos mais commodos e mais úteis para a cirurgia.

O curativo pelo alcool exerce a sua acção sobre o estado local da ferida, e sobre o estado geral do indi-viduo.

Acção geral.—Segundo Behier o alcool applicado ás feridas pôde ser em parte absorvido e ter uma influen-cia sobre toda a economia. Esta opinião está d'accordo com os factos de embriaguez citados por Chedevergne e Dubrueil, attribuidos a este processo de curativo.

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O alcool, portanto, pódè calmar esta espécie de eré-thismo nervoso, que acompanha ás feridas e fazer des-apparecer a dôr que origina.

Todavia os effeitos resultantes da passagem do ál-cool na torrente circulatória raramente vão até a em-briaguez, mas traduzem-se por uma acção 'géràl tónica e estimulante. Em virtude d'esta dupla acção, o alcool combate vantajosamente o abatimento geral, a sideração nervosa, que acompanha as feridas graves, o desfale-cimento produzido pelos projectis de guerra; Sustenta as forças do doente, régularisa o jogo das funcçôes e colloca o organismo em condições favoráveis para o bom êxito dos phenomenos locaes.

Acção local.—Àpplicado a uma solução de continui-dade, coagula a albumina á sua superficie, formando uma camada impermeável, espécie dé verniz, que a abri-ga do contacto do ar.

A sua acção styptíca utilísada pêlos cirurgfôes da antiguidade tem sido exaltada por Schorock, LanzOni, Delius, etc.

Segundo as experiências de Guerin, este agente é o melhor hemostatico depois do perchlorureto de ferfO. Este insigne cirurgião tendo praticado duas feridas si-milhantes na orelha d'uni coelho, e tendo curado uma d'ellas com alcool e a outra com perchlorureto de fer-ro, observou que a hemorrhagia parou mais facilmente com o perchlorureto de ferro, mas que a cicatrisação da ferida, curada com alcool, foi muito mais rápida.

Esta acção anti-hemorrhagica do alcool deve ser at-tribuida á sua dupla acção physiologica: diminuição 'dò calibre dos vasos e coagulação do sangue.

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-t> alcool presta Valiosos serviços no tratamento das fe-ridas.

Applicado a uma ferida recente determina uma ad-stricçãò dos tecidos, torna-os mais densos, è impede a inflammação de se produzir com tanta rapidez.

Applicado ás feridas antigás, modifica favoravel-mente a vitalidade das suas superficies, reprime as exu-berancias fungosas, atrophia as partes végétantes, di-minue a suppuração, oppõe-se ao mau cheiro e impede toda a fermentação pútrida.

Emfim a influencia que o alcool exerce sobre a <»-catrisaçâo o torna preferível a qualquer outro topitóo. Segundo que os bordos da solução de continuidade são em contacto ou afastados, e que por conseguinte dei-xam a descoberto uma superficie mais ou menos "ex-tensa, assim se observam phenomenos différentes. No primeiro caso a reunião immediata tem logar frequen-temente.

A influencia dó alcool sobre este resultado não pôde ser contestada. Segundo Gruérin a albumina coagulan-do-se debaixo da influencia do alcool envolve em si o soro do sangue, que nãó soffre alteração alguma, faci-litando-se assim a âdhesão dos bordos da ferida. Este auctor fallando das vantagens do curativo d'alcool so-bre este primeiro modo de eicatrisaçãó expressa-se do modo seguinte: «Nous avons obtenus, toujours la reunion

immediate 'dans leè vingts quatre heures. Nous ne com-ptons pas un seul insuccès. Allant plus loin, nous avons fait des amputations, des désarticulations; le plus

sou-vent nous avont obtenus la reunion immediate; encore dans ces cas il ni) a jamais eu de suppuration. »

Nos casos de feridas com perda de substancia, a ci-catrisaçãó pode operar-se de dous modos. Ou à

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alba-mina se coagula e fórma uma ligeira camada á super-ficie da ferida, ou se combina com a parte mais fina dos fios empregados no apposito, formando uma espé-cie de couraça que protege a ferida e debaixo da qual se opéra a cicatrisação. E n'este caso uma ,verdadeira cicatrisação svb-crustacea.

Quando se levanta o apparelho exterior, observa-se um espaço coberto por uma substancia branca, molle, elástica, revestindo completamente a solução de conti-nuidade, e que depois de destacada deixa ver a ferida com aspecto mais satisfactorio. A sua superficie é re-gular, pois que o desenvolvimento das granulações se faz uniformemente; estas são pequenas, apertadas, có-nicas, d'uma côr rosada viva e caminham rapidamente para a cicatrisação. Os bordos da solução de continui-dade, em vez de serem espessos e tumefactos, de da-rem logar a accumulação de pus, são abatidos e delga-dos, e estão adhérentes e unidos á cicatriz formada. Demais, são constantemente attrahidos da circumferen-cia para o centro, de modo que, quando a ferida está completamente fechada, a pelle visinha cobre em grande parte a superficie, anteriormente a descoberto, e só dei-xa um pequeno espaço para o tecido de cicatriz.

Quanto á acção intima do alcool sobre o pus, Che-devergne affirma ter verificado com o microscópio, que a cellula purulenta em contacto com este liquido é des-truída, e que em seu logar se precipitam um certo nu-mero de granulações albumino-gordurosas.

Segundo Chedevergne o pus ficaria reduzido a uma espécie de emulsão, composta d'agua, substancias al-buminóides e gorduras, e d'esté modo perderia as pro-priedades nocivas, decompondo-se o seu elemento es-sencial.

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-Esta indagação curiosa de Çhedevergne não tem a importância concedida, visto que o liquido purulento nem por isso deixa de persistir com as suas proprie-dades.

Para Guerin o álcool é considerado como um coa-gulante das substancias albuminóides do pus.

«Segundo este auctor, o pus torna-se fétido pela des-truição das substancias coaguláveis (albumina), que con-tém; destruídas estas substancias, sobrevem phenome-nos de dupla decomposição entre os saes d'origem mi-neral que unidos ás substancias orgânicas coaguláveis não podem reagir uns sobre os outros, em razão do po-der que tem estas substancias de os reter e fixar por combinação chimica.

«Quer esta alteração das substancias coaguláveis seja produzida por fermentos organisados, ou pela acção dos gazes em dissolução no sangue, resulta sempre a pro-ducção de ammoniaca, acido carbónico, decomposição de sulfatos e sulfuretos, que por seu turno, decompostos pelos ácidos, formam sulfidrato e carbonato de ammo-niaca, talvez o hydrogenio phosphorado e corpos gordu-rosos voláteis; depois a alteração secundaria dos leu-cocytes, e algumas vezes a sua destruição.

«O alcool, coagulando a albumina, fixando a agua e os sâes exhalados, retarda indefinidamente esta altera-ção, e previne assim todos os accidentes que podem re-sultar da alteração do pus á superficie da ferida.»

Esta explicação baseada na theoria de Eobim, so-bre os phenomenos Íntimos da suppuração, é a que nos parece mais rasoavel, e por isso a aceitamos na falta d'outra melhor.

Mas seja qual for a acção intima que o alcool exerce sobre a superficie d'uma ferida, a observação e a

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chi-mica mostram-nos que os effeitos d'este liquido diffe-rent segundo se emprega concentrado ou diluído. Con-centrado, produz uma dor viva, forma uma membrana tenue á superficie da ferida, que a põe ao abrigo do contacto do ar, e é, seguida de pouca ou nenhuma sup-puração.

É pois coagulants e antiseptico.

Com esta indicação deve empregar-se nas feridas recentes que se pretende prevenir a suppuração e ob-ter a reunião immediata, e nas feridas antigas que sup-puram em abundância, e em certas ulceras fungosas que cicatrizam com dificuldade.

É igualmente concentrado que se tem applicado com vantagens contra os diversos accidentes das feridas: in-flammação, erysipela, podridão do hospital, infecção pu-rulenta, etc., vantagens que se devem attribuir á pouca suppuração das feridas, á coagulação do pus e á des-infecção produzida por este agente.

O alcool diluído, por exemplo a 21° c , determina uma simples picada que tem logar apenas na primeira ap-plicação e desapparece passados dous ou três minutos. As applicações seguintes são insensíveis.

Applicado a uma ferida recente, modifica vantajosa-mente a sua superficie, torna-a flexível, rosada, excita o desenvolvimento das granulações, activa a cicatrisa-ção, mas em menor gráo do que o alcool concentrado.

O alcool diluido actua principalmente como

exci-tante.

\ Com este fim emprega-se ainda com vantagens

con-tra certas feridas de má natureza, que ficam indolentes, não se modificando nem para bem nem para mal, e cuja cicatrisação se opéra lentamente; é util ainda em loções nas ulceras atonicas, assim como para limpar as

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anfra~ 57,

-ctuosidades das feridas, e para modificai* os, trajectos fistulosos.

MODO DE ADMINISTRAÇÃO

Os auctores que mais tem empregado e preconisado a medicação alcoólica, são concordes em que se deve administrar os espirituosos internamente, em, doses frac-cionadas.

Este preceito formulado por Tood, o promotor do novo methodo de tratamento das doenças agudas pelo alcool, está em perfeita concordância com as leis da physiologia, Tood administrava de duas em duas ho-ras aos seus doentes uma colher de sopa d'aguardente. Behier, applicando esta regra com mais precisão e ri-gor ainda, dá o alcool a 56° c. na dose de 80, 150 e mesmo 300 grammas d'alcool, diluido em 80 a 100 de agua adoçada, debaixo da forma de poção.

Tal é a poção de Tood, cujo emprego é hoje tão frequente na prática medica.

Jaccoud emprega a aguardente ou rhum na dose quotidiana de 40, 80 a 100 grammas, segundo os ca-sos, administradas na poção cordial do Codex.

Todavia a dose do medicamento, como pondera Mar-veau, bem como o seu uso passageiro ou mais ou me-nos prolongado, deve variar segundo o efïeito que se deseja obter.

Assim quando se dá o alcool como excitante de sys-tema nervoso, é necessário administrar uma dose fraca e por uma só vez (20 a 60 grammas d'aguardente n'uma certa quantidade d'agua.)

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Como antipyretico, o alcool deve ser preseripto em doses fraccionadas, segundo o methodo dos medicos in-glezes e de Behier; 50 a 100, 200 e mesmo 300 gram-mas d'aguardente n'uma poção para tomar ás colheres de sopa d'hora á hora.

Quando se queira obter um effeito anti-desassimila-dor ou tónico nas affecções chronicas, dever-se-ha uni-camente diminuir a dose da aguardente, e tomar a po-ção durante e depois das refeições.

Emfim como anti-congestivo, poder-se-hia prescre-ver o alcool em altas doses. Assim, na congestão cere-bral, poder-se-hia utilisar a anemia que determina para os centros nervosos, no terceiro periodo de embriaguez; mas a sua acção é irregular e a sua administração pe-rigosa para que se applique n'este caso, tendo a scien-cia a sua disposição meios curativos muito mais segu-ros e efficazes.

(51)

PROPOSIÇÕES

o

i.° Anatomia. A estructura do tecido conjunctiva

não diffère da das bolsas serosas.

2." Physiologia. O cystallino é uma lente

achroma-tica.

3.° Materia medica. O mecanismo physiologico da anesthesia pelo chloroformio é análogo ao da

embria-guez alcoólica.

4.° Pathologia externa. A única explicação possível da arthrite blennorrhagica é a que admitte a sympathia da uretra e dos tecidos sero-fibrosos da economia.

5." Pathologia interna. A temperatura é dos

sym-ptomas da febre typhoide, o que isolado tem mais valor.

6.° Operações. Na extirpação dos tumores

preferi-mos, em regra gei*al, o bistouri a outro qualquer meio de dierese.

7.° Anatomia pathologica. A carie tem como lesão inicial a transformação gordurosa das cellulas contidas nos corpúsculos ósseos.

8.° Partos. O parto prematuro artificial acha-se

ge-ralmente indicado nos casos de eclampsia.

9.° Hygiene, publica. A vaccina animal é preferível

a jenneriana.

Approvada. p ó d e i m p r i n i i r.s e.

* O CONSELHEIRO DIRECTOR, A. Caldas. (josta Leite.

Referências

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