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Caraterização da atividade física habitual da população trabalhadora nas escolas do concelho de Ponta Delgada

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CARATERIZAÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA HABITUAL

DA POPULAÇÃO TRABALHADORA NAS ESCOLAS DO

CONCELHO DE PONTA DELGADA

SÉRGIO PATRÍCIO SOARES

Dissertação apresentada à Universidade de Trás-os-Montes para

obtenção do grau de mestre em Ensino de Educação Física nos

Ensinos Básico e Secundário

Orientadora:

Professora Doutora Maria Dolores Alves Ferreira Monteiro

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Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

CARATERIZAÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA HABITUAL

DA POPULAÇÃO TRABALHADORA NAS ESCOLAS DO

CONCELHO DE PONTA DELGADA

Dissertação de Mestrado em Ensino de Educação Física nos

Ensinos Básico e Secundário

NOME: Sérgio Patrício Soares

Orientador: Professora Doutora Maria Dolores Alves Ferreira Monteiro

Composição do Júri:

___________________________________________

___________________________________________

___________________________________________

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AGRADECIMENTOS

A concretização deste trabalho só foi possível devido ao apoio de diversas pessoas ao longo deste processo, das quais quero expressar o meu agradecimento:

À Professora Doutora Dolores Monteiro, orientadora deste trabalho, pelo apoio prestado e pelos esclarecimentos, sugestões e disponibilidade que demonstrou durante o desenrolar do processo.

Aos Conselhos Executivos das escolas do concelho de Ponta Delgada, pela colaboração na recolha de dados, fundamentais para a concretização deste trabalho. À Juliana, Mónica e Pedro pela disponibilidade e ajuda prestadas.

A todos os alunos que se cruzaram comigo e fizeram do processo ensino-aprendizagem recíproco.

A todos os docentes da UTAD que, ao longo do meu percurso académico, me transmitiram os conhecimentos necessários para o exercício da minha prática profissional.

Aos meus familiares pelo apoio ao longo da vida, muito além do meu processo académico.

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RESUMO

Os séculos XX e XXI são ricos em avanços tecnológicos, tendo estes contribuído para o aumento quer da esperança média de vida, quer do sedentarismo, dando importância acrescida ao estudo da atividade física. Desta forma, para combater o sedentarismo é necessário implementar programas, sendo, para tal, fulcral conhecer os fatores sociodemográficos que limitam a prática da AF e da atividade desportiva. Neste sentido, acreditamos a escola é o local público privilegiado para este tipo de implementação futura, visto que neste mesmo espaço se encontram jovens em diferentes faixas etárias. O objetivo do presente estudo foi avaliar a relação entre os fatores sociodemográficos género, idade, habilitações literárias, grupo profissional e grupo disciplinar dos docentes e quatro índices de atividade física (índice de AF no trabalho, índice de AF desportiva, índice de AF no lazer e índice de AF habitual), bem como analisar quais as atividades desportivas mais praticadas pela população em estudo.

A amostra foi composta por 310 trabalhadores de oito escolas do concelho de Ponta Delgada, de ambos os géneros e com idades compreendidas entre os 25 e os 65 anos. Para avaliar a atividade física utilizou-se o questionário de Baecke e colaboradores (1982), sendo a amostragem do tipo aleatória simples estratificada. Relativamente ao tratamento estatístico efetuado, optou-se por análises estatísticas descritivas e inferenciais, sendo nesta última adotada um nível de significância de 5%. Os resultados mostram que 60,3% dos indivíduos envolvidos neste estudo têm uma prática desportiva regular. Quanto ao género, os homens apresentam uma percentagem superior de prática de AF, bem como melhores desempenhos nos quatro índices avaliados. Por sua vez, a AF diminui progressivamente com o aumento da idade, enquanto os valores dos índices aumentam com a progressão das habilitações literárias. Relativamente ao grupo profissional, os professores revelam valores mais elevados nos IAFD, IAFL e IAFH e os assistentes técnicos no IAFT. No que ao grupo disciplinar dos docentes diz respeito, os professores de Educação Física apresentam valores superiores nos quatro índices de AF mensurados. Por fim, as atividades desportivas mais praticadas pela população trabalhadora nas escolas do concelho de Ponta Delgada são as caminhadas, o fitness, a dança, o futebol, a corrida e o ciclismo. Foi possível concluir que os fatores sociodemográficos analisados no presente estudo desempenham um papel importante quer nos índices quer nas práticas desportivas dos indivíduos.

Palavras-chave: Atividade física, variáveis sociodemográficas e AF, índices de

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ABSTRACT

The XX and XXI centuries are rich in technological advances, and these contributed to the increase in both the average life expectancy and either the sedentary lifestyle, while giving greater importance to the study of physical activity. Thus, to combat the sedentary lifestyle is necessary to implement programs, and to this end pivotal know the sociodemographic factors that limit physical activity and sports activity. In this sense, we believe the school is the privileged public place for this kind of future implementation, because in this space there are young people from different age groups.

The aim of this study was to evaluate the relationship between social-demographic factors, such as gender, age, level of education, profession and teaching group and the four indexes of physical (work index, sport index, leisure-time index and habitual index). This study also analyzed which sport activities were the most frequently choosen by the studied population.

The group studied was composed of 310 individuals both male and female, aged between 25 and 65 years from eight schools in Ponta Delgada municipality. To assess the physical activity of each individual, the quiz developed by Baecke et al (1982) for random samples was used and the outcome statistically tested.

The results show that 60.3% of the individuals involved in this study practice sports on a regular basis. In relation to the gender, men show both an higher percentage of physical activity and a better performance on all four indexes assessed in this study. The physical activity decreased steadily with the age, whereas the values of the indexes increased with higher education levels. In relation to the profession, teachers showed the highest levels of sport index, leisure-time index and habitual index, whereas non-teachers showed the highest levels of work index. In relation to the teaching group, Physical Education teachers showed the highest values on all indexes studied. The sport activities mostly practised by the workers of the schools of Ponta Delgada are walking, fitness, dance, football, jogging and cycling.

We concluded that the social-demographic factors assessed in this study have an important role on the indexes and on the sport activities of the individuals analyzed.

Key-words: Physical activity, social-demographic factors, physical activity indexes,

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ÍNDICE GERAL

AGRADECIMENTOS………. …I

RESUMO……….. ...II ABSTRACT………. ..III ÍNDICE DE QUADROS………. .IV LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS……… ..V

INTRODUÇÃO ... 1

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ... 3

1. Introdução ... 3

2. Conceito e desenvolvimento da atividade física ... 4

3. Benefícios, fatores sociodemográficos implicados na atividade física ... 5

4. Sedentarismo ... 8

4.1. Definição ... 8

4.2. Implicações biopsicossociais ... 8

4.3. A prática de atividade física enquanto estratégia preventiva ao sedentarismo... 10

5. A escola enquanto espaço privilegiado para o desenvolvimento, (re)educação e promoção da atividade física... 11

6. Métodos de medição da atividade física ... 12

6.1. Questionários de avaliação da atividade física ... 13

7. Estudos realizados sobre a atividade física ... 14

7.1. Internacionais ... 15

7.1.1. Baecke e colaboradores (1982) ... 15

7.1.2. Sallis, Haskell, Wood, Fortmann, Rogers, Blair e Paffenbarger (1985) ... 15

7.1.3. Boffetta, Barone e Wynder (1990) ... 15

7.1.4. Caspersen e Merritt (1995) ... 15

7.1.5. Domíngues-Berjón, Borrell, Nebot e Plasència (1998a) ... 16

7.1.6. Domínguez-Berjón, Borrell, Nebot, Artazcoz e Plasència (1998b) ... 16

7.1.7. Eurobarómetro (2014) ... 17

7.2. Nacionais ... 17

7.2.1. Aptidão física e atividade física habitual (Santos, 1996) ... 17

7.2.2. Caraterização da atividade física habitual da população portuguesa (Faria, 2001) . 17 7.2.3. Hábitos desportivos da população portuguesa (Marivoet, 2001) ... 17

7.2.4. Caraterização da atividade física habitual da população da Madeira (Ladeira, 2004) 18 7.2.5. Caraterização da atividade física habitual da população trabalhadora na UTAD (Soares, 2006) ... 18

(7)

7.2.6. Livro verde da atividade física (IDP, 2011a) ... 18

METODOLOGIA ... 19

1. Objetivos do estudo ... 19

2. Hipóteses ... 19

3. Amostragem e tipo de estudo ... 20

4. Participantes ... 20

5. Instrumentos ... 22

6. Procedimento ... 25

7. Tratamento estatístico dos dados ... 26

8. Análise dos resultados ... 27

Parte I – Análises estatísticas descritivas ... 28

8.1.1. Distribuição dos índices de atividade física habitual da população trabalhadora nas escolas do concelho de Ponta Delgada ... 28

8.1.2. Distribuição dos índices de índices de atividade física segundo o sexo ... 28

8.1.3. Distribuição dos índices de índices de atividade física segundo a faixa etária ... 28

8.1.4. Distribuição dos índices de índices de atividade física segundo as habilitações literárias ... 29

8.1.5. Distribuição dos índices de índices de atividade física segundo a profissão ... 29

8.1.6. Distribuição dos índices de índices de atividade física segundo o grupo disciplinar dos professores ... 30

8.1.7. Índice de prática de atividade desportiva da população trabalhadora nas escolas do concelho de Ponta Delgada ... 31

8.1.8. Índice de prática de atividade desportiva segundo o sexo ... 31

8.1.9. Índice de prática de atividade desportiva segundo a faixa etária ... 32

8.1.10. Índice de prática de atividade desportiva segundo as habilitações literárias.... 32

8.1.11. Índice de prática de atividade desportiva segundo a profissão ... 33

8.1.12. Índice de prática de atividade desportiva segundo o grupo disciplinar dos professores ... 34

Parte II – Análises estatísticas inferenciais ... 35

8.2.1. Sexo ... 35

8.2.2. Idade ... 36

8.2.3. Habilitações literárias ... 36

8.2.4. Profissão ... 37

8.2.5. Grupos disciplinares ... 37

8.2.6. Associação entre as variáveis idade, habilitações literárias e índices de atividade física especificando o sexo... 38

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DISCUSSÃO DE RESULTADOS ... 40

1. Objetivos, aspetos metodológicos e limitações ... Erro! Marcador não definido. 2. Caraterísticas gerais da amostra ... 41

3. Valores obtidos a partir do instrumento utilizado ... 41

3.1. Sexo ... 42

3.2. Idade ... 44

3.3. Habilitações literárias ... 45

3.4. Profissão ... 47

3.5. Grupos disciplinares dos professores ... 49

CONCLUSÕES ... Erro! Marcador não definido. BIBLIOGRAFIA ... 53 ANEXOS

ANEXO 1: Questionário de Baecke ANEXO 2: Ofício

OUTPUT 1: Universo da comunidade trabalhadora das escolas em estudo e no número de inquirições finais

OUTPUT 2: Testes de normalidade das variáveis em estudo (Kolmogorov-Smirnov) OUTPUT 3: Grupos disciplinares envolvidos na investigação

OUTPUT 4: Classificações para a variável sexo OUTPUT 5: Classificações para a variável profissão

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ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 1 Caraterísticas sociodemográficas da amostra ……….... 21 Quadro 2. A AF relacionada ao trabalho (adaptado de Guedes & Guedes, 2006) …………. 23 Quadro 3. Médias e desvios padrão dos índices de AF da população trabalhadora nas

escolas do concelho de Ponta Delgada ………... 28 Quadro 4. Médias e desvios padrão dos índices de AF segundo o sexo ………. 28 Quadro 5. Médias e desvios padrão dos índices de AF segundo a faixa etária ……….. 29 Quadro 6. Médias e desvio padrão dos índices de AF segundo as habilitações literárias … 29 Quadro 7. Médias e desvios padrão dos índices de AF segundo a categoria profissional … 30 Quadro 8. Médias e desvios padrão dos índices de AF segundo o grupo disciplinar dos

professores ………... 31

Quadro 9. Frequências e percentagens estimadas do nível de AD da população

trabalhadora nas escolas do concelho de Ponta Delgada ……….. 31 Quadro 10. Frequência e percentagem estimada do nível de AD segundo o sexo ………… 31 Quadro 11. Frequência e percentagem estimada do nível de AD segundo a faixa etária … 32 Quadro 12. Frequências e percentagens estimadas do nível de AD segundo as

habilitações literárias ………. 33 Quadro 13. Frequência e percentagem estimada do nível de AD segundo a profissão …… 33 Quadro 14. Frequência e percentagem estimada do nível de AD segundo o grupo

disciplinar dos professores ………... 34 Quadro 15. Frequências e percentagens das AD mais frequentemente praticadas pela

população trabalhadora nas escolas do concelho de Ponta Delgada …... 34 Quadro 16: Comparação entre sexo (teste U de Mann-Whitney) ……… 35 Quadro 17: Correlação entre idade e índices de AF (correlação de ró de Spearman) …... 36 Quadro 18: Correlação entre habilitações literárias e índices de AF (correlação de ró de

Spearman) ………... 37

Quadro 19: Comparação entre grupos profissionais (Teste Kruskal-Wallis) ……… 37 Quadro 20: Comparação entre grupos disciplinares dos professores (Teste U de

Mann-Whitney) ………... 38

Quadro 21: Coeficiente de correlação ró de Spearman entre as variáveis idade,

habilitações literárias e índices de AF, segundo o sexo feminino ………... 38 Quadro 22: Coeficiente de correlação ró de Spearman entre as variáveis idade,

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACSM – American College of Sports Medicine AD – Atividade desportiva

AF – Atividade física

AFD – Atividade física desportiva AFL – Atividade física de lazer AFT – Atividade física no trabalho AFH – Atividade física habitual

CDC/ACSM – Centers for Disease Control and American College of Sports Medicine CIT IN – Citado por

CF. – Conforme

DGAP – Direção Geral da Administração Pública DGS – Direção Geral de Saúde

DP – Desvio-padrão ED. – Edição/editores E.F. – Educação física E.G. – Por exemplo ET AL. – E colaboradores

HEPA – Europe network for the promotion of health-enhancing physical activity IAFT – Índice atividade física no trabalho

IAFL – Índice atividade física no tempo livre IAFD – Índice atividade física no desporto IAFH – Índice atividade física habitual IDP – Instituto do Desporto de Portugal IMC – Índice de Massa Corporal

I.E. – Isto é M – Média

Mets – Metabolic equivalent tasks N – Amostra

OMS – Organização Mundial de Saúde P. – Página

PP. – Páginas

UTAD – Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro WHO – World Health Organization

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INTRODUÇÃO

Os séculos XX e XXI são bastante ricos, no que respeita aos avanços feitos na tecnologia e na ciência, quanto aos aspetos preventivos da saúde e ao inerente combate de doenças (Lorenzetti, Trindade, Pires & Ramos, 2012). Neste sentido, estes avanços contribuíram, de forma útil, para a procura de estratégias que possam impugnar as atuais elevadas taxas de sedentarismo.

Um dos avanços mais evidentes refere-se à esperança média de vida (WHO, 2014), concluindo-se que é de extrema importância para a saúde a prática regular de atividade física (AF) (WHO, 2014; IDP, 2009), nomeadamente nos domínios físico, social e psicológico (IDP, 2009).

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) (WHO, 2010, 2012), o sedentarismo constitui o quarto fator de risco de mortalidade em todo o mundo. A corroborá-lo temos, em 1953, a publicação do primeiro estudo que correlacionou a AF com as doenças coronárias, bem como outros, posteriores, que compararam os efeitos na saúde de diversas profissões com os diferentes padrões de AF realizados (Barata, 1997).

Segundo Barata (2003), mediante esta realidade, a grande questão que agora se coloca é se os ganhos em termos de saúde se identificam ou não com os ganhos em condição física, ou se os ganhos de uma ou de outra não são mais que duas consequências de uma mesma causa, que é a prática da AF. Sabe-se, porém, que a AF tem uma influência direta na saúde dos indivíduos e na saúde das populações em geral (Paffenbarger, Blair & Hyde, 1993 cit in Pires, 2011), ou seja, quando somos sedentários (i.e. não somos suficientemente ativos) deterioramo-nos e quando somos ativos a nossa AF altera a dinâmica dos sistemas do organismo (e.g. nos sistemas cardiovascular, musculoesquelético, gastrointestinal, respiratório, no nosso perfil lipoproteico, no bem-estar físico e psicológico) (IDP, 2009; 2011a; U.S. Department of Health and Human Services, 1996), razão que nos leva a concluir que o nosso nível de AF tem implicações nos níveis da morbilidade, mortalidade (WHO, 2004; IDP, 2009, 2011a) e longevidade (IDP, 2009, 2011a). Todavia, a AF, enquanto elemento da nossa vida de grande complexidade e objeto de investigação de extrema importância, comporta dificuldades quando se pretende medi-la e/ou avaliá-la (Blair, Kohl, Gordon, & Paffenbarger, 1992).

Deste modo, a elaboração deste trabalho teve por base o recurso às definições operacionais que se seguem, desenvolvidas por Baecke, Burema e Frijters (1982) e obtidas a partir do questionário dos mesmos autores (1982):

(12)

1. Índice de AF no trabalho (IAFT) – Índice numérico de AF baseado em informações relativas à frequência com que os indivíduos costumam estar sentados, de pé, a andar, efetuar tarefas pesadas, transpirar, sensação de cansaço após o trabalho e comparação com a atividade de outros indivíduos da sua idade. Esta recolha é, posteriormente, codificada;

2. Índice de AF desportiva (IAFD) – Índice numérico de AF onde cada atividade desportiva praticada pelos inquiridos é codificada em termos de intensidade (i.e. suave, moderado, intenso) e multiplicado pela frequência semanal e pelo número de meses que é praticado. Este índice baseia-se, ainda, em episódios de transpiração expressos pelos indivíduos e na comparação da atividade desportiva que pratica com as atividades desportivas levadas a cabo por indivíduos da mesma idade; 3. Índice de AF no tempo livre (IAFL) – Índice numérico de AF fundamentado através

da frequência com que os indivíduos costumam andar a pé ou de bicicleta no tempo de lazer e/ou para se deslocarem para a escola ou local de trabalho, bem como na frequência com que costumam ver televisão;

4. Índice de AF habitual – O Índice de AF habitual refere-se à soma dos três índices anteriores. Estes três assentam nas respostas às questões enunciadas para cada um deles e são calculados de acordo com fórmulas determinadas pelos autores. Desta forma, o presente estudo, em primeira instância, aborda o conceito de AF, recorrendo a aspetos históricos e concetuais, enuncia os benefícios e fatores sociodemográficos nele implicados, bem como, descreve e contextualiza o flagelo do sedentarismo nas populações atuais e a importância da escola enquanto espaço promotor de crescimento e mudança de hábitos saudáveis, sobretudo nas faixas etárias mais novas. Para finalizar, abordará aspetos associados aos instrumentos de medição da AF, designadamente os questionários de auto-resposta, bem como será feito um breve enquadramento sobre os principais estudos realizados sobre a AF e as conclusões obtidas a partir destes. Assim, os objetivos desta primeira parte prendem-se com a explicação do nosso projeto, bem como colocá-lo numa perspetiva abrangente de inter-relações que vão para além do significado do estudo prático em si mesmo. Posteriormente, é efetuada uma descrição detalhada sobre a metodologia utilizada, a saber: os objetivos e hipóteses de estudo, a caracterização dos participantes, os instrumentos, os procedimentos utilizados na recolha de dados, os procedimentos estatísticos usados e análise dos resultados obtidos.

Por último, é realizada a discussão e a conclusão, não só através da análise crítica dos resultados obtidos em comparação com outros estudos científicos publicados, nacionais ou internacionais, relativamente à prática da AF, como também a identificação de limitações encontradas e a sugestão para futuras linhas de investigação.

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REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

1. Introdução

O desporto, segundo Bourdieu (1987 cit in Marivoet, 1997, p. 105) “apresenta-se como um produto cultural, social e económico, inserido num mercado de oferta e procura, socialmente produzidas, ou seja, a oferta constitui-se pela capacidade organizativa num dado momento, a procura, pelas disposições de prática expressas na sociedade. O sistema das preferências constitui o elemento dinamizador, assente na lógica da raridade”.

Por seu lado, as classes sociais com maiores níveis de capital económico, cultural e social procuram modalidades mais restritas, pois são estas que lhe fornecem maior capacidade distintiva, enquanto que as restantes classes assumem estratégias de compensação para a sua baixa estrutura de capital através do acesso a consumos desportivos que lhe forneçam capacidade de identificação social (Marivoet, 2002a). Face a tal cenário, encontra-se, assim, “uma tendência para a generalização das modalidades, através da constituição de uma oferta menos elitista, [levando a que as] classes sociais com níveis superiores de capital procurarem novos desportos, de modo a ser-lhe restituída a distinção que procuram” (Bourdieu, 1987 cit in Marivoet, 1997, p. 105).

Todavia, compreender as várias facetas do fenómeno que envolve a dinâmica desportiva (i.e. conhecer as condicionantes sociais, culturais e económicas subjacentes ao desporto) revela-se insuficiente, pelo que medir a AF para relacioná-la com a variável saúde tem ocupado um lugar de destaque na sociedade atual, o que pode ser encontrado em vários estudos ligados à AF (Ainsworth, Montoye & Leon, 1994). Para estes autores, a maior parte das doenças crónicas contemporâneas e demais problemas de saúde parecem estar associados com os modernos hábitos de vida, incluindo os baixos níveis de AF, razão que tem motivado investigadores a aprofundar e desenvolver métodos de avaliação da AF habitual e do dispêndio energético das populações (Guedes, Lopes, Guedes & Stanganelli, 2006). Assim, identificar e estudar a AF numa perspetiva epidemiológica tem contribuído para o desenvolvimento de vários métodos de estudo dentro desta área, especialmente no campo das doenças cardiovasculares e da obesidade (Baecke et al., 1982). Por exemplo, a pertinência em avaliar o dispêndio energético por intermédio de métodos diretos e indiretos, através de técnicas de calorimetria, é evidente, mas são as técnicas laboratoriais as habitualmente aplicáveis em estudos epidemiológicos em grande escala (Baecke et al., 1982).

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2. Conceito e desenvolvimento da AF

Com a evolução da sociedade e a par desta, a industrialização e a mecanização das tarefas (por exemplo (e.g). máquinas que efetuam as tarefas que eram antes desempenhadas pelo Homem) têm provocado alterações nos padrões e estilos de vida (Nasha, 2001 cit in Sousa, 2007; IDP, 2009), o que, somando com atividades de lazer entendidas como passivas (e.g. jogos de computador, ver televisão), resulta numa hipoatividade (isto é (i.e). diminuição da quantidade de atividade) (Sousa, 2007).

Paralelamente a estas mudanças nos hábitos e estilos de vida (WHO, 2004; IDP, 2009), também o conceito de saúde se tem alterado e cada vez mais a sociedade procura compensar, através da AF, os níveis de saúde, bem-estar físico, mental e social, de modo a obter hábitos de vida saudáveis. Na realidade, nunca a saúde foi tão interligada à AF como agora (IDP, 2009; Eurobarómetro, 2010), sendo observável o quanto as pessoas integram o desporto na sua vida social (Mota, 1997; IDP, 2011b) ou enquanto produto de um indivíduo ativo (Marivoet, 2002b). Todavia, o significado atribuído ao conceito de AF não é consensual entre autores (Shephard, 1994), o que em muito tem contribuído para o uso indiscriminado de expressões a ela associadas.

De forma a colmatar tal lacuna conceptual, a AF é hoje entendida como qualquer movimento corporal produzido pelo sistema musculosquelético, que se traduz num aumento de dispêndio energético (WHO, 2012; IDP, 2009, Armstrong & Welsman, 2006). A este nível incluem-se as AF de lazer, os exercícios, o trabalho profissional e outras que provoquem dispêndio energético (Powell, 1988), sendo que esta pode variar segundo o seu tipo (e.g. atividades aeróbicas, moderada e vigorosas), frequência (i.e. quantas vezes), duração (i.e. por quanto tempo), intensidade (i.e. a dificuldade de execução da atividade) (Cachapuz, Calejo & Maia, 1999 cit in Pires, 2011; WHO, 2010) e volume (i.e. quantidade na totalidade) (WHO, 2010). Por seu turno, e seguindo a linha orientadora supracitada, autores como Caspersen, Powell e Christenson (1985) e Bouchard, Shephard e Stephens (1994 cit in Ladeira, 2004) defendem o pressuposto que o exercício é abrangido pelo conceito lato de AF, sendo ainda definido por Bouchard e colaboradores (1994 cit in Ladeira, 2004) como um movimento corporal planeado, estruturado e repetitivo, realizado para manter ou melhorar um ou vários componentes da boa forma física. Não obstante, é importante frisar que nem todas as formas de AF são consideradas como exercício.

Posteriormente surge uma nova definição, menos controversa, desenvolvida por Kesaniemi e colaboradores (2001), que descrevem a atividade como sendo qualquer movimento do corpo humano, produzido pelo sistema musculoesquelético e que resulta num aumento substancial de energia despendida. Ou seja, apesar de idêntica à definição de Carspersen,

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e colaboradores (1985), esta engloba, também, todas as atividades realizadas diariamente que contribuem para o gasto energético e que modificam o consumo calórico diário (Bouchard et al., 1993 cit in Ladeira, 2004).

Howley (2001 cit in Ladeira, 2004) aponta duas características que diferenciam circunstancialmente a atividade física. Uma, a atividade física de lazer que os praticantes executam no tempo livre e que corresponde aos seus interesses. Inclui programas de exercício físico, caminhar, a jardinagem, o desporto, a dança, etc. Uma outra, a atividade física ocupacional, associada ao trabalho e às atividades utilitárias. Há um acordo geral relativamente a esta categorização, em que a atividade física total tem estas duas vertentes. As atividades desportivas ou de lazer, opcionais, a que se recorre por prazer, pela emoção, pela alegria, pela saúde e pelo contacto social que proporcionam, e o trabalho, a que se associa a obrigação, a disciplina, a tensão, o cansaço e o stresse.

É neste quadro conceptual que também se situa este trabalho.

3. Benefícios, fatores sociodemográficos implicados na AF

Tal como descrito, a AF tem efeitos significativos na saúde pública, pelo impacto que tem sobre inúmeras doenças crónicas nas mais variadas condições (Caspersen, Merritt & Stephens, 1994; Barata, 1997). Neste sentido, existe consenso internacional no que concerne à importância desta na prevenção e/ou tratamento de problemas de saúde (e.g. doenças cardiovasculares e coronárias, osteoporose, obesidade, hipertensão arterial, artrites, cancro, diabetes, problemas gastrointestinais), bem como as relativas à saúde mental (e.g. sintomatologia ansiosa e/ou depressiva) (U.S. Department of Health and Human Services, 1996; WHO, 2004, 2010, 2012; IDP, 2009). A comprová-lo, estudos efetuados nas últimas décadas confirmam os benefícios da prática de AF regular na saúde (IDP, 2011a), pois reduz o risco de morbilidade e de mortalidade (IDP, 2011b), subjacentes a várias doenças crónicas, bem como, aumenta os níveis de condição física dos indivíduos, trazendo aspetos positivos ao nível das várias funções do nosso organismo (Barata, 1997; IDP, 2009; IDP, 2011a). Apesar disso, muitos são os tópicos sobre os quais futuros estudos devem incidir, designadamente os efeitos idiossincráticos (i.e. as particularidades individuais), a quantidade de atividade necessária para obter um dado resultado (i.e. um determinado e específico benefício), o papel da intensidade da atividade e os benefícios biológicos específicos que, aliados à AF, têm influência sobre a saúde (Blair et al., 1992). Ou seja, mesmo antes da avaliação da distribuição e incidência de doenças crónicas e outras condições ligadas à saúde, de acordo com variáveis selecionadas geográfica e demograficamente, deve ser efetuado, por um lado, um balanço do impacto da AF, de forma

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cuidada e precisa no que às influências e consequências dizem respeito (Caspersen et al. 1994) e por outro, devem desenvolver-se medidas padronizadas da AF, visto que existem muitas divergências a este nível (Faria, 2001).

Uma das abordagens do American College of Sports Medicine (ACSM) (1991 cit in Killoran, Fentem & Caspersen, 1994), faz a distinção entre a AF que tem como objetivo promover a condição física e a AF que tem como objetivo promover a saúde, sendo que AF menos intensa desempenhada com regularidade é, hoje em dia, vista como adequada para proteger os indivíduos contra as doenças do foro cardiovascular. Por seu turno, o Centers for Disease Control and American College of Sports Medicine (CDC/ACSM) (1995), identifica as atividades de intensidade moderada (e.g. andar a pé, de bicicleta, jardinagem) como sendo um fator relevante para o desenvolvimento de hábitos de vida saudáveis. Não é, portanto, surpreendente que o apelo, proveniente das autoridades ligadas à saúde, se prenda na ênfase em realizar-se qualquer tipo de AF, desde que efetuada de uma forma regular, não necessitando esta de ser muito intensa/vigorosa (IDP, 2009; WHO, 2010), uma vez que ser ativo de uma forma regular no seu dia-a-dia, independentemente do tipo de AF escolhida, beneficia a saúde numa perspetiva mais abrangente (Blair et al., 1992) e contribui para o aumento dos benefícios para a saúde pública dos cidadãos dos mais sedentários (Blair et al., 1993, cit in Dubbert & Stetson, 1995) e dos indivíduos nas faixas etárias mais avançadas (DiPietro, 1995). Para melhor entender este fenómeno, vários estudos foram já realizados, tal com o de Paffenbarger e colaboradores (1986 cit in Killoran et al., 1994) que, num estudo longitudinal com uma amostra de 20.000 indivíduos do sexo masculino com idades compreendidas entre os 35 e os 74 anos, verificaram que os fisicamente ativos não só apresentavam índices menores de mortalidade devido a doenças cardiovasculares, como tinham uma maior longevidade quando comparados com os indivíduos sedentários. Outras investigações surgiram, em especial as que relacionam a influência da AF sobre as doenças cardiovasculares e a sua prevenção, dos quais destacamos os estudos levados a cabo por Dannenberg, Keller, Wilson e Castelli (1989) e por Kiely, Wolg, Cuuples, Beiser e Kannel (1994), que referem não só a associação entre os níveis de AF e o risco de doenças cardiovasculares mas também o facto da AF atuar como um meio de proteção contra o risco de enfarte do miocárdio, em especial no que concerne à população masculina.

Não obstante, face a tudo o que até aqui foi exposto, não é possível compreender os hábitos de AF se não os interligarmos com uma panóplia de outras condicionantes, nomeadamente as pessoais, biológicas, sociais e/ou culturais. Sallis e Owen (1998), a este respeito, afirmam que fatores “sócio-bio-demográficos” (e.g. idade, género, ocupação, número de filhos, educação, estado civil, etnia, condição salarial, localização geográfica e outros aspetos sociais presentes nos hábitos de vida de uma população) são considerados como

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determinantes da AF, diferindo entre eles em grau de associação. Conclusões idênticas foram observadas no estudo de Faria (2001), que se debruçou sobre os padrões de grau de AF nas variáveis género, idade, zona geográfica (i.e. rural e urbana) e nível de educação. Uma das variáveis onde se encontram maiores diferenças é no género, sobretudo quando são consideradas as atividades de grande intensidade (Marivoet, 2002b; Murcia, Galindo & Villodre, 2006). Faria (2001) defende que esta discrepância se deve aos índices de AF no trabalho e no desporto, mas outros autores alegam causas sociológicas, nomeadamente relações de sexo relativas ao desporto que atribuem força e competitividade ao homem e fragilidade e graciosidade à mulher ou as construções sociais que impõe diferentes papéis e atitudes morais de acordo com cada um dos géneros (Marivoet, 2000b; Murcia, et al., 2006), nomeadamente a detenção de cargos de poder na esfera pública ou de determinadas profissões ao homem e a delegação dos cuidados domésticos, da maternidade e da educação dos filhos à mulher (Marivoet, 2002b). A demonstrá-lo, temos, a título de exemplo, o estudo de Salles-Costa e colaboradores (2003) e de Domínguez e colaboradores (1998a), que revelam que o sexo masculino envolve-se mais em AF quando comparado com o sexo feminino, bem como o de Nhantumbo e colaboradores (2006), que observa nos rapazes melhores performances desportivas no geral e nos níveis da força e resistência em específico. Por seu lado, Jaffe e colaboradores (1999 cit in Ladeira, 2004), entre o sexo feminino, apontaram como principais razões para a não adoção da AF a perda de tempo para o trabalho doméstico, para a carreira profissional e para a família, estando estas ainda bastante elencadas aos papéis sociais impostos culturalmente (Crespo et al., 2000 cit in Ladeira, 2004; Marivoet, 2002b), principalmente se tivermos em conta o preconceito sobre o ideal de feminilidade (Marivoet, 2002a, 2002b). Quanto às preferências das modalidades desportivas de cada género, verificam-se diferenças notórias, sendo o futebol a mais praticada pelos homens, seguindo-se o atletismo e a natação, enquanto que nas mulheres são a natação, as danças gímnicas e a ginástica (Marivoet, 2002a). Resultados semelhantes na população portuguesa são observados por Faria (2001), que constata nos homens maiores incidências para o futebol, natação e fitness (i.e. musculação, cardiofitness, step), enquanto as mulheres são mais propensas a optar pela natação, ginástica e fitness.

Por seu turno, a idade parece condicionar, de igual modo, a frequência da AF (Disham, 1982; Marivoet, 2002b). Segundo Faria (2001), a prevalência de AF diminui com a idade (e.g. na população portuguesa, os valores mais altos de AF no trabalho correspondem à faixa etária dos 25 aos 34 anos mas, paradoxalmente, é também esta que apresenta valores mais baixos quando a AF diz respeito ao tempo livre, certamente devido às exigências do mercado de trabalho). Já Marivoet (2001) refere que a atividade desportiva decai a partir dos 35 anos, emergindo as de menor intensidade. Porém, no Canadá e na Finlândia

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verificam-se exceções a este nível, pois em ambos os paíverificam-ses os idosos são mais ativos que o grupo da população mais jovem (Faria, 2001).

Por sua vez, quando se associa o grau de instrução com os níveis de AF realizadas, nomeadamente a que à prática desportiva diz respeito, estudos sugerem que os indivíduos academicamente mais habilitados são mais ativos (Dishman, 1982; Marivoet, 2001; Faria, 2001), tanto na adesão a programas formais, como nas atividades espontâneas (Dishman, 1988). Marivoet (2002a) vai mais longe ao afirmar que com o aumento das habilitações literárias, as atividades desportivas preferidas tendem a ser de cariz mais individual.

Não obstante, a AF no trabalho correlaciona-se negativamente com as habilitações literárias, dado que a AF no trabalho diminui drasticamente com o aumento das habilitações literárias. Isto é, os indivíduos com um baixo grau de escolaridade têm níveis AF no trabalho superiores, provavelmente devido ao tipo de tarefas que executa no trabalho, enquanto os indivíduos com habilitações literárias superiores apresentam melhores resultados IAFD no e baixos valores no IAFT (Faria, 2001).

Um outro aspeto determinante para a inatividade física é o nível socioeconómico baixo (Marivoet, 2002b; IDP, 2009, 2011a), quer pela escassez de tempo livre (Marivoet, 2002b; IDP, 2011a), quer pelos custos associados (IDP, 2009; IDP, 2011a), quer pela história cultural (i.e. regime fascista pouco estimulou estas classes mais desfavorecidas) (Marivoet, 2002b).

4. Sedentarismo

4.1. Definição

A sociedade contemporânea, tão caraterizada pela mudança (Mota, 1997; Garcia, 2000 cit in Sousa, 2007), vive de perto o flagelo do sedentarismo, que, no geral, é o extremo oposto da AF e atividade desportiva (AD). Em concreto, entende-se por sedentarismo o comportamento continuado e/ou a adoção de hábitos de “que ou quem sai pouco, fica geralmente em casa ou é inativo” (Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, 2015).

4.2. Implicações biopsicossociais

Após uma breve definição, o sedentarismo é, assim, um fenómeno considerado por alguns como um fator de risco para a saúde em geral e para a cardiovascular em particular (Barata, 2003; IDP, 2009). Tal significa que as modificações que se desencadearam, fruto do célere desenvolvimento tecnológico e científico, foram de tal modo marcantes que alteraram

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acentuadamente o conjunto de valores, atitudes e comportamentos, moldando-os a um contexto social e a um entendimento de vida com orientações distintas das existentes até então (Garcia, 2000 cit in Sousa, 2007). A partir destas, muitas outras mudanças ocorreram (e.g. científicas, sociais, económicas, tecnológicas e culturais), verificando-se quer uma menor parcela de esforço físico praticado, quer o aumento do sedentarismo das populações (Eurobarómetro, 2010, 2014), fenómeno que afeta adultos e idosos e que se alastra, de forma galopante, entre as crianças e os jovens (IDP, 2009, 2011b).

Com o aumento significativo da esperança média de vida, surgem as condições ideais para o aparecimento das doenças degenerativas crónicas, sendo estas consideradas as maiores causadoras de mortalidade e de morbilidade das populações. Estas doenças (e.g. diabetes, obesidade, cardiovasculares degenerativas, reumáticas, psiquiátricas) ocorrem sobretudo nas idades avançadas, que em parte representam a inadaptação da humanidade a estas novas condições de vida, mas que, recentemente, começaram a aparecer em idades cada vez mais baixas (Barata, 2003).

Por seu lado, Ladeira (2004) atribui ao sedentarismo a falta ou a diminuição da AF. Isto é, na realidade, o conceito não está associado necessariamente à falta de uma atividade desportiva, mas sim ao reduzido gasto calórico por semana com atividades ocupacionais (um indivíduo ativo gasta, no mínimo, 2200 calorias por semana em atividades físicas). Tanto o IDP (2003, 2009) como a União Europeia (2013) indica-nos que, nos últimos anos, tem-se verificado um aumento do sedentarismo, embora estejam atualmente bem descritos os benefícios da AF para a qualidade de vida e bem-estar físico e psicológico e/ou dos efeitos negativos devidos à sua ausência, com repercussões significativas aos níveis económico, individual, comunitário e da saúde. Esta afirmação vai ao encontro dos dados obtidos pelo Inquérito Nacional de Saúde (INS 2009), que descrevem a população portuguesa como maioritariamente inativa (i.e. reduzida aptidão física e tendencialmente com excesso de peso) e pelos estudos da Pan European Survey (1999 cit in Barata, 2003) e do Eurobarómetro (2010, 2014), que demonstram que Portugal é um dos países da União Europeia que apresenta piores índices de AF, quer informal, quer organizada (Eurobarómetro, 2010).

Não obstante, é fulcral mencionar que o sedentarismo, na sua generalidade, não é uma calamidade pública exclusiva de determinados países ou zonas geográficas: estudos epidemiológicos mostram que 25% a 30% dos adultos são sedentários nos seus tempos livres (e.g. em países industrializados, só 10% a 15% dos adultos praticam alguma AF de forma regular) (Sallis & Owen, 1998), enquanto que, no contexto europeu, países do Norte da Europa apresentaram níveis mais altos de AF quando comparados com os demais

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países (Eurobarómetro, 2004, 2010).

Por outro lado, como a maioria das problemáticas biopsicossociais, outro importante fator subjacente ao sedentarismo parece estar correlacionado com a existência de estratificação social, que coloca à margem mulheres, indivíduos de baixa escolaridade (Martinez-Gonzalez et al., 2001), os mais idosos e os de classe social inferior (Rutten et al., 2001).

Posto isto, dada a inquestionável importância da AF na prevenção da maioria das doenças crónicas mais comuns na nossa população, é necessário o aparecimento de iniciativas bem estruturadas para promover e generalizar a prática física (Eurobarómetro, 2014). Segundo Barata (2003) e o IDP (2003) estas iniciativas têm poucos custos e geram retornos que podem ser diretos (i.e. em despesas de saúde) e indiretos (i.e. em termos de invalidez e de absentismo), bem como nos índices de saúde, de bem-estar e de produtividade média. O IDP (2003) reporta, ainda, que o desporto e a AF podem trazer vários benefícios, entre eles socioeconómicos (i.e. redução nos custos de saúde e sociais, aumento da produtividade e das oportunidades de emprego, melhoria da integração social, ambientes mais saudáveis, melhoria do aproveitamento escolar, a participação no desporto e na recreação).

Em súmula, um dos principais objetivos das políticas de saúde pública é o de incrementar a prática de AF nas várias fases de desenvolvimento (i.e. crianças, jovens, adultos e idosos), enquanto promotoras da aptidão física com vista à promoção e à melhoria da saúde (Vitorino & Cardoso, 2000; IDP, 2009, 2011a, 2011b). Ou seja, a saúde deve ser entendida não só como um problema médico, mas também percecionada como um problema cultural que deve ser alvo de (re)educação (Constantino, 1998; Mota, 1997), pela orientação e aconselhamento personalizado (e.g. benefícios da AF, riscos associados ao estilo de vida sedentário, transmissão de conhecimentos quanto à promoção de estilos de vida saudáveis e ativos, níveis motivacionais) (IDP, 2009, 2011b).

4.3. A prática de AF enquanto estratégia preventiva ao sedentarismo

De forma sucinta, Caspersen e colaboradores (1985 cit in Odgen, 2004) descrevem dois tipos de atividade: a AF, enquanto movimento corporal que produz um dispêndio energético, e a AD, enquanto movimento corporal para a melhoria ou manutenção da boa forma física. Significa que, apesar de cada uma delas ser producente no combate ao sedentarismo, a AD traduz-se, em proporção, num aumento dos benefícios físicos e psicológicos, como já anteriormente referido.

Aos níveis mundial e nacional, a OMS (2014) e o IDP (2009, 2011a, 2011b) respetivamente, têm investido em programas/campanhas de sensibilização para a prática de AF, através de

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recomendações diárias e que se refletem na frequência, duração e intensidade da AD, mediante a faixa etária dos indivíduos.

5. A escola enquanto espaço privilegiado para o desenvolvimento,

(re)educação e promoção da AF

A Escola, enquanto espaço de crescimento e mudança (e.g. social, psicológico, educativo, desportivo, cívico), é, ainda, um sistema pouco estudado enquanto local de (re)educação, desenvolvimento e promoção da AF.

A escola engloba uma cultura e regras muito próprias e, como tal, é complexa, heterogénea e ambígua (Alarcão, 2000 cit in Vaz, 2014). Nela, a título de exemplo, pode encontrar-se uma panóplia de diferentes valores (e.g. oriundos da família e/ou da cultura), percursos (e.g. académicos), mundos (e.g. desemprego dos pais, famílias monoparentais), contradições, incertezas e frequentes mudanças (e.g. diferentes faixas etárias, diferentes tipos de relações e comunicações), mas que oferece a quem a frequenta, por seu lado, o direito à educação, à formação cívica (Vaz, 2014), à formação e desenvolvimento dos seus discentes (Mota, 1993 cit in Pires, 2011).

Desta forma, face a este complexo sistema, a escola, enquanto espaço que privilegia as relações humanas, o crescimento e a aprendizagem, é, assim, um dos principiais veículos para maximizar as “potencialidades dos seus alunos, através das mesmas possibilidades e oportunidades, [respeitando] a individualidade (...) [e favorecendo] o desenvolvimento global da personalidade, o progresso social e a democratização da sociedade” (Vaz, 2014, p. 16), fomentando, neste caso em concreto, a participação das crianças e dos adolescentes para a prática de AF (Dietz & Gortmaker, 2011 cit in Pires, 2011), bem como a prática de hábitos alimentares saudáveis (WHO, 2004). Assim, para além dos educadores e/ou professores, os profissionais de saúde (e.g. enfermeiros, psicólogos) que interagem com os alunos (e.g. avaliação dos níveis motivacionais e das preferências) e com a comunidade (e.g. incentivar os pais a promoverem a AF dos filhos) constituem uma mais-valia para o aconselhamento dos benefícios da AF ou para o encaminhamento destes para especialistas (IDP; 2009). Neste sentido, é natural que a escola seja entendida como um espaço onde valores éticos, morais e sociais são transmitidos, bem como um meio, através da Educação Física (EF), que favorece, como já foi referido, a educação e a promoção da saúde num sentido lato (Vaz, 2014) e da AF em particular (Vaz, 2014; IDP, 2011a). Segundo Bento (2003 cit in Vaz, 2014), a EF tem como objetivo a formação corporal e desportiva dos seus discentes, pois além do desenvolvimento das capacidades motoras, esta disciplina integra, também, as dimensões associadas à interação e à pluralidade de sentidos. Por exemplo, nas relações

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verticais (i.e. entre alunos e professores) e horizontais (i.e. entre pares) são transmitidos, entre outros, princípios como a superação e o esforço para o alcance de conquistas e/ou objetivos. Como tal, o Desporto em geral e a EF em particular, permite a formação de um ser humano física, cultural e eticamente completo (Vaz, 2014).

Neste sentido, os objetivos da EF, que para muitos constitui a única oportunidade de beneficiar da prática desportiva durante o período escolar (Rebelo, 2009 cit in Vaz, 2014), devem abarcar a educação para a AF num sentido lato e de hábitos de vida saudáveis em particular, através da formação integral do discente, do incentivo pela prática de exercício físico, da transmissão de valores sociais, estéticos e éticos, cultura desportiva, etc., de modo a que não seja comprometido o desenvolvimento de futuras gerações, que apresentam, nas faixas etárias mais novas da sociedade atual, problemáticas associadas ao sedentarismo e inatividade física geral (Vaz, 2014).

Bento (2007, p. 2 cit in Vaz, 2014) é exímio ao resumir numa frase a importância da EF nas escolas, ao afirmar que “Mobilizar para o desporto é acordar e envolver o país com uma causa social e cultural.”

6. Métodos de medição da AF

A medição da AF total é um processo complexo, que envolve os diversos tipos de atividade (e.g. ocupacionais, domésticos, desportivos), a frequência, a duração e a intensidade, podendo, ainda, por seu lado, incluir os pressupostos circunstanciais no qual se desenvolve (Bouchard, 2001; Lamonte & Ainsworth, 2001).

Contudo, não existem medições standard da AF ou da aptidão física (Florindo & Latorre, 2003). Esta limitação motivou que a AF recebesse especial atenção por parte dos investigadores que trabalham com a saúde pública das populações (Ainsworth et al., 1994; Dishman, 1994), embora seja, ainda, ignorada por aqueles que estudam as determinantes e intervenções na AF (Dishman, 1994).

A este respeito, pode dizer-se que as técnicas de medição da AF são usadas de diferentes formas, consoante o objetivo do estudo, podendo ser utilizadas para descrever e estudar os hábitos de AF das populações ou os níveis de AF das mesmas, de forma a, por exemplo, estabelecer planos de intervenção, a ter acesso à pesquisa das alterações dos hábitos de AF nos indivíduos no decorrer do tempo ou para identificar e correlacionar alterações comportamentais relacionadas com a AF (Ainsworth et al., 1994). Neste sentido, existem inúmeros métodos e instrumentos de avaliação da AF (Baecke et al., 1982; Guedes et al., 2006) cujas vantagens e desvantagens das várias formas de pesquisa estão dependentes

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da população a ser estudada e dos objetivos da investigação (Guedes et al., 2006). Porém, estão, ainda assim, descritos na literatura cerca de trinta métodos usados para a avaliação física e que podem ser agrupados em quatro categorias, nomeadamente em questionários, observações, monitorização e análises fisiológicas (Armstrong, Balding & Kirby, 1998), ou segundo a tipologia da amostra, tendo em conta a que melhor se enquadra (LaPorte et al. 1985 cit in Ladeira, 2004; Montoye, Kemper, Sallis & Washburn, 1996 cit in Faria, 2001). Deste modo, a inexistência de uma medida standard universalmente aceite tem dificultado o surgimento de uma técnica de terreno com validade e fiabilidade mais aceitável (Lamonte et al., 2001). Como consequência disto, e segundo Ladeira (2004), “coexistem vários métodos, cada um com pontos fortes e limitações, mas nenhum se afirmando como método ideal”. Face ao supracitado, a seleção do método de avaliação mais adequado depende de uma série de fatores, tais como: natureza do problema em estudo, dimensão da relação entre AF e os benefícios para a saúde, tamanho e demografia da população em estudo, viabilidade em termos económicos; tempo para aplicar e tratar as medidas, aceitação por parte dos indivíduos envolvidos, compatibilidade com as atividades diárias e validade e fiabilidade dos instrumentos utilizados (Bouchard, et al., 1993 cit in Ladeira, 2004). A corroborar esta mesma multiplicidade, La Porte e colaboradores (1985 cit in Faria, 2001) realizaram um estudo com mais de trinta métodos e concluíram a inexistência de técnicas que satisfaçam todos os critérios e que se mantém até hoje (i.e. desde 1985 que ainda não existe nenhum método que incorpore os referidos critérios considerados ideais).

Assim, neste estudo, vamos cingir-nos à descrição do questionário de Baecke, a opção escolhida para a presente recolha de dados, e que constitui um dos métodos mais utilizados para a medição da AF (Armstrong & Welsman, 2006; Hertogh, Monninkhof, Schouten, Peeters & Schuit, 2008; IDP, 2009, 2011a).

6.1. Questionários de avaliação da AF

Este método insere-se na categoria de avaliação através do auto-relato, bem como outras técnicas baseadas em recordações de atividades realizadas num tempo limitado, como os diários e entrevistas. Estas técnicas possibilitam a conversão em estimativas de energia despendida (kcal/kjoules, METS) e podem categorizar as pessoas em níveis de AF (Ladeira, 2004).

Os instrumentos subjetivos de AF, onde se incluem os questionários, as entrevistas e os diários, representam os instrumentos de medida de maior praticabilidade no que diz respeito à avaliação dos níveis de prática de AF, designadamente em situações em que o número de

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avaliados a serem analisados é grande (Armstrong & Welsman, 2006; Hertogh et al., 2008; Guedes & Guedes 2006; Florindo, Latorre, Jaime, Tanaka & Zerbini, 2004; Ladeira, 2004; Faria, 2001). Os procedimentos apresentam como principais vantagens os custos e a facilidade de colheita e análise das afirmações (Armstrong et al., 2006; Hertogh et al., 2008). Todavia, embora estes apresentem limitações quanto à qualidade das informações prestadas (i.e. alguns avaliados podem apresentar dificuldades em recordar com fidelidade as caraterísticas das atividades realizadas, de subestimarem ou sobrestimarem as questões associadas à duração, à intensidade e ao tipo de ações desempenhadas), os questionários têm uma boa aceitação no campo da EF (Kesaniemi et al., 2001; Armstrong et al., 2006). Outros autores referem, ainda, que a utilização de questionários e entrevistas direcionados à obtenção de informações sobre o nível de prática de AF em crianças e adolescentes (Armstrong et al, 2006) e em idosos (Hertogh, et al., 2008) deve ser prudente, dado que, no primeiro caso, estas faixas etárias apresentam dificuldades em interpretar o que está a ser solicitado e/ou em responder corretamente ou tendem a praticar AF de elevada intermitência na duração e na intensidade dos esforços físicos, enquanto no segundo caso podem verificar-se alterações e/ou problemas de memória.

Nesse sentido, consideramos que o questionário de Baecke seria a escolha mais adequada para o presente estudo.

7. Estudos realizados sobre a AF

No que concerne às investigações efetuadas sobre a influência da AF nos domínios físico e psicológico, com implicações de ordem diversa (e.g. sociais, culturais, económicas, saúde), faremos alusão aos mais sonantes da literatura científica, sobretudo pelo seu pioneirismo ou valor epidemiológico. Adotou-se por tal resolução pela inviabilidade de compilar, por motivos temporais e humanos, todos os estudos existentes (e.g. epidemiológicos, estudos de caso, longitudinais, exploratórios) a nível nacional e internacional.

Como tal, não se pretende abordar exaustivamente todos os aspetos inerentes aos estudos adiante retratados, mas fornecer informações sobre fontes primárias, de relevância científica e/ou de suporte ao presente estudo, bem como referir, muito resumidamente, os objetivos, a amostra, os instrumentos utilizados e as principais conclusões.

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7.1. Internacionais

7.1.1. Baecke e colaboradores (1982)

Entre outros aspetos, este estudo teve por base a análise das propriedades psicométricas do instrumento desenvolvido pelos autores em causa, designadamente ao nível da validade de construto, da estabilidade temporal e da análise fatorial. Quanto ao estudo da AF nas variáveis sociodemográficas, verifica-se que 1) o nível de literacia “é inversamente relatado no [IAFT] e positivamente referido no [IAFL] em ambos os géneros” e 2) que “a experiência subjetiva do trabalho (...) não é referida no IAFT [e] inversamente relatada no IAFD e IAFL em ambos os géneros” (Baecke et al., 1982, p. 936).

7.1.2. Sallis, Haskell, Wood, Fortmann, Rogers, Blair e Paffenbarger (1985)

A presente investigação teve como objetivos a descrição de métodos de medição utilizados para a avaliação da AF e o estabelecimento, a partir destes instrumentos, de relações entre o nível de AF e as variáveis a ele relacionadas. A amostra (N = 2504) incluiu indivíduos com idades compreendidas entre os 11 e os 74 anos. Enunciam-se como principais resultados os seguintes: 1) o tempo despendido na prática de AF é tanto menor quanto maior é a idade dos indivíduos, 2) quanto à evolução da intensidade das AF, a população do sexo masculino dedica-se a AF de intensidade moderada e vigorosa, ao invés da população feminina que possui um maior tempo despendido em AF de intensidade leve, com exceção para a faixa etária superior aos 65 anos e 3) indivíduos com um nível de educação mais elevado apresenta uma correlação mais forte em AF de intensidade vigorosa e moderada quanto aos restantes níveis educacionais analisados, em ambos os géneros, embora a correlação seja bastante mais forte no que concerne as AF moderadas (Sallis, et al., 1985).

7.1.3. Boffetta, Barone e Wynder (1990)

Numa amostra composta por 5045 indivíduos de oito hospitais dos EUA (3381 homens; 1664 mulheres), foi aplicado um questionário de AF nos tempos livros com a finalidade de aferir a epidemiologia da AFL. Ao relacionarem a AFL com as variáveis idade, escolaridade, tabagismo e IMC, verificaram associações positivas e significativas entre elas, designadamente que 51% dos homens e 36% das mulheres relatam AFL ao longo da vida, enquanto 23% dos homens e 22% das mulheres só iniciaram AFL após os 44 anos. Por seu lado, as AF mais comuns são a caminhada moderada, a natação, o ciclismo e o ténis, sobretudo se tivermos em conta os indivíduos com 44 anos ou mais (Boffetta, et al., 1990).

7.1.4. Caspersen e Merritt (1995)

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o objetivo de monitorizar a AF de indivíduos com dezoito ou mais anos. O instrumento usado foi um inquérito criado pelos supramencionados autores, sob a forma de quatro hipóteses de resposta. Os resultados exibem que seis em cada dez indivíduos são fisicamente inativos ou irregularmente ativos, quatro são regularmente ativos e menos de um é regular e intensamente ativo. Por seu lado, o sexo masculino, em qualquer idade mas sobretudo na faixa etária inferior aos 30 anos, aumenta a prática de AF regular não intensiva, o sexo feminino e os indivíduos mais velhos (independentemente do género) são os que fazem as alterações mais benéficas e os de baixo grau de escolaridade são os que apresentam mudanças menos favoráveis (Caspersen et al., 1995).

7.1.5. Domíngues-Berjón, Borrell, Nebot e Plasència (1998a)

Domínguez e colaboradores (1998a) estabeleceram como objetivo a descrição da AFL e os níveis a ela associados e considerados como mais benéficos para a saúde, bem como analisaram a relação entre variáveis sociodemográficas e outros comportamentos inerentes à saúde. A amostra, composta por 4171 indivíduos residentes em Barcelona e com idade superior a 14 anos, respondeu ao Health Interview Survey de Barcelona em 1992. As conclusões do estudo indicam, no geral, que 80,7% da população participou menos do que três vezes por semana AFL moderadas ou vigorosas e que 20% não participou em qualquer tipo de AF. Em particular, a inatividade é superior entre a população feminina, aumentou significativamente com a idade e em indivíduos com um nível socioeconómico mais baixos (e.g. homens e mulheres com o grau de instrução incompleto ao nível primário revelaram ser mais inativos que os indivíduos graduados em termos de nível de habilitações literárias).

7.1.6. Domínguez-Berjón, Borrell, Nebot, Artazcoz e Plasència (1998b)

O objetivo deste estudo foi descrever a distribuição sociodemográfica da AFH e analisar a sua relação com o estado subjetivo de saúde e estatuto ocupacional auto-relatados. A amostra, composta por 4081 indivíduos, residentes em Barcelona e com idade superior a 16 anos (1885 homens; 2196 mulheres), respondeu ao questionário Health Interview Survey of Barcelona em 1992. No que concerne aos resultados, 56% da população foi identificada como fisicamente ativa (i.e. regular e habitual). Em concreto, a AF é menor nos indivíduos que trabalham, quando comparados com os que não têm atividade profissional, bem como está associada com a ocupação principal e nível educacional entre a população trabalhadora do sexo masculino, mas apenas relacionada com a ocupação principal na população trabalhadora do sexo feminino. Quanto à população não trabalhadora, a AF é menor na faixa da população que auto-reportou um estado subjetivo de saúde fraco ou médio, comparativamente com os que descreveram o seu estado de saúde como bom ou muito bom (Domínguez, et al., 1998b).

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7.1.7. Eurobarómetro (2014)

Conduzido pela Comissão Europeia, este inquérito, aplicado entre 23 de Novembro e 2 de Dezembro de 2013, teve a participação de 28 estados-membros, nomeadamente Portugal. Antes deste decorreram investigações semelhantes em 2002 e 2009, e teve como objetivos fornecer informações sobre os hábitos de AF da UE, bem como apoiar o desenvolvimento de políticas (e.g. internacionais, nacionais, regionais, sociais) para a promoção da prática de AF e AD. Como principais ilações destacam-se que a maioria dos indivíduos entrevistados são sedentários, que a Europa do Norte é fisicamente mais ativa que a do Sul ou Leste (sendo que Portugal está na cauda dos países mais inativos) e que o sexo masculino é mais ativo que o feminino (Eurobarómetro, 2014).

7.2. Nacionais

7.2.1. Aptidão física e AFH (Santos, 1996)

O objetivo deste primeiro estudo assentou na identificação da relação dos níveis de aptidão física e AFH em jovens adultos da região autónoma dos Açores. Para tal, Santos (1996) fez investigação numa amostra constituída por 117 indivíduos com idades compreendidas entre os 29 e os 41 anos e serviu-se do questionário de Baecke (1982) para determinar os IAFH desta população. Foi este o primeiro autor português que se debruçou sobre o questionário de Baecke e o primeiro a tirar ilações mais concretas sobre a AFH da população portuguesa.

7.2.2. Caraterização da AFH da população portuguesa (Faria, 2001)

O objetivo deste segundo estudo foi caraterizar a AFH dos portugueses e apurar as AD mais frequentemente praticadas, através do cruzamento dos índices de AF com as variáveis sociodemográficas género, idade, habilitações literárias, tipo de meio e áreas geográficas. A amostra consiste em 1394 indivíduos entre os 14 e os 87 anos e o instrumento adotado foi a recente e mais utilizada versão portuguesa do questionário de Baecke (1982), cuja tradução, adaptação e aferição para a população portuguesa foi realizada por Faria (2001). Como conclusões, destacam-se: 1) uma alta incidência de sedentarismo, 2) valores inferiores aos esperados por Baecke e colaboradores (1982), 3) os homens são mais ativos que as mulheres, 4) são os mais os jovens os que praticam mais AF, e 5) as AF mais comuns são a natação, o fitness e o futebol.

7.2.3. Hábitos desportivos da população portuguesa (Marivoet, 2001)

Os objetivos estabelecidos pretendiam conhecer o comportamento dos portugueses face ao desporto. Este estudo, realizado numa amostra composta por 3030 indivíduos entre os 15 e

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os 74 anos, usou um inquérito sociográfico produzido pela própria autora relativamente aos hábitos desportivos. Os resultados indicam uma elevada prevalência de inatividade física, bem como diferenças quanto aos hábitos desportivos segundo o sexo e a idade (Marivoet, 2001).

7.2.4. Caraterização da AFH da população da Madeira (Ladeira, 2004)

Os objetivos do supracitado estudo consistiram em apurar e caraterizar a AFH desta mesma população ao nível do sexo e do estatuto socioeconómico, numa amostra constituída por 551 indivíduos entre os 25 e os 64 anos. O instrumento usado foi o questionário de Baecke e colaboradores (1982; versão portuguesa de Faria, 2001) e os resultados obtidos indicam que a maioria dos indivíduos são sedentários, que o sexo masculino apresenta valores nos IAFH, IAFT e IAFD mais elevados, que o sexo feminino exibe resultados de IAFL superiores, que a AF diminui com a idade e que não se verificam diferenças significativas quanto ao IAFH quando se introduz a variável relativa ao estatuto socioeconómico (Ladeira, 2004).

7.2.5. Caraterização da AFH da população trabalhadora na UTAD (Soares, 2006) Faremos referência a esta investigação enquanto estudo de comparação sobre a eventual evolução das práticas da AFH na população portuguesa (i.e., entre 2006 e 2014), ainda que tenha sido usada uma diferente amostra. Os objetivos desta investigação consistiram em apurar e caraterizar a AFH tendo em conta o género, a idade, as habilitações literárias, a profissão e o tipo de meio (i.e. rural ou urbano) numa amostra composta por 107 indivíduos entre os 22 e os 66 anos. Por seu lado, o instrumento utilizado, à semelhança dos anteriores, foi o questionário de Baecke e colaboradores (1982; versão portuguesa de Faria, 2001). Os resultados obtidos indicam que a maioria dos indivíduos são ativos, sendo o sexo masculino aquele que mais AF pratica em qualquer um dos quatro índices, apresentando melhores performances no IAFD (Soares, 2006).

7.2.6. Livro verde da AF (IDP, 2011a)

Este estudo teve como objetivo a implementação de estratégias de promoção da AF, da saúde e da capacidade funcional. Para tal, procedeu-se à avaliação, entre 2006 e 2009, de 5231 indivíduos de ambos os géneros, de nacionalidade portuguesa, com mais de 10 anos e dos dezoito distritos nacionais. O instrumento utilizado foi o acelerómetro e foram utilizados como valores de medição as recomendações da AF segundo o Europe network for the promotion of health-enhancing physical activity (HEPA). Os principais resultados observados indicam que as raparigas praticam menos AF moderadas e/ou vigorosas, que a maioria dos indivíduos de ambos os géneros é ativa e que a AF diminui após os 50 anos (IDP, 2011a).

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METODOLOGIA

A revisão da literatura relaciona fatores como a idade, o género, as habilitações literárias e a profissão como variáveis que condicionam a prática regular da AF em geral. Deste modo, o presente estudo pretende analisar se esta mesma tendência se verifica na nossa amostra, dado que, ao compreendermos o impacto destes fatores sobre a população, melhores programas (e.g. preventivos e interventivos) poderão nela serem implementados, de forma a corresponder às necessidades, expetativas e realidades regionais.

Face ao exposto, estabelecemos como principais objetivos deste estudo a caraterização da população trabalhadora nas escolas do concelho de Ponta Delgada relativamente à relação entre os quatro domínios específicos da AF segundo o questionário de Baecke e colaboradores (1982) (i.e. IAFT, IAFD, IAFL e IAFH) e as variáveis sociodemográficas género, idade, habilitações literárias, profissão e grupo disciplinar dos professores bem como conhecer as atividades desportivas mais frequentemente praticadas.

Seguidamente serão descritos os objetivos do estudo, as hipóteses, a amostragem e tipo de estudo, os participantes, o instrumento de medição usado, os procedimentos, o tratamento estatístico efetuado e os resultados obtidos a partir dos dados recolhidos.

1. Objetivos do estudo

Foram elaborados, para o presente estudo, os seguintes objetivos:

1- Caraterizar a amostra quanto aos níveis de AF, segundo o género; 2- Caraterizar a amostra quanto aos níveis de AF, segundo a idade;

3- Caraterizar a amostra quanto aos níveis de AF, segundo as habilitações literárias; 4- Caraterizar a amostra quanto aos níveis de AF, segundo o grupo profissional; 5- Caraterizar a amostra quanto aos níveis de AF, segundo o grupo disciplinar dos

professores;

6- Conhecer as atividades desportivas mais frequentemente praticadas.

2. Hipóteses

De acordo com os objetivos supracitados, procedemos à tentativa de testar as seguintes hipóteses operacionais, que são entendidas como objetivos mais específicos que recorrem a métodos estatísticos (i.e. descritivos e inferenciais) (Hill & Magalhães, 2010):

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