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Modelo estrutural de perícias de homicídio: aplicação a um estudo de caso

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Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro Departamento de Educação e Psicologia

2º Ciclo em Psicologia Clínica

Modelo Estrutural de Perícias de Homicídio: Aplicação a um Estudo de Caso

Dissertação de Mestrado em Psicologia Clínica

Bárbara Ferreira dos Reis

Orientação: Professora Alice Margarida Martins dos Santos Simões (UTAD) Coorientação: Professor José Manuel Soares Martins (Universidade Fernando Pessoa)

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Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro Departamento de Educação e Psicologia

2º Ciclo em Psicologia Clínica

Modelo estrutural de perícias de homicídio: Aplicação a um estudo de caso

Dissertação de Mestrado em Psicologia Clínica

Vila Real, 2019

Bárbara Ferreira dos Reis Dissertação apresentada para a obtenção do Grau de Mestre em Psicologia Clínica pela Universidade de

Trás-os-Montes e Alto Douro, Departamento de Educação e Psicologia sob a orientação da Professora Alice Margarida Martins dos Santos Simões da UTAD e coorientação do Professor José Manuel Soares Martins da Universidade Fernando Pessoa

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Agradecimentos

À professora Margarida Simões por toda a dedicação e ajuda que me dedicou, sem nunca me exigir nada impossível e acreditando que eu podia fazer o que ainda não foi feito.

Ao professor José Martins pelos ensinamentos dados e por toda a ajuda que me prestou, sempre de forma certeira e imediata.

Aos meus pais que sempre acreditaram em mim.

À minha família que sempre me apoiou.

Àqueles que sempre estiveram comigo e sei que posso contar para tudo!

A vós, Rita, Catarina, Sara e Bárbara que foram o meu apoio durante estes anos de universidade, para o melhor e para o pior, estiveram sempre lá.

E a vocês, as irmãs que nunca tive, mas que a vida me deu, Carla e Verónica, por me apoiarem quando estou no meu pior e por celebrarem comigo os meus melhores momentos.

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Índice Estudo Empírico I ... 13 ... 13 Resumo ... 14 Abstract ... 15 Introdução ... 16 Psicologia Forense ... 18

A tomada de decisão judicial e as perícias... 22

Questões Éticas ... 24

As decisões judiciais perante as fragilidades das perícias ... 26

O crime de homicídio ... 28 Imputabilidade vs. Inimputabilidade ... 31 O relatório pericial ... 33 A estrutura do relatório ... 34 Primeira parte ... 35 Dados processuais ... 35 Dados sociodemográficos ... 36 Metodologia ... 37 Área sociodemográfica ... 38 Área comportamental ... 38 História de vida ... 38 Saúde ... 39

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Avaliação psicológica ... 39

Relato dos factos pelo examinando ... 40

Psicometria ... 41 Informação colateral ... 42 Segunda parte ... 42 Discussão ... 43 Conclusão ... 43 Método ... 44 Participantes ... 46 Procedimentos ... 46 Resultados ... 47

Caraterização dos arguidos... 47

Caraterização da perícia psicológica forense ... 47

Impacto das perícias na decisão judicial ... 50

Alusão da perícia na sentença ... 50

Transcrições diretas de frases da perícia ... 51

Apenas faz referência à existência da perícia ... 51

Aspetos da perícia mencionados ... 51

Implicações futuras da perícia ... 52

Declarações do perito em tribunal ... 52

Discussão ... 52

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Estudo empírico II ... 64 ... 64 Resumo ... 65 Abstract ... 66 Introdução ... 67 O homicídio em série ... 69

Assassinos em série psicopatas e psicóticos ... 83

Imputabilidade penal ... 87

Método ... 89

Procedimentos ... 92

Estudo de caso: Cabo Costa ... 92

Os crimes ... 93 Primeira vítima ... 93 Segunda vítima ... 94 Terceira vítima ... 94 O pós-crime ... 95 O Julgamento... 96 Resultados ... 96 As perícias ... 96

Primeiro relatório pericial ... 97

Segundo relatório pericial ... 100

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Referências ... 104

Anexos ... 109

Anexo A ... 109

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Índice de Tabelas

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Índice de Anexos

Anexo A Requerimento enviado aos tribunais 109

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Estudo Empírico I

Modelo Estrutural de Perícias em Casos de Homicídio

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Resumo

A Psicologia Forense é um tema que apesar de ainda ser pouco estudado, tem sido alvo de um interesse crescente por parte dos investigadores, uma vez que o papel das perícias é cada vez mais relevante como auxiliar na tomada de decisão judicial. Como tal, o uso de perícias psicológicas é mais frequente e por isso a pertinência de estudos nesta área é por demais evidente.

Um dos crimes que ainda é pouco estudado dentro da Psicologia Forense é o crime de homicídio e é sobre o mesmo que este estudo se debruça, mais concretamente, no âmbito da realização de um modelo estrutural de um relatório psicológico forense em crimes de homicídio, o que tornará a sua execução mais uniforme e simples para o perito, e por consequência, a sua interpretação será facilitada. Esta uniformização serve também para referenciar os aspetos que se consideram mais importantes numa perícia deste tema. De ressalvar, como principal conclusão deste estudo, é que apesar de os quesitos serem aspetos essenciais a ter em conta na realização de uma perícia, estes nem sempre se apresentam de forma clara na discussão das mesmas, o que pode levar a uma interpretação selvagem dos dados recolhidos para a realização da perícia.

Palavras-Chave: Psicologia forense; Perícias em Casos de Homicídio; Modelo Estrutural

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Abstract

Forensic psychology is a topic, that even though is still under-researched, it has been the subject of growing interest on the part of investigators, since reports have played an

important role as aids in judicial decision-making.

As such, the use of psychological reports has been increasingly frequent and therefore the relevance of studies in this area is very clear.

Few studies have been made within Forensic Psychology about homicides, which is the focus of this study, more specifically, in the accomplishment of a structural model of a psychological forensic report in homicides, that will allow its execution to be more uniform and simple for the expert, and consequently, its interpretation facilitated. This standardization also serves to refer the aspects that are considered most important in an expertise of this subject.

It should be noted that, as the main conclusion of this study, although the legal questions are essential aspects to be considered when writing a report, they are not always clearly presented in the discussion, which can lead to an inaccurate interpretation of the collected data for the report.

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Introdução

A Psicologia é uma ciência social que trabalha com diversas áreas do conhecimento, sendo uma delas o Direito. A relação entre ambas não é apenas cooperativa, implica consequências estando uma ao serviço da outra (Gonçalves & Machado, 2005). O perito em Psicologia Forense funciona para o Direito como um auxiliar dos magistrados, sempre que a prova depender de conhecimentos técnicos e científicos fora da área de especialização dos mesmos. No entanto, o facto do Direito recorrer ao auxílio de outras ciências não retira aos magistrados o poder de decisão final (Neto, 2010). Nesse sentido, a Psicologia Forense poderá legitimar o exercício da justiça, já que compete ao psicólogo o papel de clarificador do trabalho dos

magistrados. Esta é uma área da Psicologia relativamente recente em Portugal, o que torna o estudo da mesma ainda mais pertinente. A realização de perícias psicológicas forenses tem vindo a aumentar, pois as mesmas têm cada vez mais um papel importante na tomada de decisão judicial (Gonçalves, 2010).

No que diz respeito a perícias de personalidade, estas são amplamente usadas em casos de abuso sexual, mas menos utilizadas em casos de homicídio. Daí a pertinência deste projeto, uma vez que procura abordar uma área pouco conhecida, no âmbito da aplicação da Psicologia Forense, que são os casos de homicídio. Também será pertinente determinar o impacto do trabalho pericial sobre o homicídio ao nível das decisões dos magistrados. Porém, a questão essencial deste estudo é a proposta de um modelo estrutural para a realização de perícias psicológicas forenses em casos de homicídio, que possa servir de base para outros peritos, levando assim a uma

uniformização estrutural, o que facilitaria a realização do relatório e a sua interpretação por parte de agentes externos. De salientar, que este modelo apenas se aplica a estes

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casos concretos, dado que aplicar o mesmo a outras áreas seria generalizar processos e conteúdos que tem a sua especificidade.

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Psicologia Forense

A Psicologia é uma ciência humana e social que se relaciona com as diferentes áreas do saber, sendo uma delas a da Justiça, facto que deu origem à Psicologia Forense. Esta pode ser definida como a resolução de questões levantadas em contextos legais com base na aplicação de princípios e procedimentos da avaliação psicológica

(Gonçalves, 2010). O psicólogo forense tem um espetro de trabalho abrangente, desde a avaliação forense de vítimas ou arguidos em processos-crime, processos de regulação do exercício das responsabilidades parentais ou de adoção, bem como a avaliação do dano pós-traumático, o acompanhamento de testemunhas particularmente vulneráveis em tribunal, execução de penas, entre outros (Manita & Machado, 2012). É ainda importante ressalvar que a atuação do psicólogo é do foro cível ou penal.

Esta relação entre a Psicologia e o Direito tem sido vista de forma positiva pela maioria dos autores. Porém há quem defenda que ambas são demasiado diferentes para poderem cooperar. A título de exemplo, o Direito defende que quem comete um ato ilícito fá-lo de forma consciente e voluntária, ao contrário da Psicologia que defende que essa visão é demasiado redutora, pois não tem em conta os contextos de

aprendizagem e de desenvolvimento do indivíduo (Silva, 2012).

A Psicologia Forense responde então a problemas práticos pedidos por entidades como o tribunal, a polícia ou comissões de proteção de crianças e jovens, ou por sujeitos particulares, tendo como produto final aplicações ou produtos concretos como

avaliações, pareceres, depoimentos ou relatórios. Mas apesar de ser uma área que se distancia da Psicologia Clínica, precisa de diversos conceitos da mesma para funcionar em pleno, como a avaliação psicológica, a psicopatologia ou a psicologia do

desenvolvimento (Gonçalves, 2012).

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exemplo, nos Estados Unidos da América, a especialidade em Psiquiatria Forense é creditada por duas entidades diferentes: o Accreditation Council for Graduate Medical Education (ACGME), que estabelece todos os requisitos para programas de formação na área com a sua última atualização em 2009 e pela American Board of Psychiatric and Neurology (ABPN), que atribui o grau de subespecialização desde 1994 (Vieira, Tranca & Santos, 2011). Já no Reino Unido e na Irlanda, desde abril de 2010, segundo Vieira et al. (2011) a obtenção do título de especialista na área está a cargo do General Medical Council (GMC), sendo a formação especializada feita após três anos de formação comum de Psiquiatria, seguida de mais três anos de formação, através do Specialist Training in Psychiatric. Na Alemanha, por sua vez, a obtenção do título de especialista pode ser feita através de duas entidades, a Associação Médica Alemã, desde 2004, ou a Associação Psiquiátrica Alemã desde 1997 (Vieira et al., 2011). Em ambos os casos, a formação é feita de igual maneira, três anos de formação creditada, dos quais doze meses podem ser em estágio e pelo menos dezoito meses numa instituição de doentes mentais que cometeram crimes, aqui acresce uma formação de seis meses numa instituição especializada em avaliações psiquiátricas forenses. Adicionalmente existe também um curso teórico de pelo menos 240 horas (Vieira et al., 2011).

Como já foi referido anteriormente, a área forense difere em vários aspetos da área clínica. Uma das principais diferenças centra-se no facto de que na área clínica o cliente ser um indivíduo único, enquanto que na área forense o cliente pode ser uma entidade coletiva, como o tribunal ou o sistema judicial. Assim sendo, o psicólogo terá que atender às necessidades da justiça e estas podem colidir com os interesses do avaliado (Gonçalves & Machado, 2005). Mas também é importante realçar que apesar destas diferenças, a área forense vai buscar muitas das suas bases à clínica, dando-lhe a robustez de procedimentos necessária para que a produção de resultados seja consistente

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(Gonçalves, 2012; Martinho, 2011). A Psicologia Forense é então a aplicação da Psicologia Clínica ao sistema legal (Huss, 2011).

Também a avaliação forense não difere substancialmente da avaliação clínica, apenas é necessária uma reformulação dos objetivos dessa avaliação. Ambas, de forma geral, querem avaliar o estado mental do indivíduo, a Psicologia Forense com o objetivo de responder a um quesito e a Psicologia Clínica de forma global (Echeburúa, Muñoz, & Loinaz, 2011; Gomes, 2017; Jung, 2014). Podendo então dizer que a avaliação forense é também uma avaliação clínica, mas que tem em conta a singularidade de cada agressor e o ato criminoso (Gomes, 2017; Passos, 2014

No que respeita à avaliação de agressores, também existem diferenças significativas. Na Psicologia Forense, a confidencialidade relativa aos resultados da avaliação é quebrada, sendo a participação do cliente determinada externamente. Assim como os objetivos e tempos da avaliação. Esta mesma avaliação é estática, pois o perito não tem oportunidade de a monitorizar nem reformular. Ainda segundo Gonçalves e Machado (2005), outras diferenças são a falta de articulação entre a avaliação e a intervenção, a adaptação da linguagem psicológica a um destinatário fora da área e a exposição de que a avaliação é alvo, uma vez que o perito poderá ter que prestar esclarecimentos sobre a mesma, sendo que o processo de avaliação pode ser acompanhado por um consultor técnico.

No que a Portugal diz respeito, a relação entre a Psicologia e a Justiça já tem cem anos, porém a maior evolução apenas se registou nos últimos 30 anos, através de estudos sobre a influência da memória nos testemunhos. Esta evolução tem sido lenta, mas positiva. Há um interesse crescente por parte dos tribunais pela avaliação

psicológica. Este aumento levou a mais publicações sobre a área, o surgimento de unidades curriculares sobre Psicologia Forense nas universidades e à realização de

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congressos internacionais sobre a mesma temática (Agulhas & Anciães, 2014; Lopes, 2013; Martinho, 2011).

A primeira ligação oficial entre estas duas áreas surgiu em 1918 com a

década de sessenta, houve um claro declínio no estudo da interação entre a Psicologia e a Justiça, uma vez que as publicações na área diminuíram consideravelmente. Por outro lado, é também nesta década que o estudo da Psicologia se inicia em Portugal no Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA), apesar de não ser referida nenhuma ligação com a Justiça (Gonçalves, 2010).

É na década de oitenta que a Psicologia se afirma como ciência e profissão, e é esta afirmação que levou ao surgimento de novos domínios, como a Psicologia da Justiça. Existem alguns marcos que são importantes destacar, como a aprovação de uma nova Legislação Penal em 1982 e Processual Penal em 1987, onde o papel do saber da prática psicológica é ressalvado como coadjuvante do saber jurídico. É também de salientar, o aparecimento de publicações na área da Justiça assinadas por psicólogos e o aparecimento de áreas curriculares de pré-graduação em diversas universidades

especializadas neste domínio. Foi também nesta época que surgiu o Instituto de

Reinserção Social, uma entidade que procurava alternativas à pena de prisão e que tem nos seus quadros psicólogos. Esta expansão controlada, ao longo dos anos oitenta e noventa, levou à consolidação de saberes e práticas na área da Psicologia Forense (Gonçalves, 2010; Silva, 2012; Lopes, 2013).

Atualmente, está em vigor o Código Deontológico da Ordem dos Psicólogos Portugueses, que assegura o cumprimento dos princípios éticos na prática psicológica em todas as suas áreas, incluído a Psicologia Forense (Silva, 2012).

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A tomada de decisão judicial e as perícias

A p

especiais conhecimentos técnicos

a realização desta é feita pelo perito nomeado pelo Ministério Público, sendo que a mesma tem que ser objetiva e imparcial. É obrigatório que a autoridade requerente especifique o seu objetivo e se necessário formule quesitos (Sousa, 2011; Faria, 2011). A perícia pode ser pedida em várias fases do processo penal. Inicia-se com ordem do Ministério Público após a comunicação de um crime, do qual será aberto um inquérito. Esta fase pode levar ao julgamento ou então ao arquivamento dos autos. É na fase de julgamento que terá lugar a produção ou o exame de prova na qual a decisão se vai basear. Um meio de prova é então a prova pericial, esta pode-se realizar no decurso do inquérito, o que significa que o sujeito sobre o qual a perícia é efetuada pode nunca ser alvo de uma acusação. Essencialmente, a prova pericial pode ser ordenada e

comunicada ao tribunal em todas as fases do processo, mas independentemente da fase em que for pedida esta será sempre usada para a fundamentação da decisão (Silva, 2010).

Nesta sequência, as perícias são comunicadas ao tribunal por meio de um

relatório psicológico forense e este deve conter dados sobre a história e contexto de vida do indivíduo avaliado, os quesitos da avaliação, a metodologia utilizada, os resultados, as conclusões da avaliação e por fim a identificação do perito (Ferreira, 2015). O

relatório é o testemunho do perito forense que pode ser baseado em dados psicométricos e em outras fontes colaterais (Faria, 2011). Para a realização da perícia, existem

algumas etapas que o perito tem que cumprir, tais como: ler os autos do processo; levantar hipóteses que guiaram a coleta dos dados; coletar os dados; planear as técnicas ou testes mais adequados para o caso; aplicar os testes se for necessário; interpretar os

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resultados dos mesmos, tendo em conta os dados recolhidos nos autos e nas entrevistas; e por fim, a redação do relatório para responder aos quesitos pedidos (Jung, 2014).

A tomada de decisão, tendo em conta as perícias, varia da lei civil para a lei processual penal. Na lei civil, o juiz pode ignorar o parecer do perito sem justificar a sua opção, quer pela discordância das conclusões da perícia, quer por outras provas que a invalidem. Já na lei processual penal, uma vez que a perícia constitui uma área externa ao conhecimento jurídico, esta só pode ser afastada com argumentação igualmente técnica e científica, desta forma, se a opinião do juiz divergir da prova pericial, ele só a pode afastar fundamentando a sua discordância, como faz referência o Art.163 do

-divergir do juízo contido no parecer dos peritos, deve aquele fundamentar a divergên Agulhas & Anciães, 2014).

Segundo Faria (2011), a maioria dos estudos na área revelam um grande grau de confiança por parte dos juízes em fundamentar as suas decisões nos pareceres dados pelos peritos, sendo que em média, 80% das decisões dos mesmos vão ao encontro das perícias. Existem autores que defendem que os juízes tendem a privilegiar perícias cuja informação vai ao encontro das suas próprias crenças e convicções sobre o caso, sendo que o seu grau de fidelidade em relação às mesmas, vai depender da sua interpretação e do peso que lhes atribui (Faria, 2011; Martins, 2012).

A pesquisa na área das perícias em casos de homicídio ainda é escassa, uma vez que a área mais abordada nas perícias são casos de abuso sexual. Os conceitos mais referidos nestas avaliações são: o risco; a violência; a responsabilidade criminal; a psicopatia e a doença mental. Quando nos referimos ao indivíduo, as principais caraterísticas expressas são: a falta de empatia; a sua natureza manipuladora e

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antissocial; a impulsividade; os défices de autorregulação e de competências sociais; a raiva; a hostilidade; a existência de um suporte social para a violência; a irritabilidade; e a baixa autoestima. Existem dimensões que muitos autores consideram importantes referir na avaliação, como: processos cognitivos e de processamento de informação; autoestima; capacidades de empatia; competências de relacionamento interpessoal; identificação de dimensões da personalidade do indivíduo; atitudes e crenças; avaliação do relacionamento familiar e o funcionamento geral (Rua (s/d), Silva, 2010).

O homicídio é um crime contra a vida que resulta na morte de outra pessoa e que é punido com pena de prisão de oito a dezasseis anos, podendo chegar aos vinte e cinco anos, dependendo da sua qualificação. Este crime é um fenómeno heterogéneo que está associado a diversos contextos, motivações e tipos de criminosos, sendo que em

Portugal tem registado uma tendência crescente (Rocha, 2014).

Na avaliação dos homicidas, devemos usar diversos métodos para a sustentar como a entrevista, a observação, e os recursos a instrumentos de avaliação. Numa fase posterior, o psicólogo deve integrar todos estes métodos e todos os dados recolhidos na avaliação. No que respeita à perigosidade, existe alguma controvérsia sobre a

capacidade que o psicólogo tem de a avaliar ou prever. Estudos afirmam que este tipo de avaliação deve ter detalhes da história passada de violência e do tratamento de resposta à violência, perguntando diretamente ao indivíduo sobre essa história e sobre a inclinação para o comportamento violento. Também deverá considerar as circunstâncias que o indivíduo pode enfrentar no futuro, e pedir outras opiniões em caso de dúvida (Rua, s/d).

Questões Éticas

Na Psicologia Forense, o exercício da ética implica o adotar uma atitude rigorosamente neutra, sem preconceitos morais ou religiosos, ou seja, à partida a

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responsabilidade civil ou criminal tem que ser aceite da mesma forma como a ausência da mesma. Não cabe ao perito provar ou não a inocência, mas sim às instâncias legais (Carolo, 2005). Este papel de perito obriga o psicólogo a não assumir à partida toda a informação como verdadeira, devendo incluir diversas fontes de informação e usar variadas formas de avaliação para tentar chegar à verdade dos factos, por oposição à verdade narrada pelo indivíduo, fazendo isso de forma o mais fundamentada possível (Agulhas & Anciães, 2014).

Como referido anteriormente, os psicólogos portugueses já dispõem de um Código Deontológico da Ordem dos Psicólogos Portugueses que orienta a sua prática, no entanto, a área forense levanta questões éticas particulares. A primeira e

possivelmente a mais distinta é a falta de confidencialidade da avaliação forense. Isto deve-se ao fato de o cliente não ser o sujeito da avaliação. Assim, o psicólogo deve apenas explorar o estritamente necessário da vida do avaliado e clarificar-lhe que não pode garantir a confidencialidade (Gonçalves & Machado, 2005). Mesmo depois desta explicação, o avaliado pode ver o psicólogo como um profissional de ajuda, o que pode acontecer devido à posição social do psicólogo, à deficiente compreensão da situação ou à grande necessidade do indivíduo de ser escutado.

Outra questão extremamente relevante é a já referida separação entre o papel de terapeuta e avaliador forense. Esta separação significa que nenhum psicólogo poderá realizar um parecer forense sobre alguém que acompanha como terapeuta, pois isso incrementaria as dificuldades emocionais e dificultaria a distância face aos indivíduos avaliados. Pode também acontecer que o psicólogo não consiga empatizar o suficiente com o avaliado de forma a conseguir ver o seu ponto de vista. Esta gestão da empatia também se traduz noutra dificuldade do psicólogo na área forense, a desvinculação, que é muitas vezes utilizada como uma estratégia de autoproteção em situações de grande

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intensidade emocional. Existem também pressões diretas, por exemplo do tribunal, que podem interferir nestes problemas emocionais, assim como as pressões indiretas, pelo facto de os pareceres serem de caracter público e alvo do escrutínio por parte dos mesmos e dos média (Gonçalves & Machado, 2005).

Porém, apesar de todas estas questões, existe um ponto que se mantém igual à prática clínica - a obrigatoriedade de consentimento informado - podendo o indivíduo recusar-se a ser avaliado. Nesse caso, o perito tem como obrigação legal informar o indivíduo ou o seu representante legal das consequências da sua decisão. Caso a mesma se mantenha, o perito entrega ao indivíduo o termo de responsabilidade onde este deve explicar o motivo da recusa da realização da perícia e assinar no fim, para que o documento seja enviado à posteriori para o tribunal. Se o perito ignorar esta recusa do examinando, pode ocorrer num crime de ofensa à integridade física (Agulhas & Anciães, 2014).

As decisões judiciais perante as fragilidades das perícias

Os estudos sobre o impacto das perícias nas decisões judiciais ainda são escassos, existindo duas teorias que explicam tal facto. A Teoria Heurística da

Persuasão, que defende que a tomada de decisão está mais dependente das credenciais do perito que realizou a perícia; e o Modelo de Tomada de Decisão do Juiz, que defende que a tomada de decisão irá depender do quão especificamente é abordada a questão em causa, tendo em conta o grau de certeza das conclusões e a fundamentação dos

resultados (Faria, 2011).

As perícias não podem indiciar uma tomada de decisão. Quando isto acontece, a mesma será desvalorizada, uma vez que não compete a esta ciência tal trabalho. A qualidade das perícias pode ser definida por diversos aspetos, nomeadamente: serem realizadas em tempo útil; não apresentarem juízos de valor; integrarem os défices do

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avaliando e também os recursos; explicarem os limites da avaliação; estabelecerem um limite temporal para a avaliação feita; distinguirem os factos das opiniões; referirem que estas são apenas prováveis. No que respeita aos peritos, existem outros aspetos

igualmente importantes a ter em conta, mas do lado do perito, como: a experiência do mesmo; a colaboração do avaliando; a relação de ambos; o tipo de entrevista; o intervalo entre a ocorrência da situação e a avaliação; as questões colocadas, uma vez que estas vão influenciar a obtenção da informação, que por sua vez influencia a

qualidade da perícia (Berenguel, 2014).

Em sede judicial, as perícias não podem ser contrariadas, mas não existe um órgão científico regulador das mesmas, nem um órgão que estabeleça os procedimentos a cumprir por parte do perito, o que constitui uma grave lacuna (Silva, 2010).

Em 2006, foi realizado um estudo que pretendia avaliar todas as perícias realizadas na Unidade de Consulta de Psicologia da Justiça da Universidade do Minho (UCPJUM), o qual concluiu que 18 das 32 perícias eram mencionadas de alguma forma na conclusão do caso, mas não foi explorado o facto de as restantes 14 não terem sido mencionadas, e que sobre 6 das mesmas nem sequer foi referida a sua existência (Faria, 2011). Noutro estudo realizado entre 2008 e 2013 na Região Autónoma dos Açores, foram analisadas 23 perícias psicológicas forenses, na sua maioria sobre avaliação da personalidade. Em 20 dessas perícias (87%), existia pelo menos um teste que não estava aferido para a população portuguesa, constituindo uma média de dois testes não aferidos para a população portuguesa por perícia, existindo ainda perícias com quatro testes nestes moldes, o que retirava credibilidade e aumentava a probabilidade de o perito ser alvo de contestação. Das 23 perícias analisadas, 17 já tinham transitado em julgado, sendo que apenas 2 foram citadas na sentença. Outro erro apontado às perícias foi o facto de serem demasiado descritivas (Berenguel, 2014).

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Já nos anos de 2012 a 2014, foi realizado outro estudo que pretendia analisar 100 relatórios psicológicos forenses elaborados por técnicos de três delegações regionais da Direção Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP). Este concluiu que em menos de metade dos relatórios foi referido o objetivo da avaliação (41%), que apenas um relatório referia algum tipo de informação relativa às questões sobre os limites da confidencialidade, e que a informação relativa aos testes usados era na sua maioria apresentada de forma quantitativa. Facto que vai contra a maioria dos estudos, uma vez que estes defendem que as pontuações não são suficientes.

Foram também usados testes de caráter projetivo, o que sendo ainda um tema controverso na Psicologia Forense levanta dúvidas sobre o relatório (Ferreira, 2015), alguns autores defendem, que tendo em conta a apresentação de estímulos ambíguos que este tipo de testes privilegia, o seu uso é importante para colmatar enviesamentos, mas há quem defenda que esses mesmos estímulos ambíguos podem ser os causadores desse mesmo enviesamento (Ferreira, 2015). Além disso, são mais difíceis de

padronizar e também de administrar e pontuar, o que tendo em conta os prazos de realização dos relatórios periciais pode ser um entrave à sua utilização (Huss, 2011).

Será ainda importante referir que se houver incoerências técnicas nas perícias, os juízes não conseguirão vislumbrá-las, uma vez que não fazem parte do seu saber

científico, o que significa que estas perícias podem ser muitas vezes erradamente usadas e muitos relatórios também davam sugestões sobre a medida a aplicar, o que sai fora da área de especialização do perito (Ferreira, 2015; Silva, 2010).

O crime de homicídio

O crime de homicídio viola na sua essência a preservação da vida humana e o bem mais valioso do Homem. A sua prática é a morte de um ser humano provocada por outro (Nepomuceno, 2008), sendo por isso a mais grave manifestação de violência e

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agressividade (Rocha, 2014).

Este crime é heterogéneo e está ligado a diferentes tipos de criminosos, de contextos e de motivações. Existem homicídios carregados de emoção e impulsividade carecendo assim de premeditação e outros extremamente calculados e

instrumentalizados (Rocha, 2014).

Segundo a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (2014), entre 2000 e 2012 a incidência deste crime em Portugal foi bastante irregular, havendo inicialmente um aumento significativo de 2010 para 2011. Neste último ano, registou-se o maior número de crimes, 125 casos, voltando a baixar em 2012. O total de crimes registados nestes anos foi de 640. No que diz respeito à autoria do crime de homicídio, este é realizado na sua maioria por indivíduos do sexo masculino e com idades compreendidas entre os 36 e os 45 anos. A maioria destes crimes foi praticado na residência comum da vítima e do autor do crime.

A Direção Geral da Administração Interna (2013), apresenta mais dados referentes aos anos de 2009 a 2012, afirmando que em 42,1% dos casos foram usadas armas de fogo, e que em 42.1% dos casos foram usadas armas brancas, e só em 5.3% dos casos é que foram utilizadas as duas armas em simultâneo. Outro dado apresentado foi o facto que em 36.4% dos casos os agressores estarem desempregados.

A relação entre a criminalidade e a doença mental tem vindo a ser estudada ao longo dos séculos e esses estudos têm vindo a corroborar esta ligação. Convém salientar que essa relação não é de estrita causalidade, pois não podemos afirmar que a doença mental é a causa da criminalidade (Rocha, 2014). O estudo da relação entre homicídios e a doença mental já é retratado há algum tempo em Portugal, no distrito judicial do Porto. Entre os anos de 1988 e 1990 foram analisadas perícias psiquiátricas para perceber qual o diagnóstico que mais prevalecia, sendo que o mais referenciado é a

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perturbação da personalidade (50%), seguido do atraso mental (30%), e por fim a epilepsia (17,5%). Patologias como a esquizofrenia e a psicopatia são as mais associadas a crimes de homicídio (Oliveira & Gonçalves, 2007).

Há já um grande número de estudos que fala da comorbilidade entre

perturbações aditivas e as principais perturbações mentais, sendo que esta aumenta o risco da prática do crime de homicídio. Estes estudos revelam ainda, que a nível europeu as taxas de comportamento violento ou homicídio são elevadas entre os portadores de uma perturbação mental grave, apesar de registarem um baixo nível de violência (Rocha, 2014).

Ainda segundo Rocha (2014), a relação entre o crime de homicídio e várias perturbações mentais são evidentes. A possibilidade de crime de homicídio aumenta oito vezes em pessoas com esquizofrenia, sendo que 5% a 20% das pessoas com esta patologia já cometeram um ato homicida. Quando associamos o consumo de

substâncias, o risco aumenta mais. Pessoas com sintomas psicóticos, com delírios, especialmente de caracter persecutório são muito suscetíveis à prática de homicídio. Outras patologias, como a perturbação borderline da personalidade, estão presentes em muitos crimes de carácter impulsivo e violento, em comorbilidade com traços

antissociais.

A relação mais estudada é a do crime de homicídio e a psicopatia. Esta é uma perturbação da personalidade que se caracteriza por uma falta de respeito pelos direitos dos outros e pelas regras sociais, e por uma alteração negativa da afetividade. Os psicopatas são pessoas manipuladoras, impulsivas, irresponsáveis e que apresentam ausência de remorsos. Todas estas características tornam os portadores desta patologia cinco vezes mais propensos a atos violentos e cuja probabilidade de reincidência criminal é muito grande (Rocha, 2014).

(31)

É através da Psicologia Criminal que o perito procura compreender o comportamento do criminoso, com o apoio de estudos sobre a sua personalidade ou estados mentais, sendo várias as teorias que o ajudam a interpretar os resultados obtidos (Lopes, 2014).

Segundo a teoria de Eysenck, indivíduos com capacidades intelectuais reduzidas desenvolvem uma preferência por atos criminosos, uma vez que são das poucas

atividades em que podem ser bem-sucedidos. No que respeita à personalidade, este autor defende que a psicopatia é um fator essencial em muitos destes crimes. Apesar de esta teoria ser aceite por muitos autores, há quem defenda que apesar de um indivíduo apresentar valores elevados ou moderados de psicopatia, este pode ter uma vida completamente adaptada à sociedade (Lopes, 2014).

Um dos modelos mais consensual é o modelo dos cinco fatores, que defende que indivíduos psicopatas apresentam valores baixos de abertura à experiência,

conscienciosidade, amabilidade e resultados variáveis de neuroticismo e extroversão (Lopes, 2014). Ainda que existam teorias mais consensuais, estas não são totalmente explicativas das causas e origens da criminalidade, não podendo assim determinar inteiramente o porquê de certo indivíduo cometer o crime. Salienta-se a problemática do álcool e das drogas que são intervenientes ativos em muitos dos casos de homicídio (Lopes, 2014).

Imputabilidade vs. Inimputabilidade

Para que o crime seja imputado ao seu autor, este deve ter clara consciência da natureza e das consequências do ato praticado. Esta imputabilidade deve ser sempre avaliada face a um ato e a um tempo concreto (Martins, 2015). Sendo considerado imputável, o indivíduo deve ser julgado e condenado, devendo ser atribuída uma pena privativa da liberdade (Pereira, 2012).

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Por outro lado, a inimputabilidade é traduzida como ausência de culpa e consiste no facto de o indivíduo não poder ser responsabilizado criminalmente pelos seus atos, devido a anomalia psíquica ou à idade. Quer isto dizer que no momento do crime é incapaz de avaliar a ilicitude do mesmo (Fernandes, 2012; Martins, 2015; Pereira, 2012; Rocha, 2014; Silva, 2001). Para determinar essa inimputabilidade é pedido um exame psiquiátrico forense que pode incluir a avaliação da personalidade e da perigosidade do indivíduo. Independentemente da inimputabilidade, é aplicada uma medida de

segurança que passa pela ordem de internamento por parte do tribunal num

estabelecimento de cura, tratamento ou segurança. Como não é possível contabilizar a durabilidade do estado de anomalia, a medida de segurança aplicada tem sempre um tempo indeterminado, sendo assim uma medida preventiva que deve ser avaliada de dois em dois anos (Pereira, 2012; Rocha, 2014).

Apesar da inimputabilidade por anomalia psíquica ser um conceito jurídico, precisa do auxílio de outras áreas do saber para a sua operacionalização. Como tal, quando a inimputabilidade é introduzida, o campo jurídico fica mais alargado e o perito é chamado a intervir. Quando este atua é necessário conjugar vários critérios para avaliar a situação em concreto, sendo os mais consensuais a inteligência ou o discernimento e a liberdade ou livre vontade (Fernandes, 2012).

Nos indivíduos considerados inimputáveis, uma das patologias presentes é a paranoia (não especificada) que se caracteriza por ideias persecutórias e delírios sistemáticos que levam muitas vezes a realização do crime, estando o indivíduo convicto dos seus motivos, já que a sua capacidade de compreensão está afetada. A deficiência mental também é muitas vezes associada à inimputabilidade, pois embora avaliem de forma correta a ilicitude dos atos, não conseguem, por deficiência, evitá-los (Pereira, 2012).

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Em Portugal, ainda existe uma grande lacuna relativamente à relação entre a doença mental e o direito penal. A informação existente é na sua maioria de carácter sociodemográfico ou então sobre a relação de determinada patologia com certos crimes.

Em 2012, nos serviços prisionais portugueses existiam 96 indivíduos

considerados inimputáveis e 125 internados em hospitais psiquiátricos não prisionais, evidenciando uma subida relativamente a anos anteriores. Cerca de 76,4% desses indivíduos eram solteiros e 15,5% eram analfabetos (Pereira, 2012).

O relatório pericial

O relatório forense distingue-se de qualquer relatório realizado no âmbito da psicologia, devido à sua tecnicidade e complexidade, tendo como objetivo sintetizar toda a informação obtida através da avaliação psicológica realizada em contexto forense, para auxiliar o tribunal na tomada de decisão (Allnut & Chaplow, 2000; Paulino &Almeida, 2014; Federal Bureau of Prisons, 2004; Ferreira, 2015; Griffith, Stankovic, & Baranoski, 2010; Grisso, 2010; Villatoro, 2016; Wettstein, 2010).

Tendo em conta que este é pedido por uma autoridade específica, traz consigo também um pedido específico ao qual o psicólogo se deve cingir (Allnut & Chaplow, 2000; Federal Bureau of Prisons, 2004; Grisso, 2010; Eastman, Green, Latham & Lyall, 2013; Leal, 2012). Além disso, este deve conter alguns aspetos para melhor ser

entendido por parte da entidade requerente, uma vez que se trata, na maioria dos casos de leigos. Assim, a metodologia e as técnicas utilizadas, os resultados, o raciocínio seguido e a fundamentação das opiniões e dos factos apresentados, têm que estar sempre presentes (Paulino &Almeida, 2014). Ainda segundo os mesmos autores, o motivo do relatório, os quesitos, informações significativas e outras fontes de informação colateral devem ser incluídos (Ferreira, 2015).

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ter como características fulcrais a clareza, a inteligibilidade, o rigor e a precisão, especificando o seu alcance e limitações e o grau de certeza relativo aos resultados apresentados. A escrita do mesmo deve ser legível e organizada, devendo-se evitar o uso de vocabulário demasiado técnico, uma vez que estes relatórios se destinam a pessoas que não têm conhecimento técnico especializado na área (Paulino &Almeida, 2014; Federal Bureau of Prisons, 2004; Ferreira, 2015; Grisso, 2010; Groth-Marnat & Hornath, 2006; Eastman, Green, Latham & Lyall, 2013; Leal, 2012).

Todas estas caraterísticas defendidas por estes autores, são opiniões pessoais, e por isso mesmo, cabe a cada psicólogo a responsabilidade de organizar e redigir o relatório segundo o que lhe parece mais correto. No entanto, tendo em conta a sua formalidade, a sua finalidade e público-alvo, não seria pertinente este obedecer a uma determinada estrutura? Ou que no mínimo houvessem guidelines para tornar os relatórios mais uniformes e deste modo facilitar a leitura a terceiros, principalmente àqueles que não estão familiarizados com a área? (Paulino &Almeida, 2014). Todas estas questões se justificam, uma vez que as pesquisas realizadas na área da realização de relatório psicológicos forenses, mostram que os mesmos não têm uma qualidade total

boração de eira, 2015, p.14). Apesar de a Psicologia Forense estar a evoluir cada vez mais e das pesquisas nesta área terem aumentado, no que diz respeito à elaboração de relatórios forenses isso não se regista (Wettstein, 2010).

A estrutura do relatório

Todos os relatórios na área da Psicologia têm guidelines para a sua realização, ou então uma estrutura que deve ser seguida para facilitar a realização do mesmo e o entendimento por parte de terceiros. Porém, como já referido, o mesmo não acontece com os relatórios na área da Psicologia Forense (Leal, 2012). Por outro lado, será de

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salientar que ainda não existe muita investigação relevante nesta área concreta, da elaboração de relatórios psicológicos forenses (Grisso, 2010). Este tipo de relatórios distingue-se dos outros não só pelo que já referimos anteriormente, mas também porque não existe apenas um tema ou uma forma de avaliação a ser integrada no mesmo, ou seja, o relatório pode debruçar-se sobre uma vítima de abuso sexual, onde o psicólogo tem que reunir dados que atestem a veracidade do seu testemunho, ou sobre um arguido acusado de homicídio em que o perito tem que atestar a sua inimputabilidade. Todas estas variáveis tornam a tarefa de estabelecer uma estrutura para um relatório forense complicada, pois é difícil estabelecer uma estrutura para algo que pode abordar uma variedade de temas tão amplos e com objetivos tão dispares (Ferreira, 2015; Reid, 2011). Assim, propõe-se uma estrutura para um relatório forense, mas apenas em casos de homicídio, apesar de este também servir de base para relatórios forenses de outras áreas.

É praticamente unânime em toda a literatura consultada, que os relatórios forenses devem ser divididos em duas partes: os dados concretos e as opiniões, sendo que na primeira parte devem constar todos os dados recolhidos através das várias metodologias e fontes de informação e na segunda parte as conclusões e opiniões do perito tendo em conta os dados obtidos e a resposta ao(s) quesito(s) pedido(s) (Allnut & Chaplow, 2000; Ferreira, 2015; Grisso, 2010; Eastman, et al., 2013).

Primeira parte

Dados processuais

Os dados processuais devem integrar o relatório logo no seu início (Conroy, 2006), incluindo: a origem do pedido exame solicitado por Tribunal da Comarca

nº6); o número do processo; o(s uma

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) (perícia nº10); a data do relatório; iniciado da prática do crime de homicídio

A origem do pedido é essencial para o perito perceber a entidade à qual o relatório se destina e assim adaptar a escrita do mesmo ao destinatário (Eastman, et al. 2013; Villatoro, 2016). Dados como o número do processo, a(s) medida(s) de coação, o estatuto processual e a acusação são informativos, mas não menos importantes, pois identificam o relatório e contextualizam o mesmo (Conroy, 2006). A data é essencial, pois todas as avaliações têm que ser enquadradas num limite temporal (Villatoro, 2016; Zuckerman, 2010). Por fim, os quesitos devem ser parte obrigatória em todos os

relatórios, independentemente do seu objetivo ou tema, uma vez que são estes constituem a sua base, muito concretamente, é sobre os quesitos estabelecidos pela entidade requerente que se vai debruçar todo o relatório (Ferreira, 2015).

Dados sociodemográficos

A maioria da bibliografia consultada defende que todos os relatórios devem conter os dados do indivíduo, ou seja, os seus dados sociodemográficos,

independentemente do seu objetivo, apesar de haver ainda quem defenda que os relatórios devem começar pelos dados processuais (Faria, 2011). Estes devem conter informações como a idade, o estado civil, a profissão, as habilitações literárias e a nacionalidade (Berger, 2008; Faria, 2011; Federal Bureau of Prisons, 2004; Ferreira, 2015; Griffith, Stankovic, & Baranoski, 2010; Grisso, 2010; Leal, 2012; Massachusetts Department of Mental Health, 2008; Reid, 2011; Villatoro, 2016; Zuckerman, 2010).

(37)

Metodologia

Na metodologia devem ser incluídas todas as fontes de informação utilizadas

clínicas realizadas observação direta

consulta processual do processo judic

aplicada uma bateria de provas informação colateral

; e o consentimento (Allnut & Chaplow, 2000; Colegio Oficial de Psicólogos de Madrid, 2013; Federal Bureau of Prisons, 2004; Ferreira, 2015; Grisso, 2010; Eastman, et al., 2013; Reid, 2011; Villatoro, 2016;

Zuckerman, 2010). Este último ponto é muitas vezes descurado devido à finalidade da avaliação e ao seu requerente, mas apesar de todas as condicionantes de

confidencialidade que a avaliação forense tem, o consentimento informado deve ser sempre referido em todas as avaliações. O relatório deve mencionar (o que no início da avaliação foi explicado ao avaliado), que o propósito da avaliação e que as suas

conclusões não serão confidenciais, que se trata de uma avaliação e que não será um acompanhamento psicológico, mas sim um momento único de avaliação. (Agulhas & Anciães, 2014; Berger, 2008; Conroy, 2006; Federal Bureau of Prisons, 2004; Ferreira, 2015; Griffith, Stankovic, & Baranoski, 2010; Grisso, 2010; Eastman, Green, Latham & Lyall, 2013; Massachusetts Department of Mental Health, 2008; Zuckerman, 2010). Salienta-se que, apesar de o sujeito ter conhecimento dos limites da confidencialidade e de os aceitar, o avaliador deve evitar invadir a privacidade do sujeito, cingindo-se apenas a questões diretamente ligadas ao pedido em causa (Conroy, 2006), bem como

(38)

no que diz respeito à entrevista realizada ao sujeito, pode ser pertinente colocar no relatório transcrições diretas da mesma (Eastman, et al., 2013).

Área sociodemográfica

Neste ponto devem ser incluídos aspetos como relações interpessoais e

amorosas, a integraçã am e

; e profissional parece ter-se tratado de um trabalhador de confiança e responsável ) (perícia nº1) (Federal Bureau of

Prisons, 2004; Griffith, Stankovic, & Baranoski, 2010; Villatoro, 2016).

Área comportamental

);

comportamental ) (perícia nº10); e violência / agressividade

(perícia nº9) (Berger, 2008; Ferreira, 2015; Massachusetts Department of Mental Health, 2008; Villatoro, 2016; Zuckerman, 2010).

História de vida

Neste ponto deve ser abarcada informação que permita perceber como foi o desenvolvimento do indivíduo, sendo uma espécie de anamnese, que deve incluir a história do seu

(perícia nº4); ícia nº3); a

to conf

; e psiquiátricos na família (

(39)

familiares psiquiátricos. ) (perícia nº4) (Berger, 2008; Federal Bureau of Prisons, 2004; Ferreira, 2015; Greenfield & Gottschalk, 2009; Griffith, Stankovic, & Baranoski, 2010; Massachusetts Department of Mental Health, 2008; Villatoro, 2016).

Saúde

Este ponto é relevante pois ajuda o perito a compreender se existe algum fator

, que possa ter influenciado a ação do sujeito. Aqui devem estar incluídas patologias físicas e mentais diagnosticadas

ou

; e patologias súbitas orgânicas

(perícia nº11) (Berger, 2008; Federal Bureau of Prisons, 2004; Griffith, Stankovic, & Baranoski, 2010; Eastman, et al., 2013; Villatoro, 2016; Zuckerman, 2010).

Avaliação psicológica

A avaliação psicológica é um dos pontos mais relevantes para o perito. Neste ponto vai incluir e integrar todos os dados obtidos da avaliação que lhe irão permitir retirar as suas conclusões. Devem, também, ser incluídos dados como a aparência geral

resenta-se vestido de forma desportiva, em boas condições de higiene pessoal e a o humor

in a caraterização do discurso

o estado de consciência

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ersonalidade pautados pela necessidade de

uma perturbação da personalidade ); com

registando indícios de defeitos da capacidade m capacidades construtivas e visuoespaciais

-às capacidades construtiva e v capacidade de abstração

tolerância à frustração a

; e

(perícia nº10) (Berger, 2008; Federal Bureau of Prisons, 2004; Griffith, Stankovic, & Baranoski, 2010; Griffith, Stankovic, & Baranoski, 2010; Eastman, Green, Latham & Lyall, 2013; Massachusetts Department of Mental Health, 2008; Villatoro, 2016; Zuckerman, 2010).

Relato dos factos pelo examinando

O relato dos factos pelo examinando é outro ponto bastante pertinente para o perito,

assu as circunstâncias

; a

(perícia nº 9); - (perícia

(41)

Griffith, Stankovic, & Baranoski, 2010; Massachusetts Department of Mental Health, 2008; Villatoro, 2016).

Psicometria

Esta categoria pode não estar presente em todos os relatórios, uma vez que o perito pode não usar psicometria na sua avaliação, mas se essa for a sua vontade deve incluir a adesão do sujeito à mesma

contacto sintónico cia nº12); a identificação e a explicação das provas -PI-R

; e a interpretação dos resultados

concluir-(perícia nº7) (Colegio Oficial de Psicólogos de Madrid, 2013; Conroy, 2006; Federal Bureau of Prisons, 2004; Ferreira, 2015; Griffith, Stankovic, & Baranoski, 2010; Grisso, 2010; Eastman, Green, Latham & Lyall, 2013; Leal, 2012; Villatoro, 2016; Zuckerman, 2010). A simples identificação da prova usada e a apresentação dos resultados não são suficientes para sustentar o uso da mesma e para justificar os seus resultados, por isso todos os dados acima descritos são necessários para a fundamentação da psicometria (Groth-Marnat & Hornath, 2006). Ainda segundo estes autores, existe um ponto controverso no que diz respeito à psicometria que é a inclusão ou não das pontuações dos testes no relatório. Os autores a favor defendem que a inclusão da pontuação pode facilitar a comunicação com outros peritos, pois é-lhes fornecida informação específica, e que eles podem usar concretamente, podendo tirar as próprias conclusões uma vez que todos têm os dados. Outro argumento a favor, refere que a inclusão da pontuação

fornece ao relatório mais credibilidade, já que este passa a conter dados concretos. Por outro lado, os argumentos contra defendem que conter as pontuações é desnecessário,

(42)

visto que os destinatários do relatório não têm conhecimentos técnicos para os interpretar e até podem correr o risco de o tentarem fazer, e com isso retirarem

interpretações erradas. Outro argumento contra, é o facto de a simples pontuação não ter em conta outros fatores que o perito observa quando realiza a avaliação, como o

comportamento, fatores culturais, a motivação, entre outros.

Informação colateral

Sendo a informação colateral uma das caraterísticas que diferencia estes relatórios dos restantes (Conroy, 2006), seria essencial especificar algumas dessas caraterísticas, tais como: a consulta de outros documentos, a entrevistas a familiares ou outros elementos

, ou seja, devem ser incluídos todos os elementos relativos ao sujeito e a outros elementos externos que foram consultados. É importante referir ainda documentos que tenham sido consultados pelo avaliador, mas cujo conteúdo não esteja presente no relatório (Berger, 2008; Colegio Oficial de Psicólogos de Madrid, 2013; Conroy, 2006; Ferreira, 2015; Griffith, Stankovic, & Baranoski, 2010; Grisso, 2010; Eastman, et al., 2013; Massachusetts Department of Mental Health, 2008; Zuckerman, 2010).

Segunda parte

Nesta segunda parte são integradas todas as informações recolhidas, e é aqui que o perito expressa a sua opinião tendo em conta as mesmas. Porém, é neste momento do processo que são encontrados os maiores erros nos relatórios, dado que muitas vezes os peritos falham em ligar a informação recolhida e as opiniões expressas (Grisso, 2010; Eastman, et al., 2013; Massachusetts Department of Mental Health, 2008; Reid, 2011).

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Discussão

Aqui deve ser integrada e sintetizada toda a informação do relatório, a existência

algun ; e a(s) hipótese(s) de

2015; Griffith, Stankovic, & Baranoski, 2010; Griffith, Stankovic, & Baranoski, 2010; Grisso, 2010; Villatoro, 2016). Todos estes dados devem ser fundamentados e

explicados com a informação recolhida na primeira parte do relatório. Todas as hipóteses apresentadas devem ser suportadas por diferentes fontes de informação (Eastman, et al., 2013; Grisso, 2010; Groth-Marnat & Hornath, 2006).

Conclusão

Este último ponto é por ventura o mais importante do relatório, pois é aqui que a

limitações que toda a avaliação -se a impossibilidade atual de

Stankovic, & Baranoski, 2010; Grisso, 2010; Villatoro, 2016). Estas últimas podem passar pelo acesso a informação que não estava disponível ou por uma série de outros contratempos que o perito pode encontrar e que limitam o seu trabalho (Eastman, et al., 2013). Salienta-se que o perito não deve dar uma conclusão legal ao relatório, mas sim uma conclusão técnica e respondendo ao(s) quesito(s) proposto(s) (Reid, 2011).

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Método

Tendo em conta a revisão de literatura apresentada, podemos afirmar que, esta é uma área que ainda não foi muito estudada, o que torna esta investigação bastante relevante. Sendo a Psicologia Forense uma área tão recente em Portugal, a escassez de estudos ainda é notória. No que diz respeito às perícias, apesar de serem amplamente reconhecidas como importantes meios de prova, são raros os estudos que se debruçam sobre a realização das mesmas, sobre a sua estrutura, a sua organização ou a sua escrita.

No que concerne aos casos de homicídio, mesmo sendo dos crimes mais estudados, ainda se regista uma grande escassez na sua relação com a realização de perícias. Numa fase posterior, as questões ligadas à imputabilidade ou inimputabilidade de um indivíduo que praticou um crime de homicídio ainda se encontram sem resposta, dado que são poucas as perícias realizadas aos autores destes crimes. Assim, um estudo nesta área será bastante pertinente, uma vez que vai combater uma lacuna que é

demasiado grande para continuar a existir.

Posto isto, o desenvolvimento deste projeto pretende realizar um estudo que tem como objetivo geral a identificação das lacunas existentes nas perícias em casos de homicídio. Como objetivos mais específicos, pretende-se não só identificar essas lacunas, mas também propor uma solução para as mesmas, elaborando uma estrutura modelo para um relatório psicológico forense em casos de homicídio que possa ser esclarecedor, tanto para os profissionais na área da Psicologia, como facilmente interpretável para profissionais do Direito, tornando este tipo de relatórios o mais completo possível e de fácil interpretação.

Esta investigação tem um carácter exploratório, pois pretende esclarecer e tornar mais nítido o problema em questão. Considera-se também um estudo misto, pois é tanto qualitativo como quantitativo e descritivo, baseando-se na pesquisa de arquivo e

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recorrendo à técnica de análise de frequências a partir da análise de conteúdo segundo Laurence Bardin (2015).

Como já referido anteriormente, no que diz respeito à parte qualitativa, foi usada a análise de conteúdo e por isso foram criadas categorias para proceder à interpretação e análise de cada perícia, e posteriormente seguiu-se uma análise quantitativa onde foi utilizado o SPSS (Statistical Package for the Social Sciences), versão 23 para realizar análise de frequências de cada uma dessas categorias.

A análise de conteúdo, segundo Laurence Bardin,

análise das comunicações que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de

recolha de informação utilizado, sendo este o mais adequado para este estudo, partindo de material reunido pela pesquisa de arquivo e seguindo para o método das categorias. Este tipo de análise conjuga várias técnicas de análise das comunicações e tem um campo de aplicação bastante vasto (Bardin, 2015).

A utilização de categorias surge da necessidade de formulação de um sistema que agrupe o material teórico recolhido através da pesquisa de arquivo e as hipóteses de trabalho. Para isso, são criadas categorias à priori cujo objetivo é detetar a presença ou ausência das mesmas no corpo teórico (Vala, 2014). Depois da categorização, é preciso definir quais as unidades de registo (Campos, 2004) a serem usadas, ou seja, qual o segmento do conteúdo que se insere na categoria (Lima, & Manini, 2016). Existem aspetos que o relatório deverá conter na sua organização, entre eles estão as unidades usadas. Neste estudo, foram usadas unidades formais, que dizem respeito a aspetos que o relatório deverá conter e à sua organização; unidades técnicas, que são as que dizem respeito à informação a ser recolhida e interpretada pelo perito; unidades neutras, que dizem respeito a aspetos meramente informativos, mas necessários para o entendimento

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global do caso; e por fim unidades omissas, que são as que não estão presentes na categoria destinada.

Participantes

A amostra presente nesta investigação, é um conjunto de 12 casos e as

correspondentes perícias psicológicas forenses de acórdãos em casos de homicídio que transitaram em julgado, da zona norte e centro do país, mais especificamente 25% dos casos em Braga e Lisboa (N=3 e N=3 respetivamente), 17% no Porto e Vila Real (N=2 e N=2 respetivamente) e 8% em Coimbra e Leiria (N=1 e N=1 respetivamente).

Procedimentos

A recolha dos acórdãos foi realizada em www.dgsi.pt, o Instituto de Gestão Financeira e Equipamentos da Justiça I.P., mais especificamente nas Bases Jurídico-Documentais.

A obtenção das perícias foi feita junto dos tribunais responsáveis pelo respetivo acórdão, sendo que foi enviado a cada tribunal, pessoalmente ou por via eletrónica, um requerimento (Anexo A), onde era explicado o pedido e os seus requerentes. Numa fase posterior, as perícias foram sendo recebidas, quer por carta registada ou por endereço eletrónico, quer, em alguns casos, por ambos os meios.

Após os dados serem recolhidos, realizou-se uma análise dos processos de avaliação forense da amostra com a grelha de análise final (Anexo B), tratando-se assim de uma análise de natureza mais qualitativa e, posteriormente, foi feita uma análise mais quantitativa, durante a qual foi preenchida uma matriz de dados utilizando o SPSS, versão 23. Os dados inseridos nesta matriz, foram sujeitos a uma análise descritiva das variáveis, como as análises de frequências.

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Resultados Caraterização dos arguidos

Todos os arguidos presentes nas perícias analisadas eram do sexo masculino. No que respeita à faixa etária dos arguidos das perícias analisadas, 41,7% encontra-se entre os 16 e os 30 anos (N=5). Nas restantes faixas etárias, dos 31 aos 40, dos 51 aos 60 e dos 61 aos 70 a percentagem de indivíduos que nelas se encontra é a mesma, 16,7%, N=2. Só apenas num caso, correspondente a uma percentagem de 8,3%, não estavam presentes estes dados.

A escolaridade dos arguidos é também variada, 25% dos agressores têm apenas o ensino primário (N=3) e o mesmo acontece com o ensino básico (25%, N=3). Num dos casos o arguido ainda se encontrava a estudar (8,3%) e noutro nunca tinha

frequentado a escola apesar de saber ler e escrever (8,3%). Dois dos agressores tinham o ensino secundário (16,7%) e em duas perícias não estavam presentes quaisquer dados relativos à escolaridade (16,7%).

Relativamente à relação do agressor com a vítima, em 58,3% dos casos estes eram familiares (N=7), apenas em dois casos se tratavam de desconhecidos (16,7%) e só em 16,7% se tratavam de conhecidos com pouca relação (N=2). Em 8,3% dos casos (N=1) a vítima tratava-se de um agente da autoridade.

No que respeita ao consumo de substâncias, em 75% dos casos (N=9) o arguido apresentava problemas de consumo de álcool ou de outras drogas.

Caraterização da perícia psicológica forense

No que concerne à paginação das perícias, o número médio de páginas é de 7,9, sendo que a perícia com menor número de páginas é de 4 e a perícia mais longa tem 17 páginas.

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foi usada informação colateral; dessa percentagem, 25% (N=3) diz respeito a entrevistas com familiares dos arguidos ou com outros intervenientes, como professores ou outros profissionais de saúde. Em 3 perícias (25%) foram usadas consultas de outros

documentos, tais como os registos clínicos, psicológicos e psiquiátricos do arguido. Por fim, em 33,3% (N=4) das perícias foram usadas outras fontes de informação, como visitas ao domicílio do arguido ou articulações com outras entidades, como a Polícia de Segurança Pública ou o Corpo Diretivo de uma escola.

Das hipóteses de trabalho presentes em 66,7% (N=8) das perícias, 25% (N=3) não apresentavam qualquer psicopatologia, 16,7% (N=2) sofriam de uma perturbação da personalidade, e em 8,3% respetivamente, sofriam de uma perturbação depressiva (N=1), uma perturbação situacional transitória (N=1) e de uma perturbação de adaptação (N=1).

Relativamente à psicometria utilizada, 58,3% (N=7) das perícias não usaram qualquer tipo de testes, em 8,3% foram usados 5 testes (N=1) e com a mesma

percentagem foram realizados 6 testes (N=1). Em duas das perícias foram efetuados 7 testes (16,7%) e apenas numa perícia foram usadas 10 provas psicológicas (8,3%). Seguidamente, apresenta-se um quadro com a psicometria levada a cabo nas perícias.

Quadro 1

Psicometria Realizada nas Perícias

Psychopaty Checklist Revised (PCL-R)

Checklist de Avaliação de risco de violência (HCR-20)

Mini Mental State Examination (MMSE)

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Inventário de Personalidade (16-PF-5)

Inventário de Sintomas Psicopatológicos (BSI)

Matrizes Progressivas de Raven

Escala de Autoavaliação de Ansiedade-Estado de Zung

Inventário de Personalidade de Eysenck

Questionário de Vulnerabilidade ao Stress (23 QVS)

Escala de Autoconceito de Piers-Harris

Inventário Depressivo de Beck

Inventário de Personalidade NEO Revisto (NEO PI-R)

Inventário de Resolução de Problemas (IRP)

Escala de Crenças sobre Violência Conjugal

Checklist para Avaliação de Risco de Violência Conjugal

Figura Complexa de Rey Teste da Cópia e Reprodução de Figuras Complexas Inventário Multifásico de Personalidade de Minnesota

Questionário de Esquemas de Young (YSQ-23)

Questionário de Agressividade de Buss e Perry

Inventário de Estado-Traço de Ansiedade STAI Forma Y-1 e Y-2

Teste Projetivo de Psicodiagnóstico de Rorschach

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Inventário Clínico Multiaxial de Millon II (MCMI-II)

Teste de Perceção Temática (T.A.T.)

Sobre os quesitos, apenas em 33,3% (N=4) deles são apresentados no início das perícias, como questões a serem respondidas durante as mesmas e só em 41,7% dos casos (N=5) é que estes apresentam uma resposta direta.

Quanto às unidades formais presentes nas perícias, estas surgem em 62,22% das mesmas, as unidades técnicas ocorrem em 56,2% das perícias e as unidades neutras aparecem em 50%. No que concerne às unidades omissas, 58,3% das perícias tem entre 20 a 30 de unidades (N=7), 33,3% tem entre 31 a 40 (N=4) e em 8,3% (N=1)

apresentam entre 51 a 60 unidades.

Impacto das perícias na decisão judicial

Quando se aborda o tópico da realização das perícias, refere-se que elas se destinam a um público muito específico, e como tal, procura-se perceber como é que este a interpreta e quais são os aspetos mais referenciados. Para isso, analisamos os acórdãos referentes às doze perícias estudadas.

Alusão da perícia na sentença

Após analisar todos os acórdãos, conclui-se que, apesar de a referência às perícias se encontrar em todos eles, apenas três (25%) referem a presença da mesma na

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Transcrições diretas de frases da perícia

Quanto às transcrições diretas, 50% das perícias (N=6) contêm transcrições de

gia patológica que faça supor a existência de um transtorno de personalidade

(acórdão nº7); ou então, a organização emocional revela fragilidades, que causam

emocional ideativa com descontrolo emocional e com traços obsessivo (acórdão nº10).

Apenas faz referência à existência da perícia

Apenas um acórdão (8.3%) se limita a referir a existência da perícia não fazendo mais nenhuma referência à mesma.

Aspetos da perícia mencionados

Os aspetos mencionados dizem respeito a todas as referências feitas à perícia durante o acórdão, estes vão desde a indicação de imputabilidade ou inimputabilidade,

a

cial consistiu

na entrevista clínica ao arguido, na consulta das pe a

dade de

autodeterminar perante as circunstâncias est a

a de psicose paranoide e (acórdão nº5); a traços da personalidade

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; e

acórdãos que contêm um resumo da perícia (acórdão nº11).

Implicações futuras da perícia

Este ponto diz respeito a medidas aplicadas ao arguido, com base nos relatórios periciais. T

ou no acórdão nº2 dade de intervenção específicas ao nível do acompanhamento psiquiátrico, direcionadas para a sua estabilização psíquico-emocional, sem o qual serão elevados os riscos para a família ou terceir Tudo isto equivale a uma percentagem de 16% (N=2) de acórdãos que, fundamentando-se na perícia, se referem à influência da mesma no futuro.

Declarações do perito em tribunal

Em 25% (N=3) dos acórdãos foi referida a necessidade de o perito responsável

porquan

(acórdão nº5).

Discussão

Relativamente à caraterização dos arguidos, os resultados obtidos vão ao encontro dos estudos existentes, a totalidade dos agressores é do sexo masculino, tem entre 16 e 30 anos e possui o ensino primário ou básico. Na maioria dos casos, as

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vítimas são familiares dos agressores e estes estão sob o efeito do álcool ou outras substâncias (Faria, 2011). No que diz respeito à caraterização das perícias, estas têm em média 8 páginas, o que não varia muito relativamente a outros estudos e usam na sua maioria várias fontes de informação, o que vai novamente ao encontro dos estudos realizados, pois tornam os relatórios mais rigorosos (Berenguel, 2014; Faria, 2011; Ferreira, 2015), usam desde entrevistas, consulta de documentos ou até visitas ao domicílio. Também na maioria das mesmas perícias, não há presença de psicopatologia e não usam psicometria. Nas perícias que usam psicometria, são utilizados testes de avaliação de personalidade, de avaliação da inteligência ou uma checklist de sintomas. Além disso, são usados testes projetivos (Teste Projetivo de Psicodiagnóstico de Rorschach ou Teste de Perceção Temática T.A.T.) e testes não validados para a população portuguesa (Inventário Multifásico de Personalidade de Minnesota - MMPI), o que vai contra o que é defendido por alguns autores. Mas esta é uma abordagem que não é consensual e cuja literatura não consegue chegar a uma conclusão concreta, existindo assim estudos que defendem as duas posições, apesar do seu antagonismo (Jung, 2014).

De acrescentar ainda sobre as perícias, que na sua maioria não fazem qualquer referência aos quesitos, quer no início, quer no fim das mesmas, apesar de estes serem o fio condutor de toda a perícia e de serem referidos constantemente como informação obrigatória e como uma das principais lacunas que um relatório psicológico forense pode ter (Berenguel, 2014; Ferreira, 2015). Tendo em conta a grelha de análise utilizada, também se chegou à conclusão que das unidades consideradas importantes que cada perícia pode conter, existem na sua maioria 20 a 30 unidades que estão omissas.

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referenciadas nos acórdãos, mas na sua maioria não são referidas na sentença, não existindo implicações futuras das mesmas e sendo necessário o perito testemunhar em tribunal. Em metade dos acórdãos, são transcritas referências diretas da perícia e são os aspetos mais mencionados que estão diretamente ligados aos quesitos pedidos, dados que vão ao encontro dos estudos já realizados, uma vez que, na sua maioria, são

transcritas referências diretas das perícias e apenas num número pouco significativo em que a perícia é indicada como um dos meios de prova. (Faria, 2011).

A elaboração da grelha de análise final, tendo em conta a categorização da análise de conteúdo, para casos de homicídio, serviu para referenciar os aspetos que se consideram mais importantes numa perícia deste tema, entre eles estão a presença dos quesitos necessários para a realização de uma perícia. Nenhuma das perícias utilizadas preencheu todos os aspetos da grelha e, como já acima descrito, muito poucas foram as que tinham os quesitos presentes. Mas sem a presença destes, como é que um agente externo pode saber do que se trata na perícia? Como é que o juiz sabe onde estão as respostas ao quesito que ele colocou? A falha deste elemento tão fulcral pode comprometer seriamente a utilização da perícia, uma vez que, conjugando com uma linguagem demasiado técnica, torna a perícia num documento demasiado abstrato e por isso não tem muitas vezes o peso merecido

nta factos que nem sequer se en

existência de erro notório na apreciação da prova alegando que o relatório psiquiátrico de todas estas questões necessitarem de ser resolvidas e colmatadas através da uniformização do relatório e da formação do perito, existem outras questões que o profissional de saúde

Imagem

Figura Complexa de Rey   Teste da Cópia e Reprodução de Figuras Complexas  Inventário Multifásico de Personalidade de Minnesota

Referências

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