• Nenhum resultado encontrado

Phototherapia : methodo de Finsen

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Phototherapia : methodo de Finsen"

Copied!
110
0
0

Texto

(1)

A

(^Teíí^oòo òe gtin&en)

DISSERTAÇÃO INAUGURAL

APRESENTADA A

Escola Medico-Cirurgica do Porto

-WL.

58p£

P O R T O

Typ. Occidental (a vapor) 82—Rua da Fabrica —82

1 9 0 2

(2)

D I R E C T O R

DR. ANTONIO JOAQUIM DE MORAES CALDAS

CLEMENTE JOAQUIM DOS SANTOS PINTO

Corpo Cathedratico

Lentes cathedraticos

l.* Cadeira—Anatomia descripti­

va geral Carlos Alberto de Lima. 2." Cadeira—Physiologia . . . Antonio Placido da Costa. 3.a Cadeira—Historia natural dos

medicamentos e materia me­

dica Illydio Ayres Pereira do Valle. 4.a Cadeira—Pathologia externa e

therapeutica externa . . . Antonio Joaquim de Moraes Caldas. 5." Cadeira—Medicina operatória Clemente Joaquim dos Santos Pinto 6.a Cadeira—Partos, doenças das

mulheres de parto e dos re­

cem­nascidos Cândido Augusto Correia de Pinho. 7." Cadeira—Pathologia interna e

therapeutica interna . . . Antonio d'Oliveira Monteiro. 8." Cadeira—Clinica medica . . Antonio d'Azevedo Maia.

9." Cadeira—Clinica cirúrgica . Roberto Belarmino do Rosário Frias io.a Cadeira—Anatomia patbologi­

ca Augusto Henrique d'Almeida Brandão II," Cadeira—Medicina legal . . Maximiano A. d'Oliveira Lemos. I2.a Cadeira—Pathologia geral, se­

meiologia e historia medica. Alberto Pereira Pinto d'Aguiar. l3." Cadeira—Hygiene . . . . João Lopes da Silva Martins Junior. Pharmacia Nuno Freire Dias Salgueiro.

Lentes jubilados

Secção medica í fosé d'Andrade Gramaxo.

T I Dr. Jose Carlos Lopes.

Secção cirúrgica Pedro Augusto Dias.

T ° J Dr. Agostinho Antonio do Souto. Lentes substitutos

Secção medica ! J.°,s,é D i a* d'Almeida Junior.

( Alfredo de Magalhães. Secção cirúrgica ' . ^ »i z a d e F r e i t a s V i eSa s­

Lente demonstrador

(3)
(4)
(5)

ILL./110 E E-X.A10 SNR.

/. ©£//fr,í/d é/i/eâa (&/m/fi </'@£œtetai

(3 fneu ftteiéo ci ac/mitctção e Ato/undo teco** necitn enío.

(6)

«

•?i

(7)

Antes de encetar o trabalho final da minha formatura, pretendo expor em

bre-ves palavras e sem rodeios nem pretensões estylisticas o que penso com referencia á these que hoje, seguindo uma

formalida-de imprescindível para aquelles que, como eu, pretendem exercer a clinica, têm humil-demente de apresentar á Escola Medica-Cirurgica.

A these é para muitos assumpto de ni-mia importância; para uns, por se encon-trarem suffi cientemente abastecidos de ele-mentos scientificos ; para outros, sendo exi-mios litteratos, a mais simples doutrina é enriquecida pelo brilho da exposição, pelas ideias finamente trabalhadas e pela escolha cuidadosa dos termos; para outros, final-mente, porque, furtando-se por uma das mil evasivas á responsabilidade de themas

(8)

no-mundos de ideaes, ou então tomando as-sumptos da actualidade cujos títulos mira-bolantes e suggestives, com quanto sejam ocos de sciencia, supprem e preenchem a formalidade, mas que entretanto não dei-xam impressa nem sequer apontada a es-pecialidade nem mesmo a proficiência do proposto medico.

No entanto, repito, para estes ou para os que disponham de recursos scientificos ou litterarios, não é a these o attrito máxi-mo da carreira. Porém para os que, comáxi-mo eu, tem ajusta comprehensão dos seus pou-cos méritos, mais avultam as diíficulclades de tão árdua tarefa. Eu comprehendo que o curso de medecma é especialidade de tão opulentos recursos que dispensa bem as

(9)

d'essas pedras preciosas que, por essas montras, nos deslumbram com a irradiação de seus fulgores, chegamos á conclusão de que, arrancada ella do magnifico engaste que a encerra e despojada do ouro que a cerca, destruído o facetado primoroso que a faz refulgir e reverberar em múltiplos sen-tidos, já o valor apparente d'essa pedra di-minuiu tão consideravelmente que quasi ju-raríamos não ser a mesma que ainda ha pouco admirávamos.

Assim a doutrina, assim a ideia, se sobre ella não espalharmos a preciosa poudre d'or, de uma terminologia precisa,

d'uma argumentação solida e convincente e d'uma exposição proficiente. De outro modo, a mais sã doutrina não costuma

(10)

sa-E' meu intento fazer da these não a for-malidade obrigada mas a prova final dos meus cinco annos de estudo e a synthèse talvez do que d'elles pude apurar de mais digno de vir a. publico e ser apresentado á Escola.

Não sejam estas palavras tidas á conta de encómio que, no meu caso, seria simples-mente ridiculo. E' apenas a apresentação sincera de quem trabalha com afinco e amor n'um assumpto um pouco acima da trivia-lidade e portanto se não esquivou a esfor-ços, despezas e fadigas aturadas.

O assumpto é palpitante e, se não pôde dizer-se novo entre nós, procurei tornar o meu estudo digno da attenção dos meus mestres por uma forma clara e destituida

(11)

os argumentos scientificos de que posso dis-por, tirados dos melhores mestres francezes e dinamarquezes, trabalho profissional e sem outras pretensões estranhas ao que seja apresentar uma these que satisfaça as leis e provada com observações pessoaes. Não me sobram aptidões de escriptor, nem sequer disponho d'esse estylo elegan-te que preenche lacunas importanelegan-tes de proficiência e estudo. Mais espinhosa me é por isso a empreza. No entanto, singela-mente e contando de antemão com a vossa proverbial benevolência com que já conto por meus poucos méritos, ouso apresentar-vos o producto do meu trabalho, lucubra-cão e estudo.

(12)

Desde a mais remota antiguidade era empiricamente reconhecida e mesmo apro-veitada a influencia benéfica da luz solar.

Dados positivos foram adquiridos ape-nas ha uma centena de annos e a utilisa-ção curativa da luz é de epocha recentís-sima.

Ainda que desconhecendo por completo a natureza intima d'esta força, eu, em face dos resultados obtidos, tratarei da sua ap-plicação sob uma forma therapeutica.

É este pois o assumpto do meu trabalho — a phototherapia. Considerarei das mui-tas experiências feimui-tas por diversos obser-vadores, sobretudo Finsen, as duas origens da luz: — natural—o sol: artificial—luz eléctrica ou de qualquer outra natureza e dividirei o assumpto nos quatro capitulos abaixo mencionados.

(13)

mento de Finsen.

2.° Exposição do methodo de Finsen. 3.° Reacção photogenética.

(14)

Acção da luz sobre os organismos

Différentes e aturadissimas foram as pesquizas que levaram Finsen, á elaboração do seu methodo therapeutico n'um volume, intitulado La Phototherapie.

É de esta obra principalmente que, no decurso do meu despretencioso trabalho, me hei muitas vezes de soccorrer, além de outras monographias e quaesquer revistas medicas para poder demonstrar bem á evi-dencia os principios fundamentaes da sua technica.

Quando Finsen entrou a tratar e discu-tir este assumpto, não se conhecia da luz mais que a sua influencia nociva sobre cer-tos organismos.—Esta noção resultava de uma série de experiências anteriormente realisadas e das quaes as mais numerosas e interessantes haviam sido feitas sobre os micróbios e sobre o systema cutâneo.

Que a luz possuia um poder bactericida foi a propriedade que, pela vez primeira em

(15)

1877, foi observada por Downes e Blunt. E foram estes dois celebres observadores que tiveram a ideia de expor ao sol duas séries de tubos que continham egualmente uma cultura sobre liquidos assucarados e mineraes. Os tubos do primeiro grupo ou série não differiam do segundo senão pelo invólucro de chumbo que, pondo-os ao abri-go da luz, os não protegia contra a acção do calor. Após uma exposição ao sol mais ou menos longa, foram os tubos levados á estufa e os dois observadores puderam cons-tatar que os tubos da primeira série esta-vam esterilisados ao passo que os da segunda não tardavam em povoar-se de colónias.

O liquido semeado de novo, turbava-se, pois que não perdia as propriedades nutri-tivas que lhe eram attribuidas pela esterili-dade das culturas assoalhadas, pelo que se não podia incriminar senão a luz. Por ou-tros termos: concluiu-se da experiência que a luz tinha um poder bactericida.

Decorridos annos, foram estes resulta-dos confirmaresulta-dos pelo professor Arloing (*.) que estudava esta mesma acção sobre os Bacillus antliracis.

(') Arloing, Semaine Médicale, 11 de fevereiro a 26 de agosto e 9 de setembro de 1885.

(16)

Expondo á luz branca artificial (*) uma cultura de esporos cle Bacillus aníhracis rium. caldo de cultura, constatou Arloing que a proliferação era attenuada e o mycelium muito menos abundante.

Com a luz solar o effeito era mais con-siderável. A população rapidamente dimi-nuída, era supprimida totalmente depois de duas horas de exposição ao sol de julho de estes mesmos esporos semeados em tem-peraturas comprehendidas entre 35° e 39°, temperatura optima para este micróbio.

Quanto á virulência, soffriam também uma diminuição parallela de sorte que de-pois de vinte a vinte e cinco horas de sol, a cultura em questão podia gosar as quali-dades de vaccina.

Pela mesma epocha, fazia Duclaux (2)

observações sobre o Tyrothrix scaber e depois sobre o micrococci: os micrococus que po-diam resistir um anno á obscuridade ou á luz diffusa, succumbiam ao fim de quinze dias de sol e, com uma exposição menor,

(') Luz obtida por uma série de bicos de gaz.

(*) Duclaux, Annales de l'Institut Pasteur, 1887; comptes rendus de l'Académie des sciences, 12 de janeiro de 1885 e 31 de agosto de 1885.

(17)

viam a sua virulência e vitalidade mais ou menos attenuada.

Sob o ponto de vista hygïenico, Duclaux concluia que a luz solar é simultaneamente o agente destruidor mais universal, mais económico e mais activo de que pôde lan-çar mão a hygiene publica e privada.

Não me permittem os limitados âmbitos d'esta these o descrever, nem mesmo ligei-ramente, os estudos e experiências effe-ctuados sobre o assumpto. Porém, para au-ctorisar este simples estudo basta-me citar os nomes de Buchner, Straus, G-aillard, (*) Raspe, Pansini.. . etc., que foram os que mais contribuiram para estabelecer o poder bactericida da luz. Estabelecido o principio, resta interpretar a acção bactericida da luz. Como fazê-1'o? É de ordem physica ou chimica ?, A que raios do espectro deve ser attribuido este poder?

Com effeito, está demonstrado que a luz se decompõe em sete cores fundamen-taes que, a partir das mais próximas para as mais affastadas, são o vermelho, o ala-ranjado, o amarello, o verde, o azul, o anila-do e o violeta. Afora este espectro visivel,

(l) Gaillard, Influence de la lumière sur les

(18)

existem mais dois ; o infra-vermelho, consti-tuído por raios menos refrangiveis que os raios vermelhos e se manifestam por phe-nomenos exclusivamente caloríficos, e o ultra-violeta, formado por radiações mais re-frangiveis que as radiações violetas e que podem produzir phenomenos chimicos.

Quanto ao espectro visivel, contém, além das suas radiações luminosas, radia-ções chimicas e caloríficas, os dois espe-ctros invadindo-se mutuamente.

Em resumo, as radiações caloríficas que tem o seu máximo de intensidade no espe-ctro infra-vermelho começam a attenuar na região do vermelho do espectro luminoso, diminuem progressivamente até ao violeta para desapparecerem completamente desde que começa o espectro ultra-violeta. Inver-samente, as radiações chimicas começam na região do vermelho, augmentando um pouco no amarello, diminuindo até ao vio-leta, para crescerem com espectro ultra-violeta.

Estas diversas radiações teem o com-primento d'onda que augmentam do es-pectro ultra-violeta ao infra-vermelho, de tal maneira que os raios mais refrangiveis correspondem ao da onda menor e vice-versa.

(19)

Pôde verificar-se pelo quadro seguinte

Ultra violeta comprimento de onda inferior Violeta . Anilado. Azul Verde . Amarello Alaranjado Vermelho Infra vermelho 392 [i. 392 ji a 428 p. 434 [x a 499 JJ. 457 [j. a 500 [j, 500 n a 544 ji 562 (j, a 583 p, 600 [j, a 660 |x 663 [A a 698 JJ. superior a 689 [j.

Dos différentes raios luminosos, calorí-ficos e chimicos, sao estes últimos que se consideram activos no phenomeno que va-mos estudar.

Downes e Blunt tinham já observado na acção da luz sobre os micróbios, uma certa analogia com o phenomeno da acção com-burente, estudada por Wittstein, que a luz exerce sobre as soluções de acido oxalico, e da acção destructiva que soffre nas mes-mas condições, a diastase inversiva do as-sucar. Arloing demonstrou que o bacillus anthracis se desenvolve melhor nos raios mais desviados. Da mesma maneira Duclaux accusa o espectro chimico e é de parecer que se trata n'este caso de um phenomeno de oxj'daçâo. É innegavel que a acção da luz está ligada á do ar.

(20)

E. Roux (') demonstrou-o, expondo á luz solar dois tubos, contendo ambos uma cul-tura de bacillus anthracis, um aberto e outro fechado á lâmpada e por consequência ao abrigo do ar.

Eis os resultados:

1) Os esporos da bacteria carbunculosa resistem durante muito tempo em logar húmido á luz solar.

2) Morrem muito mais depressa quando são expostos á acção simultânea do ar e da luz.

Geisler (2) constatou a influencia

retar-datária da luz sobre o desenvolvimento do bacillo typhico e affirmou que esta influen-cia é exercida por todos os raios do espe-ctro solar e eléctrico, á excepção dos raios vermelhos, e que ella cresce na razão in-versa do comprimento da onda.

Relatarei a interessante experiência de Arsonval et Charrin (3) sobre o bacillo

piocyanico. De uma observação anterior a estas experiências resultava que o primeiro

(!) E. Roux, Annales de l'Institut Pasteur, 1887, pag. 445. (*) Geisler., Archives de médecine eosperimentale e

d'anato-mie pathologique, novembro 1891, pag. 800.

(s) D'Arsonwat et Charrin, influencia atmospherica, em

particular da luz e do frio, sobre o bacillo piociyanico,

(21)

effeito da luz é diminuir o poder chromo-geneo do bacillo. Tomaram, pois, dois tu-bos idênticos contendo amtu-bos a mesma cul-tura.

Estes dois tubos recebiam sob a mesma incidência, á mesma distancia e á mesma exposição, um os raios vermelhos, o outro os raios violetas. No fim de um certo tem-po uma gotta de cada uma d'estas culturas era collocada sobre um agar e depois sub-mettida a estudo durante dois a cinco dias.

Só a cultura submettida ás radiações vermelhas se torna pigmentada, emquanto que a outra permanecia completamente in-color.

Depois de uma exposição mais prolon-gada á luz, a primeira dá ainda colónias em quanto que a outra se torna absoluta-mente esterilisada.

Pelo resultado de estas e de muitas ou-tras experiências, forçoso é que admitta-mos:

1) Que a luz actua sobre os micróbios ou sobre os seus esporos, retardando a sua organisação.

2) Que é aos seus raios actinicos que ella deve as suas propriedades. Além de que esta dupla noção da influencia nociva da luz e do papel que desempenham as

(22)

ra-diações chimicas n'este phenomeno, se veri-fica entre os seres mais elevados em orga-nisação. Assim a lombriga, animal photo-phobo que rasteja constantemente na obs-curidade, não foge aos raios vermelhos ao passo que os raios azues ou violetas lhe produzem a mesma impressão desagradá-vel que a luz branca. Da mesma maneira, como o demonstrou Dubois, (*) o proteu, que sempre prefere as trevas, evidencia uma sensação de bem-estar crescente, se o collocarmos successivamente na luz branca, violeta, azul. verde, amarella, vermelha e por fim na obscuridade.

Um facto não menos curioso se observa no camaleão. É sabido que este animal pos-sue na espessura dos seus tegumentos cel-lulas pigmentadas chamadas chromoto-phoras. Estas cellulas chromotophoras que, na obscuridade, ficam escondidas na espes-sura da pelle, attingem a superficie desde que se exponha á luz. Ora, assim como Paul Bert (2) observou que os raios

amarel-los e vermelhos não actuam fatalmente so-bre as chromotophoras, os raios azues e

(*) Dubois, Comptes rendus de la Soc. de biol, Í890, pag. 360.

(23)

violetas deslocam-nas como a luz ordinária, só com a differença de que a côr do animal se torna quasi instantaneamente negra.

Os effeitos da luz solar sobre a pelle do homem foram observados desde epochas remotas e não insisto sobre a sua des-cripção ; não ha quem não conheça pelo nome coup de soleil o erythema que apparece sobre as partes descobertas do corpo: rosto, mãos, nuca, depois d'uma exposição aos raios solares.

O erythema pellagroso é umphenomeno da mesma ordem, produzido pela radiação solar sobre os organismos debilitados.

A Insolação moderada traduz-se. nas pessoas de pelle branco e fino, pelas epheli-des ou sardas, que não são senão um excesso de pigmento em certos pontos. Essa insu-lação mais prolongada produz uma pigmen-tação extensa que torna a côr do rosto bronzeada, queimada do sol.

A respeito da acção exercida pela luz solar sobre as bactérias e sobre a pelle dos homens, eu podia levar esta exposição muito mais longe e bordar sobre ella um sem nu-mero de considerações, attinentes a mos-trar a potencia da referida acção e a sua influencia benéfica ou maléfica sobre os or-ganismos ; tenho, porém, de referir-me com

(24)

particular interesse, e de dirigir todos os meus esforços para a acção exercida pela luz artificial e portanto passo adiante.

A luz artificial produz accidentes ana-logos ao da luz solar.

O arco voltaico sendo também intenso pôde impressionar a pelle muito fortemente para determinar um erythema análogo ao erythema solar e ao qual se dá o nome de golpe de sol eléctrico. Esta propriedade da luz eléctrica foi descoberta pela primeira vez por Charcot. (') Eis a communicação que elle fez na sociedade de biologia :

Dois chimicos reuniram-se para fazer em commum as experiências sobre a fusão e a vitrificação de certas substancias pela acção da pilha eléctrica.

Fizeram uso d'uma pilha de Bunsen da força de 120 elementos. As experiências du-raram approximadamente hora e meia, mas n'este espaço de tempo, a acção da pilha foi varias vezes interrompida e não funccio-nou seguidamente mais do que vinte mi-nutos.

A distancia a que os observadores se collocaram do foco (50 centímetros pouco

(*) Charcot, Comptes rendus des sciences et mémoires de la Société de biologie, Í858, pas;. 63,

(25)

mais ou menos), não podiam ser e não eram, na realidade sensíveis a elevação de tem-peratura. Todavia, á tarde e durante a noite que elles passaram sem dormir, sentiram nos olhos uma sensação de fadiga muito penosa e viam quasi continuamente raios e faiscas coradas. Na manhã seguinte, apre-sentavam um erythema de côr vermelho arroxada, e uma sensação de mal estar e de tensão. M. W. que tinha o lado direito da face exposto á luz, a vermelhidão occupava todo esse lado desde a raiz dos cabellos até ao mento e os raios e as faiscas não as sen-tia senão no olho direito. O outro que tinha estado de cabeça baixa e como a face era protegida pela saliência do frontal foi sobre elle que se desenvolveu o erythema. Em ambos, os symptomas que apresentavam eram exactamente eguaes aos do golpe de sol, uma ligeira descamação se estabeleceu ao fim de quatro dias e no fim do sexto es-tavam curados.

Um facto semelhante foi observado pelo dr. Defontaine (*) nos fundidores de Creusot,

Na occasiâo de soldarem duas peças de aço por meio do arco eléctrico, os

assisten-(!) Defontaine, Bulletin de la Société de Chirurgie de Pa-ris, 28 de dezembro de 1887, pag. 799.

(26)

tentes sentiram sobre a pelle os effeitos d'esta luz intensa. Ainda que collocados a uma distancia que variava de 5 a 10 me-tros do foco luminoso, sentiam sensação de queimadura. Depois, no fim de duas horas, apresentavam no pescoço e na face um ery-thema bastante doloroso, ao mesmo tempo que os olhos apresentavam amaurose pas-sageira, conjunctivite e hypersecreção la-.crimal. Nos dias seguintes produziu-se a

descamação de toda a face.

Diversos casos se teem constatado nos diversos soldadores, variando as lesões com a intensidade luminosa, mas é raro que sas lesões vão até á ulceração ou até á es-cara.

Quer sejam devidos á luz natural ou ar-tificial, os accidentes que acabo de descre-ver, teem por causa os raios chimicos. Este facto era desconhecido até meiado do ulti-mo século. Assim se attribuiu o erythema e o eczéma solar á influencia dos raios calo-ríficos: golpe de sol e golpe de calor confun-diam-se. Ora estas duas affecções que po-diam ser idênticas com relação ao estado geral, differem quanto ás manifestações pelo lado dos tegumentos.

O erythema produzido pela luz solar tem caracteres especiaes pelos quaes se

(27)

dis-tingue da inflammação causada pelo calor, que é aliás bem menos frequente. Elle lò-calisa-se simplesmente sobre as partes des^ cobertas, ao passo que os raios caloríficos podem actuar atravez dos vestuários. Não se desenvolve immediatamente, mas sim tendo passado um certo tempo da acção luminosa. Deixa quasi sempre uma pigmen-tação anormal. Emfim é independente da temperatura: nas temperaturas inferiores a 0o os touristes das geleiras são também

at-tingidos de dermatites occasionadas pela forte reflexão solar nas geleiras: Vidmack e Hammer fizeram observações notáveis.

, Todos estes caracteres distinctivos pa-recem demonstrar claramente que os raios caloríficos são estranhos aos accidentes pro-duzidos pela luz na pelle.

Charcot em 1858 disse que os raios chi-micos eram a causa ; e baseava a sua pro-posição sobre os factos que tinha observa-do e que acabo de citar. No caso de golpe de sol eléctrico não se podem accusar os raios caloríficos do arco voltaico visto a dis-tancia a que estavam os fundidores.

Precisava-se de fazer intervir os raios luminosos, hypothèse á qual podiam fazer attender os accidentes oculares constata-dos ?

(28)

A este propósito M. Charcot recordou as experiências de Foucault, que foi attin-gido de dores de cabeça e de perturbações visuaes muito intensas com as faíscas elé-ctricas cuja intensidade luminosa não era. mais forte do que a de uma estrella.

Para Charcot, os raios chimicos é que eram a causa das perturbações cutâneas e oculares. E de facto estas lesões eram evi-tadas ou muito attenuadas, como o fazia Faucoult, desembaraçando a luz dos raios chimicos filtrando-a atravez de vidro de urano.

Estas explicações emittidas por Charcot eram muito acceitaveis, mas nâo eram se-não uma hypothèse que nâo assentava so-bre nenhuma prova scientifica. Era quasi evidente na experiência citada por Charcot, que o calor não actuava na producção do erythema nem na ophtalmia eléctrica.

Da mesma maneira a experiência de Creuzot : a uma distancia de 5 a 10 metros os fundidores não podiam ser attingidos pelo calor do foco. Um medico russo M. Macklakow, (x) que assistiu a duas

soldadu-(*) Mackhlakow, Arch, d'ophtalmol, 1889, pag. 97 e

(29)

ras feitas por meio do arco voltaico prove-niente de 250 a 500 accumuladores, foi at-tingido das mesmas perturbações cutâneas e oculares, sem que pudesse attribuil-as aos effeitos do calor. Mas o que era mais cons-tatado, era o papel que Charcot imputava aos raios chimicos por exclusão dos raios luminosos. Sobre este ponto da questão, a opinião de Charcot não foi acceita univer-salmente.

Trabalhos foram feitos e publicados pró e contra.

D'isto resultou uma discussão na socie-dade de medecina e cirurgia de Bordéus entre M. dr. Sous (*) que increpava os raios chimicos M. o dr. Martin (2) que

admittiu a acção exclusiva dos raios lumi-nosos. Com effeito, estes últimos, insignifi-cantes nas observações de Charcot, podiam na experiência de Creuzot ter uma certa influencia; sendo dada a sua intensidade

(') G. Sous Edairege électrique des théâtres Travail communiqué á la Société de medicine et de cirurgie de Bor-deaux (22 de julho, 1887 e publicada no Journal de medicine

de Bordeaux.)

(3) G. Martin, Les accidentes oculaires engendres par la

lumière électrique ne sont pas dus aux rayons chimiques

(communicação á Sociedade de medicina e cirurgia de Bor-déus, 22 de julho do 1887).

(30)

prodigiosa, era-se levado a attribuir-lhe os symptomas constatados.

É preciso pois a estas theorias dar uma base scientifica.

Desde 1862, no decorrer das pesqui-zas sobre a pellagre, M. le professeur Bou-chard (*) estudou experimentalmente os effeitos produzidos na pelle pelas radiações do espectro. Para essas experiências fez elle passar por um prisma um feixe de luz e sobre este feixe dissociado observou a acção dos diversos raios.

Na primeira série de experiências fazia incidir sobre uma lente os raios cora-dos e no foco da lente collocava a face dorsal do ante-braço.

Eis o resultado que obteve no fim de 30":

Os raios violetas produziram phlyctenas — azues » comichão e

ery-thema.

— verdes » erythema ligeiro. — amarellos » ligeira comichão. — vermelhos ficaram inactivos.

N'uma segunda experiência procurou

(') Bouchard. Recherches sur Io pellagre, 1862. #

(31)

achar o tempo necessário para produzir a lesão.

Besultados :

Os raios violetas em 12" produziram ver-melhidão com levantamento da epiderme, os raios azues em 15" vermelhidão, os raios verdes em 18" vermelhidão e comichão, os raios amarellos em 17" vermelhidão e os raios vermelhos em 25" vermelhidão.

N'esta experiência os raios verdes e amarellos parecem sahir da regra, sendo mais demorado o tempo com os raios ver-des que com os raios amarellos. Mas isto não é senão uma irregularidade apparente se se considera que a differença não é se-não de 1" e que de outra parte a lesão é mais accentuada com o verde do que com o amarello.

Bmfim n u m a terceira experiência, M. Bouchard supprimia os raios caloríficos do feixe luminoso, fazendo-lhe atravessar um corpo pouco diathermico mas capaz toda-via de deixar passar os raios chimicos : um

écran cheio d'agua substituia esta condição. As duas precedentes experiências repe-tidas com esta modificação, dando idênti-cos resultados : é a prova que os raios ca-loríficos não influiam nada na producção

(32)

Synthetisando : as experiências de M. Bouchard levam ás conclusões seguintes :

1) Os effeitos produzidos são tanto mais intensos quanto mais opulenta de raios chimicos fôr a região do espectro.

2) O tempo necessário para obter um effeito idêntico é tanto menos longo quando se opere com raios mais refrangiveis e mais approximados dos ultra-violetas.

3) Os raios caloríficos são absoluta-mente estranhos á producção d'estes acci-dentes os quaes são devidos exclusiva-mente á acção dos raios chimicos.

Estas experiências foram absolutamen-te concludenabsolutamen-tes ; as que se fizeram em se-guida não foram senão experiências de exa-me que confirmaram os resultados obti-dos por M. Bouchard. As do professor Vidmark (x) de Stockolmo merecem apenas

ser citadas.

Empregava-se uma lâmpada de arco voltaico de 1:200 bicos Carcel. Como M-Bouchard eliminava os raios caloríficos, fa-zendo-os passar atravez drum écran cheio

d'agua. Projectando a luz atravez d'uma placa de vidro ordinário, consegue excluir

(33)

a maior parte dos raios ultra-violetas. De seguida observou o effeito produzido sobre a pelle e verificou que ambos os raios eram excluidos alternativamente. Os principaes resultados que obteve foram os seguin-tes :

1) Pela acção de todos os raios, exce-pto os ultra-violetas, a pelle não apresen-tava mudança alguma.

2) Pela acção de todos os raios, exce-pto os caloríficos, desenvolvia-se a inflam-mação característica.

Finalmente, para ser completo este es-tudo devo mencionar os resultados a que chegou M. Hammer, (l) de Stuttgard, nas

suas investigações sobre a influencia da luz na pelle humana : estes resultados foram re-latados no segundo congresso da Sociedade Allemâ de dermatologia realisado em Lei-pzig em 1891.

3) O erythema solar é provocado pe-los raios ultra-violetas e não é necessário occupar-me com outras causas porque a de-nominação de erythema colorido não está ainda completamente justificado. . .

4) O effeito isolado do calor sem luz

(*) Hammer, segundo congresso da Sociedade Allemã de dermatologia. Sem. medicai, 1891, pag. 402.

(34)

sobre a pelle é absolutamente différente do que é provocado pela luz.

5) A luz eléctrica, por causa dos seus raios ultra-violetas excita muito a pelle.

6) Tudo que impedir os raios ultra-vio-letas de incidir sobre a pelle, protegem-na contra o erithèma solar.

Fica pois scientificamente demonstrado que não são os raios caloríficos mas sim os raios ultra-violetas que produzem os effei-tos conhecidos da luz sobre a pelle. Esta-belecida bem esta noção, por ella se explica a intensidade dos accidentes cutâneos pro-duzido pela luz eléctrica :

Estes accidentes devem-se ao facto ha muito conhecido, de que o arco voltaico é muito rico em raios violetas e ultra-violetas.

Assim, a chamma do oxydo de carbone que se emprega nos fornos de Siemnes é abundante de raios chimicos.

Esta mesma noção explica-nos um certo numero de phenomenos.

Se o golpe de sol é mais frequente na primavera é porque a pelle, não só desacos-tumada d'elle, como também por maior pu-reza da atmosphera, deixa passar melhor

os raios chimicos. O papel da pigmentação entre o homem e os animaes pôde também explicar-se curiosamente. Considere-se esta

(35)

pigmentação como um processo util em que as matérias caloríficas servem d'algum modo de écran entre os raios ultra-violetas e a pelle e protegem-na contra a acção inflam-matoria dos raios actinicos. Esta concepção que Unna já expoz em 188B é exactamente como a de Finsen (').

Baseando-se n'esta hypothèse fizeram a seguinte experiência. Traçaram sobre o seu ante-braço uma facha de nankin e ex-puzeram-na a luz solar durante três horas ; decorrido este tempo, apagaram esta facha e constataram que a parte coberta por ella permanecia perfeitamente sã, ao passo que a região exposta ficou ligeiramente verme-lha. Algumas horas passadas, desenvolvia-se um erythema perfeitamente caracteri-sado ao nivel das partes avermelhadas, acompanhada de dôr e de um ligeiro entu-mecimento, emquanto que o logar da facha estava demarcado por uma superficie de pelle normal nitidamente circumscripta. O erythema desappareceu, mas foi substituido por uma pigmentação. Repetiram então esta experiência sobre o ante-braço mas sem fa-cha : o resultado foi absolutamente

contra-(') Finsen, os raios chimicos o a variola (Sem. Médicale

(36)

rio, porque a zona que tinha ficado normal, tornou­se erythematosa e as partes lateraes pigmentadas não apresentando notável mo­

dificação.

Constata­se este facto quasi todos os dias. Os barqueiros que no inverno não tra­ zem os braços desnudados, logo que chega a primavera, arregaçam­se e principia a desenvolver­se um erythema nos braços e não nas mãos que estão expostas ao tempo durante todo o anno; passado algum tem­ po, esse erithèma pigmenta­se e não reage mais aos raios solares.

A côr dos povos explica­se do mesmo modo. Quanto mais nos approximarmos do equador, maior é a influencia dos raios so­ lares, e por isso a coloração da pelle é tam­ bém mais intensa.

Um europeu que emigre para um paiz tropical, toma uma côr mais ou menos car­ regada ; ao passo que a pelle de um negro que habita a Europa, attenua­se sensivel­ mente.

*♦ . . .

Pelo mesmo modo os raios chimicos ope­ P ram mais frequentemente sobre os typos

louros cuja pelle é pouco pigmentada, que sobre os morenos. ; ,

No reino animal o pigmento desempe­ nha o mesmo papel. Basta notar que, entre

(37)

os animaes, a superficie mais colorida é a superior. Demais o golpe de sol a que os ca-vallos e outros animaes estão expostos, co-mo o homem, attinge quasi exclusivamente as partes claras do seu pello malhado e ra-ramente ás escuras.

Poderia reproduzir, como estes, mil e um exemplos. Mas esta concepção da funo-ção protectora do pigmento traz com sigo uma nova consideração que é preciso pon-derar, como muito bem observa Finsen. Co-nhecem-se muito bem os effeitos da luz sobre a pelle ; o que é mais desconhecido é a sua acção sobre o organismo em geral. Ora que n'esta acção o systema nervoso é mais ou menos influenciado, isto é quasi certo ; mas a luz não actuará tão directamente sobre os capillares sanguineos e sobre o próprio sangue ? Tenho direito de suppôl-o se at-tender bem ao modo da repartição do pi-gmento nos tecidos.

Reflectindo sobre isto, Finsen, diz que a pigmentação constitue uma defeza contra os effeitos dos raios chimicos.

No homem o pigmento da pelle é só essencialmente depositado nas camadas profundas da epiderme : na epiderme ha pillares, mas estão por baixo no stratum ca-pillare. Nos animaes as cellulas pigmentares

(38)

estão mais espalhadas; mas algumas vezes encontram-se agrupadas ao longo dos vasos da pelle ; nos peixes por exemplo, veem-se como tubos de cellulas pigmentares em volta dos vasos.

É possivel que independentemente do systema nervoso, a luz tenha uma acção di-recta sobre a circulação: a observação his-tológica que acabo de apresentar permitte considerar esta hypothèse.

Mas a physiologia da influencia da luz sobre a economia está ainda por resolver. Mostro o ponto da questão mas não sei co-mo resolvel-a.

(39)

Obra de Finsen

Até ha poucos annos, os factos conhe-cidos da acção da luz, não tinham dado lo-gar a applicações therapeuticas. Mas attri-buiam-se outras puramente a charlatanice. Alguns tem curado a variola pela luz ver-melha.

O professor Petersen relatou que o va-rioloso na Edade Media era envolvido de pannos vermelhos, e o leito coberto com cortinas da mesma côr. Para justificar esta medida attribuia-se á côr vermelha o poder de irritar o sangue e provocar um exan-thema mais intenso, o que era considerado como resultado favorável.

Um costume semelhante ainda hoje existe, depois de séculos na Roumania, no Japão e Tonkin, o que é relatado pelo dr. Lassabatie (x).

(>) Lassabatie. Vèr Semaine Médical, 30 de junho de 1894, pag. 305.

(40)

A litteratura medica encerra alguns casos de applicaçâo de luz para o trata-mento do lupus. Segundo Otterbein, um charlatão tratou o lupus pelo «vidro arden-te». Um certo Maximilien Mehl recorreu mais tarde a esse processo. Mais recente-mente Thayer, por meio d'uma lente, con-centrava os raios solares sobre a região lupica, mas com o fim de fazer actuar os raios caloríficos.

Emfim Lohmann empregou os raios lu-minosos d'um arco voltaico, tornados pa-rallelos com a ajuda d'um espelho parabó-lico. Concebe-se que estes raios divergentes não podiam exercer effeito apreciável, de-vido ao pouco tempo durante o qual o doen-te era submettido á influencia dos raios di-vergentes.

Eis aqui, vê-se, factos isolados e despro-vidos de base scientifica.

E ao professor Faisen que cabe a honra de ter applicado d'uma maneira systemati-ca a luz ao tratamento de certas affecções e de ter lançado as bases do methodo novo «a phototherapia». Para estudar a obra de M. Finsen, não se pôde fazer mais do que analysar as publicações successivas nas quaes existem resumidas os seus tra-balhos,

(41)

As publicações são em numero de três. A primeira appareceu na Semaine Médicale de 30 de junho de 1894 com o titulo: Les Bayones chimiques et la variole. A segunda, La lumière comme agent d'excitabilité, nos Hos-pitals-tidente, Copenhague, n.° 8, 1893 (Ly-set som incitament), e a terceira na Semai-ne Médicale, de 21 de dezembro de 1897.

Traitement du lupus vulgaire par les rayons chimiques concentrés.

Na primeira d'estas memorias, Finsen propõe o tratamento da variola pela luz vermelha, isto é, a luz desprovida dos raios chimicos. Esta ideia tinha o seu ponto de partida nas observações de certos factos clinicos.

Mostrei mais acima como a luz actua sobre a pelle para determinar uma irritação de grau variável. Mas além das affecções que são devidas á sua acção exclusiva, ha outras que tem com ella alguma relação, quanto á sua etiologia e evolução.

A pellagre e o prurigo estival de Hut-chinson são d'esté numero ; estas duas affec-ções desenvolvem-se na primavera debai-xo da influencia dos raios solares.

Na hydroa vacciniforme, a erupção ba-seia-se sobretudo nas regiões descobertas ; sobrevem de preferencia na primavera e no

(42)

estio ; mas as partes cobertas podem tam-bém ser attingidas, porque se pôde produ-zir um exanthema boccal ; estas erupções também se mostram algumas vezes no in-verno : a affeooao não é pois exclusivamente ligada aos raios solares.

No xeroderma pigmentoso (milanore lenticular progressiva de Pich) as placas

erj^thematosas manifestam-se desde logo sobre as partes descobertas, algumas vezes logo que a creança foi exposta á luz do sol mas por outro lado os raios solares retardam o crescimento e a marcha dos tubérculos. A variola é desfavoravelmente influen-ciada pela luz. A priori nada tem de sur-prehendente pois a luz produz effeitos noci-vos sobre os tegumentos sãos quanto mais sobre a pelle doente, que offerece menor resistência.

E a prova é que nos variolosos as par-tes mais expostas (face e mãos) são a rede

das cicatrizes mais profundas e mais con-fluentes.

O que prova ainda mais que a erupção varioloica, é até certo ponto, devido á in-fluencia dos raios solares, e á inin-fluencia con-trariante que a obscuridade exerce sobre a marcha da doença.

(43)

pri-meira vez por Pioton, (x) que viu na

suppres-são da luz, um meio therapeutico a ajuntar ao tratamento ordinário da variola. « Todos os individuos collocados n'estas circums-tancias, que se teem curado, não apresen-tam o menor vestigio de cicatriz pela queda da crosta.

Alguns tinham tido uma erupção muito ligeira e discreta outros, vesiculas muito' numerosas, não confluentes e outros emfim uma variola confluente.

Novas observações foram publicadas por Black, (2) em 1867. Tratou este medico de

vários variolosos que não tinham sido vacci-nados submettendo-os á obscuridade.

N'estas condições, a varíola teve uma evolução benigna, as pústulas seccaram sem se terem tornado purulentas e não houve febre secundaria.

Patin, Waters (3) e Barbow (4) Tiveram

resultados análogos.

Este processo de tratamento, que deu aos medicos inglezes um grande successo

(f) Piéton, Arch. Gen. de med., xxx, pag. 406.

(«) Black Lancet, 1867, i pag. 792. (3) Waters, Lancet, 1871, ii pag. 9.

(44)

foi vulgaiïsado em França por um medico lyonez, o dr. Grallavardin (*).

Desde 1826 baseando-se sobre os resul-tados de Black, Waters, Patin, etc.: pres-creveu elle a obscuridade como «medicação hygienica». Mais tarde (1892) publicou uma observação pessoal que confirmou a dos medicos inglezes; uma creança de seis an-nos, não vaccinada, apresentando na face uma erupção confluente, curada rapida-mente, sem suppuração e sem cicatriz.

Desde então, M. Gallavardin exaltou, com enthusiasmo este tratamento «bem simples e não nocivo» recommendando, co-mo condição essencial de bom êxito, a obs-curidade solar completa e sem ser inter-rompida durante toda a duração da doença.

Interpretando estes resultados, Finsen disse que eram devidos á exclusão dos raios chimicos. Estes raios favoreciam a marcha da variola, activando o processo e facilitan-do a suppuração ; a ausência d'estes raios faria desapparecer do prognostico um ele-mento importante de gravidade.

(') Gallavardin, traitement de la variole par la sup-pression de la lumière, Lyon medical, 21 de mai 1876. Trai-tement de la variole par l'obscurité solaire, Lyon medical, 12 juin 1892.

(45)

Ora, ha duas maneiras de excluir estes raios, quer pela obscuridade completa (processo seguido pelos medicos inglezes), quer pela luz vermelha que não contém radiações actinicas.

Partindo d'esta deducçâo, Finsen pro-poz tratar variolosos em quartos onde não penetrassem raios chimicos, filtrando a luz solar atravez de vidros e de cortinas ver-melhas. Como condição de bom êxito, pres-creve as precauções seguintes :

1) «A exclusão dos raios chimicos deve ser absoluta. A espessura da materia ver-melha empregada para filtrar a luz depende da sua natureza. Se nos servirmos do papel ou do tecido de algodão pouco espesso, quatro ou cinco camadas bastarão talvez. Se empregarmos flanella bastante grossa, bastará empregar duas ou três camadas.

É muito mais commodo o emprego do vidro vermelho, mas n'este caso é preciso que o vidro tenha uma coloração bastante intensa; de outra maneira, é preciso prote-ger os variolosos dos raios chimicos, assim como o photographo protege a chapa e o papel.

Quanto á luz artificial não é preciso em-pregar a luz eléctrica nem outra qualquer luz mais brilhante. Os globos e os vidros

(46)

das lâmpadas devem ser de um vermelho muito escuro. Uma vella de stearina é per-mittida por causa do seu pouco poder lu-minoso. Pôde servir para examinar o doente e para o alumiar durante as refeições e ap-plicações therapeuticas.

2) «O tratamento deve ser continuo e aem a menor interrupção. Até á dissecação completa das vesiculas, mesmo uma curta exposição á luz do dia pôde produzir a suppuraçao com todo o seu desenvolvi-mento.

B pois absolutamente necessário impe-dir, pregando as cortinas por exemplo, que os doentes e os enfermeiros deixem pe-netrar a luz, pois ha enfermeiros que, não gostando de estar na obscuridade, abrem as cortinas e d'esté modo anniquilam os bons resultados esperados do tratamento.

3) «É preciso principiar o tratamento o mais cedo possivel (desde que appareça o exanthema); quanto mais se approximar da suppuraçao, menos probabilidades ha de obter bom resultado.

4) «Este methodo não exclue, mas permitte até outro tratamento que o medi-co julgar medi-conveniente.

5) «Bem entendido, osfallecimentospor variola não podiam ser impedidos por este

(47)

tratamento sobretudo antes do periodo de suppuração.

6) «Se os doentes forem sujeitos a este tratamento a tempo e que se observem as regras acima prescriptas a suppuração não terá logar e o doente cura sem cicatrizes ou então com ellas muito raras e quasi in-visiveis.

Convém notar que, durante as seis ou oito primeiras semanas, a pelle fica coberta de manchas hyperemicas ou pigmentadas as quaes algumas vezes ao fim d'esté tem-po acabam tem-por desapparecer.

Os primeiros ensaios do methodo foram feitos em Bergen (Noruega) na occasião em que ahi grassava uma epidemia de va-riola por M. M. sem effeito, Lindholm medico em chefe dos serviços sanitários e Swendsen. Oito doentes foram tratados havendo entre elles quatro creanças não vaccinadas: a maior parte apresentava vesículas confluen-tes na face e mãos.

Eis, segundo M. Swendsen, quaes fo-ram os resultados obtidos: «O periodo de suppuração (a phase mais perigosa e a mais penivel da varíola) não apparece, não ha elevação de temperatura, nem edema; os doentes entram em convalescença imme-diatamente depois do periodo vesiculoso

(48)

que pareceu um pouco prolongado ; evita-ram-se assim as cicatrizes tão déforman-tes.

Graças aos bons resultados d'esté me-tliodo, o processo foi adoptado por nume-rosos medicos do Norte. M. M. professor Feilberg Strandgaard, Benckert affirmaram em 1894 os bons resultados obtidos por este tratamento. A maior parte das vezes o methodo é applicado em casos graves mesmo em doentes não vaccinados, o que faz prever uma febre de suppuraçâo mais ou menos longa. Ora, na maior parte dos casos esta febre não se apresenta, as papu-las não se transformam em vesicupapu-las como

ordinariamente acontece, mas, se esta trans-formação tem logar, as vesiculas não entram em suppuraçâo e seccam entre 9 ou 10 dias.

As cicatrizes são extremamente raras e, se se produzem, são insignificantes ; ficam somente algumas manchas pigmentares ou hyperemicas. A duração da doença é mais curta.

Estes resultados clinicos são a melhor confirmação das theorias de Finsen sobre a influencia dos raios chimicos no tratamento da variola: esta foi ainda constatada por experiências de contraprova.

(49)

0 dr. Swendsen expoz á luz do dia dois dos seus doentes que apresentavam na face vesículas perfeitamente seccas depois do tratamento no quarto vermelho, ao passo que a face dorsal das mãos estavam cober-tas de papulas e vesículas em suppuração; debaixo da influencia dos raios solares, es-tas ultimas suppuravam e davam logar a

cicatrizes, ao passo que as primeiras não soffriam nenhuma modificação. A mesma experiência foi repetida pelo professor Feil-berg; algumas vesículas não seccas que se achavam ainda nas orelhas, suppuraram sob a influencia dos raios chimicos.

Em seguida varias communicações ap-pareceram sobre a questão: a maior par-te confirma o methodo de Finsen, M. M. Krohn, de Saxkjõbing (Dinamarca), Mygind de Naskov, Moore, de Dublin, publicaram curas de casos graves de varíola sem sup-puração, nem febre secundaria e sem cica-trizes.

M. le dr. Abel de Bergen publicou 23 casos de variolosos tratados pelos raios vermelhos: todos curados sem suppuração,

salvo um que já apresentava uma erupção pustulosa á sua entrada no hospital. M-Abel concluiu o seguinte:

(50)

obser-vações precedentes: com o methodo de Finsen, possuímos um tratamento da va-ríola que, cuidadosamente seguido, e com a condição de os doentes serem submetti-dos a elle desde o primeiro período da af-feccão, modifica a marcha da doença d'uma

) 7 '

maneira tão notável que a suppuração e as suas consequências podem ser entrava-das ».

Registamos emfim a communicação mais recente de M. Hermann Backmann: sessen-ta e dois doentes foram submettidos á luz vermelha e todos se curaram.

Ajuntaremos que os resultados favorá-veis, obtidos no tratamento da varíola, per-mittiram extender esta medicação a outros exanthemas (scarlatina e sarampo). Consta-tou-se que a doença era sempre mais beni-gna e mais curta.

Em França, o tratamento chamado «da camará vermelha» foi também experimen-tado, mas deu logar a apreciações muito di-versas. No artigo publicado na Semaine mé-dicale de 30 de maio 1894, M. le Dr. Œttinger publicou o resultado das suas ex-periências. Não acceitando absolutamente

as conclusões de Finsen, vê no seu methodo uma therapeutica realmente efficaz na eru-pção varioloica ; «esta evoluciona mais

(51)

rapi-damente, e, se é talvez illusorio esperar impedir que a vesicula se torne pustulenta, não é menos verdade que em poucos dias a vesiculo-pustula da variola se disseca; que se evita assim não só cicatrizes da appa-rencia desagraciosa, mas que os accidentes, consecutivos a suppuração, em geral são consideravelmente diminuidos ».

Tal não é a opinião de M. le Dr. Juhel-Renoy (l) que estudou o methodo como

tra-tamento geral e local.

No que diz respeito ao estado geral, se-ria illusorio esperar da phototherapia pela luz vermelha uma melhora qualquer, é an-tes de tudo um tratamento da erupção,

«um tratamento tópico» como disse M. QEt-tinger, que pôde aliás ser combinado com outros meios therapeuticos, balneação, en-volucros frios, etc.

Até no ponto de vista local, segundo a opinião de M. Juhel-Benoy, o methodo não dava bom resultado senão n'aquellas formas discretas que curam só pelos meios mais diversos.

(') Juhel Renoy, sobre o tratamento da variola pela obs-curidade, Semaine Médical, 1893 pag. 557 e Buli. de mém. de

(52)

0 dr. Peronnet (»), na sua these de dou-torado, critica estas conclusões. Explica os resultados negativos obtidos por M. Juhel-Renoy em casos de variola confluente, por uma applicação defeituosa do methodo: «o papel vermelho e as cortinas vermelhas que M. Juhel-Renoy tinha mandado collocar deante das janellas, não eram talvez suffi-cientes, ali onde era preciso espessas corti-nas vermelhas e caixilhos de vidro verme-lho carregado. Sabemos além d'isso que de dia a vigilância dos doentes submettidos ao tratamento não era rigorosa, e que a luz solar não experimentava grandes dificulda-des em penetrar nos quartos do isolamento.»

A epidemia de variola que assolou re-centemente Lyon deu ao professor Caur-mont a occasião de experimentar este pro-cesso therapeutico, mas os resultados foram negativos : «quatro mulheres no estado uni-camente papuloso, todas quatro tiveram formas suppuradas generalisadas» (2).

O professor Caurmont concluiu que «o

(') Peronnet, du traitement de le variole par la méthode

de Finsen, processo chamado camará vermelha. Rev. Paris. 1897

(2) A variola em Lyon, por M. professor J. Caurmont e

por M. M. Baccel, Montagard, Prat et Pravaz Presse médicale, 23 de março de 1901.

(53)

tratamento pela luz vermelha é pelo menos inefficaz na pratica.» Estes resultados obti-dos com uma experiência rigorosa, puderam convencer-nos e devem ser oppostos aos resultados favoráveis obtidos por outros ex-perimentadores.

Entretanto, «apesar de todas as pre-cauções tomadas, accrescenta o professor Courmont, nâo nos atreveriamos a affirmar, como no-lo pediram, que uma placa photo-graphica nâo fosse velada na camará ver-melha».

Sem nos permittir julgar o methodo se-gundo estes factos em correlação com factos precedentemente observados, diremos so-mente que um facto importante se destaca das observações do professor Courmont, é que o tratamento é «extremamente penoso para o doente e para o pessoal». As 4 doentes em tratamento estavam n'um estado de su-perexcitação continua, pediam para serem tirados do local aonde eram tratados e se-rem restituidas á luz. Quanto ao pessoal não quer continuar o seu trabalho se-não depois de se ter munido de lunetas azues.

Um phenomeno observado em Lyão pro-va-nos que uma estada prolongada na luz vermelha pôde ter sérios inconvenientes.

(54)

Out'rora as officinas da casa Lumière onde se trabalha na preparação das placas e pa-peis photographicos, eram illuminadas a luz vermelha. Ora não era raro observar entre os operários phenomenos de excita-ção cerebral, a tal ponto que alguns de en-tre elles apresentavam uma mentalidade inquietadora para os que os cercavam. A luz vermelha foi substituida pela luz verde que produz o mesmo effeito que os raios chimicos. Desde então esses accidentes não se reproduziram.

Se os raios vermelhos podem produzir taes effeitos em individuos sãos não é de estranhar que um organismo mais ou me-nos debilitado pela doença seja incommo-damente impressionado. Recentemente fa-ctos semelhantes foram observados por M. Oleinikoff (*) na clinica do dr. Tschistowi-tsch.

Tendo submettido 9 doentes a este tra-tamento, notou que a estada na camará vermelha era muito penosa para todos es-tes doenes-tes ; vários de entre elles declara-ram que prefeririam ficar marcados do que submetter-se ao tratamento. Alguns

(55)

ram phenomenos delirantes e allucinações aterradoras (').

Além dos inconvenientes que podem resultar para o doente e pessoal,

compre-hende-se que o estado de excitação em que se encontra o varioloso sob os effeitos dos raios vermelhos, torna o methodo difficil de applicar com todo o rigor.

Também, elogiando o methodo de Fin-sen, cujos felizes resultados a julgar pela maior parte das observações anteriores se podem resumir assim: suppressão ou pelo menos attenuaçao do periodo de suppura-ção, da febre chamada secundaria e das cicatrizes consecutivas, reconhecemos que ha ainda investigação a fazer para o tornar

pratico.

Talvez a substituição da luz verde á luz vermelha supprimisse os inconvenientes apresentados pelo professor Courmont.

A segunda memoria do dr. Finsen en-cerra uma serie de experiências ; todas ti-veram por fim aclarar a natureza do

phe-(') De 9 doentes 7 curaram e 2 morreram. M. Oleini-koff constatou que, quando o tratamento é constituído ao tem-po e conduzido seriamente, a suppuração falta e o doente não apresenta senão cicatrizes imperceptíveis. Segundo elle, este tratamento evitaria complicações peniveis e prurido.

(56)

nomeno que Finsen chama a «força chimica» da luz, isto é, da influencia dos raios chi-micos da luz solar sobre o organismo, abs-tracção feita dos raios caloríficos e lumino-sos. Sem o seguirmos nas suas pacientes e interessantes observações, contentar-nos-hemos de expor em resumo os resultados.

Estas experiências, que dizendo res-peito a todos os animaes inferiores, lançam uma luz muito curiosa sobre o modo de reacção d'estes pequenos seres aos raios chimicos ; uns reagem facilmente á luz, ou-tros, mais ou menos estiolados, não reagem senão á luz intensa; entre os primeiros, a acção é tão pronunciada, diz Firisen, que, em certos casos, pôde produzir movimentos reflexos muito accentuados e produzirem, em outros casos, reacções muito poderosas e particulares.

A observação d'estes factos revela a importância biológica dos raios chimicos que são na verdade, accrescenta o auctor, promotores da vida ou da energia. Mas a luz completa não é feita sobre a natureza d'esté phenomeno tão complexo. Continua-rei a consideral-o grosseiramente como uma excitação do systhema nervoso.

Seja como fôr, esta força chimica não é um simples facto de experiência, é uma

(57)

das formas da energia solar que desempe-nha um papel nos phenomenos vitaes, pa-rallelo ao do calor e da luz. «Nas circums-tancias actuaes, percebe-se difficilmente a influencia dos raios chimicos, a sua acção não fere directamente o observador; toda-via, é preciso suppôr, sobretudo, se nos ap-proximamos d'essas pesquizas, o que nós sabemos além dos effeitos da luz, que essa acção é quotidiana e constante, e que deve ser também de uma grande importância biológica».

Estas experiências não se referem senão aos animaes inferiores, mas tudo nos leva a suppôr que uma influencia idêntica se exerce sobre os animaes superiores e até sobre o homem.

Na obra principal de Finsen, chegamos a uma descoberta que fez epocha na historia medica: quero fallar do tratamento do lupus e de certas dermatoses pela luz con-centrada.

E' preciso confessar que este tratamen-to não tem nada de commum com o que Finsen applicou á variola. A este respeito estabeleceu uma distincçâo. Ha uma ca-tegoria de affecções ás quaes a luz é desfa-vorável, taes como : a variola, o sarampo, escarlatina, etc.

(58)

N'estes casos está indicada a exclusão dos raios chirnicos. A phototherapia é ne-gativa.

Notou Finsen que certas dermatoses bacterianas, submettidas á acção dos raios chirnicos soffriam por meio d'elles um me-lhoramento notável e viu n'esse facto uma manifestação das propriedades bactericidas da luz propondo portanto o emprego d'es-sas mesmas propriedades para o tratamento das dermatoses bacterianas. A photothera-pia positiva estava pois instituida.

O lupus, prestando-se d'um modo intei-ramente especial á experiência deste pro-cesso, foi por isso mesmo alvo das princi-paes applicações.

Como a luz não exerce a. sua acção bactericida senão muito lentamente, é ne-cessário fazer a concentração dos raios para a utilisar n'este fim therapeutico, à priori, quanto maior fôr a concentração dos

raios, maior serão os seus effeitos. Provou Finsen com uma experiência elegante.

Para isso serviu-se de frascos chatos e rectangulares cujas paredes estavam unta-das de gélose que elle semeava de culturas de bacillus prodigiosus, bacillo d'Eberth ou bacteria carbunculosa. Envolveu

(59)

branco d'um lado e preto do outro, com a superficie branca voltada para a luz para evitar a absorpção dos raios caloríficos, e a sua superficie preta applicada sobre o vi-dro para impedir a influencia da luz sobre a cultura. Além d'isso n'esse papel pratica-ram-se aberturas redondas atravez das quaes Finsen traçava sobre o vidro do frasco algarismos a tinta de Nankin que indicavam em minutos o tempo, durante o qual deviam estar sujeitos á luz.

Depois d'estes dois frascos assim prepa-rados expuzeram-nos simultaneamente, ao cabo de duas horas de realisada a cultura, um á luz solar directa, outro á luz solar con-centrada depois do que os guardavam na obscuridade durante um ou dois dias, e ao fim d'esse tempo um simples olhar mostra-va o resultado da experiência. Com effeito logo que a luz destruiu todos os bacillus no espaço do tempo indicado, por um dos algarismos inscriptos, esta ultima achava-se nitidamente deachava-senhada sobre a cultura por colónias que se tinham desenvolvido ao abrigo das partes cobertas com o papel preto. D'esté modo as proprias bactérias in-dicavam o tempo da exposição necessária para as fazer morrer.

(60)

concentrada pelo apparelho de Finsen tem um poder bactericida quinze vezes mais rá-pido que a luz directa, mas ainda maior o tem o arco voltaico.

Não é suffi ciente concentrar a luz, é preciso eliminar as radiações caloríficas ul-tra-vermelhas, vermelhas, alaranjadas e amarellas, que, concentradas, provocam a combustão dos tecidos. De resto esta eli-minação diminue imperceptivelmente os ef-feitos da luz ; com effeito sabemos que a qualidade bactericida está ligada aos raios clúmicos que são pouco numerosos ou au-sentes na região do espectro em que pre-dominam os raios caloríficos.

Ernfim, para attingir o fim therapeutico que propomos temos a observar uma ter-ceira condição. Os tecidos vivos são pre-meaveis a luz. A pelle, os músculos, ten-dões, os nervos, cartilagens e os próprios ossos (como prova a illuminação das cavi-dades ósseas por transparência), deixam-se penetrar pelos raios luminosos. Porém na pratica estes raios chegam n'uma parcella fraquissima á profundeza dos tecidos por serem quasi totalmente absorvidos pelos tecidos superficiaes.

0 sangue tem um poder absorvente muito considerável. Pela experiência

(61)

se-guinte se prova. Se collocarmos por traz do pavilhão da orelha d'uni individuo um bocado de papel photographico e se fizer-mos incidir pela parte anterior um feixe de raios violetas, vimos ao cabo de alguns se-gundos que elle não foi impressionado ; mas, se comprimirmos o pavilhão por duas pla-cas de vidro até a tornarmos exangue, o papel photographico tornou-se negro ao fim de alguns segundos.

É pois manifesto que o sangue impede a penetração dos raios chimicos no orga-nismo. Portanto devemos, quanto possível, affastar o sangue das regiões submettidas á acção de luz.

Eis como se chega a este tríplice resul-tado. Pode-se empregar indifferentemente a luz solar e a do arco voltaico : as lâmpa-das de incandescência não convém porque fornecem poucos raios chimicos.

Os processos para a concentração e se-lecção dos raios variam conforme a fonte luminosa.

Para a luz solar, o apparelho emprega-do é uma lente plano convexa, de 25 a 30 centimetros de diâmetro, envolvida d'uma cinta metallica. Esta lente é ôca e encerra approximadamente 2 litros d'uma solução de sulphato de cobre ammoniacal. Uma

(62)

te metallica bifurcada á maneira d'uma for-quilha serve de supporte ao apparelho e permitte imprimir-lhe movimentos em volta d'um eixo horizontal e de a elevar ou abai-xar a vontade, (fig. 1).

A luz, passando atravez d'esté

appare-Fig, 1

lho, concentra-se, e todos os raios conver-gem cada vez mais para o foco da lente. Além d'isso os raios caloríficos sao absor-vidos pela solução de sulfato de cobre am-moniacal que deve á sua côr azul o poder de absorver as radiações vermelhas, alaran-jadas, amarellas e verdes.

(63)

Synthetisando, obtéem-se assim, um foco ou então perto d'esse foco, uma zona luminosa desprovida de raios caloríficos e composta de raios chimicos em quantidade sufficiente para produzirem um effeito ba-ctericida, sem exercerem uma acção noci-va sobre a pelle. A intensidade do effeito obtido é proporcional á intensidade da luz solar e á graduação da lente empregada. Todavia provou a experiência que a gran-deza não pôde ser illimitada, pois o foco de cada vez se torna menos nítido á medi-da que as dimensões do apparelho augmen-tant Os melhores resultados que obtiveram, foram com lentes de 25 a 30 centímetros. Quando a intensidade luminosa é excessi-vamente forte ou quando se faz a experiên-cia em pelles muito delicadas e sensíveis, convém diminuir o diâmetro do apparelho. Quando empregarmos como foco lumi-noso o arco voltaico, o apparelho assim des-cripto, deve ser posto de parte e empregare-mos então uma lente de crystal da rocha.

«A luz solar, tal como ella nos chega, não encerra radiações de onda superior a 300 |x, 350 jj,, as radiações de onda menor são absor-vidas pela atmosphera na sua passagem. O vidro tem a propriedade de deixar passar as radiações superiores a 300 v- — 350 [*.:

(64)

convém pois para a construção dos conden-sadores da luz solar. No arco voltaico, ao contrario, as radiações inferiores a 300-350 [J- não são absorvidas pela atmosphe-ra, por isso temos todo o interesse em as aproveitar porque as radiações superiores a 350 n, são todas do espectro ultra-violeta. Obtem-se este resultado empregando len-tes de crystal da rocha, substancia que deixa passar as radiações até um comprimento de onda de 200 \i.

O emprego de crystal da rocha permitte pois utilisar as radiações comprehendidas entre 200 (* e 300 u. radiações que o vidro não deixa passar.» (l).

Na pratica, esta consideração é muito importante : se compararmos os effeitos

obtidos por dois apparelhos idênticos, um com lente de vidro, outro com lente de crys-tal, veremos que o ultimo, sob o ponto de vista bactericida tem um poder vinte e cinco a trinta vezes mais poderoso.

No caso da luz eléctrica, como no caso da luz solar, a intensidade do effeito é pro-porcional á intensidade da fonte luminosa, e da grandeza da lente empregada. Para

(65)

obtermos a luz em dose therapeutica, não podemos empregar aqui uma lente de gran-des dimensões, as lentes de crystal da ro-cha grossas são muito custosas e de difficil construcçâo.

Emprega-se pois um arco voltaico de grande intensidade. Isto é, uma fonte lumi-nosa que podemos fazer variar de intensi-dade conforme a nossa vontade, ao passo que a intensidade solar não varia senão em certos limites que não podemos ultrapassar. Esta consideração basta para nos expli-car porque a acção do arco eléctrico é mais intensa que a da luz solar.

Eis a disposição adoptada definitiva-mente :

A fonte luminosa empregada é um arco voltaico de corrente continua, muito pode-roso variando entre 60 a 80 amperes.

O escliema (figura 2) permitte ver fa-cilmente a disposição do apparelho.

Um circulo de ferro F, de 80 centíme-tros de diâmetro, é suspenso por quatro sup-portes S, quatro accumuladores de luz, con-vergem a fonte luminosa representada pelo arco voltaico, os eixos d'estes accumulado-res estão no prolongamento da parte mais luminosa do arco. Os supportes, mantidos cada um por uma porca, podem elevar-se

(66)

ou abaixar-se vários centímetros. Os accu-muladoies, presos por dois parafusos V, V, podem correr sobre o ramo inferior do sup-porte. Esta disposição permitte regular os

Fig. 2

quatro accumuladores em relação á altura e á distancia do arco.

Obtido o regulador, a lâmpada L que pôde ser abaixada ou levantada, está fixa na posição determinada, por fios metallicos.

(67)

P,P, representa na figura um tubo de chumbo no qual circula agua, e R as tor-neiras que servem de preza.

O collector, (fig. 3), é composto de dois tubos encaixando á maneira de telescópio. 0 tubo A B é fixo e d'um comprimento de 60 centímetros ; tem na extremidade A um systema de lentes de crystal da rocha de 7 centímetros de diâmetro, e o foco é a 12 centímetros.

Fig. 3

Estas lentes tem por fim tornar paral-lèles os raios divergentes emanados do ar-co voltaiar-co. Este ultimo deverá pois estar exactamente a 12 centímetros da extremi -dade H.

(68)

no tubo A B o que permitte approximar ou afastar o ponto E. Um pequeno parafu-so, representado no eschema pela letra N, permitte fixal-o na posição requerida.

A parte D E do tubo tem um compri-mento de 30 centímetros approximada-mente.

Em D e em E duas lentes de crystal da rocha, formam um systema de lentes con-vergentes que tem o foco a pouco mais ou menos 10 centímetros do ponto E. Por in-termédio do oriíicio T enche-se com agua

distillada o espaço comprehendido entre E e D. A agua distillada absorve os raios ul-tra-violetas, isto é, os caloríficos. Para evi-tar um grande aquecimento da agua distil-lada, envolveu-se d'uma manga metallica M M, na qual circula uma corrente de agua fria. O circulo F P da figura 2 que serve de armação a todo o apparelho é seguro por valentes supportes quer no tecto quer no chão.

Este systema absorve o espectro infra-vermelho, mas não retém os raios chimicos em toda a sua totalidade. As radiações ca-loríficas acompanhando o espectro visível passam quasi todas. Para que ellas sejam neutralizadas basta corar de azul a agua distillada contida no tubo D E. Esta

(69)

solu-ção absorverá todas as radiações em que o comprimento da onda não seja inferior a 300 (J- Mas comtudo as radiações oalorificas que acompanham o espectro visivel são pouco intensas. A disposição adoptada para fazer a compressão, não permitte que nos apercebamos d'isso.

No systema empregado quando nos ser-virmos da luz solar as radiações caloríficas acompanham os raios violetas. O calor des-envolvido n'um e noutro caso pôde elevar-se a 180° approximadamente. Quando nos servirmos da luz solar ou eléctrica, vimos que uma precaução muito necessária para nos sahirmos bem, era expulsar o sangue da região destinada a soffrer a acção da luz. Chega-se a este resultado por meio de um apparelho compressor.

O primeiro apparelho d'esté género empregado por Finsen, compunha-se d'uma placa de crystal da rocha ligeiramente ar-queada, encaixada n'um annel metallico munido de dois ou quatro prolongamentos destinados a fixarem o compressor.

Finsen confeccionou d'uma maneira fe-liz o apparelho primitivo. Este que ainda hoje está em uso (fig. 4) é formado d'um an-nel metallico no qual estão engastados dois discos de crystal da rocha. Dois pequenos

(70)

tubos permittem fazer circular no interior uma corrente de agua. Em volta quatro bra-ços metallicos furados nas suas extremida-des, servem para manter o apparelho fixo por meio de fitas metallicas, de maneira a exercerem sobre a região tratada uma pressão uniforme e continua.

Assim feito, o fim do compressor não é só produzir a ischemia do tecido mas ainda manter o arrefecimento constante e sustar

Tig. 4

a acção dos raios caloríficos de que não nos podemos desembaraçar.

As dimensões e a forma do apparelho são variadas : a parte que se applica dire-ctamente sobre a pelle doente é plana ou convexa, segundo o ponto submettido á compressão.

Qualquer que seja a fonte luminosa e o apparelho empregado, a zona luminosa util não tem um diâmetro de mais de quatro

(71)

centímetros. Esta zona contém as radia-ções chimicas suficientemente concentra-das para produzir sobre os tegumentos os effeitos bactericidas e modificadores que se desejam.

A duração da exposição á luz é de uma hora para a luz eléctrica, e um pouco mais longa para o sol.

Logo depois da sessão, a região exposta apresenta uma certa rubefacçâo, acompa-nhada alguma vez de dor. A inflammação augmenta progressivamente e não attinge o seu máximo senão 10 ou 12 horas, algu-mas vezes mesmo vinte e quatro horas de-pois. A reacção é d'outra parte mais ou me-nos accusada conforme a susceptibilidade do individuo.

Observa-se algumas vezes um derrame seroso e a formação de vesiculas cheias de serosidade. Em certos individuos, esta reac-ção é tão intensa que se généralisa e parece um ataque de erysipela. Em outros casos é preciso reduzir consideravelmente a dura-ção da sessão.

Ao fim de alguns dias, cinco ou seis em media, os phenomenos de reacção desappa-recem e terminam por uma ligeira desca-mação.

Referências

Documentos relacionados

- Se o estagiário, ou alguém com contacto direto, tiver sintomas sugestivos de infeção respiratória (febre, tosse, expetoração e/ou falta de ar) NÃO DEVE frequentar

Principais fontes de financiamento disponíveis: Autofinanciamento: (corresponde aos fundos Principais fontes de financiamento disponíveis: Autofinanciamento: (corresponde aos

O sistema de custeio por atividades é uma metodologia de custeio que procura reduzir as distorções provocadas pelos rateios dos custos indiretos e fixos aos produtos e serviços.

O TBC surge como uma das muitas alternativas pensadas para as populações locais, se constituindo como uma atividade econômica solidária que concatena a comunidade com os

No primeiro, destacam-se as percepções que as cuidadoras possuem sobre o hospital psiquiátrico e os cuidados com seus familiares durante o internamento; no segundo, evidencia-se

For the second research question, that it related with the estimation of how new smart and dynamic tolls and fares may contribute to optimal traffic solutions, it will be needed

Assim, e no contexto desta casa da juventude, é possível compreender que são apresentados dois pontos de vista diferentes sobre o que podem ser as potencialidades educativas do uso

O destaque é dado às palavras que abrem signi- ficados e assim são chaves para conceitos que fluem entre prática poética na obra de arte e sua reflexão em texto científico..