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Rei e Estado Real nos textos legislativos da Idade Média portuguesa

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En la España Medieval 15SN: 0214-3038 ¡999, u.’ 22:177-185

Rei e «estado real» nos textos legislativos

da Idade Média portuguesa*

Armando Luís dc CARVALHO HOMEM Universidade do Parto

Falar de «textos legislativos da Idade Média portuguesa» implica, it parti-da, umas tantas precisñes. Parquanto, se a actividade legislativa das monarcas portugueses é relativamente precace (Afonsa 11/1211), cía nito é, antes de mais,

continua: Sc, com efeito, tomarmas corno terminus a quo a Cúria de Coimbra ande o terceiro rei dc Portugal produziu os 26 actos normativas que marcam a inauguragita desta prática, e cama terminus ante quo as grandes campiiagñes legislativas das séculos XV e XVI (as Ordena~óes Afonsinas [OA] de 1446/1448 cas OrdenaQóesManuelinas [OM], de 15 14/1521), dama-nos canta da concentragito da pradugito normativa como que por «ciclos»:

Um «ciclo» fundador marcada peía referida pradugito dc Afonso II (1211).

Um momento de refundagño, constituida peía época de Afanso III (1250-1279), de abundante pradugito legislativa, como que marcando a edifi-cagito de um primeiro ordenamenta jurídica-legal, denotando aliás a influéncia de Afonso Xo Sóbio.

Uma fase depritneira maturidade (1280-1366), abrangenda a quase globalidade das épocas de Dinis (1279-1325), Afansa IV (1325-1357) e Pedro 1(1357-1367), reis abundantemente legisladores em matéria

judicial-proces-sual (incluinda a principio do recurso de apelagito e as primeiras tentativas de enquadramenta do territória através da edificagita dc 6 circunscrigñes [as

comarcas], a ser percarridas anualmente por um agente régia, qual nivel inter-média dc poder entre o monarca e as comunidades concelbias), cm matéria de oficias régios (tabcliites públicas, corregedares de comarca) au de burocracia

* lnterven0o rio Seminário P~-opaganda y legitimación en los orígenes de la monarquía

hispánica (ca. /400-1520) (San Lorenzo de El Escorial, 1998/03/28). AgradeQo ao Prof José Manuel Nieto Soria e á equipa do Projecto Multidisciplinar Complutense que este Seminário iníegrou a oportunidade desta participaQito, bern como todas as atencñes prodigalizadas.

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ArmandoLuisdeCarvalho Homem Rei e «estado real» nos textos legislativos da Idade Média.

--de Corte e respectivas taxas. Correspon--de esta fase a um momento --de cons-trugita do organograma das servi9as e oficios das gavernagñes régia e cancel-hia, no que a referida legislagito terá importáncia nito desprezíve];

organogra-ma que, particularmente no que toca as instituigñes do governo central, terá

acentuada langevidade, século XV adiante.

Um breve rematar da fase anterior, correspandenda a parte do reinada

de Femando I(as anas 1369-1380), cam a emissito dc algumas medidas legis-lativas no ámbito da defesa da Reino e dapolúica económita (combate it deser-tificagito de terrenas agrícolas, legislagita sobre a pianeira tributagito incidente sobre actas de compra e venda [sisas], etc.).

Os primeiros ensaios de compilagito legislativa, acorridos na época de

Jaita 1 (1395-1433), mas fundamentalmente a partir da segunda década de Quatrocentos (ca. 1418 ss.). O grande «protagonista» parece ser o futura rei Duarte 1(1433-1438), assaciada a algumas tarefas da gavemagito a partir de

ca. 1411. E a facta é que a sua livraria pessaai inclui um valume manuscrito canhecida como Ordenagóes del-Rei Dom Duarte (ODD), que a monarca nito deve ter manuseada propriamente paucas vezes: a facto é que o volume inclui uma «tauoa» de matérias, da responsabilidade do scu passuidar. Aa mesma tempo que a sécula XIV final vira ser elaborada, pravavelmente no seio da oficialidade de Justiga, uma autra compilagita, o Livro das Leis e Posturas

(LLP): organizada no entanto de forma bastante mais rudimentar que as ODO, no estada actual de conhecimentos atribui-se-lhe nm pape] de certa forma «marginal» no processa conducente ás campiiagñes de Quatrocentos e

de Quinhentas.

O concretizar de uma primeira compilagita de leis com as OA,

prepa-radas ao longo de quase 30 anos (desde ca.1418) concluidas em 1446 e presu-midamente vigorando a partir de 1448. Mas a plausível notabilidade do facta de um Reino do sécula XV possuir uma assim vasta compilagito de leis —e as abras de sintese histórico-jurídica nito apantam normalmente um número gran-de gran-de antecegran-dentes na Europa da tempo— nito resiste a um exame mínimo do cantcúdo das OA e do que possa ter sido a sua vigéncia. Elaboradas, repito, aa langa de quase trés décadas, tendo apanhado pelo mejo com duas sucessñes régias (1433 e 1438), naturalmente que as OA se ressentiram do facto das várias «mitas» de compiladores que succsstvamente estiveram em acgito; e assim, para além de um acentuada tradicionalismo do canteúda —nito raro, par exempio, em matéria de oficios e aficiais régias se reproduzem, a bem dizer, normas da primeira metade do sécula

XIV—,

é de salientar, entre os seus 5

11v-ros, um contraste de fundo entre a primeiro e os quatro restantes: se olivro ¡é efectivamente emissar de um discursonormativo, minimarnente fazendo lem-brar a que hoje entendamos par um código,já a maiar parte das títulos das qua-tra restante adoptam um discurso narrativo, cam justapasigita de leis de monarcas desde o século XIII e sucessivos aditamentos. Convirá ainda Jembrar que as OA sito concluidas durante a regéncia de Pedro, duque de Coimbra, tia de Afonso V. Plausivelmente canotada corn a vencida política e militar de

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Armando Luís de Carvolbo Honsen, Rei e «estado real» nos textos legislativos da Idade Média.-. Alfarrabeira (1449) —e ainda que este, de facta, apenas represente num pro-cesso de quase trés décadas uma mera fase final de sete anas—, é bern de crer que que a recém-terminada compilagito nito viesse a desfrutar de acentuada papularidade no seio da sociedade política da segunda metade de Quatracen-tas. E bem nos poderemas interrogar: que intensidade de vigéncia a de um Código tito pauca canhecida no Reina? (Basta ter em canta a quantidade ini-sória das manuscritos que se conbecem).

E assim teremos urna segunda metade do século XV, marcada por uma primeira compilagita de leis vigorando nas condigñes que o que atrás disse per-mite supor, aa mesma tempa que se vai produzindo legislagita avulsa (cujo cabal conhecimenta aguarda a atengito das estudiosos) e se projecta uma nava codificagito.

Esta virá nos alvores da século XVI, já naGalóxia de Gutenberg, com

as OM. O código manuelino, na sua primeira versito (1514), provavelmente mais nito pretendeu que retacar o seu predecessor, cm modo a apraveitar agora das beneficios da imprensa. E sé a versito definitiva (1521) sc afasta um pauco mais da «modelo» das OA, ainda que os vectores de cantinuidade nito sejam prapriamente paucas (par exempio, quanta a sistematizagito de matérias).

1211-1521: eis pois o tempo longo da legislagita medieval portuguesa. Duas prcvengñes se impñem dc imediato:

a) A prática legislante das monarcas portugueses é partanto precoce cm termas de Ocidente medievo. Simpiesmente, a esmagadora maiaria das textos chcgau-nos cm versóes tardias, incluidas, a partir das finais da século XIV, nas diferentes compiiagñes a que fiz referéncia (LLP, ODD e livras II-V das OA) ou cm registasreformados (no sécula XV) das Chance/arias de monarcas da centúria anterior. Só excepcionalmente detectamosoriginais (quatra casos para as épocas dc Afonso IV e Dinis) ou versñes próximas disso (alguns casos, cm registosprimitivos dasChance/arias de Pedro 1 e Femando 1).

b) Por autro lada —e cam ista me vou aproximando do epicentrodas minhas preocupagñes, hoje e aqui— lei alguma anterior a O. Dinis (e mais con-cretamente ao ano dc 1303) nos fala, qualitativamente, dapodernormativa do monarca. E mesmo os textos dianisinas nito sito particularmente prolixos nessa matéria. Serito antes as leis de Afonso IV e Pedro 1 aqucias que no sécula XIV portugués mais assiduamente nos falam da oficio régio.

Oque nos dizem entito tais leis, datadas do periodo de 1302-1366? E oque é que delas passau para as campilagóes/cadificagñes das séculos XV/XVI?

Éo que procuraremos ver de seguida.

Tais leis de Trezentos insistem fundamentalmente cm trés aspectos: a origem

divina do oficio régio (a>; o para qué da institui9ito da realeza, ou seja, asfinali-dadesdo poder das monarcas (b); e a dimensito ética dessc mesma poder (c).

(a) Nito sito propriamente escassas as referéncias it origem divina do poder régia; divina imediata, sern qualquer referéncia a mediagñes; «poder descendente», portanto, como no dizer de Walter Ullmann; cm trés das referén-cías explícitas mais prolixas, pode lcr-se a seguinte:

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Armando Luís de Carvalho Homem ¡<ci e «estado real» nos textos legislativos da Idade Média.

--* «Todas aquelles que dereitamente entendem cuydar devern que a a rrej au pringipe a que per deus rregimenta he dado»; fe mais adiante:/ ~<rrecon-hegenda que o rregimenta das ditas rreinos que nos por deus he autargado» (Lei de Afonso IV sem data: ODD, 466-67);

* «Os Reis sam pastos cada huum cm seu rregno cm lugar de deus sobre as Jentes» (1325: ODD, 310-15);

* « [os] Reys [.1 pelo logar de Deus que teem» (1327: Arquivos Nacio-naisfl’arre do Tambo

[ANfrr],

Leis,m. 1, n.0 96).

A

esta enunciagito da divindade como origern da poder régia encontra-se estreitamente assaciada a farmulagita da ideia das monarcas cama vigáriose «lagoteentese de Ocus, ideia que na Historiografia portuguesa tem até agora cm Martim de Albuquerque o estudioso mais atenta, e que nas fontes aqui ana-lisadas está particularmente nítida cm alguns textos legislativos do inicia do reinada de Afansa TV: assim, os reis encantram-se «cm lugar de deus sobre as Jentes» (1325: ODD, 310 ss.); e «nassa Senhor deus [...] deu exenpro aos rrex E aas antros que ssam Senhores», no sentido de asscgurar a manutengito das pavos (1325: ODD, 373-76).

(b) A questito da para qué de um tal estado assim autorgada aos monar-cas passa antes de mais peía enunciagito da conhecida metáfora biológica da cornunidade política, apresentanda o rei camacabe~ada seu pavo. O que nada tem de surpreendente cm Portugal ao abrir-sc a segundo quertel da século XIV, tenda em canta os antecedentes peninsulares da século anterior, por exemplo, no Fuero Realde Afonso X. Só que urna lci dc 1325 vai urn pauca mais lange, e, para além da cabega, assacia a monarca it alma e ao coraQño:

*

JO

Reil «foy chamado alma E coragam de sen pabao ca assy coma a alma Jaz no coragom do hamem E per ella ujue a carpo E se mantem assy clkey jaz E dcue jazer de rrazom E dircita justiga(...) E cama o caragam he huum E per eh Regebern tadollos menbras unidade pera seer huum carpo E bern assy todallos da regna pero seJam rnujtos porque elRey he huum (...) E cm el! jaz dcuem ser huus cam dl dessy porque he cabega do seu Regna» (ODD, 310 ss.).

Passagcm curiosa, esta. No «corpus» textual nito sc encantra qualquer ves-tígio damediagáo popular - as «concepgñes ascendentes» dc Walter Ullmann;

será portanto este excerta a única aproximagao aa que passam ser as ~<corren-tes democráticas» (na expressito de Bemard Guenée) do pensamento política tarda-medievo. E que a representagito do Rei como cabegv da comunidade coloca-a num situagita de preeminéncia; cm contrapartida, coraQáo «jazenda» no carpo e danda-Ihe «unidade» pressupñe um pasicionamento de maiar inter-harmonia e menor rigidez hicrárquica para as diferentes partes constitutivas dessa mesma carnunidade. De qualquer moda, e no estada actual de conhcci-mentas, a imagem é única cm fontes portuguesas. Através de referéncias de Ernst H. Kantorawicz e de Jean-Philippe Gcnct, sci que cía é carrente na lite-ratura política inglesa da século XV, cm autores cama John Fortcscuc e autros. A presenga desta madalidade dametáforabiológicaem autras unidades políticas,

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Armando Luís de Carvalho Hometn Rei e «estado real» nos textos legislativos da Idade Média.

--e particularm--ent--e cm autras font--es p--eninsular--es, é matéria sobr--e qu--e --esp--era ficar mais documentada no presente seminário.

Cabe ga, alma, coragáo, ao Rel caberá assim asscgurar a «servigo de Deus», ideia frequente a partir já dc 1303; serviga esse que se traduzirá na guarda do direita, da verdade, da justiga, da paz e da cancórdia, noqñes pre-sentes em diversas textos normativas entre 1324 e 1340, e que nito carecem de paralela nuni contexto peninsular

Nogito-chave neste ámbito do para qué da fungita régia é a de utilidade

comum, canceita que tem merecida a atengito de múltiplas autores, de Walter Ulímaun a Bernard Guenée, a Vitorina Magaihites Gadinho, a Jacques Krynen, a José M. Nieto Soria. Justamente a primeiro das autores citadas define-a, do ponto de vista da realeza, cm fungita de umponto de referénciaque pressupñe a «observagito e compreensito das interesscs, necessidades e desejos da comu-nidade pelo rei» ([23], 182). É esta nogita que alguma leis nito-datadas de Afonso IV veicnlam peía expressito «pral comunal», e que urna ardenagito de D. Dinis cm 1303 concretiza um pauca mais:

* «E esto faga porque ucio que he seruiga dc deus E he pralí E asesega-mento da minha terra E das minhas jentes» (ODD, 189; LLP, 80-81; QA, V, LXXIII, 284-85).

Esta «pral comunal» poderá passar antes de mais peía fruigito de bcns materiais: « canssirar deucnJ os rreis E os pringipes maneiras per que os seus

sogeitas seiam rricos E posam auer auandamenta do que ihes canprir», pode lcr-se numa lei nito-datada de Alonso IV (ODD, 467-68; LLP, 325-27). Mas passará sobretudo, ainda que eventualmente de forma cumulativa, peía ~<saúde das almas». O que dc imediato nos leva ao terceira ponto que me propus ana-Usar no «corpus» legislativo de Trezentos.

(c) Nurna autra lei nito-datada de Afonsa IV pode lcr-sc o seguinte: «Curar deue o rrcij por a saude das almas das seus sogeitas ca paus ¡he a cura he comendada nos feitos temporaces tanto mais da saude das suas almas deue seer soligito» (ODD, 475-76). E é justamente este cuidado com a saúde das almas que perpassa par toda um conjunto de farmulagñes atinentes it dimensito ética do poder das reis. Há assim antes de mais a insisténcia najus-tigacoma virtude suprema: aquela par que ~<melhorE mais honradamente se mantem a mundo» (ODD, 334-37; LLP, 24 1-44), e que permite a cada um ter o seu, guardar a sua «honra» e manter o seu «estada» (ODD, 378-80; DA, V, LIII, 185-89), paráfrases óbvias aosuum caique tribuerejustiniancu. Mas há também toda uma tónica colocada na erradicagita da pecado, visto exacta-mente como a antítese da vontade de Ocus e da pral comunal: a «buligo» e o «desagecego», por contrapasigita it paz, itjustiga e itconcórdia (lei nito-data-da de Alonso IV: LLP, 283-86). 0 pecado pode ser mencionado de forma genérica: aqueles «etibargas» pelos quais it justiga se nito chega (1327: AN/1’T,Leis, m. 1, nY 96), au ~<osvsos E custumes que som contra a uontade de deus E a pralí cumunail da terra», por cuja prática se paderá atrair a «ssan-ha» divina (1340: ODD, 440-43; LLP, 319-21 e 419-22; e DA, V, VII, 32-33).

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Arniando Luís de Carvalho Horne,n Reie «estado real» nos textos legislativos da ¡dade Média..

-Mas pode concretizar-se. Assim, a luxúriaé dita caminha para a perdigito, par cantraposigito ‘a virtude salvífica e facultadora de bens materiais que se atribui it castidade; a us~ra considerada como contrária ao mandado dc Deus e cm dana das almas; e o adultério qualificado entre os pecados que os «sabedores antigaso —a única fante de Oireito explicitamente mencionada— chamavam de «mais graucs de que pode acusar cada huum das da palma» (lei dc 1340 cit. linhas atrás).

O que é que deste universa lexical e conceptual passa para as Ordena~óes do sécula XV? De um moda geral, atónica está na cantinuidade. Assim, as QA insistem na origem divina da fungita régia:

*

o

monarca recebeu a «Regimenta» e o «Real Estado» «da Maañ de DEOS», de quem é «Vigaira» e «Logateente» (OA, abertura do liv. 1, Pp. 2-6; e liv. Y. tits. le XXV, pp. 3 e 94-95);

* O rei au príncipe é «cosa animada por DEOS enviada a este Mundo pera

cm sen Norne reger e govemar» (OA, V, LXVII, 272).

Insiste-se também na ideia de «serviqa de flEOS», continuando igual-mente ajustiyz a ser vista cama a mais louvávcl das virtudes, tolbedara do pecado e facultadara do estado de cada um (mais uma vez a pastura

referen-cial daDigesto); a justiga é ainda o fundamental regimenta e ministramenta da «Real Estado» —espressáa nava nos textos legislativos. Para tanto, funda-mental será a existéncia de boas «Leyx Politicas, e positivas» —e as leis sito «invengoes» e «dons» de Deus— e que delas a Reino tenha canhecimento (justificagita parcial da compilagita que as QA consubstanciam). O pecado

continua a ser abjecto de especial atengita, e cam algum enriquecimento tipa-lógico: aos pecados mencionados já nas leis dc Trezentos vérn adicionar-sc a

heresia,asodomíae ofa/so testemunho (OA, Y, I-XVII-XXXVII, 2-5, 53-54 e 144-45.)

Se ista é partanta a continuidade de um léxico e de um ideário —salvo o conceita de «Real Estado»— temas cm contrapartida algumas¡tovidades:

* A primeira passa pelo surgimenta da nagito deres publica! Republica,

cujas «poderia, e canservagorne resultam da acgito conjugada das «Armas e leyx». Ou seja: ás idejas dcreí-legislador e de reí-justiceiro veul juntar-se —ainda que discretamente— a derei-guerreiro.

* A segunda passa pelo alargamenta das fantes de Dircita: para além das «sabedores antigas», mencionam-se as «Leix Imperiaaes», os «Santos Cano-nes», a «Direita Camuú», a opiniita das «Leterados das Nassos Regnos» e a custume gecral(...) que a memoria das hameés nom he cm contraira» (QA, Y, LXXIII e XXXI, 258 e 159).

Em jeito de balango sobre as OA, julgo poder dizer que a tradigóo lexical e conceptual prepondera sobre a novidade, até pelo bem maior número de acorréncias dc palavras e ideias com antecedentes no século anterior (v.g. a orí-gem divina da poder, o serviga de Deus, o combate aa pecado).

Face ‘as suas predecessaras, como se situarita as OM cm matéria de

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Ar,nando Luís de Carvalho Horno,, Reíe «estado real» nos textos legislativos da Idade Média,. -Um primeira aspecto nos salta ‘a vista: a Código Manuelino é muito menos pralixo nesta matéria; com efeita, das cerca dc 25 acorrencias de termos e exprcssñes deste «universo» patentes nas OA —número praticamente idéntica ao das leis da sécula XIV—, baixa-se agora para aito. Oito ocorréncias passí-veis da sistematiza9ito que segue:

* o Rei exerce uma fun9ito («Real Estado») que a deve levar a agir de modo a assegurar sempre a «honra de Deas, e das Santos» e a honra da «Nossa Santa Madre Igreja, e obedecer campridamente a seus Mandamentos» (OM, 1, III, 15; III, XXVIII, 97; e Y, III, 15);

* cama fantes de Direito, reafirmam-se as Leis Imperiais e os santas cánones (OM, 1, Y e XV, 21 e 45), o «Dereita Camum» (IV, LXXV, 193), a «Dereito, e geeral Custume de Nassos Reynas» (III, LV, 215) ou aquila que «Geeralmente he par Dereito permissa» (IV, LXXIV, 190);

* finalmente, entre os pecados cuja erradicagito deva ser tida cm canta peía ac9ito do soberano, temas agora o «renegar» e o «blasfemar» contra Deus e os seus Santas (Y, XXXIIII, 96-99).

O que representa um manifesto empobrecimento, cm pauco compensado pelas «variantes» no que toca as finalidades do poder régio e os pecados.

Nito será partanto temeráio concluir que aa longa de cerca de 220 anas o discurso legislativo das monarcas portugueses emite um ideário ande a conti-nuidadepredomina sobre a novidade, estando esta sobretudo patente —e ainda assim de modo discreto- nas OA.

Ideário original? Nito ausa cre-la! Creio até que pelo contrário. Julgo nito conjecturar propriamente «no vazio» sc presumir que os Colegas participantes deste seminário —e particularmente os da País que nos acolhe— terito cm momentos múltiplos sentida a sensagito do «déjá vu», face aas textos que lhes sito familiares.

Para o caso portugues, muito haveria agora a fazer, para além da pequena «gata de água» que Ihes aprescntei:

* cm matéria de documentagito régia, confrontar as fontes legislativas cam

os actos quotidianamente expedidos peía Chance/aria au com as respostas régias aos capitulos apresentados cm Cortes;

* confrontar os contributos globais das fantes régias com a literatura

pali-tica das séculos XIV-XVI (autores cama Fr. Alvaro Pais [?-1349], fi. Ouarte [1391-1433], infante fi. Pedro [1392-1449], candestável O. Pedro [1429-1466], Diogo Lapes Rebelo [?-1498], fi. Jerónimo Osória [1506-1580], etc);

* proceder a um estuda de influéncias, tendo cm canta cantributos textuais da Sagrada Escritura, da Patrística, da Corpus luris Civilisou da Direito Canó-nico;

* e, naturalmente, e num quadra ibérica, o problema da circulagito de tex-tos e ideias, e de inter-influéncias.

Um longa caminha, sem dúvida. Mas passa este Seminária, que tito agra-davelmente aqui nos congregou, constituir como que um primeira passo. Tími-da, parventura. Mas nem par issa menos segura

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Armando Luís de Carvalbo Homem Rei e «estado real» nos textos legislativos da Idade Média..

-BIBLIOGRAFIA

NOTA FINAL- Este trabaiho retama, abreviadamente, tapicasjá versados em ante-riorestextos. Concretizando:

1. I-IOMEM (Armando Luís de Carvaiho), «Dionisius et Alfansus, Dei gratia reges et communis utilitatis gratia legiferi», Revista da Faculdade de Letras [Universi-dade do Podo]. 1-listória, 11 sér, XI (1994), Pp. 11-lío.

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4. IDEM, «ESTADO MODERNO e legisla9ito régia: produ~áo e compilaQáo legis-lativa cm Portugal (séculos XIII-XV»>, inGénese44)do ESTADO MODERNO no Portugal Tardo-Medievo, ed. Maria Helena da Cruz COELHO e Arruando Luís de

Carvalha HOMEM, Lisboa, Universidade Autónoma [em prepara~ito].

5. IDEM, «Poder e poderes no Portugal de finais da Idade Média», Praca Velha. Revista de Cultura da Ciudade de Guarda, 3 (Mai, 1998). Pp. 39-68.

Todos estes trabalhos contém extensas indicagóes de fontes e bibliografia. Pelo que o presente texto, em matéria de referéncias, praticamente se limita a fantes. E par isso aqui indica as seguintes Fontes impressas:

6. Afonso X: Foro Real, ed. José de Azevedo FERREIRA, 1. Edi<áo e Estudo Lin-guistico, II. Glossório,Lisboa, INIC, 1987.

7. Livrodas Leis e Posturas (LLP), ed. Nuno Espinosa Gomes da SILVA e Maria Teresa Campos RODRIGUES, Lisboa, Faculdade de Direito, 1971.

8. Ordena~óes Afonsinas (OA), reimpr. da ed. dc 1792, vals~. LV, Lisboa, Fund. Calauste Gulbenkian, 1984.

9. Ordena~óes de/-Reí Dom Duarte (000), cd. Martim de ALBUQUERQUE e Eduardo Borges NUNES, Lisboa, FundaQito Calauste Gulbenkian, 1988.

10. Ordena~p3es Manuelinas (OM), reimpr. da ed. de 1797, vals. I-V, Lisboa, Fun-da9ito Calauste Gulbenkian, 1984.

As transcri4ées textuais reportam-se a estas edi9ées. Como obras de referéncia historiagráfica rnencionem-se:

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12. BENEYTO (Juan), «Para la clasificación de las fuentes del Derecha Medieval Español», Anuario de Historia del Derecho Español, XXI (1961), Pp. 259-68. 13. BERMEJO (Jose Luis), «Principios y apotegmas sobre la ley y el rey en la baja

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