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Artigo
original
Adesão
dos
utentes
aos
medicamentos
genéricos
Marco
Duque
a,
Clara
Rocha
b,c,∗e
Jorge
Balteiro
aaInstitutoPolitécnicodeCoimbra,ESTESC-CoimbraHealthSchool,Farmácia,Coimbra,Portugal
bInstitutoPolitécnicodeCoimbra,ESTESC-CoimbraHealthSchool,CiênciasComplementares,Coimbra,Portugal cINESCCoimbra,Portugal
informação
sobre
o
artigo
Historialdoartigo: Recebidoa23deabrilde2013 Aceitea7demarçode2014 Palavras-chave: Medicamentosgenéricos Adesão Meiosdeinformac¸ão
r
e
s
u
m
o
Objetivos:Esteestudotransversaltevecomoobjetivocaracterizaraadesãodosutentesaos medicamentosgenéricos,bemcomoidentificarfatoresqueinfluenciamtaladesão.
Procedimentosmetodológicos:Esteestudofoirealizadodeoutubrode2011ajunhode2012. Aamostrafoicompostapor375indivíduos,comidadeigualousuperiora18anos.Definiu-se como instrumentoderecolhadedadosumquestionário,queincluiuvariáveis sociode-mográficasedeadesãoaosmedicamentosgenéricos,aoqualosindivíduosresponderam voluntariamente.
Resultados: Dos 375 entrevistados, apenas 1,3% (n=5) nunca ouviram falar em medi-camentos genéricos. Verifica-se que dos meios que informaram sobre a existência de medicamentosgenéricos,omédicoeafarmáciasãoosquemaissedestacam,com69,7% (n=258)e66,2%(n=245),respetivamente.Dos292(78,9%)indivíduosquejácompraram medicamentosgenéricos,64,6%(n=188)adquiriramtaismedicamentoscomreceitamédica. Dos78(21,1%)indivíduosquenuncacomprarammedicamentosgenéricos,39,7%(n=31) referemcomocausaofactodeomédiconãoprescreverestetipodefármacose24,4%(n=19) referemnãoteremconfianc¸anosmedicamentosgenéricos.
Conclusão:Acaracterizac¸ãodaadesãoaosmedicamentosgenéricoscontribuinãosóparao conhecimentodaevoluc¸ãodoconsumodestesmedicamentos,comotambémparaanalisar oimpactodasmedidasquetêmsidotomadasemPortugal,paraincentivarepromovero consumodosmedicamentosgenéricos,têmsobreapopulac¸ãoemgeral.
©2013EscolaNacionaldeSaúdePública.PublicadoporElsevierEspaña,S.L.U.Todosos direitosreservados.
Adherence
of
users
to
generic
drugs
Keywords:
GenericDrugs
a
b
s
t
r
a
c
t
Objectives: Thistransversalstudyaimstocharacterizeadherencetogenericdrugsforusers andidentifyfactorsthatinfluencesuchadherence.
∗ Autorparacorrespondência.
Correioeletrónico:clarapr@estescoimbra.pt(C.Rocha). http://dx.doi.org/10.1016/j.rpsp.2014.03.002
Adherence Massmedia
Methodology: ThisstudywasconductedfromOctober2011toJune2012.Thesample con-sistedof375individuals,agedover18years.Aquestionnairewasusedasaninstrumentof datacollectionthatincludedsocio-demographicandadherencetogenericdrugsvariables, towhichindividualsrespondedvoluntarily.
Results: From375respondents,only1.3%(n=5)neverheardofgenericdrugs.Itisseenthat themeansthathavereportedtheexistenceofgenericdrugs,thedoctorandthepharmacy aretheonesthatstandoutthemost,with69.7%(n=258)and66.2%(n=245)respectively. Fromthe292(78.9%)individualswhoalreadyboughtgenericdrugs,64.6%(n=188)acquired suchdrugsusingmedical.Fromthe78(21.1%)individualswhohadneverboughtgeneric drugs,39.7%(n=31)reportedthatthereasonwastheabsenceofgenericdrugsprescription bythedoctorand24.4%(n=19)reportedhavingnoconfidenceingenericdrugs.
Conclusion: Thecharacterizationofadhesiontogenericdrugscontributesnotonlytothe knowledgeoftheevolutionoftheconsumptionofthesedrugs,butalsotoanalyzethe impactofthemeasuresthathavebeentakeninPortugal,toencourageandpromotethe consumptionofMGhaveonthepopulation.
©2013EscolaNacionaldeSaúdePública.PublishedbyElsevierEspaña,S.L.U.Allrights reserved.
Introduc¸ão
EmPortugal,comonoutrospaísesdaUniãoEuropeia(EU),a despesa públicacom os cuidadosde saúde tem sido cara-cterizadanasúltimasdécadasporumelevadoaumento.As projec¸õesdaUEapontamparaamanutenc¸ãodestecenárioaté 2050,comoconsequênciadoenvelhecimentodapopulac¸ão1. Talfactolevouàimplementac¸ão,emtodosospaísesdaUE,de umapolíticadomedicamentoquepossa levaràcontenc¸ão das despesasna área da saúde2. Umadas medidas imple-mentadasfoiapromoc¸ãodemedicamentosgenéricos(MG) que,emborapossamsermenosdispendiosos,deacordocomo EstatutodoMedicamento(Decreto-Lein.◦1.761/2006,de30de
agosto),éummedicamento«comamesmacomposic¸ão qua-litativaequantitativaemsubstânciasativas,amesmaforma farmacêuticaecujabioequivalênciacomomedicamentode referênciahajasidodemonstradaporestudosde biodisponibi-lidadeapropriados».Igualqualidadecomprovadaaumbaixo prec¸oépoisagrandevantagemdosMGfaceaos medicamen-tosdemarca(MM)3,4.
De acordo com um estudo baseado em 17 países em desenvolvimento, a reduc¸ão dos custos do MG conduz a umapoupanc¸amédiadopacientede60%5.Tambémparao SistemaNacionaldeSaúde(SNS)estesmedicamentos repre-sentamumaimportantepoupanc¸aque,segundoPerry4(2006), «vendidos a um diferencial de 20-80% do prec¸o do medi-camento cuja patente expirou, são responsáveis por uma poupanc¸ade13biliõesdeeuros nosSistemasdeSaúdeda UniãoEuropeia».Talpoupanc¸apermiteaoSNSumamelhor gestãoderecursos,jáquepoderãoserfeitosinvestimentos noutrasáreas,nomeadamentenacomparticipac¸ãode medi-camentos inovadores destinados a doentes portadores de doenc¸ascrónicasdebilitantesouaindanaáreadeinvestigac¸ão denovosprodutosfarmacêuticos3,6.
Nospaísesondeaapostanodesenvolvimentodomercado degenéricostemsidoumarealidadedesdeháváriasdécadas, comoporexemploPolónia,ReinoUnido,Holanda,Dinamarca, LituâniaeAlemanha,aquotademercadoemvolumedestes
medicamentos ésuperiora50% domercadototal. Em Por-tugal, omercadodeMGregistou umcrescimento daquota de mercado emvolume, de 21%,em janeirode 2011, para 24,5%nomesmoperíodode20127.SegundoaANF(2013)8,com aentradaemvigorda prescric¸ãopordenominac¸ãocomum internacional(DCI)9,ouseja,pelonomedasubstânciaativa (SA)domedicamento,a1dejunhode2012,aquotade mer-cadoqueerade34,4%emmaiode2012passoupara39,8%em agostode2013.Oprec¸omédiodosMGpassoude8,11euros emmaiode2012para7,23eurosemagostode2013,istoé,teve umareduc¸ãode0,88euros.Relativamentea2012,omercado reduziu113,9milhõesdeeuros,dosquais74,8milhõesforam poupanc¸aparaoEstadoe39,1milhõesforampoupanc¸apara osutentes.
EmboraPortugaltenhaummercadodeMGemascensão,na verdadeaindatemumaenormemargemdeprogressãopara estetipodefármacos,encontrando-seaindadistantedos mer-cadosmundiaisconsolidados.Aidentificac¸ãodosfatoresque influenciamaadesãoaosMGpelapopulac¸ãopodecontribuir paraapromoc¸ãodeumamaioradesãodeformainformada aessesmedicamentose,consequentemente,àterapia farma-cológicacomumcustomenor,contribuindoparaocontrolodo crescimentodadespesapúblicacomoscuidadosdesaúdee melhorandoarelac¸ãocusto/benefícioparaoutente.Segundo aOrganizac¸ãoMundialdeSaúde(2010),afaltadeconfianc¸a naeficáciaeseguranc¸adosMGporpartedosutentes,bem comodosprofissionaisdefarmácia,sãoumadascausasda nãoadesãoaestesmedicamentos5.
Aatitudedospacienteseprofissionaisdesaúdeperante osMGtemsidoestudadaemdiferentespaísesdaEU.Num estudorealizado naAlemanha,os inquiridosconsideraram que os prec¸os mais baixos dos MG devem-se à qualidade inferiordosmesmos,defendidoparticularmenteporidosos, doentescrónicoseindivíduoscommenoshabilitac¸ões10.Na Eslováquia concluiu-sequeaaceitac¸ão dosMGestá relaci-onada com a região e que são os jovens que apresentam umamaiorconfianc¸anosMG11,esegundo umestudo rea-lizado naFranc¸a,hámaiorresistênciaàmudanc¸aparaMG porpartedospacientesidososemães12.Numainvestigac¸ão
realizadanaEspanha, concluiu-sequea aceitabilidadedos MGpelospacientesdependedotipodedoenc¸a13.OsMGeos MMnãosãovistoscomomedicamentosequivalentesnuma investigac¸ãorealizadanaNoruega,sendoapoupanc¸aobtida comosMGaprincipalrazãoparaasubstituic¸ãodosMM14.De umestudorealizadonaFinlândiaconcluiu-seque,dos inquiri-dos,homenseidosossãoosquemelhoraceitamasubstituic¸ão dosMMparaMG15.Especificamente emPortugal,2estudos concluíramqueaaceitac¸ãodosMGémenorquandosetrata dedoenc¸asgravesequeascrenc¸assobreaeficáciadosMG sãoinfluenciadaspelaidadeegraudehabilitac¸ões16,17.
Osobjetivosdesteestudosãoavaliaraadesãodos pacien-tesaosMG,identificarosprincipaismeios queinformaram daexistênciadosMG,bemcomoidentificarfatoresque influ-enciam aadesão. Asatitudesdos utentesno momento da prescric¸ãoenomomentodacompradeMGsãotambémobjeto deestudo.
Métodos
Apopulac¸ãoemestudoéconstituídapelosutentesdoCentro deSaúdedeSãoMartinhodoBispo,doconcelhodeCoimbra, comidadeigualousuperiora18anos.Segundoosdados forne-cidospelaJuntadeFreguesiadeSãoMartinho,estafreguesia éconstituídapor12.418eleitores.Esteestudofoirealizadode outubrode2011ajunhode2012.
Paraarealizac¸ãodestetrabalhodeinvestigac¸ãofoi elabo-radoumquestionáriobaseadoemestudosrealizadossobre atemática18–20,comquestõescapazesdetraduzirdeforma rigorosaeprecisaosobjetivosdoestudo.Foramusadas ape-nasperguntasdotipofechado,umavezqueotamanhoda amostraparaestapopulac¸ãoeraelevado.Oquestionárioestá estruturadoem2grupos:oprimeirogrupocontémquestões doforopessoalparacaracterizac¸ãodemográficadaamostra –género,idadeehabilitac¸õesliterárias–eosegundogrupo contémquestõesparaavaliaraadesãoaoconsumodeMG– «JáouviufalarsobreMG?»,«Quaisasfontesqueo informa-ramsobreaexistênciadeMG?»,«JácomprouMG?».Paraos indivíduosquereferiramjáteremcompradoMG, colocaram--seaindaasquestões«Como adquiriuosMG?»,«Quandoo médicolheprescreveummedicamento,solicita-lheumMG?», «QualasuaopiniãosobreosMG?».Quantoaosindivíduosque responderamnuncateremcompradoMG,colocaram-seainda
asquestões«NofuturopretendeconsumirMG?»e«Quaisas razõesparanuncatercomprado?».
Apósautorizac¸ãodapresidentedoAgrupamentode Cen-trosdeSaúdedoBaixoMondegoI,realizou-seumpré-teste comafinalidadedeavaliaracompreensãoeaclarezado ques-tionário ecorrigireventuaisinconsistências, após oquese procedeuàrecolhadaamostra.
O tipo de amostragem é não probabilístico e quanto à técnica deamostrageméporconveniência,umavezquea amostra éformada pelos pacientes adultos que se encon-travamnasconsultasdoCentrodeSaúdedeSãoMartinho do Bispo nos dias em que a recolha dos dados foi feita. Aparticipac¸ãofoivoluntária,apósserobtidoconsentimento informado e garantida a confidencialidade dos resultados. A dimensão da amostra foi calculada, usando a fórmula para populac¸ões finitas(≤100.000 casos),com umnível de confianc¸ade95%,tendosidoobtidaumaamostraconstituída por375indivíduos.
Este estudo é qualificado como de nível II, do tipo descritivo-correlacional,umavezqueexplorouedeterminou aexistênciaderelac¸õesentrevariáveis,comvistaa descre-veressasrelac¸õesedeconhecerasqueestãoassociadasao fenómenoemestudo.
Apósarecolhadosdados,estesforamanalisadosetratados atravésdoStatisticalSoftwarePackages(v.17).
Sendo um estudo de estatística descritiva e inferencial utilizaram-se distribuic¸ões de frequência etabulac¸ões cru-zadas, bem como o teste da independência qui-quadrado. Estabeleceu-se aexistência de significânciaestatística para p<0,05eumintervalodeconfianc¸ade95%.
Resultados
Foram alvo deste estudo 375indivíduos, com idades com-preendidas entre os18 eos 88 anos (média=49;dp=18,5), com18,7%jovense28%idosos.Nasuamaioria são mulhe-res(65,9%)eindivíduoscomgraudeescolaridadebaixo,ou seja,menorqueo12.◦ano(62,1%).
Dos375inquiridos,370(98,7%)afirmaramterouvidofalar sobreestesmedicamentos.Destes370 indivíduosenoque respeita às fontes que informaram sobre a existência de MG,69,7%referiramoMédico, 66,2%referiramos Profissio-naisde farmácia, seguindo-se aTelevisão/rádio com 59,7%
Tabela1–Frequênciadasfontes(meiosqueinformaramsobreaexistênciadoMG)segundoogéneroeashabilitac¸ões
literárias
Género Habilitac¸ões Total
Quaisasfontesqueinformaram Feminino Masculino <12.◦ ≥12.◦
sobreaexistênciadeMG? n(%) n(%) p n(%) n(%) p n(%) Médico 175(71,4) 83(66,4) 0,190 165(71,7) 93(66,4) 0,295 258(69,7) Profissionaisdefarmácia 167(68,2) 78(62,4) 0,160 148(64,3) 97(69,3) 0,365 245(66,2) Televisão/rádio 137(55,9) 84(67,2) 0,023* 116(50,4) 105(75,0) 0,000** 221(59,7)
Familiar/amigo/vizinho 50(20,4) 27(21,6) 0,444 47(20,4) 30(21,4) 0,895 77(20,8) Folhetos/revistas 34(13,9) 31(24,8) 0,008** 19(8,3) 46(32,9) 0,000** 65(11,4)
Instituic¸ãodesaúde 30(12,2) 12(9,6) 0,283 11(4,8) 31(22,1) 0,000** 42(1,6) ∗ p<0,05;**p<0,01.
TV/rádio Familiar/vizinho/amigo Folhetos/revista Instituição de saúde Profissional de farmácia Médico 58,0% 68,8% 70,5% 77,7% 59,4% 72,0% 65,7% 66,0% 17,4% 23,7% 11,4%4,9% 37,7% 20,3% 23,7% 21,9% 72,5% 72,0% 58,1% 41,7% 17,5% 9,5%2,5%p = 0,002** p = 0,415 p = 0,054 p = 0,000** p = 0,000** p = 0,744 30-45 45-65 65-89 18-30 18,3% ** p<0,01
Figura1–Distribuic¸ãodosmeiosqueinformaramsobreaexistênciadeMGsegundoaidade.
**p<0,01.
(tabela1).Osresultadosdatabela1indicamqueexisteuma associac¸ãoestatisticamentesignificativaentreogéneroeas habilitac¸õesliteráriascomafontedeobtenc¸ãodeinformac¸ão Televisão/rádio (p=0,023 e p=0,000, respetivamente), bem como com a fonteFolhetos informativos/revistas (p=0,008 e p=0,000, respetivamente). Verifica-se ainda que são os homens e os indivíduos com grau de escolaridade mais elevadoquemaisreferemtaisfontesdedivulgac¸ão.Foi obser-vada,também,associac¸ãoestatisticamentesignificativaentre aescolaridadeeafonteInstituic¸ãoprestadoradeservic¸osde saúde(p=0,000),sendomaisumavezosindivíduoscomgrau deescolaridademaiselevadoquemaisreferemestafonte.Por outrolado,asmulhereseosindivíduoscomgraude escolari-dademaisbaixosãoosquemaisreferemomédicocomofonte dedivulgac¸ãodosMG,emboranãoseverifiquemassociac¸ões estatisticamentesignificativas(p>0,05).
Osresultadosdafigura1mostramqueexisteassociac¸ão estatisticamente significativa da idade com os meios que informaram sobre a existência de MG Televisão/rádio (p=0,000), com Folhetos informativos/revistas (p=0,000) e comaInstituic¸ãoprestadoradeservic¸osdesaúde(p=0,002). Constata-seaindaquesãoosmaisnovosquemaisreferem taismeiosdedivulgac¸ão.Osmaisidososreferem principal-mente o médico, emboranão se verifiqueuma associac¸ão estatisticamente significativa da idade com este meio de divulgac¸ão(p=0,054>0,05).
Natabela2éapresentadaadistribuic¸ãodaadesãoaosMG dosindivíduosquejáouviramfalarsobreestes medicamen-tos.Verifica-sequegrandepartedestesindivíduos(78,9%)já tinhamcomprado MGe,destes,amaioria consideraque a prescric¸ãodeumMGcabeapenasaomédicoenãoao paci-entesolicitá-loaomédico(71,5%).Quandoquestionadossobre aformadeaquisic¸ãodosMG,amaioriareferetersidodecisão doMédico(64,6%),seguindo-seteremcompradopor inicia-tivaprópria,ouseja,solicitando-osaoProfissionaldefarmácia (27,1%).TodososinquiridosquejácompraramMGacreditam queestesprodutossãomaisbaratosquandocomparadosaos
dereferênciae62,9%destesinquiridosconsideramquetêm amesmaqualidade.Quantoaosindivíduosquenunca com-praramMG,amaioriapretendeviracomprarestesfármacos nofuturo(64,1%).Osresultados mostramaindaquesãoos indivíduoscomescolaridademaiselevadaquemaisreferem teremcompradoMG,tendo-severificadoumaassociac¸ão esta-tisticamentesignificativacomaescolaridadeeaaquisic¸ãode MG(p=0,013).Foiobservada,também, umarelac¸ão estatis-ticamentesignificativadaformadeaquisic¸ãodeMGcomo género(p=0,028)ecom ashabilitac¸õesliterárias (p=0,000), bemcomoentreogéneroeavontadedenofuturo compra-remMG(p=0,029)e,finalmente,entreaopiniãosobreosMG eashabilitac¸õesliterárias(p=0,003).
Osresultadosdafigura2indicamqueexistemdiferenc¸as significativasentreaidadeeaformadeadquirirosMG.Sãoos maisnovosquetêmumaprevalênciamaiselevadana com-pradeMGporsolicitac¸ãoaoprofissionaldefarmácia(47,3%), enquanto quasetodos osidosos (93,2%)compram MGcom receitamédica.
Em relac¸ão às razões apontadas pelos indivíduos que nuncacompraramMG,39,7%referemqueoseumédiconão osprescreve,seguindo-se24,4%quereferemnãoconfiarnos MGe10,3%nãoselembradeospedir(fig.3).
Discussão
Otermo«medicamentogenérico»ébemconhecidodos indi-víduosquestionadosnopresenteestudo,sendoqueapenas 1,3% afirmam nunca terem ouvido falar em tais medica-mentos. Quando questionados quanto às fontes que os informaram sobre a existência de MG, a maioria apon-tou o médico, profissionais da farmácia e a comunicac¸ão social(TV/rádio).Na literatura,sãotambémestasas3 fon-tes de divulgac¸ão mais apontadas18,21. Verificou-se ainda a existência de associac¸ões estatisticamente significativas das variáveis género,habilitac¸ões literárias eidade comas
Tabela2–Distribuic¸ãodaadesãoaosMGdosindivíduosquejáouviramfalarsobretaismedicamentos
Género Habilitac¸ões Total
Feminino Masculino <12.◦ ≥12.◦ n(%) n(%) p n(%) n(%) p n(%) JácomprouMG? 0,421 0,013* Sim 196(80,0) 95(76,0) 172(74,8) 119(85,0) 292(78,9) Não 49(20,0) 30(24,0) 58(25,2) 21(15,0) 78(21,1) Secomprou
Quefazquandoomédicolheprescreveummedicamento? 0,437 0,114
Solicita-lheumMG 57(29,1) 26(27,4) 43(24,9) 40(33,6) 83(28,5) NãosolicitaumMGa 139(70,9) 69(72,6) 130(75,1) 79(66,4) 208(71,5)
ComoadquiriuosMG? 0,028* 0,000**
Comreceitamédica 131(66,8) 57(60,0) 135(78,0) 54(45,4) 188(64,6) SolicitouaoPFb 45(23,0) 34(35,8) 28(16,2) 51(42,9) 79(27,1)
AconselhadoporPF 20(10,2) 4(4,2) 10(5,8) 14(11,8) 24(8,2)
QualasuaopiniãosobreosMG? 0,656 0,003**
Maisbaratodeigualqualidade 120(61,2) 63(66,3) 96(55,5) 88(73,9) 183(62,9) Maisbaratodemenorqualidade 29(14,8) 11(11,6) 26(15,0) 14(11,8) 40(13,7) Apenasmaisbarato 47(24,0) 21(22,1) 51(29,5) 17(14,3) 68(23,4) Senãocomprou
NofuturopretendecomprarMG? 0,029* 0,595
Sim 26(53,1) 24(80,0) 35(61,4) 15(71,4) 50(64,1) Não 23(46,9) 16(20,0) 22(38,6) 6(28,6) 28(35,9)
a Consideraqueessadecisãocabeaomédico. b Profissionaldefarmácia. ∗ p<0.05;**p<0.01. 65-89 45-65 30-45 18-30 0%
Com receita médica Solicitou ao profissional de farmácia Aconselhado por profissional de farmácia p = 0,000** **p<0,01 10% 41,8% 51,9% 66,3% 93,2% 26,5% 34,2% 47,3% 10,9% 13,9% 7,2% 5,4% 1,4% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
Figura2–Associac¸ãodaidadecomaformadeadquirirMG. **p<0,01.
fontes de divulgac¸ão dos MG TV/rádio, Folhetos/revistas e instituic¸õesprestadoradeservic¸osdesaúde.Oshomens, indi-víduoscommaiorinstruc¸ão(pelomenos12.◦ ano)ejovens,
sãoos quemaisreferema TV/rádioeos Folhetos/revistas, enquantoasinstituic¸õesdesaúdesãomaisapontadaspelas mulheres e, mais uma vez, pelos indivíduos com maior instruc¸ãoejovens.
Emboraquasetodososquestionadostenhamouvidofalar sobreMG,osresultados mostramqueainda sãomuitosos indivíduosquenuncacompraramtaismedicamentos(21,1%), sendoo factode omédico nãoos prescreverarazão mais apontada.Aimplementac¸ãoemPortugal,emmaiode20129, daobrigatoriedadedaprescric¸ãoporDCI,bemcomoa obri-gatoriedade da prescric¸ão eletrónica, poderá ser um fator determinanteparaadiminuic¸ãodetalpercentagem.Na ver-dade, tal medida incentiva os médicos, a todos os níveis
do sistema, tanto público como privado, a prescrever MG, acrescido de, no momento de dispensa, o profissional de farmáciaterobrigatoriedadedeinformaroutentedos medi-camentosmaisbaratosexistentesnomercadoquecumpram aprescric¸ão médica,devendodisporemstock,nomínimo, 3medicamentosdecadagrupohomogéneo,deentre aque-les que correspondemaos 5 prec¸os mais baixose, destes, dispensaraoutenteomaisbarato. Outente deveaindaser informadodoseudireitodeopc¸ãonaescolhadomedicamento quecumpraaprescric¸ãomédicaedapossibilidadedelheser disponibilizadoomedicamentomaisbaratoexistenteno mer-cadonoprazode12horasesemacréscimodecusto,casoeste nãoexistaemstockdafarmácia.
Verificou-seque,dosindivíduosquejátinhamcomprado MG, a forma predominante de adquirir tais medicamen-tosécomreceitamédica, havendomesmoumaassociac¸ão
Não há genérico 2,6% 9,0% 10,3% 14,1% 24,4% 39,7% Prefere o medicamento de marca
Não se lembra de pedir
Não Confia Outra
O médico não prescreve
Figura3–Principaisrazõesapontadaspelosindivíduos paranãotomaremMG.
estatisticamente significativa da forma de aquisic¸ão dos MGcomasvariáveisgénero,habilitac¸ões literáriaseidade. Constatou-seque,nomomentoda compra,aaquisic¸ãopor receita médica é mais comum nas mulheres, indivíduos menosinstruídoseidosos,enquantoporsolicitac¸ãoao profis-sionaldefarmáciaéapontadamaispeloshomens,indivíduos maisinstruídosejovens.Verificou-seaindaquemaisde70% dosinquiridosnãosolicitamaomédicoaprescric¸ãodeMGpor consideraremqueessadecisãoéapenasdomédico.Cercade 40%nãoconseguemdefinircorretamenteoMGcomosendo maisbarato e de igual qualidade (uns consideram apenas maisbaratoeoutrosconsiderammaisbarato,masdemenor qualidade),sendoosmenosinstruídososmenosinformados relativamenteaosmaisinstruídos,comdiferenc¸as estatisti-camentesignificativas.
Comasnovasmedidasimplementadasparaaprescric¸ãoe comprademedicamentosé,maisdoquenunca,vital apostar--senaformac¸ãocontínuaenoesclarecimentosobreosMG, querdosutentesquerdosmédicoseprofissionaisdefarmácia, jáqueapersistênciadeideiaserróneasacercadaseguranc¸a, eficáciaequalidade dosMGpodeserumaenormebarreira à sua utilizac¸ão. Na verdade, estudos realizados demons-tramqueampliaroníveldeconhecimentodosprescritores de MG poderá ser uma boa medida para aumentar a sua prescric¸ão22–24 econsequenteaumento doconsumodestes medicamentos.NumestudodeFigueirasetal.22verificou-se aindaaexistênciadeumagrandepercentagemdemédicos emPortugalque,em2008,nãopermitiamasubstituic¸ãodeMG porteremdúvidasacercadabioequivalênciaedaconfianc¸ana eficáciadestes,emtermosdanãoocorrênciadefalhas tera-pêuticasouproblemasrelacionadoscomasubstituic¸ão.Nesse mesmoestudo,verificou-seaindaqueosprofissionaisde far-máciasesentemmaisbeminformadosacercadosMGque osmédicos,noqueserefereaoseucusto,aosMG disponí-veisnomercado,aosfabricantesdosmesmos,aocontrolode qualidadeeaostestesdequalidaderealizados.Relativamente aosutentes,aimportânciadedesmistificarassuascrenc¸as, informareesclarecerassuasdúvidasrelativasaosMGé con-firmadaporumestudoespanhol,emque98,9%dosutentes submetidosaumaintervenc¸ãoeducativa,durante umano, sobreosMG,concordaramemsubstituirosMMprescritospor MG13.
Eminvestigac¸ãofutura,parece-nospertinenteinvestigar oimpactodaadesãoaosMGdecorrentedaPortarian.◦
137-A/2012,de11demaio2012,queestabeleceoregimejurídico a queobedecemasregrasdeprescric¸ão demedicamentos. Parece-nos igualmente importante o estudo das crenc¸as e atitudessobreosMGdosmédicoseprofissionaisde farmá-cia,jáqueestestêmumpapelfundamentalnoprocessode implementac¸ãodestesmedicamentos.Relativamenteaestes profissionais,tambémasfontesdeinformac¸ãosobreosMG porelesutilizadasdevemserestudadas.
Conflito
de
interesses
Osautoresdeclaramnãohaverconflitodeinteresses.
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