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Uma experiência de extensão em Design na Reserva Extrativista Quilombo Frechal, Maranhão/Brasil/ An extension experience in Design at Quilombo Frechal Extractive Reserve, Maranhão/Brazil

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p.89933-89946, nov. 2020. ISSN 2525-8761

Uma experiência de extensão em Design na Reserva Extrativista Quilombo

Frechal, Maranhão/Brasil

An extension experience in Design at Quilombo Frechal Extractive Reserve,

Maranhão/Brazil

DOI:10.34117/bjdv6n11-417

Recebimento dos originais:08/10/2020 Aceitação para publicação:19/11/2020

Camila Andrade dos Santos

Mestre em Design

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão-IFMA, Campus São Luís Monte Castelo

Avenida Getúlio Vargas, Nº 04, Monte Castelo, São Luís – MA. CEP: 65030-005 E-mail:camila@ifma.edu.br

Ádilla Danúbia Marvão Nascimento Serrão

Mestre em Antropologia

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão-IFMA, Campus São Luís Monte Castelo

Avenida Getúlio Vargas, Nº 04, Monte Castelo, São Luís – MA. CEP: 65030-005 E-mail:adilla@ifma.edu.br

Rogério Hideki Ferreira Funo

Mestre em Sustentabilidade de Ecossistemas

Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade-ICMBio – Núcleo de Gestão Integrada ICMBio São Luís

Rua das Hortas, Nº 223, Centro, São Luís – MA. CEP 65020-270 E-mail:rogerio.funo@icmbio.gov.br

Antônia Macedo Filha

Mestre em Economia Doméstica

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão-IFMA, Campus São Luís Maracanã

Avenida Getúlio Vargas, Nº 04, Monte Castelo, São Luís – MA. CEP: 65030-005 E-mail:antoniamacedo@ifma.edu.br

Tito Carvalho Tsuji

Mestre em Sustentabilidade de Ecossistemas

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão-IFMA, Campus São Luís Monte Castelo

Avenida Getúlio Vargas, Nº 04, Monte Castelo, São Luís – MA. CEP: 65030-005 E-mail:tito@ifma.edu.br

Nicole Aguiar Simões

Técnica em Comunicação Visual

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão-IFMA, Campus São Luís Monte Castelo

Avenida Getúlio Vargas, Nº 04, Monte Castelo, São Luís – MA. CEP: 65030-005 E-mail:n.aguiar@acad.ifma.edu.br

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Valéria Cristina dos Santos Carvalho

Técnica em Comunicação Visual Universidade Estadual do Maranhão

Av. Oeste Externa, 2220 - São Cristovão, São Luís - MA, 65058, Brasil E-mail:valeriiacristina21@gmail.com

João Pedro Pimentel Abreu

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão-IFMA, Campus São Luís Monte Castelo

Avenida Getúlio Vargas, Nº 04, Monte Castelo, São Luís – MA. CEP: 65030-005 Técnico em Comunicação Visual

E-mail:jppedropimentel@gmail.com

RESUMO

Este escrito relata uma experiência de extensão no âmbito do ensino técnico em Comunicação Visual do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão. Descreve, de um lado, a experiência da viabilização e potencialização do ensino técnico da área do design por meio da extensão e, por outro, a prática profissional que atende demandas da comunidade envolvida. Possibilita, ainda, uma reflexão sobre as habilidades do design na promoção da inovação e desenvolvimento social por meio de um projeto participativo que teve, como objetivo, estudar formas de construção da identidade visual e das etiquetas para os diversos produtos da Reserva Extrativista Quilombo Frechal, com a participação ativa dos agentes locais. Desenvolveu, por tanto, um projeto que incluiu todas as partes interessadas no processo por meio de metodologias de co-criação e colaboração em um diálogo horizontal entre as partes, respeitando as especificidades da comunidade e possibilitando o aprendizado mútuo, oportunizando aos participantes experiências, vivências e trocas sociais.

Palavras chave: Extensão em design,Ensino técnico em Design,Comunicação Visual, Reserva

Extrativista, Quilombo Frechal.

ABSTRACT

This writing reports an extension experience in the field of technical teaching in Visual Communication of the Federal Institute of Education, Science and Technology of Maranhão. It describes, on the one hand, the experience of enabling and enhancing technical education in the area of design through extension and, on the other hand, the professional practice that meets the demands of the community involved. It also allows a reflection on design skills on the promotion of innovation and social development through a participative project that had as objective to study ways of building visual identity and labels for the various products of the Quilombo Frechal Extractive Reserve, with the active participation of local agents. Therefore, it developed a project that included all stakeholders in the process through methodologies of co-creation and collaboration in a horizontal dialogue between the parties, respecting the specificities of the community and enabling mutual learning, providing participants with experiences, experiences and social exchanges.

Keywords: Extension in Design,Technical Education in Design,Visual Communication, Extractive

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1 INTRODUÇÃO

A Reserva Extrativista Quilombo Frechal é uma Unidade de Conservação administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio, autarquia federal vinculada ao Ministério do Meio Ambiente. Foi criada pelo Decreto Federal 536, de 20 de maio de 1992, com uma área de aproximadamente 9.542 hectares, no município de Mirinzal, na região da Baixada Maranhense.

Conforme disposto na Lei 9.985/2000, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC, uma Reserva Extrativista – RESEX – tem como objetivos básicos a proteção dos meios de vida e da cultura das populações tradicionais beneficiárias e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais existentes. Nesse sentido, a RESEX Quilombo do Frechal abriga três comunidades: Deserto, Rumo e Frechal (como demonstrado na fig. 01), totalizando aproximadamente 350 famílias, cujo modo de vida é baseado no extrativismo vegetal, agricultura familiar e pesca artesanal.

Fig. 01. Mapa de localização da RESEX, os autores (2020)

Além de caracterizadas como povos tradicionais, as comunidades da RESEX Quilombo Frechal também são certificadas pela Fundação Cultural Palmares como Remanescentes de Quilombos. É notável a riqueza cultural das comunidades com manifestações e grupos organizados como o de Tambor de Crioula, de Congo e de Capoeira.

O ICMBio vem trabalhando na implementação desta RESEX, buscando uma gestão participativa com os moradores e demais atores do poder público e da sociedade civil, relacionados à unidade. Para tanto, foi criado, em 2011, o Conselho Deliberativo da RESEX Quilombo do Frechal (Portaria ICMBio 72/2011), coletivo responsável pela gestão da unidade, visando o efetivo cumprimento de seus objetivos de criação e implementação.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p.89933-89946, nov. 2020. ISSN 2525-8761 Durante o ano de 2018, a ação do ICMBio teve como focos principais a capacitação do Conselho Deliberativo e o fortalecimento da organização comunitária, do associativismo, além do aprimoramento das práticas produtivas da Resex, visando, principalmente, a transição agroecológica e as boas práticas para o beneficiamento dos produtos provenientes da sociobiodiversidade. Esse trabalho, que contou com o apoio do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Sociobiodiversidade Associada aos Povos e Comunidades Tradicionais – CNPT/ICMBio, e a parceria do Curso Técnico em Cozinha do IFMA campus Maracanã, foi planejado para que a Resex buscasse o acesso a mercados específicos de produtos artesanais, orgânicos e com responsabilidade socioambiental.

Os avanços foram satisfatórios nas áreas de: (1) organização comunitária, com o fortalecimento das associações de moradores; (2) nas práticas produtivas agroecológicas, seja nas roças, cujo principal produto é a mandioca, seja nos quintais, onde foi observada uma grande diversidade de frutos, ervas, hortaliças e criação de pequenos animais; e (3) no beneficiamento dos produtos, com a implementação de boas práticas na produção artesanal da farinha, e no beneficiamento de frutas, com produção de doces, geleias, compotas, conservas e licores.

Verificou-se, entretanto, durante as reuniões com a comunidade para a consolidação das associações e dos produtos da referida Reserva, a necessidade de um trabalho para construir a identidade visual da unidade. Nesse sentido, aproveitando a aproximação já realizada anteriormente com o IFMA, foi estabelecida uma interlocução entre o ICMBio e a Coordenação do curso de Comunicação Visual deste instituto, desta vez com o Departamento Acadêmico de Desenho do Campus Monte Castelo, por meio da qual se estabeleceu uma parceria para o desenvolver da proposta através de um projeto de extensão (PROEXT/IFMA/2018). Este projeto, que envolveu docentes e discentes do IFMA além de um analista do ICMBio e a própria comunidade, teve como objetivo estudar formas para a construção da identidade visual e das etiquetas para os diversos produtos da unidade, com a participação ativa dos agentes locais na execução deste trabalho por meio de metodologias de co-criação, colaboração e de diálogo horizontal, respeitando as especificidades locais, condizente com o trabalho de gestão participatinha que já vinha sendo desenvolvido pelo ICMBio.

2 DESIGN E EXTENSÃO: DIFUNDIR, DEMOCRATIZAR, DESCENTRALIZAR

O design, na atualidade, como atividade projetual, ocupa um lugar de, a partir de variáveis, solucionador de problemas propostos. Nem sempre, porém, o design seguiu essa lógica. No modus

operandi do ofício do design na era industrial, a prática profissional compunha uma estrutura que tinha

por objetivo lançar produtos ao mercado, numa proporção cada vez maior, sem uma preocupação concreta com as reais necessidades das pessoas para as quais projetava (Ponte et al., 2014), visando

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p.89933-89946, nov. 2020. ISSN 2525-8761 unicamente o lucro. Este caminho levava o design a incorrer em danos ao meio ambiente, produto da criação em grande escala de artefatos consumidos também em massa, época que Cardoso (2011, p. 15) caracteriza como a “infância da sociedade de consumo”. Uma das primeiras iniciativas em repensar o design no âmbito dos problemas sociais e ambientais veio de Victor Papanek (2000) e sua obra Design para o Mundo Real, publicada originalmente em 1971, que serviu de impulso à outra forma de pensar o design, menos na lógica da indústria e do mercado e mais do ponto de vista das necessidades das pessoas, agregando ainda a preocupação ambiental.

Outra característica imposta pela produção de produtos em massa na era industrial era o fato de que as pessoas não figuravam como protagonistas de suas próprias necessidades e, ávidas pela novidade dos produtos industriais, na primeira década do século XX (Ponte et al., 2014), consumiam tudo o que se lhes lançava. Como projetar para o ser humano sem considerar as questões inerentes a ele? Somente mais tarde, tendo a saturação do mercado como um dos motivos, é que se pode refletir sobre essa indagação e buscar caminhos para mudar os paradigmas estabelecidos até então.

O design vem ampliando a discussão sobre seu foco projetual ao longo do tempo. Seu escopo vem evoluindo e apresentando, na contemporaneidade, uma variedade de conceitos, interpretações e abordagens cujos objetivos se direcionam aos mais diversos fins, fazendo com que este se dissemine, alcançando novos âmbitos. Nesse contexto, há inúmeras nomenclaturas para abordagens e práticas que possuem como pano de fundo a ideia central transmitida pelo design com uma preocupação socioambiental. Vejamos algumas compiladas por Almendra & Veiga (2013): Projeto para a Base / Fundo da Pirâmide (Bop); Projeto humanitário; Design como ajuda ao desenvolvimento; Design Socialmente Responsável / Socialmente Responsivo; Design para o bem social; Design para Mudança Social; Design para Impacto Social; Design para Inovação Social; Design para Inovação Social e Sustentabilidade; Projeto socioeconômico ambiental; Design útil; Design de Transformação; Design para o bem público.

As abordagens metodológicas surgidas a partir de então, e que refletem a importância da inclusão das pessoas no processo numa visão mais horizontalizada de atuar e deslocando o designer de uma posição de centralidade, têm ocupado cada vez mais as formas de fazer design. Essas novas formas de pensar o campo de atuação do designer têm valorizado e incluído não só as pessoas para quais os projetos se destinam, mas todas aquelas interessadas pelo projeto e envolvidas no processo. Essas abordagens metodológicas enfatizam a importância da participação dos sujeitos não somente como informantes, mas como atores ativos no processo e buscam métodos, técnicas e ferramentas para

garantir essa participação.

Pautado pelo desafio de desenvolver soluções que exijam uma visão ampla do projeto, a participação dos agentes locais é essencial para o desenvolvimento de uma ação integrada que gere os resultados esperados por quem os expecta. Desta forma, destacamos os conceitos de Design Social e

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p.89933-89946, nov. 2020. ISSN 2525-8761 Participativo. O Design Social, de acordo com Löbach (2001) e SILVA (2009) trata-se de uma questão ética e social orientada pelos problemas da sociedade e tem como meta a melhoria das condições de vida de determinados grupos, colocando os problemas do usuário como centro das atenções no projeto, respeitando o meio ambiente, a cultura como valor agregado e privilegiando a produção local. O Design Participativo potencializa as reflexões de Design Social. Nele são levadas em consideração as relações entre os agentes locais e os designers que, no contexto desse trabalho, atuam como facilitadores no processo de busca de soluções para as demandas da comunidade, estabelecendo um diálogo que levou em consideração seus conhecimentos, capacidades, desejos e necessidades.

O Design participativo é uma abordagem relativamente recente na história do design que busca o envolvimento das pessoas no processo de projeto. Essa abordagem toca na questão da responsabilidade social do design que passa a enxergar as pessoas como indivíduos com anseios e necessidades, como sujeitos e não meramente consumidores de um produto pensado, à revelia, pelo designer.

Segundo Binder et. al. (2011, p. 162), o design participativo remete a movimentos em direção à democratização do trabalho nos países escandinavos nos anos 1970, em que a participação e a tomada de decisão conjunta tornaram-se fatores preponderantes no mundo do trabalho e no advento das novas tecnologias. “O design participativo partiu do ponto de vista simples de que aqueles afetados por um design deveriam ter voz no processo de design” (Binder et al. 2011, p. 162).

Algumas iniciativas e certos designers passaram, portanto, de uma posição de “projetar para” à uma posição de “projetar com”. No âmbito da responsabilidade social do designer, o Design participativo passou a prezar o envolvimento ativo de todas as partes interessadas no processo de design, cuidando para que essa participação seja justa e significativa, pois só será efetiva se as pessoas as quais os produtos e/ou processos se destinam, tiverem poder decisório nas decisões de projeto.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p.89933-89946, nov. 2020. ISSN 2525-8761 O Design participativo é uma abordagem que aparece com frequência na prática dos métodos citados anteriormente, pois entende não ser possível projetar para pessoas sem sua participação. Há diversos níveis possíveis de envolvimento das pessoas nos projetos, desde uma simples consulta à participação real e efetiva na concepção e execução dos projetos. Arnstain (1969) descreve esses níveis de participação comunitária como mostra a figura 08.

Fig. 03 Degraus de participação, baseado em Arnstein (1969)

Relacionada a atividade projetual, Krucken (2009, p.42) afirma o design evoca um conjunto de significados que são: identificar, compreender, traduzir, comunicar, projetar, criar e visualizar. Esse conjunto de significados se refere à mediação de dimensões imateriais (imagens e ideias) com materiais (artefatos físicos). Sendo assim, o design tem suscitado provocações sobre formas de pensar e agir quando o foco é produzir essas mediações nas trocas sociais.

O autor Ezio Manzini (2008) reforça a importância do designer como agente facilitador da inovação social, através de sua aproximação com os problemas reais do usuário e em contato com os agentes locais. O termo inovação social, segundo Manzini (2008), refere-se a mudanças no modo como indivíduos ou comunidades agem para resolver seus problemas ou criar oportunidades e são guiadas mais por mudanças de comportamento do que por mudanças tecnológicas ou de mercado, geralmente emergindo através de processos organizacionais “de baixo para cima” em vez daqueles “de cima para baixo”.

Ainda segundo Manzini (2008), a inovação social deve encontrar energia dentro das iniciativas locais e o papel do designer é o de construir uma ponte entre as condições internas e as condições externas da mudança para criar experiências que mostrem conhecimentos e possibilidades inovadoras, um papel estratégico na busca deste novo cenário social. Essa ‘ponte’ citada por Manzini pode ser realizada através do design participativo, que neste contexto se configura como estratégia para

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p.89933-89946, nov. 2020. ISSN 2525-8761 alcançar a solução de um problema comum à determinada situação. Através do design participativo todos os envolvidos agem de forma horizontal, onde o conhecimento técnico do designer une-se aos conhecimentos tácitos dos indivíduos ou comunidades locais. Com essa convergência de conhecimentos, empreendemos encontrar as melhores soluções aos problemas estabelecidos.

Na construção de um processo participativo coerente, Costa (2009) afirma que é preciso estar em sincronia com os três principais pilares do Design Social. Primeiro é manter o foco no cidadão, seja ele participante do processo produtivo ou influenciador/influenciado pelos resultados deste processo. Segundo é incluir os principais agentes sociais desse processo nas tomadas de decisões, a fim de compartilhar responsabilidades e benefícios. E, por último, ter como objetivo a inclusão dos agentes sociais envolvidos, seja inclusão social, econômica ou produtivamente.

Uma das possibilidades de aplicação destes conceitos de Design Social e Participativo está na aproximação e mediação em grupos de base comunitária. Neste projeto Design para Todxs, trabalhamos junto com a comunidade da RESEX Quilombo do Frechal com a resolução de problemas e criação de oportunidades através do desenvolvimento de materiais gráficos e de comunicação visual com a comunidade.

Um projeto de extensão no design como este aqui narrado, possibilita o rompimento das barreiras da sala de aula, proporcionando aos alunos uma vivência prática com fins reais de implementação. Possibilita atender demandar de design em comunidades. Possibilita, ainda, a ampliação do campo de atuação da docência, estimulando novos olhares e novas percepções nas relações de ensino e aprendizagem.

3 DESIGN PARA TODXS

Design para Todxs1 é um projeto contemplado em editais da Pró-Reitoria de Extensão do Instituto Federal do Maranhão, campus São Luís Monte Castelo, uma escola pública de nível técnico. O projeto se encontra na terceira fase de execução e sua primeira fase é narrada neste texto. Umas das intenções do projeto foi compreender, com o conhecimento de discentes, docentes e da própria comunidade, as possíveis formas de atuar pelo design, executando projetos de maneira a contemplar seus desejos e necessidades, em uma abordagem participativa. Na primeira fase, o projeto desenvolvido foi a identidade visual da unidade de conservação e suas peças gráficas além das etiquetas de produtos artesanais lá produzidos.

De posse da demanda, a equipe se reuniu para estudar o universo de atuação bem como planejar as ações preliminares. A partir da mediação do gestor da RESEX, a equipe se deslocou para as comunidades com objetivo de realizar o campo e as oficinas participativas. Foram realizadas visitas

1 Uma matéria sobre o projeto foi publicada na Revista Inovação da FAPEMA, edição 39/2020 e pode ser acessada em <

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p.89933-89946, nov. 2020. ISSN 2525-8761 guiadas pelos moradores nas comunidades no que se pode conhecer os ambientes naturais – como o Rio Uru - e construídos, como o museu onde são expostos os registros fotográficos das comunidades, as escolas e o casarão – elemento símbolo de conquista e resistência das comunidades por ter sido a casa dos donos da terra no passado e ser, hoje, um espaço para atividades sócio-educativas e culturais das comunidades, cuja imagem é difundida no Brasil e no mundo, segundo a observação de uma das moradoras. Foi possível, também, realizar registros audiovisuais e, ainda, vivenciar as práticas locais tais como a feitura da farinha de mandioca numa das casas de farinha.

Os participantes das oficinas foram convocados pelos líderes comunitários de cada localidade. Com a impossibilidade de reunião das três comunidades em um só local, dadas grandes dimensões da RESEX e a dificuldade de deslocamento do público, foi necessário a realização de três oficinas, uma em cada comunidade. As oficinas se pautaram num processo de escuta ativa. Iniciaram com as falas dos líderes sobre o histórico da comunidade, sobre saberes, fazeres e necessidades no âmbito do Design. Em seguida houve a apresentação pessoal de todos, incluindo os membros da equipe do projeto. Para iniciar as atividades da oficina, os participantes locais foram convidados e caracterizar a RESEX. Durante esses encontros pudemos melhor entender a formação da reserva e a organização das três comunidades que a compõem: Rumo, Deserto e Frechal.

Fig. 04. Reuniões realizadas nas comunidades de Frechal, Rumo e Deserto, os autores (2020)

As falas demonstraram fortemente os elementos históricos, culturais, das relações sociais além das questões ambientais, no que se pôde destacar conceitos representados na fig. 05 que se conectam. Em

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p.89933-89946, nov. 2020. ISSN 2525-8761 depoimento, o líder da comunidade de Frechal afirmou que “Resistência é o sentimento da nossa comunidade pelos nossos antepassados que foram escravizados”.

Fig. 05 Mapa de conceitos levantados a partir das falas, os autores (2020)

Em um segundo momento, os participantes foram convidados a falar sobre as necessidades específicas da área do design e quais seriam os objetivos aplicáveis a elas, no que se pode coletar os seguintes depoimentos destes agentes:

A1 - A marca, depois da qualidade, é o que mais incentiva o público a comprar.

A2 - É algo que a gente sempre quis. A gente sente falta da nossa marca nos nossos produtos.

A3 - As vezes a gente escolhe um feijão no mercado, não sabe nem de onde vem. Compra as

vezes não pelo produto, mas pela embalagem. É mais fácil a gente comprar esse feijão do mercado do que o nosso que não tem nenhum agrotóxico. Embalagem é um diferencial. Quem compra quer saber como o produto é feito, a data de validade.

Durante essa etapa, foram discutidos como o projeto da identidade visual e das etiquetas das embalagens poderiam auxiliar na difusão da mensagem daqueles produtos, sobre serem produzidos numa situação de unidade de conservação, além de valorizar o agente que desenvolve e reproduz sua cultura a partir da sociobiodiversidade local. Sobre como, ainda, servem de suporte para a mensagem da história do local cujo acesso e a conquista do território são resultado de anos de luta e resistência da comunidade quilombola.

Num terceiro e último momento, os participantes foram convidados a falar sobre como a RESEX poderia ser representada. Quais elementos e símbolos eram importantes e como isso poderia ser traduzido em imagens. O grande desafio de todo grupo era contemplar as três comunidades numa só identidade visual, o que foi alcançado graças a participação ativa de todos. As intervenções se deram principalmente por meio da fala, mas algumas de forma imagética. O resultado dessa atividade é demonstrado na figura 06.

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Fig. 06 – esquema de representações de elementos e simbólicas da RESEX Quilombo Frechal, os autores (2020)

Na finalização foram feitas as considerações finais e estabelecidos os acordos relativos aos prazos: as propostas seriam realizadas no Campus do IFMA e a equipe retornaria após três meses para a apresentação do projeto. Neste momento algumas falas foram feitas pela comunidade no sentido de observar que muitas promessas de projeto chegam até eles, mas não se cumprem, o que nos fez refletir sobre nossa própria responsabilidade.

De posse das informações apreendidas durante o campo, a equipe trabalhou na identidade visual assim como viabilizou soluções para as etiquetas das embalagens.

Após estudos, chegamos ao resultado final da identidade visual contemplando a simbologia trazida pelos moradores (fig. 07). Optamos por escrever nominalmente cada comunidade de modo a que todas fossem contempladas na identidade visual, solicitação feita pelos moradores das três localidades. Essa identidade visual foi aplicada, posteriormente, em diversas peças gráficas tais como camisetas, banners e sinalização na comunidade (fig. 08). Três meses depois a equipe retornou à Rumo, Deserto e Frechal, apresentando os resultados nas três comunidades bem como montando as etiquetas nos produtos junto com os produtores.

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Fig. 08 – Peças projetadas a partir da marca, os autores (2020)

No que se refere às etiquetas dos produtos, elas deveriam cumprir com requisitos básicos segundo normas, trazer informações sobre a comunidade e quem produziu bem como deveriam se materializar por meio de soluções sustentáveis (ambientalmente corretas e economicamente viáveis), aproveitando os recursos locais. De forma a facilitar a produção destas etiquetas e torná-las sustentáveis, a equipe, através de estudos, optou pela produção de um carimbo que pudesse ser usado pelos próprios moradores para produzi-las, o que também influenciou a construção da marca, optando por traços simples e desenho objetivo. Para tanto, projetamos dois carimbos (com informações fixas e espaços para as informações variáveis a serem preenchidas à mão pelos próprios produtores) para a frente e o verso da etiqueta. Os carimbos foram entregues às comunidades juntamente com um cortador de papel portátil no formato da etiqueta. Cada comunidade recebeu 2 carimbos e 1 cortador. A etiqueta era adaptável às embalagens por eles usadas (frascos de vidro reaproveitados) e presa com fibra de buriti (elemento disponível no local), conforme figura 09.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p.89933-89946, nov. 2020. ISSN 2525-8761 Durante as visitas realizadas na RESEX foram levantadas outras demandas na área do design pela comunidade que foram recebidas pela equipe com a promessa de tentativas de articulações futuras no intuito de trazer outras ações de design para a RESEX. Algumas destas demandas foram atendidas na etapa 02, outras estão sendo atendidas durante a etapa 03 em vigência, também por meio da extensão.

Empreendemos, por meio do processo participativo, que ocorresse um fortalecimento da organização comunitária, propiciando maior difusão de seus produtos no mercado e maior valor agregado pela efetiva ligação da marca aos valores culturais e da sociobiodiversidade a ela associados.

A experiência do Projeto Design para Todxs é uma iniciativa que busca ser perene, visando ser replicada em outras comunidades, proporcionando uma troca rica para todos os envolvidos no projeto. O projeto Design para Todxs busca continuar sua atuação atendendo a outras demandas, promovendo assim o atendimento, pelo design, à setores sociais geralmente inalcançados pelo design.

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REFERÊNCIAS

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Association, 35: 4, 216 – 224

Binder, T. et al., (2011) Design Things. Cambridge, Ma, London: Mit Press.

Cardoso, R. (2012). Design para um mundo complexo. São Paulo: Cosac Naify

Costa, M. B. Contribuições do design social: como o design pode atuar para o desenvolvimento econômico de comunidades produtivas de baixa renda. Anais eletrônicos... II Simpósio Brasileiro de Design Sustentável, 2009, ANHEMBI, São Paulo. Disponível em: <http://portal.anhembi.br/sbds/anais/SBDS2009-010.pdf>. Acesso em 30 de março de 2018.

Krucken, L. Design e território: valorização de identidades e produtos locais. São Paulo: Studio Nobel, 2009.

Lobach, B. (2001). Design industrial: bases para a configuração dos produtos industriais. São Paulo: blucher

Manzini, E; Vezzoli, C. (2002). O desenvolvimento de produtos sustentáveis: os requisitos ambientais

dos produtos industriais. São Paulo: Edusp.

Moggridge, B. (2007). Designing Interactions. 1st ed. Cambridge, Massachusetts: The MIT Press Papanek, V. (2000). Design for the real wolrd:human ecology and social change. Chicago: Academy Chicago Publishers (Obra original publicada em 1971).

Ponte, R., Martins, M., & Niemeyer, L. (2014, junho). Design Antrhopology e o processo de design: experiência e cocriação no projeto, produção e uso. Arcos Design, V. 8 N. 1, 20-35.

Imagem

Fig. 01. Mapa de localização da RESEX, os autores (2020)
Fig. 02 Participação das pessoas nos projetos, Os autores (2020)
Fig. 03 Degraus de participação, baseado em Arnstein (1969)
Fig. 05 Mapa de conceitos levantados a partir das falas, os autores (2020)
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