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Empresários, capital privado e partidos políticos. A política como investimento sob o modelo de partido-empresa de negócios na europa central pós 1989

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modelo de partido-empresa de negóciosna

europa central pós 1989

Resumo

Nosso artigo discute o modelo de Partido-empresa de negócios na Europa Central pós 1989. Abordamos os casos apresentados por dois dos mais novos e eleitoralmente mais bem-sucedidos partidos políticos da República Tcheca, o Veci Verejné (Assuntos Públicos) e o ANO2011 (SIM2011), ambos entendidos como resultados do nível de desilusão política do eleitorado tcheco com os partidos políticos tradicionais, envolvidos em graves escândalos de corrupção. Procedemos a uma análise documental que buscou contrastar suas genealogias com suas atuações no parlamento. Conclui-se que o modelo mais se aproxima de uma estratégia encontrada por grupos empresariais de realizarem seus negócios privados no parlamento, através do viés direto e legítimo que uma organização político-partidária pode fornecer.

Palavras-chave

Partidos Políticos; Corrupção; Partido-empresa de Negócios

Flávio Rodrigues Barbosa Doutor em Ciência Política pela UFJF (f.rodriguesbarbosa@gmail.com)

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Abstract

Our paper discusses the business-fi rm party model in Central Europe after 1989. We address the cases presented by two of the Czech Republic’s most recent and most successful political parties, the Veci Verejné (Public Affairs) and the ANO2011 (YES2011), both understood as a result of the level of political disillusionment of the Czech electorate with the traditional political parties, involved in serious corruption scandals. We proceeded to a documentary analysis that contrasted his genealogies with his performances in the parliament. We conclude that such a model is closer to a strategy found by business groups to conduct their private business in parliament, under a direct and legitimate bias that a political-partisan organization can provide. Keywords

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1. A Emergência do modelo de

Partido-empresa de Negócios (Business-fi rm

Party) pelos seus primeiros identifi cadores

No fi m do século XX, um novo e poderoso ator político emerge na Itália, capacitado de força sufi ciente para infl uenciar e modifi car profundamente as estratégias de campanhas eleitorais, as formas de organização dos partidos e a maneira como a política e os interesses privados interagem na sociedade. Esse novo tipo de organização partidária, identifi cado como Business-fi rm Party, e tratado por nós como Partido-Empresa de Negócios, foi introduzido na literatura por Hopkine Paolucci (1999) desde sua ascensão política, através da análise de caso de dois específi cos partidos políticos: Unión de Centro Democrático (UCD), na Espanha, sob liderança de Adolfo Suárez; e do Forza Italia (FI), sob liderança de Silvio Berlusconi, na Itália. A inclusão da UCD como um protótipo de partido-empresa de negócios é controversa e, portanto, vamos nos ater nesse espaço apenas ao modelo de Berlusconi. O mesmo parece ter seguido Paolucci (2006), quando passou a focar suas análises apenas no partido do empresário italiano.

A primeira observação é de que o FI não surgiu como expressão política de qualquer grupo social que pudesse facilmente ser identifi cados com o partido. O Forza Italia, emerge em uma situação de colapso político, após o fi m da aliança democrata-cristã-socialista. No início da década de 1990, as investigações da “Operação Mãos Limpas”, na Itália, desacreditaram os partidos políticos tradicionais, deixando muitos eleitores conservadores, ou, pelo menos anticomunistas, em um estado de “confusão” (Hopkin e Paolucci, 1999). Berlusconi e o FI emergiram como o objetivo de garantir que a esquerda italiana não seria o benefi ciário imediato do colapso da

aliança democrata-cristã-socialista, a qual assegurava a continuidade básica no governo italiano desde 1960.

A ascensão de Berlusconi, como empresário político, em parte se explica pelo conjunto de oportunidades abertas com o colapso político italiano. Havia um grande terreno favorável para a emergência de um novo partido conservador “não viciado” e envolvido pelo sistema Pentapartito, “que pudesse oferecer mudanças políticas e uma renovação com a garantia de que privilégios existentes seriam protegidos” (Hopkin e Paolucci, 1999, p. 321). A entrada de Berlusconi na política também foi um ato intencional, de forma a corresponder poderosos motivos particulares. Nesse período, Berlusconi enfrentava uma grave crise com grandes dívidas. Como é sabido, a construção de seu império empresarial Fininvest, e em particular seu domínio da televisão comercial, através da Mediaset, se fez “graças ao uso efi caz de contatos políticos de alto nível, tais como sua estreita amizade com Bettino Craxi, do PSI, agora fora do cenário” (McCarthy, 1996 apud. Hopkin e Paolucci, 1999, p. 321). Muito se falava de que um governo de esquerda iria tomar medidas para reduzir seu controle monopolista de televisão comercial. Assim, desde o início, o FI era um instrumento pessoal de seu fundador, criado para um efeito privado específi co: “ganhar as eleições para evitar uma esquerda hostil que pudesse pôr em risco o próprio império econômico de Berlusconi” (Hopkin e Paolucci, 1999, p. 321).

Conforme observado em Hopkin e Paolucci (1999), o FI não tinha a intenção inicial de se apresentar como um partido político. Intencionava-se como um grupo de pressão destinado a selecionar e patrocinar campanhas eleitorais de uma equipe de candidatos neoliberais, que seriam oferecidos como um “pacote”

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para políticos de centro que sobreviveram as investigações da “Operação Mãos Limpas”, no mesmo estilo de outros pacotes fi nanceiros ou de publicidade que a Fininvest oferecia a seus clientes. Somente após uma série de negociações sem sucesso com os grupos de centro, entre dezembro de 1993 e janeiro de 1994, que Berlusconi decide entrar pessoalmente na política, fundando ofi cialmente o partido em 18 de janeiro de 1994, 60 dias antes das eleições.

O uso de modernas técnicas de comunicação de massa, a manipulação da informação política e dos serviços de notícias, o recrutamento de fi guras de entretenimento com grande popularidade e a publicidade televisiva em comerciais nos canais de televisão de propriedade de Berlusconi, foram fundamentais para o sucesso eleitoral do FI:

A capacidade da televisão, para projetar efi cazmente um custo da imagem da liderança carismática nas casas da grande maioria dos eleitores, reduz a necessidade de uma adesão em massa para angariar adeptos com tradicionais métodos de trabalho intensivo. A internalização efi caz dos programas de televisão na própria estrutura do partido leva essa tendência a um passo adiante. No FI, a busca de apoio foi quase inteiramente realizada nas televisões, quer de propriedade de Berlusconi, ou ligados a Fininvest através de contratos de negócios. No nível local, foi oferecido programas gratuitos a uma centena de estações de TV ligadas a Fininvest em troca de tempo livre para a propaganda política. À nível nacional, o FI passou de 80% do seu orçamento de publicidade nos três canais da Fininvest. O líder da coligação adversária, Occhetto, recebeu apenas 25% do tempo de antena dedicado a Berlusconi nos canais da Fininvest (Morlino, 1996,p. 12 apud. Hopkin e Paolucci, 1999, p.326).

Dessa forma, o FI emerge desde seu início com características de uma empresa de negócios. Outra estratégia se encontrou na opção por não aderir a um

posicionamento ideológico e, até mesmo discursando contra tal posicionamento, associando tal prática aos ultrapassados e falidos partidos políticos tradicionais (Hopkin e Paolucci, 1999).Nesse caso, o vazio ideológico, levado ao extremo, acabou por desorientar a organização interna do partido e tornou qualquer ação coletiva coerente impossível.

De acordo com Hopkin e Paolucci (1999) e Paolucci (2006) a falta de orientação ideológica do partido-empresa de negócios e sua ânsia em atrair o apoio superfi cial de amplos setores da sociedade, exige o risco de que tal partido possa ter difi culdades em defi nir objetivos coerentes para a ação política, especialmente se ele tem responsabilidades governamentais. A falta de programas ideologicamente construídos e uma base social de identifi cação, indica que a lógica prevalecente, perseguida pelo FI, foi puramente o da competição e vitória eleitoral e não a da representação política. O vazio ideológico foi preenchido com a exploração de uma imagem heroica de seu líder, através do uso de modernas estratégias de marketing e propagandas nos canais de Tv. Assim, o FI aproveitou o momento de grave crise política na Itália para apresentar Berlusconi como um legítimo representante do “Il nuovo” (Hopkin e Paolucci, 1999, p.325). Em outras palavras, um novo homem não manchado pela corrupção e inefi ciência dos governos anteriores. Às críticas que recebia, Berlusconi as rebatia acusando-as de serem oriundas às “velhas formas de fazer política” (Hopkin e Paolucci, 1999, p. 325). Dessa forma:

Berlusconi foi apresentado como um “líder natural”, um indivíduo que tinha alcançado sucesso como o portador de qualidades pessoais especiais, que foram apresentadas como as mais adequadas para atingir a missão que ele mesmo tinha acusado de, ou seja, a realização de um “novo milagre italiano (Hopkin e Paolucci, 1999, p. 328).

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A liderança autoritária e uma base social imprecisa dos partidos-empresa de negócios levantam questões importantes sobre seu papel elaborador de políticas governamentais. No caso do Forza Italia, nota-se uma completa ausência de uma ideologia ofi cial do partido ou um conjunto coerente de relações sociais que possam orientar o envolvimento da organização nas formulações de políticas públicas, com as políticas e os programas sendo infl uenciados e elaborados por resultados de pesquisas de opinião pública e “pesquisas de mercado político” (Hopkin e Paolucci, 1999, p. 334). De certa forma, isso também se observa com força nos partidos tradicionais que adotam estratégias “catch-all” de competição eleitoral. A diferença é que os partidos tradicionais ainda sofrem certas limitações, devido a necessidade de respeito a sua ideologia formal e suas relações com as bases eleitorais do partido. Nesse ponto, o partido-empresa de negócios não sofre qualquer restrição de tal tipo, não havendo qualquer barreira importante que limite suas mensagens política, modelando-as “de acordo com os caprichos da opinião pública” (Hopkin e Paolucci, 1999, p. 334).

Hopkin e Paolucci (1999) e Paolucci (2006) observam que embora partidos com características tradicionais de uma sociedade de massas ainda sejam dominantes na Europa e no ocidente, há evidências que sugerem que as condições nas democracias ocidentais contemporâneas caminham de forma desfavorável para o estabelecimento de formas de partidos políticos nos moldes tradicionais. As consequências trazidas pelo partido-empresa de negócios são muito mais de longo alcance, e “tal modelo tende a minar a institucionalização dos partidos e sistemas partidários, sendo uma questão mais grave para os partidos recém-criados em novas democracias” (Hopkin e Paolucci,

1999, p. 336). Por fi m, os autores argumentam sobre a probabilidade de testemunho da criação de novos partidos-empresa de negócios para o caso da turbulenta experiência italiana no sistema partidário for estendida para outras democracias ocidentais. A previsão dos autores se tornou certeira, com novos tipos de partidos-empresa de negócios emergindo com sucesso na Europa Central pós 1989 (Barbosa, 2016).

1.1

Uma Teoria do modelo de

Partido-empresa de Negócios

O Business-fi rm Party vem sendo interpretado como um tipo “extremo do modelo catch-all em sua versão eleitoral-profi ssional” (Paolucci, 2006, p. 1). Uma das primeiras grandes características é que a imagem do partido se confunde com a de seu líder e fundador, geralmente um rico empresário ou uma destacada fi gura de negócios que alcança grande expressão nacional e opta por fundar um novo partido político, se tratando também de uma organização patrimonial, dirigida e controlada autocraticamente por seu líder e fundador, cujo objetivo é o ganho de poder político para este.

A fi gura do empresário político não é uma novidade exclusiva do modelo de partido-empresa de negócios. Michels (1982), Weber (1996) e Schumpeter (1976) já haviam exposto em suas obras o quanto os partidos políticos podem servir a interesses privados de empresários. A novidade, na abordagem de Hopkin e Paolucci (1999) e Paolucci (2006), reside no fato de que o empresário, aqui, se oferece para coordenar e liderar o grupo latente em troca de um elemento de “lucro” privado, entendido como o prestígio e as vantagens materiais trazidas pela ocupação de um cargo público. De acordo com os autores:

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O partido político deixa de ser uma organização voluntária com objetivos essencialmente sociais para se tornar uma espécie de empresa de negócios, onde os bens públicos produzidos são incidentais para os verdadeiros objetivos, fazendo da política, na terminologia de Olson, um subproduto (Hopkin e Paolucci, 1999 p.311).

O partido-empresa de negócios é literalmente uma propriedade de seu líder, sendo construído e (re) adaptado em torno de sua personalidade e interesses específi cos, servindo como seu instrumento político pessoal1, com a patronagem se apresentando como

uma de suas principais características. Critérios de fi liação partidária são irrelevantes e todas as posições de poder são uma emanação direta de uma relação pessoal com o líder e fundador do partido. O líder centraliza em sua fi gura questões e decisões como programas, estratégias e alianças políticas. Esses critérios acabam infl uenciando profundamente a estrutura organizacional do partido e criam graves problemas para sua institucionalização, uma vez que um partido de tipo patrimonialista e altamente personalizado, como no modelo Business-fi rm party, encontra em toda sua estrutura organizacional uma relação direta de dependência com seu líder.

O desenho organizacional do partido é pessoalmente supervisionado por seu líder e fundador. A estrutura organizacional conta com uma estrutura profi ssional tecnocrática, composta em sua maior parte por um corpo de profi ssionais, os quais podem ter origem em uma de suas empresas pessoais2

. Isso garante que toda estratégia organizacional esteja voltada para a promoção de seus interesses próprios,

1 Recomendamos ver a trajetória mais completa de Suárez e Berlus-coni nos trabalhos de Hopkin e Paolucci (1999) e Paolucci (2006). 2 Ver em Hopkin e Paolucci (1999) e Paolucci (2006) e como Berlusconi organizou a estrutura burocrática do Forza Italia, com funcionários de sua empresa Finninvest.

assim como a manutenção de sua estrutura de atuação centralizada. Dessa forma, o partido representa apenas uma maneira legítima para entrar e competir em um contexto democrático. A tarefa de escolha dos membros do partido também se encontra centralizado nas mãos do líder fundador e segue os mesmos critérios de contratações realizados com o corpo de especialistas, sendo um recrutamento “personalizado e que necessita da confi rmação de uma relação ou indicação pessoal com o proprietário do partido” (Paolucci, 2006, p. 10). Após o recrutamento, os membros são distribuídos na composição hierárquica do partido de acordo com as indicações do líder. Níveis de organizações centrais existem de maneira formal e com atuação irrelevante, cabendo todas as decisões ao líder e seu círculo composto por funcionários diretamente indicados e amigos de confi ança (Hopkin e Paolucci, 1999; Paolucci, 2006).

Há dois fatores líquidos do partido-empresa de negócios intimamente ligados com a baixa ou ausência de institucionalização que merecem menção. O primeiro é que estes possuem estatutos precários, levando a sua desintegração sempre que as circunstâncias do jogo mudam. O segundo é que os laços de lealdade convergem sempre para o líder ao invés de priorizar a organização3. O caráter

patrimonialista também exerce uma profunda infl uência sobre a natureza eleitoral do partido. As políticas oferecidas são entendidas e trabalhadas como produtos ofertados para um mercado de eleitores, entendidos como consumidores de propostas e projetos políticos. Paolucci (2006) observa que os

3 Sobre lealdade e liquidez, é interessante notar, em Hopkin e Paolucci (1999), como os confl itos originados internamente na UCD após sua institucionalização, inevitavelmente criaram condições crescentes de oposição interna a seu líder e fundador e como a lealdade à fi gura de Suárez levaria ao fi m do partido.

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partidos-empresas de negócios parecem subprodutos empíricos dos modelos de partidos políticos encontrados nas teorias da escolha racional:

Nada mais são do que subprodutos da competição entre sedentos por poder e políticos oportunistas, uma vez que tal tipo de partido não mostra qualquer interesse real na integração de identidades coletivas e grupos sociais no sistema político, nem na seleção de uma classe política. Ele formula programas só para vencer as eleições, em vez de participar nas eleições, de modo apenas a obter um mandato para levar a cabo o seu programa (Paolucci, 2006, p. 7).

Embora o centralismo seja o atributo organizacional fundamental do caráter de empresa desse modelo, há de se ressaltar outras características com o mesmo caráter, a qual reside na forma como o partido é administrado, com gestores, administradores e especialistas, também oriundos das empresas particulares dos chefes dos partidos, trabalhando neste como terceirizados (Paolucci, 2006). Nesse modelo de organização político-partidária, não é comum existir prazo para tomada de decisões para os órgãos internos. Os gestores atuantes nos partidos-empresas de negócios (os administradores pessoais do líder) têm a liberdade de realizar reuniões informais e não ofi ciais diretamente com o líder e proprietário do partido.

O Carisma tem sido entendido, nesse modelo, como um complemento útil e natural para a centralidade do líder, tanto em fatores externos quanto internos (Paolucci, 2006; Olteanue Néve, 2014). Empresas são contratadas para trabalhar com estratégias de propaganda e marketing, consultoria e na imagem do líder do partido nas diversas mídias, campanhas e programas eleitorais. A diferença reside na forma como a relação político e eleitor é tratado:

Em uma época caracterizada pela difusão dos meios de comunicação, como aquele em

que o catch-all fl oresce, um líder carismático tem mais chances de ter sucesso chegando ao eleitorado através da televisão e da mídia (Paolucci, 2006, p.5).

Observa-se, assim, mais um exemplo de ação do modelo em um segmento mercadológico de escolhas racionais, onde o político e suas propostas são trabalhados na lógica de um produtor dotado de grande empreendedorismo que oferece políticas em grande demanda num mercado de eleitores desejosos por novidades. Isso acaba ganhando reforço na retórica eleitoral, quando o líder enfatiza suas qualidades de empresário bem-sucedido e adota o discurso da gestão efi ciente e comportamento gerencial competente, os quais devem ser implantados na gestão pública do país.

2. O partido-empresa de negócios na

república tcheca pós 1989

Em nossas pesquisas sobre novos e bem-sucedidos partidos políticos na Europa Central pós 19894, nos deparamos com organizações fundadas

e dominadas por poderosos estratos empresariais, tais como os partidos tchecos Veci Verejné (Assuntos Públicos) e ANO2011 (SIM2011). O estudo aprofundado dessas organizações nos levou a identifi cá-los sob a confi guração de Business-fi rm party. Dos dois partidos citados, o ANO2011 (SIM2011) foi fundado pelo segundo maior bilionário da República Tcheca, o empresário do ramo petroquímico Andrej Babis, enquanto o Veci Verejné (Assuntos Públicos) teve sua fundação levada à cabo por um grupo de ativistas da cidade de Praga e, posteriormente,caiu

4 Para uma relação e análise completa das razões que levaram a ascensão e proliferação de novos tipos de agremiações par-tidárias nas ex-repúblicas do bloco soviético europeu, ver: Bar-bosa (2016) e BarBar-bosa (2017).

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sob domínio de um grupo de empresários liderados por Vit Bárta (proprietário da Leão Branco, a maior agência de segurança do país), cujas ações provocaram a dissidência de importantes membros fundadores do partido. Nossas conclusões, sobre o recurso a esse modelo, apontaram para que, em todos os casos de sua identifi cação, até o presente momento, o uso do partido-empresa de negócios sempre esteve atribuído a uma estratégia de captura do estado, através da captura instrumental de partidos políticos.

A captura do estado pode ser entendida como uma bem organizada atividade institucionalizada, que faz uso do funcionamento já existente das instituições estatais legítimas, se utilizando, também, de mudanças legais para alterar o desenho institucional das mesmas, de forma que estas passem a servir melhor os interesses de seus captores, sendo caracterizada pelo considerável ganho de controle sobre o Estado por poderosos atores econômicos privados, que utilizam de sua prática para fi ns de extração de vantagens particulares (Hellmann, Jones, Kaufmann e Shankerman, 2000; Hellmann, Jones e Kaufmann, 2000; Hellmann e Kaufmann, 2001). Nesse contexto, poderosas empresas privadas passam a moldar e remodelar as decisões tomadas pelo Estado à fi m de obter vantagens específi cas deste, através da imposição de barreiras anticoncorrenciais em processos de licitações públicas (monopólio e cartelização), também utilizando sua infl uência e poder para bloquear qualquer reforma política que possa eliminar as vantagens acumuladas.

A estratégia mais frequentemente, utilizada pelos agentes privados, tem sido o apoderamento de partidos políticos, fi nanciando candidatos e até mesmo a legenda em peso de um determinado partido. Essa estratégia tem sido chamada de CiPP – captura instrumental de partidos políticos (Salamanca,

2008) –, onde os partidos são capturados pelo fato de constituírem o meio institucional legítimo de acesso ao Estado. A CiPP, geralmente, comporta três estratégias de ação, as quais obedecem um prazo para que se efetive a captura, estando cada uma atrelada a um nível de exposição criminal. Dessa forma, quanto mais curto for o período para efetivação da captura, maior o perigo desta ser descoberta, e quanto maior o prazo para sua efetivação, menor o risco de sua exposição. Para fi ns do que vamos observar, através das análises dos partidos tchecos selecionados, cabe mencionar uma das estratégias mais engenhosas de CiPP à longo prazo. Conforme observou Salamanca (2008), quando abordou a relação entre o parlamento e os cartéis do narcotráfi co na Colômbia, poderosos proprietários de capital privado podem fundar um movimento social ou até mesmo um partido político, de maneira que este atue desde o início como uma agência de interesses políticos e econômicos de seus fundadores e proprietários. Dessa forma, não há, para nós, como empreender uma análise de partidos-empresas de negócios, sem cruzá-los com alguma estratégia de CiPP.

2.1. O Caso do Veci Verejné (VV – Assuntos

Públicos)

Fundado em 2001, o partido político Assuntos Públicos (Veci Verejné – VV) foi o primeiro novato a obter grande sucesso eleitoral na República Tcheca, após uma série de graves escândalos de corrupção atingirem os principais partidos do país. Em sua primeira eleição disputada, em 2010, o partido conseguiu 10.88% de votos para o parlamento, os quais que se traduzem pela obtenção de 24 das 200 cadeiras disponíveis no parlamento. Após uma ascensão

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meteórica, o Veci Verejné se retirou temporariamente da vida pública, após ver seus principais membros envolvidos em escândalos de corrupção. No entanto, seu modelo político-eleitoral seria copiado pelos dois outros bem-sucedidos partidos políticos que participaram nas eleições antecipadas de 2013, o ANO2011 (SIM2011) e ÚSVIT (Alvorecer).

O direcionamento político do Veci Verejné, e o próprio desenvolvimento do partido estão intrinsecamente ligados às lideranças que conduziram seus rumos até as eleições de 2010. No início, sob liderança de Stanislav Moravec, o partido era visto da mesma maneira com a qual se intitulavam: “um grupo de ativistas cívicos” (Musilová, 2011; Havlik, 2013 e 2014). Após a entrada ofi cial de empresários como Vit Bartá5, Kamil Jankovský6, Michal Babak7 e Lucas

Semerák8, o partido passou muitas vezes a ser tratado

pela mídia como uma “comunidade empresarial”. Ao mesmo tempo em que o Assuntos Públicos pregava transparência no fi nanciamento de campanha, a imprensa estranhava como um pequeno partido político havia conseguido recursos milionários para sua campanha eleitoral. Em uma entrevista ao jornal MF Dnes, John, Bartá, Jankovský, Babak e Semerák responderam que: “como empresários bem-sucedidos, puderam tirar do próprio bolso e doar juntos um total

5 Vit Bárta, empresário e proprietário da ABL, a maior agência de segurança e investigações particulares da República Tcheca, já ha-via se tornado o principal fi nanciador do partido anos antes de sua fi liação, se tornando pouco tempo depois o “dono” do partido. 6 Empresário no ramo de medicamentos, sendo proprietário da Phar Service. “ZA MILIONY chtějí do Sněmovny. Mecenáši, kteří fi nancují Věci veřejné”. (2010), MF Dnes, 08/02.

7 Empresário e proprietário de vários escritórios que pres-tam consultoria sobre impostos e contabilidade. MF Dnes (08/02/2010).

8 Advogado e empresário, conhecido como o magnata do setor imobiliário. MF Dnes, (08/02/2010).

de 12 milhões de coroas tchecas9”. No ano seguinte,

em 2011, após novos confl itos internos no partido, membros descontentes denunciariam que a campanha eleitoral ultrapassou a casa dos 20 milhões de coroas. Tal fato, associado com grandes confl itos internos, fez com que as lideranças fundadoras do Veci Verejné deixassem aos poucos o partido, abrindo o caminho para que Bárta e sua rede tomasse seu controle.

Vit Bárta10 entrou na política já sendo

reconhecido como um empresário bem-sucedido. No ano de 1998, ele e seu irmão, Matej Bárta, fundaram a Agentura Bileho Lva (Agência Leão Branco – ABL), que tratava de vendas e instalações de materiais de serviços de segurança e também como escritório de investigações particulares. Sua relação com o Veci Verejné (Assuntos Públicos), e possível ponto de partida de seu projeto político, teve início no ano de 2005, quando o partido ainda era presidido por Jaroslav Skarka, que após as eleições de 2010 viria a se tornar um grande desafeto do empresário. Por intermédio de amigos muito próximos e fi liados ao partido, Bárta passa a fi nanciar campanhas de candidatos do Veci Verejné através do Klub Angazovaných Podnikatelu11

(Clube dos Empresários Comprometidos12).

Assim como Berlusconi, desde o início o proprietário da ABL buscou a política como outra maneira de aumentar seus lucros e infl uência de sua

9 Ver: MF Dnes, (08/02/2010). Opus cit. Ver também: “VECI VEREJNE: technokratický program, podnikatelé v zádech” (MF Dnes, 08/02/2010).

10 Fontes: Musilová (2011), Spác (2013), Havlik e Hlousek (2014) e “Kdo je Vít Bárta? Sedá eminence VV a tvrdý séf miliardové fi rmy”. (2010), MF Dnes, 02/06.

11 Clube de empresários tchecos fundado por Vit Bárta e tam-bém composto pelo grupo de empresários citados que a ele se juntariam no Assuntos Públicos em 2010.

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empresa privada13. Uma diferença com o modelo

de partido-empresa de negócios, edifi cado pelo empresário italiano, aparece no fato de Vit Bárta ter entrado para o Assuntos Públicos anos depois de sua fundação, sendo esse elemento, assim como suas manobras para promover uma profunda transformação em sua estrutura interna – que no fi m concentrou o controle do partido em suas mãos – o fator que lhe confere uma estratégia de ação de captura instrumental de partidos políticos (Salamanca, 2008; Barbosa, 2016), o que não seria realizável sem a necessidade de capturar o Veci Verejnée reconfi gurá-lo nos moldes de um partido-empresa de negócios.

O projeto empresarial de Bárta veio à público menos de um ano depois do partido integrar a coalizão governista e o empresário assumir a pasta dos Transportes. Em oito de abril de 2011, o país amanhecia dando de cara com uma notícia bombástica que daria partida à queda política daquele que até poucos meses atrás tinha sido o mais jovem e bem-sucedido partido político da história da República Tcheca. Os jornais do país publicavam um “plano secreto” de Vít Bárta com as seguintes manchetes: “Bárta entrou para a política atrás de contratos, resulta de seu plano secreto14” (MF Dnes); “Bárta

entrou na política por causa de contratos, indica seu plano secreto15” (Tiscali); Plano Secreto: “Bárta disse

que entrou na política por causa dos contratos16

(Aktualne); “O Plano Secreto de Vit Bárta: A política

13 Fato que por várias vezes Bárta tentou negar e o levou a vender sua parte da ABL para seu irmão, durante a corrida eleitoral de 2010. 14 “Bárta šel do politiky kvůli zakázkám, vyplývá z jeho tajného plánu”. (2011), MF Dnes, 08/04.

15 “Bárta šel do politiky kvůli zakázkám, udává jeho tajný plán”. (2011), Tiscali, 08/04.

16 “Tajný plán: Bárta prý šel do politiky kvůli zakázkám”.Aktu-alne, 08/04

de contratos com o governo!17” (Nova). A publicação,

que foi ao ar com exclusividade na versão on-line do jornal Mladá Frontá Dnes (A Jovem Vanguarda Hoje – MF Dnes), na noite do dia anterior, trazia um documento extraído de uma reunião particular organizada secretamente por Vit Bárta e um grupo de altos funcionários da ABL, empresários e lobistas em um luxuoso chateau do país em 200818.

O documento assinado por Vit Bárta, intitulado “Plano Estratégico para a ABL 2009-2014”, apresentava um planejamento a ser seguido pelos gestores da empresa (e por aqueles que demonstrassem interesse no negócio ofertado). Uma relação inseparável entre política e economia foi apresentada como chave para a expansão da ABL nas seguintes palavras:

Ligando as estatísticas sobre poder econômico e poder político, confi rma-se que 40% dos contratos da UE (União Européia) para agências de segurança privada são introduzidos via setor público. Segue-se que não podemos separar o poder econômico do poder político19.

Logo em seguida, Bárta fala das necessidades de expansão da ABL em argumentos que, no fi m, denotam um claro funcionamento estratégico de captura do estado: “Nós precisamos criar o mais poderoso serviço de segurança privada no país. Temos que alcançar uma posição dominante no mercado e fortalecer nossos negócios através de uma falsa competitividade20”. Em dois tópicos, o primeiro

chamado de “objetivos econômicos”, e o segundo de “objetivos políticos”, Bárta fala sobre a necessidade

17 “Tajný Plan Vita Barty: Do politiky pro státní zakázky!” (2011), Nova, 08/04.

18 O documento traduzido em língua inglesa pode ser encon-trado em Bures, Oldrich. (2015).

19 “Bárta šel do politiky kvůli zakázkám, vyplývá z jeho tajného plánu”. (2011), MF Dnes, 08/04.

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de ganhar o apoio das elites (provavelmente Bárta se refere ao establishment e suas fontes de apoio) e aponta o partido Veci Verejné como o instrumento para essa realização21.

A situação se agravaria em pouco mais de um mês, com outro furo de reportagem do MF Dnes (17/05/2011) sobre os planos de Vit Bárta (“Documento: Bárta e o Projeto de Código de Ética do Assuntos Públicos22”). Nesse novo documento,

enviado diretamente do email de proprietário da ABL para dez lideranças23 do partido, ligadas

a sua pessoa, nota-se que a estratégia elaborada pelo mesmo em 2008 se confi rmava e ganhava complementos. Os documentos, expostos pelo MF Dnes, fi caram conhecidos como “Código Secreto” ou “Código Assuntos Públicos24”, os quais tratavam da

sacralização de um acordo de prestação de serviços entre um agente fi nanciador de campanhas e seus candidatos à funcionários sob forma de um código de conduta. Nessa negociação, entre apoio fi nanceiro e contraprestação de serviços, através da realização das vontades do fi nanciador, Bárta enumera as funções extraofi ciais que deseja monopolizar no que concerne ao funcionamento interno do Veci Verejné (Assuntos Públicos): 1) Nomear os membros do Conselho Conceitual do Assuntos Públicos; 2) Instalar e

21 “Bárta šel do politiky kvůli zakázkám, vyplývá z jeho tajného plánu”. (2011), MF Dnes, 08/04.

22 “Dokument: Bártův návrh etického kodexu VV”. (2011), MF Dnes, 17/05

23 Markéta Vojtíšková, Jaroslav Škárka, Kateřina Klasnová, Kar-olína Peake, Josef Fišer, Jana Pařízková, Josef Dobeš, Jiří Ve-jmelka, Lukáš Topinka, Michal Pavel. Nomes publicados em: “Kompletní přepis e-mailové komunikace: jak se VV radily o etickém kodexu”. (2011), MF Dnes, 18/05.

24 A proposta de mudança de nome do documento veio em um email de resposta de Jiri Vejmelka, em 08/01/2009, chamando a atenção de seus colegas para que seu documento não pudesse ser confundido com outro em via de ser aprovado na conferência anual do partido (MF Dnes, 17/05/2011. Opus cit).

gerenciar o Conselho Conceitual do Assuntos Públicos; 3) Fazer cumprir o comportamento dos membros do Conselho Conceitual do Veci Verejné (Assuntos Públicos) em conformidade com este Código (MF Dnes. 17/05/2011). Através desse mesmo documento, Bárta concentrou em suas mãos: a Concessão de licenças no Assuntos Públicos - licenças conferidas por VB – através do Conselho Conceitual para associações regionais do Assuntos Públicos para: a) membros da equipe e parceiro políticos e econômicos (em Praga 7 e Praga 11) (MF Dnes. 17/05/2011).

As dimensões política e econômica reaparecem nesse documento da mesma forma como em seu plano estratégico, com a mais uma vez a observação enfática de Bárta para a inexistência da separação entre poder político e poder econômico. A isso, Bárta comunica sua equipe de que:

O grau de liberdade de nossas decisões depende do tamanho do nosso poder econômico – quanto mais poderoso, mais se infl uencia o sistema. Por outro lado, a estagnação política e econômica leva a redução do impacto, porque as elites políticas e econômicas tendem ao oligopólio25.

No mesmo documento, o empresário deixava entendido que o crescimento da ABL seria determinado, ora pelo tamanho da corrupção na administração pública, ora pelo protecionismo das elites, colocando ênfase na necessidade de conseguir contratos públicos para a ABL. Bárta em nenhum momento do “código” oferece uma remuneração fi xa para seu grupo de políticos, mas deixa claro que aquele que conseguir contratos públicos para sua empresa será comissionado, e exige do Veci Verejné

25 “Dokument: Bártův návrh etického kodexu VV”. (2011), MF Dnes, 17/05.

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(Assuntos Públicos) todos os contratos públicos nos distritos de Praga 1 e Praga 526.

Ainda na primavera de 2011, Vit Bárta veria seu nome envolvido com mais polêmicas. Dessa vez, enfrentaria acusações sérias oriundas de membros do próprio partido, descontentes com sua demasiada infl uência gerencial. Alguns dos descontentes pertenciam ao seu seleto grupo, como Jaroslav Skarka e Kristyna Koci27. Skarka acabaria tendo um papel

central na queda do Veci Verejné (Assuntos Públicos), chegando a cooperar com a imprensa, reconhecendo a autenticidade tanto dos e-mails trocados com o empresário, quanto do “código de conduta”.

Skarka, em conjunto com Kristyna Koci e Stanislav Huml, denunciaram, via imprensa, fraudes nos referendos on line realizados pelo partido, relatando a ausência de acesso a seus resultados, que por sua vez auxiliava a direção do partido com a manipulação das decisões internas. Também vinha à tona denúncias sobre ações de compra (captura) de deputados do Veci Verejnée o “corrompimento de seus membros-chave”, processo que fi cou conhecido como “o escândalo da compra de fi delidade28”. Skarka

e Koci denunciavam também a obrigatoriedade dos candidatos fi nanciados pelo empresário em assinar um contrato de concordância plena com as direções e decisões do partido no parlamento, sob pena de multa em CZK 7.000.000, com ambos confessando terem

26 “Dokument: Bártův návrh etického kodexu VV”. (2011), MF Dnes, 17/05.

27 Esta última ausente da lista de email, mas presente na lista de nomeação do pessoal de Bárta nos núcleos regionais do As-suntos Públicos.

28 “VV MP’s allege bribery, blackmail. Analysts question the satying power of Public Affair party”.(2011), The Prague Post, 06/04. Ver também: “Etický kodex jsem neporušila, o penězích věděl i John, tvrdí Kočí”. (2011). MF Dnes, 08/04.

recebido dinheiro diretamente do próprio empresário29

Kristyna Koci, Jaroslav Skarka e Stanislav Huml se recusaram a assinar o contrato de obrigatoriedade com a direção do Assuntos Públicos. Os três candidatos se ampararam no princípio constitucional do mandato livre, que por si só inviabilizaria os contratos com Bárta mesmo após as eleições, para o caso de qualquer rebelião e “violação” do “código de ética”30.

Esse primeiro incêndio foi internamente apagado antes das eleições, com negociações que resultaram em concessões de adendos especiais para limitar o controle da liderança partidária sobre a representação e voto no parlamento dos três deputados citados. Em relação a compra de fi delidade, Bárta respondeu as acusações de que, como empresário e presidente do Clube dos Empresários Comprometidos, fazia uma espécie de licitação entre os membros do partido para conceder fi nanciamentos a estes através do clube31.

O fato é que as acusações acabaram levando Bárta e Skarka para o tribunal. No fi nal do julgamento32, no dia 13/04/2012, Jaroslav Skarka foi

condenado a 3 anos de prisão com supervisão e com 10 anos de ilegibilidade, sob acusação de ter fraudado uma de suas conversas gravadas com o empresário. Vit Bárta foi condenado por corromper membros e deputados de seu partido, sendo sentenciado a 18 meses em liberdade condicional. Renunciou a seu cargo de deputado, alegando precisar de tempo para limpar seu nome. Sua esposa, Katerinha Klasnová, o

29 “Police investigate John and Bárta. Collation bickering and backroom dealing are business as usual”.(2011), The Prague Post, 15/06. (Matéria de recapitulação dos fatos que instauraram a crise).

30 VV Koci expelled from the club and from the side and called it: Give up mandate. (2011), Tyden, 07/04).

31 “Vit Bárta Says He is Victim of Direct Campaign”. (2011), Radio Prague, 10/04.

32 “Přelomový verdikt: Bárta má podmínku, Škárka tři roky”. (2012), Aktuane, 13/04

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substituiu como líder do partido no parlamento. Em janeiro de 2014, após novo julgamento, Bárta e Skarka foram absolvidos33.

2.2. O Bilionário do setor petroquímico

Andrej

Babis

e

seu

partido

ANO2011(SIM2011)

O partido político ANO2011 (SIM2011) foi fundado pelo bilionário Andrej Babis no ano de 2011, como um movimento cívico de cidadãos insatisfeitos com a condução das políticas econômicas e o quadro de corrupção existente no país34. A palavra ANO é

um acrônimo de Akce Nespokojených Obcanu (Ação dos Cidadãos Insatisfeitos), e, em tcheco, ano quer dizer sim. Em seu início, o partido ensaiou um perfi l alinhado à esquerda, direcionando suas críticas à gestão do país realizada pelos democratas cívicos (ODS). Em maio de 2012, teve seu registro como um novo partido de centro confi rmado pelo Ministério do Interior e, tão logo teve início a corrida eleitoral de 2013, se autodefi niram como um movimento de centro-direita (CIEE Identity: 2013).

O partido também é visto como um projeto pessoal de Babis, e se notabilizou por sua postura antiestablishment, anti-política e anticorrupção. Sua rápida entrada e ascensão na política, seus discursos que, hora se faziam próximos da esquerda e hora próximos de um liberalismo conservador, assim como a estrutura em que o ANO2011 foi edifi cado,

33 “Bárta se Škárkou jsou osvobozeni. Ministryně Benešová neuspěla”. (2014), Lidovky, 24/01. Ver também: “Kauza půjček u VV defi nitivně končí, Bárta se Škárkou jsou osvobozeni”. (2014),MF Dnes, 24/01.

34 Portal ANO2011 (www.anobudelip.cz) e CEE Identity. (2013). Akce Nespokojených Obcanu, ANO2011 (Action of Dissatisfi ed Citizens 2011). Institut Pro Evropskou Politiku. Na-tional Identity in Central-eastern Europe.

centralizado na fi gura do empresário, fez com que a imprensa europeia comparasse Babis e seu partido com outra conhecida fi gura política e empresarial do velho continente: Silvio Berlusconi. A partir daí o empresário passou a ser muitas vezes referido (ironicamente) como “Babisconi35”.

Conforme pode ser observado no estatuto político do ANO201136, o partido possui rígidas

estruturas organizacionais hierarquizadas em torno de seu líder e fundador. Essa rigidez se aplica ao fato de que um partido-empresa de negócios que não tenha sido um resultado de uma apropriação e remodelagem, como no caso do Veci Verejné, trabalha desde seu início como uma organização à serviço dos interesses de seu fundador e proprietário. Isso pode ser visto na baixíssima importância que a fi liação é tratada pelo partido. No início, o ANO2011 contava com pouco mais de 700 membros, recebendo um considerável aumento nos anos seguintes e chegando a 152937

membros após um grande sucesso nas eleições 2013, as quais por pouco não foram vencidas (Barbosa, 2016). Os números também são baixíssimos,quando comparados a quantidade de membros, ainda que em declínio, dos partidos tradicionais38.

Duas coisas precisam ser levadas em conta. A primeira atrelada a um processo de adesão ao partido que impõe várias difi culdades para a entrada de membros, o que por si só já demonstra que, por mais que a importância do povo seja ressaltada nos discursos eleitorais, não existe internamente

35 “The Rise of ‘Babisconi’”. (2013), ERS. 30/10. Ver também: “Central Europe’s Berlusconi?”(2013), The Economist, 02/11; e: “‘Czech Berlusconi’ is the real winner of early elections”. (2013), Aktualne, 27/10.

36 ANO2011 (2013). ANO2011. Stanovy Politického Hnutí. Disponível em: www.anobudelip.cz

37 www.anobudelip.cz. Último acesso em 20/12/2015. 38 Ver: Barbosa, 2016.

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no partido estruturas que promovam sua ampla participação e empoderamento. Para ingressar no ANO2011, o cidadão interessado precisa anexar ao pedido de fi liação uma cópia de seu curiculum vitae, onde o candidato será avaliado, podendo também ser convocado para uma entrevista pessoal, para então ser aceito ou rejeitado. Por outro lado, não passam por tal processo burocrático as fi guras convidadas diretamente pelo presidente do partido (ANO2011 Stanovy Politického Hnutí 2013). Esse procedimento revela um caráter de reprodução da organização nos mesmos moldes das empresas pessoais dos fundadores de partidos-empresas de negócios. Ao difi cultar e, na verdade, rejeitar a grande adesão em seus quadros, um partido-empresa de negócios, como o ANO2011, revela que seu interesse é contar apenas com pessoal especializado que tenha utilidade para a promoção dos interesses do fundador e dono do partido. Isso implica em uma grande inversão de valores. Mais do que isso, em uma ação social com relação à valores que sucumbe apenas a seus fi ns, pois o simpatizante que deseja ingressar na organização política, para se dedicar à vida pública, cede sua vez à busca de profi ssionais que desejam entrar na vida pública para trabalhar como funcionários rent seekers do partido político. A segunda coisa é que, embora não conste em nenhum documento ofi cial do ANO2011, existe a própria vontade, por parte de seu fundador, de que o partido tenha um baixo número de membros. Isso fi cou evidente na entrevista concedida por Vera Jarouvá, vice-presidente do movimento, ao jornal MF Dnes (06/05/2013), ressaltando o desejo do movimento em contar apenas com pouco mais de mil integrantes. Para além da seletividade dos ingressantes, há também o caráter de personalização e controle

dos membros, fundamental para a manutenção de baixos níveis de institucionalização e da centralização de poder na fi gura do proprietário do partido. Tais características são encontradas na estrutura hierárquica da organização do ANO2011. Conforme seu estatuto mostra, todos os órgãos de autoridade têm como seu chefe o presidente do partido, o qual toma parte em todos os seus assuntos, desde a aprovação e rejeição de candidatos, a nomeação e demissão de membros gestores do partido, a escolha e eliminação de candidatos para a disputa eleitoral, a elaboração e a ordem dos candidatos na lista do partido e somente ele tem o poder de levar convidados para participar com voto consultivo nas assembleias nacionais. Duas exceções poderiam ser feitas para as duas comissões que compõe os órgãos independentes do partido, no entanto, seu regimento interno e qualquer alteração necessitam da aprovação do Comitê (Comissão de Auditoria) e da Burocracia (Comissão de Conciliação e Arbitragem), os quais são controlados pelo presidente do ANO2011 (ANO2011 Stanovy Politického Hnutí 2013).

Dessa forma, o presidente do ANO2011 é a autoridade máxima formal e informal do partido, pois preside e chefi a diretamente de 3 dos seus 5 órgãos de autoridade e infl uencia indiretamente, através de uma chefi a informal, seus dois órgãos independentes. A chefi a informal é garantida através dos recursos fi nanceiros obtidos pelo partido, os quais tem origem no bolso do chefe e de sua rede de amigos. As duas comissões independentes são compostas por pessoal profi ssional que trabalha exclusivamente no e para o partido político e, dessa forma, se transformam implicitamente em órgãos dependentes dos recursos do presidente do partido para exercer suas atividades.

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O ANO2011 também elaborou códigos de conduta do partido (moral e ética) que revelam um caráter de contrato de admissão e trabalho, se tratando, na verdade, de limitar a autonomia dos membros do partido e seus políticos eleitos. Tanto em seu Código Moral quanto no Código de Ética, cada ênfase dada sobre a defesa dos interesses do povo vem sucedida de uma clausula simbólica embutida em princípios de consciência, onde os políticos do ANO2011 são lembrados de que defendem as políticas do partido e seus programas, estando também submetidos e controlados pelo movimento através da obrigatoriedade de não tomar qualquer atitude sem antes discutir estas com o partido, sob pena de multa que pode chegar ao valor de quase um mês de salário parlamentar (Portal ANO2011. www.anobudelip.cz).

A trajetória profi ssional de Andrej Babis é cercada de controvérsias. Babis se mudou para Praga meses após assumir a presidência da empresa eslovaca Petrimex. É sabido que a ideia de abrir uma fi lial na capital tcheca foi resultado de uma estratégia de fuga, após Babis se tornar uma fi gura indesejável na política eslovaca. Em sua autobiografi a, na página do ANO2011 (www.anobudelip.cz), Babis relata que passou a ser perseguido por “gente ligada a Vladimir Meciar39”. Apesar dos ataques aos sociais democratas

(CSSD), durante a campanha eleitoral de 2013, seu sucesso no mundo dos negócios pós 1989 esteve diretamente relacionado a seus contatos políticos no CSSD, sobretudo na fi gura de Milos Zeman40 e

na aquisição de contratos públicos após o período de transição política. A aquisição da Agrofert, sua principal empresa, e a transformação desta que era

39 www.anobudelip.cz

40 Hoje presidente da república pela terceira vez e membro do SPOZ.

um braço da Petrimex, em um império, nunca foi bem explicada e até os dias de hoje é alvo de polêmicas envolvendo o fundador do ANO2011 (SIM2011).

Durante a onda de privatizações, Babis alega que a compra da Agrofert foi fi nanciada por um empréstimo junto ao Citibank, o qual, por sua vez, nunca apresentou documentos que comprovaram tal transação. Durante os anos de 1995-2000, a Agrofert adentra no setor químico adquirindo várias estatais de maneira polêmica41, devido à ausência de divulgação

dos valores das transações. Sem entrar em valores, Babis alegou que comprou as empresas por preços muito baixos e através de crédito conseguido junto a bancos estrangeiros. Babis começava a se tornar um rosto comum para a polícia que investiga crimes econômicos, conforme lembra Lenka Bradácová42,

procuradora da república:

A polícia está investigando todas as operações no que diz respeito ao fato do Sr. Babis aparecer em todos os quadros. Nós achamos que foi uso indevido de informações privilegiadas43.

No ano de 2002, o estado tcheco decidiu privatizar uma de suas mais rentáveis estatais: a Unipetrol44. Andrej Babis e sua empresa Agrofert

saíram como os vencedores da licitação em mais uma polêmica negociação, dessa vez pelo fato de terem comprado a empresa com uma proposta de valor abaixo das demais oferecidas por seus concorrentes. Nesse mesmo período, também seria descoberto que o estado, através da Unipetrol, fi nanciou a Agrofert

41 Entre elas a Adex, Dezu Velké Mezririci, Precheza, Aliachem e a Lovochemie (sendo esta última a transação mais polêmica de todas neste período).

42 Bradácová é uma das fi guras icônicas do combate a corrupção na República Tcheca.

43 “The Richest Czech keeps a Secret”. (2002), Respekt, 13/05 44 Maior refi naria e grupo petroquímico do país.

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em suas mais importantes aquisições45. Foi divulgado

que a Unipetrol seria privatizada em duas fases, pelo valor de 12 bilhões de coroas. Na primeira fase, Babis e a Agrofert deveriam repassar o valor pela aquisição. No entanto, o dinheiro para a transação seria adquirido através de um empréstimo junto a própria Unipetrol ou através de bancos. Na segunda fase, a Agrofert deveria vender parte da Unipetrol, como a empresa Benzina para o grupo norte-americano Conosco, por 5 bilhões de coroas, e a Refi naria Tcheca para o consócio CAS (Conosco, Agip e Shell), por 8 bilhões46. Mesmo com

tais vendas, Babis e a Agrofert ainda fi caram com as mais importantes empresas petroquímicas do país por um valor que, no fi m, ainda lhes deu 1 bilhão de coroas em caixa.

Durante a corrida eleitoral, Babis se viu envolvido em duas polêmicas. A primeira envolvendo a compra do grupo Mafra, responsável pelos principais jornais da República Tcheca: MF Dnes e Lidové Noviny. Logo após a compra, Babis teve de lidar com a demissão em massa de jornalistas e funcionários dos dois jornais, incluindo seus editores-chefes, os quais alegaram que “não trabalhariam para um oligarca47”.

Babis também é descrito como um líder autoritário que dirige suas empresas e seu partido com uma mão-de-ferro48. Pouco após comprar o grupo Mafra, Babis

invadiu a redação do jornal Lidové Noviny em vias de

45 “É inacreditável, disse o especialista da polícia em investiga-ções de crimes econômicos. A Unipetrol ajudou a Agrofert com fi nanciamento na privatização de todas as empresas importantes que pertencem agora ao império de Babis. E no fi nal o gabi-nete aprovou a privatização da Unipetrol à propriedade da Agro-fert. Isso me lembra uma corrupção gigantesca, acrescentou” (Respekt, 2002. Opus cit.).

46 Ibidem.

47 “Does Andrej Babis have Bigger Political Ambitions?” (2013), The Economist, 17/07. Ver também: “The Czech Don-ald Trump”. (2015), Politico, 29/10.

48 “Andrej Babis Adopts Combative tone following Re-elections as Ano Leader”. (2015), Radio Prague, 02/05

obter satisfações sobre a não cobertura do congresso anual do ANO201149. Tal fato virou notícia, e no

dia seguinte o empresário voltou a redação do jornal para pedir desculpas para os funcionários. Outro fato, nada surpreendente, ocorreu nas eleições internas do ANO2011, com Andrej Babis se reelegendo presidente do partido com 100% dos votos50. Em uma entrevista

para o jornal Cezká Pozice, o empresário declarou perceber que os membros de seu partido enxergam nele o responsável pelo sucesso51.

Apesar da vitória dos sociais democratas (CSSD), nas eleições antecipadas de 2013, o ANO2011, conquista o segundo maior número de cadeiras no parlamento52, se tornando uma

peça-chave para a coalizão de governo, com Andrej Babis sendo nomeado poucos meses depois como Ministro das Finanças. Nas últimas eleições, realizadas em 10 de outubro de 2017, o ANO2011 sagrou-se como o partido político vitorioso, conquistando 78 das 200 cadeiras disponíveis no parlamento tcheco53, com

Babis nomeado Primeiro Ministro em janeiro de 2018. Nos últimos anos, Babis se envolveu com polêmicas sobre seu trabalho como Ministro das Finanças e a forma como gerencia os subsídios da União Europeia, ao mesmo tempo que vem assistindo sua empresa Agrofert aparecer nos jornais tchecos e alemães como sua maior benefi ciária54. No 49 “Politician’s Media ambition Raise Specter of Censorship. Jounalists Debates Press Infl uence of Businessman-Turned-Finance Minister”. (2014), Prague Andering, 20/03.

50 Radio Prague. 02/03/2015. Opus cit.

51 “Nejsem Tradicni Politik. Neman Odpoved na Vserchno”. (2015), Ceská Pozice, 19/01.

52 47 de 200, enquanto os sociais democratas (CSSD) fi caram com apenas três cadeiras a mais (50 de 200). Fonte: volby.cz. 53 Ibidem.

54 “Czech Billionaire’s Political Popularity Raises in Spite of Concerning confl icts of Interest”.(2015), Politics & Policy, 02/02. Ver também: “Der Spiegel: Agrofert Zrejme Ovlivnoval Rozdelovani Penez z EU”. (2016), Echo24, 13/06.

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que concerne ao combate à corrupção, Babis vem brigando energicamente contra a reforma da polícia tcheca. Ao mesmo tempo em que o empresário acusa a reforma de ser uma manobra política para interromper as investigações, ele é acusado de querer embargar mudanças signifi cativas para o combate à corrupção e proteger seus próprios negócios55.

Conclusão

Observa-se, através dos casos estudados (Hopkin e Paolucci, 1999; Paolucci, 2006; Barbosa, 2016), que o modelo de Business-fi rm party, ele se origina através de uma ação privatista das relações que compõe o universo público e político, ganhando vida quando poderosos proprietários de capital privado enxergam a política como um campo de exploração e extração de vantagens, recursos e bens para proveito particular.

Para o caso do Veci Verejne (Assuntos Públicos), evidencia-se claramente uma ação de captura instrumental de partidos políticos com alta exposição criminal (Salamanca, 2008; Barbosa, 2016). Nossa análise de sua trajetória fornece ao campo de estudos sobre partidos-empresa de negócios um terceiro modelo de emergência56, onde um poderoso ator

privado (ou grupo de atores privados), que intenciona fazer negócios ilícitos dentro da máquina pública que benefi ciem suas empresas, adere a um partido político já existente e passa a controlar seus quadros, ao mesmo tempo em que torna a organização dependente de sua fi gura e redes (network). A consolidação desse tipo de

55 “S Pomoci Slachty a Istvana se Babis Prolze k Moci”.(2016), Echo24, 22/06.

56 Uma vez que para Hopkin e Paolucci (1999), a UCD e o FI, fornecem modelos respectivamente distintos de business-fi rm party.

captura de partidos políticos se faz quando o captor converte a organização para o modelo de partido-empresa de negócios, com seus quadros passando a direcionar seus esforços na direção da concretização dos interesses do líder do partido, o qual também se torna seu proprietário e principal fi nanciador de campanhas de seus membros.

O caso do ANO2011 (SIM2011) se mostra mais parecido com o modelo de partido-empresa de negócios expresso pelo Forza Italia, de Silvio Berlusconi. Diferente do Veci Verejné, a recente trajetória política do ANO2011 ainda não nos fornece um parâmetro preciso para classifi cá-lo, de imediato, como uma agência de extração de recursos públicos para as empresas privadas de seu fundador. Ainda sim, é possível colocá-lo em observação e investiga-lo como uma possível captura instrumental de partidos políticos com baixa exposição criminal (Salamanca, 2008).

A trajetória profi ssional do empresário Andrej Babis, e sua atuação como Ministro das Finanças (2014-2017), fornecem indícios de que, tal como Berlusconi, Babis parece ter entrado na política para proteger seus negócios. Com uma trajetória de enriquecimento obscuro, o empresário ainda é objeto de investigação da polícia que trata de crimes econômicos. Constantemente, alguns meios de comunicação cobram de Babis uma postura transparente sobre suas atividades empresariais. Isso se torna um argumento pertinente quando se observa em sua biografi a uma trajetória de enriquecimento intrinsecamente ligado à políticos e partidos, sobretudo os sociais democratas(CSSD). A isso, soma-se o fato de que, de acordo com alguns jornais57, 57 “Andrej Babis. Czech Oligarch”. (2014), Politico, 09/11(Eu-ropean Voice).

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muitos políticos próximos de Babis já saíram de cena, o que leva a crer que a fi gura do empresário passou a fi car mais exposta à riscos não desejáveis.

Com relação à compra do grupo Mafra, de acordo com Robert Casensky, ex editor-chefe do MF Dnes, “ninguém compraria o grupo Mafra pensando em enriquecer com suas empresas de comunicação. Muito menos um bilionário do setor petroquímico, como Andrej Babis58”. Para os jornalistas que deixaram suas

empresas, a estratégia era descaracterizar o jornalismo político dos jornais e utiliza-los para se autopromover durante a corrida eleitoral (Ejo. 30/04/2015). Se o lucro gerado pelas empresas do grupo Mafra pode ser discutível, certo é que comprar o grupo foi uma estratégia herdada da lição deixada pelo Veci Verejné, o qual sofreu um verdadeiro inferno com os ataques do MF Dnes. Babis viu que certamente poderia sofrer do mesmo e tratou de remediar o problema. Conforme mostram as pesquisas de Bradávková (2015), os jornais do grupo Mafra, durante as eleições, não publicaram nem matérias negativas, nem matérias positivas sobre o empresário. Mas a neutralidade muitas vezes é mera aparência, uma vez que não falar mal, mas também não falar bem, ajuda mais do que atrapalha, e ajuda mais ainda quando as matérias sobre o proprietário do jornal, e candidato nas eleições, são publicadas após a segunda página, retirando o empresário dos holofotes trazidos pelas manchetes. Esse episódio tem algo que objetiva fi ns políticos, revelada na imediata domesticação dos jornais logo após sua compra. O ato de ser eleito, por sua vez, signifi ca para Babis ter imunidade parlamentar e mais poder de proteção também a seus negócios. Mais ainda, ser Ministro das Finanças e hoje Primeiro Ministro, pode signifi car

58 “Czech Repúblic: New Owners and Newsroom changes”. (2015), EJO, 30/04.

pôr em prática planos de uma captura à longo prazo, como parece mostrar as acusações de favorecimento à Agrofert, no que concerne aos subsídios da UE59. De

qualquer forma, esse desfecho ainda requer tempo, sendo tarefa para aqueles que estudam e monitoram as organizações partidárias de tipo business-fi rm.

De fato, estudos sobre as ações de partidos-empresas de negócios carecem de mais exemplos explorados e postos em comparação. No entanto, seu recurso mostra uma complexa engenharia política utilizada por poderosos atores privados que objetivam a captura da Administração Pública, não havendo outro meio para este fi m fora da própria política. Dessa forma, e de acordo com os resultados de nossos estudos de caso, a política como investimento, ou algumas de suas estratégias, se revelam nos seguintes atos: 1) se aproximar e se apropriar de um partido político já existente, controlando seus quadros e o tornando dependente fi nanceiramente; 2) fundar uma organização social e prover mão-de-obra política “especializada” para outros partidos, camufl ando a captura; 3) fundar um partido e se lançar candidato, comprar o silencio das mídias do país, se eleger, proteger seus negócios e desfrutar da imunidade e outros privilégios parlamentares.

59 Na grande aquisição de subsídios da UE e no pagamento de menos impostos, comparada a outras empresas. Ver: “Babisu Agrofert Dostava Vic Nez Plati na Danich”. (2016), Echo24, 21/01.

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Referências

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