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A economia colaborativa como uma ferramenta na promoção do desenvolvimento sustentável / Collaborative economy as a tool in promoting sustainable development

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Academic year: 2020

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A economia colaborativa como uma ferramenta na promoção do

desenvolvimento sustentável

Collaborative economy as a tool in promoting sustainable development

DOI:10.34117/bjdv6n9-250

Recebimento dos originais: 10/08/2020 Aceitação para publicação: 11/09/2020

Fabio Paulo Reis de Santana

Doutorando em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo fabiodesantana@yahoo.com.br

Lívia Maria da Costa Silva

Professora do Departamento de Engenharia Agrícola e Meio Ambiente da Universidade Federal Fluminense

liviamaria@id.uff.br

RESUMO

O uso abusivo e insustentável do meio ambiente desencadeou no homem uma reflexão sobre novos paradigmas, baseados em direitos difusos, que ganhou maior destaque mundial na Primeira Conferência Mundial sobre o Homem e o Meio Ambiente, realizada em Estocolmo, em 1972. No entanto, no contexto brasileiro, ainda que se observe a existência de um arcabouço legislativo que contemple a matéria ambiental, vários problemas são observados quanto à efetiva aplicação de ações que visem preservação ambiental e justiça social, em especial no que se refere aos instrumentos econômicos. Portanto, o texto apresenta a economia colaborativa como uma ferramenta para a promoção do desenvolvimento sustentável por meio do compartilhamento dos bens necessários à vida em sociedade, otimizando, assim, o acesso a um número maior de pessoas, motivo pelo qual se sustenta que a legislação ambiental deveria estimular tais iniciativas.

Palavras-chave: justiça social, ferramenta econômica, sustentabilidade. ABSTRACT

The abusive and unsustainable use of the environment triggered in man a reflection on new paradigms, based on diffuse rights, which gained greater global prominence in the World Conference on Human and Environment, held in Stockholm in 1972. However, Brazilian context, although there has been the existence of a legislative framework that addresses the environmental, several problems are observed regarding the effective implementation of actions aimed at environmental conservation and social justice, particularly in relation to economic instruments. Therefore, the text presents the collaborative economy as a tool for promoting sustainable development through the sharing of goods necessary for life in society, thus optimizing the access to a greater number of people, which is why it is claimed that the legislation environment should encourage such initiatives.

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1 INTRODUÇÃO

O meio ambiente é um bem de suma importância para a manutenção da vida de todas as espécies que coabitam nosso planeta, por isso, deve ser preservado. A degradação ambiental não possui fronteiras, extrapola os limites territoriais das nações, sendo tema de constantes debates em conferências transnacionais, como a Conferência de Estocolmo (1982), a Eco 92 e Rio+20. O coletivo mundial tem movido esforços para unificar e definir limites a essa degradação, além de métodos para reparação, tentando mitigar os prejuízos causados ao longo da evolução das sociedades modernas.

A proteção ambiental em seara nacional, no tocante a normatividade, era disposta por leis esparsas, de difícil aplicação, muitas vezes controversas e contraditórias. Partindo desse pressuposto, o legislador constituinte pátrio, a partir da Carta Magna de 1988, buscou unificar e aumentar a proteção legal a bem tão valoroso, editando disposições gerais, com um dever integral de cautela, chamando toda o coletivo à responsabilidade de preservação para as presentes e futuras gerações.

Por esse motivo, a busca por alternativas para uma utilização otimizada dos recursos necessários à vida nas cidades, que, a um só tempo, reduzam o custo ambiental e aumentem o acesso dos indivíduos. É nesse contexto que se insere a economia colaborativa como ferramenta de acesso a bens, pela via do compartilhamento. Isso porque, se analisada pela perspectiva do egocentrismo, a economia colaborativa favorece o incremento das trocas econômicas por meio do aumento dos consumidores sem que haja um aumento na degradação ambiental.

Pelo mesmo raciocínio ético-ecológico, as trocas pautadas pela democracia do acesso respeitam a natureza como sujeito de direitos. Vale destacar que Milaré e Coimbra (2004, p.04) definem ecocentrismo como a visão na qual as preocupações científicas, políticas, econômicas, e culturais se voltam para o “oikos”, ou seja, a Terra considerada como casa comum (...).

No entanto, a legislação ambiental ainda não contempla qualquer instrumento de estímulo a essas práticas, que, ao fim e ao cabo, promovem o desenvolvimento sustentável e concretizam o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, assegurado pela Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988).

2 O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Segundo a Política Nacional de Meio Ambiente – PNMA (BRASIL, 1981) trata-se do conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas. No entanto, apesar de ser, um conjunto de sistemas complexos promovedor de serviços ecológicos, o meio ambiente passou a ser encarado como mero fornecedor de recursos naturais como insumos aos processos industriais e recebedor/depurador de resíduos gerados por eles.

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Portanto, pode-se dizer que, a era moderna supervalorizou o homem como centro do Universo ao ponto dele se considerar o dono dos recursos naturais, por poder investigá-lo e manipulá-lo – uma visão antropocêntrica. Para Milaré e Coimbra (2004, p. 01), antropocentrismo é o pensamento ou a organização que faz do Homem o centro do universo, ou do Universo como um todo, em cujo redor (ou órbita) gravitam os demais seres, em papel meramente subalterno e condicionado.

Consequência dessa ideologia, ao longo do tempo, o uso insustentável dos recursos naturais causou impactos ambientais negativos, muitos deles, irreversíveis. Destarte, a partir do final dos anos 1970, a proteção ambiental ganhou destaque no contexto internacional, por meio da Primeira Conferência Mundial sobre o Homem e o Meio Ambiente, realizada em Estocolmo (1972).

No contexto nacional brasileiro, houve a internalização das ideias de conservação e proteção ambiental, além da sustentabilidade, que culminou na promulgação da Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981 (BRASIL, 1981) que trata, dentre outras coisas da PNMA. Além disso, em 1988, a Carta Magna (BRASIL, 1988), trouxe avanços no sentido de consagrar a metaindividualidade do bem ambiental, em seu art. 225, in verbis:

Art. 225: Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

Nas palavras de Fiorillo (2008, p.3),

(...) além de autorizar a tutela de direitos individuais, o que tradicionalmente já era feito, passou a admitir a tutela de direitos coletivos, porque compreendeu a existência de uma terceira espécie de bem: o bem ambiental. Tal fato pode ser verificado em razão do disposto no art. 225 da Constituição Federal, que consagrou a existência de um bem que não é público nem, tampouco, particular, mas sim de uso comum do povo.

Vale lembrar, que assim como a maioria dos países, a normatividade brasileira apresenta uma visão antropocêntrica de desenvolvimento sustentável que, de acordo com o Relatório Brundtland (COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, 1988, p. 49), é definido como:

(...) um processo de transformação no qual a exploração dos recursos, a direção dos investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional se harmonizam e reforçam o potencial presente e futuro, a fim de atender as necessidades e aspirações humanas.

No entanto, para Bodnar (2006) é um compromisso de todos e em especial do Poder Judiciário mudar esse paradigma individualista desenvolvendo uma nova ética, mais solidária, responsável e comprometida com o meio ambiente, patrimônio maior de toda a humanidade. Deste modo, para ser

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alcançado, o desenvolvimento sustentável depende de planejamento e do reconhecimento primordial de que os recursos naturais são finitos.

Na busca pela sua efetividade, têm-se buscado três principais vertentes: (i) ecoeficiência, onde concilia-se a preservação e conservação ambiental com o desenvolvimento econômico; (ii) justiça socioambiental com a interseção entre desenvolvimento social e preocupação ambiental e (iii) inserção social, onde se preocupa com o desenvolvimento econômico sem esquecer da participação e inclusão efetiva da sociedade.

Quando se trata especificamente da preocupação com o desenvolvimento econômico, é necessário desenvolver instrumentos que atuam nos custos de produção e consumo dos agentes econômicos, que estão direta e indiretamente associados às finalidades da política ambiental. As principais temáticas dos instrumentos se articulam com pleitos de custo-efetividade e de equidade (MOTTA, 2000). A efetiva elaboração e aplicação dos instrumentos é complexa por se trata de uma sociedade capitalista e conforme as palavras da ex-ministra do Superior Tribunal de Justiça, Eliana Calmon Alves, conciliar o progresso econômico e a manutenção de um ambiente sadio não é nada fácil em um país capitalista, em que há domínio do capital sobre o social (ALVES, 2004, p. 01).

Aproveita-se para destacar o art. 170 da Constituição Federal vigente que aduz

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: (...) IV - livre concorrência; V - defesa do consumidor; VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003); VII - redução das desigualdades regionais e sociais (...)

Assim, conforme Milaré (2001, p. 233), o legislador se preocupou em trazer a defesa do meio ambiente como um princípio limitador a livre concorrência, outro fundamento da ordem econômica, sendo um dos principais avanços da Carta Magna de 1988 no tocante a tutela ambiental. Nesse contexto, a economia colaborativa exsurge como medida de racionalização do uso dos recursos naturais viabilizando o acesso a um número cada vez maior de pessoas a um custo marginal próximo a zero.

3 A ECONOMIA COLABORATIVA

Segundo Gilberto Sarfati (2016, p. 26), existem dois grandes fenômenos que juntos irão modificar radicalmente a forma como os indivíduos se relacionam socialmente: a economia colaborativa e a inteligência artificial.

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Em que pese uma análise sobre a evolução do aprendizado de máquinas seja relevante para a compreensão dos fenômenos sociais atuais, o objeto desta pesquisa cinge-se às relações entre o desenvolvimento da economia colaborativa e o desenvolvimento sustentável.

A economia colaborativa, conforme Sarfati (2016, p. 26), refere-se a modelos de negócios baseados em trocas peer to peer (P2P), intermediados por uma comunidade on-line. Exemplo disso é o Uber que revolucionou o segmento de táxis com um modelo de compartilhamento de viagens, conectando diretamente motoristas e usuários, com valor de mercado que ultrapassa US$ 50 bilhões. A perspectiva da colaboração visa a modificar a lógica de mercado baseada na ideia de propriedade por um modelo pautado pela ideia do uso. A tônica da economia colaborativa passa a ser a busca pelo acesso aos bens de consumo, sem necessariamente perpassar pela efetiva aquisição dos bens.

Nesse sentido, Jeremy Rifkin (2016, p. 34) afirma que a vida econômica já está profundamente impactada pelos bens comuns colaborativos, de modo que os “mercados estão começando a dar lugar a redes, a posse está se tornando menos importante que o acesso”.

As práticas de compartilhamento viabilizam o acesso a uma multidão de pessoas (crowd, em inglês, termo bastante utilizado), de modo a substituir a discriminação social de indivíduos com base na quantidade de riqueza que possuem pela democracia do acesso aos bens de consumo.

Mais do que isso, a economia colaborativa não apenas insere os indivíduos no mercado de consumo, mas principalmente efetiva direitos fundamentais de segunda dimensão (ou direitos sociais) insculpidos no art. 6° da Constituição da República, como, por exemplo, o direito à educação, à saúde e à alimentação.

É certo que a cultura da colaboração não seria possível sem o avanço tecnológico promovido pelos meios de comunicação, sobretudo com a internet. Edgar Maciel, Idiana Tomazelli, Laura Maia e Thiago Moreno (2013) sustentam que a cultura de compartilhar provavelmente não existiria sem as comodidades oferecidas pela rede mundial de computadores. Seria por meio dessa tecnologia que a economia estaria rapidamente se desenvolvendo e colocando em xeque a forma tradicional de obtenção de lucro.

A despeito de as plataformas de compartilhamento de bens já fazerem parte da rotina das pessoas, como, por exemplo, o Uber (principalmente por meio da modalidade pool) e o Airbnb (ferramenta que permite o anfitrião hospedar o viajante em sua própria residência), o adjetivo colaborativo não era utilizado com essa conotação até meados do século XX. Rifkin (2016, p. 33) aponta que “a palavra colaborativo começou a ser usada, inconsistentemente, nas décadas de 1940 e 1950; depois seu uso cresceu continuamente a partir da década de 1960 até hoje”.

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Mesmo com pouco tempo de existência consistente, a economia do compartilhamento permite a democratização do acesso, na medida em que torna os produtos e serviços amplamente difundidos e quase gratuitos disponíveis a todas as pessoas.

Rifkin (2016, p. 90) sustenta que “alcançar um custo marginal próximo de zero e produtos e serviços praticamente grátis é o objetivo do avanço na produtividade”. Assim, com o aumento da produtividade o custo de produção para cada bem de consumo seria cada vez menor, o que significaria um incremento no acesso a esses bens pela maioria das pessoas.

Ocorre que uma guinada exponencial na disponibilização de bens ao público pode levar a um custo de produção próximo a zero por cada item, de modo a refletir uma possibilidade de acesso quase gratuito, levando, consequentemente, a uma queda significativa na margem de lucro das empresas.

Nesse contexto, a economia colaborativa vem impulsionar essa explosão de produtividade, democratizando o acesso a produtos e serviços a um custo marginal1 muito próximo a zero, especialmente porque se vale da rede mundial de computadores, a qual permite atingir diretamente uma escala de milhões de pessoas, sem que para isso haja um incremento substancial no custo da produção.

Ao tratar sobre a razão da explosão de produtividade provocada pela economia colaborativa, Jeremy Rifkin (2016, p. 93) constata que o uso da internet como ferramenta de ação faz com que os resultados obtidos sejam enormemente maximizados, porque a internet promoveu a chamada primeira revolução na infraestrutura inteligente da história, destacando que:

O enorme salto em produtividade é possível porque a emergente Internet das Coisas é a primeira revolução de infraestrutura inteligente da história, que irá conectar cada equipamento, empresa, residência e veículo em uma rede inteligente composta por uma Internet das Comunicações, uma Internet da Energia e uma Internet do Transporte, todas embutidas em um único sistema operacional.

Portanto, a utilização da internet como plataforma de ação (sobretudo pela forma de aplicativos para celular) permite que a economia do compartilhamento de bens possa atingir uma escala quase ilimitada de pessoas ao redor do mundo, impulsionando a democracia do acesso para além das fronteiras territoriais.

Todavia, essa realidade, em que pese bastante difundida no país, ainda não foi incorporada significativamente ao rol de atividades estimuladas pelo Estado, uma vez que carece a percepção de que a economia colaborativa pode, a um só tempo, contribuir para a difusão dos direitos fundamentais

1 Custo marginal é um conceito extraído do ramo do conhecimento das finanças e da economia e significa o impacto no

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de segunda dimensão (direitos sociais) bem como promover o desenvolvimento sustentável, viabilizando o acesso a bens a um número maior de indivíduos com o mesmo custo ambiental.

3.1 APLICATIVOS EXISTENTES QUE COLABORAM COM A PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE

Diversos aplicativos – muitos ainda não operam no país – foram pensados para reduzir a poluição nas cidades e contribuir para o desenvolvimento sustentável em escala global, como também para recrudescer o nível de educação ambiental dos indivíduos. Medidas como estas merecem receber o incentivo estatal a fim de estimular o surgimento de novas iniciativas nutridas pela vitalidade da economia colaborativa.

Exemplos de projetos voltados à preservação ambiental (RODRIGUES, 2012):

1. Ride off carbon – aplicativo que calcula a quantidade de CO2 emitida durante o trajeto

de carro realizado pelo usuário e o quanto poderia ser reduzido caso utilizasse ônibus ou bicicleta.

2. Greenmeter – aplicativo que auxilia o usuário a dirigir de forma mais econômica, reduzindo o consumo de combustível e, consequentemente, poluindo menos o meio ambiente.

3. Verde – aplicativo que ajuda a reduzir o consumo de energia elétrica, por meio da análise dos eletrodomésticos que o usuário possui em sua residência.

4. Solar Panels Suitability Checker – aplicativo que permite descobrir se a residência do usuário pode ser alimentada por energia solar e qual deve ser a direção dos paineis solares, de acordo com a sua localização via GPS.

5. Good Guide – aplicativo que analisa o produto a ser consumido, por meio do seu código de barras, informando o nível toxicológico, uso de trabalho escravo, dentre outras coisas.

Exemplos de projetos voltados à educação ambiental (RODRIGUES, 2012):

1. Project Noah – aplicativo que ajuda o usuário a conhecer a fauna e a flora da região, fornecendo informações sobre as espécies nativas do lugar indicado via GPS.

2. Gardening Toolkit – aplicativo que ensina a cuidar de plantas e hortas, dando dicas ao usuário.

3. Leafsnap – aplicativo que ajuda a descobrir a espécie de uma planta, fotografando a folha desejada em fundo branco.

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4. Xweather – aplicativo que permite acompanhar os fenômenos naturais, por meio de um mapa que mostra furacões e terremotos que estiverem acontecendo no mundo.

5. Manual de Etiqueta Sustentável – aplicativo que ensina boas maneiras ambientais, com dicas sobre redução do uso de energia e de consumo.

6. Virtualwater – aplicativo que informa a quantidade de água utilizada para atividades do cotidiano das cidades, como, por exemplo, o volume de água necessário para produzir 1kg de carne.

7. Recicle RJ – aplicativo que auxilia o usuário a encontrar pontos de coleta de material reciclável mais próximos, utilizando o GPS, como, por exemplo, reciclagem de papel, de plástico e de óleo de cozinha.

8. BNB (Be Nice to Bunnies) – aplicativo que permite saber os produtos que foram feitos sem a adoção de práticas cruéis contra animais.

3.2 A ECONOMIA COLABORATIVA NA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL

O art. 1°, parágrafo único, IV, do Código Florestal atual (BRASIL, 2012), embora não se valha da expressão economia colaborativa, acaba lançando mão da ideia geral de colaboração subjacente a essas práticas de compartilhamento. Eis o trecho:

Art. 1o-A. Esta Lei estabelece normas gerais sobre a proteção da vegetação, áreas de

Preservação Permanente e as áreas de Reserva Legal; a exploração florestal, o suprimento de matéria-prima florestal, o controle da origem dos produtos florestais e o controle e prevenção dos incêndios florestais, e prevê instrumentos econômicos e financeiros para o alcance de seus objetivos.

Parágrafo único. Tendo como objetivo o desenvolvimento sustentável, esta Lei atenderá aos seguintes princípios:

IV - responsabilidade comum da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, em colaboração com a sociedade civil, na criação de políticas para a preservação e restauração da vegetação nativa e de suas funções ecológicas e sociais nas áreas urbanas e rurais;

Assim, por previsão legislativa específica, a sociedade civil deve colaborar com os entes federativos na criação de políticas para preservação e restauração do meio ambiente.

Embora o sentido de colaborar adotado pelo Código remeta à ideia de participação da sociedade civil na elaboração das políticas ambientais a fim de conferir maior legitimidade à atuação do Estado, a Constituição Federal impõe à toda coletividade o dever de defender e de preservar o meio ambiente (art. 225, caput) e erige ao status de princípio da ordem econômica a defesa do meio ambiente, inclusive com previsão de tratamento diferenciado, conforme o impacto ambiental dos respectivos produtos e serviços (art. 170, VI).

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Constata-se que o direito positivo não reservou espaço próprio para o estímulo à economia de compartilhamento, em que pese a notória repercussão das vantagens ambientais que o acesso compartilhado confere.

Todavia, a Constituição Federal atribui competência legislativa concorrente em matéria de proteção ao meio ambiente, nos termos do art. 24, VI, o que permite que os estados e os municípios, de forma suplementar (art. 24, §2°), possam incluir a economia colaborativa no rol de atividades fomentadas pelo Estado.

Ainda que o Poder Legislativo de cada ente federativo deixe de realizar a alteração legislativa necessária, pode o Poder Executivo, por ato de seu Chefe ou por delegação a órgão ou autarquia competente, promover diretamente o incentivo ao desenvolvimento da economia colaborativa, porque o meio ambiente equilibrado se afigura direito de todos (art. 225, caput, CF) bem como sua proteção se insere no âmbito da competência comum da União, dos Estados-membros e dos Municípios (art. 23, VI, CF).

4 CONCLUSÃO

A promoção do desenvolvimento sustentável, mesmo na sua visão ética-ambiental antropocêntrica, é de extrema dificuldade de efetivação dada a ordem econômica vigente. Neste contexto, a economia colaborativa é uma possível ferramenta sustentável por ser um meio possível do acesso das pessoas aos direitos fundamentais de segunda geração, de modo a reduzir as desigualdades sociais pela via do acesso a bens e serviços, sem passar pela deficiente prestação de serviços públicos pelo Estado.

Baseada em modelos de negócios de trocas intermediadas por uma comunidade on-line, modifica a lógica de mercado baseada na ideia de propriedade por um modelo pautado pela ideia do uso, em que a tônica passa a ser a busca pelo acesso aos bens de consumo, sem necessariamente perpassar pela efetiva aquisição dos bens. Além disso, essa democratização do acesso é, na economia colaborativa, maximizada pelo uso da Internet como ferramenta de ação, transbordando com enorme rapidez as fronteiras dos Estados.

Para além de mero estímulo, o próximo passo para a Administração Pública seria incorporar a economia colaborativa às práticas administrativas, valendo-se da eficácia direta dos princípios constitucionais da eficiência e da economicidade, norteados pela doutrina da Administração de resultado, em que a busca por melhores resultados com menor custo possível se torna a tônica, mormente em momentos de crise econômica como a atual.

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REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 1988

_______. Lei nº 6.938. Política Nacional de Meio Ambiente. 1981

_______. Lei nº 12.651. Código Florestal. 2012

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