• Nenhum resultado encontrado

Caraterização dos hábitos tabágicos na Escola Secundária Miguel Torga : relatório final da atividade de investigação e inovação, área 2 do estágio pedagógico realizado na Escola Secundária Miguel Torga

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Caraterização dos hábitos tabágicos na Escola Secundária Miguel Torga : relatório final da atividade de investigação e inovação, área 2 do estágio pedagógico realizado na Escola Secundária Miguel Torga"

Copied!
103
0
0

Texto

(1)

Caraterização dos Hábitos Tabágicos na Escola

Secundária Miguel Torga

Relatório Final da Atividade de Investigação e Inovação – Área 2

do Estágio Pedagógico realizado na Escola Secundária Miguel

Torga, com vista à obtenção do Grau de Mestre em Ensino da

Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário

Orientadora: Mestre Fernanda Maria Castanheira Costa Marques Santinha, professora assistente convidada da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade Técnica de Lisboa

Júri: Presidente

Professor Doutor Marcos Teixeira de Abreu Soares Onofre, professor associado da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade Técnica de Lisboa

Vogais

Doutor António José Mendes Rodrigues, professor auxiliar da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa

Doutora Ana Luisa Dias Quitério, professora assistente convidada da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade Técnica de Lisboa

Mestre Fernanda Maria Castanheira Costa Marques Santinha, professora assistente convidada da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade Técnica de Lisboa

Catarina Mendonça Caetano

(2)
(3)

Agradecimentos

Começo por agradecer à minha família, em especial aos meus pais, que desde cedo me incutiram valores de realização profissional e pessoal. Aos meus filhos, Francisco e Maria por constituírem parte da motivação na concretização deste trabalho e pela compreensão e apoio incondicional transmitido ao longo deste processo. Ao meu companheiro, pela partilha, apoio e tolerância aos efeitos do tempo que a concretização deste trabalho lhe usurpou.

À minha orientadora, Professora Fernanda Santinha pela disponibilidade, rigor, incentivo, orientação e profissionalismo com que suportou a minha evolução profissional e em especial no decurso deste trabalho e ainda pela clareza e exigência colocadas nos desafios propostos, esperando que este projeto reflita a qualidade e nível com que sempre conduziu este processo.

Agradeço às instituições e pessoas que tornaram possível a concretização deste trabalho, a minha profunda gratidão, em particular à Escola Secundário Miguel Torga, à Dra. Isabel Ruivo da Consulta de Cessação Tabágica do Hospital de Faro e à minha colega Professora Ana Cristina Fonseca.

(4)

Resumo

Introdução. O presente documento representa o Relatório Final do Mestrado em Ensino

da Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário, e tem como base o estudo de investigação desenvolvido no âmbito do estágio profissional que consistiu na caraterização, desenvolvimento e perceção do hábito de consumo tabágico dos alunos da Escola Secundária Miguel Torga. Decorrentes da análise do estudo, projetaram-se orientações de evolução do mesmo e elaborou-se uma proposta de intervenção no âmbito da prevenção tabágica na escola.

Instrumentos. No estudo de investigação recorreu-se à aplicação de um questionário

elaborado pelo Núcleo de Exercício e Saúde da Faculdade de Motricidade Humana (1995).

Conclusões. 65.4% dos alunos fumadores inquiridos começam a fumar entre os 12 e os

14 anos de idade, verificou-se que os alunos estão informados e têm perceção das consequências decorrentes do consumo de tabaco. O consumo de tabaco dos alunos sugere resultar maioritariamente da influência do seu grupo de amigos. A escola é o local indicado pelos alunos como onde preferencialmente exercem o hábito de consumo de tabaco (35.1%). A prática de atividade física está inversamente relacionada com o hábito de fumar.

Palavras – Chave: Hábito de Consumo Tabágico, Alunos, Escola, Iniciação Tabágica,

(5)

Abstract

Introduction.This document represents the Final Report of the Master of Education in Physical Education Training in Primary and Secondary Education, and is based on the research study developed under the professional Internship which consisted in the characterization, development and perception of the smoking habits in High School Miguel Torga students. Resulting from the analysis of the study, were designed evolution orientations of smokig habits and drew up a proposal for intervention and prevention of smoking at school.

Sources. For the present research study, was used an application of a questionnaire developed by the “Exercise and Health Centre” (1995), from Faculdade de Motricidade Humana (1995).

Conclusions. 65.4% of smoking students who answered, start smoking between 12 and 14 years old. We obtained 906 answers. It was found that students are informed and have the right perception about consequences of tobacco consumption. Smoking habits on students result mostly of the influence of their group of friends. School is shown by students as the preferred place where they exercise the habit of smoking (35.1%). The physical activity is inversely related to the smoking habit.

Keywords: Tobacco Consumption Habit, Students, School, Smoking Initiation, Factors of

(6)

ÍNDICE

Agradecimentos ... III

Resumo ... IV

Abstract ... V

Índice ... VI

Índice de Figuras ... VII

Índice de Tabelas ... VIII

Índice de Anexos ... VIII

1

INTRODUÇÃO ... 1

2

CARATERIZAÇÃO DA ESCOLA ... 2

2.1 Enquadramento Histórico da Freguesia ... 2

2.2 Enquadramento Geográfico ... 2

2.3 Caraterização Física da Escola ... 2

2.4 Caraterização da População Escolar – Discentes ... 3

2.5 Órgãos de Administração e Gestão ... 3

2.6 Estruturas de Orientação Educativa - Articulação Curricular ... 4

2.7 Caraterização dos Recursos Humanos – Docente e Não Docente ... 5

2.8 Caraterização do Grupo de Educação Física ... 5

2.9 Instalações Desportivas ... 5

3

PARTICIPAÇÃO NA ESCOLA E RELAÇÃO COM A COMUNIDADE EDUCATIVA ... 6

3.1 Objetivos Gerais ... 6

3.2 Objetivos Específicos ... 6

3.3 Revisão da Literatura ... 7

3.3.1 Definição de Tabagismo/Hábitos Tabágicos ... 8

3.3.2 Constituintes do Fumo do Cigarro ... 9

3.3.3 Aquisição do hábito de fumar ... 11

3.3.4 Iniciação ao consumo tabágico/Jovens ... 12

3.3.5 Consumo Tabágico entre Géneros ... 14

3.3.6 Consumo Tabágico e a Escola ... 18

3.3.7 Prática Desportiva / Tabagismo ... 26

3.3.8 Conceito de Dependência ... 28

3.3.9 Doenças associadas ao tabagismo ... 31

3.3.10 Cessação Tabágica/ Estratégias de Prevenção ao Consumo Tabágico ... 32

(7)

3.3.12 Cessação tabágica/Medidas Políticas ... 35

3.4 Apresentação do estudo ... 36

3.4.1 Seleção do objeto de estudo ... 36

3.4.2 Instrumento ... 37

3.4.3 Amostra ... 38

3.4.4 Procedimentos e Análise Estatística ... 38

3.4.5 Apresentação dos Resultados... 39

3.4.6 Análise Estatística das Hipóteses ... 46

3.4.7 Discussão dos Dados ... 50

3.4.8 Conclusões do Estudo ... 56

3.4.9 Apresentação à Comunidade ... 58

4

REFLEXÃO FINAL ... 59

4.1 Proposta de Alteração do Estudo ... 59

4.2 Conclusão ... 64

4.3 Proposta de Intervenção ... 68

5

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 73

Índice de Figuras Figura 1 – a) Assembleia; b) Conselho Executivo ... 4

Figura 2 – Conselho Pedagógico ... 4

Figura 3 – Conselho Administrativo ... 4

Figura 4 – Freguesia de residência dos alunos ... 39

Figura 5 – a) Idade dos inquiridos; b) Ano de Escolaridade frequentado pelos inquiridos ... 39

Figura 6 – a) Profissão do Pai; b) Profissão da Mãe ... 40

Figura 7 – Prática de desporto fora da escola (regulamentada) ... 40

Figura 8 – a) Frequência do consumo de cigarros; b) Período de consumo dos Não Fumadores ... 41

Figura 9 – Idade do 1º Cigarro ... 41

Figura 10 – Quem influenciou o hábito de consumo ... 42

Figura 11 – Número de cigarros consumidos por dia (alunos fumadores) ... 42

Figura 12 – a) Hábito Tabágico da Mãe; b) Hábito Tabágico do Pai ... 43

Figura 13 – a) Hábito Tabágico dos Irmãos; b) Hábito Tabágico do Melhor Amigo ... 43

Figura 14 – Previsão dos alunos quanto ao facto de virem a ser fumadores regulares ... 44

Figura 15 – Relação entre o consumo tabágico e idade ... 47

Figura 16 – Relação entre o consumo tabágico e ciclo escolar ... 48

(8)

Índice de Tabelas

Tabela 1 – Caraterização da Amostra ... 38

Tabela 2 - Hábito Tabágico do Melhor Amigo e do Aluno ... 69

Índice de Anexos Anexo 1 ... 82 Anexo 2 ... 84 Anexo 3 ... 84 Anexo 4 ... 85 Anexo 5 ... 85 Anexo 6 ... 85 Anexo 7 ... 86 Anexo 8 ... 86 Anexo 9 ... 86 Anexo 10 ... 86 Anexo 11 ... 87 Anexo 12 ... 87 Anexo 13 ... 87 Anexo 14 ... 87 Anexo 15 ... 88 Anexo 16 ... 88 Anexo 17 ... 88 Anexo 18 ... 88 Anexo 19 ... 89 Anexo 20 ... 90 Anexo 21 ... 91 Anexo 22 ... 91 Anexo 23 ... 91 Anexo 24 ... 92 Anexo 25 ... 92 Anexo 26 ... 92 Anexo 27 ... 93 Anexo 28 ... 93 Anexo 29 ... 94

(9)

1 INTRODUÇÃO

O presente documento constitui o Relatório Final de Mestrado, desenvolvido no âmbito do Mestrado em Ensino da Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário, pela Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa.

O relatório tem como objetivo geral a descrição e análise retrospetiva devidamente fundamentada do estudo de investigação desenvolvido no decurso do estágio profissional, numa perspetiva integrada da experiência pessoal e profissional. Pretende-se que a abordagem Pretende-seja de síntePretende-se retrospetiva numa primeira faPretende-se, e posteriormente Pretende-se proceda a uma análise prospetiva.

O tabagismo representa, em todo o mundo, uma ameaça à saúde das populações, atribuindo-se anualmente 6 milhões de mortes decorrentes do consumo do tabaco (WHO, 2006). Sabe-se ainda que é na escola onde maioritariamente se inicia o comportamento tabágico, sendo este o local no qual os alunos expressam de forma consolidada o seu hábito de consumo (Macedo & Precioso, 2006). Reconhecendo que o consumo de tabaco é uma das principais causas evitáveis de doença, incapacidade e morte a nível mundial, é essencial a implementação de medidas de prevenção e cessação tabágica.

Desta forma, e dada a importância do problemática tabágica na escola, o estudo de investigação centrou-se na caraterização dos hábitos tabágicos dos alunos da Escola Secundária Miguel Torga durante o ano letivo de 2003/2004, permitindo traçar um perfil de consumo dos alunos. Para tal, recorreu-se à utilização e aplicação de um questionário elaborado pelo Núcleo de Exercício e Saúde da Faculdade de Motricidade Humana (1995) e à análise estatística dos dados obtidos.

No sentido de apresentar o estudo e respetivo enquadramento, parte-se de uma caracterização e contextualização do âmbito de atuação na Escola Secundária Miguel Torga para a exposição do trabalho de investigação, realizado no âmbito do estágio profissional. Por fim, aborda-se uma análise reflexiva, consubstanciada em sugestões de alterações ao trabalho original, visando uma melhoria e o prosseguimento do estudo de investigação. Dada a importância de cessação tabágica, apresenta-se ainda uma proposta de intervenção, constituída por um programa do tipo psicossocial evocando a metodologia expressiva e visando a prevenção do consumo de tabaco no 2º e 3º ciclo de escolaridade.

(10)

2 CARATERIZAÇÃO DA ESCOLA

2.1 Enquadramento Histórico da Freguesia

A Escola Secundária Miguel Torga foi implantada em 1985/86, num terreno de cultivo com uma área aproximada de catorze mil metros quadrados, tendo substituído uma seara. A Escola localiza-se na freguesia de Monte Abraão, junto à nova estação de CP de Queluz – Monte Abraão. Primeiramente chamada Escola Secundária de Massamá, passou a designar-se Miguel Torga no dia 2 de Julho de 1996 de acordo com o despacho nº68/SEAE/96. A razão da mudança de nome teve a ver com o facto de o Estado ter decidido que a cada escola deveria ser atribuído um patrono. Uma vez que Miguel Torga deixou um vasto legado literário, foi considerado uma opção definitiva para a instituição em questão (Projeto Educativo Escola Secundária Miguel Torga [ESMT], 2003).

A Escola Secundária Miguel Torga serve a população escolar de três freguesias: Monte Abraão, Massamá e Queluz (Projeto Educativo, 2003).

2.2 Enquadramento Geográfico

Uma vez que a escola se localiza na cidade de Queluz na freguesia de Monte de Abraão considerou-se pertinente fazer um enquadramento demográfico e geográfico da área em questão.

Queluz desde 24 de Julho de 1997, pertence ao Concelho e Comarca de Sintra, Distrito, Relação e Diocese de Lisboa. Após uma fase de intensa urbanização que decorreu até à primeira década do século XXI, ficou circunscrita a uma área de aproximadamente 670 hectares, com uma densidade populacional de 120 habitantes por quilómetro quadrado (Censos, 1993 in Regulamento Interno, 2003/04).

Com caraterísticas de cidade-dormitório, faz parte da área metropolitana da Grande Lisboa, pelo que alberga maioritariamente população ativa com postos de trabalho fixados na capital.

A estimativa da população residente em 31/12/97 por grupo de idades correspondia a uma percentagem de 18,2 para indivíduos com idades compreendidas entre os 0 e os 14 anos; 14,4% entre 15-24 anos; 55,6% entre 25-64 anos e 11,8% acima de 65 anos.

2.3 Caraterização Física da Escola

Todo o equipamento de natureza educativa requer, para um funcionamento adequado, uma base documental que o regule e organize internamente, permitindo nortear e concretizar decisões de natureza organizacional (Projeto Educativo 2003):

(11)

– Subordinação da autonomia das escolas aos interesses da formação das crianças e jovens;

– Respeito pelo campo profissional dos professores; – Reforço do sentido da gestão no governo da Escola.

A escola deve então desenvolver-se no sentido de vir a ser: (Projeto Educativo, 2003) 1. Espaço de aprendizagem, de sucesso e de realização pessoal;

2. Oportunidade de inclusão

3. Instituição autónoma com identidade própria;

4. Espaço de diálogo com a sociedade (que propõe colaboração e analisa propostas que lhe são feitas nesse sentido);

5. Canal de resposta aos anseios dos alunos, em articulação com suas necessidades e as potencialidades oferecidas pelo meio em que se insere;

6. Veículo de promoção da cultura (para benefício da comunidade educativa e da comunidade envolvente).

2.4 Caraterização da População Escolar – Discentes

Os alunos são o elemento fundamental da escola pois em torno deles é organizado todo o sistema de ensino. A presente instituição abrangia os seguintes anos de escolaridade: 7º, 8º, 9º (3º Ciclo do Ensino Básico), bem como 10º, 11º e 12º ano (Ensino Secundário). Os alunos do Ensino Secundário distribuíam-se por 4 agrupamentos. (Projeto Educativo, 2003).

A escola em questão funcionava exclusivamente no horário diurno e contava com um total de 1350 alunos. Estes encontravam-se repartidos da seguinte forma: 7º ano (6 turmas); 8º ano (7 turmas); 9º ano (7 turmas); 10º ano (12 turmas); 11º ano (11 turmas); 12º ano (11 turmas) (Projeto Educativo, 2003).

2.5 Órgãos de Administração e Gestão

No que respeita aos órgãos de administração, a constituição integrava a Assembleia, Conselho executivo, Conselho pedagógico e Conselho administrativo como podemos observar nos quadros 1, 2, 3 e 4 (Regulamento Interno, 2003/04).

(12)

Representantes do corpo docente Representantes dos alunos Representantes do pessoal não docente Representantes dos pais e encarregados de educação

Representante da autarquia local

Representante das atividades de carater cultural, artístico, científico, ambiental ou económico das respetivas áreas

Presidente Vice-Presidente

Assessores

a) b)

Figura 1 – a) Assembleia; b) Conselho Executivo

Presidente

Representantes do departamento curricular

Ciências Exatas e Tecnologias Linguísticas e Literaturas Ciências Humanas e Sociais

Expressões e Artes Ciências e Técnicas Empresariais

Saúde

Coordenadores dos Diretores de Turma 3º Ciclo

Secundário Representante dos Serviços Especializados

Representante dos Projetos de Desenvolvimento Educativo Representante dos Pais e Encarregados de Educação

Representante dos alunos do Ensino Secundário Representante do Pessoal Não Docente

Figura 2 – Conselho Pedagógico

Presidente do Conselho Executivo Chefe dos Serviços de Administração Vice-Presidente do Conselho Executivo

Figura 3 – Conselho Administrativo

2.6 Estruturas de Orientação Educativa - Articulação Curricular

O Projeto Educativo da escola definia um conjunto de valores, atitudes e conteúdos científicos que visavam estimular a participação ativa do aluno, almejando a que se transforme num sujeito autónomo, responsável, interveniente e dotado de espírito crítico perante as solicitações da sua realidade (Projeto Educativo, 2003).

O Plano Anual de Atividades deve estar em consonância com os princípios acima referidos e refleti-los nas atividades propostas. É um processo de operacionalização do Projeto Educativo, bem como objeto de uma avaliação sistemática e contínua por parte da respetiva secção do Conselho Pedagógico.

(13)

Assim, cabe ao Plano Anual e, consequentemente, aos vários intervenientes no processo educativo, a responsabilidade de promover e assegurar a realização de atividades que se alinhem com uma tentativa de resposta ativa às áreas problemáticas identificadas.

Após uma análise do Regulamento Interno (2003/04) da Escola Secundária Miguel Torga, destaca-se a orientação deste documento fundador enquanto elemento moderador dos naturais conflitos de interesses entre indivíduos, permitindo uma regulamentação deontológica da comunidade. Assim, a presente instituição regia-se por um conjunto de princípios que visavam incentivar atitudes de participação, responsabilização, solidariedade, cooperação, tolerância e respeito em todos os seus intervenientes.

2.7 Caraterização dos Recursos Humanos – Docente e Não Docente

Os Recursos Humanos de uma escola asseguram o seu funcionamento nas mais diversas áreas que a compõem. Para isso são fundamentais: pessoal docente e pessoal não docente. Nesta escola existiam dois quadros de pessoal não docente: pessoal auxiliar e pessoal administrativo. O pessoal não docente perfazia um total de 45 funcionários, dos quais 31 eram auxiliares de Educação e 14 pessoal administrativo. Cada professor da escola estava integrado no seu grupo de disciplina, que por sua vez pertencia a um departamento. O grupo docente era constituído por 140 professores que compunham por sua vez 21 grupos de disciplina.

2.8 Caraterização do Grupo de Educação Física

O grupo de Educação Física era composto por 14 docentes. Destes, 3 eram professoras estagiárias tendo por isso a seu cargo duas turmas. Um dos elementos do grupo tinha redução parcial no horário, tendo participação no Conselho Executivo. O cargo de delegado de grupo era da responsabilidade de um dos docentes do quadro.

2.9 Instalações Desportivas

A Escola Secundária Miguel Torga, ao nível de instalações desportivas existentes, apresentava: 1 Pavilhão Gimnodesportivo; 1 Ginásio; 2 Campos de Basquetebol exteriores; 1 Campo de Futebol/Andebol exterior; 1 Campo exterior denominado “Piscina”; 2 Balneários exteriores e 2 Balneários interiores (incluindo cada um 2 vestiários, zona de duches e 2 casas de banho); 1 Gabinete de Educação Física (com casa de banho e duche); 1 Arrecadação exterior e 1 Arrecadação interior. De seguida, uma análise da polivalência dos vários espaços (Regulamento Interno, 2003/04).

(14)

3 PARTICIPAÇÃO NA ESCOLA E RELAÇÃO COM A COMUNIDADE EDUCATIVA

Este ponto incidiu sobretudo na realização de um estudo “Tabaco – Análise dos Hábitos Tabágicos na Escola Secundária Miguel Torga”.

Uma das finalidades do Projeto Educativo (2003) era desenvolver projetos de Escola ligados à Educação para a Saúde, temática reforçada no Regulamento Interno (2003/04) “(…) a realização de uma escolaridade bem sucedida, numa perspetiva de formação integral do cidadão, implica a responsabilização do aluno, enquanto elemento nuclear da comunidade educativa, e a assunção dos seguintes deveres gerais (…) i) Não possuir e não consumir substâncias aditivas, em especial drogas, tabaco e bebidas alcoólicas, nem qualquer forma de tráfico, facilitação e consumo das mesmas” (Regulamento Interno, 2003/04 p.35, tradução livre).

Pareceu-nos pertinente intervir de acordo com o projeto educativo e estudar a caracterização da população discente por forma a compreender a problemática do consumo tabágico (população discentes fumadora, Factores de influência ao consumo tabágico, protocolos e medidas de prevenção antitabágicas) e tentar com base neste estudo contribuir para uma maior compreensão do fenómeno, para que no futuro a escola pudesse encontrar formas combate e prevenção mais eficazes e adequadas.

Assim para dar seguimento ao estudo, estabeleceram-se objetivos gerais e específicos, como podemos ver de seguida.

3.1 Objetivos Gerais

Identificar e caraterizar os hábitos tabágicos dos alunos da Escola Secundária Miguel Torga, rastrear a origem, factor de influência e desenvolvimento deste hábito, bem como, a perceção que os alunos tinham do assunto. Pretendeu-se verificar estes factores ao nível dos diferentes ciclos e anos de escolaridade, enquadrando assim a realidade dos hábitos de consumo tabágico na população discente, permitindo no futuro traçar estratégias preventivas com a maior implementação possível.

3.2 Objetivos Específicos

Para se proceder à caracterização dos hábitos tabágicos dos alunos tendo em consideração a estratificação do consumo de tabaco e por forma a aprofundar o estudo, procurou-se responder às seguintes questões:

 Distribuição etária dos fumadores;

(15)

 Relação de influência entre a prática desportiva regulamentada (fora da escola) e o consumo de tabaco;

 A existência de influência entre o consumo tabágico de pais, irmãos e melhor amigo e o consumo de tabaco pelo próprio aluno;

3.3 Revisão da Literatura

A utilização da planta do tabaco remonta ao século I antes de Cristo entre as tribos autóctones da América Central, e com maior difusão territorial no contexto do Império Maia, que implementou a aplicação fumada (aspiração e inalação) desta planta, quer para usos ritualísticos, quer para fins medicinais (Borio, acedido em abr. 14, 2013).

A vulgarização do consumo de tabaco entre as populações europeias ocorreu após a colonização das Américas (a partir do século XVI), primeiro enquanto mercadoria de luxo para as elites, e a partir da Revolução Industrial já como hábito transversal a toda a sociedade. Embora os modos de consumo tenham sido tão díspares quanto a inalação (cigarro, charuto, cachimbo e cigarrilha), aspiração (rapé) e mascação (tabaco em folha), a forma que predominou sobre as restantes foi a inalação do fumo resultante de combustão direta (em cachimbo, charuto e especialmente em cigarro1) (Borio, acedido em abr. 14, 2013).

A partir da segunda metade do século XX inicia-se o processo de sensibilização para os efeitos nocivos do consumo de tabaco, despoletados pelo relatório assinado por Morton Levin para a American Medical Association, ao qual se seguiu um longo litígio entre a comunidade científica e a indústria tabaqueira, culminando em 1964 com a publicação do relatório “Smoking and Health”, que tornaria pública a relação direta entre cancro de pulmão e tabagismo2.

Atualmente, World Health Organization (WHO) estima que um terço da população mundial, ou seja cerca de 1,3 biliões de pessoas seja fumadora (Shafey, Dolwick & Guindon, 2003). Destes, 370 milhões encontram-se nos países da União Europeia (WHO, 2013).

1

“Levin was then the director of Cancer Control for the New York State Department of Health. His

epidemiological survey of Buffalo patients between 1938 and 1950 appeared in The Journal of the American Medical Association. His shocking and controversial conclusion: smokers were statistically twice as likely to develop lung cancer as non-smokers.” in Borio, Gene in The Tobacco Timeline acessível online em

http://archive.tobacco.org/resources/history/Tobacco_History.html

2

(16)

Apesar de Portugal ter uma das mais baixas prevalências de fumadores na Europa, na análise decorrente dos dados obtidos através do Eurobarómetro3 de 2012 estimou-se que 23% dos cidadãos fossem fumadores (Special Eurobarometer 385, 2012).

3.3.1 Definição de Tabagismo/Hábitos Tabágicos

A expressão “tabagismo” resulta da tradução literal do francês “tabagisme” cuja definição reporta ao consumo de produtos derivados do tabaco, principalmente cigarros (Trigo, 2007).

De acordo com a WHO e Center for Disease Prevention and Control (CDC) dos EUA, a definição de fumador refere-se àquele que tenha fumado pelo menos um cigarro nos últimos trinta dias. Ainda segundo a definição da WHO, considera-se como fumador regular o indivíduo que tenham fumado 100 ou mais cigarros ao longo da vida e que ainda continua a fazê-lo.

Podemos caracterizar os hábitos tabágicos de um determinado grupo atribuindo 3 categorias:

Fumadores: indivíduos com 15 e mais anos que fumavam à data do inquérito. Estes

subdividem-se em dois grupos: os que fumavam diariamente pelo menos um cigarro (fumadores diários) e os fumadores ocasionais.

Não fumadores: Indivíduos com 15 e mais anos que declararam nunca ter fumado até à

data do inquérito.

Ex-fumadores: indivíduos com 15 e mais anos que à data do inquérito já não eram

fumadores, mas que declararam ter mantido este hábito no passado. À semelhança dos fumadores, os ex-fumadores também foram reunidos em dois grupos: os ex-fumadores

diários e ex-fumadores ocasionais (Machado, Nicolau, Dias, 2009).

Por sua vez, a definição de tabaco refere-se a uma planta herbácea alta, cujas folhas são colhidas, curadas e enroladas para a produção de charutos, cortadas para utilização em cigarros e cachimbo ou tratadas por forma a serem mastigadas ou inaladas sob forma de rapé (Trigo, 2007). A espécie mais comercializada e consequentemente mais comum é a

nicotiana tabacum e nicotiana rustica (Caldeira, 2000).

3

http://ec.europa.eu/health/tobacco/docs/eurobaro_attitudes_towards_tobacco_2012_en.pdf, acedido em abr. 28, 2013.

(17)

3.3.2 Constituintes do Fumo do Cigarro

O fumo do tabaco é um aerossol constituído por uma fase gasosa e uma fase de partículas e contem mais de 4000 substâncias tóxicas (United States Department of Health and Human Services [USDHHS], 1989). Muitas destas substâncias estão presentes na folha do tabaco, outras resultam da absorção, pela planta, de substâncias existentes no solo ou no ar, nomeadamente pesticidas e fungicidas; outras são resultado do processo de cura e armazenamento da folha (WHO, 2006).

Existem ainda aditivos utilizados na Industria do tabaco com o intuito de humidificar o fumo, tornando-o menos irritante para as vias aéreas, alguns destes ingredientes podem potenciar o efeito aditivo da nicotina (WHO, 2006).

Atualmente na nossa sociedade, a forma mais comum de utilizar o tabaco é fumando-o. (Nunes, 1995).

A temperatura de combustão do cigarro ocorre a cerca de 900º C, durante a aspiração do fumo por parte do fumador e 600º C, nos intervalos entre as aspirações. Esta diferença de temperatura, associada à maior ou menos presença de oxigénio, leva a que o fumo inalado pelo fumador, designada por corrente principal de fumo, seja qualitativa e quantitativamente diferente do fumo libertado para a atmosfera, também designado por corrente lateral ou secundária (WHO, 2004). O fumo da corrente lateral ou secundária é de constituição mais alcalina e contém partículas de menor dimensão, contudo a concentração de algumas substâncias tóxicas é mais elevada, o que torna o fumo ambiental potencialmente mais nocivo à saúde do que o fumo inalado diretamente pelo fumador (WHO, 2006).

Apesar dos valores indicados nos respetivos rótulos, todos os constituintes do tabaco são nocivos para a saúde, não havendo um limiar seguro de exposição. Mesmo quando os valores referidos são baixos, o fumador pode, em função do modo e frequência com que inala o fumo, ficar exposto a doses mais elevadas dos compostos acima mencionados, factor que conduziu, na União Europeia 4, à proibição da utilização das expressões light, ultralight e mild na rotulagem. (WHO, 2006).

Foram identificados 158 compostos químicos, de acordo com o International Agency for Research on Cancer (IARC), 22 dos quais são reconhecidos como potencialmente cancerígenos. (Fowles & Dybing, 2003). Existem, no entanto, outros estudos que

4

Diretiva europeia nº 89/622/CEE sobre a rotulagem dos produtos do tabaco transposta para ordem jurídica nacional através do Decreto-Lei nº 25/2003 de 4 de Fevereiro (Diário da República, 2003)

(18)

identificam um maior número de compostos com potencial cancerígeno, considerando que existem 50 perfeitamente identificados e validados, e existem ainda outros compostos com potencial tóxico (California Environmental Protection Agency:Office of Enviromental Health Hazard Assessment [OEHHA], 1997).

É importante considerar que o fumo dos cigarros inclui uma fase gasosa, partículas líquidas e sólidas. A fase das partículas forma um condensado e, após a sua inalação, 70% deste condensado fica depositado nos pulmões, provocando a irritação das vias respiratórias, produção excessiva de muco e lesões ao nível da rede capilar alveolar (National Respiratory Training Centre [NRTC], 2004).

Na fase gasosa identificaram-se algumas substâncias químicas, entre as quais se destacam: Azoto, Árgon, Oxigénio, Dióxido de Carbono, Monóxido de Carbono, Hidrogénio, Metano, Anidrido Carbónico, Propano, Acetileno, Etileno, Formaldeído, Acetaldeído, Álcool, Acetona, Amónia, Nitrogénio, Acroleína, Ácido Clorídrico e Nicotina (Fowles, Dybing, 2003). Na fase de partículas, substâncias retidas nos filtros (alcatrão do tabaco) foram identificadas diferentes substâncias químicas, nomeadamente: Polónio, Cádmio, Hidrocarbonetos alifáticos e alicíclicos, Terpenas, Isoprenóides, Álcoois, Esteres, Aldeídos, Acetonas, Ácidos Gordos, Fenóis, Amino-Ácidos, Alcalóides (sobretudo Nicotina), Hidrocarbonetos aromáticos policíclicos de elevado peso molecular (alguns de ação cancerígena), Alumínio, Arsénio, Cobre, Crómio, Cálcio, Níquel, Potássio, Sódio e Nicotina (Fowles & Dybing, 2003).

Dado que as normas europeias apenas obrigam à indicação nos rótulos dos maços de cigarros das quantidades presentes de nicotina, monóxido de carbono e alcatrão (normas da International Standard of organization /Federal Trade Comission: ISO 3308), é importante aprofundar estes 3 constituintes:

• Nicotina: é um alcaloide vegetal existente na planta e no fumo do tabaco. (WHO, 2004). Durante a sua semivida, a nicotina provoca varias alterações psicofisiológicas, nomeadamente sobre o sistema cardiovascular, o aparelho digestivo, o sistema endócrino e metabólico e o sistema nervoso central (USDHHS, 1988), suscitando uma dependência semelhante ao da heroína ou da cocaína (The Royal College of Physicians of London [TRCPL], 2000).

Tem propriedades psicoativas, alterando os estados de humor. Atinge o cérebro em poucos segundos, após a absorção através dos pulmões e/ou mucosa da boca, fossas nasais e orofaringe, espalhando-se através da corrente sanguínea a todo o organismo (USDHHS, 1988).

(19)

• Monóxido de carbono: é um gás inodoro que, quando inalado em grandes quantidades, se torna letal. Forma-se durante a combustão dos produtos do tabaco. É tóxico para o organismo, reduzindo a capacidade do sangue para transportar oxigénio dos pulmões às células dos tecidos e órgãos.

O monóxido de carbono tem grande afinidade com a hemoglobina – cuja função é o transporte de oxigénio para as células – dando lugar à formação de carboxihemoglobina, impedindo-a, assim, de cumprir adequadamente esta função. A combinação entre o CO e a hemoglobina é 200 vezes mais rápida que a combinação entre o oxigénio e a hemoglobina, estimando-se que cerca de 15% do sangue de um fumador transporte CO, em vez de oxigénio (NRTC, 2004).

O monóxido de carbono está ainda associado ao desenvolvimento de doença isquémica coronária, pensando-se que esse facto resulte da interferência com a oxigenação do miocárdio e do aumento da adesividade das plaquetas e dos níveis de fibrinogénio (WHO, 2008; USDHHS, 1988).

• Alcatrão: conjunto de partículas sólidas suspensas no fumo do tabaco. Na sua forma condensada, o alcatrão é uma substância gomosa e acastanhada, que provoca o amarelecimento dos dedos e dos dentes dos fumadores. O alcatrão contém mais de 3500 substâncias químicas, entre as quais poderosos cancerígenos, como os hidrocarbonetos aromáticos policíclicos e as nitrosaminas (WHO, 2008; USDHHS, 1988).

3.3.3 Aquisição do hábito de fumar

A iniciação ao consumo de cigarros constitui uma sequência de etapas que vão desde o não fumar, até ao estabelecimento de uma dependência mais ou menos grave. Estas fases são influenciadas por factores próximos e pessoais, mas também factores mais distantes: Factores sociodemográficos designadamente a evolução dos diferentes estádios de desenvolvimento do consumo tabágico e a influência da demografia e estilos de vida; Factores ambientais como é o caso da influência exercida pela publicidade, a acessibilidade do produto, a aceitação social em relação ao consumo ou a pressão dos pares; Factores comportamentais (USDHHS, 1994).

Na União Europeia, o pico da iniciação tabágica ocorre entre os 12 e 14 anos. A idade média de iniciação tabágica (primeiro contacto) para os portugueses é de aproximadamente 12 anos para o sexo feminino e de 11 anos para o sexo masculino (Nunes, 2003). Relativamente ao início do consumo regular de tabaco em Portugal, situa-se maioritariamente entre os 18 e os 24 anos (39%), situa-sendo que 19% dos fumadores

(20)

inquiridos iniciaram o consumo na adolescência, e apenas 6% referiram ter começado a fumar depois dos 24 anos (Nunes, 2003).

3.3.4 Iniciação ao consumo tabágico/Jovens

Os mais proeminentes estudos científicos demonstram que é na adolescência, durante a idade escolar, que o consumo de tabaco tem início (Vitória, Salgueiro, Silva & De Vries, 2009).

A escola é o local de iniciação do comportamento tabágico, cerca de 60% dos alunos portugueses tiveram a sua primeira experiência tabágica na escola, e cerca de metade (50%) receberam ofertas de cigarro na escola (Macedo & Precioso, 2006). Sabe-se ainda que entre os comportamentos aditivos, o consumo de tabaco é um dos que está mais consolidado durante a adolescência (Macedo & Precioso, 2006).

Admitindo que não exista uma razão única que explique por si só a iniciação tabágica, diversos estudos apontam para um conjunto de Factores complexos e relacionados que são predisponentes da iniciação do consumo. Estes Factores ocorrem de forma mais intensa durante a adolescência tais como normas e valores da família e do grupo de pares; determinadas características pessoais, Factores sociodemográficos (idade, género, classe social, nível de escolaridade), a adoção de comportamentos problemáticos, a impulsividade, o baixo rendimento académico, a rebeldia e o consumo de álcool e de outras substâncias, bem como a acessibilidade aos produtos do tabaco (Nunes et al., 2007).

De acordo com o estudo realizado por Mendonza, Pérez e Foguet, os comportamentos de saúde, nomeadamente o consumo tabágico, são determinados por Factores biológicos, psicológicos, microssociais (família, amigos, escola), macrossociais (media), ambientais, culturais e económicos (Mendonza, Pérez & Foguet, 1994). Os elementos anteriores são delineados dentro dos seguintes parâmetros:

Factores Pessoais: incluem o conhecimento dos riscos associados ao consumo de

tabaco; necessidade de demonstrar que se atingiu a maioridade; desejo de comportar-se como um adulto; curiosidade inerente à condição de jovem; crenças associadas ao consumo tais como «fumar ajuda a emagrecer», «fumar ajuda a aliviar e resolver problemas»; necessidade de chamar a atenção dos outros através de comportamentos desviantes.

Factores Sociais: compreendem a atitude positiva em relação a fumar por parte de

amigos, pais, irmãos e ídolos; o facto de pais, irmãos e amigos fumarem; o facto de fumar ser um comportamento socialmente aceite.

(21)

Factores Ambientais: a acessibilidade e facilidade de compra dos produtos (cigarros,

cigarrilhas); a exposição à publicidade e marketing e vulnerabilidade à mensagem inerente; baixo preço do tabaco.

No estudo “Uso do tabaco por estudantes adolescentes portugueses e Factores associados”, os adolescentes inquiridos apontaram como principais motivos que os conduziram à experiência de fumar a curiosidade, os amigos desenvolverem este mesmo hábito, elevados níveis de ansiedade e consequente obtenção de prazer no ato (Fraga, Ramos & Barros, 2006).

A aquisição do hábito de fumar é apenas um exemplo, não sendo por isso, uma simples resposta a um estímulo. É um processo complexo que provavelmente se desenvolve ao longo do tempo, segundo uma sequência ordenada de estágios (Precioso & Macedo, 2006).

De acordo com USDHHS (1994) existem 5 fases de iniciação ao tabagismo em adolescentes e jovens:

Fase preparatória: esta etapa é caraterizada pelo estabelecimento de crenças e atitudes

acerca do significado ou utilidade de fumar. Apesar de não ter necessariamente de iniciar o consumo tabágico, o adolescente pode atribuir-lhe um sentido instrumental (fumar permite criar novos laços de amizade, fumar ajuda a lidar com o stress). Nesta fase são Factores de risco a pressão exercida pelos modelos adultos e irmãos fumadores, a acessibilidade, o preço do tabaco e inexistência de leis para a regulação do consumo (USDHHS, 1994);

Fase de prova: compreende as primeiras duas ou três vezes em que o adolescente

fuma, sendo frequente a presença de pares que aliciam a prova do cigarro. A perceção dos efeitos fisiológicos mais imediatos resultantes do consumo do cigarro, nomeadamente a melhoria da atenção e memória, redução do stress e ansiedade e diminuição do apetite, associados ao incentivo social por parte de outros fumadores podem determinar se o adolescente evolui ou não para a fase seguinte (Nunes et al., 2007; USDHHS, 1994);

Fase experimental: implica um consumo frequente, embora irregular de cigarros. O ato

de fumar passa a constituir uma resposta habitual quer na presença de determinadas pessoas (amigos, namorada/o), quer em situações sociais (festas, concertos). Todavia, ainda não se estabeleceu nesta fase um padrão regular de consumo (USDHHS, 1994).

Uso regular: esta fase é caracterizada pela consolidação do hábito tabágico, em que, o

consumo passa a ser regular, geralmente semanal, acompanhado de um aumento de situações e interações sociais que potenciam este comportamento (USDHHS, 1994).

(22)

Fumador dependente: nesta fase já se estabeleceu uma adição fisiológica à nicotina.

Esta fase é caraterizada pelos sinais de tolerância, que induzem a um aumento do consumo para obter uma resposta semelhante à inicial e visíveis sintomas em situação de abstinência (USDHHS, 1994).

Num estudo longitudinal realizado por Wetter e colaboradores (2004), verificou-se que nenhum dos jovens não fumadores passou a fumador regular, embora 11,5% evoluísse para um padrão ocasional de consumo. Nos fumadores com padrão ocasional de consumo 34,9% permaneceram neste padrão, sendo que 14,4% progrediram para um padrão de consumo regular e 50,7% cessou o consumo de tabaco. Dos consumidores regulares 60% manteve o padrão de consumo, 28,2% reduziu o consumo sendo que 13,4% cessou o consumo de tabaco. Este estudo revela uma progressão entre os diferentes estádios de consumo tabágico, nomeadamente entre o estádio de fumador ocasional, para o de fumador regular (Wetter et al., 2004).

Na adolescência, a pressão exercida pelos pares (factor ambiental) é um factor relevante na iniciação tabágica. Os fumadores que iniciam o hábito tabágico muito precocemente (doze anos de idade) têm em média 3 amigos fumadores. Em comparação, com jovens que iniciem o consumo tabágico mais tardiamente, estes revelam ter em média apenas 1 amigo fumador (Willis, Resko, Ainette & Mendoza, 2004).

O efeito desta pressão ocorre essencialmente, durante a fase de iniciação, período após o qual a sua influência se atenua (USDHHS, 1994).

O início do consumo de tabaco em idades mais jovens está associado a uma maior dependência (Rosendo, Fonseca, Guedes & Martins, 2009); cerca de um terço a metade dos adolescentes que experimentam o tabaco, tornam-se fumadores durante a idade adulta (McNeil, 1991). O risco de adoecer é tanto maior quanto mais cedo se iniciar o hábito tabágico (Harrell, Bangdiwala, Deng, Webb & Bradley, 1998).

É importante reiterar que numa fase em que os traços de personalidade estão ainda em processo de consolidação o risco de adição é frequentemente subestimado pelos novos fumadores. Este grupo constitui uma camada de população especialmente sensível aos perigos decorrentes do consumo tabágico, uma vez que foi comprovado que 50% da população entre os 35 e os 69 anos que falece de complicações desencadeadas pelo mesmo iniciou-se como fumador durante a adolescência (Vitória et al., 2009).

3.3.5 Consumo Tabágico entre Géneros

A prevalência do consumo entre géneros varia entre as diferentes zonas geográficas a nível mundial. Encontra-se um predomínio de fumadores do género masculino na zona

(23)

Oeste da Ásia e no Pacífico (62%), e menor incidência na zona Subsaariana de Africa (28%). No género feminino verifica-se uma maior prevalência na América Latina (22%), zona sul da Ásia (4%), Médio Oriente e Norte de África (7%). Globalmente a prevalência é maior para o género masculino constituindo 81% dos fumadores a nível mundial (Jha, Ranson, Nguyen & Yach, 2002).

De acordo com os dados do Eurobarómetro de 2012, a presença de fumadores nos países europeus (EU27) é de 28%. O mesmo estudo revela que há uma maior prevalência no género masculino, 32%, relativamente ao género feminino, com 24% (Special Eurobarometer 385, 2012).

Apesar de Portugal ter verificado uma descida na taxa de fumadores (29% em 2002, 23% em 2006 e em 2012) comparativamente com a verificada na união europeia, a prevalência de fumadores do género feminino aumentou. Os dados resultantes do Inquéritos Nacionais de Saúde [INS] referentes ao período entre 1987 e 2006 revelaram um ligeiro decréscimo (2.7%), tendo-se verificado um aumento do consumo tabágico nível europeu. Portugal tem sido um dos países com menor prevalência de fumadores tanto no sexo masculino como no feminino, verificando-se contudo, nas últimas décadas, um preocupante aumento do consumo tabágico nas mulheres e nos jovens, com um aumento acentuado no grupo etário dos 15 aos 24 anos (Direção Geral de Saúde [DGS], 2012; Ministério da Saúde [MS], 2006; WHO, 2004).

Também o estudo realizado por Precioso et al. revelou uma maior prevalência de fumadores regulares com 15 anos no género masculino (12.3%), face ao género feminino (8.6%) (Precioso, Samorinha, Macedo & Antunes, 2012), mas que contraria os dados obtidos no estudo Health Behaviour in School-aged Children Portugal [HBSC], no qual a prevalência de fumadores regulares era superior nas raparigas (12%) em relação aos rapazes (9%) (Currie, Gabhainn, Godeau, Roberts, Smith & Currie, 2008).

A tendência da utilização de tabaco na população com mais de 15 anos é diferente da registada na população com idade inferior. A prevalência do consumo de tabaco em Portugal Continental para o género masculino revelou um ligeiro decréscimo de 2.7% (passou de 33.3% a 30.6%). Já no género feminino ocorreu um aumento do consumo de 6.8% (passou de 4.8 a 11.6%) para todas as faixas etárias, sendo mais significativo no grupo dos 35 aos 44 anos (aumentando de 6.3% para 21.2%) e dos 45-54 anos (aumentando de 2.4% para 12.6%) (Precioso, Calheiros, Pereira, Campos, Antunes, Rebelo & Bonito, 2009).

(24)

Relativamente à prevalência do consumo por região, nas regiões Norte, Centro, Algarve, Açores e Madeira, é maior nos rapazes do que nas raparigas, verificando-se o oposto em Lisboa e Vale do Tejo bem como na região do Alentejo (Precioso et al., 2009).

De acordo com as fases de evolução de epidemia tabágica (Thun, Peto, Boreham & Lopez, 2012) em que:

Fase I – Caracteriza-se por uma baixa incidência no consumo de tabaco, sendo mais

significativo no sexo masculino; mais incidente ao nível das classes sociais mais favorecidas.

Fase II – Nesta fase verifica-se um aumento do consumo de tabaco no sexo masculino

em mais de 50%. A evolução no sexo feminino encontra-se 10 a 20 anos atrasada face à situação observada no sexo masculino; problemática do consumo tabágico estende-se a todas as classes sociais.

Fase III – Carateriza-se pela estabilização do consumo nos homens e um aumento do

consumo das mulheres.

Fase IV – Há um decréscimo no consumo de tabaco tanto para o sexo masculino como

para o feminino; O decréscimo é maior nas classes sociais mais desfavorecidas.

A situação da população portuguesa encontra-se em fase de transição da fase II para a fase III, com uma tendência para estabilizar o consumo nos homens e com um acentuado aumento do consumo por parte das mulheres (Precioso et al., 2009).

Os estudos que abordam esta temática, revelam existir diferenças entre rapazes e raparigas na frequência do comportamento tabágico, nos padrões de consumo e nos sintomas da pressão social. As diferenças encontradas no padrão de consumo entre géneros poderão ser justificadas com desconformidades na perceção desta problemática, dos Factores que estão na origem da iniciação tabágica bem como diferenças encontradas ao nível da motivação para o consumo entre homens e mulheres (Matos, Gaspar, Vitória, & Clemente, 2003).

Constatou-se ainda que as raparigas ficavam mais facilmente viciadas em nicotina do que os rapazes, o que poderá ajudar a explicar o aumento da prevalência tabágica mesmo em faixas etárias mais avançadas (DiFranza et al., 2002; Precioso & Macedo, 2006).

Num estudo comparativo entre raparigas que iniciaram o hábito tabágico e aquelas que não o fizeram, revelou-se uma relação de influência direta entre a existência de pais e amigos fumadores, em que as raparigas fumadoras apresentam maior percentagem de pais e amigos fumadores, do mesmo modo que revelam ainda em maior número

(25)

problemas relacionais com pais e círculo familiar, bem como uma noção errática de que existem mais fumadores do que os que existem na realidade. O mesmo factor foi estudado entre géneros, concluindo-se que a influência parental (consumo e maior aceitação dos pais) contribui para a prevalência tabágica das raparigas, mas não para a dos rapazes. As raparigas são mais suscetíveis à influência do comportamento tabágico da mãe enquanto os rapazes demonstram ser mais influenciados pelo comportamento tabágico do pai (Charlton & Blair in Matos et al., 2003).

As raparigas fumadoras revelam maior tendência para a rebelião e risco, têm uma fraca relação com a escola e com a religião, demonstram menos informação sobre os riscos associados ao consumo de tabaco, e uma maior tendência para aliar o consumo de tabaco à perda de peso e melhor gestão de emoções negativas (USDHHS, 1994; USDHHS, 2001). Apesar de as raparigas adolescentes utilizarem o tabaco como forma de parecer mais rebeldes e autoconfiantes, os rapazes utilizam-no como mecanismo para compensar a insegurança social (Charlton & Blair in Matos et al., 2003). A crença de que o tabaco ajudar a controlar o peso tem sido explorada pela indústria tabaqueira que promove através de anúncios uma imagem de um ideal feminino, associando o consumo de tabaco na mulher a um arquétipo de sensualidade, charme, elegância e independência (USDHHS, 2001). Estudos apontam para que o aumento na prevalência do género feminino advenha do facto das mulheres recorrerem aos cigarros como estratégia de controlo de peso, stresse ou afetividade negativa (Chassin, Presson, Rose & Sherman, 1996).

Numa hipotética gradação de factores que condicionam os comportamentos tabágicos, Charlton e Blair (1989) concluem que, enquanto que para os rapazes, ter como melhor amigo um fumador é um critério prioritário, para as raparigas o fenómeno processa-se de diferente modo. No sexo feminino, entre os factores que são sugeridos como mais influentes estão a existência de um dos progenitores que fumam, a perceção positiva em relação aos hábitos tabágicos e, em menor grau, a relação de amizade com fumadores (Charlton & Blair, 1989 in Matos et al., 2003).

Do mesmo modo, o comportamento tabágico no sexo feminino parece comportar riscos mais elevados do que no sexo masculino; além de que os danos ao nível do sistema respiratório e cardiovascular são mais evidentes, aliam-se aos anteriores efeitos nocivos e imediatos no aparelho reprodutor (maior risco de doença inflamatória pélvica, de infertilidade e de sofrer aborto espontâneo; baixo peso do recém nascido) (USDHHS, 2004).

(26)

3.3.6 Consumo Tabágico e a Escola

“Sempre que um problema se coloca à sociedade esta volta-se para a escola, exigindo-lhe que faça educação para a cidadania: educação sexual, educação ambiental, educação para a saúde (…)” (Ferreira, 2005, p.57 tradução livre).

Sendo a escola local de eleição para a iniciação tabágica (Macedo & Precioso, 2006), e frequentemente indicada como o local onde os adolescentes e jovens mais fumam (Fraga

et al., 2006), é essencial compreender e caracterizar os hábitos tabágicos ao longo dos

diferentes ciclos de escolaridade.

Vários estudos revelam que a iniciação tabágica é cada vez mais precoce, apontando para os 12 anos como idade média onde se inicia o contacto com o consumo de tabaco (experimentação) sendo que cerca de 3% já fuma com regularidade (Fraga et al., 2006; Precioso et al., 2012). Estes dados suportam a ideia de que a experimentação e iniciação do consumo ocorre na transição do 2º para o 3º ciclo de escolaridade, com tendência a estabelecer-se mais cedo, portanto maioritariamente no 2º ciclo. A partir destes dados podemos inferir que a prevenção primária do consumo deve ser mais precoce, começando antes dos 12 anos (no sentido de evitar ou adiar a iniciação e habituação) devendo prolongar-se ao longo do percurso escolar sem excluir o Ensino Superior (Precioso, 2006; Precioso et al., 2012; Vitória et al., 2009; WHO, 1999).

É por volta dos 15 anos que se começam a instalar e revelar os primeiros sinais de adição (Damas, Saleiro, Marinho, Fernandes & Gomes, 2009; WHO, 1999), sublinhando-se o princípio de que o investimento maior dos programas deverá incidir sobre a prevenção para alunos nesta faixa etária específica, em particular na transição do ensino primário para o 2º ciclo de escolaridade promovendo desta forma a cessação tabágica e evitando que o hábito se alastre (Precioso et al., 2012; WHO, 1999).

A prevalência do consumo de tabaco entre os adolescentes determina que a escola e os seus intervenientes, com destaque para o papel dos professores, se torne num local privilegiado para sinalizar; referenciar e orientar (Precioso et al, 2012). António Carvalho vai mais longe, propondo alternativas em matéria de intervenção e prevenção escolar: mudança cultural na abordagem da problemática do tabagismo, deixando implícita uma alteração do modelo relacional entre escola, professor e aluno. Segundo este novo modelo, inverte-se a lógica que assenta sobre a escola providenciar mais recursos e atenção aos alunos com menor rendimento e maior predisposição à indisciplina; a reorganização far-se-á no sentido de que a escola proporcione espaços de debate onde o aluno não é apenas objeto de análise, mas protagonista de pleno direito, responsabilizando-se por procurar causa, meio e cura dentro da problemática em

(27)

questão. Assim, remeter a prevenção tabágica para eventos circunscritos ou atividades extracurriculares revela-se insuficiente para a eficácia desejada na construção de uma nova ordem de valores. Estes assentam em bases mais profundas de construção da personalidade, pelo que devem entrelaçar-se com todas as disciplinas curriculares e tornar-se constantes, e, por isso, da maior relevância (Carvalho, 1998).

Também a WHO, defende o papel interventivo da escola relativamente ao consumo de tabaco, tendo realizado um guia 5 que justifica e apoia o papel fundamental da escola nesta matéria, uma vez que proporciona oportunidades substanciais (WHO, 1999):

 Atinge de forma eficaz um alargado número de indivíduos da população, sendo que cerca de 80% das crianças frequentam o ensino primário e 60% concluem pelo menos 4 anos de escolaridade (em Portugal de acordo com o Gabinete de Estatística e Planeamento da Educação a percentagem de alunos que frequentam o 1º ciclo é de 100%);

 Permite alcançar alunos durante a infância e adolescência, estágios de desenvolvimento em que comportamentos tais como o consumo de tabaco são adquiridos e desenvolvidos;

 A problemática do “consumo de tabaco” pode ser abordada e tratada de forma coerente e consistente ao longo de anos, desde o 1º ciclo ao ensino secundário;

 Abordar o tema “prevenção tabágica” permite alertar ainda para o consumo de álcool e outras substâncias;

 A escola proporciona um canal privilegiado de transmissão de informação e intervenção na prevenção tabágica, assumindo a liderança na elaboração de políticas e serviços que visem a redução do consumo de tabaco.

Estudos revelam que programas preventivos realizados na escola que identifiquem os principais factores de influência à iniciação e consumo de tabaco, proporcionem e ensinem habilidades sociais de resistência quer isoladamente quer combinadas com o ensino de habilidade de autogestão pessoais e interpessoais gerais, estão cientificamente associados a uma diminuição ou retardamento do consumo (Botvin, Griffin, Paul & Macaulay, 2003). Em alunos cuja escola adotou medidas e politicas de prevenção e tratamento do consumo de tabaco a taxa de fumadores é de 25% em

5

WHO Information Series On School Health : Tobacco Use Prevention: An Important Entry Point For The Development of Health-Promoting Schools

(28)

comparação com os 60% cuja escola não adotou quaisquer medidas informativas ou preventivas (Botvin et. al., 2003; WHO, 1999).

A UNESCO, WHO e a Oficina Internacional da Educação e Saúde, recomendam que a «saúde» se deve aprender nos estabelecimentos de ensino da mesma forma que todas as ciências sociais. Pretende-se que os alunos adquiram conhecimentos e hábitos de saúde que lhes permitam alcançar um maior grau de saúde física, mental e social (Sanmarti, 1988 in Precioso, 2004). A implementação da educação para a saúde na escola é fundamentada no facto de todas as crianças de um país passarem pelo sistema de ensino, atingindo um largo espectro de população (Sanmarti, 1988; Pardal, 1990 in Precioso, 2004); a aplicação deste tipo de programas na escola atinge indivíduos ainda em fase de formação física, mental e social, mais suscetíveis e permeáveis à aprendizagem e assimilação de conhecimentos (Sanmarti, 1988 in Precioso, 2004); a escola é o lugar onde por excelência se encontram profissionais valiosos com competências e valências na área educacional, que podem colaborar de forma mais produtiva e eficaz na implementação de programas, nomeadamente promotores de saúde (Nebot, 1999 in Precioso, 2004).

É inequívoco o papel de programas de prevenção e intervenção no consumo de tabaco centrado na escola, este tipo de programas têm um impacto substancial na saúde de gerações vindouras. Para que estes programas possam de facto ser eficazes têm que intervir antes dos jovens e adolescentes iniciarem o consumo de tabaco ou abandonarem a escola (USDHHS, 1994).

A USDHHS recomenda 7 pontos que guiam à eficácia na aplicação de programas preventivos centrados no meio escolar (USDHHS, 1994):

 Desenvolver e aplicar uma política escolar de prevenção e controlo do consumo de tabaco;

 Instruir acerca das consequências fisiológicas e sociais do uso de tabaco a curto e longo prazo, influências sociais, normas de pares e habilidade de recusa;

 Proporcionar educação preventiva para o consumo de tabaco desde o pré-escolar até ao 12º ano de escolaridade, devendo ser reforçada ao longo do ensino secundário;

 Fornecer programas de formação específica para os professores;

 Envolver os pais ou famílias no suporte dos programas de prevenção ao tabaco implementados na escola;

(29)

 Apoiar os esforços de cessação tabágica dos alunos e todos os funcionários da escola;

 Avaliar o programa de prevenção do consumo de tabaco em intervalos regulares. Ainda no campo da prevenção tabágica, o European Smoking Prevention Framework

Aproach [ESFA], foi um projeto experimental de investigação-ação que teve a duração de

5 anos (1997-2001) e no qual participaram sete países da Comunidade Europeia: Portugal, Espanha, Itália, França, Reino Unido e Dinamarca. Teve por objetivo específico a redução em 10% da prevalência de consumidores regulares de tabaco na faixa etária dos 12 anos (Carvalho, 1998). Em Portugal o ESFA abrangeu alunos do 7º ano de escolaridade de quatro concelhos: Loures, Barreiros, Seixal e Moita. Deste projeto resultou a criação de um programa de prevenção “Querer é poder” (Vitória, Raposo, Peixoto, Carvalho & Clemente, 2000; Carvalho, 1998).

Existem atualmente alguns programas validados de ação preventiva do consumo de tabaco destinados à escola:

Life Skills Training (LTS): Programa desenvolvido por Gilbert Botvin nos Estados

Unidos da América, inicialmente como um programa de prevenção do tabagismo para alunos do ensino secundário e que se estendeu a todos os ciclos de escolaridade e à prevenção do consumo de álcool e marijuana. Consiste em 24 sessões (30 a 45 minutos cada) aplicadas no equivalente ao 3º, 4º e 5º ano de escolaridade do sistema português de ensino (3, 4 e 5 grades – elementary school). A fim de maximizar a eficácia da aplicação deste programa Botvin sugere um rácio de 25 alunos para 1 professor (Botvin et al, 2003).

Visa a promoção de competências pessoais e sociais e a prevenção do consumo de substâncias, centrando-se na aquisição de habilidades de resistência à pressão dos pares associada ao consumo de substâncias; aquisição de competências para a melhoria da autoestima e capacidade de relacionamento com os outros; desenvolvimento da capacidade de tomada de decisão e resolução de problemas; capacidade de lidar com a ansiedade (Botvin et al, 2003).

Os métodos utilizados neste programa incluem: a promoção de discussões de grupo; a prática e modelagem de habilidades cognitivo-comportamentais. Este programa avalia o consumo, os conhecimentos, as atitudes e crenças acerca das normas, as competências de assertividade, a autoeficácia, autoestima e a ansiedade social (Botvin et al, 2003).

(30)

Programa “Não fumar é o que está a dar 6”: Programa desenvolvido em Portugal por

José Precioso, é caracterizado por ser intensivo, específico e transversal, de prevenção do consumo de tabaco, do tipo de influências psicossociais. Consiste em 15 sessões semanais com duração de uma hora, dirigida a alunos do 7º ano de escolaridade. Estas sessões são aplicadas nas disciplinas curriculares nomeadamente Ciências Naturais, Língua Portuguesa, Educação Visual; Matemática e Educação Física.

As sessões estão agrupadas em 5 componentes básicos: informação sobre a constituição do fumo do tabaco; construir uma atitude sobre fumar; tomada de decisão sobre a futura utilização do tabaco; corrigir a errática perceção do número de amigos fumadores; resistir às influências sociais para fumar (Precioso & Macedo, 2004).

Programa “Querer é poder 7”: Desenvolvido em Portugal pelo Conselho de Prevenção

do Tabagismo no âmbito do European Smoking Prevention Framework Approach (ESFA, 1998) é constituído por 6 sessões, dirigido a jovens entre os 12 e os 14 anos e desenvolve os seguintes temas: efeitos de fumar e não fumar, a curto e longo prazo para o organismo, para as pessoas e suas relações e para a sociedade; motivos para não fumar e para começar a fumar; motivos para continuar a fumar mesmo quando se quer parar (conceito de dependência); pressões diretas e indiretas do meio para fumar (publicidade, normas sociais, pressão dos pares); competências sociais para gerir situações de pressão social (Precioso & Macedo, 2004; Vitória et al., 2000).

Programa “No Gracias, no fumo!”: Elaborado em Espanha por Elisardo Becoña, é

constituído por 6 sessões a aplicar com uma frequência semanal, e mais 4 sessões de reforço a aplicar nos dois anos seguintes ao término do programa. Dirige-se a alunos de 11-12 anos. Compreende 3 componentes fundamentais: informação; treino de habilidades e tomada de decisões (Becoña, Palomares & Garcia, 1994 in Precioso & Macedo, 2004).

Neste programa ao invés de ser o professor a prover a informação, solicita-se aos alunos que, divididos em grupos, investiguem e exponham em contexto de aula as informações reunidas, sendo que cada grupo abordará uma temática distinta da dos restantes grupos de trabalho. O programa sugere ainda por meio de representações na turma o treino de habilidades que permitam recusar as ofertas de cigarros (Becoña et al., 1994 in Precioso & Macedo, 2004). 6 http://webs.ie.uminho.pt/tabagismo/ 7 http://www.slideshare.net/Profmaria/querer-poder-i

(31)

A aplicação e implementação no meio escolar de programas preventivos do tipo psicossocial devem ainda integrar outro tipo de estratégias: criação de ações extracurriculares (Nebot, 1999 in Precioso, 2006; Savolainen, 1998 in Precioso, 2006; Wiborg & Hanewinkel, 1999 in Precioso, 2006; Macedo, 2004);o desenvolvimento e aplicação de programas de desabituação para jovens; a continuidade da intervenção antitabágica ao longo de todo o percurso escolar (Becoña, 1995 in Precioso & Macedo, 2004); promoção de estilos de vida saudáveis, através de o desenvolvimento de um currículo transversal de Educação para a Saúde (Mendonza, 1999 in Precioso & Macedo, 2004; Nebota, 1999 in Precioso & Macedo, 2004); criação de um ambiente escolar que reforce as ações educativas exercidas (escola sem tabaco) (ESFA, 1998).

No que diz respeito ao sistema educativo, Portugal começou por instituir a intervenção médica na escola com os Centros de Medicina Pedagógica nos concelhos de Lisboa, Porto e Coimbra, tendo sido extintos em 1993. Entre 1971 e 2001 os Ministérios da Educação e da Saúde dividiram responsabilidades no que concerne ao exercício da saúde escolar, intervindo com um objetivo comum mas recorrendo a metodologias distintas. Há já vários anos que o Ministério da Educação e o Ministério da Saúde assumiram responsabilidades complementares face à Promoção da saúde na comunidade educativa alargada. Ao nível do Ministério da Educação coube à Direção Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular [DGIDC] a concessão da componente pedagógica e didática do sistema educativa, incluindo a definição de conteúdos e do modelo de concretização dos apoios e complementos educativos (Decreto Regulamentar nº 17/2004, de 28 de Abril) (Direção Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular, Direção Geral de Saúde [DGS] & Instituto da Droga e da Toxicodependência [IDT], 2007). A DGIDC, através do seu Núcleo de Educação para a Saúde [NES], assegurou o acompanhamento, monitorização e desenvolvimento da saúde em meio escolar nas vertentes da educação para a saúde e saúde escolar (Despacho nº 15 987/2006 de 31 de Julho). No Currículo Nacional, estão identificadas as competências a desenvolver ao longo do ensino básico: educação para a saúde e o bem-estar, nomeadamente a educação alimentar; educação sexual; educação para a prevenção de situações de risco pessoal (ME, 2001). Atualmente a Direção Geral da Educação [DGE] assumiu as funções da DGIDC assumindo as funções e competências que cabiam anteriormente à DGIDC no que concerne à promoção e educação para a saúde em meio escolar.

Imagem

Figura 1 – a) Assembleia; b) Conselho Executivo  Presidente
Tabela 1 – Caraterização da Amostra
Figura 5 – a) Idade dos inquiridos; b) Ano de Escolaridade frequentado pelos inquiridos
Figura 7 – Prática de desporto fora da escola (regulamentada)
+7

Referências

Documentos relacionados

13) Para tal fim cada Parte deverá comunicar a outra por escrito da existência e o objeto da controvérsia, para a resolução da mesma. 14) Caso isto não aconteça em até 60

O novo acervo, denominado “Arquivo Particular Julio de Castilhos”, agrega documentação de origem desconhecida, mas que, por suas características de caráter muito íntimo

Alguns fatores ainda podem potencializar o crescimento do país no médio prazo: crescimento da demanda doméstica; maior urbanização; crescimento dos consumidores urbanos de renda

Os extratos foram submetidos a sucessivas separações por (CC) cromatografia em coluna, Cromatografia em Camada Delgada Preparativa (CCDP) e Cromatografia em Camada Delgada

*No mesmo dia, saindo da sala do segundo ano, fomos a sala do primeiro ano, quando entramos os alunos já estavam em sala, depois de nos acomodarmos a professora pediu que

Com o intuito de estudar as propriedades magnéticas de nanopartículas de maghemita funcionalizadas e dispersas em óleos magnéticos isolantes, usando as técnicas experimentais de

Características sensoriais mais assinaladas para descrever os azeites, segundo a percepção dos consumidores: aroma de frutas e vegetais verdes, aroma de grama verde/folhas,

MODELO DE REGULAÇÃO DO SERVIÇO DE TRATAMENTO E DISPOSIÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS NO ESTADO DE SÃO.. PAULO NA MODALIDADE PPP Antônio Roberto Dias de