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Modelo conceitual teórico sobre percepção cognitiva do ambiente construído / Conceptual theoretical model on cognitive perception of the constructed environment

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.27466-27479 may. 2020. ISSN 2525-8761

Modelo conceitual teórico sobre percepção cognitiva do ambiente

construído

Conceptual theoretical model on cognitive perception of the constructed

environment

DOI:10.34117/bjdv6n5-264

Recebimento dos originais: 14/04/2020 Aceitação para publicação: 14/05/2020

Adriana Macedo Patriota Faganello

Doutora em Engenharia Civil pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná Instituição: UTFPR – Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Câmpus Apucarana

Endereço: Rua Marcílio Dias, 635 - Jardim Paraíso. CEP: 86812-460 - Apucarana – PR, Brasil

E-mail: faganello@utfpr.edu.br

Alfredo Iarozinski Neto

Doutor em Ciências na Universidade Paul Cezánne (Université dAix-Marseille III) Instituição: UTFPR – Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Câmpus Curitiba Endereço: R. Deputado Heitor Alencar Furtado, 5000 - CEP 81280-340 - Sede Ecoville –

Curitiba, Brasil

E-mail: alfredo.iarozinski@gmail.com

RESUMO

Este artigo teve como objetivo investigar os processos pelos quais o indivíduo se apropria do ambiente por meio da percepção cognitiva e se revela por intermédio de sua ação potencial. O resultado foi a construção de um modelo conceitual teórico sobre a percepção cognitiva do ambiente construído com base na epistemologia da teoria da autopoiese, que compreende três pressupostos principais: Ontogenia / Deriva Natural (a construção histórica da vida do sujeito); Conduta (ação do indivíduo no meio); e o Acoplamento Estrutural (conjunto de mudanças que o meio causa na estrutura de um determinado indivíduo e vice-versa), resultando em uma relação circular. No modelo, influências diretas e indiretas formam um sistema autopoiético. A construção de conhecimento sobre os conceitos de percepção cognitiva do ambiente é de fundamental importância, pois a partir desta revisão pode-se buscar o desenvolvimento de uma APO sistêmica, onde não apenas os dados quantitativos sejam considerados, mas realizando uma avaliação mais abrangente com uma abordagem integrativa.

Palavras-chave: Percepção Cognitiva. Autopoiese. APO.

ABSTRACT

This article investigated the processes by which the individual appropriates the environment through cognitive perception and reveals itself through his potential action. The result was the

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.27466-27479 may. 2020. ISSN 2525-8761 construction of a theoretical conceptual model on the cognitive perception of the environment built based on the epistemology of the theory of autopoiesis, which comprises three main assumptions: Ontogeny/Natural Derivative (the historical construction of the subject's life); Conduct (being the action of the individual in the middle); and the Structural Coupling (the set of changes that the medium causes in the structure of a given individual and vice versa), in a circular relation. In the model, direct and indirect influences form an autopoietic system. It is important to build knowledge about the concepts of cognitive perception of the built environment and, from this review, develop a systemic APO where not only quantitative data are considered, but performing a more comprehensive assessment with an integrative approach.

Keywords: Cognitive Perception. Autopoiesis. APO.

1 INTRODUÇÃO

O processo contínuo de aperfeiçoamento dos projetos visa ampliar o conceito multidisciplinar e busca construções com maiores benefícios para seus usuários, e essa é uma preocupação constante de muitos pesquisadores (RAPOPORT, 1977; REIS; LAY, 2006; GUITE; CLARKB; ACKRILLC, 2006; KOWALTOWSKI et al., 2006, 2009; RHEINGANTZ, 2010; PIGA; MORELO, 2015; KAMCRUZZAMAN et al., 2016) com trabalhos direcionados a discussões importantes sobre qualidade percebida, satisfação, bem estar, percepção, conforto subjetivo, ambiência, dentre outros, trazendo como foco principal o estudo das relações do usuário com o meio ambiente ao qual será inserido.

Fabrício e Melhado (2001) criaram um modelo de concepção de projeto de empreendimentos, demonstrando as interfaces do processo de desenvolvimento de produto na construção de edifícios como mostra a Figura 1.

Figura 1 - Interfaces do processo de desenvolvimento de produto na construção de edifícios

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.27466-27479 may. 2020. ISSN 2525-8761 Neste modelo o princípio e o fim das ações estão focados no cliente/usuário, esta interface deve garantir que as necessidades destes, sejam atendidas, sendo o início do sucesso ou fracasso de um empreendimento. Fechando o ciclo, se terá a garantia da retroalimentação de futuros projetos para que possam se utilizar dessas informações. Portanto, a satisfação do usuário com o produto que lhe foi entregue é a razão de todo ou qualquer empreendimento.

Desta forma, várias pesquisas buscam conhecer e caracterizar a satisfação do usuário após a entrega do empreendimento, levantando sua opinião, visando detectar possíveis melhorias para diminuição da recorrência de erros, buscando uma conexão entre a percepção e a qualidade do projeto e da construção, e uma das ferramentas mais utilizada é a Avaliação Pós-Ocupação (APO) (KOWALTOWSKI et al., 2009; KÄRNÄ, 2015, LOPES, 2016; ORNSTEIN, 2017). Porém a maior parte das pesquisas e publicações se limita em aplicar e replicar técnicas e instrumentos e existe uma excessiva ênfase de apenas descrever as formas exteriores do comportamento, ignorando a complexidade da atividade consciente (RHEINGANTZ, 2010).

Neste contexto, a APO mais abrangente considerando a percepção cognitiva do usuário torna-se muito eficiente para o processo de desenvolvimento de um projeto. Segundo Rheingantz et al. (2009), por meio do conhecimento prévio do padrão cultural; das necessidades declaradas, reais, percebidas ou mesmo atribuíveis a usos inesperados; da identificação antecipada dos níveis de satisfação pretendidos pelo usuário e realizando um estudo comportamental, não será difícil identificar suas fontes de necessidades.

O objetivo desta pesquisa, que faz parte do escopo da tese de doutorado “Estudo sistêmico das inter-relações dos construtos que influenciam a satisfação residencial visando à elaboração de um modelo a partir da percepção cognitiva do indivíduo” (FAGANELLO, 2019), é investigar os processos pelos quais o indivíduo percebe cognitivamente e se apropria do ambiente ao qual está inserido e que se revela por meio de suas atitudes e ação potencial (como o indivíduo modifica, transforma ou reage com o ambiente).

Neste trabalho pretende-se apresentar as bases de um modelo conceitual teórico e alguns avanços em relação ao tema, buscando contemplar os principais aspectos do processo da percepção cognitiva, resultando na ação potencial do indivíduo no ambiente construído.

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2 CONCEITOS DE PERCEPÇÃO E COGNIÇÃO E SUAS IMPLICAÇÕES NA AÇÃO POTENCIAL DO INDIVÍDUO

Os conceitos de percepção e cognição em muitas áreas se relacionam ou até mesmo se fundem, Rapoport (1977) definiu a percepção de duas maneiras distintas. A primeira quando o indivíduo percebe o ambiente exclusivamente por meio dos sentidos, visão, olfato, audição, paladar e tato, segundo Reis e Lay (2006) muitos psicólogos consideraram que os sentidos eram os únicos determinantes das respostas humanas, considerando a visão como sentido dominante. A segunda maneira relaciona a interação do indivíduo com o ambiente além dos sentidos básicos, mas também se utilizando de outros fatores como memória, personalidade, cultura etc. Assim se estabelece as inter-relações por meio de combinações entre os estímulos sensoriais e experiências prévias dos usuários, seus valores, motivações que irão influenciar seu comportamento e suas atitudes em relação ao ambiente (EMO; AL-SAYED; VAROUDIS, 2016).

Portanto, será denominada neste trabalho, ‘percepção’ como sendo as sensações, derivadas da experiência sensorial (cinco sentidos) direta com o ambiente provocando uma reação imediata ao que está sendo percebido e como ‘percepção cognitiva’, um processo autônomo do indivíduo, que perpassa pela percepção (exclusivamente sensorial) para a cognição que permite interpretar, decodificar, decifrar, selecionando e ordenando essas informações através das experiências, vivências, cultura já adquiridas pelo indivíduo por meio de sua ontogênese.

O modelo construído e validado por Piga e Morello (2015) como mostra a Figura 2, explica que quando se projeta uma edificação, o desenho é realizado por intermédio de uma “realidade objetiva”. A formação da experiência pessoal é o resultado de fatores múltiplos e interativos que afetam tanto o indivíduo como o espaço físico. Enfim, a experiência viva é formada pelo tempo e pelo espaço, por meio da relatividade e, portanto um relacionamento dinâmico entre o perceptor e o mundo exterior.

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Figura 2 - Percepção e ambiente no tempo e espaço

Fonte: Adaptado de Piga e Morello (2015)

Outro modelo importante é o de Knez (Figura 3) sobre a influência direta e indireta de um lugar em uma pessoa, por intermédio de moderadores ou mediadores. Os moderadores são variáveis, como fatores pessoais, que podem interagir com parâmetros de lugar em um efeito sobre respostas humanas em um relacionamento lugar-humano. Os mediadores, por outro lado, são variáveis que intervêm entre independentes e dependentes, o que significa que uma variável independente influencia um mediador que, por sua vez, influencia uma variável dependente (KNEZ et al., 2009).

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Figura 3 – Influência direta e indireta de um lugar em uma pessoa

Fonte: Adaptado de KNEZ et al. (2009)(Tradução nossa)

Portanto, na abordagem perceptiva e cognitiva, é analisado quanto ao efeito do espaço sobre os indivíduos, tentando-se entender como as percepções desses aspectos afetam as atitudes e as ações potenciais dos usuários, e isso é fundamental para qualificar o projeto e, consequentemente, para avaliar a qualidade e o desempenho do ambiente construído (REIS; LAY, 2006).

3 MÉTODO

A estratégia empregada neste estudo foi a pesquisa bibliográfica apoiada na bibliometria. Por meio da contextualização do estudo realizado foi possível propor um modelo conceitual teórico sobre as influências diretas e indiretas entre o indivíduo e o meio.

O modelo foi construído tendo como base a teoria da ‘autopoiese’ desenvolvida pelos neurobiólogos Maturana e Varella, que definiram a capacidade que os seres vivos têm de se autoproduzirem, ou produzirem a si próprios. Os autores defendem que não existe uma descontinuidade entre o social, o humano e suas raízes biológicas, uma vez que o processo de conhecimento acontece em todos os momentos e em todas as dimensões da vida (MATURANA; VARELLA, 1995).

Segundo Rheingantz (2010), Maturana e Varella observam que homem e meio são faces de um mesmo processo vital, em que o homem cria uma relação de circularidade na forma

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.27466-27479 may. 2020. ISSN 2525-8761 como vê o mundo e age nele num processo contínuo de produção do mundo e de si mesmo. Segundo Maturana (2001) “somos nós observadores, o ponto central da reflexão e o ponto de partida da reflexão”.

Portanto, existe uma circularidade na influência da cultura nas relações pessoa/ambiente, ambos são produtores e produto da cultura. Os fatores culturais podem possibilitar o reconhecimento das transformações significativas entre o indivíduo e o ambiente construído, seus aspectos cognitivos, seus valores declarados e reais que influenciam e são influenciados pelo uso e operação das habitações (RHEINGANTZ, 2010).

A importância da apreensão do conceito de autopoiese como um fenômeno sistêmico e multidimensional, está no fato de que irá refletir na compreensão de outros conteúdos ligados à área, produzindo desdobramentos sobre o modo de como podem ser vistos, pensados e analisados os aspectos relacionados à APO.

4 RESULTADOS

A ideia ou o ponto de partida para a construção do Modelo Teórico foi o entendimento da abrangência das interconexões da percepção cognitiva do indivíduo em relação ao ambiente a partir do modelo geral sistêmico e os modelos analisados na revisão bibliográfica considerando autores como Vygotsky (2001), Ribeiro e Cavassan (2013), Souza (2015), Piga e Morelo (2015), foi possível a construção do modelo de percepção cognitiva do ambiente apresentado na Figura 4, que demonstra as principais interfaces para maior compreensão e visualização dessa premissa.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.27466-27479 may. 2020. ISSN 2525-8761

Figura 4 - Modelo inicial de percepção cognitiva do ambiente construído

Fonte: Autores (2018)

As interfaces da percepção cognitiva do ambiente compreendem:

1. Ambiente, que são os espaços criados e recriados por pessoas, isto é, o meio físico, que será o responsável pelos estímulos (espaço, luz, geometria, cor, temperatura, textura, cinestesia, dentre outros);

2. Percepção Cognitiva, tendo início pelos receptores sensoriais (visão, audição, olfato, paladar e tato), isto é, a percepção, transpassando pela filogenia, ontogenia, sociogenia e microgenia do indivíduo, sendo transformada em cognição por meio da concepção, interpretação e conhecimento traduzido pelas experiências, cultura e vivência do indivíduo;

3. Satisfação e Ação Potencial, resultado do bem-estar e da qualidade percebida do ambiente transformando-se em decisões e ações do indivíduo.

Esse processo será permeado de interações entre o ambiente e o indivíduo, e essas interações são possíveis a todos, porém existe diferença entre o ponto de vista de cada indivíduo.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.27466-27479 may. 2020. ISSN 2525-8761 Uma interferência pode ser percebida e ter efeitos completamente diversos em diferentes indivíduos ou comunidades e isto pode conduzir ao risco de se adotar soluções gerais indiscriminadas que deveriam ser propostas para contextos distintos.

Os termos filogenia, ontogenia, sociogenia e microgenia são utilizados para destacar a importância desses aspectos na formação das referências do individuo e sua influência no sentimento de satisfação residencial do indivíduo.

A filogenia consiste nas características da espécie, a parte biológica do indivíduo, sua genética ou evolução genética; a ontogenia consiste no histórico de desenvolvimento e aprendizagem que o indivíduo experimentou no decorrer de sua vida; a sociogenia são as relações socioculturais desenvolvidas temporalmente e a microgenia são variações bioquímicas e fisiológicas individuais isto é, sua personalidade, sua individualidade, seu repertório psicológico individual.

Os filtros da filogenia, ontogenia, sociogenia e microgenia de cada indivíduo são chamados de ‘Valores Individuais’ no modelo de percepção cognitiva do ambiente. Esses valores serão elementos importantes para os resultados da qualidade percebida e das decisões e ações que resultarão na ação potencial do indivíduo.

Esse processo será pautado de ação e reação, uma vez que os indivíduos são seres reagentes, e pautados por seus valores individuais irão à busca de soluções aos problemas percebidos que somente serão alcançadas se ocorrer uma interação efetiva entre o ambiente e o indivíduo, a cognição.

A cognição tem um aspecto fortemente abstrato, à medida que não se vê ‘o pensamento’ mas apenas os indícios mediante aos atos no ambiente no qual o indivíduo está inserido. Segundo Lents e Santos (2012) por esta razão é um “campo sensível, sujeito a desgastes mentais e difícil de ser mensurado”.

A partir do raciocínio acima, foi proposto um Modelo Conceitual Teórico que pode ser visto na Figura 5, refletindo sobre a ação potencial do indivíduo a partir da percepção cognitiva do ambiente por meio da teoria epistemológica da autopoiese.

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Figura 5 - Modelo conceitual teórico de percepção cognitiva do ambiente construído

Fonte: Autores (2018)

Esta conceituação envolve três principais pressupostos, a saber: Ontogenia/Deriva Natural; Conduta e Acoplamento Estrutural.

O perfil, o histórico e vivência anterior constitui a ontogenia ou deriva natural, isto é, aquilo que foi adquirido pela relação do indivíduo com o seu meio e outros indivíduos, sua autorreferência, ou seja, a construção histórica da vida do sujeito.

A conduta é a ação do indivíduo no meio, evidenciada por meio de sua vivência atual, suas referências e valores e também por suas expectativas sobre a vida.

O acoplamento estrutural é o conjunto de mudanças provocadas pelo meio na estrutura de um indivíduo e vice-versa, numa relação circular que pode ser analisado por meio da qualidade percebida pelo indivíduo, suas ações e decisões.

Relacionando os modelos já apresentados por Piga e Morelo (2015) e Knez et al. (2009), o modelo proposto se assemelha em conceitos sobre as interações entre o indivíduo e o meio resultando em ações potenciais por meio da relatividade e também com a influência direta e indireta por intermédio dos mediadores e moderadores.

O modelo proposto introduziu a ideia da deriva natural ter influência direta no acoplamento estrutural e assim reciprocamente, mas também influência indiretamente em sua conduta que por sua vez influencia indiretamente o acoplamento estrutural do indivíduo, perfazendo um sistema autopoiético.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.27466-27479 may. 2020. ISSN 2525-8761 O modelo explica claramente a relação entre as variáveis, identificando o papel da ontogenia/deriva natural na conduta e no acoplamento estrutural, além disso, o modelo sugere um alto grau de interação entre as variáveis como perfil/histórico e vivência anterior dentro do pressuposto ontogenia/deriva natural, isso nos levaria a esperar diferenças significativas no acoplamento estrutural dentro das mesmas condições de conduta como resultado de diferenças de idade, sexo, renda, educação, mas, não um efeito preditivo direto de tais variáveis na ação potencial do indivíduo.

Esta perspectiva permite um esclarecimento da ligação entre a história de vida do indivíduo e sua ação potencial e permite explicar as relações entre o meio ambiente, sua percepção cognitiva e a ação potencial, que tem sido frequentemente formulada como hipóteses e em alguns casos apenas observadas. Ao mesmo tempo oferece a visão que o indivíduo produz continuamente a si mesmo, formando seus limites e criando distinções que formam uma fronteira e cria perturbações desenvolvendo sua própria filogenia.

Esse processo de formação e evolução é um processo autopoiético, ele se distingue do meio numa continuidade de ser e fazer. O reconhecimento desta circularidade da influência da ontogenia, conduta e ação potencial sugere reconhecer as relações significativas entre indivíduo-ambiente que influenciam e são influenciados pela utilização dos ambientes construídos.

A partir da contextualização deste modelo, proponto ligações de influências diretas e indiretas entre a deriva natural, conduta e aclopamento estrutural do indivíduo, demonstram a dificuldade implícita na consideração complexa e dinâmica das relações entre o individuo e o meio e a grande dificuldade em tornar essas relações operacionais.

A série de relações abordadas no modelo constitui uma pequena fração de tudo o que resta a ser analisado para o aprofundamento, compreensão e progresso na área usuário-ambiente. Para que isso ocorra, o modelo proposto deve ser verificado empiricamente por intermédio de uma pesquisa quase experimental.

5 CONCLUSÃO

Destaca-se a importância do modelo proposto para realização da APO, pois os conceitos trabalhados irão contribuir para melhor compreensão da adaptação do indivíduo ao meio. O modelo pretende expandir o entendimento da percepção cognitiva relacionada a satisfação/bem estar para a previsão da ação potencial do indivíduo, e a partir de um perfil mais detalhado e completo, será possível incorporar características que serão aceitas e

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.27466-27479 may. 2020. ISSN 2525-8761 desejadas (talvez até mesmo de forma inconciente pelo indivíduo) no projeto de futuros empreendimentos.

Para cada ambiente específico existe uma diversidade de usuários, portanto, existem vários objetivos para cada um. Para se concluir que um ambiente é satisfatório ou não, devem ser consideradas diversas variáveis e não apenas os usuários devem estar satisfeitos, mas também seus planejadores, projetistas, empreendedores, cada um com seu interesse em particular.

Para que isso ocorra, deve-se considerar a realização de uma APO sistêmica, onde não apenas dados quantitativos são considerados, mas realizando uma avaliação mais abrangente com uma abordagem integrativa.

Enfim, pode-se dizer que apesar de um passo modesto este estudo se mostrou muito significativo e pesquisas futuras irão esclarecer mais detalhadamente as inferências e relações entre os componentes do modelo e formular outras hipóteses específicas.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.27466-27479 may. 2020. ISSN 2525-8761 VYGOTSKY, L. S. A construção do pensamento e da linguagem. 1991. Tradução Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

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Figura 1 - Interfaces do processo de desenvolvimento de produto na construção de edifícios
Figura 2 - Percepção e ambiente no tempo e espaço
Figura 3 – Influência direta e indireta de um lugar em uma pessoa
Figura 4 - Modelo inicial de percepção cognitiva do ambiente construído
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