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Tecnologias sociais para gestão de resíduos sólidos recicláveis secos e prevenção de riscos no exercício profissional de catadores de materiais recicláveis/ Social technologies for managing dry recyclable waste and preventing risks in the professional pr

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 5,p.31402- 31428 mar.. 2020. ISSN 2525-8761

Tecnologias sociais para gestão de resíduos sólidos recicláveis secos e

prevenção de riscos no exercício profissional de catadores de materiais

recicláveis

Social technologies for managing dry recyclable waste and preventing

risks in the professional practice of recyclable material collectors

DOI:10.34117/bjdv6n5-557

Recebimento dos originais: 24/04/2020 Aceitação para publicação: 27/05/2020

Monica Maria Pereira da Silva

Doutora em Recursos Naturais (UFCG). Profa. Aposentada (UEPB). Colaboradora do 9Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia Ambiental (UEPB)

E-mail:monicaea@terra.com.br

Matheus Urtiga Sousa

Doutorando em Engenharia de Materiais (UFCG)

Bárbara Daniele dos Santos

Doutoranda em Engenharia e Gestão de Recursos Naturais (UFCG). Profa. da Rede Pública Estadual-PB

E-mail:barbara_031@hotmail.com

Mariane Patrício Costa

Doutoranda em Engenharia e Gestão de Recursos Naturais (UFCG) E-mail: mariane.patricio@hotmail.com

Elaine Cristina dos Santos Araújo

Doutoranda em Engenharia e Gestão de Recursos Naturais (UFCG) E-mail:crys_lainne@yahoo.com.br

Edson Silva Soares

Mestre em Ciência e Tecnologia Ambiental (UEPB). Prof. da Rede Pública Estadual – PB E-mail: prof.edsonsoares@outlook.com

Lilian Arruda Ribeiro

Doutora em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA/UFPB). Secretaria de Meio Ambiente de Areia-PB.

E-mail: lilianarruda@gmail.com

Lívia Poliana Santana Cavalcante

Doutora em Engenharia e Gestão de Recursos Naturais (UFCG). Profa. IEF E-mail: livia_poliana@hotmail.com

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 5,p.31402- 31428 mar.. 2020. ISSN 2525-8761

RESUMO

As condições primárias e insalubres vivenciadas pelos catadores de materiais recicláveis são originadas, dentre outros aspectos, da falta de implementação das políticas públicas voltadas à gestão de resíduos sólidos, do escasso desenvolvimento de tecnologias que otimizem as etapas da gestão integrada de resíduos sólidos e o exercício profissional desses trabalhadores. O objetivo deste trabalho foi desenvolver e avaliar tecnologias sociais para gestão de resíduos sólidos recicláveis secos e prevenção de riscos no exercício profissional de catadores de materiais recicláveis. O trabalho realizado de março de 2014 a março de 2019, em Campina Grande, estado da Paraíba, Brasil, seguiu os princípios das pesquisas participante e experimental e envolveu catadores de materiais recicláveis organizados em associação e famílias que aderiram à coleta seletiva. Foram desenvolvidos e avaliados quatro modelos de coletores para acondicionamento de resíduos sólidos recicláveis no interior e fora das residências; quatro modelos de carrinhos para coleta e transporte desses resíduos; dois modelos de mesas para triagem dos materiais recolhidos e um modelo de suporte para triagem e transporte no galpão da associação. Constatou-se que essas tecnologias favoreceram a coleta seletiva na fonte geradora, a destinação dos resíduos sólidos recicláveis secos aos catadores de materiais recicláveis e contribuíram para minimizar e/ou evitar os riscos que estavam submetidos os profissionais, sobretudo, os de acidentes e ergonômicos. Essas tecnologias foram resultantes de intensos trabalhos de Educação Ambiental que além de promover o processo de sensibilização, formação e mobilização, causou o sentimento de pertencimento, empoderamento e de autonomia aos catadores de materiais recicláveis. As tecnologias foram implantadas e aplicadas, atentando-se para os apontamentos indicados pelos catadores de materiais recicláveis: os efeitos positivos, as lacunas e as fragilidades, impondo aos pesquisadores a construção de novos projetos. Se a sociedade humana brasileira almeja colher os frutos da Política Nacional de Resíduos Sólidos, deve investir de modo significativo em programas e projetos de Educação Ambiental e em estudos sobre tecnologias apropriadas à gestão integrada de resíduos sólidos e ao exercício profissional de catadores de materiais recicláveis. É essencial e urgente proporcionar condições de trabalho e vida dignas aos profissionais que estão diretamente relacionados com a reintrodução dos resíduos sólidos recicláveis secos ao setor produtivo e à efetivação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, os catadores de materiais recicláveis. Esses carecem de condições decentes de trabalho e de vida.

Palavras-chave: Gestão de Resíduos Sólidos. Educação Ambiental. Riscos ambientais.

Sustentabilidade.

ABSTRACT

The primary and unhealthy conditions experienced by recyclable material collectors, both professionally and socially, stem from, among other aspects, the lack of implementation of public policies aimed at solid waste management, the scarce development of technologies that optimize the stages of management solid waste management and the professional practice of these workers. The main objective of this work was to develop and evaluate social technologies for the management of dry recyclable solid waste and risk prevention in the professional practice of recyclable material collectors. The work carried out from March 2014 to March 2019, in Campina Grande, state of Paraíba, Brazil, followed the principles of participatory and experimental research and involved recyclable material collectors organized in associations and families that joined the selective collection. Four models of collectors were developed and evaluated for the storage of recyclable solid waste inside and outside homes;

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 5,p.31402- 31428 mar.. 2020. ISSN 2525-8761 four models of carts for collecting and transporting this waste; two models of tables for sorting the collected material and support model for sorting and transport in the association's shed. It was found that these technologies favored selective collection at the generating source, the destination of dry recyclable solid waste to recyclable material collectors and contributed to minimize and / or avoid the risks that professionals were subjected to, especially the risks of accidents and ergonomics. These technologies were the result of intense Environmental Education work which, in addition to promoting the process of raising awareness, training and mobilization, caused the feeling of belonging, empowerment and autonomy to recyclable material collectors. As implemented and applied technologies, paying attention to the indicators indicated by recyclable material collectors: the positive effects and gaps and weaknesses, imposing on researchers the construction of new projects. If the brazilian human society aims to reap the rewards of the National Solid Waste Policy, it must invest significantly in Environmental Education programs and projects and in studies on appropriate technologies for the integrated management of solid waste and the professional practice of recyclable material collectors. It is essential and urgent to provide decent working and living conditions to professionals who are directly related to the reintroduction of dry recyclable solid waste to the productive sector and to the implementation of the National Solid Waste Policy, the collectors of recyclable materials. These lack decent working and living conditions.

Keywords: Solid waste management. Environmental education. Environmental risks.

Sustainability.

1 INTRODUÇÃO

A gestão integrada é a principal alternativa apontada na literatura nacional e internacional para minimizar e/ou evitar os problemas que abrangem os resíduos sólidos. Na sua ausência são desencadeados impactos negativos sobre os distintos sistemas ambientais, sociais, políticos e econômicos.

São impactos negativos diretos e indiretos com implicações graves em curto, médio e longo prazo que reduzem as possibilidades de vida digna de diferentes atores sociais, especialmente aqueles de baixo nível de escolaridade e de baixa renda, a exemplo de catadores de materiais recicláveis. Esses são profissionais que exercem importante nicho ecológico, mas persistem às margens da sociedade e distantes de ter acesso às garantias previstas na Carta Magna do Brasil, a Constituição da República Federal (BRASIL, 1988) e na Política Nacional de Resíduos Sólidos (BRASIL, 2010; 2010a). No seu labor diário, são submetidos a múltiplos riscos ambientais, além da invisibilidade que os acompanham e os marginalizam.

O exercício profissional dos catadores de materiais recicláveis está inteiramente relacionado às ações relativas à gestão integrada de resíduos sólidos. Eles coletam, transportam, acondicionam, comumente beneficiam e comercializam os materiais recicláveis, possibilitando o retorno desses materiais às indústrias, constituindo matéria prima para

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 5,p.31402- 31428 mar.. 2020. ISSN 2525-8761 fabricação de novos produtos. Evitam que esses materiais sejam transformados em rejeitos. Diminuem os diversos impactos negativos, além de favorecer a prolongação do tempo de vida útil dos aterros sanitários e a conservação ambiental.

As políticas públicas, embora em vigor, geralmente não contemplam esses profissionais na sua efetividade e quando chegam até eles, não são implantadas devidamente, como acontece em vários cenários brasileiros estudados e discutidos por Souza, Silva e Barbosa (2014), Oliveira, Barbosa e Silva (2019), Souza, Pereira e Calbino (2019), Pinheiro e Francischetto (2019), Musa et al. (2019) e Souza e Frias (2020).

As autoras Souza, Silva e Barbosa (2014) analisando a luta dos catadores de materiais recicláveis pela inclusão e pelo reconhecimento social no Brasil, de 1980 a 2013, averiguaram que houve avanços significativos, como a organização em associação ou cooperativa e o crescimento do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCMR), todavia, não foram suficientes para garantir as condições de trabalho e de vida dignas.

Oliveira, Barbosa e Silva (2019) ao estudarem a coleta seletiva realizada por catadores de materiais recicláveis em Simão Dias, estado de Sergipe, constataram o enfrentamento de dificuldades em relação à escassez de recursos financeiros, à falta de seleção na fonte geradora e à vulnerabilidade social.

Sousa, Pereira e Calbino (2019, p. 242) ao examinarem as ações de catadores de materiais recicláveis associados à ASMARE (Associação dos Catadores de Papel, Papelão e Material Reaproveitável), em Belo Horizonte, estado de Minas Gerais, verificaram que o trabalho desses profissionais “ocupa um lugar de contradição na cadeia da reciclagem”. Por um lado, o trabalho assume papel de uma forma de inclusão econômica e de elevação da autoestima, por outro, as condições de trabalho e de vida ainda são precárias.

Cavalcante et al. (2019) pesquisaram o perfil socioeconômicos de catadores de materiais recicláveis de quatro mesorregiões do estado da Paraíba e concluíram que a maioria trabalha em condições insalubres e com renda inferior a um salário mínimo. Nessas condições se enquadra a falta de tecnologia apropriada para o exercício das atividades desses trabalhadores e para a efetivação da coleta seletiva.

Pinheiro e Francischetto (2019) estudando o cenário do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCMR) verificaram que as ações concretas direcionadas à efetivação dos direitos humanos fundamentais são incipientes. Os autores identificaram apenas melhorias pontuais para aqueles que estavam organizados em cooperativa ou associação. Concluíram que “apesar de todo esse movimento desprendido para

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o resguardo da atividade de reciclagem e dos avanços obtidos perante a legislação brasileira, os catadores ainda enfrentam muitas dificuldades na concretização dos seus direitos” (ibid.,

p. 168).

Musa et al. (2019) analisando as atividades de catadores de materiais recicláveis que atuam na cidade de Sapiranga, no estado do Rio Grande do Sul, conferiram que esses profissionais são prejudicados por problemas não apenas ergonômicos; encaram também problemas de ordem social. Os autores acrescentam que as tecnologias aplicadas não expressavam melhoria nas condições de trabalho e de saúde dos trabalhadores em estudo.

Souza e Frias (2020) ao avaliarem a coleta seletiva em Ilha Solteira, estado de São Paulo, identificaram que a coleta de materiais recicláveis não propiciava as condições dignas de trabalho, nem o devido reconhecimento do importante papel ambiental desempenhado por eles. Os autores criticam o fato desses profissionais trabalharem muito, desprenderem esforço físico sobre-humano, em decorrência das condições ainda primitivas de trabalho, para no final do mês não conseguirem uma renda suficiente para o seu sustento e de sua família.

As condições primárias e insalubres vivenciadas pelos catadores de materiais recicláveis, tanto no âmbito profissional quanto social são originadas, dentre outros aspectos, da falta de implementação das políticas públicas voltadas à gestão de resíduos sólidos, do escasso desenvolvimento de tecnologias que otimizem as etapas da gestão integrada de resíduos sólidos e o exercício profissional desses trabalhadores e da falha na fiscalização da legislação ambiental.

De acordo com a Política Brasileira de Resíduos Sólidos, estabelecida pela Lei 12.305/2010 e regulamentada pelo decreto 7404/2010 (BRASIL, 2010, 2010a) a gestão de resíduos sólidos deve ser compartilhada. Tomando por base esse princípio, entende-se que as estratégias para o alcance dos objetivos dessa política requer a participação efetiva da sociedade, sobretudo, dos catadores de materiais recicláveis por permearem praticamente todas as etapas dessa gestão. Por conseguinte, os princípios da tecnologia social são oportunos. Tecnologia social, de acordo com Garcia (2014), refere-se à criação e utilização de conhecimentos por populações duplamente desfavorecidas, seja por ausência de acesso ao conhecimento científico moderno ou por perda das condições mais favoráveis à reprodução de seu conhecimento tradicional, de modo que seja vislumbrada a sustentabilidade econômica e o fortalecimento cultural e político desses grupos sociais.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 5,p.31402- 31428 mar.. 2020. ISSN 2525-8761 Neste contexto, o objetivo deste trabalho foi desenvolver e avaliar tecnologias sociais para gestão de resíduos sólidos recicláveis secos e prevenção de riscos no exercício profissional de catadores de materiais recicláveis, Campina Grande, estado da Paraíba, Brasil.

2 METODOLOGIA

O trabalho realizado de março de 2014 a março de 2019, em Campina Grande, estado da Paraíba, Brasil, seguiu os princípios das pesquisas participante (THIOLLENT; SILVA 2007) e experimental (MARCONI; LAKATOS, 2010), envolveu catadores de materiais recicláveis que constituem a Associação de Catadores de Materiais Recicláveis da Comunidade Nossa Senhora Aparecida (ARENSA) e famílias que aderiram à coleta seletiva na fonte geradora.

A ARENSA, formada oficialmente em 2008, foi fruto de trabalhos de Educação Ambiental que abrangeram catadores de materiais recicláveis que trabalhavam na informalidade em três bairros de Campina Grande. Atualmente, conta com 15 associados e apresenta uma infraestrutura com galpão cedido pela prefeitura municipal, em decorrência da pressão social e da própria organização dos catadores de materiais recicláveis, um local de armazenamento temporário locado, carrinhos para coleta em locais próximos ao galpão e dois caminhões para coleta em lugares mais distantes, dentre outros equipamentos. Um caminhão pertence à Rede Cata-PB e o outro foi cedido pela prefeitura municipal.

A opção por estes grupos decorreu dos trabalhos já executados (RIBEIRO; SILVA; LEITE, 2011; RIBEIRO et al., 2011; SILVA, 2012; CAVALCANTE et al., 2012; SILVA, 2012; BATISTA; LIMA; SILVA et al., 2013; MAIA et al., 2013; BISPO, 2013; SOUZA; SILVA; BARBOSA, 2014; RIBEIRO; SILVA, 2015; CAVALCANTE et al., 2016; COSTA, 2016; SANTOS, 2016; SILVA et al., 2017; CAVALCANTE et al., 2018; SOUSA, 2018; ARAÚJO, 2018; CAVALCANTE et al., 2019; SOARES, 2019), bem como da aceitabilidade e interesse dos grupos.

Para desenvolver e avaliar as tecnologias foram acompanhadas as atividades dos catadores de materiais recicláveis associados durante quatro ciclos; cada ciclo correspondeu a três semanas seguidas, e em dias alternados, totalizando 12 acompanhamentos. Além desses acompanhamentos, foram utilizados como instrumentos de coleta de dados entrevistas semiestruturadas, registros fotográficos e matrizes. As tecnologias foram discutidas em conjunto com os associados durante os acompanhamentos, em reuniões, oficinas, encontros,

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 5,p.31402- 31428 mar.. 2020. ISSN 2525-8761 seminários, cursos de formação e em ações sociais, como Semeando Boas Ações para Colher um Futuro Sustentável.

Os debates tiveram como ponto de partida as tecnologias já empregadas pelos catadores de materiais recicláveis (carrinhos e mesa de triagem). Observaram-se nessas tecnologias, os avanços e as fragilidades em relação ao seu respectivo objetivo e aos riscos que estavam submetidos esses trabalhadores. De posse dessa avaliação, foram projetadas e confeccionadas novas tecnologias (Quadro 1).

Em relação às famílias, inicialmente de um total de 283, foram selecionadas aleatoriamente 54 (19%) no bairro de maior adesão à coleta seletiva, Malvinas. Adotaram-se ainda como critérios, a participação no processo de sensibilização e formação em Educação Ambiental (cursos, seminários, encontros e atividades sociais) e a aceitabilidade.

As tecnologias para motivar a seleção dos resíduos sólidos na fonte geradora foram desenvolvidas a partir das indicações e dos anseios do público alvo, por meio de entrevistas semiestruturadas, visita in locu, registros fotográficos e dos eventos citados (Quadro 2). As propostas elencadas foram encaminhadas e discutidas juntos aos catadores de materiais recicláveis, principalmente, na ação social: Semeando Boas Ações para Colher um Futuro Sustentável.

Para a confecção das tecnologias foram usados materiais de baixo custo, fácil acesso, configurando-se em menor impacto negativo sobre a saúde dos catadores de materiais recicláveis.

Para a identificação e confirmação dos riscos que estavam submetidos os catadores de materiais recicláveis foram acompanhadas as atividades dos catadores de materiais recicláveis: coleta dos resíduos sólidos, transporte, triagem e desmanche, higienização e acondicionamento ou armazenamento. Esse acompanhamento aconteceu também em quatro ciclos, cada ciclo composto por três acompanhamentos, seguindo-se a agenda da coleta municipal. Além desses acompanhamentos, foram aplicadas entrevistas semiestruturadas aos catadores de materiais recicláveis (100% dos associados) e elaborada uma matriz de interação, ponderando-se as seguintes variáveis: atividade, ferramenta empregada, perigo, riscos, efeitos e alternativas.

Os dados coletados foram quantificados e organizados em categorias e apresentados por meio de quadros, tabelas ou figuras. As categorias foram geradas a partir das palavras-chaves que mais se repetiam.

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Quadro 1. Tecnologias desenvolvidas para favorecer a gestão de resíduos sólidos recicláveis secos pelos catadores de materiais recicláveis organizados em associação. Campina Grande, Paraíba, Brasil.

Etapa da gestão Tecnologia Descrição da Tecnologia

Coleta e Transporte de resíduos sólidos recicláveis secos.

Carrinho tração humana não

desmontável - CTHND (RIBEIRO; SILVA, 2015).

Formato paralelogramo, confeccionado em aço tipo metalon, com 2,4 m de comprimento, 1,4 m de largura e 1,5 m de altura, dois pneus de motocicleta e um de levorin para carrinho de mão, tela

transpassada, com sistema de frenagem, tipo alavanca, retrovisores, punhos revestidos de polietileno, adesivos refletivos, caixa para kit de higiene em chapa de aço metalon (Fig. 1).

Carrinho tração humana desmontável – CTHD1 (SANTOS, 2016) .

Confeccionado em aço carbono metalon com dimensões 20x20mm galvanizado, medindo medindo 1,2 m de comprimento, 1,0 m de largura e 1,50 m de altura, com tela traspassada arame 1,2 mm, com tela traspassada de arame 1,2 mm soldada, pneu dianteiro levorin, freio de cabo de aço,

embreagem, porta traseira com travas para abrir e fechar, corrente para segurar a porta, portal frontal, lateral e traseira com parafusos de três pontos e encaixe nas laterais para apoio dos BAGs (Fig. 2). Carrinho plataforma -

CTHP(SANTOS, 2016).

Fabricado em cantoneira de 1.1/2” x1/8”, com lastro em chapa 20 galvanizada e pneu com câmara de ar e jante de alumínio com rolamento pintado na cor azul, medindo 1,20 m de comprimento, 0,48 m de largura e 1,0 m de altura (Fig. 3).

Carrinho tração humana desmontável tipo 2 em 1 - CTHD2

(SOUSA, 2018).

Confeccionado em formato retangular para favorecer a sua transformação para carrinho plataforma, com metalon de aço carbono 20 x 20 mm, de chapa 18 e tela transpassada de arame de fio 10 (3,4 mm) e abertura de malha de 1’’ polegada ondulada, revestindo toda extensão do transporte. Jante de plástico, pega de condução de tubo de ferro, pneus de 12” em borracha esponjosa –SBR (oriundo de indústria calçadista), substituído posteriormente para tipo levorin 4.80 x 8 de seis lonas; com 1,5 de comprimento, 1,0 m de largura e 1,5 m de altura; caixa para kit de higiene fabricando em alumínio (Fig.4).

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Triagem de resíduos sólidos recicláveis secos

Mesa de triagem desmontável, modelo 1- MTD1 (RIBEIRO; SILVA, 2015).

Confeccionada em duas peças para desmontagem, com tampos em folhas de alumínio e base (pernas) em formato de X feito com cantoneiras de aço metalon 30x30 mm; medindo 3,0 m de comprimento, 1,0 m de largura e 1,0 de altura. Profundidade da mesa de triagem considera rasa era 0,16 m (Fig. 5).

Mesa de triagem desmontável, modelo 2 - MTD2 (SANTOS, 2016)

Fabricada em duas peças para desmontar, com chapa de ferro 22 galvanizada e estrutura de suporte de metalon de aço carbono 20 x20 mm; medindo 2,0 m de comprimento, 1,0 m de largura e 1,0 m de altura. Além da redução do comprimento, foi feita adaptação aos ganchos laterais para suporte dos bags.

Profundidade da mesa de 0, 20 m (Fig. 6). Suporte para Triagem e

Transporte no interior do galpão – STT (SOUSA, 2018).

Fabricado com dimensões de 1 m de comprimento, 1 m de largura e 1 m de altura em madeirite cru, para acomodação do bag e abaixo dessa estrutura foram fixados cinco rodízios giratórios de 2’’, transporte do bag no interior do galpão (Fig. 7).

C- carrinho; TH- Tração humana; ND- não desmontável; D- desmontável; P- plataforma; MT- mesa de triagem; STT- Suporte para triagem e transporte; numeração sequência de criação dos modelos.

Quadro 2. Tecnologias desenvolvidas para possibilitar o acondicionamento de resíduos sólidos recicláveis secos dentro e fora das residências de famílias que aderiram à coleta seletiva. Campina Grande, Paraíba, Brasil.

Etapa da gestão Tecnologia Descrição da Tecnologia

Acondicionamento de resíduos sólidos recicláveis secos no interior da residência.

Coletor interno Modelo 1 - COIM1 (COSTA,

2016).

Coletor interno modelo 1 confeccionado em tecido Oxford, composto por três compartimentos nas cores azul (papel e papelão), vermelha (plástico) e amarela (metal).

Compartimento para acondicionar resíduos de papel e papelão com 0,54 m de comprimento, 0,07 m de largura e 0,54 m de altura. Compartimento para resíduos de plásticos e de metais com 0,60 m de comprimento, 0,15 m de largura e 0,80 m de altura (Fig. 8).

Coletor interno Modelo 2 - COIM2 (SOUSA,

2018).

Coletor interno modelo 2 fabricado em tecido algodão azul com duas divisões e bordas diferenciadas nas cores relativas aos resíduos de papel, papelão e plástico, com esses nomes bordados nos compartimentos e fixação de velcro para redução de volume.

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Compartimento para resíduos de plástico, papel e papelão com 0,65 m de comprimento; 0,15 m de largura e 0,78 m de altura. O compartimento para os resíduos de metal, localizado na região mais abaixo do coletor, apresenta 0,48 m de comprimento, 0,15 m de largura e 0,48 m de altura (Fig. 9) .

Acondicionamento de resíduos sólidos recicláveis secos fora da residência.

Coletor externo modelo 1 -COEM1 (COSTA,

2016).

Coletor externo modelo 1 com duas portas, confeccionado com chapa de ferro galvanizada (20), material considerado resistente, com alta durabilidade, de baixo custo e fácil acesso. Com 0,40 m de comprimento, 0,40 m de largura e 0,40 m de altura e com um suporte de ferro de 0,10 m x 0,10 m e 1, 15 m de altura. Fundo composto por uma tela arame 18, malha 1.2 (meia polegada). Com trava de segurança, cadeado de senha (Fig. 10).

Coletor externo modelo 2 – COEM2 (SOUSA,

2018).

Coletor externo modelo 2 adaptado do modelo anterior com uma única porta, fabricado com chapa de ferro galvanizada (20), com 0,40 m de comprimento, 0,40 m de largura e 0,40 m de altura e com um suporte de ferro de 0,10 m x 0,10 m e 1, 15 m de altura. Fundo composto por uma tela arame 18, malha 1.2 (meia polegada). Substituição do cadeado de senha por fechadura lingueta cromada (Fig. 11).

CO- coletor; I- interno; E- externo; M- modelo; numeração- sequência de criação do modelo

Fig. 1 Carrinho tração humana não desmontável (CTHND). Fonte: Ribeiro e Silva (2015)

Fig.2 Carrinho tração humana desmontável (CTHD).

Fonte: Santos (2016)

Fig. 3 Carrinho tração humana plataforma (CTHP)

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Fig. 4 Carrinho tração humana tipo 2 em 1 (CTHD2). A- Visão frontal; B- Visão lateral C- Estrutura desmontável. Fonte: Sousa (2018)

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 TECNOLOGIAS PARA REALIZAÇÃO DE COLETA SELETIVA NA FONTE GERADORA

No processo inicial de sensibilização e de formação, a maioria das famílias alegou que não separava os resíduos sólidos por falta de recipiente adequado. Para superar esse obstáculo e atender às indicações dessas famílias, bem como favorecer o encaminhamento dos materiais segregados e higienizados aos catadores de materiais recicláveis, foi projetado e desenvolvido

Fig. 5 Mesa de triagem

desmontável modelo 1 (MTD1). Fonte: Ribeiro e Silva (2015)

Fig. 6 Mesa de triagem

desmontável 2 modelo 2 (MTD2). Fonte: Santos (2016)

Fig. 7 Suporte para triagem e transporte no interior do galpão (STT). Fonte: Sousa (2018)

Fig. 8 Coletor interno para acondicionamento de resíduos sólidos recicláveis secos- modelo 1 (COIM1). Fonte: Costa (2016)

Fig. 9 Coletor interno para acondicionamento de resíduos sólidos recicláveis secos- modelo 2 (COIM2). Fonte: Sousa (2018)

Fig. 10 Coletor externo para acondicionamento de resíduos sólidos recicláveis secos- modelo 1 (COEM1). Fonte: Costa (2016)

Fig. 11 Coletor externo para acondicionamento de resíduos sólidos recicláveis secos- modelo 2 (COEM2). Fonte: Sousa (2018)

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 5,p.31402- 31428 mar.. 2020. ISSN 2525-8761 o coletor interno, modelo 1 (COIM1) com as descrições apresentadas no Quadro 2 e na Figura

8.

O coletor modelo COIM1 foi confeccionado em tecido Oxford, observando-se às

recomendações do público pesquisado. Este tipo de tecido, além de apresentar facilidade de manuseio, permite durabilidade e a estética favorece a sua instalação no interior das residências. A parte inferior desse modelo (fundo) foi confeccionada com tecido tipo filó, visando o possível escoamento de líquidos presentes nos resíduos sólidos segregados, bem como a aeração daqueles materiais, evitando-se a proliferação de organismos indesejáveis. Foi colocado zíper para facilitar a retirada dos resíduos e a sua transferência para o coletor externo, COEM1.

O coletor modelo COIM1 foi distribuído a 50 famílias que os testaram durante três

meses, recursos adquiridos por meio de projeto Universal CNPq, edital 14/2011- Faixa B. Depois dessa fase experimental, identificaram-se as alterações necessárias, posteriormente incorporadas ao coletor modelo COIM2 (Quadro 2, Fig. 9). Dentre as modificações,

configuraram a melhoria na estética, diminuição e reorganização dos compartimentos para beneficiar a higienização e ocupar menor espaço físico.

As cores usadas para confecção de COIM1 e COIM2 atenderam às determinações da

Resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiental (CONAMA), nº 275/2001 (BRASIL, 2001). Destaca-se que esta resolução está em processo de mudança. Há entendimento entre os pesquisadores de que não há necessidade de tantos coletores para efetivação da coleta seletiva.

No que concerne às modificações efetuadas ao COIM2, um dos compartimentos foi

confeccionado em duas cores: azul conforto (tom mais claro em relação ao tecido do coletor) e vermelha chaga (cor forte), cores contemporâneas. Esses foram destinados ao acondicionamento de resíduos de papel e plástico. O outro compartimento recebeu a cor amarela cajá (cor forte) para acondicionar os resíduos de metal. A frente desse compartimento foi estampado o logotipo da associação em estudo.

Para fixação de COIM2 nas residências, visando firmá-lo e imobilizá-lo em estrutura

metálica, foram colocados quatro ilhós de 2 cm na sua parte superior. Também foram colocados velcro em regiões específicas do coletor, para reduzir espaço demando para sua instalação, bem como, para a aderência, substituindo cordões, fechos, entre outros. Ressalta-se que cada compartimento foi identificado com a cor e o tipo de resíduo sólido reciclável seco, eximindo-se possíveis dúvidas das famílias.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 5,p.31402- 31428 mar.. 2020. ISSN 2525-8761 De acordo com os dados obtidos os coletores internos, desenvolvidos e testados, contribuíram de forma significativa para prática da coleta seletiva na região estudada. As famílias participantes da pesquisa, em virtude da configuração desses coletores passaram a ter preocupação com a seleção prévia e a higienização dos materiais que eram acondicionados no interior de suas residências, um hábito que tende a ser consolidado num futuro próximo. Os coletores não eram descartáveis, por conseguinte, deveriam ter um amplo tempo de duração, para isso, requeriam cuidados. Esses influenciaram positivamente na qualidade do material repassado aos catadores de materiais recicláveis e contribuíram para redução dos riscos sobre os catadores de materiais recicláveis. Além de melhorar a qualidade dos resíduos sólidos recicláveis úmidos (orgânicos) encaminhados por ocasião desse trabalho para o tratamento biológico aeróbio (ARAUJO et al., 2019).

Os coletores para o acondicionamento de resíduos sólidos recicláveis secos fabricado em tecidos, é uma alternativa que colaborará para redução de uso de sacolas plásticas, cujo tempo de decomposição é longo e acarreta vários impactos negativos sobre os diferentes sistemas ambientais. Esse tipo de tecnologia, embora necessário, é negligenciado. São raros os trabalhos que tem atentado para esta problemática.

Puyuelo, Martin e Sanchez (2013) mostram que a separação de resíduos sólidos em casa é essencial na gestão de resíduos sólidos, no entanto, os autores criticam o uso de sacolas plásticas não biodegradáveis, devido aos prejuízos provocados à saúde ambiental e humana. Jouliara et al. (2017) estudando sistemas de disposição de resíduos sólidos domiciliares, especialmente de resíduos sólidos orgânicos, atestaram a importância da gestão ter início nas residências dos geradores para eliminar e abreviar as etapas da coleta e do transporte, somada a diminuição de custos financeiros, por não demandar infraestrutura especial.

A coleta seletiva de resíduos sólidos recicláveis secos na fonte geradora é fundamental ao alcance dos objetivos previstos na Política Nacional de Resíduos Sólidos (BRASIL, 2010), todavia, esses objetivos só se concretizam quando os resíduos selecionados são destinados aos catadores de materiais recicláveis, que ao exercerem a sua profissão, encaminham-nos ao setor produtivo, as indústrias, transformando-os em matéria prima para fabricação de novos produtos e ao mesmo tempo, evitando o uso de recursos naturais virgens.

O desenvolvimento de tecnologias que facilitem a destinação desses resíduos constitui importante contribuição no âmbito da gestão ambiental e da inserção socioeconômica de catadores de materiais recicláveis. Nesse sentido, foram projetados e estudados dois coletores para o acondicionamento de resíduos sólidos recicláveis secos fora da residência,

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 5,p.31402- 31428 mar.. 2020. ISSN 2525-8761 objetivando motivar e favorecer a destinação desses resíduos sólidos aos catadores de materiais recicláveis (Quadro 2, Figuras 10 e 11)

O coletor externo modelo 1 (COEM1) instalado em escala experimental em frente a

14 residências, todas situadas na área objeto desse estudo (Quadro 2, Fig. 10) foi fabricado com duas tampas (portas): uma que abria para a residência, fechada com cadeado, cuja chave era de responsabilidade da família que recebera o coletor e outra com cadeado de senha que abria em direção à rua ou avenida, facilitando o descarregamento dos resíduos sólidos recicláveis secos diretamente para o carrinho empregado pelos catadores de materiais recicláveis, ação que evitava o contato direto desses profissionais com o material coletado. A senha do cadeado era de responsabilidade dos próprios catadores de materiais recicláveis.

Essa configuração propiciou o recolhimento dos resíduos sólidos recicláveis secos pelos catadores de materiais recicláveis das residências, mesmo na ausência da família. Este era um dos principais empecilhos apontado pelos catadores de materiais recicláveis e pelas famílias para a destinação correta dos materiais recicláveis.

No dia agendado para coleta, as famílias antes de saírem para as suas atividades cotidianas, abriam o coletor externo e colocavam esses materiais, fechando-o com cadeado. Os catadores de materiais recicláveis ao passar na residência, a partir da senha, abriam o coletor e o material era lançado diretamente no carrinho para serem transportados até o galpão. O material usado para fabricação de COEM1 foi considerado resistente, com alta

durabilidade, de fácil acesso no mercado e de baixo custo, podendo ser exposto a perturbações ambientais, tais como: radiação solar e chuva.

De acordo com os resultados das entrevistas aplicadas às famílias e aos catadores de materiais recicláveis, o primeiro modelo implantado, COEM1, demandava modificações em

relação ao número de aberturas e à trava de segurança. O segundo modelo de coletor externo, COM2 foi fabricado com uma única abertura e o cadeado de senha foi substituído por lingueta

galvanizada.

O cadeado de senha foi considerado um problema, porque os próprios catadores de materiais recicláveis que sugeriram esse tipo de sistema esqueciam as senhas, fato que implicava em desconforto e perda de produtividade. A redução do número de aberturas, decorreu do uso mais frequente de caminhão adquirido pela Rede Cata-PB e da alegação do público envolvido de que as aberturas não favoreciam condições ergonômicas.

Em conformidade com os dados coletados, a substituição do sistema de segurança e a diminuição do número de aberturas propiciaram melhores condições ergonômicas tanto aos

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 5,p.31402- 31428 mar.. 2020. ISSN 2525-8761 catadores de materiais recicláveis, como aos praticantes da coleta seletiva, contribuindo para continuidade da coleta seletiva na área em estudo.

Ratifica-se por um lado a carência de estudos voltados ao desenvolvimento de tecnologias que motivem a coleta seletiva na fonte geradora e fomentem o encaminhamento dos resíduos sólidos recicláveis secos aos catadores de materiais recicláveis. Por outro lado, enfatiza-se a importância do processo sensibilização, formação e de envolvimento dos diferentes atores sociais para efetivação da coleta seletiva.

A importância da coleta seletiva no que diz respeito à minimização dos impactos ambientais negativos e à inserção socioeconômica de catadores de materiais recicláveis é compreendida por vários autores (LIMA et al., 2019; MUSA et al., 2019; OLIVEIRA, BARBOSA, SILVA, 2019; SILVA R et al., 2019). Há, porém, urgência de estudos direcionados ao desenvolvimento de tecnologias que possam contribuir expressivamente para a obtenção dos objetivos determinados na legislação ambiental em vigor.

3.2 TECNOLOGIAS PARA COLETA E TRANSPORTE DE RESÍDUOS SÓLIDOS RECICLÁVEIS SECOS

No primeiro momento da pesquisa foi verificado que os catadores de materiais recicláveis contavam com quatro carrinhos (C1, C2, C3 e C4) de tração humana não

desmontáveis para a coleta e transporte dos resíduos sólidos recicláveis secos. O C1 foi

confeccionado pelos próprios catadores de materiais recicláveis com caixão da geladeira descartada, pegas de madeira, estruturas de ferro e pneus de bicicleta, encontradas durante a catação ou compradas em ferro velho com e capacidade para transportar 50 kg, com dimensão de 0,56 m de largura, 1,20 m de altura e 1,35 m de comprimento. O C2 construído com tubos

de ferro de 20 mm flexionados e arame ondulado com fio 6 (5,15 mm), com quatro pneus do tipo Ajax tube type 3,25 x 8’’, com capacidade para 90 kg, com dimensão de 0,83 m de largura, 1,23 m de altura e 1,54 m de comprimento. O C3 feito com cantoneiras de ferro

revestido com arame ondulado de fio 6 (5,15 mm) com duas rodas de automóvel (aro 13), capacidade de carga para 90 kg, com dimensão de 0,90 m de largura, 1,67 m de altura e 1,50 m de comprimento. O C4 foi fabricado com carroceria gradeada soldada em metalon de aço

carbono 30 x 30 mm, com duas rodas de pneus de motocicleta do tipo Levorin Matriz 60/100-17 fixas com rolamento e uma roda com rodízio de nylon de 8’’, pegas de condução ligeiramente curvadas em formato de paralelogramo, em aço metalon 30 x 30 mm, com dimensão de 1,00 m de largura, 1,50 m de altura e 1,50 de comprimento , com duas aberturas

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 5,p.31402- 31428 mar.. 2020. ISSN 2525-8761 laterais e uma traseira, faixa reflexiva e espelhos retrovisores, cuja capacidade volumétrica suporta 180 kg.

Os carrinhos C1, C2 e C3, embora tenham constituído importante instrumento para

coleta e transporte, foram considerados rudimentares por exigir bastante esforço físico dos trabalhadores e não ponderar os princípios da ergonomia. O C4 por apresentar configuração e

composição mais apropriadas às atividades de coleta e de transporte foi usado como parâmetro para fabricação da versão posterior, nesse trabalho denominado de carrinho de tração humana não desmontável (CTHND).

Desse modo, os demais carrinhos (CTHND, CTHD1, CTHP, CTHD2) foram pensados,

projetados e discutidos com a finalidade de superar os desafios impostos na coleta e no transporte dos resíduos sólidos recicláveis secos, atender aos princípios da tecnologia social e ergonômicos, reduzir os riscos ocupacionais, maximizar a quantidade de material coletada e aumentar a renda mensal dos catadores de materiais recicláveis. Recentemente, foi construído um novo carrinho, numa versão bem mais avançada (RIBEIRO, 2019), dessa vez, motorizado, mas, por questões de patenteamento, não será descrito nesse trabalho.

Destaca-se que os carrinhos em estudo nesse trabalho foram projetados sequencialmente. À medida que eram projetados, um dos principais propósitos era superar as fragilidades da versão anterior, de forma que as necessidades dos catadores de materiais recicláveis fossem atendidas, como preconizam os princípios da tecnologia social.

O carrinho CTHDN, cuja descrição está anunciada no Quadro 1, apresentou, quando vazio, peso de 86 kg, com capacidade para transportar até 180 kg, resultando num possível acréscimo da quantidade de materiais recicláveis coletada e da renda mensal, além de menor exigência de esforço físico para conduzi-lo, reduzido devido as três rodas empregadas, sendo as duas traseiras de motocicleta e a dianteira de Levorin, usada em carrinho de mão, com pegas de aço móvel com design e polímero e freios tipo alavanca (Fig. 1).

O CTHD1 foi desenvolvido na configuração desmontável, mais compacto e menor peso

para coleta em percursos curtos e para favorecer o seu deslocamento no caminhão adquirido pela Rede CataPB. Foi fabricado em aço carbono metalon, de 20x20mm, galvanizado, com tela transpassada em arame 1,2 mm, soldada, pneu dianteiro Levorin, freio de cabo de aço e embreagem, porta traseira com travas para abrir e fechar, corrente para segurar a porta; portas frontal, lateral e traseira com parafusos em três pontos e encaixem nas laterais; ganchos laterais para apoio de bags (grandes sacos usados para acondicionar os materiais coletados), pegador frontal para facilitar o manuseio (Quadro 1, Fig. 2). Quando vazio tem peso de 55 kg, com

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 5,p.31402- 31428 mar.. 2020. ISSN 2525-8761 capacidade para transportar até 90 kg de materiais recicláveis, sendo projetado para acondicionar dois bags de 45 kg, com a finalidade de amortizar os impactos negativos sobre a saúde dos catadores de materiais recicláveis, durante o manejo dos materiais sobre a carroceria do caminhão. É apropriado para pequenos percursos, auxiliando na coleta porta a porta em locais que dispõem de um veículo motor.

O carrinho CTHP (Quadro 1, Fig. 3) foi produzido em chapa de ferro 20 galvanizada em formato plataforma com capacidade para suportar até 350 kg. No eixo das rodas foram fixadas cantoneiras de 1.1/2” x 1/8”, com quatro pneus com câmara de ar e jante de alumínio, com rolamento. O CTHP foi fabricado com o objetivo de favorecer o transporte dos materiais recicláveis da mesa de triagem até o local de armazenamento e de reduzir os riscos ergonômicos observados, principalmente em relação ao excesso de esforço físico desprendido durante a triagem e armazenamento desses materiais no galpão da Associação.

Por último, o carrinho CTHD2 de tração humana e desmontável (Quadro 1, Fig. 4),

com faixas refletivas; atendendo às indicações dos catadores de materiais recicláveis, foi construído com compartimento de carga em formato de paralelogramo para receber os resíduos sólidos recicláveis secos, com quatro pneus de 12” em borracha esponjosa (SBR), resíduos da indústria calçadista, posteriormente substituídos por pneus Levorin 4.80/4.00x8 de seis lonas; jante de plástico, dois traseiros fixos e dois dianteiros móveis, ambos de 8’; pega de condução de tubo de ferro, auxiliando em manobras e curvas, com capacidade de carga de 180 kg.

Percebeu-se a necessidade em desenvolver um carrinho constituído por quatro pneus, em substituição aos três pneus presentes nos demais carrinhos para conferir maior estabilidade e reduzir o esforço físico dos trabalhadores. O tipo de pneu usado oferece maior resistência e não permite que o mesmo fure com facilidade, pelo fato de ser constituído por seis lonas (número de camadas do pneu).

A solução oferece flexibilidade quando o carrinho passa por barreiras, abrandando significativamente o impacto e a vibração transferida ao catador de materiais recicláveis, bem como, resistência ao ser atingido por perfuro-cortantes, evitando assim, a troca de pneu com constância em borracharia, fato que viabiliza o trabalho dos catadores de materiais recicláveis, no que diz respeito uso eficiente do tempo.

As tecnologias de coleta e transporte, comparando-se com as de acondicionamento, são frequentemente estudadas no Brasil, embora, em ritmo lento, haja vista que os próprios

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 5,p.31402- 31428 mar.. 2020. ISSN 2525-8761 catadores de materiais recicláveis costumam fabricar a sua própria tecnologia, no sentido de otimizar a sua produtividade.

Na visão de Maccarini et al. (2014) os catadores de materiais recicláveis enfrentam

dificuldades logísticas no transporte dos materiais coletados, principalmente quando percorrerem longas distâncias e as ruas tem altos declives. Sendo assim, é indispensável o desenvolvido de pesquisas que amenizem ou extinguem essas dificuldades.

Galdino, Malyz e Martins (2015) ao estudarem os catadores de materiais recicláveis que trabalham em associação em Mamborê-PR constataram que esses catadores coletam e transportam os resíduos sólidos em carrinhos manuais e esporadicamente contam com um trator com caçamba.

De acordo com os estudos de Ávila e Gil (2019), veículo não tripulado com motor de combustão, embora tenha menores custos e menos impactos, sobretudo ao tráfego urbano, possibilita uma baixa capacidade de armazenagem, requerendo a instalação de um ponto de apoio para transbordo do material coletado. Esse tipo de veículo é favorável para regiões de difícil acesso aos caminhões e às áreas urbanas mais horizontais.

Foram desenvolvidos e confeccionados também três suportes (STT), com dimensão de 1 m de largura, 1 m de altura e 1 m de comprimento (Quadro 1, Fig. 7), tomando-se por referência o dimensionamento dos bags. Os suportes tiveram como base de sustentação, o madeirite cru, para acomodação do bag e abaixo dessa estrutura, foram fixados cinco rodízios giratórios de 2’’, para a condução do bag no interior do galpão.

O desenvolvimento desses suportes para triagem e transporte (STT), visou acolher às demandas dos catadores de materiais recicláveis em estudo, no que tange à fixação dos bags, favorecer o armazenamento e o transporte dos materiais recicláveis triados e evitar e/ou mitigar os riscos que estão submetidos esses profissionais. Após a triagem, os materiais selecionados são colocados nos bags abertos fixados nos suportes, facilitando assim, o manejo desses materiais, reduzindo os movimentos de flexão e extensão do corpo dos catadores de materiais recicláveis, conferindo-lhes maior conforto no exercício profissional.

Os estudos em tecnologia sociais são importantes no sentido de sob o olhar desses profissionais apontarem caminhos que contribuam para o desempenho decente do seu exercício profissional e para a mitigação de riscos que os afetam.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 5,p.31402- 31428 mar.. 2020. ISSN 2525-8761 3.3 TECNOLOGIAS PARA TRIAGEM DE RESÍDUOS SÓLIDOS RECICLÁVEIS SECOS

Ponderando-se as observações iniciais, constatou-se que os catadores de materiais recicláveis realizavam a triagem de forma manual. No início, o trabalho era executado no chão. Com a organização em associação, resultado de intenso trabalho de Educação Ambiental citados na metodologia, os associados perceberam que necessitavam de uma mesa de triagem para otimizar a produtividade e evitar os impactos sobre a sua saúde, a exemplo de dores lombares e cefaleia. O grupo recebeu a doação de uma mesa de triagem não desmontável (1,30 m de largura, 1,30 m de altura e 1,30 m de comprimento), fabricada com ferro, mas o peso, a ausência de ganchos laterais para segurar os bags e a altura incompatível com a da maioria dos associados dificultavam o seu manuseio. O peso era realmente um problema, porque o galpão era pequeno e todos os dias, a mesa era retirada para calçada para a triagem. Essa mesa não constou da análise desse trabalho, no entanto, foi o ponto de partida para o desenvolvimento das mesas de triagem desmontáveis 1 ( MTD1) e 2 (MTD2).

A triagem dos materiais coletados ocorre de acordo com a natureza físico-química dos resíduos. Os catadores de materiais recicláveis organizam-se ao redor da mesa, de pé, com a mesa aproximadamente na altura da cintura. Em volta deles, ficam os bags, onde são armazenados os resíduos recolhidos. O tempo de triagem para cada bag varia de 15 a 20 minutos. Cada bag suporta de 45 a 60 kg, em geral, de plástico ou alumínio, pois ao preencher a sua capacidade com outros resíduos, por exemplo, vidro ou papel, o peso aumenta, e os catadores de materiais recicláveis não conseguem movimentá-lo, sendo necessária a utilização de bags menores, com capacidade máxima de 10 kg cada.

A mesa de triagem desmontável modelo 1 (MTD1), com capacidade para seis

trabalhadores simultaneamente e quatro bags presos à mesa, confeccionada dividida em partes que se encaixam no momento da montagem e pés também desmontáveis, foi projetada para receber os resíduos diretamente do carrinho, através das aberturas laterais e traseira, otimizar a seleção pelos catadores de materiais recicláveis e minimizar os impactos negativos sobre a saúde. Na medida em que os resíduos coletados eram selecionados, eram dispostos em sacolas fixadas na própria mesa e transportados até o local de armazenamento para a posterior comercialização.

O tampo com profundidade de 0, 38 m para atender aos princípios ergonômicos, confeccionado com folhas de alumínio e as “pernas” de cantoneiras de aço metalon 30x30 mm, favoreceu maior resistência, principalmente no que concerne à oxidação.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 5,p.31402- 31428 mar.. 2020. ISSN 2525-8761 O recebimento dos resíduos sólidos diretamente do carrinho proporcionou o ganho de tempo, de 4 kg/s para 3 kg/s, aumentando a produtividade e beneficiando a saúde postural.

Na oportunidade do estudo, após a triagem, os materiais coletados eram prensados manualmente e depositados dentro do galpão de acordo com o tipo para comercialização. Eram necessários, aproximadamente 20 minutos para realizar a prensagem manual, utilizando-se uma caixa de geladeira. Os catadores de materiais recicláveis imprensavam pisoteando o material disposto na caixa.

Durante o acompanhamento da triagem com MTD1 os catadores de materiais recicláveis

relataram que a mesma atendia à demanda da associação em vários aspectos, no entanto, a disposição dos ganchos que prendiam os bags, a profundidade do tampo, o tamanho e o peso poderiam ser modificados, para respeitar os critérios ergonômicos e otimizar o exercício profissional. Ressalta-se que no primeiro momento os catadores de materiais recicláveis avaliaram MTD1 como excelente, todavia, à medida que intensificaram o seu uso perceberam

a necessidade de novos ajustes que foram imputados ao segundo modelo, MTD2.

A mesa de triagem desmontável modelo 2 (MTD)2 com capacidade para seis

trabalhadores simultaneamente, foi fabricada com chapa de aço galvanizada, metalon 20x20 mm, com ganchos laterais para suporte dos bags, tampo em alumínio com 0,16 m de profundidade, e as pernas em cantoneiras de aço metalon 20x20 mm. Os principais avanços estão relacionados ao fácil manuseio, menor peso, demanda de menor espaço e conforto para os catadores de materiais recicláveis durante a realização de suas atividades, por conta da redução da profundidade do tampo.

As sacolas fixadas nos ganchos laterais favoreceram a separação dos materiais recicláveis e dos rejeitos, localizadas na altura do quadril, adequada ao manejo com as mãos, promoveu a redução dos movimentos de extensão e flexão do corpo.

Segundo Lima et al. (2011) a triagem é “o principal gargalo de produção de uma

atividade baseada exclusivamente no trabalho manual”. Conforme Castilhos Júnior et al.

(2013), em atividades desta natureza, há um grande esforço físico proveniente de movimentos repetitivos, principalmente, os de flexão, extensão, inclinações e rotações do tronco e dos membros superiores e inferiores.

As tecnologias usada para triagem no universo cientifico tem recebido maior atenção, todavia, seguindo o perfil das demais tecnologias que abrangem o exercício profissional de catadores de materiais recicláveis, há ainda muitas limitações, principalmente, por falta de

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 5,p.31402- 31428 mar.. 2020. ISSN 2525-8761 acompanhamento in locu das ações desses trabalhadores. Desenvolver estes tipos de tecnologia sem conhecer o cotidiano desses trabalhadores é jogá-las ao vento.

3.4 TECNOLOGIAS SOCIAIS E PREVENÇÃO DE RISCOS NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL DE CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS

Os catadores de materiais recicláveis no seu exercício profissional submetem-se a vários riscos ambientais, porque exercem as suas atividades em condições primárias, como também em face da falta de cuidados para suprimir ou evitar esses riscos. Dentre os riscos que estão submetidos, destacam-se: os físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e de acidentes. Prevalecendo, os de acidentes e ergonômicos identificados em todas as atividades. Esses riscos estão diretamente relacionados aos equipamentos que esses profissionais empregam no exercício de suas funções e são potencializados na ausência de uso de equipamentos de proteção individual (EPIs).

No sentido, de prevenir os riscos que afetam os catadores de materiais recicláveis no exercício de suas funções, foram desenvolvidas e implantadas as tecnologias anteriormente apresentadas e discutidas. À medida que as tecnologias foram empregadas, constataram-se a prevenção de riscos que estão apresentados por meio do Quadro 3.

Quadro 3. Tecnologias sociais para prevenção de riscos no exercício profissional de catadores de materiais recicláveis. Campina Grande, estado da Paraíba, Brasil.

Tecnologia Tipo de Atividade Principais riscos prevenidos Fonte

F Q B E A

Carrinho de tração humana não

desmontável (CTHND) Coleta e transporte x x x

Ribeiro e Silva (2015) Carrinho de tração humana

desmontável (CTHD1) Coleta e transporte x x x Santos (2016) Carrinho de tração humana

plataforma (CTHP) Coleta e transporte x x x x x Santos (2016) Carrinho de tração humana

desmontável modelo 2 em 1 (CTHD2) Coleta e transporte interno e externo x x x Sousa (2018)

Mesa de triagem desmontável, modelo 1- MTD1

Triagem x x Ribeiro e Silva

(2015) Mesa de triagem desmontável,

modelo 2 - MTD2

Triagem

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 5,p.31402- 31428 mar.. 2020. ISSN 2525-8761

Coletor para acondicionamento de resíduos sólidos recicláveis secos

dentro da residência- modelo 1 (COIM1)

Coleta

x x x

x x Costa (2016)

Coletor para acondicionamento de resíduos sólidos recicláveis secos

dentro da residência- modelo 2 (COIM2)

Coleta

x x x

x x Sousa (2018)

Coletor para acondicionamento de resíduos sólidos recicláveis secos fora das residências com duas portas

e cadeado de senha (COEM1)

Coleta

x x x

x x Costa (2016)

Coletor para acondicionamento de resíduos sólidos recicláveis secos dentro da residência com uma porta e trava de segurança tipo fechadura

lingueta cromada (COEM2)

Coleta

x x x

x x Sousa (2018

Suporte para acondicionamento e transporte de bags no interior do

galpão (STT)

Triagem e transporte no

galpão x

x x Sousa (2018)

Legenda: F: Físico, cor verde; Q: Químico, cor vermelha; B: Biológico, cor vinho; E: Ergonômico, cor amarela; A: Acidente, cor azul.

A implantação de carros de tração humana para coleta dos resíduos sólidos recicláveis, observando-se as indicações do público envolvido, proporcionou o aumento da capacidade de coleta dos materiais recicláveis e a diminuição de esforço físico durante o trajeto percorrido, melhorando a renda mensal e abrandando os riscos de acidentes e ergonômicos. Associada à utilização das mesas de triagem (MTD1 e MTD2) e aos suportes para bags (STT) que

diminuíram as queixas de desconfortos e dores na coluna vertebral por induzir o uso de postura adequada e amortizar a sobrecarga.

A redução do peso dos carrinhos ao longo dos estudos desse tipo de tecnologia, especialmente de CTHD1, facilitou a sua desmontagem e atendeu aos anseios dos catadores

de materiais recicláveis, resultando num carrinho leve e fácil de puxar. O CTHD2 reduziu a

probabilidade de acidentes e mitigou os riscos ergonômicos, por conta do sistema de frenagem instalado, das configurações das pegas e dos pneus empregados. Os riscos biológicos foram minimizados com a instalação do kit higiene, pois além de motivar a higienização das mãos, proporcionou condições de hidratação. Os catadores de materiais recicláveis podiam conduzir

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 5,p.31402- 31428 mar.. 2020. ISSN 2525-8761 água ao longo do trajeto. Em tempos de coronavírus, esse equipamento é fundamental para barrar a sua possível transmissão.

As modificações relativas à altura de MTD2 e à profundidade do seu tampo e aos

ganchos laterais implantados na altura do quadril para fixação das sacolas favoreceram a separação dos materiais recicláveis e dos rejeitos e reduziram os movimentos de extensão e flexão do corpo, observados durante a triagem exercida ainda no chão.

O desenvolvimento de suporte para triagem dos materiais coletados e o seu respectivo transporte no interior do galpão para o armazenamento (STT) amortizou o esforço físico desprendido nessa atividade e os movimentos de flexão e extensão do corpo na condução por arraste dos bags, melhorando sensivelmente as condições de trabalho, como também o uso do espaço.

Os coletores projetados e estudados para o acondicionamento no interior e fora da residência foram fundamentais à seleção dos resíduos sólidos na fonte geradora e à destinação dos materiais selecionados higienizados aos catadores de materiais recicláveis, proporcionando menor exposição aos riscos físico, químicos e biológicos. Assim como, a configuração dos coletores e os materiais empregados contribuíram para minimizar os riscos ergonômicos e de acidentes.

As tecnologias estudadas neste trabalho são necessárias à efetivação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, à prevenção de riscos que estão submetidos os catadores de materiais recicláveis, todavia, para a inserção social e econômica desses trabalhadores é indispensável à remuneração pelos serviços prestados, especialmente os serviços ambientais. O desenvolvimento de tecnologia social requer amplo envolvimento do pesquisador com os pesquisados, de modo, a compreender o cenário estudado e discutir os desafios que precisam ser superados, fato que demanda tempo, um fator limitante neste trabalho, frente às várias tecnologias que foram desenvolvidas, além dos entraves que surgiram ao longo da pesquisa.

4 CONCLUSÃO

As tecnologias desenvolvidas para as ações que contemplam a gestão de resíduos sólidos favoreceram a coleta seletiva na fonte geradora, a destinação dos resíduos sólidos aos catadores de materiais recicláveis e contribuíram para minimizar e/ou evitar os riscos que estão submetidos esses profissionais, sobretudo, os riscos de acidentes e ergonômicos.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 5,p.31402- 31428 mar.. 2020. ISSN 2525-8761 As tecnologias avaliadas neste trabalho foram resultantes de intensos trabalhos de Educação Ambiental que além de promoverem o processo de sensibilização, formação e mobilização, originaram o sentimento de pertencimento, empoderamento e de autonomia aos catadores de materiais recicláveis. As tecnologias foram implantadas, mas quando aplicadas, os trabalhadores evidenciaram os efeitos positivos e apontaram as lacunas e as fragilidades, impondo aos pesquisadores a construção de novos projetos.

Se a sociedade humana brasileira almeja colher os frutos da Política Nacional de Resíduos Sólidos, deve investir de modo significativo em programas e projetos de Educação Ambiental e em projetos voltados ao desenvolvimento de tecnologias apropriadas à gestão integrada de resíduos sólidos e ao exercício profissional de catadores de materiais recicláveis, uma vez que promover a efetivação de programas e projetos em Educação Ambiental não é suficiente.

É essencial e urgente proporcionar condições de trabalho e vida dignas aos profissionais que estão diretamente relacionados com a reintrodução dos resíduos sólidos recicláveis secos ao setor produtivo e à efetivação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, os catadores de materiais recicláveis. Esses carecem de condições decentes de trabalho e de vidas.

REFERÊNCIAS

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de resíduos sólidos orgânicos domiciliares, campina grande-pb. 2018. 174 f. Dissertação

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ARAÚJO, Elaine Cristina dos Santos; SILVA, Monica Maria Pereira; SILVA, Adriana Veríssimo; SANTOS SOBRINHO, José Belarmino. Tratamento aeróbio de resíduos sólidos orgânicos em sistemas descentralizados móveis. Anais. 30º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental. Natal- RN, 2019.

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BISPO, Amanda Lucena. Educação Ambiental na formação de líderes comunitários: um

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Fig.  1  Carrinho  tração  humana  não desmontável (CTHND).

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