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A ÉTICA NA COMUNICAÇÃO DA SAÚDE: O QUE COMUNICAR E O QUE NÃO COMUNICAR

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Academic year: 2021

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A ÉTICA NA COMUNICAÇÃO DA SAÚDE: O QUE COMUNICAR E O QUE NÃO COMUNICAR

Vanda de Deus Daniel1

Nem a posse das riquezas nem a abundância das coisas nem a obtenção de cargos de poder produzem a felicidade e a bem aventurança, produzem-na a ausência de dores, a moderação nos afetos e a disposição de espírito

que se mantenha nos limites impostos pela natureza2

O que será que faz feliz ao ser humano? Esta é uma pergunta de difícil resposta porque cada um de nós dá a ela uma resposta que envolve questões pessoais, sentimentos, emoções e modos pelos quais nosso meio ambiente: família, amigos, grupos de referência enfim, nos ensinou a responder a ela.

Há uma confusão muito grande entre a busca da felicidade e a obtenção do prazer, principalmente entre os jovens.

A felicidade depende pois de nossas visões de mundo. Enquanto cristã, a felicidade, do meu ponto de vista, está explícita na íntegra do Salmo 128 que, resumidamente nos diz: aqueles que temem a Deus e andam em seus caminhos serão bem-aventurados, viverão de seu trabalho e tudo lhes irá bem, verão a prosperidade de sua família, de sua cidade e de sua pátria . Não podemos ser felizes sozinhos, somos co-participantes da felicidade ou infelicidade do mundo que nos rodeia.

O prazer está ligado à satisfação de nossos desejos imediatos enquanto que a felicidade diz respeito às nossas esperanças mais profundas3.

1

Mestranda em Ciências da Religião na UMESP – Universidade Metodista de São Paulo.

2

Epicuro – Ética Coleção Os Pensadores, SP – Editora Abril, 1973 , p.25

3

Farris, James Espera, Desejar, a Esperança Escatológica. Comunicação interna UMESP – 3a semana de Estudos da Religião, UMESP, SP, 1998.

(2)

A mídia manipula com facilidade nossos desejos imediatos mas pouco trabalha nossas esperanças mais profundas, talvez porque esse trabalho demande questionar mais profundamente alguns valores encontrados em estilos de vida presentes em nosso meio.

O mundo contemporâneo está marcado por dois paradoxos necessita um mercado de consumo e ao mesmo tempo de braços baratos; e, em sua busca por multiplicar consumidores, multiplica em maior medida, delinqüentes. Nesse mundo paradoxal a publicidade,

assinala Eduardo Galeano, não estimula a demanda e sim a delinqüência e prostituição.4

Eduardo Galeano nos mostra como a publicidade, ao estimular o despertar de desejos difíceis de serem realizados entre a população jovem e carente, acaba por desencadear processos frustrantes. Ele diz que “o convite ao consumo é um convite ao delito” e que a publicidade entre os jovens sem poder aquisitivo se transforma em “alegres mensagens de morte” que levam à violência gerada pela frustração de desejos entre as classes desfavorecidas.5

Entre as causas da violência nas classes favorecidas temos questões mais sutis como o preconceito e o desrespeito às regras de convívio social6.Preconceito e desrespeito as regras de convívio social , ditos de outro modo são a ausência de posições de cidadania, em outras palavras ainda, é o desamor.

A frustração e o preconceito, a não aceitação das regras sociais leva á busca da felicidade artificial alcançada no consumo de drogas lícitas ( como o álcool, o fumo, medicamentos tranqüilizantes ou excitantes) ou ilícitas (entre nós principalmente a maconha e a cocaína).

4

Galeano, Eduardo La Escuela Del Crimem in Revista Chasqui, N 53, março de l996 (tradução minha).

5 Idem, Ibidem p. 55 6

Corti, Ana Paula de Oliveira et all “Giz Lousa e Revólver”. In Revista”. E SESC - SP – junho de l999. N 12, ano 5 p.32-37

(3)

Consumir drogas é uma substituição de coisas que faltam na vida e muitas vezes

esses doces venenos não deixam de ser uma resposta química à incapacidade

de viver determinadas situações de vida.7

Muito se tem falado sobre a questão do consumo de drogas no Brasil. No final da década de 70 nos Estados Unidos observou-se um aumento do número de usuários de drogas psicotrópicas o que ocasionou uma campanha de enfoque alarmista intolerante e repressiva denominada “Gerra contra as Drogas”.

Esse movimento se estendeu ao Brasil e a outros países menos desenvolvidos considerados rotas de tráfico8.

Não dispúnhamos, na década de 80, de dados estatísticos objetivos para conhecer a situação de drogadição entre nós o que acabou por gerar “pânico” sem fundamento científico e a mídia colaborou com esses acontecimentos.

Hoje as pesquisas epidemiológicas já existem em face dos estudos do Centro Brasileiro de Informações sobre drogas psicotrópicas, coordenado pelo Dr. Elisaldo Carlini e que funciona junto a Universidade Federal de São Paulo (Hospital São Paulo) e outros centros congêneres.

Essas pesquisas mostram que a droga de maior consumo e que mais dano causa é o

álcool, em seguida vem o consumo de cigarros, maconha e cocaína.

Todavia, os estudos sobre os problemas de drogadição, talvez pelos problemas de preconceito que os envolvem, são enfocados de maneira maquinista: só se fala do mal que as drogas causam, sem que se enfoque também o fato de que o álcool e as outras drogas estão

7

Rizzo, Sérgio Rebeldes Sem Causa In Revista Ensino Superior, ano 1, N2, outubro de l998 – publicação do Sindicato de Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo.

8

Pessini, Leo Drogas, O Holocausto Silencioso, In Revista O Mundo da Saúde, ano 23, N 23, janeiro - fevereiro de l999. Editora da Centro Universitário São Camilo, SP, p. 4

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presentes na medicação de muitos males e também na forma de assepsia (veja-se a História antiga do Egito, Roma e China)9.

Dentre os efeitos positivos da droga queremos enfocar aqui o uso da morfina no tratamento de doentes terminais (por causa do câncer, da AIDS e mesmo nos processos de gangrena).

O medo que o paciente crie dependência faz com que os médicos brasileiros receitem menos

morfina do que seus colegas do resto do mundo.10

Os médicos brasileiros consomem 30 vezes menos morfina do que o mínimo aconselhado pela Organização Mundial de Saúde, diz o Dr. Elisaldo Carlini, e me pergunto: Qual é o critério de aplicação da morfina consumida? A que paciente é dado o alívio da dor e a que paciente é negado?11

Qual é o critério médico adotado para que se diga “este tem direito e precisa da morfina, aquele não” uma vez que todos sejam pacientes terminais e em situações de dor intensa e profunda, sem nenhuma perspectiva de melhora ou alívio a não ser aquela causada pela morte? A quem os médicos aliviam ou deixam de aliviar e porquê?

Já passei pela situação de ter que buscar ajuda para minha tia, paciente terminal de câncer.

Eu a consegui ligando para a casa do administrador hospitalar do hospital onde ela estava internada e que por acaso era seu primo. E os pacientes que não têm parentes e amigos na direção do hospital, a quem devem recorrer?

No caso de minha tia, recorremos a todas as instâncias possíveis dentro do hospital (atendentes, enfermeiras, chefes de setor, médicos plantonistas, médico chefe) tudo inútil. Antes de ser socorrida com a injeção de morfina, minha tia passou três horas gemendo de

9 III

Seminário Internacional sobre Toxicomania – Mesa sobre drogas e mídia – fala do Dr. Isnard Manso Vieira

10

Noto, Ana Regina O Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil, Última Década e Tendências, In Revista O Mundo da Saúde, ano 23, N 23 janeiro/fevereiro de l999 p. 6

11

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dor e nós desesperados e impotentes sem poder ajudá-la. Tudo se resolveu com um telefonema à pessoa certa. Eu me pergunto: E os outros? Não é pertinente a minha pergunta? O meu problema já foi resolvido, por que tenho que arrumar pêlo em ovo?

A ausência de dor no momento da morte é felicidade. Poder proporcionar alívio a quem sofre nos torna felizes diante da morte . Essa é uma lição que alguns médicos brasileiros parecem ter esquecido, não faz mais parte de suas agendas aliviar a dor ...

Talvez a mídia possa voltar a lembrá-los de suas próprias máximas: “prevenir quando possível, curar às vezes, aliviar sempre ...”

Referências

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