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N o 4.386/2015-AsJConst/SAJ/PGR

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Ação direta de inconstitucionalidade 5.127/DF Relatora: Ministra Rosa Weber

Requerente: Confederação Nacional das Profissões Liberais (CNPL) Interessados: Presidente da República

Congresso Nacional

CONSTITUCIONAL. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITU-CIONALIDADE. ART. 76 DA LEI 12.249/2010, QUE ALTE-ROU OS ARTS. 2o, 6o, 12, 21, 22, 23 E 27 DO

DE-CRETO-LEI 9.295/1946. EXERCÍCIO E FISCALIZAÇÃO DA PROFISSÃO CONTÁBIL. CONVERSÃO DA MEDIDA PROVISÓRIA 472/2009. ALEGADA OFENSA À DIVISÃO FUNCIONAL DE PODERES (ART. 2o DA

CONSTITUI-ÇÃO) E AO PRINCÍPIO DA LIBERDADE DE PROFISSÃO (ART. 5o, XIII). PRELIMINAR: NÃO IMPUGNAÇÃO DE

TODO O COMPLEXO NORMATIVO. AUSÊNCIA DE PREJUDICIALIDADE. MÉRITO: INSERÇÃO EM MEDI-DA PROVISÓRIA DE DISPOSITIVOS SEM PERTINÊN-CIA TEMÁTICA COM A PROPOSIÇÃO ORIGINAL. POSSIBILIDADE. RESERVA LEGAL QUALIFICADA DO ART. 5o, XIII, DA CF. PROPORCIONALIDADE E

RAZOA-BILIDADE DA EXIGÊNCIA DE FORMAÇÃO SUPERIOR EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS E DE APROVAÇÃO EM EXAME DE SUFICIÊNCIA.

1. Inserção pelo Congresso Nacional, em medida provisória, de dispositivos sem pertinência temática com o texto original não implica contrariedade a preceitos constitucionais.

2. É legítimo veiculação de requisitos para exercício profissional somente por lei em sentido estrito, o que inclui as resultantes da conversão de medida provisória.

3. Conclusão de curso superior de Ciências Contábeis e aprova-ção em exame de suficiência, como requisitos para exercício da profissão contábil, atendem aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade. Não representam ofensa à garantia

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constituci-4. Parecer pelo conhecimento da ação e pela improcedência do pedido.

I RELATÓRIO

Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade ajuizada pela CONFEDERAÇÃO NACIONAL DAS PROFISSÕES LIBERAIS (CNPL),

com pedido de medida cautelar, contra o art. 76 da Lei 12.249, de 11 de junho de 2010, que alterou a redação dos arts. 2o, 6o, 12, 21,

22, 23 e 27 do Decreto-lei 9.295, de 27 de maio de 1946, que re-gulamenta exercício e fiscalização da profissão contábil.

Eis o teor dos dispositivos impugnados:

Art. 76. Os arts. 2o, 6o, 12, 21, 22, 23 e 27 do Decreto-Lei

9.295, de 27 de maio de 1946, passam a vigorar com a seguinte redação, renumerado-se o parágrafo único do art. 12 para § 1o:

Art. 2o. A fiscalização do exercício da profissão contábil,

assim entendendo-se os profissionais habilitados como contadores e técnicos em contabilidade, será exercida pelo Conselho Federal de Contabilidade e pelos Conse-lhos Regionais de Contabilidade a que se refere o art. 1o.

(NR) Art. 6o. [...]

f) regular acerca dos princípios contábeis, do Exame de Suficiência, do cadastro de qualificação técnica e dos pro-gramas de educação continuada; e editar Normas Brasi-leiras de Contabilidade de natureza técnica e profissional. Art. 12. Os profissionais a que se refere este Decreto-Lei somente poderão exercer a profissão após a regular con-clusão do curso de Bacharelado em Ciências Contábeis, reconhecido pelo Ministério da Educação, aprovação em Exame de Suficiência e registro no Conselho Regional de Contabilidade a que estiverem sujeitos.

§ 1o. [...]

§ 2o. Os técnicos em contabilidade já registrados em

Conselho Regional de Contabilidade e os que venham a fazê-lo até 1o de junho de 2015 têm assegurado o seu

di-reito ao exercício da profissão. 2

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Art. 21. Os profissionais registrados nos Conselhos Regi-onais de Contabilidade são obrigados ao pagamento da anuidade.

[...]

§ 2o. As anuidades pagas após 31 de março serão

acresci-das de multa, juros de mora e atualização monetária, nos termos da legislação vigente.

§ 3o. Na fixação do valor das anuidades devidas ao

Con-selho Federal e aos ConCon-selhos Regionais de Contabilida-de, serão observados os seguintes limites:

I – R$ 380,00 ([...]), para pessoas físicas; II – R$ 950,00 ([...]), para pessoas jurídicas.

§ 4o. Os valores fixados no § 3o deste artigo poderão ser

corrigidos anualmente pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA, calculado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Art. 22. Às empresas ou a quaisquer organizações que explorem ramo dos serviços contábeis é obrigatório o pagamento de anuidade ao Conselho Regional da res-pectiva jurisdição.

§ 1o. A anuidade deverá ser paga até o dia 31 de março,

aplicando-se, após essa data, a regra do § 2o do art. 21.

Art. 23. O profissional ou a organização contábil que executarem serviços contábeis em mais de um Estado são obrigados a comunicar previamente ao Conselho Regio-nal de Contabilidade no qual são registrados o local onde serão executados os serviços.

Art. 27. As penalidades ético-disciplinares aplicáveis por infração ao exercício legal da profissão são as seguintes: a) multa de 1 ([...]) a 10 ([...]) vezes o valor da anuidade do exercício em curso aos infratores dos arts. 12 e 26 deste Decreto-Lei;

b) multa de 1 ([...]) a 10 ([...]) vezes aos profissionais e de 2 ([...]) a 20 ([...]) vezes o valor da anuidade do exercício em curso às empresas ou a quaisquer organizações contá-beis, quando se tratar de infração dos arts. 15 e 20 e seus respectivos parágrafos;

c) multa de 1 ([...]) a 5 ([...]) vezes o valor da anuidade do exercício em curso aos infratores de dispositivos não mencionados nas alíneas a e b ou para os quais não haja indicação de penalidade especial;

d) suspensão do exercício da profissão, pelo período de até 2 ([...]) anos, aos profissionais que, dentro do âmbito de sua atuação e no que se referir à parte técnica, forem

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responsáveis por qualquer falsidade de documentos que assinarem e pelas irregularidades de escrituração pratica-das no sentido de fraudar as renpratica-das públicas;

e) suspensão do exercício da profissão, pelo prazo de 6 ([...]) meses a 1 ([...]) ano, ao profissional com comprova-da incapacicomprova-dade técnica no desempenho de suas funções, a critério do Conselho Regional de Contabilidade a que estiver sujeito, facultada, porém, ao interessado a mais am-pla defesa;

f) cassação do exercício profissional quando comprovada incapacidade técnica de natureza grave, crime contra a ordem econômica e tributária, produção de falsa prova de qualquer dos requisitos para registro profissional e apro-priação indevida de valores de clientes confiados a sua guarda, desde que homologada por 2/3 ([...]) do Plenário do Tribunal Superior de Ética e Disciplina;

g) advertência reservada, censura reservada e censura pú-blica nos casos previstos no Código de Ética Profissional dos Contabilistas elaborado e aprovado pelos Conselhos Federal e Regionais de Contabilidade, conforme previsão do art. 10 do Decreto-Lei 1.040, de 21 de outubro de 1969.

Aduz a requerente, em preliminar, sua legitimidade ativa para ajuizar ação direta de inconstitucionalidade em defesa de profissio-nais liberais. Quanto à pertinência temática, afirma que a questão se insere no campo de sua legitimidade ativa. No mérito, sustenta que o art. 76 da Lei 12.249, de 11 de junho de 2010, resultante da conversão da Medida Provisória 472, de 15 de dezembro de 2009, ofende o princípio constitucional da divisão funcional de poderes (art. 2o da Carta da República), pois contém matéria

completa-mente estranha à proposição original, “numa oportunista apropria-ção indébita do poder que, em regra, o parlamento não teria” (fo-lha 28 da peça 2 do processo eletrônico). Afirma já haver ajuizado ação direta com o mesmo fundamento, embora com objeto diver-so (ADI 3.408/DF). Assevera que o dispositivo impugnado tam-bém contraria o art. 5o, XIII, da Constituição da República, ao

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tringir o exercício da profissão contábil àqueles que tenham con-cluído curso de bacharelado em Ciências Contábeis e tenham sido aprovados em exame de suficiência, pois somente lei específica pode estabelecer qualificações profissionais, “e não mera lei de conversão, além de tudo diversa de seu objeto originário e cons-tante de Medida Provisória” (fl. 31).

Requer, liminarmente, suspensão do dispositivo e sustenta, quanto ao perigo de demora, que os efeitos da norma, desde a pu-blicação, já afetam de forma irreparável profissionais formados no curso de nível médio em Contabilidade, os quais estão impossibili-tados do livre exercício da profissão. Em relação à plausibilidade jurídica, defende verossimilhança do direito, dada a inserção em medida provisória de assunto diverso do objeto inicial da norma. Requer declaração de inconstitucionalidade do art. 76 da Lei 12.249, de 11 de junho de 2010.

Adotou-se o rito do art. 12 da Lei 9.868, de 10 de novembro de 1999, com pedido de informações à PRESIDÊNCIA DA

REPÚBLICA e ao CONGRESSO NACIONAL. Em seguida, abertura

de vista sucessiva à ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO e à

PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA (peça 29).

Em informações, a PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA postulou,

preliminarmente, extinção do feito sem julgamento de mérito, por não ter a autora atacado todo o complexo normativo sobre o tema, mais especificamente a Lei 12.514, de 28 de abril de 2011, que trata das contribuições devidas aos conselhos profissionais em geral. Quanto ao tema de fundo, afirma: (i) serem inconsistentes as alegações de contrariedade ao art. 2o da Constituição, pois o art. 76

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da lei não trata de matéria cuja competência seja privativa do Pre-sidente da República ou exija edição de lei específica, além de não ter implicado aumento de despesas ou desconformidade com os arts. 62 e 63 da Carta da República; (ii) haver pertinência temática entre a Medida Provisória 472/2009 e a Lei 12.249/2010, pois ambas tratam de matéria tributária federal; (iii) não haver ofensa ao art. 5o, XIII, da Constituição, pois o exercício da profissão contábil

se condiciona ao cumprimento de condições legais, sendo razoável exigência legal de registro profissional e conclusão do curso de ba-charelado em Ciências Contábeis (peça 35).

O CONGRESSO NACIONAL defendeu a improcedência do

pedido, por considerar que “a Lei 12.249/2010 foi editada sem qualquer restrição ao direito presidencial de propor medidas provi-sórias e sem inovação no Congresso de tema de iniciativa exclusi-va do Presidente da República” (fl. 4 da peça 39).

Manifestou-se a ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO pela

impro-cedência do pedido, aduzindo que: (i) “a Constituição da Repúbli-ca não contempla dispositivo que proíba, quando da conversão da medida provisória em lei, o acréscimo de normas sobre temas dife-renciados ou sem afinidade com o texto primitivo”; (ii) o art. 5o,

XIII, da CR estabelece necessidade de lei para restrições à liberda-de liberda-de exercício profissional, porém não exige que se trate liberda-de lei específica, tampouco proíbe que a matéria seja veiculada em lei re-sultante da conversão de medida provisória; (iii) tendo em vista o potencial lesivo do exercício da profissão contábil, entende razoá-vel a exigência de registro no Conselho Regional de Contabilida-de, conclusão do curso superior de Ciências Contábeis e

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ção em exame de suficiência, para inscritos a partir de junho de 2015 (peça 41).

Há pedidos de ingresso como amici curiæ do CONSELHO

FEDERAL DE CONTABILIDADE (CFC) (peça 43), da CENTRAL DOS SINDICATOS BRASILEIROS (CSB) (peça 47) e da FEDERAÇÃO DOS CONTABILISTAS NOS ESTADOS DO RIO DE JANEIRO,

ESPÍRITO SANTO E BAHIA (peça 58), ainda pendentes de

aprecia-ção pela relatoria. É o relatório.

II PRELIMINAR

Segundo a PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, a requerente não

teria impugnado todo o complexo normativo relativo à matéria, em especial a Lei 12.514, de 28 de abril de 2011, que trata de con-tribuições devidas aos conselhos profissionais em geral.

Ocorre, porém, que o principal argumento da autora se cir-cunscreve à impossibilidade de inserção, em medida provisória, de matéria diversa da proposição original, por implicar ofensa ao princípio da divisão funcional de poderes. Esse alegado vício não atinge a Lei 12.514/2011. Ademais, a alegada contrariedade ao art. 5o, XIII, da Constituição da República, refere-se às novas

exigênci-as relativexigênci-as ao exercício da profissão contábil, que também não se repetem na legislação não impugnada.

Portanto, no caso, a ausência de impugnação a todo o com-plexo normativo sobre a matéria não implica prejudicialidade do pedido.

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III. MÉRITO

III.1 INSERÇÃO EM MEDIDA PROVISÓRIA, DE DISPOSITIVOS SEM PERTINÊNCIA TEMÁTICA COMA PROPOSIÇÃO ORIGINAL

Segundo a requerente, o art. 76 da Lei 12.249/2010 ofende o princípio da divisão funcional de poderes, por ter sido indevida-mente inserido pelo Congresso Nacional durante o processo legis-lativo de votação e conversão da Medida Provisória 472/2009, com a qual não guarda pertinência temática.

A Constituição da República de 1988 não adota concepção excessivamente rígida de separação de poderes. O princípio da di-visão funcional de poderes, centrado na ideia de limitações recí-procas do poder, destina-se a alcançar equilíbrio no desempenho, interdependente e colaborativo, das funções estatais.1 Esse delicado

equilíbrio também se reflete na tramitação de medidas provisórias, as quais são de iniciativa privativa do Presidente da República (art. 84, XXVI, da Carta da República),2 mas devem ser submetidas de

imediato ao Poder Legislativo, que tem prazo de 60 dias para apre-ciá-las, prorrogável por igual período, consoante o art. 62 e § 3o, da

Constituição.3

1 TAVARES, André Ramos. Curso de Direito Constitucional. 11. ed. rev. e atu-al. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 924.

2 “Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: [...]

XXVI – editar medidas provisórias com força de lei, nos termos do art. 62; [...]”.

3 “Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional. (Redação dada pela Emenda Constitucional 32, de 2001) [...]

§ 3o. As medidas provisórias, ressalvado o disposto nos §§ 11 e 12 perderão

eficácia, desde a edição, se não forem convertidas em lei no prazo de sessenta dias, prorrogável, nos termos do § 7o, uma vez por igual período,

devendo o Congresso Nacional disciplinar, por decreto legislativo, as 8

(9)

Não apreciadas no prazo, as medidas provisórias perdem seus efeitos, e deve o Congresso Nacional disciplinar, por decreto legis-lativo, as relações jurídicas delas decorrentes (art. 62, § 3o). O

Con-gresso Nacional tem o poder de rejeitá-las, caso entenda não aten-derem os pressupostos constitucionais (art. 62, § 5o).4 Por fim, o

art. 62, § 12, da Carta Política, dispõe que em caso de alteração do texto original da medida provisória, o novo texto somente entrará em vigor após sanção do Presidente da República.5 No caso, se

não fossem institucionalmente convenientes as modificações intro-duzidas pelo Congresso Nacional, haveria a possibilidade de veto presidencial, que não ocorreu.

Como se pode perceber, há vários mecanismos constitucio-nais de freios e contrapesos que permitem participação efetiva dos Poderes Legislativo e Executivo no trâmite das medidas provisóri-as, inclusive veto presidencial contra texto modificado pelo Con-gresso Nacional.

Por outro lado, o art. 62 da Constituição da República, que regulamenta a tramitação de medidas provisórias, não prevê regra que proíba o Congresso Nacional de inserir matéria sem pertinên-cia temática com a proposição original (ressalvadas normas que dependam de iniciativa privativa do Executivo ou de outro órgão).

relações jurídicas delas decorrentes. (Incluído pela Emenda Constitucional 32, de 2001)”.

4 “§ 5o. A deliberação de cada uma das Casas do Congresso Nacional sobre

o mérito das medidas provisórias dependerá de juízo prévio sobre o atendimento de seus pressupostos constitucionais. (Incluído pela Emenda Constitucional 32, de 2001)”.

5 “§ 12. Aprovado projeto de lei de conversão alterando o texto original da medida provisória, esta manter-se-á integralmente em vigor até que seja sancionado ou vetado o projeto. (Incluído pela Emenda Constitucional 32, de 2001)”.

(10)

Veja-se, a propósito, correto excerto da manifestação da Ad-vocacia-Geral da União:

[...]

Com efeito, a Constituição da República não contempla dispositivo que proíba, quando da conversão da medida pro-visória em lei, o acréscimo de normas sobre temas diferenci-ados ou sem afinidade com o texto primitivo da referida medida.

Cumpre mencionar, a propósito, que tramita perante o Con-gresso Nacional a Proposta de Emenda à Constituição no

70-A, de 2011, do Senado Federal, a qual visa a alterar o procedimento de apreciação das medidas provisórias pelo Poder Legislativo. Dentre outras modificações pretendidas, referida proposta objetiva vedar a inclusão, no projeto de lei de conversão, de matéria estranha ou destituída de afinidade, pertinência ou conexão com o objeto da medida provisória. Entretanto, a ordem constitucional em vigor não contempla semelhante proibição, de modo que não procede a alegação de que a ausência de pertinência temática entre o texto ori-ginal da medida provisória e a redação da lei de conversão implicaria a inconstitucionalidade desta.

Somente há previsão nesse sentido no art. 7o, II, da Lei

Com-plementar 95, de 26 de fevereiro de 1998, segundo o qual a lei (ou medida provisória) não conterá matéria estranha a seu objeto e a este não vinculada por afinidade, pertinência ou conexão.6

Como se pode notar, a temática versada na petição inicial es-barra, quando muito, no exame de texto infraconstitucional, mas não acarreta ofensa direta à Constituição.

Em suma, a inserção pelo Congresso Nacional, em medida provisória, de matéria sem pertinência temática com o texto origi-nal não caracteriza contrariedade a preceito constitucioorigi-nal.

6 “Art. 7o. O primeiro artigo do texto indicará o objeto da lei e o respectivo

âmbito de aplicação, observados os seguintes princípios: [...]

II – a lei não conterá matéria estranha a seu objeto ou a este não vinculada por afinidade, pertinência ou conexão; [...]”.

(11)

III.2 RESERVA LEGAL DOART. 5o, XIII, DA CONSTITUIÇÃO

Acrescenta a requerente que as novas exigências concernen-tes ao exercício da profissão contábil – conclusão de bacharelado em Ciências Contábeis e aprovação em exame de suficiência – contrariam a liberdade de ofício ou profissão, insculpida no art. 5o,

XIII, da Carta da República.

A Constituição de 1988 consagra no art. 5º , XIII, direito fundamental a livre exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão e vincula-o à observância das qualificações profissionais estabelecidas em lei em sentido estrito.

Direitos fundamentais não são absolutos nem ilimitados.7

Sua restrição, no entanto, deve, em princípio, partir da própria Constituição. Segundo ALEXY: “como direitos de hierarquia

cons-titucional, direitos fundamentais podem ser restringidos somente por normas de hierarquia constitucional ou em virtude delas”.8

Em matéria de restrição a direitos fundamentais, admitem-se tanto limitações diretamente constitucionais (os denominados limi-tes imanenlimi-tes) quanto indiretamente constitucionais (as remetidas constitucionalmente ao legislador ordinário), com ou sem reservas. Há, ainda, terceira forma de limitação, que se convencionou cha-mar de “restrição tácita diretamente constitucional” (aplicação do princípio da proporcionalidade na colisão de direitos

fundamen-7 Supremo Tribunal Federal. Plenário. Mandado de Segurança 23.452/RJ. Relator: Ministro. CELSO DE MELLO, 16/9/1999, unânime. Diário da

Justiça, 12 maio 2000; Revista Trimestral de Jurisprudência, v. 173, p. 805. 8 ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. Trad. Virgílio Afonso da

Silva. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2011. p. 286. 11

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tais, para adequá-los aos princípios da unidade e da harmonização da Constituição).9

O art. 5º, XIII, da Constituição da República, por condicio-nar a liberdade de exercício profissional ao atendimento de qualifi-cações profissionais previstas em lei (em sentido estrito), estabeleceu verdadeira reserva legal qualificada, porquanto o texto constitucio-nal impõe limitação de conteúdo ao legislador ordinário. A esse respeito, assentou o Supremo Tribunal Federal:

ÂMBITO DE PROTEÇÃO DA LIBERDADE DE EXERCÍCIO

PROFISSIONAL (ART. 5º , XIII, DA CONSTITUIÇÃO).

IDENTIFICAÇÃO DAS RESTRIÇÕES E CONFORMAÇÕESLEGAIS

CONSTITUCIONALMENTE PERMITIDAS. RESERVA LEGAL

QUALIFICADA. PROPORCIONALIDADE. A Constituição de

1988, ao assegurar a liberdade profissional (art. 5º, XIII), se-gue um modelo de reserva legal qualificada presente nas Constituições anteriores, as quais prescreviam à lei a defini-ção das “condições de capacidade” como condicionantes para o exercício profissional. No âmbito do modelo de re-serva legal qualificada presente na formulação do art. 5º, XIII, da Constituição de 1988, paira uma imanente questão constitu-cional quanto à razoabilidade e proporconstitu-cionalidade das leis restritivas, especificadamente, das leis que disciplinam as qualifi-cações profissionais como condicionantes do livre exercício das profissões. Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal: Repre-sentação nº 930, Red. p/ o acórdão Ministro RODRIGUES

ALCKMIN, DJ, 2-9-1977. A reserva legal estabelecida pelo art.

5º, XIII, não confere ao legislador o poder de restringir o exercício da liberdade profissional a ponto de atingir o seu próprio núcleo essencial.10

A restrição ao direito fundamental do art. 5º , XIII, da CR deve constar expressamente do texto constitucional (como é o caso do art. 95, parágrafo único, V, da Constituição)11 ou estar 9 SAMPAIO, José Adércio Leite. A Constituição reinventada pela jurisdição

constitucional. Belo Horizonte: Del Rey, 2002, p. 723.

10 STF. Plenário. Recurso extraordinário 511.961/SP. Rel.: Min. GILMAR MENDES, 13/11/2009, un. DJ eletrônico, 13 nov. 2009; RTJ, v. 213, p. 605. 11 “Art. 95. Os juízes gozam das seguintes garantias: [...].

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prevista em lei em sentido estrito, nos limites do modelo de re-serva qualificada atinente, apenas, às qualificações profissionais.

Do ponto de vista formal, portanto, conclui-se legítima a veiculação de requisitos ao exercício profissional somente por lei em sentido estrito, cujo conceito não exclui aquelas resultantes da conversão de medida provisória.

CELSO RIBEIRO BASTOS, ao comentar o art. 5o, XIII, da

Constituição, destaca que “o papel da lei na criação de requisitos para o exercício da profissão há de ater-se exclusivamente às quali-ficações profissionais.12 Não basta, porém, que a prescrição de

qualificações profissionais seja veiculada mediante lei. Tais limita-ções devem atender ao princípio da proporcionalidade.

Nessa linha de raciocínio, o Supremo Tribunal Federal en-tende que “as restrições legais à liberdade de exercício profissio-nal somente podem ser levadas a efeito no tocante às qualifica-ções profissionais” e que “a restrição legal desproporcional e que viola o conteúdo essencial da liberdade deve ser declarada in-constitucional”.13

O art. 76 da Lei 12.249/2010 alterou o art. 12 do Decre-to-lei 9.295, de 27 de maio de 1946, que passou a ter a seguinte redação:

Art. 12. Os profissionais a que se refere este Decreto-Lei somente poderão exercer a profissão após a regular conclu-são do curso de Bacharelado em Ciências Contábeis,

reco-Parágrafo único. Aos juízes é vedado: [...]

V – exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorridos três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração. (Incluído pela Emenda Constitucional 45, de 2004)”.

12 BASTOS, Celso Ribeiro; MARTINS, Ives Gandra. Comentários à Constituição do Brasil. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2001, p. 87.

13 Julgado citado na nota 10.

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nhecido pelo Ministério da Educação, aprovação em Exa-me de Suficiência e registro no Conselho Regional de Contabilidade a que estiverem sujeitos.

A redação original do Decreto-lei 9.295/1946 previa a pos-sibilidade de exercício da profissão de contabilista, inclusive como titular de sociedade, por técnicos em contabilidade, registrados no conselho respectivo.

Diante da crescente evolução tecnológica e social, tornou-se imprescindível a formação de profissionais mais capacitados, com conhecimentos multidisciplinares nas áreas de Matemática, Esta-tística, Administração, Direito (particularmente legislação tributá-ria e comercial), Informática, Sociologia etc. A restrição do exer-cício profissional àqueles com formação superior em Ciências Contábeis deve-se à crescente complexidade de atividade que, atualmente, envolve conhecimentos além da antiga função de “guarda-livros”.

Apesar disso, o novel marco regulatório assegurou o exercí-cio da profissão aos técnicos em contabilidade registrados no Conselho Regional de Contabilidade até 1o de junho de 2015,14

como saudável regra de transição de regime jurídico, consideran-do que a lei data de 2010.

A implantação de exame de suficiência surgiu a partir da preocupação com a qualidade dos profissionais lançados no mer-cado de trabalho. Em razão do potencial lesivo da atividade con-tábil, cujo profissional bem formado pode contribuir para o su-cesso empresarial de seus clientes ou, ao contrário, trazer-lhes

14 “§ 2o. Os técnicos em contabilidade já registrados em Conselho Regional

de Contabilidade e os que venham a fazê-lo até 1o de junho de 2015 têm

assegurado o seu direito ao exercício da profissão.” 14

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complicações de ordem financeira e até criminal, nos casos mais graves, a lei introduziu a exigência.

Em tema semelhante, acerca da legitimidade do chamado exame de ordem, imposto a bacharéis em Direito como requisito para exercício da profissão de advogado, a Suprema Corte enten-deu legítima a restrição legal mediante imposição de qualificação profissional, consoante o inciso XIII do art. 5o da Constituição,

quando o exercício de determinada técnica for imprescindível a atividades que possam representar risco à coletividade.15

Conclui-se que a conclusão de curso superior de Ciências Contábeis e a aprovação em exame de suficiência, como requisi-tos para exercício da profissão contábil, atendem ao princípio da proporcionalidade, assim como ao da razoabilidade. Por conse-guinte, não representam ofensa à garantia constitucional da liber-dade de ofício, trabalho ou profissão.

IV CONCLUSÃO

Ante o exposto, o parecer é pelo conhecimento da ação e pela improcedência do pedido, para declarar-se a constitucionali-dade do art. 76 da Lei 12.249, de 11 de junho de 2010.

Brasília (DF), 26 de janeiro de 2015.

Rodrigo Janot Monteiro de Barros

Procurador-Geral da República

15 STF. Plenário. RE 603.583/RS. Rel.: Min. MARCO AURÉLIO. 26/10/2011, un. DJe 25 maio 2012. RTJ, vol. 222(1), p. 550.

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RJMB/WS/TVM-Par.PGR/WS/1.936/2015

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