4ª CÂMARA CRIMINAL
RECURSO DE AGRAVO EM EXECUÇÃO Nº 1.312.465-9 DA VARA DE EXECUÇÕES PENAIS DE FOZ DO IGUAÇU
RECORRENTE: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ
RECORRIDA: CRISTIANE SOUZA DIAS
RELATOR: JUIZ ANTÔNIO CARLOS RIBEIRO MARTINS (EM
SUBSTITUIÇÃO AO DES. LUIZ TARO OYAMA)
RECURSO DE AGRAVO EM EXECUÇÃO.
PROGRESSÃO PARA O REGIME SEMIABERTO. AUSÊNCIA DE VAGA NO ESTABELECIENTO PRISIONAL ADEQUADO. CUMPRIMENTO DA PENA EM REGIME ABERTO (PRISÃO DOMICILIAR). IMPOSSIBILIDADE. PROGRESSÃO ‘PER SALTUM’. DECISÃO REFORMADA.
RECURSO PROVIDO.
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Recurso de Agravo em Execução nº 1.312.465-9, da Vara de Execuções Penais de Foz do Iguaçu, em que figura como Recorrente MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ e Recorrida CRISTIANE SOUZA DIAS.
Recurso de Agravo em Execução nº1.312.465-9
2 Cuida-se de Recurso de Agravo em Execução1 que tramita na Vara de Execuções Penais de Foz do Iguaçu2, em que é
Recorrente o MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ e Recorrida CRISTIANE SOUZA DIAS, cuja decisão3 concedeu à sentenciada
o direito de cumprir sua pena nas condições do regime aberto (prisão domiciliar), diante da ausência de vaga no sistema prisional para cumprimento no regime semiaberto.
Sustenta o recorrente4, em resumo:
a) incompatibilidade da decisão proferida pela magistrada singular com o sistema prisional semiaberto; b) ausência dos requisitos para a concessão da prisão domiciliar; c) inadmissibilidade da progressão per saltum; c) impossibilidade do abrandamento do regime, sendo que as medidas adotadas pela VEP eram suficientes à harmonização do regime.
Por fim, requer a reforma da decisão, com a expedição do competente mandado de prisão.
Em contrarrazões, a Defesa requereu a manutenção da decisão recorrida, uma vez que a agrava não está em liberdade propriamente dita, ou seja, continua cumprindo as condições do regime semiaberto5.
1 Autos nº 12373-69.2011.8.16.0030. 2 Juíza Juliana Arantes Zanin. 3 Decisão (fls. 158/161 - eletrônico). 4 Razões (fls. 174/196 - eletrônico). 5 Contrarrazões (fls. 216/223 - eletrônico).
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3 Em juízo de retratação, a Magistrada Singular manteve a decisão objurgada6.
A Procuradoria-Geral de Justiça manifestou-se no sentido de dar provimento ao recurso, reformando-se a decisão7.
É o relatório.
VOTO
Presentes os requisitos de admissibilidade recursal, conhece-se do recurso de agravo, e no mérito, dá provimento.
DO CUMPRIMENTO DA PENA
O Ministério Público requereu a reforma da decisão, a fim de que se restabeleça o regime semiaberto para o cumprimento da pena privativa de liberdade, expedindo-se o mandado de prisão.
Aduz, a incompatibilidade da decisão proferida pela magistrada singular com o sistema prisional semiaberto, a ausência dos requisitos para concessão da prisão domiciliar, a impossibilidade de progressão per saltum e o flagrante desvio na execução da pena.
Com razão.
6 Juízo de retratação (f. 226).
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4 O Superior Tribunal de Justiça possui entendimento que somente em caráter excepcional e provisório, quando inexistir vaga em estabelecimento penal adequado ao regime semiaberto e, até o surgimento desta, é admitido ao sentenciado cumprir à pena em casa de albergado ou nas condições do regime aberto.
Neste sentido:
EXECUÇÃO PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM
HABEAS CORPUS. (1) PROGRESSÃO AO
REGIME SEMIABERTO. INEXISTÊNCIA DE VAGA EM
ESTABELECIMENTO PENAL ADEQUADO.
FLAGRANTE ILEGALIDADE. OCORRÊNCIA.
CUMPRIMENTO EM REGIME ABERTO DOMICILIAR. POSSIBILIDADE. (2) RECURSO PROVIDO. (...) Como cediço, a falta de vaga no estabelecimento penal adequado ao cumprimento da pena no regime intermediário permite ao condenado a possibilidade de cumpri-la em regime aberto domiciliar, quando inexistir no local casa de albergado ou lugar vago na dita instituição, até a transferência para estabelecimento adequado. (STJ. RHC 47806/SP. Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura. Sexta Turma. DJe 04.08.2014).
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5 Nesse contexto, as penas privativas de liberdade devem ser executadas progressivamente (art. 33, §2º, CP e art. 112, caput, LEP), de modo que a inexistência de vaga em estabelecimento prisional compatível com o regime semiaberto não enseja, por si só, à concessão do regime aberto domiciliar.
O Código de Normas da Corregedoria-Geral da Justiça prescreve no item 7.3.2 que enquanto não operada a transferência do réu para a unidade prisional adequada, devem ser adotadas medidas de harmonização com o regime semiaberto.
Nessa linha é a jurisprudência desta Corte:
HABEAS CORPUS CRIME - PACIENTE CONDENADO
A CUMPRIMENTO DE PENA EM REGIME
SEMIABERTO QUE SE ENCONTRA RECOLHIDO NA PENITENCIÁRIA DE PIRAQUARA, EM REGIME
FECHADO - EXCESSO DE EXECUÇÃO -
NECESSIDADE DE REMOÇÃO PARA
ESTABELECIMENTO PRISIONAL COMPATÍVEL COM O DETERMINADO EM ACÓRDÃO COM TRÂNSITO EM JULGADO, SE POR OUTRO MOTIVO NÃO ESTIVER O RÉU PRESO - OBSERVÂNCIA AO DISPOSTO NO ÍTEM 7.3.2 DO CÓDIGO DE NORMAS
DA CORREGEDORIA, COM A ADOÇÃO DE
MEDIDAS QUE SE HARMONIZEM COM O REGIME INTERMEDIÁRIO ATÉ A REMOÇÃO DEFINITIVA -
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6 INCABÍVEL A CONCESSÃO DE PRISÃO DOMICILIAR - NÃO ENQUADRAMENTO NAS HIPÓTESES LEGAIS (TJPR - 3ª C.Criminal - HCC - 1257684-4 - Rel. Des. João Domingos Kuster Puppi - Julg. 04.09.2014).
HABEAS CORPUS. PACIENTE CONDENADO AO
CUMPRIMENTO DE PENA EM REGIME
SEMIABERTO CUMPRINDO PENA EM REGIME FECHADO. NÃO IMPLANTAÇÃO DO PACIENTE EM
ESTABELECIMENTO PENAL ADEQUADO.
NECESSIDADE DE ADOÇÃO DE MEDIDAS
HARMÔNICAS COMPATÍVEIS AO REGIME,
CONSOANTE ITENS 7.3.1 E 7.3.2 DO CÓDIGO DE NORMAS DA CORREGEDORIA GERAL DA JUSTIÇA DO PARANÁ. CONCESSÃO DE REGIME ABERTO
E/OU PRISÃO DOIMICILIAR. INVIABILIDADE.
ORDEM PARCIALMENTE CONCEDIDA. (TJPR - 3ª C.Criminal - HCC - 1249659-6 - Rel. Juiz Jefferson Alberto Johnsson - Julg. 04.09.2014).
Ainda, em consulta ao sistema Projudi, constata-se que após a concessão do regime semiaberto à sentenciada, o juízo a quo não oficiou à Central de Vagas a fim de verificar a existência de vagas em estabelecimento adequado, inexistindo comprovação da superlotação carcerária.
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7 Além disso, a concessão da prisão domiciliar ou, até mesmo, sua inclusão no regime aberto é incabível no caso, porque não houve o preenchimento dos requisitos dispostos no art. 117, da LEP8 e por
não restar configurada a situação de excepcionalidade admitida pelo Superior Tribunal de Justiça.
Dessa forma, a magistrada singular ao permitir que a sentenciada cumprisse a pena em regime aberto domiciliar, nada mais fez que conceder a progressão per saltum, vedada no ordenamento jurídico, conforme dispõe súmula 491 do STJ: “É inadmissível a chamada progressão per saltum de regime prisional”.
Assim, é de se dar provimento ao recurso, a fim de que seja restabelecido o regime semiaberto à Recorrida, reformando-se a decisão recorrida, e determinando a expedição do mandado de prisão, pelo Juízo a quo.
DISPOSITIVO
ACORDAM em Quarta Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar provimento ao recurso, nos termos do voto do Relator.
8 Art. 117. Somente se admitirá o recolhimento do beneficiário de regime aberto em residência particular quando se tratar de: I - condenado maior de 70 (setenta) anos; II - condenado acometido de doença grave; III - condenada com filho menor ou deficiente físico ou mental; IV - condenada gestante.
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8 Presidiu o julgamento o Desembargador Renato Naves Barcellos, sem voto, e dele participaram os Desembargadores Miguel Pessoa e Carvílio da Silveira Filho.
Curitiba, 12 de fevereiro de 2015.
ANTÔNIO CARLOS RIBEIRO MARTINS Relator