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Escultura em terra crua

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE BELAS-ARTES

Escultura em terra crua

Jéssica Andrade Burrinha

Trabalho de Projeto

Mestrado em Escultura

Especialização em Estudos de Escultura

Trabalho de Projeto orientado pelo Prof. Doutor João Castro Silva

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DECLARAÇÃO DE AUTORIA

Eu Jéssica Andrade Burrinha, declaro que a presente trabalho de projeto de mestrado intitulada “Escultura em terra crua”, é o resultado da minha investigação pessoal e independente. O conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão devidamente mencionadas na bibliografia ou outras listagens de fontes documentais, tal como todas as citações diretas ou indiretas têm devida indicação ao longo do trabalho segundo as normas académicas.

O Candidato

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RESUMO

Este trabalho pretende estudar a Escultura construída com terra crua. Neste sentido, a investigação teve como objetivo estudar várias obras escultóricas em terra e as várias técnicas de construção que esta possibilita. Para além disso, o trabalho desenvolvido propõe-se demonstrar as possibilidades plásticas, formais e compositivas da construção em terra crua e compactada para a Escultura.

Dado que este tema tem sido pouco ou nada estudado no âmbito da Escultura, tornou-se interessante de ser aprofundado. Esta investigação mostra que, para além da construção com terra ser possível na Arquitetura, também o é na Escultura. A Escultura com terra tanto pode ser efémera, degradando-se com o passar do tempo, vivendo apenas no momento da exposição, como perene. Neste último, a escultura caracteriza-se por ser construída com terras mais fortes e duradouras que resistem às ações do tempo, podendo ainda ser adicionados estabilizantes, que protegem e minimizam os estragos ao longo dos anos. Além disso, é também possível recorrer a estruturas vegetais que ajudam na construção de determinadas formas, para que estas perdurem mais tempo, tanto em zonas de elevada pluviosidade, como em zonas de seca.

Ao longo do trabalho são apresentadas várias experiências de carácter empírico, obras escultóricas que demonstram a variedade de técnicas e potencialidades de construir com a terra crua na Escultura. São também abordadas: as questões da matéria-prima e as diferentes composições e propriedades da terra; quais as melhores terras a serem usadas, dependendo do local e profundidade a que são extraídas; e quais as técnicas de construção que melhor se adequam a cada tipo de terra.

A terra, para além de ser uma matéria segura e fácil de ser modelada, é também ecológica, infinitamente reciclável, com uma grande plasticidade e diversidade cromática. As possibilidades expressivas e a natureza própria das diferentes terras, distinguem-nas das restantes matérias. Apesar de a construção com terra ser vista com desconfiança por parte das pessoas, o objetivo principal deste Trabalho de Projeto foi mostrar as vantagens e desvantagens da utilização da terra crua na Escultura e as suas potencialidades

Palavras-Chave:

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ABSTRACT

The present work intends to study Sculpture built with raw earth. Hence, this investigation aimed to study several sculptural works and construction techniques using raw earth, and to demonstrate how plastic, formal and composite the constructions with raw and compacted earth can be in Sculpture.

This theme has not been widely investigated in the scope of Sculpture, which creates interest to explore it further. The investigation developed here showed that, it is possible to build with earth not only in Architecture, but also in Sculpture. A Sculpture made with raw earth can be both ephemeral, degrading over time, living only during the exhibition, or perennial. In the latter, the sculpture is characterized by being built with stronger and longer-lasting earth that resists to the environment and that can also be stabilized, increasing its protection and minimizing damage over the years. Furthermore, it is also possible to use vegetable structures in the construction of shapes that help to resist longer, not only in high temperature zones, but also in drought zones.

Throughout the work, there are several empirical experiences, sculptural works that demonstrate a variety of techniques and construction potentials with raw earth in Sculpture. It is also addressed: the applicability of earth as a raw material and its different compositions and properties; what are the best types of earth, depending on the local and depth from which it is extracted; and which construction techniques are best suited to each type of earth. Earth, besides being safe and easy to mold, is also ecological and infinitely recyclable, having a great plasticity and chromatic diversity. The huge expressive potential and all the different types of earth make it unique when compared to other raw materials. Since construction with earth is still viewed with suspicion by people, the main objective of this work was to show the advantages and disadvantages of using raw earth in Sculpture and all its potential.

Keywords:

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, gostaria muito de agradecer, de coração, ao professor João Castro Silva, por me ter acompanhado neste percurso tão atribulado de altos e baixos, e pelo seu apoio até ao fim, para que terminasse com êxito esta dissertação. Mostrou-se sempre disponível em ajudar-me, sem nunca me deixar desistir, acreditando sempre no meu trabalho e nas minhas capacidades.

Em segundo lugar, quero agradecer aos meus queridos pais, a quem dedico esta dissertação, pois sem o seu afeto, apoio e suporte incondicional não teria conseguido. À minha irmã Tatiana que, mesmo com uma tese de doutoramento em mãos, ajudou-me a concluir esta dissertação nos momentos de maior cansaço; à minha irmã Cíntia, agradeço pelas gargalhadas e pela música de fundo que tocava todas as noites, na sua guitarra, e me acalmava. Aos meus queridos avozinhos, que estão sempre presentes na minha vida. Ao meu namorado, Miguel, pelo seu amor, enorme paciência e infindável vontade em ajudar-me, obrigada por me ouvires nos momentos de desespero e angústia. Aos meus grandes amigos do coração, que me acompanharam neste percurso e me incentivaram sempre a terminar o que comecei, agradeço por nunca terem desistido de mim e de quem eu sou.

Em terceiro lugar, agradeço, também, a todos os professores que me acompanharam neste meu percurso académico, contribuindo para um maior interesse e empenho da minha parte no meu sonho de seguir Escultura. Um especial obrigado ao professor Fernando Quintas, por ter convidado a Arquiteta Tânia Teixeira a fazer o workshop de terra na faculdade, e terem feito apaixonar-me por esta matéria tão pura. Obrigado professor Quintas, por ter sido um dos maiores incentivadores a trabalhar com esta matéria, que me tem dado tanto a aprender.

Por fim e não menos importante, ao corpo não docente da faculdade, ao Sr. Eduardo, pela sua incondicional ajuda nas oficinas, e ao Sr. Martins, pela sua permanente disponibilidade, apoio e sabedoria.

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Índice

Resumo………..2 Abstract………..3 Agradecimentos………4 Índice………..5 Índice de Imagens………7 I. Introdução………....14

II. Matéria-prima – A Terra………....18

2.1 Origem e história………19 2.2 Matéria-prima………...27 2.3 Característica………...30 2.3.1 Argila………....33 2.3.2 Siltes………...36 2.3.3 Areia………...36

2.3.4 Fibras vegetais (palha, espigas de trigo, cânhamo, arroz, sisal, bamboo, fibra de coco ou palmeira) ………...38

2.3.5 Água………...40

2.3.6 Plasticidade……….42

2.3.7 Estabilizantes………...45

2.4 Construção com terra………54

2.5 Questões Ambientais………....63

III. Técnica………...66

3.1 Workshop sobre construção em terra – Construir com Terra………...69

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6 3.2.1 Estado Sólido/Seca………....74 3.2.1.1 Escavada………..74 3.2.1.2 Blocos Cortados………...80 3.2.1.3 Terra de Enchimento………...81 3.2.1.4 Terra Plástica………85 3.2.2 Estado Húmido………88 3.2.2.1 Terra de Cobertura………..88 3.2.2.2 Blocos Prensados (BTC)……….90

3.2.2.3 Terra Prensada ou Taipa………....97

3.2.3 Estado Plástico………..103

3.2.3.1 Terra Moldada………103

3.2.3.2 Terra Empilhada………107

3.2.3.3 Adobe Moldado………..110

3.2.3.4 Adobe Mecânico ou Extrudido……….114

3.2.4 Estado Líquido………..115

3.2.4.1 Terra de Recobrimento……….115

3.2.4.2 Terra Palha……….118

IV. Conclusão………121

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Índice de Imagens

Capítulo II Matéria Prima – Terra

Figura 1 - Muralha da China construída em taipa. In: WWW:<URL: https://arcaterrablog.wordpress.com/arquitetura-de-terra/25-tapial-muralha-da-china/> [Consult. 1 jun 2019]

Figura 2 - Templo de Ramsés II em Gourna, no Egipto, construído em adobe. Figura retirada de: TORGAL, F.Pacheco; EIRES, Rute M. G.; JALALI, Said - Construção em Terra. Edição: TecMinho, Guimarães, 2009, p. 10

Figura 3 - Ilustração dos tijolos, do livro de Vitruvius, onde podemos observar dois tipos de tijolos colocados alternadamente, camada a camada. Figura retirada de: VITRUVIUS - The Ten Books On Architecture. Traduzido por Morris Hicky Morgan, PHD., LL.D. Cambridge, Universidade de Harvard, Londres, 1914. p. 44

Figura 4 - Pirâmida de Uxmal, no México, construída entre os séculos VI e X. In: WWW:<URL:

https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Pir%C3%A1mide_del_Adivino_- _Pyramid_of_the_Magician_-_Uxmal,_Yucat%C3%A1n,_Mexico_-_11_Feb._2015.jpg> [Consult. 2 jun 2019]

Figura 5 - Habitações em Isle d’ Abeau, em França, 1984.

Figura 6 - Casas Hakka em taipa, na Província de Fujian, China, construídas no vale do rio Huang. Figura retirada de: DUARTE, Susana Reis – Construir com a terra, Uma Proposta de Intervenção no Bairro do Barruncho, Odivelas. Lisboa, 2013, p.84

Figura 7- Cidade de Shibam no Iémen, a cidade considerada a “Manhattan” do Deserto

Figura 8 Perfil do solo. In: WWW:<URL:

http://www.dct.uminho.pt/pnpg/gloss/horizontes.html> [Consult. 11 set. 2019]

Figura 9 - Mapa de construções em terra pelo Mundo; Figura retirada de: ANTÓNIO MOTA da ROSA, Marco- Arquitetura de terra: reabilitação da taipa. Lisboa, 2016. Dissertação Mestrado Integrado em Arquitetura, p. 41

Figura 10 - Composição da terra; In: WWW:<URL:

https://issuu.com/giovanacibim/docs/tfg_construirdesconstruir> [Consult. 24 jun. 2019]

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Figura 11 – Triângulo de Ferret classificação da terra com base na sua

composição. In: WWW:<URL:

http://1.bp.blogspot.com/_EAPvZQFfrh4/SQbY_A9wjWI/AAAAAAAAASA/Vaxjw

NwM_zk/s1600-h/Diagrama+tri-axial+de+classifica%C3%83%C2%A7%C3%83%C2%A3o+da+terra+(Faria,200 5).jpg> [Consult. 11 set. 2019]

Figura 12 - Integração dos constituintes da terra de diferentes granulometrias no preenchimento dos vazios; Figura retirada de: DUARTE, Susana Reis – Construir com a terra, Uma Proposta de Intervenção no Bairro do Barruncho, Odivelas. Lisboa, 2013. Dissertação/Projeto de Mestrado, p. 14.

Figura 13 – Imagem da argila e da água, como ligantes; Figura retirada de: ANTÓNIO MOTA da ROSA, Marco- Arquitetura de terra: reabilitação da taipa. Lisboa, 2016. Dissertação Mestrado Integrado em Arquitetura, p. 45

Figura 14 - Estados de consistência da terra e os limites de liquidez (LL), plástico (LP), de contração (LC), de retração (LR) e o índice de plasticidade (IP). Figura retirada de: MAIA, Leonor Ribeiro – Contribuição às construções em terra comprimida e compactada e influência no conforto, São Paulo, 2016. Dissertação de Mestrado em Arquitetura e Urbanismo, p.30

Figuras 15 e 16 – “Layers of Bournemouth”,100 x 120 x 240 cm, 2018. Inglaterra,

Briony Marshall. In: WWW:<URL:

https://jwdwrites.wordpress.com/2018/05/07/3656/> [Consult.10 jul. 2019]

Figuras 17, 18, 19, 20, 21 e 22 – Processo de trabalho para a execução da minha escultura “In Materiae Veritas” no Espaço Porto Cruz- Gaia, 2019 Trabalho feito em parceria com o arquiteto e poeta, Pedro Stattmiller, que escreveu um poema à volta da minha escultura. Figura de: Jéssica Burrinha, 2019

Figuras 23 e 24 – Pormenores de um fungo e uma planta que germinaram no meu trabalho “Identidade”, realizado na Cisterna da Faculdade de Belas Artes, 2018. Figura de: Jéssica Burrinha, 2018

Figuras 25, 26, 27 e 28 – “Alderney Stones”, Andy Goldsworthy, 2009. Ilha britânica de Alderney. In: WWW:<URL: https://inhabitat.com/andy-goldsworthys-alderney-stones-are-massive-balls-of-melting-clay/> [Consult. 13 jul. 2019] Figura 29 – Ilustrações que mostram a melhor solução para a durabilidade de uma construção em terra. “Boas botas” e um “Bom chapéu”. Figura retirada de: EIRES, Rute; CAMÕES, Aires; PONTE, Maria – Técnicas para melhorar a durabilidade da construção em terra. Universidade do Minho, Departamento de Engenharia Civil, Guimarães, Portugal e Universidade de Coimbra, Departamento de Arquitetura, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Coimbra, Portugal, 2014. p. 31

Figura 30 – Relação entre a forma das torres da Mesquita de Djennè, à esquerda, e a erosão natural da terra, à direita. Figura retirada de: EIRES, Rute; CAMÕES, Aires; PONTE, Maria – Técnicas para melhorar a durabilidade da construção em terra. Universidade do Minho, Departamento de Engenharia

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Civil, Guimarães, Portugal e Universidade de Coimbra, Departamento de Arquitetura, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Coimbra, Portugal, 2014. p. 31 Figura 31 – “Cume”, 2016. Évora, Portugal, António Bolota. In: WWW:<URL: https://www.artecapital.net/exposicao-481-antonio-bolota-reto-pulfer-michael-biberstein-cume-estados-de-rememoracao-realidade-suspensa> [Consult. 10 jul.2019]

Figuras 32 e 33 – Diferentes perspetivas da casa construída por Martin Rauch, em Schillins, na Áustria (2005-2008); Detalhe da casa construída por Martin

Rauch; In: WWW:<URL:

https://www.google.com/search?q=Martin+Rauch,+em+Schilins,+na+Austria&tb m=isch&source=univ&sa=X&ved=2ahUKEwi5rbCsr_7mAhUiyIUKHQjTCTUQsA R6BAgKEAE&biw=1366&bih=625> [Consult. 12 jul.2019]

Capítulo III Técnica

Figura 1 - Ait-Benhaddou, Marrocos; In: WWW:<URL:

https://br.depositphotos.com/91329114/stock-photo-clay-kasbah-ait-benhaddou-morocco.html> [Consult. 20 jul 2019]

Figura 2 – Os principais tipo de utilização da terra como material de construção; Figura retirada de: DUARTE, Susana Reis – Construir com a terra, Uma Proposta de Intervenção no Bairro do Barruncho, Odivelas. Lisboa, 2013, p. 24 Figura 3 – Workshop com a arquiteta Tânia Teixeira, na Faculdade de Belas Artes em Lisboa, 2017; Figuras de: Jéssica Burrinha, 16 novembro de 2017 Figura 4 –Grutas de Yung-kang e Lung-mena na China, exemplo de Terra

Escavada na Vertical; In: WWW:<URL:

https://www.qualviagem.com.br/conheca-as-impressionantes-grutas-de-longmen-na-china/> [Consult. 25 jul. 2019]

Figuras 5 e 6 – “Double Negative”, 45700 x 1500 x 900 cm, 1969. Deserto de

Nevada, EUA. Michael Heizer. In: WWW:<URL:

https://www.reviewjournal.com/entertainment/arts-culture/huge-outdoor-sculpture-was-dug-into-the-southern-nevada-desert-video/> [Consult. 26 jul. 2019]

Figura 7 – “Red River”, 1999. Jemez, Novo México. Andy Goldsworthy. Figura retirada de: GOLDSWORTHY, Andy, 1956 – Time. London: Thames & Hudson, reimp. 2003, p. 153

Figuras 8 e 9 – “1 of Nine Nevada Depressions”, 15800 x 4500x 300 cm, 1968. Massacre Dry Lake, Nevada, EUA. Michael Heizer; Figura retirada de: KASTNER, Jeffrey; WALLIS, Brian- Land and Envirommental Art. London: Phaidon, 1998. p.52

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Figuras 10, 11 e 12 - “Earth Wall”, 2014, São Francisco, EUA. Andy Goldsworthy; In: WWW:<URL: https://www.wescover.com/p/sculptures-by-andy-goldsworthy-at-presidio-officers-club--PSJ7iDB96wb> [Consult. 29 jul. 2019] Figura 13 – Extração de blocos cortados em Karaba, Burkina Faso, África; In: WWW:<URL: http://davidpacephotography.com/albums/karaba-brick-quarry/> [Consult. 1 ago. 2019]

Figura 14 – “The New York Earth Room”, 3600 m², 1977. Manhattan, Nova Iorque. Walter de Maria. In: WWW:<URL: https://www.widewalls.ch/walter-de-maria-new-york-earth-room/> [Consult. 4 ago. 2019]

Figura 15 – “Domestication of a Pyramid”, 1992. Museu de Artes Aplicadas em

Viena, Áustria. Magdalena Jetelová; In: WWW:<URL:

https://publicdelivery.org/magdalena-jetelova-domestication-of-pyramids/> [Consult. 4 ago. 2019]

Figura 16 – “40m³ of Earth from the Iberian Peninsula”, 2013. Museu de Bilbao,

Berlim. Santiago Sierra. In: WWW:<URL:

https://artmap.com/kow/exhibition/santiago-sierra-2013> [Consult. 4 ago. 2019] Figura 17 – “222, Phurulloga”, 2017. Museu Bielefelder Kunstverein, Alemanha. Dineo Seshee Bopape. In: WWW:<URL: http://www.sfeir-semler.com/gallery-

artists/dineo-seshee-bopape/view-work/bielefelder-kunstverein.html?galAlbum=1565&what=gallery&numbr=6&imageTitle=bottom& imageDesc=bottom&back=gal_1565> [Consult. 4 ago. 2019]

Figura 18 – “Black Sand Morecambe”, 1976. Morecambe Bay, Inglaterra. Andy Goldsworthy. In: WWW:<URL: https://ocula.com/art-galleries/galerie-lelong- co/artworks/andy-goldsworthy/black-sand-morecambe-bay-lancashire-october-1976/> [Consult. 8 ago. 2019]

Figura 19 – “Passagem”, 1979. Celeida Tostes. In: WWW:<URL: http://elo-repository.org/museum-of-the-essential/museu/interviews/celeida.htm>

[Consult. 8 ago. 2019]

Figura 20 – “Série Árvore da Vida”, 1976. Ana Mendieta. In: WWW:<URL: http://imediata.org/?p=5029> [Consult. 8 ago. 2019]

Figuras 21 e 22 – Terra de Cobertura/Revestimento. Figuras retiradas de: DUARTE, Susana Reis – Construir com a terra, Uma Proposta de Intervenção no Bairro do Barruncho, Odivelas. Lisboa, 2013, p.55 e 56 [Consult. 11 ago. 2019]

Figura 23 – Diferentes BTC. In: WWW:<URL:

http://biobloctijolosecologicos.blogspot.com/p/blog-page.html>;

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Figuras 24, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 31, 32 – “Despojamento”, 15 x 7 x 4 cm, 2019. Mercado 1º de Maio, Barreiro. Jéssica Burrinha. Fotos de: Jéssica e Cíntia Burrinha, 2019.

Figuras 33, 35 e 36 – Cofragens, compressores manuais e mecânicos da construção em terra prensada (Taipa). Figuras retiradas de: DUARTE, Susana Reis – Construir com a terra, Uma Proposta de Intervenção no Bairro do Barruncho, Odivelas. Lisboa, 2013, p. 27 e 28 FALCÃO, João Miguel Ferreira Vidigal de Nazaré- Arquitetura Contemporânea em Terra. Dissertação em Construção e Reabilitação. Novembro, 2014, p. 86

Figura 34 – Taipais Especiais. Figura retirada de: DUARTE, Susana Reis – Construir com a terra, Uma Proposta de Intervenção no Bairro do Barruncho, Odivelas. Lisboa, 2013, p. 27

Figuras 37, 39, 40, 41, 42 e 43 – “Identidade”, 100cm x 100cm x 100cm. Trabalho final de Mestrado em Estudos de Escultura, Cisterna da Fbaul, 2018; Fotos de: Christiano Mere

Figura 38, 44 e 45 – “Missão Cumprida”, 240 x 70 x 120 cm, 2019. Museu Militar, Lisboa. Jéssica Burrinha. Foto 38 de: Jéssica Burrinha, 2019 e Foto 44 e 45 de: Fernanda Carvalho, 2019

Figura 46 – “Broken Circle”, 4267,200 cm de diâmetro, 1971. Emmen, Holanda.

Robert Smithson. In: WWW:<URL:

https://www.flickr.com/photos/85264217@N04/7873640704> [Consult. 25 ago 2019]

Figura 47 – “Spiral Hill”, 2300 cm de diâmetro na base, 1971, Emmen, Holanda.Robert Smithson. Figura retirada de: KASTNER, Jeffrey; WALLIS, Brian- Land and Envirommental Art. London: Phaidon, 1998. p. 60

Figura 48 – “Spiral Jetty”, 145000 por 450 cm de diâmetro, 1970. Great Salt

Lake, Utah. Robert Smithson. In: WWW:<URL:

https://linhnguyen003.wixsite.com/nguyenartsplastiques/fullscreen-page/comp-

jqe6jaz5/4280370e-4b23-4405-81ab-18ff446cfdcb/8/%3Fi%3D8%26p%3Dc17bc%26s%3Dstyle-ji2zcnzc> [Consult. 25 ago 2019]

Figura 49 – “When Faith Moves Mountains”, 2002, Lima, Peru. Francis Alys In: WWW:<URL:

https://www.moma.org/collection/works/Installation/109922?locale=ja> [Consult. 26 ago 2019]

Figura 50 – Terra Empilhada, Palácio Nairan, Arábia Saudita. In: WWW:<URL:

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Figura 51 – “Pães” de terra e palha. In: WWW:<URL:

https://www.dreamstime.com/stock-photo-making-cob-handmade-building-rustic-natural-small-house-image44857316> [Consult. 29 ago 2019]

Figura 52 – Construção por empilhamento de terra. Figura retirada de: DUARTE, Susana Reis – Construir com a terra, Uma Proposta de Intervenção no Bairro do Barruncho, Odivelas. Lisboa, 2013, p.32

Figura 53 - "AND - IN. THE LIGHT OF THIS. _________”, 2017, Canadá. Dineo Seshee Bopape. In: WWW:<URL: http://seshee.blogspot.com/> [Consult. 29 ago 2019]

Figuras 54 e 55– Mesquita de Djenné no Mali, construída em adobe 1280. In: WWW:<URL: https://quatrocantosdomundo.wordpress.com/2015/06/21/grande-mesquita-de-djenne-mali-arquitetura-espetacular/> e WWW:<URL: http://sou-cesar.blogspot.com/2017/04/grande-mesquita-de-djenne.html> [Consult. 30 ago 2019]

Figura 56 - Ilustração da civilização egípcia a produzir e executar paredes de adobe. Figura retirada de: FALCÃO, João Miguel Ferreira Vidigal de Nazaré- Arquitetura Contemporânea em Terra. Dissertação em Construção e Reabilitação. Novembro, 2014, p.3

Figura 57 e 58 – Produção de adobes moldados. Figuras retiradas de: FERNANDES, Maria; TAVARES, Alice - O Adobe. Edição: Argumentum, 2016, p. 16

Figura 59 – “And-in. The light of this.______”, 2017, Darling Foundry Montreal, Canadá. Dineo Seshee Bopape. In: WWW:<URL: http://seshee.blogspot.com/> [Consult. 2 set 2019]

Figuras 60 e 61 –Extrusão do adobe da máquina e construção com adobe mecanizado. Figuras retiradas de: DUARTE, Susana Reis – Construir com a terra, Uma Proposta de Intervenção no Bairro do Barruncho, Odivelas. Lisboa, 2013, p. 44 e 45

Figuras 62, 63 e 64 – “Refúgio”, 120cm de altura e 100cm de diâmetro, 2017, Lisboa. Trabalho final de Mestrado em Estudos de Escultura, Faculdade de Belas Artes, Universidade de Lisboa. Cecília Rimbaund Fotografias de: Filomena Rodrigues

Figuras 65, 66 e 67– Terra-palha com recurso a cofragem. In: WWW:<URL:

https://pt.depositphotos.com/39259879/stock-photo-wall-detail-from-cob-construction.html> e WWW:<URL: http://trctimberworks.com/tag/light-clay/> [Consult. 8 set 2019]

Figuras 68 e 69 - "Mabu, Mubu, Mmu", 2017, Palácio Contarini Polignac, Veneza. Dineo Seshee Bopape. In: WWW:<URL: http://seshee.blogspot.com/> [Consult. 5 set 2019]

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Figura 70 e 71 – “Terra feita de tempo”, 18cm de diâmetro e 80cm de comprimento, 2019, Museu de Salamanca, Espanha. Fotografias de: Jéssica Burrinha

Figura 72, 73, 74, 75 – “Terra feita de tempo”, 2019, Museu de Salamanca, Espanha. Fotografias de: Alberto Bescós Corral

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I. Introdução

Partindo da perspetiva do artista enquanto pesquisador, desenvolveu-se este trabalho centrado nas diferentes técnicas de construção em terra, visando demonstrar as possibilidades plásticas, formais e compositivas da construção em terra crua e compactada para a Escultura.

Deste modo, apresenta-se aqui o trabalho final de projeto de Mestrado em Estudos de Escultura onde se pretende demonstrar que, apesar da construção com terra ser aplicada na arquitetura para a construção de espaços, casas e abrigos, também na Escultura esta técnica de construção tem vindo a ser desenvolvida.

Pela escassez de informação e de obras escultóricas em terra, torna-se interessante explorar este campo e desenvolver o Trabalho de Projeto a partir destas matérias e das variadas técnicas de construção que possibilita. Através do trabalho prático e de várias experiências de carácter empírico, podemos considerar que a terra como matéria-prima tem tanto interesse por ser efémera como perene. A opção por se realizar um trabalho direcionado para a prática do fazer, justifica-se pela necessária aprendizagem empírica que esta matéria, e as técnicas que lhe são subsequentes, encerram. Quando se trabalha com terra raramente se mandam fazer análises que comprovem os vários constituintes de uma determinada amostra, é através da experiência prática que os conhecimentos específicos se adquirem.

O fascínio por se descobrirem as potencialidades da terra crua na escultura, aliada à experiência que se ganhou no desenvolvimento dos trabalhos práticos, fez com que ganhasse uma sabedoria maior nas questões da matéria e das suas possibilidades escultóricas.

Apesar da falta de informação acerca da utilização da construção com terra em Escultura, já muito foi descrito em relação a técnicas de construção com diferentes tipos de terras e diferentes plasticidades, em dissertações e teses de arquitetura e engenharia. Assim, no decorrer deste Trabalho de Projeto, optou-se por procurar a maior quantidade possível de obras que elucidasoptou-sem cada uma das técnicas desenvolvidas no corpo do trabalho. Fez-se um estado da arte, não só ao nível de uma pesquisa bibliográfica, mas também de recolha imagética das

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obras escultóricas que melhor se enquadram nas diferentes técnicas de construção com terra.

Este Trabalho de Projeto divide-se em introdução, dois capítulos e uma conclusão. O primeiro capítulo aborda a matéria-prima: a terra e o segundo capítulo aborda a técnica. O primeiro capítulo é composto por cinco subcapítulos: o primeiro apresenta a origem e história da construção com terra; o segundo e o terceiro estudam e analisam a matéria-prima e as suas características; o quarto aborda diferentes tipos de construção com terra, com e sem estabilizantes, para atestar a durabilidade ou efemeridade da mesma; por fim o quinto subcapítulo é virado para as questões ambientais da utilização da terra enquanto material de construção. Por sua vez, o segundo capítulo, aborda as diferentes técnicas de construir com terra, divididas nos seus estados sólido, húmido, plástico e líquido; bem como, apresentamos um workshop sobre construção em terra, desenvolvido em exercícios de carácter empírico, que consistia em experimentar os diferentes níveis de compressão e hidratação das diferentes terras.

É importante salientar que se optou por incorporar todas as imagens ao longo do corpo do texto para tornar mais fácil a sua contextualização, visualização e entendimento.

No primeiro capítulo começa-se por explicar a origem e história das primeiras construções em terra a partir do manual mais antigo de arquitetura, Os

Dez Livros de Arquitetura, de Vitruvius (80 a.C.-15 a.C.)1, que data de século I

a. C., descrevemos o que se pode encontrar no Livro II, sobre aquilo que são as construções em alvenarias de adobe, desde a sua fabricação ao tipo de aparelhamento; mostramos ainda exemplos, por todo o Mundo, do uso de terra como material de construção em locais secos e em climas de elevada pluviosidade. De seguida, dissertamos sobre a questão da matéria-prima, as diferentes composições e propriedades da terra, abordando as características que as constituem e quais as melhores terras a serem usadas. Mais adiante, falamos em Esculturas para exterior, com e sem o uso de estabilizantes para

1Marcus Vitruius Pollio, foi um arquiteto romano que viveu no séc. I a.C. e deixou como legado a obra “De

Architectura” (10 volumes). Foi o único tratado europeu do período greco-romano que chegou aos nossos

dias e serviu de fonte de inspiração a diversos textos sobre Arquitetura e Urbanismo, Hidráulica e Engenharia, desde o Renascimento.

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que a durabilidade do trabalho seja maior. Para terminar, é feita referência ao impacto das questões ambientais, causadas pela ação do homem nas últimas décadas, que exige uma urgente consciência e mudança, para a escolha de materiais naturais, reciclados e económicos, como é o caso da terra.

No segundo capítulo apresentam-se quais são os sistemas construtivos que existem e que utilizam a terra para a construção, assim como a classificação e sistematização destes sistemas segundo um esquema criado pelo CRATerre2. Refere-se também o workshop de construção em terra3, feito na Faculdade de

Belas Artes da Universidade de Lisboa, em 2017, que me permitiu conhecer a variedade de terras existentes no território português, bem como, as capacidades plásticas, resistência, coesão e dureza de cada uma delas. Seguidamente exemplifica-se, como obras de Escultura, cada um dos estados da terra, partindo do esquema do grupo CRATerre - estado sólido, húmido, plástico e líquido. Cada estado da terra divide-se em subcapítulos que integram a terra escava/talhada, blocos cortados, terra de enchimento, terra plástica, terra de cobertura/revestimento, blocos prensados, taipa, terra moldada, terra empilhada, adobe moldado, adobe mecanizado, terra de recobrimento e terra palha. Ao longo de cada um dos subcapítulos, apresentam-se diferentes obras de Escultura que ilustram cada uma das técnicas de construção com diferentes tipos de terras e diferentes plasticidades: apontam-se como exemplo de terra escavada, 1 of Nine Nevada Depressions, 1968, de Michael Heizer; de terra de enchimento, 222 Phurulloga, 2017, de Dineo Seshee Bopape; de terra plástica,

Árbol de la vida, 1976, Ana Mendieta; blocos de terra comprimida (BTC) Despojamento, 2019, Jéssica Burrinha; de taipa Identidade, 2018 e Missão Cumprida, 2019, Jéssica Burrinha; de terra moldada When Faith Moves Mountains, 2002, Francis Alys; de terra de recobrimento Refúgio, 2017, Cecília

Rimbaud, entre outros.

O objetivo principal deste trabalho de projeto é compreender as características da terra, bem como as vantagens e desvantagens da sua utilização. Entender que as práticas arcaicas de utilização da terra como material

2 Centre de Recherche d’Architecture de Terre. Centro de pesquisa da Escola de Arquitetura de Grenoble,

França, fundado em 1979, foi a primeira entidade do ensino especializado universitário, a estudar a temática da construção em terra.

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17

de construção são, atualmente, uma excelente opção atualmente e, que a divulgação das qualidades da terra crua como um material de utilização simples é importante para a compreensão das suas potencialidades.

A pesquisa realizada resultou num percurso rico de múltiplas conexões entre a Escultura e a terra como matéria-prima, presente no Mundo inteiro e possibilitou uma profunda aprendizagem através dos resultados a nível prático.

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18

II. Matéria-Prima: A Terra

Qual a origem do nome do nosso planeta? Porquê planeta Terra? Se “[…]

70% da superfície terrestre é coberta por água, isso oferece 30% de terra para pisar, correr, construir e viver”4, porque não foi então o nosso planeta designado

“planeta Água”?

Terra, vem do latim antigo e até hoje tem os mesmos significados: solo, terra solta, símbolo de fertilidade, povoação e território5. Na Pré-história6, o ser

humano não tinha os mesmos conhecimentos nem pensamentos acerca do que o rodeava, isto é, do Mundo ou do Universo. Tudo o que via à sua volta era objetivo e real, a Terra era sinónimo de vida humana. A presença de terra simboliza assim habitabilidade e poder de criação pela mão humana. Todo o significado que a palavra terra tem para o ser humano tornam-na indispensável para a sobrevivência e propagação de todas as espécies animais e vegetais que a habitam.

4 ANTÓNIO MOTA da ROSA, Marco- Arquitetura de terra: reabilitação da taipa. Lisboa, 2016.

Dissertação Mestrado Integrado em Arquitetura, p. 39

5 [Consult. 4 de out. 2019] Disponível na WWW: <URL: https://dicionario.priberam.org/terra>.

6 A Pré-História abrange, aproximadamente, um período que se estende de 3 milhões de anos atrás a 3.500

a.C. e é dividida em período Paleolítico, conhecido como a Idade da Pedra e que por sua vez é subdividido em três fases a Inferior, Médio e Superior, o período Mesolítico (13.000 a.C. e 9.000 a.C.) e por fim, o período Neolítico (10.000 a.C até 3.000 a.C). [Consult. 4 de out. 2019] Disponível na WWW: <URL: https://www.historiadomundo.com.br/pre-historia>.

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19 2.1. Origem e história

Não se sabe ao certo quando é que o ser humano começou a utilizar a terra como material de construção. As primeiras sociedades na Pré-História7,

durante o período Neolítico, viviam da agricultura e do que a terra lhes dava. Sendo a terra o material de construção mais antigo da humanidade8, este esteve

sempre disponível podendo ser extraído em qualquer parte do Mundo. Foi a partir da terra que, dependendo das zonas onde habitavam, estas sociedades agrícolas podiam construir as suas casas, criar o seu alimento e delimitar os seus terrenos.

“Desde que o Homem, […] começou a fixar-se nos melhores locais, alinhando as primeiras cercas e erguendo os primeiros abrigos, foi certamente a terra, a terra mãe que fazia germinar as sementes do pão, um dos primeiros materiais que também aprendeu a amassar e a moldar para construir.”9

Sabe-se que as construções em terra apareceram há mais de 9.000 ou 10.000 anos atrás10. Com a prática da repetição da construção com as mãos, o

Homem aprendeu a dominar diversas formas, técnicas, ferramentas e matérias primas adaptadas a cada local. A terra é a base não só das mais básicas construções de barro moldado, mas também templos, monumentos e construções urbanas complexas por todo o Mundo. Um dos exemplos dessas construções é a famosa Muralha da China (fig.1) iniciada há mais de 5.000 anos11, construída em troços enormes de taipa12 e mais tarde coberta de pedras

e tijolos, dando-lhe a aparência de um muro de pedra13. Existem ainda outros

exemplos como o Templo de Ramsés II em Gourna, construído em adobe há 3.200 anos (fig.2), um dos edifícios mais antigos feitos de barro; e a pirâmide de Uxmal, no México (fig.4), construída entre os séculos VI e X, “O seu centro é de

7 Chamado de período Neolítico, a última fase do período Pré-histórico onde houve o surgimento da

agricultura e que caracterizou um marco importante para a sobrevivência do homem. [Consult. 4 de outubro.2019] Disponível na WWW: <URL: https://www.historiadomundo.com.br/pre-historia>.

8 CORREIRA COSTA DA PONTE, Maria Manuel – Arquitetura de Terra: o desenho para a durabilidade das construções. Coimbra, 2012, p.13

9 Ibid, id.

10 TORGAL, F.Pacheco; EIRES, Rute M. G.; JALALI, Said - Construção em Terra. Edição: TecMinho,

Guimarães, 2009, p. 10

11 CORREIRA COSTA DA PONTE, Maria Manuel – Arquitetura de Terra: o desenho para a durabilidade das construções. Coimbra, 2012, p.13

12 Cap. III, p. 21

13 GUERREIRO, Vanessa da Silva – [Tra]edição Limitada, Arquitetura de terra. Coimbra, 2009.

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20

terra compactada e o exterior é recoberto por pedras. A Pirâmide do Sol, também no México, em Teotihuacán, tem no seu núcleo aproximadamente dois milhões de toneladas de terra compactada.”14

Fig. 1 Muralha da China construída em taipa

Fig. 2 Templo de Ramsés II em Gourna, no Egipto, construído em adobe

Outros exemplos de obras arquitetónicas em terra são: a aldeia de Ait-Ben-Haddou, em Marrocos; a mesquita de Djenné, no Mali; a cidadela de Chan Chan no Peru; e o Castelo de Paderne do séc.XII, em Portugal.

O desenvolvimento histórico da construção em terra não é claro, mas surge de forma aparentemente independente em várias partes do mundo. Este tipo de construção apesar de estar associada a locais secos, quentes e temperados pode ser encontrada genericamente por todo o Mundo. Tal facto

14 TORGAL, F.Pacheco; EIRES, Rute M. G.; JALALI, Said - Construção em Terra. Edição: TecMinho,

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pode estar relacionado com as movimentações dos povos nómadas ao longo de vários anos e com o seu processo de sedentarização em locais específicos, propícios a trocas comerciais. Com o passar dos anos, as técnicas de construção em terra tornaram-se uma tradição cultural passada entre povos e partilhada de geração em geração.

Para facilitar essa partilha de informação, os livros tiveram um papel fundamental para relatar e representar as técnicas de construção mais úteis e eficazes. É no mais antigo manual de arquitetura que chegou até nós: Os Dez

Livros de Arquitetura, de Vitruvius (80 a.C.-15 a.C.)15, Livro II, nos capítulos III e IV, que se pode encontrar a explicação do que são as construções em alvenarias de adobe, desde a sua fabricação ao tipo de aparelhamento.

O capítulo III refere-se à produção de tijolos e à variedade de terras argilosas que podem ser utilizadas para esse fim. Segundo o que está descrito neste capítulo, os tijolos não devem ser elaborados a partir de barro arenoso, que contenha pedras ou areia grossa, pois, serão mais pesados, não terão neles a adesão suficiente por causa da sua aspereza, bem como desfazer-se-ão quando expostos às chuvas.

Vitruvius explica que os tijolos devem ser confecionados a partir de terra

esbranquiçada, mas que seja abundante em argila, de terra vermelha. Deverão ser confecionados no tempo primaveril ou outonal, para que a secagem seja gradual. Caso sejam secos no Verão, o autor explica que estes tijolos ficarão defeituosos, quando expostos diretamente ao sol, a superfície exterior parecerá seca, mas interiormente estarão húmidos; se continuarem expostos ao sol, vão contrair ao secar e aparecerão rachaduras que tornarão o tijolo inconsistente. Os tijolos de terra serão bem mais úteis se forem confecionados dois anos antes de serem usados para construção, não podendo secar completamente antes desse prazo. Ainda no mesmo capítulo, Vitruvius explica que existem três tipos de tijolos, um chamado Greek Lydian, que se utilizava na altura em Roma, com cerca de um pé e meio de comprimento, por um pé de largura. Os outros dois tipos de tijolos, pentadoron, "πεντάδωρον" e tetradoron “τετράδωρον”, que eram

15 Marcus Vitruius Pollio, foi um arquiteto romano que viveu no séc. I a.C. e deixou como legado a obra

“De Architectura” (10 volumes). Foi o único tratado europeu do período greco-romano que chegou aos

nossos dias e serviu de fonte de inspiração a diversos textos sobre Arquitetura e Urbanismo, Hidráulica e Engenharia, desde o Renascimento.

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22

utilizados pelos gregos, tinham o formato de um prisma quadrangular, um com cinco palmos e o outro com quatro palmos. E ainda, na Maxilua e Callet, em Espanha, e na Pitane, na Ásia Menor, descreve que faziam tijolos, que flutuavam na água depois de secos. Sem dúvida, uma curiosa inovação, visto que, a razão pela qual estes tijolos flutuavam, era porque utilizavam uma terra “esponjosa”, como a pedra pomes, que pelas suas características e qualidades, não deixava a água penetrar na sua substância. Deste modo, ofereciam uma grande utilidade, por não serem tão pesados como os tijolos confecionados em Roma e Grécia, bem como, não se desfazerem quando expostos ao mau tempo.16

Fig.3 Ilustração dos tijolos, do livro de Vitruvius, onde podemos observar dois tipos de tijolos colocados alternadamente, camada a camada.

No capítulo IV, explica-nos o tipo de areia que deve ser misturada na terra, e como devemos fazer a mistura, para obter uma argamassa consistente e bem feita. Em primeiro lugar não pode ser misturada areia suja à argamassa, pois esta não será forte o suficiente para ser utilizada para construção. Em segundo lugar, existem vários tipos de areia, a preta, a cinzenta, a vermelha escura e a brilhante, destas a melhor será a que estalar quando esfregada na mão e a mais adequada a que seja atirada contra uma roupa branca e de seguida sacudida, se não tiver sujidade após isso. Em terceiro lugar, se não houver locais com areia adequada, dos quais possa ser escavada, deve-se peneirar dos leitos dos rios, de cascalho ou da praia do mar, sabendo que a areia da praia não é a mais adequada, pois quando utilizada nas paredes, o sal, ao longo do tempo, estraga a superfície. Por fim, se houver areia de rio adequada à mistura, esta ficará perfeitamente sólida e devido à sua espessura fina, tornando-se tão dura quanto o cimento.

16 VITRUVIUS - The Ten Books On Architecture. Traduzido por Morris Hicky Morgan, PHD., LL.D.

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“Os Dez Livros de Arquitetura” de Vitruvius foram a base para o entendimento, aperfeiçoamento e também, fonte de inspiração para arquitetos e engenheiros. Numa época, falamos de século I a. C., em que o conhecimento era apenas dominado por uma elite e a divulgação era limitada e controlada, este tratado conseguiu chegar até nós, século XXI, por ser universalmente acessível, um livro de puro pensamento científico.

Atualmente, a terra é utilizada como principal material de construção em regiões como África, América Central e do Sul e Ásia. As colonizações, em particular do Império Espanhol, foram muito relevantes para a propagação do conhecimento de técnicas de construção com terra crua no continente Americano.

Sabe-se ainda que “É no Norte de áfrica e no Médio-Oriente que se encontram os primeiros registos de construções em adobe […] É também aqui que a arquitetura de terra resistiu ativamente e durante mais tempo enquanto meio de construção corrente, muito provavelmente assente na tradicional auto construção patente nas culturas locais e num clima adequado e propício para a prática.”17

Em Portugal, a tradição de construir com terra chegou sobretudo através da civilização Romana (criadora do primeiro “cimento leve” com cal e pozolana18)

e, mais tarde, da Muçulmana que soube aproveitar todo o conhecimento anterior em seu proveito19.

17 FALCÃO, João Miguel Ferreira Vidigal de Nazaré- Arquitetura Contemporânea em Terra. Dissertação

em Construção e Reabilitação. Novembro, 2014, p. 4

18 A pozolana deriva da localidade italiana de Pozzuoli, nas imediações do Vesúvio, onde é encontrada em

cinzas vulcânicas conhecidas por cinzas pozolânicas. Os inertes apresentam granulometrias diversas, entre finos como as areias, pedra de pequena dimensão e pedaços de tijoleira. ROSA, Marco António Mota da –

Arquitetura de terra: reabilitação da taipa, Lisboa, 2016, Dissertação de Mestrado em Arquitetura, p. 107 19 DUARTE, Susana Reis – Construir com a terra, Uma Proposta de Intervenção no Bairro do Barruncho,

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24

Fig.4 Pirâmide de Uxmal, no México, construída entre os séculos VI e X

Como mencionado anteriormente, a construção em terra está maioritariamente associada com locais secos e quentes, contudo, é possível observar este tipo de construção em zonas de elevada pluviosidade como o Reino Unido, a Alemanha e a França (fig.5). “A propagação das técnicas de construção em terra para a Europa é feita através do Mediterrâneo pelos Fenícios, tendo sido profusamente divulgadas pelo resto do continente através do Império Romano. A presença de construções em terra na Europa é transversal do Norte ao Sul, em países como a Suécia, Dinamarca, Alemanha, Inglaterra, França, Espanha e Portugal, se bem que tradicionalmente se apresentasse no Centro e Norte da Europa enquanto elemento de preenchimento de estruturas de madeira20.”

Fig. 5 Habitações em Isle d’Abeau, em França, 1984

(26)

25

É ainda de grande estranheza, para muitas pessoas, que haja habitações feitas em terra em climas de elevada pluviosidade, pois, à partida este material é rejeitado. Mas, a verdade é que ainda continuam a existir mosteiros e casas construídas em taipa, no Tibete (ex: Mosteiro de Rebkung fundado em 1180), na China (ex: casas em Hakka construídas entre os séculos XII e XX, na Província de Fujian), na Inglaterra (ex: em Dorset construíram uma aldeia de raiz com a técnica de cob21, em 1773) e na Alemanha (ex: em Weilburg, 1828). No exemplo da China podemos ver, construções circulares em taipa, com cerca de dois a cinco pisos, compostas por paredes bem espessas e altas de terra compactada. Estas casas têm estruturas externas fortificadas com pedras, bambu e madeira, a fim de conferir maior firmeza às paredes, o resultado é uma construção bem ventilada e à prova de ventos e terramotos. Na Alemanha, perto de Frankfurt, é possível ver o edifício mais alto da Europa, com aproximadamente 20 metros de altura (sete andares), foi construído em 1828, também com a técnica da taipa.

“As paredes maciças, que vão dos 75cm na base, até aos 40cm no topo, suportam esforços de compressão que chegam até aos 7,5kg/cm² na base. Mais alto ainda é a torre da mesquita de Al-Muhdar, com 53m, construída em 191422.”

Fig. 6 Casas Hakka em taipa, na Província de Fujian, China, construídas no vale do rio Huang

21 Ver capítulo III ponto 3.2.3.2 Terra de empilhada 22 Ibid, p. 84

(27)

26

Um exemplo impressionante de uso de terra como material de construção para habitação é a cidade histórica de Shibam, no Iémen23. Esta cidade está

localizada numa zona seca do Iémen e teve origem no século III24 (fig.7). É

composta por vários edifícios com cerca de cinco a onze andares, havendo inclusive um minarete com trinta e oito metros de altura. Os edifícios foram construídos com paredes exteriores em adobe, cuja espessura vai estreitando gradualmente nos andares superiores para estabilizar os edifícios.

Fig. 7 Cidade de Shibam no Iémen, a cidade considerada a “Manhattan” do Deserto

A construção com terra tem assim um carácter claramente universal. Este tipo de construção faz uso de materiais disponíveis no próprio local da construção, variando o tipo de terra de local para local. A construção com terra é encarada hoje em dia como uma alternativa e uma mais valia para a sustentabilidade do ser humano. Atualmente quase 50% da população mundial vive em habitações feitas com terra, qualquer coisa como 3.000 milhões de indivíduos25.

23 Conhecida como a “Manhattan do deserto”

24 TORGAL, F.Pacheco; EIRES, Rute M. G.; JALALI, Said - Construção em Terra. Edição: TecMinho,

Guimarães, 2009, p. 14

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27 2.2. Matéria-prima

“Na Arquitetura e Construção com Terra – denominação dada a toda produção arquitetónica que emprega o solo como o principal material de construção – o solo recebe denominações diversas tais como terra crua, terra sem cozer, terra para construir, porém, o usual e adotado neste trabalho, é o termo “terra”, que corresponde ao solo apropriado para construção. O termo “solo” é usado principalmente quando envolve classificações e caracterizações, que também são adotadas em outros campos de Engenharia, assim como são os termos solo-cimento, solo-cal e solo estabilizado, entre outros.”26

A composição e as propriedades da terra dependem das partículas que a constituem. A terra surge como uma mistura de partículas sólidas de diversas granulometrias, geradas pela transformação e desintegração de rochas. Esta transformação pode ocorrer através da ação de fatores químicos, físicos ou biológicos tais como a chuva, vento, presença animal ou vegetal. Assim, a terra incorpora em si mesma um rasto de história mineral e orgânica.

Por outro lado, o solo, porção de superfície terrestre (chão, terra)27,

consiste em camadas de matéria orgânica, que contém na sua composição animais e plantas em decomposição e diferentes rochas fragmentadas. Os solos demonstram ter muito pouca elasticidade e resistência, contrariamente à terra, exibindo uma deformação permanente quando são sujeitos ao efeito de uma tensão.

“Entre outros elementos (como ar, água, minerais e matéria orgânica), a terra é fundamentalmente constituída por areia (sílica28), argila e silte29, todas de origem

mineral.”30 A terra apropriada para a construção é apenas a parte mineral dos

solos. Isto é, uma mistura de várias partículas, com diferentes quantidades de argilas31, siltes32 e areias.

26 NEVES, Célia; FARIA, Obede Borges – Técnicas de construção com terra. PROTERRA, São Paulo,

2011, p. 9.

27 [Consult. 11 de setembro.2019] Disponível na WWW: <URL: https://dicionario.priberam.org/terra>. 28 É muito abundante na natureza e é de forma inorgânica, sólido vítreo, incolor ou branco, é insolúvel em

água e é chamado de dióxido de silício, por ser formado por silício e oxigénio.

29 São partículas estruturalmente inertes, que variam de volume na presença de água, sendo confundidas

com a argila na terra húmida.

30 DUARTE, Susana Reis – Construir com a terra, Uma Proposta de Intervenção no Bairro do Barruncho,

Odivelas. Lisboa, 2013. Dissertação/Projeto de Mestrado, p.14

31 Terra ou rocha formada de sílica e alumina, barro. 32 Ver sub-capítulo 2.3.2

(29)

28

Se fizermos um corte vertical no terreno, conseguimos distinguir seis camadas que correspondem aos diferentes estratos da terra e as suas constituições distintas, desde as camadas mais superficiais, até ás mais profundas (fig.8).

O horizonte O, o chamado solo orgânico, mais escuro, que se encontra nas primeiras camadas é o que contem mais humidade e onde predomina a matéria orgânica; o horizonte A, que estende-se até aos 50cm abaixo do horizonte O, de cor escura, pela acumulação de matérias orgânicas (vivas, mortas, ou em decomposição), é o responsável pela criação de vida; o horizonte E que apresenta cores claras, de onde as argilas e outras partículas finas foram lavadas pelas águas; o horizonte B onde se acumula os materiais provenientes dos horizontes superiores, nomeadamente argilas, que podem apresentar cores avermelhadas devido à presença de óxidos e hidróxidos de ferro; o horizonte C constituído por material não consolidado, onde se encontram as rochas em decomposição; o horizonte R não faz parte da estratificação do solo, “rocha mãe”.

Fig.8 Perfil do solo33;

33 [Consult. 11 de set 2019] Disponível na WWW: <URL:

http://www.dct.uminho.pt/pnpg/gloss/horizontes.html>

Matéria Orgânica

Horizonte mineral escurecido pela acumulação de matéria orgânica Horizonte de cores claras, de onde as argilas e outras partículas finas foram lavadas pelas águas

Subsolo com mistura de areia, siltes e barro

Substrato com rochas em decomposição

(30)

29

Por ter a sua própria identidade, a terra é uma matéria única, com uma enorme diversidade de cores, cheiros e texturas. Cada local do Mundo (fig.9) contém um tipo de terra, que pode ser extraída com diferentes granulometrias e composições. Dada a diversidade existente de tipos de terra é necessário adaptar técnicas de construção distintas a cada tipo de terra, consoante a dificuldade do seu manuseamento.

“A terra, ao contrário da maioria dos materiais, pode deformar-se quer seja pelo efeito de uma força aplicada, quer seja pela simples ação da água. Por outro lado, tem um comportamento diferente quer esteja seca ou molhada.”34

As propriedades da terra são “facilmente corrigíveis e adaptáveis ao uso, através da adição de areias, palha e aglutinantes como argila ou cal, entre outros compostos, todos eles de origem natural.”35 Em contrapartida, a terra pode ser frágil,

em contacto com a água transforma-se em lama e, com a ação do vento, desintegra-se em pó.

Fig.9 Mapa de construções em terra pelo Mundo

34 FALCÃO, João Miguel Ferreira Vidigal de Nazaré- Arquitetura Contemporânea em Terra. Dissertação

em Construção e Reabilitação. Novembro, 2014, p.15

35 DUARTE, Susana Reis – Construir com a terra, Uma Proposta de Intervenção no Bairro do Barruncho,

(31)

30 2.3 Características

Geralmente a terra é classificado consoante o elemento que está presente em maior quantidade, variando entre o argiloso, o siltoso ou o arenoso. Dependendo do tipo de terra é necessário adaptar o tipo de técnica construtiva à sua composição.

Fig. 10 Composição da terra

Como podemos observar na figura 10, e segundo a CRATerre36, a terra

resulta de uma mistura de partículas na sua constituição que podem ser agrupadas por dimensões. Estas encontram-se divididas em: agregados ou pedras, cascalho ou gravilhas, areia, siltes e argila.

Cada um dos componentes da terra tem uma diferente granulometria, que variam conforme a composição, local de onde são extraídos e profundidade. É importante referir que existem várias convenções para a caracterização granulométrica da terra no que toca à distribuição dos grãos e dimensões dos

36 Centre de Recherche d’Architecture de Terre. Centro de pesquisa da Escola de Arquitetura de Grenoble,

França, fundado em 1979, foi a primeira entidade do ensino especializado universitário, a estudar a temática da construção em terra.

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31

mesmos. Para além das partículas referidas anteriormente, existem na terra outros elementos, como o ar, a água, minerais e matéria orgânica, bem como, percentagens mínimas de metais e sais solúveis, como os sulfatos, nitratos e cloretos. Como podemos ver na figura 11 a quantidade de terras que existem, diferem consoante a variação proporcional dos seus três principais elementos constituintes: areia, argila e siltes.

Existem classificações distintas de cada terra consoante a sua composição:

• na terra orgânica, prevalecem os materiais orgânicos;

• na terra gravilhosa há a predominância de cascalhos e britas37

tendo uma aparência mais rude;

• na terra arenosa, com elevada presença de areia, assemelha-se a uma argamassa, que ao esfregar nas mãos parece esfoliante; • na terra siltosa, com a prevalência de limo38, é pouco coesiva e de

cor esbranquiçada, devido à presença de siltes;

• na terra argilosa, muito coesiva na presença de água, devido à elevada quantidade de argila na sua composição.

37 De origem artificial geralmente utilizada nas obras de construção civil 38 Mistura de água, argila e substância orgânicas (barro, lama e lodo)

(33)

32

Fig. 11 Triângulo de Ferret, classificação da terra com base na sua composição39

As características da terra tornam-se essenciais quando falamos da resistência deste material quando compactado. O processo de compactação da terra leva a um ajuste de todos os tipos de partículas de diferentes tamanhos por forma a preencher os espaços vazios e através da expulsão do ar contido nesses vazios. A carga aplicada, quando a terra é compactada, é geralmente de natureza dinâmica e o efeito conseguido é imediato, o que oferece uma maior coesão e estabilização deste material.

39 [Consult. 11 de setembro 2019] Disponível na WWW: <URL:

http://1.bp.blogspot.com/_EAPvZQFfrh4/SQbY_A9wjWI/AAAAAAAAASA/VaxjwNwM_zk/s1600-h/Diagrama+tri-axial+de+classifica%C3%83%C2%A7%C3%83%C2%A3o+da+terra+(Faria,2005).jpg> Argila Terra Argilosa Terra Silte Terra Siltosa Terra Silto-Argilosa Silte Argiloso Areia Terra Arenosa Terra Areno-Argilosa Areia Argilosa

(34)

33 2.3.1 Argila

É muito comum que a palavra argila seja confundida com terra, na verdade, a argila é apenas um dos componentes que engloba toda a composição da terra. As argilas sãominerais e compostas maioritariamente de sílica (dióxido de silício) e alumina (óxido de alumínio) ou magnésia (óxido de magnésio). Ao mesmo tempo, também é redutor falar em argila, pois existe uma grande diversidade de moléculas, com composições e estruturas mineralógicas diversas e é mais correto falar de argilas referindo-se a uma fração granulométrica.

A estrutura da terra, depende não só, da sua granulometria, mas também da interação entre a água e o ar que rodeiam as partículas, condicionando a forma de agregação das mesmas. As relações entre a granulometria da terra e o teor de humidade criam estruturas, que apresentam maior ou menor estabilidade.

Na estrutura de terra, os elementos grossos, como a gravilha ou os seixos, são responsáveis pela resistência mecânica da terra em técnicas como a taipa. Contrariamente ao adobe, como dizia Vitrúvio, os elementos grossos podem ser contraproducentes, já os finos, como a areia e a argila, são responsáveis pela coesão e plasticidade. As argilas mais utilizadas na construção, a nível microscópico, apresentam-se na forma de lamelas (fig.13), não tendo nenhuma orientação preferencial, ficando próximas entre si, em orientações paralelas, geralmente na horizontal e mais afastadas entre si.

A elevada superfície específica e a mineralogia das partículas de argila permitem reter moléculas de água, que funciona como lubrificante, facilitando o deslizamento de umas partículas sobre as outras, sempre que seja aplicada uma tensão superficial, resultando na plasticidade da argila40.

A terra argilosa é conhecida como sendo porosa, aumentado de volume na presença de água. No entanto, a argila é também muito coesiva com outras partículas da terra e, facilmente trabalhável na presença de água. “Para a construção com terra no geral, Mike (2009) indica usar solos na faixa de 5-30% de

40 SILVA, Miguel Francisco Costa Granja Da – Blocos de terra compactada com e sem materiais cimentícios. Lisboa, 2015. Dissertação de Mestrado, p.10

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argila.”41 “De forma a ser usada em construção a terra usada tem de conter um mínimo

de 5% de argila. Apesar disso, o seu poder de coesão é tão forte que, de um modo geral, não é necessário mais do que 20%.”42

Assim como o cimento é considerado um ligante, por ter a capacidade de se agregar e colar, quando se trata de terra é a argila que funciona como o elemento aglutinador dos vários elementos.

A estrutura molecular da argila varia consoante a sua “história”, isto é, “As argilas resultam da desagregação de rochas ricas em silicatos (como o granito e o basalto) e de tamanho reduzido; estas partículas podem permanecer no local de origem constituindo as argilas mais puras (mais grossas, claras e pouco plásticas) ou serem arrastadas pelo vento e cursos de água, onde se mesclam com outros elementos químicos, dando origem a argilas com estrutura química e física diversa (mais finas, plásticas mas impuras).”43

Geralmente, constituída por partícula de diâmetro inferior a 0.002mm, a argila é formada principalmente por argilo-minerais: silício, alumínio, ferro, magnésio, potássio e sódio.

Relativamente à área da Arquitetura, é essencial a terra ser retirada, normalmente, a profundidades superiores a 30-50cm (abaixo da camada vegetal do solo) para evitar impurezas, húmus, raízes, e materiais orgânicos que possam afetar a resistência da construção. É ainda importante retirar as pedras de maiores dimensões por forma a obter uma terra mais homogeneizada. A profundidades superiores a 30-50cm a terra tem ainda uma característica importante para a coesão da mesma, isto é, uma maior quantidade de água.

Na construção com terra argilosa é necessário ter em atenção a percentagem de argila presente na terra. Se a argila se encontrar presente em baixa percentagem, a aderência e agregação das partículas pode ser diminuta. Por outro lado, se a argila se encontrar presente em elevada percentagem, durante o processo de secagem, pode ocorrer o aparecimento de fendas que

41 FERRAZ, Giovanna- Construir e desconstruir preconceitos, limitações, potencialidades da terra como material construtivo. São Paulo, 2016, p.23

42 DUARTE, Susana Reis – Construir com a terra, Uma Proposta de Intervenção no Bairro do Barruncho,

Odivelas. Lisboa, 2013. Dissertação/Projeto de Mestrado, p.14

43 PONTE, Maria Manuel Correia Costa da Ponte- Aquitetura de Terra: o desenho para a durabilidade das construções. Coimbra, 2012, Dissertação de Mestrado em Arquitetura, p.33

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pioram a qualidade da construção ao longo do tempo. Assim, é necessário existir um equilíbrio de conjugação de vários elementos existentes na terra para que a mistura da terra seja a mais adequada para a escultura. Como por exemplo, as argilas brancas, chamadas de caulinites, presentes no fabrico de caulino44, que

não têm a mesma capacidade de agregação, como as argilas mais vermelhas, mais castanhas ou mais pretas. Por observação/experimentação as terras argilosas mais castanhas e/ou pretas, têm-se revelado mais plásticas, sendo mais interessantes para a construção.

Já na área da Escultura, a construção com argila não necessita de tanto rigor na sua constituição como é desejado na Arquitetura. O aparecimento de húmus, raízes ou pedras de diferentes dimensões e formas irregulares durante ou após o manuseamento desta matéria confere-lhe o fator de maior interesse nesta área, o da imprevisibilidade e surpresa, que concede riqueza estética a nível escultórico.

44 Substância argilosa, refratária, friável, de cor branca, usada no fabrico de porcelana e de papel. [Consult.

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36 2.3.2 Siltes

Siltes45 são grãos de origem mineral, compostas por micro teias, vistas ao

microscópio, que tal como a argila ajudam à maior coesão da terra, conferindo-lhe maior densidade. Quando estão em estado seco, não apresentam qualquer coesão, mas em contacto com a água, alteram o volume, agregando-se à água e às partículas de argila existentes na terra. A dimensão das suas partículas, e a sua origem influenciam o comportamento da terra, conferindo-lhe características mais argilosas ou siltosa. Geralmente, variam entre os 0.002 a 0.06mm de diâmetro. Se, a terra contiver uma menor quantidade de siltes, e em menores dimensões é considerada uma terra argilosa. Se, contiver uma maior quantidade de siltes, e de dimensões diversas, bem como areia na sua composição, dizemos que é terra arenosa ou siltosa.

2.3.3 Areia

A areia, podendo também ser denominada silicato, é constituída na sua maioria por quartzo46, mas dependendo da composição da rocha da qual é

originária, pode agregar outros minerais como feldspato47 e mica48. De maneira

geral apresenta tonalidade cinza-clara e granulação média a grosseira, contudo, dada a grande variedade de minerais que a podem constituir, estas podem ter

45 “Quem trabalha com estes materiais costuma referir que a sua presença é facilmente detetável pela

sensação semelhante ao pó de talco que deixa nas mãos.” - DUARTE, Susana Reis – Construir com a

terra, Uma Proposta de Intervenção no Bairro do Barruncho, Odivelas. Lisboa, 2013. Dissertação/Projeto

de Mestrado, p.14

46 É o mineral mais abundante existente na Terra, o quartzo é um mineral de composição química SiO2

(sílica), é um composto químico quase puro e tem propriedades constantes. Estando presente em todos os tipos de formações rochosas do planeta, com alto grau de dureza, na escala de Mohs de 7, é o mais importante dos silicatos, por ter alta estabilidade química. Existe uma grande variedade de formas, bem como cores, por conter diversas impurezas. quartzo in Artigos de apoio Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2019. [Consult. 10 setembro.2019] Disponível na WWW: <URL: https://www.infopedia.pt/apoio/artigos/$quartzo>

47 Os feldspatos constituem um dos grupos mais importantes dos minerais, pois são os minerais de maior

importância na quase totalidade das rochas magmáticas. A nível químico, são constituídos por alumínios silicatos com potássio, sódio e cálcio.feldspato in Artigos de apoio Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2019. [Consult.10 de setembro 2019]. Disponível na WWW: <URL: https://www.infopedia.pt/apoio/artigos/$feldspato>

48 As micas são compostas por associações de cadeias duplas que levam à constituição duma folha-plano

infinitamente grande. Nas micas, os catiões e a água acomodam-se entre as camadas dos tetraedros ligados e apresentam uma clivagem muito fácil numa direção paralela às folhas e as pequenas lascas fendidas que são flexíveis e elásticas. As lascas de mica são usadas como isoladores elétricos. mica in Artigos de apoio Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2019. [Consult. 10 setembro 2019] Disponível na WWW: <URL: https://www.infopedia.pt/apoio/artigos/$mica>

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cores diferentes. Entre 0.06 a 2mm de diâmetro, quando humedecida até grãos finos, de 0.2mm, já possuem algum poder de coesão. Para além de terem um elevado grau de fricção também têm uma resistência interna muito elevada49.

Dadas as diferentes granulometrias da areia, esta pode ser considerada um elemento “preenchedor” na terra. As areias mais finas e intermédias, assim como as partículas de argila, preenchem os espaços vazios entre os grãos de maior dimensão, eliminam os poros, aumentam a coesão e tornam a terra mais resistente à entrada de água (fig.12). É importante ressalvar que “(…) diferentes areias têm diferentes níveis de absorção, sendo que quanto maior essa absorção, maior será a sua ligação à argila.”50Assim, a areia funciona como estrutura que oferece

resistência à compressão e estabilidade da terra, diminuindo a retração e formação de fissuras.

Fig. 12 Integração dos constituintes da terra de diferentes granulometrias no preenchimento dos vazios51

49 SILVA, Miguel Francisco Costa Granja Da – Blocos de terra compactada com e sem materiais cimentícios. Lisboa, 2015. Dissertação de Mestrado, p. 9

50 Ibid, p. 18 51 Idem, id Cascalho (2-20mm) Areia (0.06-2mm) Silte (0.002-0.06mm) Argila (<0.002mm) 20% - 30% 30% - 45% 12% - 21% 8% - 14%

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