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Palavras-Chave: audiência de custódia; flagrante; prisão; controle.

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Academic year: 2021

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POR QUE FALAR EM AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA?

Laiana Sant’Ana Ribeiro1 laianasantana@live.com

RESUMO

O presente trabalho busca trazer a lume a audiência de custódia, procedimento há muito discutido no processo penal brasileiro, mas sem o fôlego merecido. No entanto, com o advento do Projeto de Lei do Senado número 554/2011, o qual objetiva implementar a audiência de custódia em âmbito nacional, o debate ganhou força e acordou amplo interesse na ideia, que andava adormecida. Além de apresentar o instituto, dando a ele embasamento legal e significação teórica, a pesquisa se debruça sobre suas finalidades, evidenciando que seu caráter garantista não é um fim em si mesmo. A audiência de custódia tem grande potencial para devolver à prisão cautelar o caráter de ultima ratio, esquecido no Brasil, ao ajustar o pós-flagrante ao modelo constitucional e convencional de processo – ainda que se trate de momento pré processual. Ademais, é importante política pública capaz de reforçar a condição de sujeito de direitos da pessoa presa, garantindo-lhe um franco debate sobre sua liberdade e o respeito às suas garantias fundamentais diante da autoridade efetivamente competente. Cientes disso, executivo, legislativo e, principalmente, judiciário estão unindo esforços para implementá-la. Tanto que hoje, no país, a audiência de custódia é uma realidade.

Palavras-Chave: audiência de custódia; flagrante; prisão; controle.

Grupo de Trabalho 3: Políticas Públicas e Direitos Humanos

1 INTRODUÇÃO

A Constituição da República de 1988, por ocupar o mais alto status normativo do ordenamento jurídico brasileiro, prevê normas e princípios que devem permear toda interpretação do Direito nacional, não podendo ser afastada ao argumento de se investigar e punir com mais severidade.

1Pós-graduanda em Direito Constitucional pela Universidade Cândido Mendes. Graduada em Direito pela Universidade Federal de Ouro Preto. Advogada.

Anais do XIV Congresso Internacional de Direitos Humanos. Disponível em http://cidh.sites.ufms.br/mais-sobre-nos/anais/

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2 Em 1992, o Brasil passou a ser signatário da Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), mesmo ano em que aderiu ao Pacto Interamericano de Direitos Civis e Políticos. Ambos foram recepcionados pela Constituição e submetidos ao controle de convencionalidade do Supremo Tribunal Federal, ocasião em que receberam o status de norma supralegal, ou seja, abaixo da Constituição e acima de todas as demais leis.

Sob a égide constitucional, é legítima a adoção de contraditório prévio à decretação de prisão preventiva ou medidas cautelares diversas da prisão. Por sua vez, os referidos Pactos determinam que toda pessoa presa em flagrante delito deva ser encaminhada, sem demora, à presença de autoridade competente, para que essa exerça o controle judicial sobre a prisão.

A partir de tais fundamentos, chegou-se à audiência de custódia, procedimento dotado de oralidade, celeridade, no qual detido e julgador se encontram em prazo razoável depois da prisão, com espaço para o exercício do contraditório pelas partes (Ministério Público e defesa) acerca do contexto do flagrante e suas consequências sobre a liberdade do flagranteado – liberdade provisória, medidas cautelares pessoais ou prisão preventiva.

Não obstante, pouco se discutia acerca da audiência de custódia no Brasil. O que impulsionou a retomada do debate sobre o assunto foi o Projeto de Lei do Senado número 554/2011, objetivando implementar o procedimento em âmbito nacional.

E, dando a ele mais força, o Conselho Nacional de Justiça, o Ministério da Justiça e o Instituto de Defesa do Direito de Defesa se aliaram e celebraram, em 2015, o Termo de Cooperação Técnica com o mesmo fim. Por esse acordo, tais órgãos unirão esforços com os estados que aderirem ao Termo para implantar e viabilizar a audiência de custódia em todo o país, dando suporte inclusive estrutural. O resultado disso é que a audiência de custódia hoje em dia já é aplicada em todos os estados da federação.

2 OBJETIVOS

O objetivo deste trabalho é demonstrar o valor da audiência de custódia e sua conotação enquanto medida conformadora do procedimento de flagrante ao processo penal constitucional, tanto no aspecto procedimental – o rito do pós-flagrante em si –, quanto no controle das prisões cautelares no Brasil, excessivamente utilizadas, embora devessem ser de ultima ratio.

Anais do XIV Congresso Internacional de Direitos Humanos. Disponível em http://cidh.sites.ufms.br/mais-sobre-nos/anais/

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3 METODOLOGIA

Para alcançar o objetivo proposto, foram utilizados métodos de procedimento monográfico e de pesquisa bibliográfica indireta.

4 RESULTADOS

Ao se estudar o porquê de a audiência de custódia ser considerada de tamanha importância e de urgente implementação, ganharam destaque suas finalidades.

O que se descobriu com a pesquisa é, primeiramente, a necessidade de se adequar o rito do flagrante no Brasil aos Tratados Internacionais de Direitos Humanos dos quais o país é signatário, incorporados ao nosso sistema normativo há mais de vinte anos. Esses Tratados têm força vinculante reconhecida tanto pela Constituição, quanto pelo Supremo Tribunal Federal, não devendo sua observância tratar-se de mera expectativa, mas sim, de um dever do Estado. A decorrência lógica de uma norma é sua aplicação.

A segunda finalidade da audiência de custódia é o controle judicial das prisões em flagrante. De acordo com o ordenamento jurídico brasileiro, o delegado de polícia é autoridade administrativa, e não judicial. Os poderes a ele conferidos são limitados, cabendo ao juiz homologar o flagrante e decidir sobre a situação do detido – se terá sua prisão relaxada, se será mantido preso preventivamente ou qual outra medida lhe será imposta. O delegado não pode impor sanções provisórias, mas sim, pedir ao juiz que decida nesse sentido. Portanto, é importante o contato entre julgado e julgador – autoridade efetivamente competente para analisar seu caso –, ao invés do controle frio do flagrante pelo traslado de papéis, que não raro deixam de narrar situações arbitrárias capazes de influenciar na decisão do magistrado.

O controle externo da atividade policial é outra finalidade do procedimento, cuja relevância vai além da teoria; consiste em importante meio para coibir a violência policial no momento da abordagem. Situações extremadas, como de desaparecimento forçado, poderão ser coibidas e marcas de agressão poderão ser vistas não só pelo juiz, como também pelo promotor de justiça do caso e pelo defensor – afinal, em até 24 horas o flagranteado deve ser levado à audiência. A apresentação do preso ao delegado de polícia para a lavratura do Auto de Prisão em Flagrante Delito não é suficiente, pois este é uma autoridade na própria polícia, então não há controle externo da atividade policial, não há a mínima imparcialidade. Anais do XIV Congresso Internacional de Direitos Humanos. Disponível em http://cidh.sites.ufms.br/mais-sobre-nos/anais/

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4 Por fim, a audiência de custódia se insurge como mais uma forma de se tentar enfrentar a cultura do encarceramento do judiciário brasileiro. Segundo dados do CNJ, nos últimos vinte anos enquanto a população do Brasil cresceu 36%, a de presos cresceu mais de 400%, superando o alarmante número de 700 mil presos, dos quais 41% estão em prisão provisória (mais de 300 mil pessoas). Apesar de o acautelamento ser tido no processo penal brasileiro como uma medida excepcional, especialmente se antes da sentença penal condenatória, ele vem sendo aplicado quase como regra. O quadro real do sistema carcerário brasileiro destoa daquele previsto pelo legislador, que, em variadas reformas, tentou reduzir a quantidade de prisões preventivas por vias alternativas. Logo, a implantação de mais um filtro para o aprisionamento em massa é medida urgente, embora encontre o mesmo entrave de sempre: “a resistência e a cultura conservadora dos atores que integram o sistema de justiça brasileiro”2.

5 CONCLUSÃO

O que restou concluído do estudo é que a audiência de custódia é o procedimento adequado para ajustar o pós-flagrante ao modelo constitucional de processo, ainda que se trate de fase pré-processual.

Mesmo que o Código de Processo Penal tenha sofrido algumas reformas, a cultura encarceradora persiste no país, sendo mantida a dificuldade em se enxergar o preso como sujeito de direitos. Os mecanismos até agora implantados continuam promovendo o controle frio do flagrante, sem que juiz e flagranteado tenham contado pessoal para, só então, se decidir sobre a custódia do detido.

A audiência de custódia tem grande potencial para reverter esse quadro, ao possibilitar um controle constitucional dos flagrantes, propiciando o franco debate sobe a liberdade do agente e, ainda, promovendo o controle externo da atividade policial.

A avaliação judicial da prisão em flagrante é imprescindível e representa a efetivação de comandos normativos – sejam expressos nos Tratados Internacionais, seja na hermenêutica constitucional.

2Relatório sobre o uso da prisão preventiva nas Américas – Introdução e Recomendações. EUA, 2014.

Anais do XIV Congresso Internacional de Direitos Humanos. Disponível em http://cidh.sites.ufms.br/mais-sobre-nos/anais/

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Código de Processo Penal. Decreto-Lei nº 3.689 de 3 de outubro de 1941. Brasília, Distrito Federal, 1969. Vade Mecum Penal e Processo Penal. Coordenação Rogério Greco. Editora Impetus, Niterói: 2014.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF, Senado Federal, 1988. Vade Mecum Penal e Processo Penal. Coordenação Rogério Greco. Editora Impetus, Niterói: 2014.

BRASIL. PLS – Projeto de Lei do Senado n° 554 de 2011. Disponível em <http://www.senado.gov.br/atividade/materia/detalhes.asp?p_cod_mate=102115>. Acesso em jul/2017.

BRASÍLIA. Novo Diagnóstico de Pessoas Presas no Brasil. Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário e do Sistema de Execução de Medidas Socioeducativas – DMF. Conselho Nacional de Justiça. Brasília, Distrito Federal 06/2014. Disponível em <http://www.cnj.jus.br/images/imprensa/pessoas_presas_no_brasil_final.pdf>. Acesso em jul/2017. COSTA RICA. Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto San José de Costa Rica). São José da Costa Rica, 22/11/1969, ratificada pelo Brasil em 25/09/1992. Disponível em <http://pge.sp.gov.br/centrodeestudos/bibliotecavirtual/instrumentos/sanjose.htm>. Acesso em jul/2017.

EUA. Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos. Nova Iorque, 19/11/1966, ratificado pelo Brasil em 24/01/1992. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/D0592.htm>. Acesso em jul/2017.

EUA. Relatório sobre o uso da prisão preventiva nas Américas – Introdução e Recomendações. Comissão Interamericana de Direitos Humanos e Organização dos Estados Americanos. Washington, 2014. Disponível em <https://www.oas.org/pt/cidh/ppl/pdfs/Relatorio-PP-2013-pt.pdf>. Acesso em jul/2017. Anais do XIV Congresso Internacional de Direitos Humanos. Disponível em http://cidh.sites.ufms.br/mais-sobre-nos/anais/

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