• Nenhum resultado encontrado

O Serviço Social no processo de elaboração do Programa de Combate a Evasão Escolar (PCEE): A sistematização de uma experiência de estágio no Município de Macaé

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "O Serviço Social no processo de elaboração do Programa de Combate a Evasão Escolar (PCEE): A sistematização de uma experiência de estágio no Município de Macaé"

Copied!
83
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE HUMANIDADES E SAÚDE

DEPARTAMENTO INTERDISCIPLINAR DE RIO DAS OSTRAS CURSO SERVIÇO SOCIAL

PATRÍCIA DA SILVA VELOSO

O Serviço Social no processo de elaboração do Programa de Combate a Evasão Escolar (PCEE): A sistematização de uma experiência de estágio no Município de Macaé.

Rio das Ostras 2013

(2)

PATRÍCIA DA SILVA VELOSO

O SERVIÇO SOCIAL NO PROCESSO DE ELABORAÇÃO DO PROGRAMA DE COMBATE A EVASÃO ESCOLAR (PCEE): A SISTEMATIZAÇÃO DE UMA

EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO NO MUNICÍPIO DE MACAÉ.

Trabalho de Conclusão de Curso em Serviço Social, a ser apresentado á banca examinadora composta por Clarice da Costa Carvalho e Bruno Ferreira Teixeira, na Universidade Federal Fluminense no campus de Rio das Ostras.

ORIENTADORA: Professora Ms. Lúcia Maria da Silva Soares

Rio das Ostras 2013

(3)

PATRICIA DA SILVA VELOSO

O Serviço Social no processo de elaboração do Programa de Combate a Evasão Escolar (PCEE): A sistematização de uma experiência de estágio no Município de Macaé.

Trabalho de Conclusão de Curso em Serviço Social, a ser apresentado á banca examinadora composta por Clarice da Costa Carvalho e Bruno Ferreira Teixeira, na Universidade Federal Fluminense no campus de Rio das Ostras.

Data da Defesa: ___________________________ Resultado: _______________________________

Banca Examinadora:

___________________________________ Professora: Ms. Lúcia Maria da Silva Soares

UFF - Rio das Ostras

___________________________________ Professora: Ms. Clarice da Costa Carvalho

UFF - Rio das Ostras

___________________________________ Professor: Ms. Bruno Ferreira Teixeira

UFF - Rio das Ostras

Rio das Ostras 2013

(4)

À minha mãe, uma mulher humilde e simples que nos ensinou que o aprendizado se faz em todo o tempo e em qualquer lugar.

(5)

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus pela minha vida;

Aos meus pais Nilton e Archiminia por moldarem a minha personalidade; As minhas irmãs, Joelma e Renata pelo apoio e incentivo;

Aos amigos que me fizeram acreditar que podia aceitar o desafio de cursar uma universidade pública;

A classe trabalhadora que sustenta instituições públicas;

Aos colegas de trabalho pela compreensão quando das minhas ausências; Aos professores pelo aprendizado;

A minha supervisora de estágio Vivianne da Motta Gil Rocha pela oportunidade do estágio;

E as minhas colegas de curso que durante a faculdade estiveram junto a mim nos grupos de estudos, seminários, trabalhos em grupo, no estágio e com certeza estarão na vida, Adriana Tavares, Daiana Ribeiro e Cyntia Figueiredo.

(6)

RESUMO

O trabalho é resultado das reflexões obtidas com a experiência vivenciada no decorrer do estágio supervisionado a partir de agosto de 2010 quando da proposição de um programa que tinha como objetivo central minimizar o quadro da evasão escolar no Município de Macaé, denominado Programa de Combate a Evasão Escolar (PCEE) “Estudar é Legal”. A monografia é baseada em análises das legislações que cercam o universo da criança e do adolescente, documentos eletrônicos que revelam o contexto da evasão no país, pesquisa bibliográfica de teóricos que debatem temas como a gestão de programas em políticas públicas, a intersetorialidade, a investigação e a sistematização em Serviço Social. Conta ainda com pesquisa documental no que se refere ao panorama macaense frente à temática da evasão, sobretudo através dos próprios documentos gerados quando da construção do PCEE e análise das entrevistas realizadas com a gerente do Plano Diretor e também à assistente social que foi a coordenadora do programa e supervisora do estágio. A relevância deste trabalho está no registro sistematizado da experiência, notadamente reivindicado pela Categoria de assistentes sociais, que servirá como fonte de pesquisa para os anais da profissão.

(7)

SUMÁRIO

Introdução ...8

1- A Institucionalização da Lei de Diretrizes Básicas da Educação Brasileira e a evasão escolar – uma análise sobre o Art.12, inciso VIII: a Lei 10.287 de 2001 ...10

1.1- Um panorama sobre a evasão escolar no Brasil ...14

1.2- Macaé, um breve histórico sobre a “princesinha do Atlântico” e a sua relação com a problemática da infrequência escolar ...20

2- O Serviço Social e o processo de gestão de programas nas políticas setoriais ...27

2.1- O lugar da investigação no processo de construção de uma proposta interventiva ...30

2.2- A convicção do papel do assistente social na política de educação e a intersetorialidade como instrumento de parceria na execução de propostas ...33

2.3- A sistematização como realimentação da prática ...37

3- O Programa de Combate a Evasão Escolar (PCEE): um percurso de autonomia e comprometimento profissional ...41

3.1- Uma análise das entrevistas com as protagonistas do PCEE – a Gerente do Plano Diretor Miriam Reid e a Assistente Social Viviane da Motta Gil Rocha ...62

Considerações Finais ...72

Bibliografia ...75

(8)

INTRODUÇÃO

O objetivo central deste trabalho está no resgate de uma experiência vivenciada no campo de estágio supervisionado através da implantação de um programa de combate a evasão escolar, cuja iniciativa se deu pelo Plano Diretor da Cidade no período de agosto de 2010 até agosto de 2011. A partir de agosto de 2011 o programa foi absorvido pela Secretaria Municipal de Educação (SEMED) do Município de Macaé, onde permanecemos até o final de 2012. Esta experiência para o profissional do Serviço Social se revelou desafiadora! Na verdade, o campo de estágio e o próprio estágio nasceram simultaneamente, logo, os documentos institucionais foram gerados na medida em que a proposição tomava forma. Retratamos aqui uma experiência pioneira no Município de Macaé em que o protagonismo do Serviço Social embasado em seu projeto ético-político resultou numa intervenção cujo comprometimento e autonomia foram determinantes.

Desmistificar as questões que levaram ao processo da evasão escolar dos alunos do segmento fundamental no Município de Macaé se constituiu numa verdadeira inserção na realidade local, estabelecendo bases sólidas para que o Serviço Social junto a outros profissionais da educação propusesse medidas interventivas que objetivavam a erradicação e / ou a diminuição do quadro de alunos evadidos ou em risco de evasão escolar. A violência envolvendo jovens foi a grande propulsora da iniciativa sinalizando a necessidade de ações, e dentre elas, o estudo da evasão e suas justificativas. Porém, à luz das concepções histórico-sociais, compreendemos que a raiz causal das problemáticas societárias encontra-se no conflito entre capital e trabalho gerando desigualdades sociais agravadas pelos rearranjos diante das crises cíclicas do capital, sendo também a educação objeto de suas interferências. Desta forma, sabemos que não apenas a educação precisa ser alvo de programas que objetivem a diminuição do quadro da violência, mas foi esta a política pública em que fomos inseridas e que nos proporcionou o aprendizado que nos motivou a construção deste Trabalho de Conclusão de Curso.

O capítulo um deste trabalho situa-se numa análise da própria legislação vigente que se constitui na rede de proteção da criança e do adolescente, sobretudo através da lei 10.287 de 2001, que modifica o texto da Lei de Diretrizes Básicas da Educação, lei esta que dá parecer quanto à obrigatoriedade de informação ao Conselho Tutelar, Juiz e Ministério Público, dos nomes de pais e responsáveis objetivando a garantia da permanência do aluno na escola. Para uma macro contextualização nesta monografia, buscamos compreender o quadro

(9)

da evasão escolar no Brasil articulando este panorama com as interferências dos organismos internacionais que orientam o direcionamento da política de educação internamente passando ao contexto local, suas problemáticas e sua relação com a questão da infrequência escolar.

O capítulo dois é fundamentado no direcionamento ético-político e teórico-metodológico do Serviço Social para a construção deste trabalho, buscamos inspiração teórica na unidade teoria e prática e nas reflexões sobre o processo de gestão de programas em políticas públicas, reafirmamos o lugar da investigação no processo de reconhecimento da realidade, comprovamos o papel decisório da intersetorialidade nas proposições e destacamos a significância da sistematização em Serviço Social como parte reflexiva do próprio trabalho numa realimentação da prática.

No capítulo três descrevemos a experiência objetivamente, cujas páginas finais foram reservadas para uma análise das entrevistas concedidas pela Gerente do Plano Diretor Miriam Reid e também da assistente social Vivianne da Motta Gil Rocha, coordenadora do programa e supervisora do campo do estágio.

Assim sendo, retratamos objetivamente o processo de construção do Programa de Combate a Evasão Escolar (PCEE) “Estudar é Legal”, seus limites e possibilidades num registro reflexivo, cuja intencionalidade está na configuração de um acervo documental do caminho percorrido para a devida sistematização de uma experiência em um tempo precioso vivenciado no estágio supervisionado. Por ser esta uma experiência do Serviço Social na Política de Educação, o registro se estabelece numa ação que exprime os anseios da categoria profissional que reivindica mais produção de conhecimento nesta área.

Diante disso, o desafio desta monografia está na busca da historicidade do PCEE e na contribuição que a mesma poderá exercer em intervenções futuras que através dos erros e acertos de hoje, à luz do Projeto Ético-Político e das concepções teórico-metodológicas e técnico-operativas, poderão instrumentalizar profissionais em suas proposições interventivas.

(10)

1- A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA LEI DE DIRETRIZES BÁSICAS DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA E A EVASÃO ESCOLAR – UMA ANÁLISE SOBRE O ART.12, INCISO VIII: A LEI 10.287 DE 2001

Considerar o processo de institucionalização da Lei de Diretrizes Básicas da Educação Brasileira (LDB), a Lei 9.394 de 1996, permite compreender o cenário atual que configura a Educação pública num contexto macroscópico. Embora a lei tenha sido constituída numa sociedade dita democrática, desde sua gênese, de fato, sempre esteve comprometida com os interesses burgueses, visto que o Congresso Brasileiro mantém suas estratégias para a consolidação da política de educação de forma fragmentada através de suas emendas e decretos pontuais que possuem objetivos definidos de comprometimento com o capital. Para uma análise sobre a evasão escolar, esta compreensão nos fornece elementos que revelam que o afastamento de crianças e adolescentes do convívio escolar é uma realidade que reúne múltiplas motivações das quais, definitivamente, advém do modo de organização societária baseada na exploração de uma classe sobre outra, provocando o aparecimento das expressões da “questão social1”.

Conforme Saviani (2008), a compreensão de que o trabalho é fundante do ser social e elemento humanizador no trato com a natureza é transformada pelo capital através da exploração do homem pelo homem. A educação idealizada pela burguesia reforça a divisão do mundo do trabalho em dois grupos: o manual e o intelectual. Esta divisão define de modo enfático a quem compete pensar os novos rumos da humanidade e a quem definitivamente deva se limitar a manusear máquinas e utensílios que viabilize a sustentabilidade deste tipo de sociedade. A questão posta é a limitação relacionada a uma parcela da população que têm seus direitos cerceados devido a fatores econômicos, políticos, culturais e sociais que acabam por desvincular a intelectualidade da prática laboral.

Pensar na LDB implica retroceder para a Constituição de 1988 que indiscutivelmente estabelece um marco para as conquistas da massa trabalhadora. O capítulo III desta legislação que se destina à Educação, à Cultura e ao Desporto, em seu art. 205 lemos: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo

1 A “questão social” compreende múltiplas expressões que fundamentalizam o trabalho do assistente social nesta sociedade. Conforme Netto (2008) tem sua raiz na luta de classes entre Capital e Trabalho se estabelecendo pelo conjunto dos problemas econômicos, políticos, sociais e culturais que se perpetuam pela exploração do Capital ao Trabalho.

(11)

para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.” É interessante observar a posição na letra do texto quanto ao lugar do Estado e da família como co-responsáveis pela educação, assim como o pleno desenvolvimento da pessoa antecipa a qualificação para o mundo do trabalho. O texto da Constituição reflete o momento de ascensão dos movimentos sociais, mas as leis que regulamentam os direitos constitucionais foram estabelecidas sob a perspectiva neoliberal que encurta e ou anula direitos sociais.

A LDB não se distancia desta realidade regulamentando os processos educacionais em território nacional, logo, no campo da idealização corresponde às necessidades ditas por quem a determina, mas na realidade ela não responde às demandas dos cidadãos que precisam de uma educação pública e de qualidade. O modelo hegemônico neoliberal apresentado culturalmente como o possível para o desenvolvimento da humanidade ganha respeitabilidade como prática social, ou seja, hoje há a responsabilização individual por questões que são geradas de forma coletiva. É nesta dimensão que o texto da LDB inverte o posicionamento do Estado em relação à família no que diz respeito aos princípios e fins da educação nacional, incutindo primeiramente à família a responsabilização pela tão necessária educação para o mundo do trabalho.

A inspiração nos princípios da liberdade e no ideal da solidariedade humana também reforça o ideário neoliberal que em tese dispõem a todos em nível de igualdade perante a lei, porém é sabido que a lei não é igual para todos. Haja vista, o inciso I do art. 3, que estabelece igualdade de condições de acesso e permanência na escola, o que na realidade não ocorre. Este mesmo artigo descreve vários princípios que de fato contribuem para uma educação que leve em consideração o indivíduo tais como a liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; pluralismo de idéias e concepções pedagógicas; respeito a liberdade e apreço a tolerância; valorização do profissional de educação, valorização de experiência extra-escolar e outros, que distantes do cotidiano educacional fazem com que estas práticas ainda permanecem restritas aos textos da lei.

A questão do direito e da obrigatoriedade na educação perpassam a universalidade e a gratuidade a que Política de Educação descreve. O art. 4 da LDB registra que para além da obrigatoriedade e da gratuidade educacional está o fornecimento de condições por parte do Estado de insumos que permitam ao educando a permanência na escola. Nestes termos, o art.

(12)

5 esclarece que o acesso ao ensino fundamental é um direito subjetivo2 cabendo ao cidadão individualmente ou no coletivo a busca pela efetivação do mesmo.

O art. 6 limita em 6 anos a idade mínima para o ingresso ao ensino fundamental e o art. 7 responde diretamente aos interesses privados no que se refere a inserção da iniciativa privada sob “domínio” do Poder Público. Os artigos. 9, 10 e 11 estabelecem os níveis de responsabilização de cada esfera do poder público para com a efetivação do plano de educação. À União compete a elaboração do Plano Nacional de Educação, o auxílio aos estados e municípios na função redistributiva e supletiva prestando assistência técnica e financeira. Ainda, consolida sistemas de avaliação dos vários níveis e mantém seu foco na educação superior. Ao Estado cabe-lhe atuar junto ao município formas de colaboração na efetivação do ensino fundamental, mas, sobretudo direcionar esforços no oferecimento do ensino médio. Para o município fica a competência de administrar, organizar e manter toda esta parcela de obrigatoriedade da educação em consonância com o estado e a União. A descentralização proposta pela LDB não se configura num modelo de gestão inquestionável visto que a União propõe a partilha, mas continua no comando da política sendo co-responsável com 18% de investimento do total de sua receita enquanto que para os estados e municípios este percentual sobe para 25%. Levando em consideração que a União prima pelo ensino superior resta aos estados e municípios a grande demanda de obrigatoriedade, sobretudo aos municípios que abarcam a educação infantil e ensino fundamental. Ou seja, a União que é responsável pela educação não obrigatória, o ensino superior, contribui em menor parcela aos estados e município que são os maiores contribuintes e responsáveis diretos pelo maior quantitativo de alunos, aqueles que respondem ao perfil da obrigatoriedade, a educação básica que contempla a educação infantil, ensino fundamental e médio.

Para o desenvolvimento desta proposta de Trabalho de Conclusão de Curso, o art. 12 da LDB se constitui de fato o ponto máximo da discussão por tratar especificamente da questão legal de uma temática específica que abriga infinitas causas, a evasão escolar. Diz o art. 12, inciso VIII “notificar ao Conselho Tutelar do município, ao Juiz competente da Comarca e ao respectivo representante do Ministério Público a relação dos alunos que apresentem quantidade de faltas acima de cinqüenta por cento do percentual permitido em lei.” Esta alteração do texto da LDB foi promulgada em 2001 através da Lei 10.287. Não por acaso traçamos até o momento os artigos que compõem a lei e também não menos importante

2 Direito subjetivo é um poder ou domínio da vontade do homem, juridicamente protegida. Fonte: <http://www.infoescola.com/direito/direito-subjetivo/>

(13)

são os que se seguem e que tratarão toda regulamentação específica para a sua complementação. Toda a lei merece foco, porém estes 12 primeiros artigos fornecem uma base estrutural para que todo o restante se estabeleça.

Partindo do princípio da obrigatoriedade e da gratuidade da educação, da garantia de subsídios ao educando tais como o transporte e material didático, porque a necessidade desta lei alterando o texto da LDB? Parece que quando a eficácia de uma regra não se sustenta há a necessidade de tantas outras regras que objetivem a realização da anterior. De fato, o emaranhado de leis mal informadas acaba por atrapalhar o acesso daqueles que necessitam da efetivação de seus direitos. Se todos os instrumentos legais de proteção à criança e ao adolescente fossem observados teríamos uma rede bastante sólida.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei 8.069 de 1990, outra lei que defende os direitos da criança e do adolescente, em seu art. 4 afirma: “É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.” No seu capítulo IV, art. 53 há o reforço ao direito a educação, a igualdade de condições de acesso e permanência, a gratuidade, a obrigatoriedade e o dever do Estado inclusive no fornecimento de suplementos para que o aluno consiga dar prosseguimento ao processo de ensino-aprendizagem.

Todo este arsenal não foi capaz de zerar o déficit histórico relacionado a efetivação dos direitos relacionados a criança e ao adolescente no Brasil, que data desde sua colonização através dos jesuítas e sua educação missionária através da imposição cultural. Mais tarde, a partir dos anos de 1960 foram os modelos de internatos com severas punições num sistema educacional institucional advindo da ditadura que militarizava os relacionamentos. Dos anos de 1980 até a atualidade, nossa realidade é de escolas que mais se parecem com depósitos de crianças do que propriamente dito um lugar para suscitar o desenvolvimento de capacidades humanas.

Se o ideal e o real se confundem neste cotidiano, para muito além do fluxograma da regra de comunicação das infrequências e ou da penalização de pais e responsáveis, há que se rever e se aprofundar nas temáticas e conflitos existentes no universo escolar e na sociedade que provocam a evasão. Sendo a defesa dos direitos da criança e do adolescente o alvo central desta discussão que no âmbito da prevenção a evasão escolar tem elementos que atravessam a

(14)

sua efetivação, necessariamente precisamos conhecer os múltiplos desencadeadores do atual cenário articulados com o modo de organização societária, ou seja, as leis, o poder público, o financiamento desta política pública, a escola, os pais e responsáveis.

1.1- UM PANORAMA SOBRE A EVASÃO ESCOLAR NO BRASIL

Ainda sob a perspectiva da obrigatoriedade e da gratuidade escolar, conquistas dos movimentos sociais, sobretudo para o ensino fundamental, uma boa parcela da população que até então não adentrava os muros da escola, passa a freqüentá-la. A estrutura existente que atendia àqueles alunos filhos da classe média e alta brasileira recepcionou a nova realidade dos uniformes padronizados com o escudo do estado, kichutes e meias pretas que vestiam crianças que portavam material escolar também providenciado pelo estado, estes eram os filhos da classe trabalhadora. O resultado foi o inchaço do quantitativo de crianças nas mesmas estruturas anteriores provocando o que podemos chamar de uma explosão demográfica dentro dos prédios escolares.

É sabido que para se ter um adequado desenvolvimento na vida escolar o número de crianças dentro de uma sala de aula é fator preponderante. Acrescente que estas crianças não receberam desde a primeira infância estímulos pedagógicos ao seu próprio desenvolvimento tais como livros, quebra-cabeças, brinquedos em formas geométricas, quem sabe uma ou outra recebeu uma história contada por seu pai ou mãe. São os filhos de uma classe subalternizada, que atendendo a uma determinação estatal envia suas crianças à escola para não sofrerem “penalidades”.

Ainda neste cenário, a classe docente que de forma muito traumática deixa de ser a “tia” querida e passa ser a receptora imediata nas escolas das situações mais reveladoras das mazelas deste modelo de sociedade tais como a violência, a miséria dentro de casa tanto econômica quanto espiritual, as drogas, o trabalho infantil, o déficit de atenção ou a hiperatividade e tantas outras questões que se apresentaram a estas profissionais que como toda a classe trabalhadora, foi perdendo o estímulo assim como quando sofriam perdas salariais. Todo este sucateamento da escola pública foi ao longo dos anos potencializado e a forma encontrada para frear os sintomas de país “subdesenvolvido” foram mais regras e leis punitivas e a abertura mercantil daquilo que se constituía um direito social adquirido, o surgimento de escolas privadas.

(15)

Destaque importante nesta conjuntura está justamente à superação de país periférico e a conquista do status de país central. As interferências internacionais sempre voltadas ao desenvolvimento do capital orquestraram várias cartas e documentos dos quais o Brasil se tornou signatário. Estes tratados internacionais se desdobram em normas e regras que são internalizadas como recomendações que serão perseguidas para o desenvolvimento. Suas constituições se utilizam de temas humanitários em defesa de interesses comuns, porém os objetivos são de esfera superior deixando em última instância a proteção ao ser humano. Para começar a Declaração Universal dos Direitos Humanos, declarada em Paris no ano de 1948 pela Assembléia Geral das Nações Unidas, registra em seu art. 26 que “Toda pessoa tem direito a educação. A educação deve ser gratuita, pelo menos no que se refere à instrução elementar e fundamental. A instrução elementar será obrigatória”. Em 1959, também por Assembléia Geral das Nações Unidas é firmada a Declaração dos Direitos da Criança que igualmente garante o direito a educação gratuita nas etapas elementares.

As regras gerais para o acesso ao Fundo Monetário Internacional (FMI), criado em 1944 no pós 2º Guerra Mundial, que capitaliza os países para o desenvolvimento, tem no mínimo da escolaridade o patamar necessário para a implantação do seu objetivo, o desenvolvimento do capital, que agora precisa de uma massa minimamente instruída para atuar nas frentes de trabalho do mundo tecnológico e assim cooperar com a economia internacional. Como a educação é à base, outros organismos também se estruturam nela como principal viabilizadora para este mundo capitalista, dentre eles, podemos acrescentar a Organização das Nações Unidas (ONU), fundada em 1945 tendo objetivos declarados sobre o direito internacional, segurança internacional, desenvolvimento econômico, progresso social, direitos humanos e a tão sonhada paz mundial. Também a Organização Mundial para a Saúde (OMS) fundada em 1948 que para ter em suas campanhas sucesso precisa de uma população instruída para compreender, por exemplo, a importância da vacinação. Já a Organização Internacional para o Trabalho (OIT), um tratado datado de 1919 previa em seu corpo, defesas no campo humanitário de delação de condições injustas, difíceis e degradantes ao trabalhador. Este documento articula o campo político no que diz respeito à questão dos riscos e conflitos sociais que ameaçam a paz. Ponto primordial defendido pela OIT e base do capital é a

(16)

liberdade, ou seja, a eliminação do trabalho forçado e a valorização do trabalho como principal elemento de expansão do capital.3

Dois dos grandes organismos internacionais cujo foco está na criança e no adolescente é a Organização das Nações Unidas pela Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). O primeiro, fundado em 1945, prima pela paz e segurança do mundo através da educação, ciência, cultura e comunicação objetivando o fim do analfabetismo. O segundo, criado em 1946, é regido pela Convenção sobre os Direitos da Criança, cuja finalidade é a atuação junto aos governos e entidades não governamentais na defesa dos direitos da criança e do adolescente.

Segundo Rosemberg, (2002) a educação infantil passou a integrar a agenda das políticas de desenvolvimento econômico e social dos organismos vinculados a ONU para os países subdesenvolvidos no final da década de 1960 sob a ameaça de que a falta da educação para os países subdesenvolvidos implicaria num obstáculo ao desenvolvimento. Segundo a autora, a orientação era dar expansão a educação infantil e ensino fundamental sendo que o segundo era prioridade devido à característica educacional já que a educação infantil se direcionava as creches e escolas maternais que nasceram com perfil assistencialista para as mães pobres e trabalhadoras que não tinham onde deixar seus filhos. A orientação destes organismos era de que a educação infantil deveria se apoiar nos recursos da própria comunidade, assim se garantindo a redução dos investimentos públicos. Desta forma, o pré-primário era freqüentado pelas crianças de famílias abastadas o que garantia a elas maior desenvolvimento nos anos posteriores colocando-as em patamares, mais uma vez, de desigualdade em relação à criança que não tinha acesso aos mesmos programas de ensino e aprendizagem. Da década de 1960 até a educação contemporânea, as interferências internacionais se avolumaram e os investimentos na educação pública diminuíram seguindo orientações neoliberais. Porém, também os movimentos sociais conseguiram vitórias que incluía e priorizava a criança, como sujeito de direitos e, dentre eles, o direito à educação.

É fato que formas de avaliação padronizadas foram implantadas para medir a educação sugerida e se efetivaram como ferramentas de controle de qualidade, são os indicadores matemáticos que devem resumir em números, realidades totalmente adversas. Conforme o artigo de Paz (2010), após a década de 1990 os sistemas de avaliações foram

3 Todo o trecho tratado sobre os organismos internacionais e suas políticas de atuação foi extraído das aulas do Professor Ney Luiz Teixeira de Almeida no curso de sistematização realizado de novembro de 2011 a fevereiro de 2012 na FAFIMA em Macaé.

(17)

sedimentados, sobretudo a partir do governo de Fernando Henrique Cardoso e a promulgação da LDB em 1996. Em 2001 o Plano Nacional de Educação (PNE) aprovado em Congresso Nacional tem força de lei, mas não prioriza a questão da prestação de contas. Ele estabelece suas metas com o objetivo de melhorar a qualidade do ensino; reduzir as desigualdades regionais no tocante ao acesso e à permanência na escola; democratizar a gestão do ensino; e elevar o nível de escolaridade da população. Importante registrar que a partir de 2002, o governo Lula deu prosseguimento ao plano desenvolvimentista de uma educação centrada nos aspectos financeiros. Desde então, para dar continuidade e aprofundamento dos mecanismos de avaliação e controle da educação surgiram o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB) e o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), influenciados pelos paradigmas de avaliação educacional segundo intenções internacionais caracterizando grau de politicidade e a permeabilidade de questões externas na política de educação brasileira.

O governo Lula implantou o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) em 2007 que requereu de cada ministério desdobramentos de planos para o enquadramento a este programa. Neste sentido, o Ministério da Educação propõe o PDE cujo Decreto n°. 6.094/2007, institui o Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação, que segundo Paz, embora tenham convidado as empresas como representantes da população civil para pensar o plano elas acabaram por delineá-lo. É o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), criado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) também em 2007, que propõe a unificação do PDE e o Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação, baseando-se na “Provinha Brasil”, através dos indicadores de desempenho relatados pelo censo escolar tais como: evasão, aprovação, reprovação e no “Plano de Magistério” como suportes. Hoje, as escolas vivem uma corrida para o alcance da média estipulada como a ideal pelo indicador educacional IDEB que vai de 0 a 10 e o Brasil possui como meta até 2021 conseguir a média 6 para o ensino fundamental pois este patamar o fará equiparado aos países centrais. Conforme Saviani (2007), a lógica que impera na proposta do “Compromisso Todos pela Educação” se traduz numa espécie de “pedagogia de resultados” e “qualidade total” em que o governo se instrumentaliza com equipamentos de avaliação numa resposta ao processo de ajustes à demanda empresarial.

Saviani afirma que as políticas públicas lançadas que objetivam alavancar o Brasil no que diz respeito à educação possuem seus méritos. A avaliação tem sua importância para análise de qualquer projeto, a questão é considerar apenas números, como pressuposto para

(18)

diagnosticar algo tão complexo quanto o sistema educacional brasileiro. Conforme Revista Educação na reportagem “Por trás dos números” de agosto de 2011, o ranking entre escolas e a “bonificação” aos professores e escolas pelas melhores colocações, além de não serem claros parecem não solucionar problemas que se arrastam ao longo dos anos. Sobrepor a meritocracia em detrimento da universalização garantida constitucionalmente implica em anulação de direitos. Se ora a avaliação por si só eleva o índice, o índice desta mesma escola pode estar ocultando problemas quanto aos indicadores de desempenho ou vice-versa. O governo federal e a mídia parecem se preocupar muito mais com os números aparentemente “manipulados” do que com a realidade vivenciada no cotidiano das escolas e os seus processos de ensino-aprendizagem que deveriam para muito além do ensino da leitura e da escrita, garantir a qualidade do ensino e a permanência da criança no ambiente escolar numa busca pela formação da cidadania. Cidadania esta, que conforme princípios fundamentais do Código de Ética Profissional do Serviço Social defende que seja ampliada e consolidada no sentido de ser ela, a cidadana, tarefa primordial de toda sociedade, com vistas à garantia dos direitos civis sociais e políticos da classe trabalhadora.

Observar todo este processo histórico sobre a Educação nos permite compreender dados estatísticos que retratam a situação da evasão escolar em território nacional. Segundo o Censo Escolar de 20114 mais de um milhão de jovens estão “presos” no ensino fundamental devido reprovação ou outros fatores que os impedem de ingressar no ensino médio. Este número foi revelado pelo Instituto de Geografia e Estatísticas (IBGE), que relatou a existência do quantitativo de 29.204.148 pessoas que compreende a faixa etária que contempla o ensino fundamental, e 30.358.640 estudantes registrados entre o 1º e o 9º ano nas escolas brasileiras. Aqui observamos a questão do indicador de desempenho desvendando um número expressivo quanto ao fluxo escolar que pode ter na reprovação e no abandono suas principais causas. O UNICEF estima que de cada 100 estudantes que ingressam no ensino fundamental, apenas 59 terminam a 8ª série e apenas 40 o ensino médio. Outra triste realidade5 relatada pelo IBGE dá conta de que no censo de 2010 foi estratificado que 49,25% dos jovens com 25 anos ou mais são categorizados como sem instrução e ensino fundamental incompleto, totalizando uma representação de 54,5 milhões de brasileiros. Diversos são os motivos que levaram estes jovens de 25 anos ou mais a evadirem elevando negativamente esta estatística.

4 Fonte: <http://educacao.uol.com.br/noticias/2012/04/18/mais-de-um-milhao-de-jovens-estao-presos-no-ensino-fundamental-mostra-censo-escolar-2011.htm> acesso em: 25/04/2012; 20:00

5 Fonte: <http://educacao.uol.com.br/noticias/2012/12/19/ibge-quase-metade-da-populacao-com-25-anos-ou-mais-nao-tem-o-fundamental-completo.htm > acesso em 16/03/13; 10:28

(19)

Comprovadamente a necessidade de auxílio no sustento da família foi o principal fator causador para o abandono escolar destes jovens e para minimizar este quadro, o PNE precisa mobilizar forças no sentido promover oportunidades a estes cidadãos.

O PNE é novamente hoje pauta de votação no Congresso Nacional. A primeira versão em 2001 propunha que 7% do produto Interno Bruto (PIB) deveria ser destinado a Educação num prazo de 10 anos através de um movimento contínuo e progressivo de todas as esferas federais, embora a aclamação popular dos movimentos organizados pedisse 10% para a Educação. Estimava-se uma estabilização assim que fosse erradicado o analfabetismo e a devida correção da distorção idade-série sendo aperfeiçoada a gestão. Este percentual acabou ficando em 6,1% em 2012 conforme declara o Blog do Planalto em 01/01/2013. Ou seja, em 20026 o percentual era de 4,8% o que implica um aumento de 1,3% ao longo de 10 anos. A versão 2011 – 2020 recomenda o mesmo percentual de 2001, 7% a ser atingido gradativamente. As mobilizações recomeçaram pelos 10% e em 28/05/2013 a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) aprovou a proposta dos 10% conforme noticia o portal “Todos pela Educação”. Esta proposta segue agora para as Comissões de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) e de Educação, Cultura e Esporte (CE) antes de ser votada em Plenário.

Paralelo a discussão sobre os 10% do PIB para a Educação, também se encontra em debate no Congresso Nacional a proposta7 de 100% de destinação dos “royalties” do petróleo para esta política setorial. Este projeto é de interesse do governo Dilma Rousseff que mobiliza suas bases para a aprovação do mesmo através de um projeto de lei incluso no PNE que conforme relatado acima também está em debate no Congresso. Este projeto tramita sob a forma de uma emenda aprovada pelo CAE. No que se refere especificamente à questão da evasão, o PNE com suas 20 metas a serem perseguidas e com os 100% dos “royalties” do petróleo investidos na Educação poderá representar o cumprimento da meta 2 que diz respeito a universalização do ensino fundamental na idade correta. Segundo dados da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do IBGE de 2011, 539 mil brasileiros não conseguiram concluir este segmento do processo ensino-aprendizagem.

6 Fonte: <http://portal.inep.gov.br/web/guest/estatisticas-gastoseducacao-indicadores_financeiros-p.t.i._nivel_ensino.htm > acesso em 29/07/2013; 23:00

7 Fonte: <http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/2013-06-03/governo-abre-varias-frentes-para-aprovar-royalties-para-educacao-no-congresso.html > acesso em 13/06/2013; 13:51

(20)

A questão que se coloca mais uma vez está no interesse e no foco que tanto o Estado quanto o empresariado querem depositar na educação. Paralelamente, na correlação de forças, está a unificação dos trabalhadores e da sociedade civil em geral, se disponibilizando para lutar e garantir direitos num esforço histórico, temporal, que pode vir a mudar os rumos dos números que os índices insistem em registrar.

1.2- MACAÉ, UM BREVE HISTÓRICO SOBRE A “PRINCESINHA DO ATLÂNTICO” E A SUA RELAÇÃO COM A PROBLEMÁTICA DA INFREQUÊNCIA ESCOLAR

O Município de Macaé situa-se a 183 km da capital Rio de Janeiro e cresceu entre rios, serra e mar. Ocupando uma área territorial de 1.216.845 km2, cortado pela RJ 106 e margeado pela BR101, tem como municípios limítrofes, Casimiro de Abreu, Rio das Ostras, Trajano de Moraes, Conceição de Macabú, Carapebus e Nova Friburgo, sendo banhado pelo oceano Atlântico.

Macaé teve em sua fundação como pano de fundo, a disputa por terras entre Espanha e Inglaterra, sendo que Espanha subjugava Portugal. Foi plano da Espanha, estabelecer na região de Santana uma aldeia de índios para proteger de invasões inglesas que levavam o pau-brasil. Posteriormente em 1630, os jesuítas estavam instalados no morro de Santana e lá contavam com engenho, colégio e capela. Com a expulsão dos mesmos, as terras foram se dividindo e dando lugar as pessoas que chegavam. O desenvolvimento da região lhe garantiu a categoria de vila com o nome de São João de Macaé em 1813.

Durante muito tempo o porto de Imbetiba escoava toda a produção da região até que em 1874, com a chegada da linha férrea, este, acabou por ser subutilizado. A década de 1970 é um marco na vida deste município, destacando-se a descoberta e a exploração do petróleo pelas águas que lhe faz jus ao apelido de “Princesinha do Atlântico”. Desta forma, é instaurado o centro administrativo da Petrobras numa redescoberta do Porto de Imbetiba dada a sua necessidade estratégica para o desenvolvimento do processo de extração8.

8 Fontes:

<http://www.sindipetronf.org.br/Publica%C3%A7%C3%B5es/RevistaImagem/tabid/66/Default.aspx?Edicao=25 5&Materia=2278> acesso em 13/07/2013; 21:22

(21)

Recentemente, a descoberta do óleo em águas profundas reinaugura uma nova era para o país, o “Pré Sal”.9

Dados do IBGE sobre o censo de 2010 pontuam um crescimento populacional que salta de 169.513 em 2007 para 206.728 em 2010, destes, 202.859 vivem na área urbana e 3.869, na zona rural. Assim como em todos os municípios do Brasil em forte desenvolvimento, Macaé também enfrenta as problemáticas que vêm junto ao processo migratório através de questões como habitação, saúde, segurança, transporte e educação que são pilares e que precisam ser estruturados. De fato, uma boa parcela dos trabalhadores que aqui desembarca não está devidamente preparada para o mercado de trabalho, o que acaba por estabelecer uma série de outras conseqüências na dinâmica social.

As desigualdades sociais se apresentam de forma bastante evidente. Conforme tabela abaixo, o IBGE apresenta por amostra domicílios particulares permanentes, relacionados ao rendimento mensal destas famílias:

Domicílios Particulares Permanentes com classes de rendimento nominal mensal

domiciliar:

Quantitativo:

Até ½ salário mínimo 686

Mais de ½ a 1 salário mínimo 3.779

Mais de 1 a 2 salários mínimos 11.487

Mais de 2 a 5 salários mínimos 24.700

Mais de 5 a 10 salários mínimos 12.641

Mais de 10 a 20 salários mínimos 6.848

Mais de 20 salários mínimos 3.473

Sem rendimento 3.293

Total de Domicílios Permanentes 66.907

Fonte: IBGE/2010

9 A intenção em situar o pré-sal está na representatividade econômica que o município tem para o país numa contraposição a realidade de privações a que seus munícipes convivem, sobretudo no que se refere à política de educação.

(22)

Do total de domicílios permanentes, cerca de menos de 5,2% concentra mais de 20 salários mensais enquanto que aproximadamente 11,6% sobrevive com no máximo 1 salário mínimo. Levando-se em consideração que 36.233 pessoas vivem em domicílios particulares ocupados ou aglomerados subnormais10, temos então do total de cidadãos macaenses cerca 17,5% vivendo em condições de precariedade.

Estes dados são importantes para percebermos a necessidade de políticas públicas que de fato assegurem o desenvolvimento de uma cidade. Simplesmente midiatizar a cidade como o “a capital do petróleo” e da oportunidade de emprego sem o mínimo de estrutura para acomodar esta população, necessariamente implica no aparecimento de uma série de questões que terão de ser administradas. Um exemplo bastante recorrente em cidades com crescimento descontrolado é a violência. Dados da Segurança Pública afirmam que:

Março de 2013 Março de 2010

Tipo de Crime Quant. Tipo de Crime Quant.

Apreensão de criança / adolescente

11 Apreensão de criança / adolescente

01

Apreensão de drogas 16 Apreensão de drogas 06

Homicídio doloso 06 Homicídio doloso 11

Total de roubos 128 Total de roubos 103

Total de furtos 203 Total de furtos 228

Registros de ocorrências 857 Registros de ocorrências 622 Fonte: ISP/2010

Dentre os vários motivos que por certo explicam o salto de apreensão de crianças e adolescentes registrados no mês de março de 2013 e que possuem raiz causal nas mazelas do modelo de sociedade baseada na exploração, direcionamos o nosso foco para a política de educação, área de nossa inserção no campo de estágio e alvo de nossas reflexões e no que ela deixa de contribuir favorecendo estas estatísticas. De alguma forma para todos estes índices,

10 Forma de identificação que o IBGE categoriza como (assentamentos irregulares, conhecidos como favelas, invasões, grotas, baixadas, comunidades, vilas, ressacas, mocambos, palafitas entre outros) <http://saladeimprensa.ibge.gov.br/noticias?view=noticia&id=1&busca=1&idnoticia=2051> acesso em 09/06/2013; 17:18

(23)

em algum momento a educação está relacionada, pois em cada caso temos a confirmação de que falhou o Estado, a sociedade, a família e a escola.

O Município de Macaé conta com 103 unidades escolares divididas administrativamente conforme setorização territorial pelas cores: azul, amarelo, verde, vermelho, vinho, marrom, beje, laranja, cinza e branco. Segundo postagem do blog do SEPE Macaé11 em 07 de junho de 2013, o número de escolas é insuficiente e a situação é ainda mais grave para as crianças de 0 a 5 anos. Cerca de 11.000 crianças não tem acesso a creches públicas. Foram no ano de 2012, no que se refere à educação básica, 35.654 mil12 alunos matriculados e um corpo docente em torno de 1.77613 profissionais o que também se revela insuficiente para o atendimento da demanda.

Vários projetos dentro da Secretaria Municipal de Educação (SEMED) objetivam melhorar os índices educacionais e o desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem. Dentre eles, destacamos “Minha Escola Querida” um projeto que busca articular investimentos privados, participação da sociedade civil, comunidade do entorno e poder público na reestruturação da unidade escolar e “Educação para a Paz” um projeto que propõe trabalhar questões para o enfrentamento de situações relativas à violência. Na concepção marxista de educação, a participação democrática da comunidade nos processos decisórios de seu interesse agrega valor. A escola como pertencimento da comunidade precisa ter a colaboração da mesma em todos os sentidos principalmente no zelo pelo patrimônio físico e, sobretudo o cuidado com a formação para além do espaço da sala de aula com a formação para a vida. Porém a imputabilidade unilateral desta responsabilização, inclusive na manutenção estrutural, implica no ideário neoliberal que subjuga a classe trabalhadora em defesa do capital.

A comunidade é atribuído um novo e considerável papel no processo educacional, que transforma as relações entre os grupos dentro da escola (que evolui da competição para a cooperação e o apoio mútuo ) e implica uma relação mais aberta entre a escola e a sociedade, pressupondo uma relação biunívoca e mutuamente enriquecedora entre professor e aluno. (BOTTOMORE, 2001, p. 122)

O Município de Macaé se projeta com destaque por disponibilizar 32% dos recursos na Educação, ou seja, 6% a mais do que determina a Lei, porém os professores não tinham até o

11 Fonte: http://sepemacae.blogspot.com.br/ acesso em 19/06/2013; 20:40 12 Fonte: Relatório da Secretaria Municipal de Educação

13 Fonte: http://www.ibge.gov.br/cidadesat/xtras/temas.php?codmun=330240&idtema=117&search=rio-de-janeiro|macae|ensino-matriculas-docentes-e-rede-escolar-2012 através do Ministério da Educação, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais - INEP – Censo Educacional 2012. acesso 31/07/2013; 18:28

(24)

ano de 2011 equiparação salarial em relação aos outros profissionais que compunham o quadro de servidores públicos. Atualmente, estes profissionais lutam por reajuste salarial, plano de carreira e mais professores que garantam o quantitativo necessário para o funcionamento das unidades, além de condições mínimas estruturais para o trabalho. Um dado de importantíssima grandeza está na contribuição que Macaé deposita aos cofres públicos pela produção do petróleo e que retorna a este mesmo município em forma de compensação, são os “royalties” que no ano de 2011 fechou em R$ 410.494.180.3314. A pergunta que ninguém consegue responder está na relação desta receita com os investimentos em setores básicos como a educação, saúde, transporte e segurança que não contemplam a demanda.

A precariedade da estrutura física de algumas unidades, a defasagem de profissionais habilitados e tantas outras causas que contribuem para o quadro da evasão, o que não é uma realidade isolada no Município de Macaé e sim uma situação compartilhada pela maioria das escolas em território nacional, constatamos no quadro abaixo no que se refere à faixa etária que se subentende deveria cursar o ensino fundamental e médio, um diagnóstico da evasão na rede de ensino macaense.

Faixa Etária População Freqüentando

Escola Percentual Populacional dos Infrequentes De 7 aos 14 anos 26.185 25.357 3,16% De 15 aos 17 anos 9.647 8.135 15,67% De 18 ou 19 anos 7.165 3.248 54,67% Fonte: IBGE / 2010

O impulso do estudo sobre a evasão no Município de Macaé teve princípio nos números da violência registrada entre adolescentes e jovens. Dados do Relatório da Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação registra que entre os anos de 2002 a 2004 Macaé ocupou a 5º colocação entre os municípios brasileiros com mais de 100.000 habitantes com o maior índice de mortes entre jovens e adolescentes. O Índice de

14 Fonte: <http://www.ompetro.org.br/index.php/component/content/article/37-geral/464-balanco-arrecadacao-ryalties.html> acesso em 24/06/13; 20:53

(25)

Homicídios na Adolescência (IHA)15 do ano de 2006, apresenta Macaé ocupando o 53° lugar neste ranking. A relação empírica da violência com a evasão esteve conectada no decorrer dos estudos e pesquisas para implantação do programa cuja intencionalidade era o combate a evasão escolar, haja vista, no ano de 2009 estimava-se cerca de 9%16 de evadidos do total de matriculados. Insistimos que no que se refere à evasão, a constituição do quadro da violência não apenas neste município, mas em qualquer lugar do mundo, se somam múltiplos fatores, e dentre eles destacamos o desemprego e o subemprego que comprometem a renda familiar. A incapacidade do sustento familiar pode gerar várias conseqüências tais como alcoolismo, dependência química, prostituição, envolvimento com o tráfico de drogas, depressão, trabalho infantil, baixa escolaridade e falta de perspectiva de vida, sendo que todas estas mazelas demonstram a complexidade e simultaneidade das necessidades dos sujeitos. Nosso objetivo não está na culpabilização da educação pelo quadro da violência instaurado, apenas ressaltamos que estabelecemos nosso foco na evasão escolar, por ser esta a política setorial em que fomos inseridas e este o objeto propulsor dos estudos que ligado a outros fatores, podem se estabelecer em possíveis causas e simultaneamente conseqüências ao quadro da violência no município.

A SEMED instituiu através da portaria 006/2004 de 17 de agosto, o Programa “Escola Legal” com o objetivo de diminuir a infrequência e a evasão escolar no município, mas é em 2010 que a própria SEMED através do seu corpo de Orientadores Educacionais (O. E.) que se mobiliza para articular formas de enfrentamento do quadro da evasão na rede municipal. As primeiras metas estabelecidas davam conta do levantamento dos faltosos como parte do objetivo do Projeto de Intervenção “Estudar é Legal” proposto pela O. E.

As notícias veiculadas na mídia de mortes de adolescentes e jovens passaram a sinalizar que o município carecia de ações interventivas no sentido de afastar o adolescente e o jovem do circuito da violência. É óbvio que não apenas a educação se encarrega de solucionar questões como a violência porque a sociedade se constitui de um corpo complexo de sistemas, mas a nossa experiência está na educação, e nosso estudo se limita a este tema.

15 Pesquisa inédita, que compõe um dos eixos de atuação do Programa de Redução da Violência Letal Contra Adolescentes e Jovens (PRVL). O IHA é uma ferramenta que estima o risco de adolescentes, com idade entre 12 e 18 anos, perderem suas vidas por causa da violência letal. O IHA avalia alguns fatores que podem aumentar o risco de morte, de acordo com raça, gênero e idade desses adolescentes.

16 Este índice nunca foi confirmado pela SEMED. Ele foi extraído do Trabalho de Conclusão do curso: Enfrentamento da Violência e Defesa de Direitos na Escola através do Projeto de Intervenção “Estudar é Legal” realizado pelas Orientadoras Educacionais da própria SEMED Claudiana Chagas de Souza, Eronei Leite Pereira e Rosane Teixeira Pessanha em Julho de 2010 pela FIOCRUZ,

(26)

Neste sentido, houve uma aproximação da SEMED com o Plano Diretor da Cidade que era Gerenciado por Miriam Reid que enquanto Deputada Federal presidiu a Comissão de implantação da Lei 10.287/01. O Plano Diretor da Cidade, por sua vez, fez valer a Lei Complementar 076/2006, através do seu art. 43 que descreve as ações estratégicas das políticas públicas para a educação, relativas ao acesso e permanência escolar, determinando, entre outras medidas, a implantação de programa de acompanhamento especializado dos profissionais do Serviço Social, junto ao corpo discente das escolas do município. Estas parcerias provocaram o início da discussão sobre a evasão escolar no município e o Serviço Social assume importante papel na condução dos debates e encabeça linhas de atuação, alicerçado em seu compromisso teórico-metodológico, ético-político e técnico-operativo.

(27)

2- O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO DE GESTÃO DE PROGRAMAS NAS POLÍTICAS SETORIAIS

Para o alicerce teórico do direcionamento dado pelo Serviço Social à experiência vivenciada, torna-se necessário a rememoração de temas que nortearam as ações implementadas e que justificam a presença deste profissional na condução da proposta. A gênese do Serviço Social é marcada pelo surgimento de um profissional cuja responsabilidade laboral se destinava a mediar relações entre trabalhador e empregado e a sua inserção na divisão sócio-técnica do trabalho se deu de modo a executar políticas sociais através de encaminhamentos de benefícios e pesquisas sócio-econômicas.

A década de 1990 reinaugura uma nova fase para o Serviço Social com a consolidação do seu Projeto Ético-Político que prima por uma sociedade mais justa e equânime, desta forma, estabelecendo vínculos com um projeto de transformação societária. Conforme Iamamoto (2010, p 223), este tempo é “fruto e expressão de um amplo movimento de lutas pela democratização da sociedade e do Estado no país, com forte presença das lutas operárias que impulsionaram a crise da ditadura do grande capital”. As novas respostas exigidas ao Serviço Social fizeram com que os profissionais se empenhassem em superar as vertentes mecanicistas, messiânicas ou fatalistas no sentido de firmar a real necessidade e o propósito desta profissão para o quadro de modificações societárias vividas naquela época. Fundamentalmente, acontece uma reaproximação com o pensamento marxista e a teoria social critica num comprometimento com a competência e a busca pelo aperfeiçoamento intelectual provocando a construção de um novo perfil profissional, conforme afirma Netto17.

A inserção do Serviço Social em novos espaços de trabalho como a gestão de programas, assessoria a gestores e outros vem avançando e se consolidando ao longo dos anos. Estas conquistas implicam responsabilização profissional e conhecimento teórico-prático que as efetivem de fato. Neste sentido, o art. 2° do Código de Ética da Profissão, no que diz respeito aos direitos e responsabilidades gerais do Assistente Social, garante “participação na elaboração e gerenciamento das políticas sociais, e na formulação e implementação de programas sociais.”, é o Serviço Social assumindo funções de gestão e liderança nos espaços ocupacionais exigindo deste profissional preparação para gerir e planejar.

17 Neto, José Paulo. A construção do Projeto Ético-Político do Serviço Social

(28)

O déficit histórico educacional do Brasil no que se refere ao estímulo do pensamento, organização de idéias e reflexão critica, influencia na formação acadêmica de nossos profissionais. Os cinco anos da graduação podem não conseguir reverter os doze anos de receptividade passiva de informações. Logo, não é difícil compreender a dificuldade de interpretação e da escrita pelos discentes. Este precisa ser um obstáculo a ser vencido nos primeiros semestres da graduação dada a necessidade de o profissional de Serviço Social unificar a teoria e a prática no imediatismo de suas demandas sob a ótica da criticidade. Talvez a conquista do perfil crítico almejado pela reformulação dos propósitos da profissão na década de 1980 / 90, cuja intelectualidade acaba por exigir a exteriorização dos pensamentos, perpasse o incentivo ao graduando pela superação do trabalho profissional baseada no operativo e na imediaticidade dos atendimentos. Embora as relações de trabalho no universo do assistente social sejam caracterizadas em sua maioria pela precarização, o que corrobora para que o profissional não reflita, o inverso precisa acontecer e talvez a partir de então tenhamos uma massa realmente crítica capaz de pensar proposições que verdadeiramente colaborem para a transformação societária em uma nova ordem social conforme propósito do próprio Projeto Ético Político, vinculado a um novo projeto societário.

Segundo Teixeira (2009) no que se refere à elaboração de programas em políticas públicas, pensar e planejar estrategicamente resulta na exposição dos objetos e objetivos a serem conquistados pelo profissional de Serviço Social que deve se utilizar de três momentos diferenciados:

PLANO – É o documento mais abrangente e geral, que contém estudos, análises situacionais ou diagnósticos necessários à identificação dos pontos a serem atacados, dos programas e projetos necessários, dos objetivos, estratégias e metas de um governo, de um Ministério, de uma secretaria ou de uma Unidade.

PROGRAMA - É o documento que indica um conjunto de projetos cujos resultados permitem alcançar o objetivo maior de uma política pública.

PROJETO – É a menor unidade do processo de planejamento. Trata-se de um instrumento técnico-administrativo de execução de empreendimentos específicos, direcionados para as mais variadas atividades interventivas e de pesquisa no espaço público e no espaço privado. (TEIXEIRA, 2009, p. 556)

A autora trabalha o conceito de planejamento estratégico como uma forma contemporânea de planificação e ressalta a necessidade da criação de instrumentos e ferramentas que possibilitem a construção do novo, objetivando mecanismos que acelerem a intencionalidade, ou seja, o planejamento neste tempo assume importante papel para a tomada de decisões. Todo instrumental possível para o enfrentamento das lutas a que o profissional de Serviço Social precisa travar para estabelecer políticas públicas em tempos de total

(29)

esvaziamento de direitos sociais, se faz necessário, logo, o assistente social precisa articular os interesses da instituição através do programa elaborado com as necessidades do seu público alvo ou usuário atraindo ainda, participação popular na formulação e planejamento destas políticas sociais.

Teixeira pontua que a gestão pública planejada funciona como exercício de liberdade e de democracia, não uma democracia esvaziada de sentido que cultiva uma descentralização desconcentrada, mas uma descentralização que abone as relações verticais na busca pela democratização com decisões de interesses coletivos. Assim sendo, para que um planejamento tenha solidez é necessária a participação no sentido da adesão, uma adesão que ultrapasse a mera presença na constituição de um grupo, mas o pleno direito de decidir, de agir e do estabelecimento do controle social. Esta gestão planejada e participativa busca cidadãos que permaneçam atentos às escolhas no campo das correlações de forças, que se institucionaliza através de organismos como os colegiados, organizações, conselhos, comissões, fóruns e etc., instrumentos legais com rituais e dispositivos que consolidam esta participação e a torna um direito.

Sabemos que no que se referem às políticas públicas os interesses do capital caminham na direção contrária. Uma das formas de atravancar ainda mais o processo de institucionalização das mesmas está no excesso de burocracia, logo, para além do burocratismo, do assistencialismo e voluntariado à que o trabalho profissional do Assistente Social é insistentemente co-relacionado, há à meritocracia e a descontinuidade como obstáculos a serem transpostos. Observamos que a gestão participativa planejada pode se constituir numa ferramenta estratégica de enfrentamento que exige deste profissional arcabouço teórico e capacidade de articulação para efetivação de um direto.

É verdade que há grandes obstáculos à intenção estratégica, principalmente quando as instituições trabalham sob esquemas arcaicos que já não satisfazem. O autoritarismo é um deles, a centralização das glórias por vitórias conquistadas é outro. Todas as honras devem ser socializadas. O êxito é o resultado do trabalho de todos. (TEIXEIRA, 2009, p. 558)

A Lei n.° 8.662/93 de Regulamentação da Profissão prevê no art. 4 quanto às suas competências:

I – elaborar, implementar, executar e avaliar políticas sociais junto a órgãos da administração pública direta ou indireta, empresas, entidades e organizações populares;

II – elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, programas e projetos que sejam do âmbito de atuação do Serviço Social com participação da sociedade civil; III – encaminhar providências, e prestar orientação social a indivíduos, grupos e a população;

(30)

Para além da elaboração, implementação, execução e acompanhamento dos programas, a avaliação se constitui processo pertinente ao trabalho profissional. Novamente, voltando-nos para o processo histórico veremos que é impossível estabelecer avaliação sem considerar o universo de privações de recursos humanos e materiais. Logo, em se tratando de avaliação de políticas públicas o número por si só não pode dizer do todo, conforme Boschetti (2009, p. 578) “a avaliação de políticas sociais públicas deve ser orientada pela intencionalidade de apontar em que medida as políticas e programas sociais são capazes e estão conseguindo expandir direitos, reduzir a desigualdade social e propiciar a equidade.”

Quando esta visão de avaliação de programas e políticas sociais está presente no trabalho profissional e devidamente compartilhada com a equipe, a questão da frustração que quase sempre se apresenta devido ao grau de precariedade que estes programas são desenvolvidos, a atenção deixa de se fixar no quantitativo não disponibilizado e passa a se projetar no qualitativo desejado, fazendo com que a proposta se estabeleça ainda que gradativamente, objetivando a universalização de direitos.

2.1- O LUGAR DA INVESTIGAÇÃO NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DE UMA PROPOSTA INTERVENTIVA

A dimensão investigativa vivenciada nesta experiência de estágio supervisionado me provocou para a elaboração desta monografia. À medida que o desvelamento das questões se apresentava havia uma co-relacionalidade com determinado direito presumido no que resultava uma proposta de encaminhamento para o usuário. Conforme afirma Guerra (2009) o direcionamento da formação pedagógica da profissão, a partir de 1990 contempla um conjunto de valores e diretrizes que lhe dão direção estratégica que contempla um determinado perfil de profissional baseado na críticidade. O projeto pedagógico estabelece na dimensão investigativa pressuposto para uma ação interventiva que vem assegurar o estatuto de maioridade intelectual ao Serviço Social. Conhecer para intervir implica exercer a autonomia técnica do profissional do Serviço Social cujo perfil profissional é determinado pela necessidade de um referencial teórico-metodológico e a não dissociação do processo investigativo da intervenção, dimensões estas, afirma a ABESS, que formam o princípio e condição central da formação profissional e da relação entre teoria e realidade (ABESS, 1997, p.61).

(31)

Para Guerra, a profissão se contextualiza nos processos de produção e reprodução da sociedade capitalista e tem nas seqüelas da relação de exploração de uma classe sobre a outra a “questão social”. É fundamental que o profissional de Serviço Social, no âmbito de sua inserção na divisão sócio-técnica do trabalho, compreenda de quais formas as expressões da “questão social” se particularizam nos espaços sócio-ocupacionais se apresentando como demandas específicas.

O desvelamento e a consequente identificação das expressões da “questão social” presente na realidade pesquisada, implicam na orientação e instrumentalização para a ação profissional para além do atendimento das demandas imediatas. O Assistente Social é um profissional relativamente novo que busca se firmar no espaço intelectual não apenas como um técnico atuante nas camadas mais populares da sociedade, mas conforme definição de Netto (1996, p. 125 -26), “intelectual que habilitado para operar numa área particular; compreende o sentido social da operação e a significância da área no conjunto da problemática social”. Para Guerra, a pesquisa assume papel decisivo fazendo com que a profissão avance do patamar empirista se aproximando das ciências sociais a partir da adoção do referencial teórico metodológico extraído da tradição marxista.

Em Guerra, o conhecimento abstraído da razão dialética percebe a constituição do objeto pelo seu movimento e conseqüentemente suas reais condições de transformação. Desta forma, a investigação compõe o trabalho profissional e se constitui numa das fontes de sentido e direção ao trabalho que supere a atuação no imediato. Embora o Assistente Social tenha em sua rotina usuários com semelhanças em suas solicitações, por certo, a maioria delas tem um fator causal diferenciado, daí a necessidade de se estabelecer o olhar expedicionário, tendo como objetivo finalidades como converter informações em dados e partir do diagnóstico pensar em proposições objetivas que promovam a transformação daquela realidade.

Temos visto que a pesquisa crítica e criativa faculta-nos enriquecer os elementos da cultura profissional: princípios, valores, objetivos, referencial teórico-metodológico, racionalidades, instrumental técnico-operativo, estratégias e posturas, com novas determinações. Aqui se coloca um dos desafios da formação profissional: criar uma cultura profissional que valorize a dimensão investigativa. (GUERRA, 2009, p. 714)

O parágrafo VII do art.4° da Lei 8.662 afirma que se constituem competências do assistente social: “planejar, executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a análise da realidade social e para subsidiar ações profissionais”. Quando as relações de trabalho baseadas no imediatismo e o empobrecimento teórico afetam o trabalho profissional, este

Referências

Documentos relacionados