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164 TEORIA GERAL DOS RECURSOS crt'Els

tal hipótese, considerou—se que o interesse particular da parte não poderia se sobrepor ao resultado alcançado com a fixação da tese a ser fixada e observada

nos demais casos com a mesma situação lático-juridica.

Por tal razão, considerou que afetado o recurso para julgamento, como representativo da controvérsia, "e” inviável o acolhimento de pedido de desis­

tência recursal". ““

O CPC/2015 fez incluir um parágrafo único no art. 998, correspondente ao art. 501 do CPC/1973, com o escopo de resolver esse problema, qual seja, aquele que ocorre quando, após a afetação de um determinado recurso especial ou extraordinário representativo da controvérsia para fins de fixação de tese na sistemática dos recursos repetitivos (arts. 1036 a 1041), o recorrente decide

desistir do recurso.

Considerando que, como dito, a desistência do recurso é ato unilateral e abdicativo de direito -— não depende de homologação judicial —, não se pode impedir que, nestes casos, o recorrente obtenha os efeitos decorrentes de seu ato. Tal circunstancia, todavia, não impede que o tribunal superior respectivo analise a questão e defina o precedente que deve ser aplicado aos demais casos idênticos. A questão, portanto, será julgada no plano abstrato.

Assim dispõe o referido dispositivo: “A desistência do recurso não impede

a analise de questão cuja repercussão geral já tenha sido reconhecida e daquela objeto de julgamento de recursos extraordinários ou especiais repetitivos".

9.3. Requisitos extrínsecos 9.3.1. Tempestividade

A previsão de um prazo determinado para a interposição do recurso

decorre de um valor funcional do direito, que e a segurançajuridica. Estatuindo o sistema um prazo para que a decisão venha a ser impugnada, ele acaba com a

intranquilidade das partes, diante de uma situação em que a decisão pudesse ser vista e revista a qualquer momento. Fixando-se um prazo para a impugnação, as partes sabem que, uma vez não interposto o recurso, aquela situação não poderá ser mais alterada.

Desta feita, para que o requisito da tempestividade seja preenchido, o

recurso deve ser interposto dentro do prazo fixado pela lei. O escoamento in

albis do prazo recursal acarreta a preclusão temporal.

O CPC/2015 procurou simplificar esse requisito, lixando o prazo de 5 (cinco) dias para a interposição dos embargos de declaração (art. 1.023) e (le 15 dias para

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REQUISITOS DEADMISSIBILIDADE l 165

todos os demais recursos: “Excetuados os embargos de declaração, o prazo para interpor os recursos e para responder-lhes e de 15 (quinze) dias“ (art. 1.003. & Sº).

No CPC/1973, com as modificações introduzidas pela 8950/1994, os

recursos eram interpostos em 5, 10 ou 15 dias (ou ainda, imediatamente a pro­

lação da decisão, no caso de agravo retido oral).

Outrossim, como ato processual que c”, o recurso deve ser interposto entre

as 6 e 20 horas, conforme dispõe o art. 212 do CPC/2015, incumbindo a lei local de fixar, dentro deste período, o horário de funcionamento do expediente

forense, de acordo com o & 3ª desse art. 212. Nas hipóteses de autos eletrônicos, scgttndo 0 art. 213 “a pratica eletrônica de ato processual pode ocorrer em qual­

quer horãrio ate' as 2-1 (vinte e quatro) horas do último dia do prazo. Parágrafo único. O horário vigente no juízo perante o qual o ato deve ser praticado será considerado para fins de atendimento do prazo".

Registro digno de nota diz respeito a modificação introduzida com o

CPC/2015, que estipula que os prazos serão contados apenas em dias úteis,

como se vê do art. 219. “Na contagem de prazo em dias, estabelecido por lei ou pelo juiz, computar-se-ão somente os dias úteis“.

Com efeito, e extremamente salutar a tnudança na forma tradicional de contagem dos prazos processuais, porque de fato permite que os advogados

deixem de ser prejudicados com prazos fluindo nos finais de semana e inclusive

feriados. Saliente-se ademais que a contagem apenas dos dias úteis, de outro lado, não traz qualquer consequência para a duração dos processos, pois, de fato. não são os prazos destinados à prática dos atos processuais que geram

qualquer reflexo na propagada morosidade processual.

Dúvida que certamente surgira — e que somente o tempo podera responder

— diz respeito a possíveis dificuldades na contagem dos prazos etn dias úteis.

isto e', se haverá dificuldade das partes ou dos magistrados na aferição do último

dia para a interposição do recurso.

Saliente-se, apenas para efeito de reflexão, que tal regra já é praticada no

âmbito da Leide Licitações (Lei 8.666/1993), que estipula o prazo de cinco dias

úteis para a interposição dos recursos (art. 109, 1). não se tendo noticias rele­

vantes de eventuais dificuldades com a pratica de tais atos.

9.3. I . l . A fluência do prazo recursal

Um dos aspectos mais importantes quando se examina o requisito da tem­

pestividade e' o termo inicial do prazo para a interposição do recurso. O art. 1.003

do CPC/2015 regula o dies a quo para a interposição dos recursos, da seguinte forma: “O prazo para interposição de recurso conta-se da data em que os advo­

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166 TEORIA GERAL DOS RECUIõOS civers

Ministério Público são intimados da decisão. & lº Os sujeitos previstos no caput considerar-se-ão intimados em audiência quando nesta for proferida a decisão“.

Aperfeiçoando a redação de certo modo casuística que constava do art. 506 do CP01973, o art. 1.003 deixa claro que o prazo para a interposição do recurso

conta-se da data em que o advogado da parte (: intimado da decisão, lembran­ do-se que, nos termos do art. 269, intimação e' o ato por meio do qual “se da

ciência a alguém dos atos e dos termos do processo".

Os advogados são os representantes processuais das partes, de modo que

agiu bem o CPC/2015 ao estabelecer que o prazo começa a Íluir a partir da inti­ mação dos advogados.

Acrescentou-se também a possibilidade de intimação da sociedade de advoga­ dos. Nesse ponto, a alteração atende à segurança das relações processuais, porque e' cada vez mais comum a união de advogados através da constituição de sociedades.

A intimação da própria sociedade — como Ficção juridica — gera a confiança de que

todos os advogados que a compõem, são alcançados pela comunicação judicial.

Destarte, o que importa quando se analisa o início do prazo para recorrer e' que o critério utilizado pelo legislador tem como ponto central a ciência do recorrente.'ºª É por isso que indicou a audiência“ ou a intimação. Se a sentença não for lida em audiência, a parte será intimada de sua existência. Com essa

ciência, o prazo tem início.

Se a parte toma ciência da decisão de forma diferente da prevista no

art. 1.003 do CPC/2015, ainda assim o prazo se terá iniciado. É o que sucede, por exemplo, quando a parte faz carga dos autos, quando a decisão neles ja se encontra. É a partir dessa data que começa a fluir o prazo para a interposição

do recurso, pois, naquele momento, a parte teve ciência da decisão proferida.'M

162. Tanto é assim que, se a parte peticiona nos autos alegando irregularidade da intimação, e, por consequência toma ciência da decisão, é a partir dessa data que o prazo passa a [luir. Foi o que restou decidido no Superior Tribunal de Justiça: “Ementa: Intimação — lrregularidade — Ciencia inequívoca. Se a parte peticiona, alegando irregularidade na intimação referente a determinado ato processual e assim revela que dele teve cien­

cia, da data etn que o faz lluirão os prazos recursais. não se fazendo necessaria outra

intimação" (STJ, REsp 6.153/RS, 3“ T.. j. 29.04.1991, rel. Min. Eduardo Ribeiro, DJU 27.05.1991. p. 6.961).

163. “Processo Civil — Prazo para apelar — Sentença proferida em audiência — Início — Con­

tagem. Proferida a sentença em audiência, desde então inicia-se o prazo para recorrer. A contagem do prazo, todavia, segue a regra do artigo 184 do Codigo de Processo Civil, que determina a exclusão do dia do começo e a inclusão do dia de vencimento“ (REsp 513016/Rj_ rel. Min. Castro Filho. 3ª T., DJ 27.09.2004).

164. Tratamos, com mais vagar, da ciência inequívoca como fator idôneo a fazer correr o

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REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE ? 167

O próprio art. 269 do CPC/2015 e expresso ao dizer que a intimação “Inti­

mação é o ato pelo qual se da ciência a alguém dos atos e dos termos do pro—

cesso“. Assim, mesmo que não obedecido o procedimento previsto no art. 1.003

do CPC/2015, é possivel que o prazo para recorrer tenha inicio. Para tanto,

basta que a parte tenha efetiva ciência da decisão, eis que, nesse caso, o objetivo

pretendido pelo legislador terá sido atingido.“

Em sentido conforme, dispõe o art. 272, & 6º do CPC/15, que a retirada

dos autos do cartório ou da secretaria em carga implicará intimação de qualquer

decisão contida no processo retirado, ainda qtte pendente de publicação.

É oportuno ressaltar que a ciência inequívoca constitui inegavelmente uma exceção a clássica regra do direito processual, em que, mesmo não tendo havido regular procedimento de intimação, o prazo recursal começa a fluir. Essa excep­ cionalidade exige uma análise sempre cuidadosa e restritiva, qtte permita carac­

terização de ciência inequívoca apenas quando exista certeza absoluta, imune de qualquer dúvida. de que a parte recorrente teve efetivo e integral conheci­ mento do teor da decisão recorrida.

Dessa forma, por manifesta incompatibilidade com as cláusulas constitucio­ nais do devido processo legal e da ampla defesa, é vedado o emprego de presunção para caracterizar ciência inequívoca quando há dúvida em sua ocorrência?“

vidade recursal: llttencia e ciência inequívoca; recurso interposto antes da intimação; interrupção do prazo por força da interposição de embargos de declaração. RcPro. 181, ano 35. São Paulo: Ed. RT, mar/2010.

165. É o que decidiu o Plenário do Supremo Tribunal Federal: “A lluência do prazo recursal

— que e peremptõrio e preclusivo (RT 611/155 — RT 698/209) — tambem tem início com

a ciência inequívoca. pela parte, da decisão que lhe & desfavorável. Se a parte ingressa nos autos somente para arguir a irregularidade de sua intimação e, ao assim proceder,

demonstra possuir conhecimento pleno e inquestionável do ato decisório qtte lhe foi

contrario. abstendo-se, no entanto. de impugna-lo. mediante recurso adequado, inicia­ -se. ai, a partir desse momento, o curso do prazo recursal“ (STE Agln 204.517 AR-DF, j. 21.11.2006, rel. Min. Celso de Mello). No Superior Tribunal de Justiça esse enten­ ditnento tem sido mantido: “Admite-se seja afastada a regra geral de qtte as intimações

só se aperleiçoam com a publicação no órgão oficial, para considerar-se intimada a

parte que, antes da publicação. haja tomado ciencia inequívoca da decisão, por otttro meio qualquer. Agravo não conhecido" (AgRg no REsp 651.887-PR.j. 07.10.2004. rel. Min. Nancy Andrighi). Tambem do Superior Tribunal deJustiça: REsp 44.152-ES, 4ª T.. j. 22.03.1994. rel. Min. Barros Monteiro, DJU 18.04.1994. p. 8.510; REsp 57.754-60,

2ª T., j. 08.03.1995, rel. Min. Americo Luz, DJU 17.04.1995. p. 9.577; AgRg no Ag

972990—5C.j. 20.05.08. rel. Min. Eliana Calmon.

166. No que diz respeito a necessidade de observância da lomta do processo, preciosas são as lições de Elio Fazzalari quando diz qtte “as leis processuais se preocupam etn descrever a lomia com a qual deve ser revestida a tnaior parte dos atos processuais. O que bem se

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REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE 3 169

Em casos tais, dispõe o art. 1.003, % 2º do CPC/2015, que “aplica-se 0 dis—

posto no art. 23], incisos I a VI, ao prazo de interposição de recurso pelo réu

contra decisão proferida anteriormente à citação". Com efeito, no caso de deci—

sões proferidas antes da citação do réu, como ocorre com as medidas liminares deferidas inaudita altera parte, não tendo este ainda advogado constituído nos autos, o % 2º do art. 1.003 determina que o prazo para recorrer seja contado na forma do art. 231, l a Vl, ou seja, a partir da data em que o recorrente for tam­

bém devidamente citado. tudo a depender da modalidade de citação empregada.

Assim, o prazo fluira. nos termos do art. 231, a partir dajuntada aos autos do aviso de recebimento (inc. I), do mandado cumprido (inc. II) ou da carta (inc. Vl); ou, ainda, a partir do ato do escrivão ou chefe de secretaria (inc. lll),

do dia útil seguinte ao fim do prazo fixado no edital (inc. IV), ou, caso utilizados

meios eletrônicos, do dia útil seguinte a consulta do teor do ato, ou ao término do prazo para que a consulta ocorra (inc. V).

A referência feita pelo CPC/2015 e' adequada e visa afastar a possível incom­

patibilidade verificada no CPC/1973 quanto ã fluencia do prazo para recorrer e

para praticar os demais atos nos processos.

Com efeito, a circunstância de aludirem os art. 242 e 506 do CP01973. a

intimação das partes ou advogados, não significa que o prazo recursal começava

a correr exatamente no momento em que a parte ou seu advogado recebessem o mandado de intimação.

Isso ocorre, porque a intimação não deve ser vista como um ato processual

simples, que produz instantaneamente todos os seus efeitos quando alcançado

o seu objetivo (dar ciência). De fato, é inquestionável que a intimação (: um ato processual complexo eformal, de modo que, realizada por ohcial de justiça, carta ou correio, somente se torna perfeita e acabada, produzindo seus efeitos regula­

res e esperados, quando de sua juntada aos autos.

Humberto Theodoro Júnior, comentando essa circunstância, explica com acuidade. que “quando a citação ou intimação for pessoal ou com hora certa, o

prazo se inicia a partir da juntada aos autos do mandado devidamente cumprido. O ato de comunicação, in casu, e complexo e só se aperfeiçoa com o ato do escri— vão que incorpora o mandado aos autos. Só a partir de então e' que se pode con­

“ ITÚ

siderar a parte citada ou intimada, pois quod non est in actis non est in mundo .

Nunca existiu, portanto, qualquer antinomia ou contraste entre as regras

para a contagem dos prazos em geral e aquelas relacionadas à contagem dos pra— zos para a interposição dos recursos. Ambas contam—se da intimação que, por ser

ato complexo, somente se aperfeiçoa — torna-se perfeita e acabada — com ajuntada

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170 l TEORIA GERAL DOS RECURSOS ctvEts

aos autos da carta precatória, do mandado cumprido pelo oficial ou do aviso de

recebimento. Esse sempre foi o entendimento predominante da jurisprudência.”' O que fez, portanto, o CPC/2015, foi justamente estipular literalmente essa compreensão. O que nos parece, contudo, é que o legislador disse menos do que deveria, pois o entendimento acima não se deve restringir apenas para a fluên—

cia do “prazo de interposição de recurso pelo réu contra a decisão proferida anteriormente a citação". Em qualquer hipótese que se verifique a intimação das partes, nas formas previstas nos incisos referidos acima do art. 231. o prazo

recursal sempre começará a correr conforme ali descrito — ainda que seja para o

autor e mesmo após a citação do réu.

De outra parte, diferentemente do que se passa com os demais sujeitos, a Advocacia Pública (art. 183 do CPC/2015), a Defensoria Pública (art. 186, ?; lº do CPC/2015) e o Ministério Público (art. 180 do CPC/2015) devem ser intimados pessoalmente das decisões judiciais, o que se faz mediante carga ou

remessa dos autos, ou por meio eletrônico (art. 183, & lº do CPC/2015). Não se

deve descartar. contudo, que havendo ciência pessoal em Cartório, por parte de

um desses entes, o prazo terá início, tal como se verifica em relação às partes.

Quanto ao terceiro prejudicado, tendo em vista ser totalmente estranho

ao processo, não terá como comparecer à audiência nem, muito menos, ser

intimado da decisão. Dessa forma. o prazo para recorrer começa, caso a decisão

não tenha sido proferida e lida em audiência, da data da intimação as partes'72

17]. A jurisprudência do Superior Tribunal de justiça não diverge quanto a incidência do

art. 241 do CPC/1973 para a fluência do prazo recursal. Da 4ª T.. de relatoria do Min. Sál­ vio de Figueiredo Teixeira. (' expressivo o seguinte acórdão: “Processo civil — Intimação

por oficial de justiça — Prazo — Termo inicial —juntada aos autos do mandado — Art. 24 l, ll, CPC 11973] — Precedentes — Doutrina — Recurso provido. l — A intimação por oficial de

justiça e ato complexo, que só se aperfeiçoa com a juntada aos autos do mandado cum­ prido“ (STJ, REsp l92551, 4ª T.. rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira. j. 03.12.1998). Jzi da lª Turma. assim decidiu-se, sempre por unanimidade, em aresto da lavra do Em.

Min. Milton Luiz Pereira: “Processual civil — Citação da ação e intimação de liminar — ln­ terposicão de agravo de instrumento — Prazo CPC [1973]. ans. 191 e 241, II e lV. ] — Na

alcatifa do art. 241. ll e IV. CPC [1973], realizada a citação e intimação por precatória, o prazo recursal. devidamente cumprida. conta-se da sua juntada aos respectivos autos. 2 — Precedentes jurisprudenciais" (STJ, RESP 65736/SP (199500230631) 132581. I““ T., rel. Min. Milton Luiz Pereira, 02.09.1996). Também com igual e idêntico teor, são os seguin­ tes arestos do Col. Superior Tribunal dejustiça: REsp l32.+70/AL; REsp 70.399/PR; REsp

+85.660/MG; REsp 316.226/MG; REsp l98.0l l/RJ; REsp 309717/RJ; REsp 33+/839; REsp 311892/SP; Agln 5l6.184/RJ; AgRg 299.3l l/Rj; AgRg 299.702: AgRg 300548/RJ.

172. Assim. “o inicio do prazo recursal para o terceiro prejudicado (' igual ao das partes,

vez que entender qtte o prazo só fluiria quando 0 terceiro tivesse ciencia seria o ines—

tno que postergar ao indefinido o trânsito em julgado das decisões judiciais" (TJES.

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172 TEORIA GERAL DOS RECURSOS CIYEIS

intimação das partes. A decisão considera-se publicada quando passou a ter a

natureza de ato processual. isso ocorre ao ser lida em audiência, ou entregue em cartório para juntar-se aos autos. A partir desse momento, assumiu a natureza de um ato do processo, de um ato do Estado. A dificuldade as vezes ocorre porque uma das formas de intimação e' através da publicação pela imprensa. Em tal caso,

o que se tem e' uma forma de intimação da decisão já publicada.“ Em resumo,

para o revel o que importa e' a publicação da sentença como ato do processo. Quanto ã contagem do prazo recursal, deve-se observar o disposto no art. 224 do CPC/2015, que diz que “salvo disposição em contrário, os prazos serão conta­ dos excluindo o dia do começo e incluindo o dia do vencimento". Acrescente-se

ainda, na forma do % lº, do mesmo artigo que “os dias do começo e do venci­

mento do prazo serão protraidos para o primeiro dia útil seguinte, se coincidirem

com dia em que o expediente forense for encerrado antes ou iniciado depois da

hora normal ou houver indisponibilidade da comunicação eletrônica".

Situação qtte merece destaque, ainda, e aquela que ocorre quando a deci­ são e publicada no Diário dajustiça Eletrônico. Nesses casos, a decisão consi­ dera-se publicada não na data em que e' disponibilizada no Diário Eletrônico, mas tão somente no primeiro dia útil seguinte, conforme determina 0 & 2º do art. 224 do CPC/2015377 Apesar de, num primeiro momento, parecer curiosa essa disposição, ela tem uma razão muito simples: e' que as publicações vir­ tuais podem ser feitas não apenas no início do dia, mas a qualquer hora. Dessa

forma, a parte poderia ser prejudicada nos casos em que a disponibilização

ocorresse no final do expediente — ou mesmo após a ele — se a publicação fosse

daquela data contada.

Acrescenta, ainda, o art. 224 do CPC/2015, em seu 5 3ª, que “a contagem do prazo terá início no primeiro dia útil que seguir ao da publicação".

Nas situações, portanto, em que a publicação da decisão judicial se der por meio do Diário Eletrônico, o prazo para interposição do recurso começa a

correr não no dia seguinte a efetiva inserção da informação na internet, mas ape­

nas dois dias úteis depois: um dia e' necessario para que a decisão considere-se

publicada, e mais outro dia para que o prazo comesse a fluir.

9.3.1.1.1. O recurso interposto pelo correio

Nos termos do % 3º do art. 1.003, o recurso deve ser interposto, em regra, mediante protocolo perante o órgão competente. Trata-se de regra ligada ao

176. Nesse sentido, colhe-se do STJ, REsp 48.991—l-ES, 3“ T., j. 16.08.1994. rel. Min. Edu­ ardo Ribeiro, RST] 63/472.

177. “& 2ª Considera-se como data de publicação o primeiro dia útil seguinte ao da disponi­ bilização da informação no Diário da Justiça eletrônico."

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REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE 1 73

requisito da regularidade formal, como se verá. Nestes casos, o atendimento a tem­

pestividade sera aferido, justamente, a partir da data constante do comprovante

de protocolo. Como deixa claro o dispositivo, não estão excluídas outras fomias de interposição, criadas por lei ou pelas normas de organização judiciária de cada Estado ou dos Tribunais Federais. É o que se passa, por exemplo, com o protocolo integrado, ou, ainda, com a interposição do recurso via fax ou por meio eletrônico.

Outra forma de interposição do recurso e' pelo correio, caso em que,

segundo o % ªiº do art. 1003, será considerada como data de interposição o dia da postagem, e não aquele em que efetivamente for entregue no protocolo.

Trata-se de regra que, no CPC/1973, estava prevista, expressamente, ape­ nas para o recurso de agravo de instrumento (art. 525, ?; 2º), o que levava ao entendimento jurisprudencial de que “a tempestividade de recurso interposto

no Superior Tribunal dejustiça e' aferida pelo registro no protocolo da secretaria e não pela data da entrega na agência do correio“ (Súmula 216 do STJ). A partir

da promulgação do novo CPC não ha mais dúvidas de que a interposição atra­ ves de remessa pelos correios aplica-se a todas as espécies recursais, devendo a tempestividade do recurso ser aferida, sempre, a partir da data da postagem.

9.3.1.1.2. Comprovação de feriado local

O & 6º do art. 1.003 do CPC/2015 deixa claro que a comprovação da exis­

tência de feriado local, que altere o termo final do prazo para recorrer, deve ocorrer “no ato de interposição do recurso".

Coloca-se fim, com isso, a divergência encontrada na jurisprudência

do próprio STJ, que ora admite a comprovação do feriado local em sede de

agravo regimental, posteriormente à inadmissão do recurso especial (STJ, AgRg

no REsp 1.462.683/SP, +“ T., j. 25.11.2014, rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, Dje 02.12.2014), ora exige que a demonstração se de no ato de interposição do recurso (STJ, AgRg no Ag no REsp 574.333/PE, 2“ T., j. 20.11.2014, rel.

Min. Herman Benjamin, Dje 28.11.2014).

Conquanto o novo CPC tenha adotado o entendimento mais restritivo ã admissibilidade do recurso, parece-nos que, nas Situações em que o recorrente afirme, mas não comprove a existencia do feriado, deve ser aplicado o disposto

no art. 932, parágrafo único do CPC/2015, oportunizando que, no prazo de

cinco dias, traga aos autos referida comprovação. E isso porque será mera com­

provação de que o recurso foi interposto tempestivamente, isto e', apenas o

registro de algo que ja' aconteceu no processo.

9.3.1 .1 .3. O recurso interposto antes da intimação

O prazo recursal, como se expôs, relaciona-se com um dos principais valo­ res do direito, qual seja, a segurançajuridica. E inquestionável que a inexistência

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174 ª TEORIA GERAL nos RECURSOS CIVEIS

de regras claras e precisas, quanto ao inicio e ao término do prazo recursal con­ siste em fonte constante de incertezas e injustiças.

Não existe hierarquia ou mesmo grau de importância entre os requisitos de admissibilidade, contudo, a praxe forense, e ate' mesmo os tribunais, muitas vezes emprestam relevância maior a intempestividade do que aos demais requisitos.

No que se diz respeito ao inicio do prazo recursal, como foi visto, o mesmo e' deflagrado atraves da intimação das partes a respeito do teor da decisão profe­ rida. O Código chega a ser demasiadamente exaustivo quanto ao aspecto formal da intimação.

Também já se evidenciou que muitas vezes o prazo recursal começa a ser contado, sem que tenha sido deflagrado o procedimento intimatório. As partes, em decorrência de atitudes tomadas acabam, tendo conhecimento da decisão, independentemente de serem devidamente intimadas.

Esse tipo de situação é extremamente corriqueira nos meios forenses. A praxe forense (: repleta de situações onde a parte tem acesso a decisão que lhe prejudica, antes mesmo de ser intimada pelojudiciãrio de sua existência.

Em situações como tais, como já visto, o seu prazo começa a fluir imedia­

tamente.

Merece importância relembrar adequadamente a compreensão desse tema porque ajurisprudência dos tribunais, sob a égide do CPC/1973, indicava a pre­

sença de entendimento no sentido de que e' prematura a interposição do recurso

antes da intimação da decisão recorrida.”

Segundo essa corrente, o recurso interposto antes da intimação da deci­ são seria extemporâneo, isto e, intempestivo, ja que esta se verificaria antes de aberto o prazo ou depois de seu encerramento.

O CPC/2015 trouxe norma expressa quanto a essa questão em seu art. 218, % 4º do CPC/2015, no sentido de que “será considerado tempestivo o ato prati­

cado antes do termo inicial do prazo".

Está correto este dispositivo, pois não se sustenta o entendimento em sen­ tido contrário.

Num primeiro momento, e na sequência do itetn anterior, relembre-se que a necessidade de intimação sempre foi vista como fator de segurança para as

próprias partes. O prazo recursal somente começa a correr a partir da intimação,

ou seja, quando a parte toma ciencia (conhecimento) da existencia do ato pro­ cessual (decisão recorrida). É fator de segurança para as partes porque consiste

178. No STF. EDclRE l95.859, rel. Min. Ilmar Galvão; EDclHC 81.260, rel. Min. Sepúlve­ da Pertence. No STJ, AgRg +83055/SC, rel; Min. Hamilton Carvalhido, l7.05.200-+; ERESP 238127/Rj, rel. Min. João Otávio De Noronha, 05.04.2004; EDclREsp 3-l6352/ RS, rel. Min.]orge Scartezzini, Dj l9.l2.2003.

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I

REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE É 175

na garantia de que terão o direito e a faculdade (na verdade ônus) de optarem

pela recorribilidade da decisão ou pela concordância com a mesma. Nunca serão

surpreendidas com trânsito em julgado, sem antes terem ao menos a possibili­ dade de se insurgir. Prova maior disso e que, não havendo intimação, ou ainda sendo a mesma nula, não há que se falar em trânsito em julgado.

Tanto é verdadeiro o que ora se expõe, que e' incontroversa a compreensão

de que o prazo recursal começa a fluir a partir da ciência inequívoca da decisão

— e não da posterior intimação da parte pelo Diário ou pelo correio.

Se a parte faz carga dos autos e neles se encontra publicada a decisão judicial, como mencionamos. o prazo recursal começa a correr deste momento. Esse enten­ dimento e' manso, pacífico e nunca encontrou vozes robustas em sentido contrário.

Desta feita, se nas hipóteses de ciência inequívoca o prazo pode começar a correr antes da intimação, como se pode considerar intempestivo um dado recurso exclusivamente porque interposto antes da intimação?

Para que uma determinada corrente defenda a inadmissibilidade do recurso

interposto antes da intimação, deverá, por coerência, entender que a ciência inequívoca não faz com que o prazo recursal tenha fluência.

De outro lado, não há que se falar que o recurso não será conhecido porque

" Im

inexistindo intimação “não havia sido completada a prestação jurisdicional .

Quanto a esse aspecto, e' preciso lembrar que, uma vez publicada a decisão judicial — quer dizer, como ato processual — o interesse maior e preponderante no seu conhecimento e' das partes. A coisa julgada que recairá sobre a parte dis­ positiva da sentença somente alcança as partes, não podendo prejudicar terceiros. A prestação jurisdicional sera completa a partir do momento em que, tornan­ clo-se pública, as partes tenham efetiva ciência da mesma. Se as partes se anteci­ pam a esse momento, não e possível, por falta de fundamento, prejudica-la.

Assim sendo, e' de se louvar o posicionamento ja chancelado pelo Supe­ rior Tribunal dejustica, em jttlgado no qual a Corte Especial modificou enten­ dimento anterior para conhecer “o recurso interposto antes da publicação da

decisão no veículo oficial“.'HU

Ademais disso, revela-se inadequada a classificação dessa situação como

sendo de intempestividade. Recurso intempestivo, como cediço, e' aqttele recurso

que foi interposto após o escoamento in albis do prazo recursal. O prazo se ini­

ciou e terminou sem que a parte tivesse interposto o recurso. Se a parte interpôs o recurso antes de sua regular intimação, não há que se falar em intempestividade.

l79. Assim, STJ, AgRg no REsp 581.887-RS, rel. Min. Aldir Passarinhojunior, 08.03.2004.

ISO. STJ, Corte Especial. AgRg nos ERESp 492.46l/MG, rel. Min. Eliana Calmon, Djt' 23.l0.2006.

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176 TEORIA GERAL DOS RECURSOS cn'Eis

Doutra parte, não se pode negar que sendo interposto um recurso sem que exista a decisão recorrida nos autos, o mesmo não poderá ser conhecido. Em

situações como tais, onde a decisãojudicial não foi publicada (como ato proces­

sual), está com inteiro acerto a jurisprudência que inadmite o recurso.

Contudo, e' preciso ter presente que a situação acima descrita em nada se assemelha à intempestividade, já que se enquadra precisamente na regulari­

dade formal.

Sob a ótica da regularidade formal, como será visto no item seguinte, o recurso deve ser sempre estruturado na existência de uma decisão judicial por­ tadora de um vício, que precisa, pelas razões nele delineadas, ser anulada ou

reformada. Um recurso que assim não se apresenta, não preenche o requisito da regularidade formal.

A compreensão desse requisito, ainda que sintetica, revela que e inconcebí­

vel a admissibilidade de um recurso sem que esteja nos autos a decisão impug­

nada pelo mesmo. Se o que motiva e fundamenta o recurso é a existência de uma decisão judicial contrária aos interesses do recorrente, a própria presença dela e'

um pressuposto intransponível para a regularidade formal.

Embora em princípio não pareça crível, a situação fática ora descrita não e de dificil ocorrência, principalmente nos tribunais, onde os julgamentos são orais e os advogados podem assistir as sessões?“

É imprescindível observar que essa última situação não se assemelha em nada, absolutamente nada, com aquela mencionada antes, em que ha decisão publicada nos autos, mas a parte ainda não foi regularmente intimada.

A interposição do recurso sem a intimação da parte — desde que publicada a decisão recorrida — apenas [az presumir que ela teve conhecimento da decisão de outra forma. Há que se aplicar, em tais hipóteses, o mesmo e correto entendi­

mento a respeito do inicio do prazo recursal ante a ciência inequívoca. 9.3. I .2. A interrupção do prazo recursal

O art. 1.00—i do CPC/2015 com redação semelhante à existente nas versões

anteriores do Código de Processo Civil?" regula parcialmente esse assunto da

181. Assim. não se conheceu de agravo regimental porque. “a circunstância da ata de sessão de julgamento ser publicada após a divulgação do acórdão embargado não tem o con­ dão de alterar o termo inicial da contagem do prazo recursal" (STJ. AgRg no EDiv No REsp 60-H40-SP. rel. Min. Paulo Gallotti. 18.l2.2006).

[Sl. 0 art. 813. do Código de Processo Civil de 1939, tinha a seguinte redação: ““Se, durante

o prazo para a interposição de recurso sobrevier o falecimento da parte ou o de seu

advogado, ou se verificar-se a hipótese prevista no art. 197, n. 1. será tal prazo resta­

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REQUISITOSDEADMISSIBILIDADE ! 177

seguinte forma: “Se, durante o prazo para a interposição do recurso, sobrevier o

falecimento da parte ou de seu advogado ou ocorrer motivo de força maior que suspenda o curso do processo, será tal prazo restituído em proveito da parte, do herdeiro ou do sucessor, contra quem começara a correr novamente depois da

intimação.“.

Esse dispositivo legal consagra uma situação que decorre do próprio sis­ tema, qual seja, a possibilidade de o prazo do recurso ser “interrompido“ após

já ter sido deflagrado. Apesar da importância que o decurso do prazo representa

para o processo, seja quando há a interposição do recurso seja quando decorre in albis, o nosso sistema criou regras que permitem a sua “interrupção“. Como

adverte Alcides De Mendonça Lima, o prazo “podera ser abrandado ou relegado

mediante a formulação legal de cada direito positivo, segundo as tradições ou circunstância hodierna especial, conforme a mentalidade operante".'"ª

O artigo em epígrafe consagra uma hipótese de interrupção do prazo recur­ sal. A interrupção se dá quando após iniciado o prazo ocorre um evento previsto na lei que leva a que o prazo comece a fluir novamente, por inteiro. Na interrup­ cão, ao contrario da suspensão, o recorrente tem de volta todo o tempojã decor­

rido. O prazo é reiniciado. já na suspensão, não se recupera o lapso decorrido. Cessado o evento, o prazo começara a correr a partir do ponto em qtte parou.

O regime da interrupção é evidenciado nesse dispositivo legal, quando a lei diz que “sera tal prazo restituído". Não se refere, o Código, a restituição de parte

do prazo ou o que dele restar. Ademais disso, a redação e' diferente também da prevista no art. 221 do CPC/2015 que trata de suspensão. Neste, o Código fala

que o prazo vai ser restituído por tempo igual ao que faltava para a sua comple­

mentação, ao passo que, naquele, o Código simplesmente diz que o prazo será

restituído.”H

correr novamente, depois da notificação". No CPC/1973, a materia vinha tratada no

art. 507, com a mesma redação do art. 1.004 do CPC/lºl 5. 183. LIMA, Alcides de Mendonça. Introdução aos recursos civis, p. 281.

184. Nesse sentido, se manifesta a maioria absoluta da doutrina: Pontes De Miranda, Co­

mentários ao Código de Processo Civil (l973), [. Vll, p. 138; Barbosa Moreira. Conten­ la'rios ao Código de Processo Civil. p. 362; Sérgio Bermudes, Comentários ao Código de Processo Civil, v. 7. p. 98: Rogerio Lauria Tucci, Curso de direito processual civil, v. 3, p. 263; Moacyr Amaral Santos. Primeiras linhas de direito processual civil, v. 3, p. 85; Vicente Greco Filho. Direito processual civil brasileiro, v. 2, p. 274; Antonio Carlos Cos­ ta e Silva, Dos recursos em primeiro grau de jurisdição, p. 68“, Jônatas Millioniens, Dos recursos cíveis. p. 141; Sergio Sahione Fadel, O processo nos tribunais, p. 162; Orlando de Assis Corrêa. Recursos no Código de Processo Civil, p. 58: Pinto Ferreira, Teoria e prática dos recursos e da ação rescisória no processo civil, p. 69.

(16)

178 TEORIA GERAL DOS RECURSOS CÍVEIS

O art. 1.004 do CPC/2015 demonstra uma preocupação do legislador em isolar as causas de interrupção do prazo recursal. Em razão da interrupção do

prazo ser desvantajosa para o sistema, certamente a técnica utilizada pelo legis­

lador foi buscar entre as causas de suspensão do processo duas circunstâncias consideradas por ele mais graves, e arrolã-las como hipótese de interrupção do

prazo recursal.

Assim estabeleceu o Código. como causas de interrupção do prazo recur­ sal, o falecimento da parte ou de seu advogado e a ocorrência de força maior.

Esses dois acontecimentos são causas de suspensão do processo, expressamente

previstos no art. 313, I (em parte) e Vl do CPC/2015.

Quanto a primeira hipótese, preferiu o legislador excluir a perda da capa­

cidade processual da parte ou de seus representantes, situações previstas no inc. I do art. 313 do CPC/2015 que possibilitam a suspensão do processo. Refere—se,

portanto, a situação especial de falecimento da parte ou de seu advogado.

Essas causas de interrupção somente têm aplicação após o início do prazo e antes do seu término. Se o fato ocorreu antes do inicio do prazo, o processo ficara

suspenso por força do art. 313, l do CPC/2015, e a parte não será intimada para

recorrer. Se ocorreu depois, já terá havido preclusão temporal. Além disso, e' neces­ sário, tratando-se de falecimento do advogado, que exista somente um procurador constituido nos autos. pois, caso contrário, o outro poderá interpor o recurso.

A rigor, não parece que a morte da parte recorrida, isto e'. totalmente vito­

riosa com a prolação da decisão. ou de seu procurador, seja capaz de inter­

romper o prazo recursal. Se para a suspensão do processo basta o falecimento de qualquer uma das partes, ou do advogado, quanto a interrupção do prazo

recursal a situação e' diferente.

O falecimento que interessa a interrupção e' o da parte recorrente ou de seu

advogado, exatamente porque somente nessas hipóteses e' que o evento pode

acarretar o embaraço ao prosseguimento normal do feito, pela sucessão da parte e pela impossibilidade de providências imediatas.IRS

A segunda causa de interrupção do prazo recursal, arrolada pelo art. 1.004

do CPC/2015, e' a ocorrência de força maior. Essa força maior de que a lei cogita

185. SEABRA FAGUNDES. Dos recursos ordinários em matéria civil. p. 83. Da mestria for­ ma, no Código passado. Pontes De Miranda, Comentários ao Código de Processo Civil (l939). t. Xl. p. 74; MARTINS. Pedro Batista. Recursos e processos da competência origi­

naria dos tribunais, p. 177; BERMUDES. Sergio. Curso de direito processual civil (Recur­

sos). p. 32. No Código atual. Pontes De Miranda, Comentários ao Código de Processo Ci­ vil (l973), t. Vll, p. 138; BERMUDES. Sérgio. Comentários ao Código de Processo Civil, v. 7, p. 98; E SILVA, Antonio Carlos Costa. Dos recursos em primeiro grau dcjurisdicao, p. 70; MlLHOMENS.Jônatas. Dos recursos cíveis, p. 142.

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REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE 1 179

e' de natureza transindividual, unica capaz de suspender o curso do processo, nos termos do art. 313, Vl do CPC/2015. Se a força maior for somente restrita ao litigante recorrente, não será caso de suspensão do processo. mas sim de restituição do prazo.““

Essa conclusão e' possível de se aferir com a análise sistemática dos arts. 1.004 e 313, Vl do CPC/2015, pois, o art. 1.004 faz referência expressa a força maior capaz de suspender o processo; e, tal força maior, e' exatamente a que está prevista no art. 313, IV do CPC/2015. Dessa forma, e' possível notar que a força maior prevista no art. 1.004 e capaz de interromper o prazo recursal e' a mesma que possibilita a suspensão do processo, referenciada no art. 313, Vl do

CPC/2015.

A força maior de que estamos falando e eminentemente transindividual. isto e', capaz de atingir todas as partes do processo. Se atingir apenas uma das partes,

não será capaz de suspender o processo e, muito menos, interromper o prazo

recursal. eis que para o Código, a força maior transindividual e' que importa.

Se a força maior for capaz de perturbar o feito de modo geral, haverá a interrupção do prazo reeursal.'"7 Se somente atingir a parte vitoriosa, em nada alterarã o prazo recursal, pois esta parte não tem interesse em recorrer. Se atin­ gir unicamente a parte vencida, não será caso de interrupção, mas, sim de justo

impedimento ou justa causa, capaz de possibilitar a restituição do prazo, como se

verá a seguir.

9.3.1 .2.1. Os embargos de declaração

Outra causa que acarreta a interrupção do prazo recursal, apesar de não

estar prevista no art. 1.004, e' a interposição de embargos de declaração.

Sua interposição, no inicio da vigência do CPC/1973, era causa de suspensão do prazo recursal. Com a modificação introduzida pela Lei 8950/1994 ao art. 538

do CPC/1973, os embargos de declaração passaram a interromper o prazo para

outros recursos. O CPC/2015 manteve a mesma redação, em seu art. 1.026. Com efeito, para a compreensão desse fenômeno, e' preciso ter presente ini—

cialmente que os embargos de declaração são inquestionavelmente sui generis:

são de fundamentação vinculada, ou seja, seu cabimento fica adstrito a alegação

l86. Com esse entendimento, Pontes De Miranda. Comentários ao Código de Processo Civil, [. VII, (1973). p. l37; Barbosa Moreira, Comentários ao Código de Processo Civil, v. 5. p. 364 e ss.

187. Nesse sentido. parecer de Alcides de Mendonça Lima, Calamidade pública — Prazo para

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REQUISITOSDEADMISSIBILIDADE % 181

Assim, proferida uma decisão interlocutória a parte podera agravar ou então, havendo um dos vícios do art. 1.022, CPC/2015, opor embargos de

declaração. Se for a hipótese dos embargos, após o seujulgamento — e integrada a decisão embargada por aquela que osjulgou — essa mesma parte podera mane­

jar o seu recurso de agravo.

ldêntico raciocinio se passa com todos os recursos e projeta inclusive refle­

xos peculiares quanto ao efeito suspensivo. como se verá no item 11.6.2.4. É certo, porém, que existem particularidades decorrentes da natureza dos recursos previstos pelo Código. Se estivermos diante de recursos ordinários, nada impede que a parte já se utilize do recurso tipico para obter a anulação da decisão em decorrência obscuridade, contradição ou omissão; ao passo que se tratando de recursos extraordinários (estrito direito) — e existindo um desses vícios — os embargos de declaração são necessários para que previamente seja

enfrentada e decidida essa questão.

Mas observe-se que essas consequências distintas não decorrem dos embar­ gos de declaração, mas sim das espécies recursais, cada qttal dotada de escopos próprios e especiÍicos.

Toda essa sistemática e' que fez com que o legislador prescrevessc o fenô­ meno da interrupção do prazo para a interposição do recurso tipico (adequado)

quando opostos os embargos de declaração.

Segundo o legislador, essa interrupção se da para ambas as partes, ou seja,

tanto para a parte que se utilizou dos embargos de declaração, quanto para a

parte contrária.

Examinemos a pritneira situação: a interrupção do prazo para a parte

embargante.

Em tal hipótese, uma vez interpostos os embargos de declaração, e' natttral

que a embargante aguarde o julgamento desse recurso para que posteriormente, tendo sido restabelecido todo o prazo recursal, utilize-se do recurso tipico.

Questão interessante pode surgir, quando a parte se socorre ao mesmo

tempo (simultaneamente ou não) dos dois recursos: os embargos e o recurso tipico. Em que pese ser possível dizer qtte situações como essa dificilmente

aconteceriam, o certo e que a realidade forense demonstra exatamente o contrá­

rio. Muitas vezes, por erro, desconhecimento ou até mesmo urgência, ambos os recursos são interpostos.

A solução para esse problema encontra-se, segundo pensamos, na inci­ dência em nosso sistema recursal do fenômeno da preclusão. Como se verá, com mais vagar, ao examinarmos o principio da singularidade (item 10.23), a interposição de um recurso faz com que ocorra a preclusão consumativa e, por

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REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE 183

Com efeito, resta evidente que essa regra tem por função precípua beneficiar a outra parte, que não se utilizou dos embargos de declaração. E isso porque, com o julgamento dos embargos pode surgir ou mesmo ampliar o interesse em recor­

rer, em decorrência da correção de um dos vícios processuais apontados pelo

embargante.

Assim, facultou o Código de Processo Civil que a parte, ao invés de se insurgir imediatamente, aguarde o julgamento dos embargos de declaração e verifique se o prejuízo que legitima sua impugnação permanece o mesmo ou se

foi ampliado.

Observe, assim, que se trata de uma regra criada para facilitar e beneficiar a parte, já que a interposição itnediata do recurso nunca poderá prejudica-la. Havendo modificação da decisão embargada, em decorrência do provimento

dos embargos de declaração, podera complementar nessa medida o recurso interposto.“

O CPC/2015 trouxe regra expressa prevendo a possibilidade de comple­ mentação. É o que se vê no art. 1.024, & 4º: “caso o acolhimento dos embar­ gos de declaração implique modificação da decisão embargada, o embargado que já tiver interposto outro recurso contra a decisão originaria tem o direito de complementar ou alterar suas razões, nos exatos limites da modificação, no

prazo de 15 (quinze) dias, contado da intimação da decisão dos embargos

de declaração”.

De outro modo, interposto o recurso típico, e, não havendo modificação da

decisão embargada, esse recurso terá o seu curso normal.

Sempre defendemos, em edições anteriores, que uma vez interposto o

recurso, quando também opostos embargos de declaração pela parte contrária, o mesmo serájulgado naturalmente, sem que se possa cogitar de sua inutilidade posterior ou mesmo da necessidade de sua ratificação'º'

As razões para tal assertiva são muitas e um tanto óbvias: (i) a regra existe

para facilitar a atuação do recorrente. nunca para prejudica—lo; (ii) a parte, como regra, interpõe o recurso tipico antes de saber da existência ou não de embargos

190. Assim, Nelson Neryjr., Pn"ncipiosfundamentais: teoria geral dos recursos, item 2.9, p. 151; Ada Pellegrini Grinover e outros, Recursos no pmcesso penal. item 15, p. 39; Bernardo Pi­ mentel Souza, lntmduçáo aos recursos cíveis e a ação rescisória, item 10. l 1, p. HS.

l9l. Nesse sentido: “Processual Civil — Apelação — Sua interposição na pendência de julga­ mento de Embargos de Declaração. ]. Não e intempcstiva a apelação interposta duran­ te a suspensão do prazo. pela oposição de embargos de declaração. pela parte contrária, desnecessária a sua ratificação apos o reinicio da contagem do prazo sobejante" (STJ.

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184 & TEORIA GERAL 005 RECUIGOS civets

opostos pela parte contrária; (iii) o recurso tipico interposto e' ato processual

existente, válido e eficaz; (iv) os embargos de declaração podem não ser conhe­ cidos e nesse caso o prazo não será interrompido; (v) e' estranha ao processo civil norma legal que preveja a reiteração dos embargos de declaração; (vi) a fluência

do prazo recursal pode dar-se de forma diferente para as partes, de modo que o prazo para uma delas pode ter se esgotado e para a outra nem se iniciado (basta pensar em ciência inequívoca); (vii) inexiste preclusão lógica, perda de inte­

resse ou renúncia tácita pela não modificação da decisão embargada etc.

Contudo, na última década de vigência do CPC/1973, a discussão a res­ peito desse assunto ganhou relevo, porque o Superior Tribunal de justiça, por intermédio de sua Corte Especial, decidiu por maioria de votos, que "e prema­ tura a interposição de recurso especial antes do julgamento dos embargos de declaração, momento em que ainda não esgotada a instância ordinaria e que se encontra interrompido o lapso recursal“.'ol

Esse entendimento, aliás, motivou o Superior Tribunal de Justiça a edi­ tar a Súmula 418, com a seguinte redação: "É inadmissível o recurso especial interposto antes da publicação do acórdão dos embargos de declaração, sem

posterior ratificação“.

O entendimento externado no referido julgado, aplicavel unicamente aos

recursos extraordinários (especial, extraordinário e embargos de divergência) — e não aos demais recursos — fundamentou-se, basicamente, em dois argumentos. O primeiro, em razão de o recurso especial somente ser cabível contra a deci­ são de última instância, isto e', há necessidade de utilização de todos os recursos ordinários disponíveis ao recorrente para que possa se socorrer do recurso excep— cional. Desse modo, como a decisão dos embargos integram a decisão embargada, aquela decisão recorrida não seria a de “última instância“ (art. 105, lll, CF/1988).

O segundo argumento residiria na circunstância de ser intempestivo o recurso interposto quando interrompido, pelos embargos de declaração, o

prazo recursal.

Cobra relevo destacar que, apesar de tal entendimento também ser pres­ tigiado no âmbito do STF"", e' certo qtte nesta Corte essa questão ainda não

havia sido sedimentada. Tanto assim que, recentemente, a 1“ T.. em acórdão da lavra do Min. Marco Aurelio Melo. decidiu que não há necessidade de ratificação

do recurso extraordinário quando a decisão dos embargos de declaração não

192. STJ, REsp. 776.265/SC. Corte Especial.j. 18.04.2007. rel. Min. Cesar Asfor Rocha. 193. Al 571.064/RS-AgR. 1 T.. rel. Min. Ricardo Lewandowski, ch 06.06.20081Al 650.66y

SP-ED. Pleno. rel. Min. Ellen Gracie, ch 30.05.2008; RE 266.251/SP-AgR. 2ª T., rel.

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REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE 185

modifica o acórdão recorrido. É o que se deixa nítida sua ementa: “O recurso

extraordinário surge oportuno ainda que pendentes embargos declaratórios

interpostos pela parte contrária, ficando a problemática no campo da prejudi­

cialidade se esses últimos forem providos com modifIcação de objeto“.'““

Em razão das críticas verificadas no âmbito doutrinário, o CPC/2015 dis­

pôs que não há necessidade de ratiftcação. E assim o fez no art. 1.024. & 5º. com a seguinte redação: "Se os embargos de declaração forem rejeitados ou não alte—

rarem a conclusão do julgamento anterior, o recurso interposto pela outra parte

antes da publicação do julgamento dos embargos de declaração será processado

e julgado independentemente de ratificação".

Com inteiro acerto o novo CPC. O entendimento sedimentado no âmbito do Superior Tribunal dejustiça, com o devido respeito, nunca se amoldou a sis­

temática recursal preconizada, seja pelo CPC/1973, seja pelo CPC/2015 — este ultimo, alias, com referência expressa.

A razão que nos parece fundamental reside precipuamente no caráter sui generis do recurso de embargos de declaração. Como já visto, a essência dessa

espécie recursal impede que ela seja analisada sob a mesma lente que as demais, cujas características e efeitos a ela não se amoldam.

Não pode o intérprete atribuir aos embargos de declaração as características

e consequências inerentes aos demais recursos. É claro que o legislador cons­ titucional, quando menciona o cabimento de recurso especial apenas contra

decisão de “última instância", esta se referindo à utilização de todos os recursos

disponíveis para as partes com o escopo reformar ou anular a decisão judicial. 0 que não se quer admitir é a interposição do recurso especial per saltum, por isso e' que se exige que sejam utilizados todos os recursos ordinários para a modificação da decisão judicial. 0 esgotamento da instância ordinaria deve ser

visto dessa forma.

Os embargos de declaração não se amoldam a isso. Todas as características desse recurso evidenciam a necessidade de trata-los de forma diferenciada.

O simples fato de o recurso de embargos de declaração ser, como e', um recurso “intermediário", destinado a supressão de vícios específicos (omissão,

obscuridade, contradição) pelo proprio orgão prolator da decisão — e, portanto,

na mesma instancia judicial —, ja denota claramente que não pode ser relacio­ nado com o “esgotamento das instâncias ordinárias".

Para se defender o contrário, haveria que se sustentar que os embargos

de declaração são sempre obrigatórios — mesmo que manifestamente incabiveis

—. uma vez que, ainda que improvidos, teriam o condão de levar a prolação da

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188 É TEORIA GERALDOS RECURSOS civms

tratamento a hipótese de obstáculo criado pelo próprio juizo. Segundo Seabra Fagundes, essa circunstancia resulta da própria natureza das coisas e encerra norma elementar de justiça. A parte não pode superar obstaculos criados ao seu direito de recorrer pelo defeituoso funcionamento do serviço judicial, nem

tampouco é justo que sofra as suas consequências danosas.lua

Situação que exemplifica bem essa questão e' a paralisação dos serviços car­ torarios, oriunda de greve dos servidores. A paralisação dos serviços — obstaculo

criado peloJudiciario — quando em andamento o prazo recursal, faz com que o

mesmo seja suspenso. Com a retomada dos trabalhos forenses, o recorrente terá de volta os dias que sobejarem.

ldentico raciocínio pode ser feito na hipótese de perda ou sumiço dos autos em Cartório. Em tal caso, não tendo acesso aos autos, em especial para recorrer

da decisão contrária aos seus interesses, obviamente que a parte não poderá ser prejudicada. Havendo a confirmação dessa circunstância, como, por exemplo,

mediante certidão fornecida pelo escrivão, deverá o juiz conferir a parte os dias

restantes para a interposição do recurso.

É de se notar que a suspensão do prazo, em razão da paralisação dos servi­ ços cartorários — obstaculo criado pelo própriojudiciario, não se confunde com a regra prevista no art. 224, & lº do CPC/2015.

O art. 224, % lº do CPC/2015, refere-se a contagem dos prazos e dispõe que ele seja prorrogado até o primeiro dia útil, se o vencimento cair em dia em que for determinado O fechamento do fórum. Veja-se que esse artigo refere-se a situação em que no vencimento do prazo, o serviço cartorãrio não funciona.

Por esse motivo, não deve ser correta a interpretação que considera o prazo prorrogado até o primeiro dia útil, quando o obstáculo e' criado pelo

próprio judiciário.

Com efeito, não deu tratamento diferente ao obstáculo criado pela parte ou

pelo judiciario. Muito pelo contrário. O Código previu apenas como causa de suspensão do prazo recursal, obstaculo criado por uma das partes.

A circunstancia do Código disciplinar no art. 224, % lº do CPC/2015, que o prazo fica prorrogado para o dia seguinte, quando no último dia for determi­ nado o fechamento do fórum, em horário diferente do normal estabelecido para

a Comarca, não significa que esse dispositivo disciplina as hipóteses de obstacu­

los criados pelojudiciário.

l98. SEABRA FAGUNDES. Dos recursos ordinários em matéria civil. p. 82—83. Com o mes­ mo entendimento. BARBOSA MOREIRA. Ctmlcntários ao Código de Processo Civil. v. 5. p. 363; PONTES DE MIRANDA. Comentários ao Código de Processo Civil, t. ll

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REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE 3 189

Para que fique mais nítido esse entendimento, basta verificar uma Situação

em que o obstáculo criado pelojudiciãrio não acarrete o fechamento do fórum. Se a referência para o tratamento desigual e o art. 224, nesse caso, ele não terá

qualquer relevância.lw

A seu turno, uma diferença que pode ser verificada entre as causas de sus­ pensão do prazo recursal e' que nas hipóteses dos arts. 220 e 221, parágrafo único, isto e' entre os dias 20 de dezembro e 20 de janeiro, bem como durante a execução de programa instituído pelo Podcrjudiciãrio para promover a auto­ composição, não haverá necessidade de decisão judicial determinando a resti­

tuição do prazo que sobejar ao recorrente. Trata-se de uma situação automática. Encerrados esses períodos, o prazo recursal automaticamente recomeça a correr.

Os outros casos dependem de decisão do juiz determinando o reinício do prazo

recursal.

Doutra parte, o fato da interrupção ou suspensão ser, de regra, reconhecida

pelo pronunciamento jurisdicional, não implica a necessidade de ser feita ime­ diatamente ou antes de escoar o prazo. Nada impede que a parte, após cscoado o prazo, va a juízo, denuncie o acontecimento e requeira a restituição do prazo

para recorrer, em razão, por exemplo, da ocorrência de força maior. 0 pro­

nunciamento judicial possui natureza declaratória. Rcconhecerã que o prazo foi

suspenso ou interrompido em determinado momento, em razão de determinado

acontecimento.

Já o reinício da fluência do prazo, começara a partir da intimação da deci­ são que admitir a habilitação, no caso de falecimento da parte; da intimação do novo procurador constituído, na hipótese de falecimento do advogado; da

intimação de cessação da força maior; da intimação de que os autos encontram­

-sc em cartório e assim por diante. Com isso, quer-se dizer que o prazo. seja na hipótese de interrupção, seja na hipótese de suspensão, iniciar-se-ã após a inti­ mação da parte, de que o impedimento que motivou a “interrupção" do prazo recursal foi afastado. Exceção, e claro, ocorre, quando a suspensão advém das duas hipóteses acima, quando será automática.

199. Atribuindo a falha ao próprio serviço forense que permitiu a retirada dos autos quando

existente prazo comum, decidiu o Superior Tribunal de Justiça que o prazo recursal

deve ser suspenso: “Processual civil — Obstãculo processual — Retirada dos autos de cartório por uma das partes — Devolução do prazo recursal — Embargos de declaração — Efeitos Inodiftcativos. 1. Evento causado por iIICtiria do próprio sewicoforcnse, que permitiu a saída dos autos durante a fluência de prazo comum. 2. A lei não estipulou deva a parte prejudicada denunciar ao juiz a ocorrência da obstrução, necessariamente,

enquanto pendente sua ocorrência. 3. A restituição do prazo deve limitar—sc àquela

porção que resultou, de fato, atingida pelo obstáculo criado pela parte contrária" (STJ, REsp 6.655-0-ES. 4ª T.. j. 15.09.1992, rel. Min. Bueno de Souza, RST] 45/148).

(28)

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190 [ TEORIA GERAL DOS RECURSOS civers

9.3. 1.4. A justa causa (justo impedimento) como motivo para a interposição do recurso após esgotado o prazo

Quando falamos sobre a força maior, como causa de interrupção do prazo recursal, dissemos que a mesma não se confundia com o justo impedimento ou com a justa causa, porque aquela se revela como circunstância de repercussão transindividual e, como tal, capaz de interromper o curso do prazo.

Com efeito, o justo impedimento ou justa causa possibilita que a parte, mesmo tendo deixado escoar in albis o prazo recursal, interponha o recurso. O justo impedimento funciona como um evento imprevisto, que justifica a inter­

posição do recurso, mesmo após o decurso do prazo recursal.

Veja-se que não se trata de interrupção ou de suspensão do prazo. Nessas duas figuras, 0 evento e' capaz de impedir que o prazo de 15 dias para interpor o recurso de apelação, por exemplo, tenha o curso normal. Essas duas figuras

impedem o curso normal do prazo. A interrupção faz com que o prazo seja con­

tado novamente após o afastamento da causa enquanto na suspensão, o evento possibilita que a parte utilize o restante do prazo, após o seu afastamento.

No justo impedimento, o evento não impede o transcurso do prazo, como na interrupção ou suspensão. Simplesmente possibilita que, dada a gravidade

do acontecimento, a parte tenha uma oportunidade para interpor o recurso,

mesmo após o seu completo escoamento.

O justo impedimento não se confunde com a força maior. Esta e' de natu­ reza transindividual e atinge o processo de maneira generalizada. Ojusto impe­ dimento e um acontecimento que somente repercute na pessoa daquele que pretende recorrer isoladamente. O fato atinge a parte impedindo-a, assim, de interpor o recurso pretendido.

No entanto, não há como negar que todo motivo de força maior, suscetível

de fazer suspender o processo e interromper o prazo, implica, afortiori, justa causa da omissão em praticar o ato. A recíproca, todavia, não e' verdadeira. De

qualquer modo, os efeitos se diversificam: “Se a “justa causa” reside em motivo

de força maior, interrompe o prazo; se ha “justa causa' sem que se possa falar em força maior, o prazo não se interrompe, mas o prejudicado tem direito à

restituição“.ªº“

O principal problema que surge quando se examina o justo impedimento

e' estabelecer, ou no mínimo fixar, critérios objetivos para a sua identiÍicação.

O art. 223 do CPC/2015, ao possibilitar a restituição dos prazos, em razão

da existência de justa causa, fornece um conceito para esse evento, nos seguintes

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l

REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE ? 191

termos: “Considera-se justa causa o evento alheio à vontade da parte e que a impediu de praticar o ato por si ou por mandatário".

Transportando esse conceito, que se refere aos prazos em geral, para os

recursos, o que em nosso entender e' perfeitamente possível, nota-se que o mesmo e' insuliciente. Não há dúvida de que o justo impedimento encerra uma situação que impede a prática do ato, no caso, a interposição do recurso. Todavia, a dificul­ dade (& justamente estabelecer a extensão e a caracterização dessa situação.

A primeira observação a ser feita e' que esse evento deve atingir, de regra, o advogado e não a parte. E o advogado que pratica o ato de interposição do recurso e não a própria parte. Somente em uma situação em que a interposição do recurso

de ende da arte, como or exem lo renúncia do advo ado ao mandato, e' ue

P P , . q

a mesma pode ser elevada ao patamar de justo impedimento-ª““02

Como elemento objetivo para a caracterização do justo impedimento, pode—

-se dizer que o evento deve ser de tal porte, que qualquer advogado, na mesma

situação, também não será capaz de interpor o recurso no prazo ajustado.

Se se chegar a conclusão de que qualquer outro advogado, diante dessa mesma situação criada pelo evento, também va tomar a mesma atitude, qual

seja, deixar de interpor o recurso, haverá sempre justo impedimento. É o que se

exige, portanto, do homem médio.

Essa abordagem comparativa permite, segundo entendemos, tratar de forma

mais objetiva o justo impedimento. A circunstância do evento ser imprevisto e alheio não possibilita a exata compreensão dessa Figura. É necessário também um elemento de comparação, pois, se qualquer outro advogado naquela mesma

situação, não puder interpor o recurso, ai Sim, esse evento imprevisto e alheio a

vontade do advogado torna-se capaz de caracterizar o justo impedimento. As situações em que podem ser veriÍicadas a existencia de justo impedi­

mento são variadas.lm A mais examinada e referida pela jurisprudência cinge-se

a saber se a doença do advogado pode ser enquadrada nessa situação.

201. Ibidem.

202. Somente em casos excepcionais e que a renúncia ao mandato, durante o curso do prazo recursal, pode ser vista como justo impedimento. Se a parte estiver internada

em grave estado de saúde, quando receber a noticia da renúncia, parece evidente que

haverá justo impedimento. Sobre esse assunto, inadmitindo a possibilidade de justo

impedimento quando da renúncia ao mandato. ver Dorival Renato Pavan, A renúncia ao mandato e o prazo recursal, RcPro 89/102.

203. O extinto Zº TACivSP [extinto] considerou que "não caracteriza justa causa para a

restituição do prazo recursal o fato de o ufpcc boy ter sua pasta furtada, que continha

o recurso a ser protocolado, pois o evento não envolve pessoas encarregadas do ato processual" (Agln 517.588, 9ª Câm., j. 04.02.1998, rel. juiz Francisco Casconi, Bol.

(30)

192 TEORIA GERAL DOS RECURSOS ClVElS

O extinto 2o TACivSP já chegou a decidir que a “doença de advogado por

expressar lato previsível a que todos os mortais estão sujeitos, não consubstan­

cia justa causa, suficiente para se conhecer de recurso com prazo já esgotado".ªª"

De um modo geral, a jurisprudência tem entendido que a doença do advo­

gado não pode ser considerada justo impedimento. No entanto, não de forma tão rigorosa como o julgado acima. O que se tem entendido e' que se a doença mani­ festa-se nos últimos dias do prazo, tal fato não deve ser levado em consideração,

pois, nesse caso, o advogado assumiu o risco dai decorrente, eis que doenças podem ocorrer a qualquer tempo, impossibilitando a interposição do recurso.“

Realmente, se existir apenas um advogado constituido pela parte e, se durante todo o prazo recursal, ele for acometido por uma doença grave, que o impeça de praticar qualquer ato, não há como negar que haverá justo impedimento, eis que, qualquer outro advogado, nessa mesma situação, também não teria como interpor o recurso, ou até mesmo, substabelecer os poderes para outro.

O prazo que terá o advogado para interpor o recurso, em qualquer hipó­ tese de justo impedimento, deverá ser visto sempre concretamente. O 5 2º do art. 223 do CPC/2015 simplesmente diz qtte o juiz permitirá a interposição do

recurso no prazo que lhe assinar.

9.3. 1.5. A irrelevância da vontade das partes para suspender ou interromper o prazo recursal

O nosso sistema processual, corretamente, não empresta relevância a von­

tade das partes, para suspender ou interromper o curso do prazo recursal, estando rigorosamente, fora da disponibilidade das partes (materia de ordem pública).

O prazo recursal, como já tivemos oportunidade de demonstrar, está

intrinsecamente ligado a um dos valores funcionais do próprio direito, que e' a segurança jurídica, motivo pelo qual é improrrogável e lalalªº“

Prevalece, in casu, a consideração do interesse público, para consolidar certas situações jurídicas. ““Aqui o interesse público está em que, trancada a

AASP 2063 B a 19. 07. 1998, p. 5). Já () lº TACiv SP [extinto] já havia decidido que não configurajusto impedimento a alegação de qtte o advogado ficou preso no metrô (Ap. 113.279- 9, 5ª Câm., rel. Juiz Álvaro Torres,j. 23.10.2002).

204. 2º 'l'ACivSP Iextintol, El [86.867-3—1, 4ª Câm.,j. 16.09.l986, rel. juiz Telles Correa.

jTACSP-RT 105/302.

205. Neste sentido, extinto 2“ TACivSP [extinto], Agln 231.282, 5“ Câm., j. 30.l 1.1988 rel. Juiz Sebastião Amorim,]TACSP—RT l15/3l7; 2" TACivSP [extinto], Agln 481.534-0/3.

3" Cam., j. ll.03.l997, rel. Juiz Milton Sanseverino.

(31)

REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE ; 193

demanda a falta de recurso, ou prosseguindo com a interposição dele em prazo

" lOT

limitado, a paz social se consolide o mais rapidamente possível .

Nem mesmo a disposição do art. 190 do CPC/15, prescrevendo a possibi­

lidade de as partes estabelecerem negócio jurídico processual e' capaz de permi­

tir que seja estipulada disposição de vontade no sentido de prorrogar o prazo

recursal após o seu início.

O interesse público, preconizado pela real possibilidade da formação da coisa julgada, afasta o interesse dos particulares e impede a possibilidade de convenção das partes de dilatar o prazo recursal. bem como suspende-lo ou interronipê-lo.ª“'ªª”

9.3. 1.6. O prazo em dobro para recorrer

O Código de Processo Civil abre, em algumas situações. a possibilidade de

as partes utilizarem o prazo em dobro para recorrer.

A primeira delas é o benefício concedido a Fazenda Pública e ao Ministério Público. Os arts. 180 e 183 do CPC/2015 dispõem expressamente que a Fazenda

Pública e o Ministério Público terão o prazo em dobro para recorrer. Isto quer

dizer que a Fazenda Pública e o Ministério Público, seja como parte ou Esca] da

ordem jurídica, poderão utilizar-se do dobro de dias previstos para a interposi­ cão dos recursos, em razão da relevância da função que exercem e defendem, bem como pelas dificuldades encontradas por seus representantes em juízo.

207. SEABRA FAGUNDES. Dos recursos ordinários em materia civil. p. 79.

208. Nesse sentido. António Alberto Alves Barbosa, Da preclusão processual civil. p. 138: Jose” Frederico Marques, Instituições de direito processual civil, v. +, p. 62; Pontes de Miranda. Comentários ao Código de Processo Civil (1973), [. Vll. p. 139; Alcides de Mendonca Lima. lntroducc'to aos recursos cíveis. p. 285; Sergio Bermudes. Comentários ao Código de Processo Civil. v. 6. p. 100; Barbosa Moreira. Ojutzo de admissibilidade no sistema dos recursos civis. p. lOl: Comentários ao Código de Processo Civil. v. 5, p. 362; Moacyr Amaral Santos, Primeiras linhas de direito processual civil, v. 3, p. 85; Vicente Greco Filho. Direito processual civil, v. 2. p. 274. Em sentido conforme. ressalta Salva­ tore Salta. Manual de derecho procesal civil. v. I . p. 407: “Las impugnaciones de las sen­ tencias esta'n sujetas a te'rminos que la ley misma (art. 326) define como perentorios. Esto esta' dentro de la lógica de la intrínseca vincttlación de las impugnaciones con el proceso. y de la exigencia de certeza que hace de limite al acondicionamiento dela cosa juzgada a la aceptación de la parte".

209. “Processo civil — Fluência de prazo recursal — Suspensão/interrupção — Convenção das partes — Arts. l80. 182 e 265. ll. CPC Il973l — Doutrina — Recurso desacolhido — As partes. por convenção, não se faculta sttspender prazo recursal, haja vista que peremp­ tório" (REsp l0.86+/SP. +“ T.. rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira).

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