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Colóquio Timor: Missões Científicas e Antropologia Colonial

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Academic year: 2021

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Colóquio

Timor: Missões Científicas e Antropologia Colonial

Ana Cristina Roque e Vitor Rosado Marques

IICT – Departamento de Ciências Humanas / Programa de Desenvolvimento Global

Nos dias 24 e 25 de Maio, realizou-se no Arquivo Histórico Ultramarino do Instituto de Investigação Científica Tropical (IICT), o Colóquio Timor:

Missões Científicas e Antropologia Colonial1. O Colóquio resultou de

uma parceria entre o IICT e o ICS, no âmbito de projectos financiados pela FCT no quadro da História da Ciência, e teve como principal objec-tivo dar visibilidade à mais recente pesquisa sobre história da ciência portuguesa em Timor Leste, durante o período da presença portuguesa na ilha. Tal propósito visava igualmente contribuir para dinamizar o interesse pela História de Timor e pelo papel nela desempenhado pela investigação científica. Por sua vez, através de uma compreensão his-tórica mais aprofundada da realidade timorense, esperava-se também contribuir para a compreensão da situação presente deste país, aju-dando a identificar dificuldades actuais e a cooperar na sua resolução.

O Colóquio reuniu investigadores Portugueses e Timorenses e foi enquadrado por uma exposição e mostra documental Timor: ciência, saberes e património através das colecções do Instituto de Investiga-ção Científica Tropical, cujo catálogo só foi possível editar com o patro-cínio especial da Fundação D. Manuel II.

Nesta exposição foi apresentada documentação escrita, carto-gráfica e fotocarto-gráfica, bem como equipamento, material etnográfico e

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espécimes biológicos produzidos ou recolhidos no âmbito de missões científicas em Timor, realizadas sobretudo entre 1950 e 1970, preten-dendo-se deste modo responder, também, a uma solicitação expressa pela Secretaria de Estado da Cultura de Timor Leste, relativa à neces-sidade de disponibilizar informação histórica e científica sobre Timor, existente nos Arquivos Portugueses, para que a mesma possa vir tam-bém a ficar acessível em Timor Leste.

1. Aspectos da Exposição no AHU

Ao longo de dois dias, o Colóquio contou com 125 participantes - 37 oradores e moderadores e 88 interessados que para tal se inscreve-ram - e com a presença de uma delegação da Secretaria de Estado da Cultura de Timor, tendo a abertura dos trabalhos ficado a cargo do próprio Secretário de Estado da Cultura de Timor Leste, Dr. Vírgilio Si-mith, que proferiu uma Conferência sob o lema Património Cultural e Identidade Nacional em Timor-Leste.

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2. Intervenção do Dr. Vírgilio Simith, Secretário de Estado da Cultura de Timor-Leste e do Dr. José Amaral, Adido Cultural da Embaixada da República Democrática de

Timor-Leste em Lisboa

Nesta conferência foi sublinhada a importância da cooperação entre os dois países, também por via das instituições de investigação, a necessidade de se promover e facilitar o acesso à documentação e co-lecções existentes em Portugal, designadamente no IICT, e do estabe-lecimento de protocolos que venham a permitir a disponibilização des-ta informação, des-também em Timor-Leste.

O desenvolvimento dos trabalhos prosseguiu de acordo com a

organização em painéis temáticos2, com especial destaque para os

painéis relacionados com documentação e colecções3.

2 Painel 1 – Missões Científicas em Timor (I) Documentação e colecções; Painel 2 -

Mis-sões Científicas em Timor (II) – Documentação e Colecções; Painel 3 – Presença Portu-guesa e Antropologia Colonial; Painel 4 – Missões Científicas, Fronteiras e Território; Painel 5: Missões Científicas, Arqueologia e Antropologia; Painel 6: Etnografias de Ti-mor: Repensando o legado; Painel 7: Etnografias de TiTi-mor: Olhares sobre o presente, Painel 8: Timor: Antropologia e Imagem.

3

Dois painéis especificamente dedicados a documentação e colecções - Painel 1 e Painel 2 – que contaram com a colaboração de vários sectores do IICT, designadamente o Arquivo Histórico Ultramarino, O Programa de Desenvolvimento Global, O Centro de Geo-Informação para o Desenvolvimento e o Jardim Botânico Tropical / Herbário, e a colaboração do Museu Nacional de Etnologia, do Museu Municipal da Figueira da Foz, do Museu de Coimbra, do Centro Português de Fotografia, da Sociedade de Geografia de Lisboa e do Museu de Marinha.

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3. Painel Documentação e Colecções (I). Materiais do espólio da Missão Antropológica de Timor

IICT- Programa de Desenvolvimento Global

As intervenções feitas neste contexto revelaram não só a diver-sidade e quantidade de materiais de e sobre Timor que existem em

Portugal, nomeadamente em termos de acervos documentais4, de

co-lecções etnográficas5 e fotográficas6, como permitiram um debate

cen-trado na sua importância histórica e na possibilidade da sua utilização actual.

4 Intervenções de Ana Cannas, Ana Cristina Roque, António Canas e Rui Costa Pinto. 5 Intervenções de Ana Paula Cardoso, Joaquim Pais de Brito e Maria do Rosário Martins. 6 Intervenções de Aida Freitas Ferreira, Ana Cristina Roque e Vítor Rosado Marques.

Documentação manuscrita e impressa

Cartografia manuscrita Desenhos

Fotografias

Filmes e gravações áudio Material arqueológico Material etnográfico Co qu io Tim or: M is es C ie nti fi cas e A ntro po lo gi a Co lo nia l. A H U, 24 25 d e M ai o de 2 01 1

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4. Painel Documentação e Colecções (I). IICT - Docu-mentação do Arquivo Histórico Ultramarino

5. Painel Documentação e Colecções (I). IICT – Herbário LISC

Esta última questão foi particularmente pertinente nos casos em que documentação e colecções podem constituir um ponto de partida para a melhor compreensão e análise da situação actual ou nas que permitem a recuperação de informação histórica relevante para as áreas específicas do património cultural e dos saberes e das práticas tradicionais. No primeiro caso, destacou-se a informação relativa à

bio-Colóquio Missões Científicas e Antropologia Colonial Lisboa 24 de Maio de 2011

Chafariz. Anexo ao processo de abastecimento de água a Dili: órgãos de distribuição pública. Lisboa, 1963. AHU, MU

Possui ~ 1700 espécimes de Timor-Leste

Cerca de 150 dos exemplares do Herbário de LISC contêm informação relativa às suas utilizações, pelas populações locais: Medicinal

Tratamento de doenças de animais Fabrico de utensílios Alimentação de gado Iluminação Rituais Biocidas Sombreamento Lenha Fertilizante do solo

Estas colecções foram maioritariamente efectuadas por 8 colectores

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diversidade e à possibilidade de se utilizar esta informação para mape-ar a situação anterior relativa aos recursos naturais por contraponto à situação actual, possibilitando uma melhor avaliação da persistência, degradação ou extinção de habitat e de comunidades vegetais e

ani-mais7. Enquanto no segundo caso, se sublinhou a importância da

in-formação histórica na recuperação de dados específicos sobre aspectos da cultura material e do património construído que foram completa-mente destruídos durante o período de ocupação indonésia, ou ainda para revitalização de alguns sectores da economia tradicional,

nomea-damente, ao nível do artesanato8.

6. Painel Documentação e Colecções (II) – Intervenção do Direc-tor do Museu Nacional de Etnologia, Prof. Joaquim Pais de Brito,

Prova da abrangência e da relevância desta temática foram ain-da as intervenções centraain-das em aspectos mais específicos como as

missões antropológicas9, geográficas10 e de delimitação de fronteiras,

sublinhando-se a importância da documentação e produção

7

Intervenção de Maria Manuel Romeiras.

8 Intervenções de Ana Cristina Roque e Vítor Rosado Marques.

9 Intervenções de Ana Cristina Roque, Vítor Rosado Marques e Rita Poloni. 10 Intervenções de Paula Santos e António Canas.

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ca relativa a estas últimas na precisão do traçado de fronteira, ainda

hoje em discussão11.

Carta da Fronteira de Ocussi-Ambenu (1899) compreendendo Noé Muti segundo o tra-tado de 1859, IICT – Centro de História / Cartoteca da Comissão de Cartografia, 31-009

MLITGJIU

Na mesma linha, mas evidenciando a necessidade de proceder a um trabalho de campo e de levantamento actual, foram particularmen-te incisivas as inparticularmen-tervenções sobre as pesquisas arqueológicas e antro-pológicas. As primeiras, sublinhando a deficiente informação relevante da maior parte dos trabalhos desenvolvidos pelos portugueses na se-gunda metade do século XX, carentes de uma metodologia científica,

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de localização precisa e contextualização no território12, e que

decorre-ram, quase na sua totalidade, por acréscimo a outros trabalhos

consi-derados então prioritários13. Apesar de serem considerados entre os

primeiros trabalhos sobre a Pré-história da região, não podem ser tidas senão como referências que, apesar dos trabalhos que depois disso

têm vindo a ser desenvolvidos, continua a ser necessário confirmar14.

As segundas, sobretudo pela componente específica de que enferma a abordagem colonial ao tema e, por isso mesmo, do cuidado redobrado que deve ser tido quando se tomam como fontes para os estudos

an-tropológicos actuais15.

A história e a antropologia cruzaram-se em muitas das interven-ções, evidenciando não só os muitos testemunhos de quem viveu e conheceu bem o terreno e fez por isso registos circunstanciados do que a sua experiência possibilitou, nomeadamente os missionários, os mili-tares ou os membros do governo local, mas que, nem por isso exigem menos cuidado na avaliação da veracidade das informações presta-das16.

No que respeita aos aspectos históricos, o destaque foi dado aos

diferentes aspectos da presença portuguesa na ilha17 e aos impactes

em Portugal dessa mesma presença18 enquanto no domínio da

antro-pologia e etnografia se evidenciou a necessidade de complementar as informações e recolhas feitas durante o período colonial com um traba-lho de campo actual que possa permitir uma abordagem diferente e mais abrangente e possa por isso contribuir para uma melhor

compre-ensão da realidade timorense19.

12 Intervenção de Nuno Oliveira. 13

Intervenções de Nuno Oliveira e de Rita Poloni.

14

Intervenção de Nuno Oliveira.

15 Intervenções de Cláudia Castelo e de Paulo Seixas.

16 Intervenções de Manuel Lobato, Ricardo Roque e Johana Schouten, 17

Intervenções de Fernando Figueiredo, Manuel Lobato, Frederico Rosa e Ricardo Ro-que.

18 Intervenções de Gonçalo Antunes e Vicente Paulino. 19 Intervenções de Susana Matos Viegas e Lúcio Souza.

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O Colóquio contou ainda com 3 intervenções centradas na ima-gem, onde se procurou fazer um percurso desde o século XIX à

reali-dade20, com a apresentação do projecto Wild Timor 21, sobre

biodiver-sidade e recursos florísticos de Timor, a apresentação da próxima

con-ferência da Euroseas em Lisboa22 e com a colaboração do Centro de

Informação e Divulgação da Cultura de Timor, que disponibilizou uma exposição sobre tecelagem e habitações tradicionais de Timor.

O conjunto das intervenções sublinhou a importância não só da divulgação e disponibilização da informação que, a vários níveis, existe sobre Timor, como da possibilidade de desenvolver linhas de investiga-ção transversais que, em colaborainvestiga-ção com Timor, contribuam para es-timular o interesse pelas várias vertentes da história de Timor e refor-çar a cooperação actual e futura entre Portugal e Timor-Leste.

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Intervenções de Aida Freitas Ferreira, Vítor Marques Marques, Ernesto Matos e Graça Afonso.

21 Apresentação de António Castelo e João Vasconcelos. 22 Apresentação de Rui Feijó e Paulo Seixas.

Referências

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