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ESPAÇOS E EQUIPAMENTOS DE LAZER DA CIDADE: REALIDADES E POSSIBILIDADES EM BELÉM - PA

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ESPAÇOS E EQUIPAMENTOS DE LAZER DA CIDADE: REALIDADES E POSSIBILIDADES EM BELÉM - PA

Danielle Miranda Cabral –Especialista – Universidade do Estado do Pará Mirleide Chaar Bahia – Doutoranda – Universidade Federal do Pará GTT 10 RESUMO: A presente pesquisa buscou compreender o espaço urbano e pensar o lazer na perspectiva do tempo livre, haja vista que uma ação exercida neste, remete a um dos problemas que se apresenta na cidade contemporânea: o de organização dos espaços destinados a tal utilização, cuja distribuição é de forma irregular. Isso leva à necessidade de se pensar em uma política de acessibilidade aos equipamentos de lazer. Este trabalho pretende compreender como se dá a relação entre a distribuição espacial dos equipamentos de lazer e o acesso, na visão dos usuários de duas praças da cidade de Belém: a Praça Batista Campos e a Praça da República. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica e de campo, com uma abordagem qualitativa, tendo como instrumento de coleta de dados as entrevistas semi-estruturadas, sendo estas analisadas por meio da teoria crítica proposta por Bardin apud Triviños (1987). Os resultados demostraram que o acesso dos usuários aos demais espaços e equipamentos de lazer da cidade de Belém-PA se dá de forma limitada, conflituosa e, muitas vezes, a população fica impossibilitada desse acesso, principalmente em virtude do fator socioeconômico, no que tange ao acesso ao espaço privado e à carência de políticas de animação sociocultural, dentre outros.

INTRODUÇÃO

As inquietações referentes aos espaços e equipamentos de lazer não são recentes. Estas preocupações com a organização das cidades foram de fundamental importância para o desenvolvimento das primeiras iniciativas estruturadas de intervenção profissional no âmbito do lazer, observadas nas décadas de 1920 e 1930.

Em Belém, de acordo, com a pesquisa intitulada “Os Espaços e Equipamentos de Lazer das cidades: O caso de Belém / PA”, (BAHIA et al, 2008), realizada sobre a distribuição dos espaços e equipamentos de lazer em Belém-PA, os resultados evidenciam a concentração desses equipamentos no centro urbano de Belém e nos bairros mais centrais da cidade. Neste sentido, faz-se necessário que estes espaços sejam de conhecimento da população para que haja uma política de acesso, por meio de divulgação e animação sociocultural.

Diante desta realidade, esta pesquisa objetivou verificar como vem se estabelecendo a questão do acesso aos equipamentos de lazer, a partir do olhar dos frequentadores de duas praças do Município de Belém-PA, a Praça da República e a Praça Batista Campos, visando coletar dados e informações que possibilitem responder ao questionamento levantado pelo

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estudo, a saber: como é a relação de acesso dos usuários das praças com outros espaços/equipamentos de lazer em Belém - PA?

Num primeiro momento será descrita a ocorrência histórica do lazer enquanto fenômeno contemporâneo e suas concepções, assim como também será abordada a compreensão do lazer no espaço urbano; faz-se também uma abordagem com relação às novas práticas de lazer, como consequência de uma nova configuração espacial, que demanda novas práticas.

Em seguida, busca-se traçar uma relação entre o acesso dos usuários das duas praças de Belém, com os demais espaços e equipamentos de lazer da cidade, analisando os fatores determinantes para a vivência do lazer, tendo por base o referencial teórico adotado no trabalho

OCORRÊNCIA HISTÓRICA E CONCEPÇÕES DO LAZER ENQUANTO FENÔMENO CONTEMPORÂNEO

Entre os teóricos do lazer, do ponto de vista conceitual e interpretativo, a discussão sobre quando surgiu o lazer é ainda uma questão polêmica.

Gomes (2003, 2004) sistematiza em suas obras a ocorrência de duas correntes antagônicas com relação ao surgimento do lazer. Na primeira, estão autores que consideram a existência do lazer desde as sociedades antigas; e na segunda, estão os que consideram o lazer, enquanto um fenômeno moderno, fruto das sociedades modernas urbano-industriais. Compartilham desta corrente, Marcellino (1983), Melo (2003) e Alves Júnior (2003).

Marcellino (1987), um dos autores de embasamento desse estudo, compreende o surgimento do lazer enquanto fenômeno moderno, cuja produção intelectual é de grande importância para os estudos na área em questão. Do ponto de vista conceitual, este autor entende o lazer como “cultura – compreendida em seu sentido mais amplo – vivenciada (praticada ou fruída) no tempo disponível” (MARCELINO, 1987, p. 31), sendo este entendido como o tempo livre das obrigações profissionais, familiares, escolares e sociais, ajustado no aspecto tempo e atitude. Outro aspecto relevante é o caráter desinteressado dessas vivências, cuja recompensa é a plena satisfação.

Segundo Gomes (2004), tal conceito de Marcellino (1987) é alvo de questionamentos, bem como o entendimento de cultura, no qual o autor afirma estar relacionada a um sentido mais amplo, abrindo margem para a necessidade de compreensão desta e de qual seria a cultura no sentido restrito. Neste sentido, o lazer engloba a vivência de inúmeras práticas culturais (jogo, brincadeiras, viagem, dentre outros), além de várias possibilidades.

Outros autores que têm trazido reflexões sobre o lazer, enquanto fenômeno social da sociedade moderna, são Melo (2003) e Alves Junior n(2003), os quais delineiam uma breve análise, relacionando as concepções de tempo livre e tempo de trabalho presentes nas sociedades mais antigas.

De acordo com os autores supracitados, as formas de diversão sempre existiram nas sociedades humanas, no entanto, o que hoje se conhece e se nomeia, cotidianamente, por lazer é uma construção social moderna, cujo surgimento advém de situações e contextos sociais específicos, como expõem:

A contínua busca de formas de diversão não significa ter sempre existido o que hoje chamamos por lazer, na medida em que tais formas de diversão guardam especificidades condizentes com cada época, que devem ser analisadas com cuidado. Por certo, existem similaridades com o que foi vivido em momentos anteriores – e mesmo por isso devemos conhecê-los – mas o que hoje entendemos como lazer guarda peculiaridades que somente podem ser compreendidas em sua existência concreta atual. O fato de haver equivalências não significa que os fenômenos sejam os mesmos (MELO; ALVES JUNIOR, 2003, p. 2).

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Os autores afirmam ainda, que a palavra lazer só começa a ser empregada, enquanto fenômeno social, em determinado momento da história. Antecedente a isto, outras palavras designavam fenômenos similares, mas não idênticos.

O lazer é um fenômeno moderno surgido em decorrência do desenvolvimento do modelo de produção fabril, uma das consequências da Revolução Industrial. Enquanto fenômeno social, o lazer se apresenta como um espaço de tensão social, posto que foi uma conquista dos trabalhadores e não uma concessão dos donos dos meios de produção (MELO, 2002).

A questão do lazer contemporâneo começou a ser estudada e debatida no início do século XX, contudo, no Brasil, somente nas últimas três décadas, tem causado maiores inquietações e propostas de intervenção mais elaboradas, apesar de já haver tais preocupações nas décadas de 20 e 30 do século passado. É a partir da década de 1970 que as áreas de estudos do lazer são impulsionadas, sendo atualmente identificadas e organizadas em três fóruns, que possuem particularidade e diferenças entre si, quais sejam: o lazer enquanto campo acadêmico, com estudos e pesquisas; o lazer enquanto área promissora de negócios e mercado de consumo, e por último, o lazer enquanto caráter de necessidade social, uma preocupação recente, porém não menos importante e, portanto, merece atenção e intervenção de políticas públicas (MELO, 2002).

Dentre as modificações, observadas desde o final do século XVIII, que marcaram o início da modernidade, o lazer foi identificado como um dos resultados das mudanças, podendo ser percebido por uma série de fatores articulados e imbricados pelo processo de industrialização, como por exemplo, a ascensão da burguesia, por meio do desenvolvimento do novo modelo de produção fabril, o novo modo de circulação de mercadorias e a nova configuração das cidades (MELO; PERES, 2005).

O lazer foi um dos itens que o urbanismo moderno estabeleceu como de grande relevância para o habitante urbano do século XX. Assim sendo, pode-se afirmar que os espaços livres públicos se tornaram uma das opções mais significativas da área de lazer urbano. Segundo Marcellino (2007), o lazer atualmente é conhecido como uma problemática tipicamente urbana e o espaço para o lazer é o espaço urbano, no qual:

A gestação do fenômeno lazer, como esfera própria e concreta, dá-se paradoxalmente, a partir da revolução industrial com os avanços tecnológicos que acentuam a divisão do trabalho e a alienação do homem do seu processo e do seu produto. O lazer é resultado dessa nova situação histórica – o progresso tecnológico, que permitiu maior produtividade com menos tempo de trabalho (MARCELLINO, 2002, p. 14).

Para o autor, o lazer é resultante da nova situação histórica, em que o avanço tecnológico permitiu alcançar maior produtividade com menos tempo de trabalho. O lazer surge como resposta às reivindicações sociais, pela distribuição do tempo liberado do trabalho, ainda que apenas para a reposição de energias.

Marcellino (2002) sugere que o ideal seria vivenciar atividades de lazer que abrangessem os vários interesses (físico-esportivo, artístico, manual, intelectual, social e turístico), porém, critica que, na realidade, as pessoas geralmente ficam restritas à vivência de apenas um campo específico de interesse, muitas vezes, por não terem opções ou oportunidades de conhecimento de outros conteúdos.

Atualmente, percebe-se que as práticas de lazer no espaço urbano também sofreram mudanças, em que o novo espaço propõe diferentes possibilidades de encontro e sociabilidade. Para Magnani e Souza (2007) a cidade se torna o grande espaço e equipamento de Lazer, principalmente quando se observa um segmento da população, como por exemplo, os jovens.

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O LAZER E O ESPAÇO URBANO

O lazer vem se tornando tanto um tempo disponível, quanto um objeto de consumo, de tal forma que, nos espaços urbanos, pode se considerar o lazer como sinônimo de consumo.

Padilha (2000) afirma que, nas últimas décadas, são intensos os investimentos em equipamentos, como parques, shopping centers, bares e casas noturnas, tudo para o estímulo ao “consumo” do lazer.

Neste sentido, Marcellino (2007) destaca a importância do poder público municipal com relação ao planejamento dos espaços urbanos, atentando para o critério de acessibilidade, para que este não esteja pautado apenas no poder aquisitivo.

Segundo Requixa (1976), o espaço urbano pode ser dividido em espaço de utilização permanente e espaço de utilização periódica, sendo que o primeiro é qualquer tipo de área livre (livre no sentido de que as pessoas possam utilizar livremente o espaço) na cidade, utilizada de forma contínua para a prática de lazer; já o segundo, são espaços com finalidades existentes, mas que, podem ganhar uma nova função por certo tempo periódico, como por exemplo, as ruas, que no final de semana, podem ser usadas com uma finalidade de recreação.

Essas situações denotam a pouca importância que é dada com relação a espaços destinados ao lazer, principalmente com relação aos espaços públicos, onde o “[...] lazer não é entendido como essencial e, portanto, os espaços e equipamentos de lazer não costumam merecer a atenção necessária, nem lhes é atribuída, a importância real numa política de administração urbana” (PELLEGRIN, 1996, p. 32). Diante desse fato, percebe-se uma relativa tendência à privatização dos espaços de convívio e dos equipamentos de lazer.

Precisa-se refletir sobre a oferta de espaços e serviços de lazer e para quem eles se destinam. As ações da iniciativa privada vêm se constituindo como uma das principais alternativas para tais vivências e o espaço de lazer nas cidades são fatores que tornam o acesso ao lazer restrito às camadas sociais mais privilegiadas economicamente. Há barreiras que limitam ou impossibilitam o acesso ao lazer, por uma determinada parcela da população.

Marcellino (2002) cita a classe, o nível de instrução, a faixa etária, o gênero, entre outros fatores, inclusive os de ordem cultural, como os estereótipos, por exemplo, como barreiras que limitam a vivência do lazer a uma minoria da população, num nível criativo, e não meramente conformista.

Requixa (1980, p. 71), analisa a necessidade de reordenação do solo urbano para que a população tenha acesso, para tal

[...] exige-se regular a distribuição dos equipamentos para facilitar o acesso de toda a população, ou implantando prioritariamente, em áreas carentes, comodidades de locomoção que estimulem a procura, ou diversificando-se a oferta, com equipamentos até então inacessíveis aos estratos menos favorecidos da população.

A reordenação do espaço urbano, com relação aos espaços de lazer se faz necessária, uma vez que estudos comprovam a concentração dos espaços e equipamentos de lazer nas áreas centrais da cidade, todavia é necessária a elaboração de uma política voltada para o lazer, com uma concepção mais aberta de cidade, a qual possa atender, além das funções econômicas e sociais, a função cultural e a melhoria da qualidade de vida de sua população.

Contudo, nota-se o surgimento de espaços privatizados, a exemplo dos shoppings centers que, além de se configurarem como espaço de consumo, são também grandes centros de oferta de serviços, dentre eles o de lazer.

Padilha (2008) defende a idéia de que os shoppings são ícones de uma coletividade que aprecia o espetáculo do consumo de bens materiais e de lazer-mercadoria e afirma que:

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Dentre as mercadorias presentes no shopping center está o lazer: as salas de cinema, os jogos eletrônicos, a praça de alimentação, os ocasionais e padronizados eventos artísticos, os brinquedos etc. Os diversos equipamentos de lazer disponíveis em shopping centers levam as pessoas a encontrarem diversão em torno da celebração do objeto, de modo que, mesmo no lazer, o ser permanece subjugado ao ter. (PADILHA 2008, p. 06). Em consonância com a autora, considera-se que o shopping center é uma organização privatizadora do lazer, cujos espaços tendem a segregar social e economicamente a utilização dos serviços de lazer, uma vez que a frequência e o consumo dependem do poder aquisitivo. Esses fatos são produtos da carência de política públicas que paute o lazer enquanto direito social e acabam por favorecer a privatização do lazer, neste caso, pelo shopping center, assim também como a segregação social, posto que o poder aquisitivo é um determinante para as opções de lazer.

AS NOVAS PRÁTICAS DE LAZER CONTEMPORÂNEO

As constantes transformações do ambiente, mais precisamente o espaço urbano, mudaram, também, os hábitos e estilos de vida das pessoas que nele vivem, dentre estes a incorporação e/ou surgimento de novos hábitos de lazer. A vida urbana, dentro desse contexto dos processos de industrialização e urbanização, trouxe consequências como a poluição do ar, emitida pelas fábricas; as condições de trabalho que, apesar das conquistas trabalhistas, continuavam insalubres; e os riscos à saúde, com relação ao espaço utilizado como opção de lazer, sendo que estes também foram se reordenando e se adequando, de acordo com o crescimento da cidade.

Neste sentido, a nova configuração da cidade influencia as práticas de lazer, mas o inverso também ocorre, ou seja, a disponibilidade do espaço para o lazer passou a ser um problema metropolitano e o crescimento da malha urbana teve que se adequar às novas práticas de lazer (MELO; GONÇALVES, 2009).

Um novo quadro urbano se desenha no país, com a concentração das populações em regiões metropolitanas, o que resultou no fato do lazer se configurar, historicamente, como uma problemática essencialmente urbana (REQUIXA, 1977).

A cidade, como espaço e equipamento de lazer, adquire uma nova significação para a população que dela usufrui, pois o espaço urbano pode ser utilizado de diferentes formas e por diferentes grupos, a exemplo do trabalho desenvolvido por Magnani (2007), que identificou as práticas de lazer dos grupos de jovens nos grandes centros urbanos, dando ênfase na inserção dos mesmos “na paisagem urbana [...] dos espaços por onde circulam, onde estão seus pontos de encontro e ocasiões de conflito, além dos parceiros com quem estabelecem relações de troca” (MAGNANI, 2007, p. 19).

O autor percebe os novos usos dos espaços e equipamentos de lazer pelos jovens, diferentes daqueles para os quais foram originalmente concebidos. O sentido e o significado, a nova leitura dos espaços e equipamentos depende dos seus protagonistas.

A PESQUISA DE CAMPO: UM DIÁLOGO COM OS AUTORES

Este trabalho configura-se como pesquisa bibliográfica e de campo, tendo uma abordagem qualitativa, cujos espaços escolhidos para a coleta de dados foram a Praça da República e a Praça Batista Campos, ambas localizadas do centro da cidade de Belém.

Buscou-se, por meio de entrevistas semi-estruturadas, traçar a realidade com relação ao acesso dos espaços e equipamentos de lazer da cidade de Belém, na visão dos frequentadores das referidas praças, analisando as falas dos entrevistados, paralelamente, ao diálogo com o referencial teórico adotado neste estudo.

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Inicialmente foi feito um mapeamento dos bairros onde moram os frequentadores, detectando-se que, a maioria das pessoas que utilizam a Praça Batista Campos para o lazer, moram no mesmo bairro em que está localizada a referida praça, e uma parcela considerável mora em bairros relativamente pertos, com algumas exceções; já na Praça da República, pôde-se perceber que a maioria dos frequentadores mora em bairros distantes.

Um primeiro ponto a ser destacado é com relação ao entendimento do que seja lazer para cada entrevistado, assim também como a diversidade de vivências. Quando indagados sobre o seu entendimento por lazer, a maioria das respostas está atrelada à prática de alguma atividade físico-esportiva, e o que ficou evidente é que há um entendimento limitado dos entrevistados sobre o lazer, pois Dumazedier (1980) elenca outras possibilidades e amplitudes de vivências de outros conteúdos culturais, além dos físico-esportivos.

No entanto, a maioria da população que frequenta as praças, não tem o conhecimento sobre os diversos conteúdos culturais, fator que dificulta a autonomia para escolher um deles, e quando possuem vivências em mais de um conteúdo, esbarram em outros fatores, como o deslocamento para espaços específicos e o preço elevado para o acesso aos mesmos, o que acaba por limitar a participação em vivências diversificadas de lazer.

Outras questões ficaram evidentes nas falas dos entrevistados, como: a violência, o medo e a insegurança ao sair de casa para um ambiente como as praças; além da falta de organização dos espaços; a falta de manutenção destes e de conscientização das pessoas, quanto ao cuidado no uso das praças.

Com relação à utilização do tempo para o lazer, é fato que este tempo é insuficiente para fazer o que se deseja.

Dentre as possibilidades, além das praças, foram citados alguns outros espaços que são frequentados por eles, como cinemas, teatros, piscinas, festas e os shoppings centers.

Cada possibilidade é vivenciada dentro de certas limitações, as quais podem ser evidenciadas no contexto de cada fala e, nesse mesmo contexto, pode-se analisar a situação socioeconômica, pois há pessoas que utilizam os espaços que citaram, com certa frequência. Segundo alguns entrevistados, para se frequentar shoppings, jantar fora de casa, ir à uma praia, necessita-se de um padrão de vida que comporte, economicamente, essas atividades. Em outras falas, foram citadas algumas práticas não tão mercadológicas, como: caminhar, passear e ler. Estas são possibilidades acessíveis a todos, tanto por quem possui melhores condições econômicas, quanto pelas pessoas com menor poder aquisitivo.

Existem opções que os entrevistados consideram como possibilidade de vivência do lazer, mas que deixam de fazer por alguma limitação, seja pela distância, seja pela falta de tempo, pela insegurança ou pelo fator financeiro. O mais evidente na pesquisa é que as pessoas que apontam estas limitações são as que moram em bairro periféricos. Isto pode ser evidenciado também em estudos de Stucchi (1997, p. 112), o qual enfatiza que: “Muitas vezes, as distâncias a serem percorridas entre os equipamentos e os usuários fazem com que se gaste muito tempo”.

Deste modo, as classes sociais baixas, por dependerem de transporte público, têm seu acesso dificultado a estes equipamentos, enquanto que os entrevistados de classes sociais médias ou altas, que moram em bairros mais centrais, muitas vezes não utilizam a cidade como espaço de lazer, pois costumam viajar com frequência para as regiões do interior, principalmente para as regiões com praias.

Com relação ao conhecimento dos espaços e equipamentos de lazer existentes na cidade, as pessoas citaram, com bastante frequencia, os shoppings centers, por compreendê-lo como um espaço de lazer. Considera-se que para se ter segurança, é preciso procurar espaços onde o serviço de lazer esteja fora de perigo, como propõem os shoppings centers, mas este fato reflete a falta de ação por parte do poder público, que deve garantir espaços para o usufruto do lazer de forma segura.

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As pessoas possuem conhecimento sobre alguns espaços de lazer, de acordo com a concepção que têm sobre ele, assim citaram apenas espaços que já tiveram conhecimento, mas tais espaços não fazem parte do seu universo, enquanto vivência de lazer.

Os que possuem um padrão de vida um pouco mais elevado, não demonstram preocupações sobre a questão das estruturas, da manutenção, da preservação e da animação dos espaços e equipamentos da cidade, pois aos finais de semana, quando possuem tempo livre para o lazer, geralmente ficam fora da cidade, em áreas de segunda residência.

Outra questão foi a que diz respeito à relação entre o acesso aos espaços públicos e o acesso aos espaços privados, onde é perceptível a limitação de uso dos espaços privados, denotando a dificuldade socioeconômica da população em ter acesso a tais espaços.

Dentre os vários espaços citados, a residência aparece como um dos equipamentos não específicos de lazer de grande relevância, pois não demanda muitos recursos para vivenciá-lo.

Foi possível constatar que não são todos os que têm a possibilidade de acesso aos espaços e equipamentos de lazer da cidade de Belém, seja por falta de condições socioeconômicas, que limitam o acesso aos mesmos ou a falta de políticas públicas de lazer, ou ainda, por deficiência no planejamento de uma política de animação sócio-cultural para os espaços e de uma democratização cultural.

Quando indagados sobre o que deveria ser feito para melhorar e/ou viabilizar o acesso aos demais equipamentos de lazer da cidade, percebe-se uma série de fatores que estão limitando o acesso a outras vivências de lazer, tais como: necessidade de mais segurança na cidade; extensão dos serviços de lazer às comunidades de baixa condição socioeconômica; deficiência na animação sociocultural nos espaços de lazer; necessidade de preços mais acessíveis; necessidade de mais espaços públicos para o lazer, dentre outros.

Um dos aspectos mais citados foi a necessidade de um número maior de espaços para o usufruto do lazer e, de preferência, que sejam espaços públicos. São necessários mais espaços e equipamentos de lazer, principalmente nas periferias dos diferentes bairros da região Metropolitana de Belém, ocorrendo, deste modo, uma descentralização com relação aos espaços localizados nos centros urbanos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Levando-se em consideração os resultados encontrados nesta pesquisa, foi possível evidenciar alguns aspectos que limitam a vivência de lazer por parte da população, tais como: o transporte público, o tempo para o deslocamento, as distâncias a serem percorridas, o fator socioeconômico e cultural.

Tais limitações, na maioria das vezes, ocorrem devido à concentração dos espaços e equipamentos nos centros urbanos, dificultando o usufruto do lazer. Isto são consequências no âmbito do lazer, mas que devem ser analisadas em um contexto mais amplo, pois a questão das limitações com relação ao mesmo, não pode ser considerada de forma isolada da vida social da população.

As políticas devem ser pensadas em consonância com a população, ou seja, uma política de planejamento urbanístico para a elaboração de espaços e equipamentos de lazer que leve em consideração os diferentes bairros do Município de Belém, de modo que haja a democratização dos mesmos para toda a população.

Toda a política urbana de lazer deve priorizar a questão de moradia e seu entorno e as possibilidades e opções de lazer, já culturalmente enraizadas em cada localidade, além da construção de equipamentos que viabilizem várias formas de lazer e que atendam quantitativa e qualitativamente as demandas da população.

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Email: daniedfisics@hotmail.com

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