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O resgate das lembranças da juventude através da música como meio facilitador para apreensão da sexualidade 1

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Academic year: 2021

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Fazendo Gênero 8 - Corpo, Violência e Poder Florianópolis, de 25 a 28 de agosto de 2008

O resgate das lembranças da juventude através da música como meio facilitador para apreensão da sexualidade1

Valéria Marta Nonato Fernandes Mokwa (NUSEX), Fátima Aparecida Coelho Gonini (NUSEX), Paulo Rennes Marçal Ribeiro (NUSEX)

Sexualidade, Música, Educação

ST 33 – Subjetividade, gênero e sexualidade

Introdução

Há muito, observa-se que a música vem tendo uma representação significativa na população, expressa através de folguedos e comemorações resultando em melhorias da qualidade de vida. Deste modo, faz-se mister compreender a música como meio alternativo e inovador para lidar com as questões da educação e da expressão corporal e sexual.

O presente estudo procurou buscar significado da música como meio facilitador de Educação para a apreensão da sexualidade com educadores e educadoras. Esse intento nos levou a traçar o objetivo de identificar com esses profissionais qual a apreensão que eles têm sobre a música e sexualidade.

Marco teórico

A sexualidade humana é uma temática que gera discussão e interesse por estudiosos de diferentes áreas, posicionamentos divergentes quanto à abordagem do assunto, gerando uma série de concepções, comportamentos, preconceitos e estereótipos. Ela é parte integrante da personalidade de todo ser humano. Sucintamente, à sexualidade é um conjunto de acontecimentos relacionados à vida sexual do ser humano, constituindo-se em aspecto central de sua identidade. O seu desenvolvimento total depende da satisfação de necessidades humanas básicas, como a possibilidade do afeto, desejo de contato, intimidade, sensação de prazer, procriação, carinho, amor e expressão emocional, sendo esse desenvolvimento, essencial para o bem estar biopsicossocial do indivíduo.

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A sexualidade se constitui num campo político, discutido e disputado. Na atribuição do que é certo ou errado, normal ou patológico, aceitável ou inadmissível está implícito a um amplo exercício de poder que, socialmente, discrimina, separa e classifica1.

Neste sentido, a noção de sexualidade entrelaça elementos da história dos indivíduos e dos grupos sociais, envolvendo valores construídos, socialmente. O relacionamento sexual, muitas vezes, entra no campo dos interditos, provocando reações desfavoráveis no contexto sócio-cultural. Embora a abordagem dessa temática seja, freqüentemente, reprimida, trata-se de assunto presente no cotidiano, devido a sua relação com valores, tabus, crenças, cultura e religião. A ausência de informações adequadas a esse respeito, não permite ao indivíduo, assumir responsabilidades sobre seu corpo ou a forma de utilização do sexo, num contexto mais abrangente, que engendra a sexualidade. Diante disso, o(a) profissional, seja ele (a) da área da educação ou da saúde, deve esclarecer e resignificar a sexualidade humana como parte do processo de aprendizado dos sujeitos, envolvendo as dimensões psicológica, biológica, social2.

• A música na apreensão sobre Sexualidade

Verifica-se que a música pode provocar lembranças e reações nas pessoas. A linguagem musical sempre esteve presente na vida dos seres humanos e desde há muito, faz parte da educação, da cultura e da sociedade. A música pode extravasar emoções ocultas, expressar sentimentos e resgatar lembranças.

O indivíduo expressa e produz as construções dos indicadores culturais através da música3. Assim, a música espelha o mundo social, atual ou passado. Então, medem elementos da vida que refletem valores e representações que sempre estão sujeitos à manipulação social4. De vez, as disfunções emocionais, psicológicas ou até mesmo culturais ou sociais, podem ser expressas através da música evidenciando a existência de problemas. O uso da música com prazer, fazendo dela uma linguagem, pode contribuir para maior compreensão do mundo e de si mesmo5.

Deveras, as pessoas assumem a responsabilidade das situações cotidianas vividas para si, dando um novo significado e passando a não ser isso, uma carga, mas sim, algo por ela escolhido, mesmo que inconscientemente. Pensando na sexualidade a música pode suscita diversas formas de emoções e situações. Acerca do processo de sublimação, a arte é entendida como uma energia sexual primitiva em transformação. Por vez, a música é considerada como uma espécie de gratificação libidinal aumentando o prazer narcísico. A música, e seu inerente domínio de tempo e espaço, oferecem meios excepcionais de ajuda e reparação, como no caso das músicas folclóricas, brincadeiras de roda e jogos cantados que se referem às próprias lembranças de infância, os acalantos e canções de ninar que se relacionam às vivências dos papéis, nos quais os pais e mães atuavam3.

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A memória, no momento em que é ativada, é extremamente gratificante, pois ativa o cérebro e favorece o aumento da auto-estima e do prazer5.

Assim, como a sexualidade, a música acompanha o ser humano desde sua concepção, fazendo parte da constituição do sujeito4.

Portanto, ao pensarmos em Educação Sexual vislumbrando o ser humano em sua totalidade, é importante dar-se atenção as questões que reportam a musicalidade e os seus efeitos na apreensão da sexualidade humana.

Metodologia

Trata-se de uma pesquisa qualitativa mediatizada pela pesquisa-ação, a qual contou com sete participantes que tiveram interesse pela pesquisa. Na coleta de dados, foram utilizou-se entrevistas com questões norteadoras, gravadas; observação-participante (diário de campo). A análise do material fundamentou-se na análise de conteúdo, modalidade “temática” 6.

Resultados e discussão

Os resultados de parte da entrevista serão apresentados, apropriando-se das questões relacionados à música e suas implicações na apreensão da sexualidade.

O Significado de Sexualidade: Na busca da compreensão da representação que os (as)

participantes têm de sexualidade e como esta é trabalhada no cotidiano escolar, eles (as) referem ter consciência de que sexualidade é também amor, relacionamento, sentimento. Ainda explicitam e enfatizam que a sexualidade também é o ato sexual, pois, há uma grande incidência de respostas veiculando sexualidade ao sexo e ao prazer, o ato em si. O binômio sexualidade/sexo apresentados por eles (as) evidenciam uma visão ingênua e simplista, carregada de sinais, o que dificulta o paradigma mais amplo da sexualidade, reforçando o ato em si, necessitando ampliar esta visão do ser humano dentro do pressuposto de uma visão holística.

A maioria dos (as) professores (as) ao falar de sexualidade se reportam a sexualidade do(a) aluno (a), como se eles (as) próprios não a tivessem, nem mesmo problemas e dificuldade de falar ou trabalhar a temática. O problema estaria apenas relacionado ao aluno (a), seu modo de agir, sentir, pensar, e sempre levado para o lado da “malícia”.

As representações que os (as) participantes evidenciam em relação à sexualidade surgem devido esta ser o ponto mais conflitante do ser humano, pois foram construídas arraigadas na

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cultura, na religião, na família, na escola, que geralmente abordam inadequadamente esse importante aspecto da vida, criando esteriótipos, preconceitos, e tabus, em detrimento a uma orientação sexual inconsciente, insegura e inadequada, emperrando o crescimento e desenvolvimento e a saúde sexual do individuo pessoal e coletivo5.

Há ainda, o binômio bem/mal na visão de que a sexualidade é ato sexual prazeroso, mas pecaminoso e indigno. De acordo com as falas expressas pelos (as) participantes pesquisados sobre o significado de sexualidade, observa-se de maneira geral, certa confusão entre o conceito de sexualidade e relação sexual, revelando-os como algo ligado a prazer e reprodução. Estas questões são de grande relevância na pesquisa, pois possibilita questionamentos e reflexões sobre o trabalho realizado nesse aspecto, no cotidiano escolar.

Estes indicadores mostram à necessidade de estimular os (as) participantes, a buscarem novos caminhos como o seu próprio conhecimento, a auto-reflexão e apoio para lidar com as situações cotidianas que desestruturam o comportamento dos educandos (as) em sala de aula, como por exemplo, adolescentes grávidas entre outras questões relevantes. Sabe-se que essa tarefa é complexa e envolve a subjetividade do professor (a). Portanto, obter subsídios e segurança profissional, para se trabalhar a temática, é algo muito complexo, pois além de requerer investimento, envolve a subjetividade dos (as) envolvidos (as) no universo escolar, bem como, da família e de instituições religiosas.

Mas, esses fatores de conscientização só são adquiridos através de uma educação problematizadora, emancipatória e dialógica, que vise à formação de um ser humano mais crítico e reflexivo em relação à temática em questão7.

Aprofundar a estratégia da música para lidar com a expressão da sexualidade é uma chave que pode destrancar a porta para uma investigação neste sentido, pois observou-se que a música aflora nos (as) participantes , um sentimento frente às relações, significados de emoções que estão travados na relação interpessoal desde a infância. Assim, a música pode trazer lembranças de momentos felizes ou infelizes relacionando à sexualidade humana.

As responsabilidades assumidas pelo indivíduo em relação às situações vividas adquirem novo formato e passa não ser mais uma carga, mas sim algo por ele escolhido, mesmo que inconscientemente. Nessa perspectiva, ressalta que a liberdade e a responsabilidade andam juntas, quem não é livre é autômato, não tem responsabilidade e, se não é responsável por si, não pode ter liberdade8.

Desta forma, observa-se que a música reflete a experiência social, atual ou passada, permitindo que o indivíduo produza e reproduza as construções dos valores culturais através da música4.

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De acordo com o processo de sublimação que entende a arte como uma energia sexual primitiva em transformação e em relação à sexualidade, a música pode suscitar diversas formas de emoções, visto que esta é considerada uma espécie de gratificação libidinal aumentando o prazer narcísico, como uma autêntica gratificação da libido, gerando um alívio gradativo da tensão sexual. A música possibilita o indivíduo criar estratégia para se prevenir, reabilitar, readaptar biopsicossocialmente, promovendo sua saúde social, fisiológica, mental e psicológica através desse conduto som-música-emoção-representação. A música é analisada como uma atividade social, enfocando os sistemas de representação que ela pode criar na sociedade, as tradições musicais e o papel que elas desempenham na aculturação à qual as sociedades estão expostas. A música está ligada a sentimentos, emoções, recordações e essa relação é mais intensa e mais enraizada nas culturas do que se imagina8, 9.

Desta feita, o poder da música vai além da audição. A música, dentro destas perspectivas, se utilizada como subsídios para trabalhar situações demandadas, como no caso da sexualidade, poderá ajudar a restabelecer a intercomunicação entre os indivíduos, pois reduzem defesas e permite entrar em contato de forma lúdica, com os sentimentos. Portanto, é necessário ressaltar a importância que a música revela ao se trabalhar na apreensão das representações, principalmente nas questões que se atrelam a sexualidade.

Considerações finais

Considerando que o presente estudo buscou apreender a visão de sexualidade e as implicações da música neste processo com professores (as), depreende que: • Sexualidade é assunto que possui uma representação apoiada em valores sociais ultrapassados e arcaicos, apresentando uma visão simplista e reducionista sobre o tema evidenciando-o como impuro, sujo, proibido, pecaminoso, gerando nos indivíduos um sentimento de medo e culpa ao abordá-lo direta ou mesmo superficialmente; • Explicitam que sexualidade também é ato sexual, evidenciando sexualidade/sexo idéia ingênua e simplista, carregado de sinais, suscitando ampliar o paradigma de ser humano de uma visão holística; • Destacam haver, necessidade maior de se trabalhar sexualidade, de forma mais efetiva na vida escolar; • A música é um subsídio facilitador para a compreensão da sexualidade e para trabalhar a formação continuada de profissionais de diversas áreas junto com as demandas que surgem no cotidiano, buscando o desenvolvimento pleno do ser humano e também desse (a) como profissional. Portanto, com base nestes princípios norteadores, a pesquisa buscou mostrar a necessidade de subsídios para o avanço da significação,

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codificação, decodificação, simbolização, interpretação discursiva, ou seja, a possibilidade de expressão das representações, para fornecer bases para uma articulação complementar de saberes que iluminam os aspectos especificamente humanos da musicalidade e da sexualidade. Espera-se que com o estabelecimento de bases para uma práxis da orientação sexual e para a saúde biopsicossocial, isto posto pode contribuir para outros estudos nesta área.

Referências Bibliográficas

(1) Louro, Guacira. Sexualidade: lições de casa. In: MEYER, D.E.E. (org.) Saúde e sexualidade na escola. 2.ed. Porto Alegre: Mediação, 2000, p. 85-96.

(2) Nunes, César e Silva, Edna. A educação sexual da criança: subsídios teóricos e propostas práticas para uma abordagem da sexualidade para além da transversalidade – Campinas, SP: Autores Associados, 2000 (Coleção polêmicas do nosso tempo; 72), 130 p.

(3) Ruud, Even (org.). Música e saúde. São Paulo: Summus, 1990.

(4) Bauer, M. W; Gaskell, G. Pesquisa qualitativa com textos: imagem e som: um manual prático. Trad. de Pedrinho A. Guareschi. Petropolis, RJ: Vozes, 2002, 516 p.

(5) Bueno, Sônia M.V. Educação preventiva em sexualidade, DST-AIDS e drogas nas escolas [tese de Livre docência]. RP: Escola de Enfermagem de RP -USP, 2001.

(6) Bardin, Laurence. Annalyse de contenu, Paris: P.U.F. 1986 (1997).

(7) Freire Paulo. Pedagogia do Oprimido. 22.ed Rio de Janeiro: Paz e Terra; 1993, p.168. (8 ) May, R. O homem à procura de si mesmo. Petrópolis, Vozes, 2000.

(9) Benezon, R. Teoria da musicoterapia; Tradução de Ana Sheila M. de Uricoecheal – São Paulo: Summus, 1988, 177p.

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Referências

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