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Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil

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02 a 05

setembro 2013

Faculdade de Letras UFRJ

Rio de Janeiro - Brasil

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Estratégias de retomada por aprendizes de espanhol L2 falantes de PB

Renata Daniely Rocha de Souza

A aquisição da categoria de Aspecto no português brasileiro

Thais da Silveira Neves Araujo

INDÍCE DE TRABALHOS

(em ordem alfabética)

A aprendizagem da língua portuguesa escrita como segunda língua para surdos

Dayane Veras dos Santos;Alexsandro Alves dos Santos

Página 04

O conceito e a produção linguística de tempo e aspecto na demência do tipo Alzheimer

Débora Cristina Paz PazLourençoni

Por que poucos adjetivos do Português Brasileiro podem ser pré-nominais?

Tatiane Gonçalves Sudré

Página 14

Página 16 Página 12

Aquisição da voz passiva no Português Brasileiro

Carla Pereira Minello Página 10

Página 03

A expressão morfológica de estativos afetivos no inglês norte-americano

Patricia Afonso Lima Guimarães Página 06 Página 08

A sílaba do português através de adaptações de sobrenomes não vernáculos

Bismarck Zanco de Moura

Página 13

‘Muito’ + nome é Sintagma de Determinante?

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3

A assimilação da L2 pelos surdos não ocorre da mesma forma que os ouvintes, uma vez que não é um processo natural, e o surdo não faz a correspondência do som com a grafia. Segundo Quadros (1997), a aquisição da L2 está relacionada com os tipos de conhecimentos envolvidos no processo de ensino: o conhecimento explícito (consciente/dedutivo) e o conhecimento implícito (inconsciente/ indutivo). O primeiro é relacionado à consciência da língua e o segundo é internalizado no processo de comunicação. O processo de conscientização da competência linguística deve ser combinado com a aquisição implícita da língua que envolve os processos de percepção, comparação e integração. O presente trabalho propõe uma discussão acerca da aprendizagem da escrita do português por surdos, através da análise morfossintática da produção escrita de um aluno.

O texto analisado é oriundo da dissertação de mestrado realizada pela Profª. Msc. Fernanda Maria Almeida dos Santos, com base em pesquisa feita no CAS Wilson Lins localizado da cidade de Salvador-BA. As línguas de sinais enquadram-se na modalidade gestual-visual-espacial, pois sua produção é feita através de recursos gestuais e espaciais e sua percepção se dá por meios de processos visuais. As línguas de sinais e as línguas orais apresentam os mesmos níveis gramaticais (fonológico, morfossintático, semântico e pragmático) distinguindo-se apenas na modalidade.

A teoria de aquisição da linguagem que sustenta esta pesquisa é a abordagem linguística de Chomsky, que considera que cada ser humano nasce com a capacidade para o desenvolvimento de qualquer língua, desde que esteja exposto ao input linguístico. Os resultados da análise demonstram que aprodução escrita do sujeito apresenta mais desvio da norma-padrão no que concerne àortografia, pontuação, estrutura sintática e concordância verbal ocorrendo interferências da Libras. Tais características demostram que o sujeito da pesquisa encontra-se em fase de transição da Libras para o português eos “erros” que o sujeito comete devem ser compreendidos como decorrência da aprendizagem de uma segunda língua. Na análise do texto do sujeito surdo notou-se que, embora sua construção textual não esteja na estrutura sintática do português há a compreensão do sentido do texto, ou seja, o texto é coerente. Diante dessa situação, cabe ao mediador oferecer uma didática apropriada e significativa para o aluno surdo, pois o sucesso da escrita se dá a medida em que o contato com a língua portuguesa vai sendo intensificado.

A APRENDIZAGEM DA LÍNGUA PORTUGUESA ESCRITA COMO

SEGUNDA LÍNGUA PARA SURDOS

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O aspecto é definido por Comrie (1976) como as diferentes maneiras de se enxergar a composição temporal interna de uma situação. Essa noção seria construída a partir da reunião de informações aspectuais transmitidas por diversos elementos linguísticos. Assim, a análise da aspectualidade deve privilegiar os modos como a informação aspectual está codificada nos elementos e os modos como esses elementos se relacionam sintaticamente.

Diante disso, o objetivo deste trabalho é investigar quais valores aspectuais e temporais estão relacionados aos morfemas flexionais usados em etapas iniciais de aquisição do português brasileiro (PB) como L1. Para isso, será investigada a Hipótese da Primazia do Aspecto (ANDERSEN, 1989), segundo a qual a semântica interna dos verbos e dos elementos que alteram essa semântica (aspecto lexical) controla o uso das flexões verbais nas primeiras etapas da aquisição. Para o aspecto lexical, foi usada a classificação de Vendler (1967) de verbos de atividade (andar); de processo culminado (“fazer” em “fazer um bolo”); de culminação (abrir); e de estado (amar).

A hipótese adotada foi dividida, em um trabalho de Shirai e Andersen (1995), em três partes: (i) as crianças utilizam primeiramente o passado (ou perfectivo) predominantemente com verbos de culminação e de processo culminado, estendendo eventualmente o uso para verbos de atividade e, por último, para verbos de estado; (ii) em línguas que possuem o aspecto progressivo, as crianças primeiramente usam essa morfologia principalmente com verbos de atividade, estendendo depois o seu uso para verbos de processo culminado e para verbos de culminação; (iii) as crianças não estendem incorretamente as marcas de progressivo para verbos de estado.

Para investigar essa hipótese, está sendo desenvolvido um estudo longitudinal com, até este momento, uma criança em fase de aquisição. Os dados utilizados são de fala espontânea e estão sendo gravados uma vez por mês. Após a coleta, serão analisadas todas as ocorrências verbais, para que sejam verificados os significados aspectuais e temporais de cada morfema flexional produzido pela criança. Para isso, será analisado o tipo de verbo com o qual essa morfologia se associou. Assim, a hipótese adotada será posta à prova e poderá ser refutada caso a criança demonstre que não associa a morfologia usada a apenas um tipo de verbo nas etapas mais inicias do processo de aquisição.

Até o presente momento, a produção de verbos dessa criança é praticamente nula (usos escassos do verbo “caiu”), de modo que ainda não é possível apresentar os resultados preliminares desta pesquisa.

A AqUISIçãO DA CATEGORIA DE ASPECTO NO PORTUGUêS BRASILEIRO

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5

6 No entanto, a coleta de dados prosseguirá todos os meses e pretende-se usar, pelo menos, mais duas crianças na pesquisa.

REFERÊNCIAS:

ANDERSEN, R. ‘The acquisition of verbal morphology’. Los Angeles. University of California. Published in Spanish as ‘La adquisición de la morfología verbal’. Linguística, v.1, p.89-141, 1989.

COMRIE, B. Aspect. Cambridge: Cambridge University Press, 1976.

SHIRAI Y, ANDERSEN R.W. The acquisition of tense-aspect morphology: A prototype account. Language 71: 743-762, 1995.

VENDLER, Z. ‘Verbs and times’. In: ______. (Ed.). Linguistics in Philosophy. Ithaca: Cornell University Press, 1967. p.97-121.

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Segundo Comrie (1976), aspecto diz respeito aos diferentes modos de fazer referência à composição temporal interna de uma situação. O aspecto imperfectivo contínuo descreve uma situação em andamento em um determinado período de tempo e pode ser expresso com a morfologia progressiva, como se observa em “Maria está entendendo linguística agora”, e com a morfologia não progressiva, como se observa em “Maria entende linguística agora”. Para Comrie, verbos estativos apresentam incompatibilidade com a marca morfológica progressiva.

Vendler (1967) postula que verbos estativos caracterizam situações não dinâmicas. Verbos estativos afetivos, segundo Garcia (2004), designam uma emoção, uma sensação ou um juízo. Ainda segundo este autor, os estativos afetivos podem ser subdivididos em cinco tipos: sensitivos (ex: sentir), cognitivos (ex: entender), volitivos (ex: desejar), emotivos (ex: amar) e avaliativos (ex: achar). No inglês norte-americano (doravante INA), a combinação de estativos afetivos com morfologia progressiva parece possível, uma vez que sentenças como a do slogan da empresa Mc Donald’s “I’m loving it” são encontradas na língua.

O objetivo geral desse trabalho é investigar a representação do traço aspectual de imperfectivo contínuo na faculdade da linguagem. O objetivo específico é investigar a preferência dos falantes do INA quanto à combinação de verbos estativos afetivos com a morfologia progressiva e com a morfologia não progressiva.

Foram formuladas duas hipóteses neste trabalho, a saber: (i) falantes nativos do INA preferem usar verbos estativos afetivos combinados com a morfologia não progressiva quando não houver marcador adverbial de tempo; e (ii) falantes nativos do INA preferem usar verbos estativos afetivos combinados com a morfologia progressiva quando houver marcador adverbial de tempo. Nesse caso, entende-se por preferência a escolha de uma morfologia verbal em detrimento das outras em 80% ou mais de 80% das ocorrências.

A fim de por à prova tais hipóteses, foi desenvolvida uma metodologia que consiste na aplicação de um teste de preenchimento de lacunas, em que a lacuna localiza-se na posição de um verbo estativo afetivo. O teste possui um total de vinte sentenças com três alternativas de resposta, que variam em função da morfologia verbal utilizada, sendo uma delas distratora. Há quatro sentenças para cada um dos cinco tipos de verbos estativos afetivos. Advérbios e/ou expressões adverbiais de tempo foram

A ExPRESSãO MORfOLóGICA DE ESTATIvOS AfETIvOS NO INGLêS

NORTE-AMERICANO

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controlados e estão presentes em dez das vinte sentenças, sempre no início da oração. Esse teste será aplicado a dez nativos de INA.

Resultados iniciais obtidos a partir da aplicação do teste a quatro nativos de INA apontam a preferência da morfologia não progressiva nos dois contextos, com e sem marcador adverbial de tempo.

COMRIE, B. Aspect: an introduction to the study of verbal aspect and related problems. New York: Cambridge University Press. 1976.

GARCIA, A. Uma tipologia semântica dos verbos do português. Revista Soletras,v2, jul/dez. São Gonçalo, UERJ. 2004.

VENDLER, Z. Verbs and times. In: Linguistics in Philosophy. Ithaca: Cornell University Press. 1967.

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Esse trabalho visa investigar quais são as características da sílaba do português que tendem a ser preservadas em situação de empréstimos e, mais particularmente, diante de nomes e sobrenomes não vernáculos. A sílaba do português tem suas características descritas, sobretudo, a partir dos itens já consagrados no léxico. Ao se deparar com uma estrutura barrada pelas regras fonotáticas da língua, quais são as estratégias do falante para contornar essa dificuldade? Tanto a eliminação, quanto a inserção de segmentos são as estratégias mais recorrentes na correção dessas estruturas incomuns à língua. Defendemos que quase todas as reparações são advindas de princípios atrelados à formação silábica, que, por sua vez, levam em consideração os segmentos envolvidos, de maneira que os traços distintivos são importantes para a caracterização do fenômeno.

Citemos, como exemplo, as adaptações ocorridas com o empréstimo ‘sport’. Na língua de origem, há apenas uma sílaba. No português, entretanto, uma sílaba como essa é inaceitável, pois tanto esse tipo de ataque silábico quanto o de coda não são estruturas encontradas na língua portuguesa, O falante de português sabe que não há em sua língua padrões silábicos como: “sp” e “rt”, respectivamente, nas posições anteriormente mencionadas. O resultado, como sabemos, é um processo de ressilabação em que a palavra passará a ter três sílabas. Dentre outras questões relevantes para esta investigação, podemos pensar os motivos que influenciam a inserção de um tipo específico de segmento, bem como, sua composição por traços distintivos e ainda a escala de sonoridade dos segmentos envolvidos. Outra questão refere-se a posição em que o segmento foi introduzido. Quais seriam as razões que impediriam um rearranjo como “siport”, por exemplo. Uma explicação satisfatória do fenômeno envolve, necessariamente, as adaptações, que, embora se conformem ao padrão, não são encontradas na língua.

A fim de investigar experimentalmente a questão proposta serão realizadas gravações de leitura com falantes nativos de português a partir de textos previamente selecionados. O experimento consistirá na leitura contextualizada dos itens em análise, uma vez que, um dos interesses é que sejam lidos da forma mais espontânea quanto possível. A naturalidade esperada em executar tais testes advém da necessidade de impedir que o falante possa monitorar sua fala e, consequentemente, manipular os dados, ideia contrária aos objetivos do trabalho. O corpus será coletado de textos que circulam no dia-a-dia, trechos de jornais e revistas, por exemplo. Dentre os dados que interessam nessa reflexão

A SÍLABA DO PORTUGUêS ATRAvéS DE ADAPTAçõES DE

SOBRENOMES NãO vERNáCULOS

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(Will) “Smith”. Todos estes são relevantes para estudo consoante ao objetivo da pesquisa desenvolvida. Espera-se que este estudo contribua para uma compreensão ainda maior do componente sonoro da linguagem ou, mais especialmente, das peculiaridades do português, que podem enriquecer o conhecimento desse componente.

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Este trabalho tem como objetivo investigar em dados de aquisição do português brasileiro (doravante PB) quando crianças em processo de aquisição desta variedade do português produzem passivas em fala espontânea e quais das hipóteses da literatura gerativa tomadas por este trabalho para explicar a aquisição da passiva, no caso Borer e Wexler (1987) e Hirsch e Wexler (2006), ou Fox e Grodizinsky (1998), podem ser corroboradas pelos dados analisados. A proposta de Borer e Wexler (1987) assume que a criança em processo de aquisição de uma língua apresenta um delay na realização de passivas verbais por apresentarem um déficit de cadeia-A, a qual não matura antes dos sete anos de idade (Borer e Wexler (2006); Hirsch e Wexler (2006)).

Já Fox e Grodizinsky (1998) argumentam que a dificuldade da criança em compreender a passiva não está na ausência ou não de movimento de cadeia-A, mas sim na passiva não-truncada com verbo de não-ação (ex. O garoto foi visto pelo cavalo). Para a realização da análise contrastiva entre os dados e as propostas foram coletados dados de fala espontânea de 48 arquivos de 4 crianças das bases do Projeto Aquisição da Linguagem (CEDAE, IEL/UNICAMP) e do Banco de Dados do CEAAL (Centro de Aquisição e Aprendizagem de Linguagem/PUCRS), entre um ano e seis meses a cinco anos e seis meses, com o objetivo de observar primeiramente quando se inicia a realização dos inacusativos sem subida do argumento interno para Spec-TP (por exemplo Chegou a comida) e com subida desse argumento para a posição Spec-TP (por exemplo [A comida]i chegou ti), uma vez que, segundo a análise canônica dos inacusativos, o movimento de seu argumento interno para a posição de sujeito (Spec-TP) para buscar caso nominativo é tratado de forma semelhante ao movimento do argumento interno de estruturas passivas (por exemplo, Foi comprada a bola e A bolai foi comprada ti), configurando-se ambos como movimento de cadeia-A.

Em um segundo momento, foram observadas ocorrências da passiva adjetiva (ou lexical), e da passiva com verbos de ação e de não-ação e sua relação com a presença ou ausência do agente da passiva, pois, para Borer e Wexler (1987), a aquisição da passiva adjetiva ocorre primeiramente à aquisição da passiva verbal, e para Fox e Grodzinsky (1998), crianças apresentam dificuldade para compreender passivas verbais com verbos de não-ação com agente da passiva. Da análise preliminar dos arquivos, observou-se que o uso dos argumentos internos de verbos inacusativos são predominantemente pós-verbais quando realizados por um DP e pré-pós-verbais quando realizados por pronomes, e que a presença

AqUISIçãO DA vOZ PASSIvA NO PORTUGUêS BRASILEIRO

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e uso de passivas lexicais se inicia antes do dois anos de idade. Não foram observadas a realização produtiva de passivas verbais, tendo-se como hipótese inicial que essas passivas sejam um advento da escrita no PB.

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O objetivo deste trabalho é investigar o papel da L1 e da Gramática Universal (GU) em contexto de aquisição de Espanhol como L2 por falantes adultos brasileiros. Adotamos, aqui, os pressupostos teóricos da Teoria Gerativa.

Considerando que os falantes de PB têm como referência em sua língua materna um sistema pronominal tensionado por mudanças linguísticas (entre elas o apagamento de objeto) e que, no espanhol, o fenômeno de apagamento de objeto aparece em contextos restritos, predominando a estratégia de retomada por clíticos, os objetivos deste trabalho são: verificar quais são as estratégias de retomada selecionada pelos aprendizes de espanhol L2; investigar se os aprendizes também fazem uso da estratégia de apagamento do objeto.

Será possível verificar se há acesso à L1 e à G.U no processo de aquisição da L2. Por meio de dados coletados junto a falantes do PB aprendizes do Espanhol como L2, verificaremos se há ou não transferência das propriedades da L1 para a L2 e a atuação da G.U nesse processo. Pesquisas feitas sobre o PB apontam para uma assimetria no preenchimento dos argumentos. O objeto no PB tende cada vez mais a ser apagado ou retomado por um pronome lexical. Sebold (2009) verificou que a estratégia de retomada mais selecionada pelos aprendizes foi a retomada por clíticos, seguida pela retomada através do sintagma nominal (doravante SN). A estratégia de retomada por apagamento também foi encontrada, embora em número menor. Para alcançar os objetivos deste trabalho foi aplicado um teste de versão em aprendizes com um ano e dois anos e meio de estudo. Os resultados preliminares apontam para uma ocorrência de retomada por clítico, embora em número menor do que a retomada por SN, a primeira estratégia evidenciaria o acesso à G.U, mas também ocorrências de apagamento de objeto o que evidenciaria o acesso à L1.

SEBOLD, M. M. R. Q. Distribuição de clíticos no Espanhol e no PB e a repercussão no ensino de Espanhol L2. In: Anais da ABH, 2009.

ESTRATéGIAS DE RETOMADA POR APRENDIZES DE ESPANHOL

L2 fALANTES DE PB

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A tradição trata ‘muito’ + nome como um sintagma de determinante (SD - pronome indefinido + nominal). Defendemos que ‘muito’ + nome não é um SD, mas modificador de grau + nome nu.

Para Müller e Paraguassu (2006), nus contáveis são neutros quanto a número, não singulares. Para a verdade da sentença (1), João tem de ter comprado duas ou mais batatas; já para a verdade da (2), cujo objeto é um sintagma nominal nu sem plural, além das condições de verdade de (1), outras servem: se João comprou uma única batata, ou mesmo partes de uma (duas colheradas de purê), é verdade que ele comeu `batata´. A ausência de morfologia de plural no nome nu não indica singularidade; (2) não denota a compra de exatamente uma batata como (3).

(1) João comprou batatas.

(2) João comprou batata.

(3) João comprou uma batata.

Como (3) mostra, o contraste singular-plural é diferente nos nus e em SDs. ‘A caneta’ (ex. 4) denota uma única entidade; ‘as canetas’ (ex.(5)), duas ou mais.

(4) A caneta azul.

(5) As canetas azuis.

Descrições indefinidas e plurais nus (‘batatas’, em (1)) possuem apenas indivíduos em sua denotação. Nominais nus sem morfologia de plural (ex.(2)) incluem partes de indivíduos.

A morfologia de plural significa coisas diferentes em contáveis (‘canetas’ são dois ou mais indivíduos) e massivos (‘pós’ são pós de qualidade diferente, não dois indivíduos de pó) (Link 1983).

Vamos atentar para os contáveis. A verdade de (6) não requer que Maria tenha subido uma escada inteira; ela pode ter subido parte de uma longa escada, uma vez ou mais; mas para a verdade da sentença (8), com o SD, a escada toda tem de ter sido percorrida. As condições de verdade de (6) estão mais para as de uma sentença com o nome nu (7), e há interpretações de (6) em que ‘muito’ tem o efeito de ‘várias vezes’.

‘MUITO’ + NOME é SINTAGMA DE DETERMINANTE?

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A demência do tipo Alzheimer (doravante DTA) é uma doença neurodegenerativa que compromete diferentes módulos cognitivos. Em decorrência da DTA, o indivíduo apresenta comprometimentos nos conceitos e na expressão linguística. Quanto ao comprometimento na expressão linguística, não é consensual se é devido a um déficit no módulo da linguagem ou se é decorrente de um comprometimento em módulos não linguísticos, como o módulo dos conceitos.

Tempo e aspecto são categorias independentes que possuem representação tanto no sistema conceptual quanto no sistema linguístico (NESPOLI, 2013). Tempo, segundo Comrie (1985), é uma categoria linguística dêitica que situa no tempo físico os acontecimentos do mundo. Para Comrie, as noções de tempo que são mais comumente gramaticalizadas são as de anterioridade, simultaneidade e posterioridade.

Já aspecto, segundo Comrie (1976), é uma categoria linguística não dêitica que expressa a composição temporal interna de um evento, e dois seriam os aspectos básicos: o perfectivo e o imperfectivo. Enquanto, no primeiro, o evento seria visto como um todo, no segundo, o foco estaria na constituição interna do evento. O imperfectivo pode ainda ser dividido em habitual e contínuo.

O presente trabalho tem como objetivo investigar um possível comprometimento na representação mental de tempo e aspecto no sistema conceptual e no sistema linguístico de pacientes com a provável DTA. Este trabalho busca ainda contribuir para a discussão acerca da origem do déficit linguístico na DTA.

Para tanto, será realizado um estudo de caso com um paciente diagnosticado com a provável DTA por meio da aplicação dos seguintes testes: uma versão brasileira do teste neuropsicológico Mini-Mental State Examination, para avaliar a existência / o grau de comprometimento cognitivo, e um teste conceptual de sequência lógica combinado a um teste linguístico de produção semiespontânea, para avaliar o conceito e a produção linguística de tempo / aspecto, respectivamente. Para analisar a produção linguística, serão consideradas a morfologia verbal, as expressões adverbiais temporais / aspectuais e a natureza dos complementos. Além do paciente, um indivíduo controle será submetido aos testes.

Para desenvolver este estudo, assumem-se as seguintes hipóteses: (i) o desempenho do paciente no teste conceptual é prejudicado em relação ao do controle; (ii) o desempenho do paciente no teste linguístico

O CONCEITO E A PRODUçãO LINGUÍSTICA DE TEMPO E ASPECTO NA

DEMêNCIA DO TIPO ALZHEIMER

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é prejudicado em relação ao do controle; e (iii) o desempenho do paciente no teste linguístico é equivalente ao seu desempenho no teste conceptual.

Até o momento, os testes foram aplicados a 6 indivíduos de 23 a 27 anos. Os resultados iniciais obtidos apontaram que esses indivíduos, no teste conceptual, obtiveram um desempenho de total aproveitamento e, no teste linguístico, ao expressar tempo, fizeram maior uso de expressões adverbiais para indicar a posterioridade e, ao expressar aspecto, fizeram maior uso da morfologia de progressivo para indicar a ação em andamento e da morfologia de perfectivo e de adjetivos para indicar a finalização da ação.

COMRIE, B. Aspect. New York: Cambridge University Press, 1976. ______. Tense. Cambridge: Cambridge University Press, 1985.

NESPOLI, J. Tempo e aspecto na demência do tipo Alzheimer: um estudo longitudinal. Dissertação de Mestrado em Linguística. RJ: UFRJ, 2013.

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A ordem canônica dos adjetivos no Português Brasileiro (PB) é a pós-nuclear. Porém, alguns poucos adjetivos podem ocupar a posição pré-nominal, diferentemente do que ocorre na língua inglesa, por exemplo, que apresenta certa rigidez quanto à posição do adjetivo no sintagma nominal: adjetivos sempre antepostos ao núcleo.

(1) Big man

Muitos trabalhos já foram desenvolvidos buscando explicar o fenômeno da posição do adjetivo no PB. Um desses trabalhos (Nunes, Negrão e Pemberton, 2003) partiu para a divisão dos adjetivos em classes e propôs que os adjetivos relacionais são os que mais tipicamente aceitam a anteposição, pois eles podem tomar o nome-núcleo como seu argumento, ou seja, como a classe com a qual se efetua a comparação (Menuzzi, 1992). Num exemplo como em (2) encontramos um adjetivo relacional ocupando a posição anteposta ao núcleo.

(2) O esperto professor

Ao propor que a classe dos adjetivos relacionais está associada a uma escala e requer comparação, os autores chegam bem próximos de uma explicação suficiente para o fenômeno da alternância na posição dos adjetivos no sintagma nominal. Mas oferecem como exemplo da classe dos adjetivos relacionais marrom, em ‘João tem a pele marrom’, por ‘pele marrom’ não denotar a intersecção das coisas que são ‘pele’ com as coisas que são ‘marrons’. Pela definição dos autores, ‘marrom’ é um adjetivo relacional. Porém, por definição, todo adjetivo ‘relacional’ poderia ocupar tanto a posição pré-nominal quanto a pós-nominal. Percebemos que a definição de “relacionais” não dá conta do fenômeno, uma vez que o adjetivo ‘marrom’ não pode ser anteposto:

(3) * marrom pele/ pele marrom

Os adjetivos que podem ocupar a posição pré-nominal possuem uma especificidade que não foi captada pela definição de “relacionais”. Propomos que somente os adjetivos de grau possuem a particularidade de poderem vir atrás ou na frente do núcleo nominal. Com o objetivo de encontrar uma definição adequada para a classe dos adjetivos que apresenta tal mobilidade dentro do sintagma nominal, partimos para a análise de um corpus referente ao falar carioca disponibilizado pelo NURC e aplicamos o teste de graus (Kennedy e McNally 2005) a cada adjetivo encontrado. O teste consiste em colocar o adjetivo em estruturas de comparação e em intensificá-lo: aqueles adjetivos que formam

POR qUE POUCOS ADjETIvOS DO PORTUGUêS BRASILEIRO

PODEM SER PRé-NOMINAIS?

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boas sentenças tanto antepostos quanto pospostos aos núcleos nominais revelaram-se adjetivos de grau, como ilustrado nos exemplos 4 e 5:

(4) Ônibus escolar/ *escolar ônibus

(5) Prédio novo/ novo prédio

Em (4), o adjetivo, segundo o teste, não é de grau; verificamos que ele precisa vir posposto para que o sintagma nominal seja gramatical. Já o sintagma nominal (5) é bem formado, quer o adjetivo apareça antes, quer depois do núcleo, e esse adjetivo foi identificado como de grau pelo teste. Chegamos à conclusão de que todos os adjetivos que podem estar tanto em posição pré-nominal quanto pós-nominal são de grau. A explicação pode ser alcançada se recorrermos à sintaxe associada aos adjetivos de grau, em que eles são os únicos admitidos como complementos de um núcleo de grau não-pronunciado (Degree Phrases, Sintagmas de Grau).

Referências

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