UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto FUNDACE
Fundação para Pesquisa e Desenvolvimento da Administração, Contabilidade e Economia
MBA EAD FINANÇAS
Turma 1RELATÓRIO TCC 2020
Nome do Aluno: Gabriela Meneghette Tristão
Título do Trabalho: Indicadores Financeiros Determinantes de Recuperação Judicial de Empresas Brasileiras Listadas na Bolsa de Valores
Área: Área 2 - Análise de Risco de Crédito
Professor Orientador: Prof. Fabiano Guasti Lima
Resumo
Este estudo tem como objetivo a análise de indicadores financeiros para observações dos padrões de empresas em recuperação judicial. Foram selecionadas 30 empresas listadas na Bolsa de Valores tendo com base o mesmo setor de atuação e tamanhos parecidos, sendo 15 empresas solventes e 15 empresas que se encontram em recuperação judicial entre o período de 2010 a 2019. Foram analisados os indicadores financeiros referentes à liquidez, endividamento e rentabilidade e posterior elaboração de estatística descritiva para resumo dos resultados e representações gráficas. Os três indicadores analisados nesse estudo demonstraram que as empresas em recuperação judicial possuem valores abaixo das empresas solventes considerados para uma organização sustentável financeiramente.
1. Introdução
A crise econômica e financeira ocorrida em 2015 prejudicou a entrada de recursos no caixa das empresas e com o crédito mais caro, a renegociação de dívidas e a possibilidade de financiamento foram dificultados. Muitas empresas precisaram recorrer ao processo de recuperação judicial para evitar uma possível falência. Conforme os dados do Serasa Experian, o número de empresas que entraram com o pedido de recuperação judicial desde a nova Lei de Falências foi recorde em 2016, sendo 1.863, (44,8%) maior do que 2015. Em 2015 foram registradas 1.287 ocorrências.
Conforme o Art. 47 da Lei 11.101 de 9 de fevereiro de 2005 (Lei de Falência e Recuperação Judicial) “a recuperação judicial tem por objetivo a superação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica”.
De acordo com Menezes (2012) na doutrina econômica a função social vem sendo observada igualmente nessa perspectiva, dando prioridade pela produção de riqueza e pela permanência da empresa, na capacidade de gerar renda suficiente que justifique a continuidade de suas atividades.
Para Assaf Neto (2015) para uma empresa obter uma posição de equilíbrio financeiro é essencial uma adequação entre a maturidade dos passivos e a capacidade de geração de caixa dos ativos. As decisões financeiras devem permitir a continuidade e valorização das empresas. Deve ainda satisfazer as expectativas de remuneração dos credores e acionistas tornando-a economicamente viável.
O objetivo principal desse estudo é responder a seguinte pergunta: Os indicadores financeiros observados são determinantes na análise da recuperação judicial de empresas listadas na Bolsa de Valores? A amostra contém 30 empresas, 15 solventes e 15 insolventes listadas na Bolsa de Valores com análise dos demonstrativos contábeis do ano de 2008 ao de 2019.
Acredita-se que com esses dados e os resultados encontrados possamos traçar um panorama da situação financeira destas empresas, auxiliando o setor corporativo das organizações na tomada de decisões, evitando assim, eventuais problemas financeiros no futuro. E poderia ajudar também o ambiente externo à corporação, oferecendo o conhecimento prévio dos principais indicadores financeiros e econômicos que sinalizam uma dificuldade financeira, e que são determinantes na escolha de uma empresa, como no caso de uma análise de crédito ou uma oportunidade de investimento.
2. Referencial da pesquisa
Marion (2019) comenta que a análise das demonstrações contábeis desenvolveu-se com o surgimento dos bancos governamentais; e com a necessidade da abertura de capital por parte das empresas, essa análise se tornou um instrumento de grande importância e tomada de decisões para os pequenos ou grandes investidores.
Para Assaf Neto (2015) através das demonstrações contábeis levantadas por uma empresa, um analista pode obter conclusões sobre investir ou não em ações de determinada empresa, a concessão de crédito ou não, a sua capacidade de pagamento, e a situação de solvência.
Silva (2017) argumenta que a análise financeira vai além das demonstrações contábeis. É preciso ter uma visão completa da empresa, suas estratégias referentes às decisões de investimento e financiamento.
Souza (2015) complementa que para a correta análise das demonstrações contábeis de uma empresa, é fundamental que tenham alto grau de qualidade, para que ocorra a menor variação possível, pois tal informação sendo desatualizada pode retratar de forma distorcida a realidade da situação financeira da empresa.
As demonstrações contábeis utilizadas na pesquisa estão de acordo com as elencadas por Assaf Neto (2015) que são exigidas pelas empresas que tem suas ações negociadas na Bolsa de Valores, sendo o Balanço Patrimonial (BP), a Demonstração do Resultado do Exercício (DRE), a Demonstração dos Lucros e Prejuizos Acumulados ou Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido, a Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) e Demonstração do Valor Adicionado (DVA).
Conforme os comentários dos autores acima, a análise das demonstrações contábeis e os relatórios de desempenho das empresas são essenciais para a obtenção dos indicadores financeiros.
De acordo com Silva (2005) os índices financeiros são relações entre contas das demonstrações contábeis que tem por objetivo nos fornecer informação que não estariam fáceis de serem visualizadas de uma forma direta nas demonstrações contábeis.
Os índices utilizados nesse trabalho serão compostos pelos índices de liquidez, de endividamento e de rentabilidade que serão apresentados posteriormente.
3. Metodologia
Quanto à metodologia abordada, referente aos seus objetivos, a pesquisa se caracteriza como descritiva e quanto aos procedimentos, quantitativa com a utilização de técnicas estatísticas para avaliação dos indicadores observados.
De acordo com Sampieri (2013) o processo quantitativo parte de uma ideia que vamos delimitando, e uma vez definida, extraímos os objetivos e perguntas de pesquisa até o momento final em que estabelecemos uma série de conclusões em relação às hipóteses. As fases do processo quantitativo podem ser observados através do Quadro 1.
Quadro 1 – Processo Quantitativo
Fase 1 Ideia
Fase 2 Formulação do Problema
Fase 3 Revisão da literatura e desenvolvimento do marco teórico
Fase 4 Visualização do alcance do estudo
Fase 5 Elaboração das hipóteses e definição de variáveis
Fase 6 Desenvolvimento do desenho de pesquisa
Fase 7 Definição e seleção da amostra
Fase 8 Coleta dos dados
Fase 9 Análise dos dados
Fase 10 Elaboração do relatório de resultados
Fonte: SAMPIERI (2013, p. 27)
A amostra do estudo teve como base as companhias de capital aberto listadas na Bolsa de Valores que entraram em recuperação judicial no ano de 2010 até dezembro de 2019.
As fontes de dados das empresas e das datas de entrada em recuperação judicial foram extraídas do site da CVM - Comissão de Valores Mobiliários e seus respectivos demonstrativos contábeis do site da BM&FBovespa no período de 2010 a 2019.
Foram selecionadas 30 empresas, 15 solventes e 15 insolventes, de setores diversos da sociedade. Para a comparação de empresas foi utilizado o setor de atuação e portes semelhantes tendo como base os valores dos ativos dessas companhias. As empresas solventes estão dispostas no Quadro 2, e as empresas insolventes no Quadro 3 com a data de entrada no processo em recuperação judicial.
Os dados das empresas foram dispostos na ordem em que elas foram comparadas. É possível observar que duas empresas deram entrada em recuperação judicial no ano de 2012, duas em 2013, destaque para a empresa OSX Brasil S/A, uma em 2015, quatro em 2016, destaque para a empresa Oi S/A, uma em 2017 e cinco em 2018, destaque para a rede Hotéis Othon S/A.
Quadro 2 – Lista de Empresas Solventes
EMPRESA SETOR DE ATUAÇÃO
Porto Sudeste V. M. S/A Administração de empresas e
empreendimentos
Concessionária de Rodovia Sul-Matogrossense S/A Atividades auxiliares ao transporte rodoviário
Tecnisa S/A Construção de edifícios residenciais
Inter Construtora e Incorporadora S/A Construção de edifícios residenciais
Sondotecnica Engenharia de Solos S/A Consultoria administrativa, científica e
técnica
Sinqia S/A Editoras de software
Mangels Industrial S/A Forjarias e estamparias
Metalúrgica Riosulense S/A Indústria de autopeças
Lifemed Industrial de Equip. e Art. Medicos e Hosp. S/A Indústria de equipamentos e materiais para
uso médico
Santher Fab de Papel Sta Terezinha S/A Indústria de papel, celulose e papelão
Eucatex S/A Industria e Comércio Indústria de produtos de madeira compensada
e afins
Dohler S/A Indústria de roupas de tecido
Terminal Garagem Menezes Cortes S/A Outras atividades auxiliares ao transporte
Csu Cardsystem S/A Serviços de apoio a empresas
Claro Telecom Part S/A Telecomunicações
Fonte: Dados obtidos no site da CVM
Quadro 3 – Lista de Empresas em Recuperação Judicial
EMPRESA SETOR DE ATUAÇÃO ENTRADA
EM RJ
Pomifrutas S/A Cultivo de frutas e nozes 25/01/2018
OSX Brasil S/A Estaleiros 11/11/2013
PDG Realty S/A Empreendimentos e
Participações Construção de edifícios residenciais 02/03/2017
Viver Incorporadora e Construtora S/A Construção de edifícios residenciais 29/09/2016
Tecnosolo S/A Consultoria administrativa, científica e técnica 29/08/2012
Saraiva Livreiros S/A Editoras de jornais, revistas, livros e similares 27/11/2018
Lupatech S/A Forjarias e estamparias 11/12/2015
Wetzel Fundição de Ferro S/A Indústria de autopeças 11/02/2016
IGB Eletrônica S/A Indústria de equipamentos de áudio e vídeo 09/05/2018
Eternit S/A Indústria de outros produtos de minerais não
metálicos 16/04/2018
Refinaria de Petróleo Manguinhos S/A Indústria de produtos de petróleo e carvão 17/01/2013
Teka Tecelagem Kuehnrich S/A Indústria de roupas de tecido 26/10/2012
MMX Mineração e Metálicos S/A Mineração de metais 20/12/2016
Hotéis Othon S/A Hotel, motel ou similar 27/11/2018
Oi S/A Telecomunicações 29/06/2016
Fonte: Dados obtidos no site da CVM
Para a realização dos cálculos dos indicadores financeiros, os dados retirados dos demonstrativos contábeis, como o passivo oneroso (os empréstimos e financiamentos de curto e longo prazo), o patrimônio líquido, o ativo circulante, o passivo circulante e o lucro líquido foram dispostos em uma Planilha Excel. Os indicadores financeiros utilizados nesse estudo tiveram como base os indicadores do modelo de previsão de insolvência e falência de Kanitz (1978) e que serão comentados abaixo.
3.1. Indicadores de Endividamento
De acordo com Assaf Neto (2020) a análise de endividamento avalia basicamente a proporção de recursos próprios e terceiros mantidos pela empresa, sua dependência financeira por dívidas de curto prazo, a natureza dos seus exigíveis e o seu risco financeiro.
Marion (2019) complementa que com a análise desses indicadores é possível verificar se os recursos de terceiros têm seu vencimento em maior parte a curto prazo ou a longo prazo.
O indicador analisado nesse estudo é a Divida/Patrimônio Líquido que é composta pelas dividas onerosas que são aquelas dívidas geradoras de encargos financeiros como empréstimos e financiamento e o seu patrimônio líquido. Para cada R$ 1,00 de capital próprio investido o quanto foi utilizado de capital de terceiros onerosos.
É representado pela fórmula:
DIV/PL=𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃 𝑂𝑂𝑂𝑂𝑂𝑂𝑂𝑂𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃 (𝐹𝐹𝑃𝑃𝑂𝑂𝑃𝑃𝑂𝑂𝐹𝐹𝑃𝑃𝑃𝑃𝐹𝐹𝑂𝑂𝑂𝑂𝐹𝐹𝑃𝑃𝑃𝑃 𝑂𝑂 𝐸𝐸𝐹𝐹𝐸𝐸𝑂𝑂é𝑃𝑃𝐹𝐹𝑃𝑃𝐹𝐹𝑃𝑃𝑃𝑃 𝑑𝑑𝑂𝑂 𝐶𝐶𝐶𝐶𝑂𝑂𝐹𝐹𝑃𝑃 𝑂𝑂 𝐿𝐿𝑃𝑃𝑂𝑂𝐿𝐿𝑃𝑃 𝑃𝑃𝑂𝑂𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃)
𝑃𝑃𝑃𝑃𝐹𝐹𝑂𝑂𝑃𝑃𝐹𝐹ô𝑂𝑂𝑃𝑃𝑃𝑃 𝐿𝐿í𝑞𝑞𝐶𝐶𝑃𝑃𝑑𝑑𝑃𝑃
3.2. Indicadores de Liquidez
O termo liquidez representa de forma geral a conversão de um ativo em dinheiro.
De acordo com Marion (2019) esses indicadores são utilizados para avaliar a capacidade de pagamento de uma empresa. Essa avaliação pode ser feita a curto prazo, prazo imediato ou longo prazo.
O indicador presente nesse estudo é a liquidez corrente que expressa a capacidade de uma empresa de saldar seus compromissos no curto prazo. A liquidez corrente indica o quanto existe de ativo circulante para cada R$ 1,00 de dívida a curto prazo. A sua representação é dada pela fórmula:
LC= 𝐴𝐴𝐹𝐹𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃 𝐶𝐶𝑃𝑃𝑂𝑂𝐹𝐹𝐶𝐶𝐶𝐶𝑃𝑃𝑂𝑂𝐹𝐹𝑂𝑂 𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃 𝐶𝐶𝑃𝑃𝑂𝑂𝐹𝐹𝐶𝐶𝐶𝐶𝑃𝑃𝑂𝑂𝐹𝐹𝑂𝑂
A sua interpretação pode ser definida em três situações:
LC > 1,0 = a empresa tem mais recursos do que necessita para honrar as suas obrigações no curto prazo;
LC = 1,0 = a empresa se encontra em equilíbrio;
LC < 1,0 = a empresa não possui recursos para honrar os seus débitos no curto prazo Assaf Neto (2020) comenta que quanto maior a liquidez corrente, mais alta se apresenta a capacidade da empresa em financiar suas necessidades de capital de giro.
3.3. Indicadores de Rentabilidade
Os indicadores de rentabilidade têm como objetivo medir o desempenho de uma empresa. Pode ser em relação aos investimentos financeiros, aos seus ativos e ao seu patrimônio líquido.
O indicador analisado nesse estudo é o Retorno sobre o Patrimônio Líquido ou ROE que advém do termo inglês return on equity e que mede a capacidade de uma empresa em gerar valor a partir de seus recursos próprios e do capital dos investidores. Demonstra o quanto de lucro a empresa gera com o investimento feito pelos acionistas. É composto pela fórmula:
ROE = 𝐿𝐿𝐶𝐶𝐹𝐹𝑂𝑂𝑃𝑃 𝐿𝐿í𝑞𝑞𝐶𝐶𝑃𝑃𝑑𝑑𝑃𝑃
𝑃𝑃𝑃𝑃𝐹𝐹𝑂𝑂𝑃𝑃𝐹𝐹ô𝑂𝑂𝑃𝑃𝑃𝑃 𝐿𝐿í𝑞𝑞𝐶𝐶𝑃𝑃𝑑𝑑𝑃𝑃× 100
4. Resultados e Conclusão
Para a apresentação dos resultados foi realizada a estatística descritiva contendo a média aritmética simples, a mediana e o desvio padrão de cada indicador e posterior representação gráfica.
A média aritmética simples é uma medida de tendência central e a mais conhecida do nosso dia-a-dia. A média não precisa coincidir com algum dos valores da amostra. Ela é representada pela fórmula:
𝑋𝑋� =𝑆𝑆𝑃𝑃𝐹𝐹𝑃𝑃 𝑑𝑑𝑂𝑂 𝐹𝐹𝑃𝑃𝑑𝑑𝑃𝑃𝑃𝑃 𝑃𝑃𝑃𝑃 𝑃𝑃𝑜𝑜𝑃𝑃𝑂𝑂𝑂𝑂𝑃𝑃𝑃𝑃çõ𝑂𝑂𝑃𝑃 𝑑𝑑𝑃𝑃 𝑃𝑃𝐹𝐹𝑃𝑃𝑃𝑃𝐹𝐹𝑂𝑂𝑃𝑃𝐹𝐹𝑃𝑃𝐹𝐹𝑃𝑃𝑂𝑂ℎ𝑃𝑃 𝑑𝑑𝑃𝑃 𝑃𝑃𝐹𝐹𝑃𝑃𝑃𝑃𝐹𝐹𝑂𝑂𝑃𝑃 = ∑ 𝑥𝑥𝑂𝑂𝑖𝑖
A mediana é o valor que se refere exatamente ao “valor do meio” da amostra, ela é mais intuitiva que a média, pois representa o centro (meio) da amostra de valores ordenados deixando metade dos valores acima dela e metade dos valores abaixo dela. Assim como a média, ela também não precisa coincidir com algum dos valores da amostra.
O desvio padrão é uma medida de dispersão de cada valor da amostra em relação à média, considerando a média como a medida de tendência central. Ela é expressa pela fórmula:
Desvio Padrão = �∑ (𝑥𝑥𝑃𝑃− 𝑥𝑥)
2 𝑂𝑂
𝑃𝑃=1
𝑂𝑂 − 1
Os dados dispostos na tabela e posteriormente no gráfico foram calculados pela mediana devido à média ser uma medida influenciada pela presença de valores extremos em uma amostra, deslocando também a representação do centro, que não expressaria os valores dos indicadores como deveriam ser. A mediana, por sua vez, não sofre tanta influência por conta dos valores extremos, pois o cálculo é feito pela ordem dos dados e não diretamente pelos seus valores.
As empresas com os valores de Patrimônio Líquido < 0 e com ambos os valores de Patrimônio Líquido e Lucro Líquido < 0 não foram consideradas para a análise dos respectivos indicadores de endividamento e rentabilidade, pois no caso do ROE, uma divisão de valores negativos resultaria num valor positivo, possibilitando um erro na análise do indicador.
Gráfico 1 – Indicador de Divida/Patrimônio Líquido
Fonte: Elaborado pelo autor
No gráfico observamos que o valor mínimo e valor máximo das empresas solventes se encontram entre 0,11 a 0,45 enquanto nas empresas em recuperação judicial temos 0,79 a 12,21, um valor bem destoante. No ano de 2012 as empresas em recuperação judicial tem um aumento de 140,69% comparado a 2011 e as empresas solventes uma redução de 16% no mesmo período. Após o ano de 2013 observamos nas empresas solventes um aumento até o ano de 2019 de endividamento perante o capital de terceiros, tendo uma pequena redução no ano de 2017 em comparação com o período de 2016 a 2019. No caso das empresas em recuperação judicial vemos uma redução de 57,51% no período de 2015 a 2017, porém um aumento significante entre 2018 a 2019 de 236,89%, sendo 2019 o índice mais alto registrado nos períodos de 2010 a 2019, onde os maiores valores de endividamento se encontravam nas empresas Tecnosolo S/A e IGB Eletrônica S/A.
Tabela 1 – Dados estatísticos – Divida/Patrimônio Líquido
Solventes 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 Média 0,06 1,20 3,58 13,85 1,68 3,59 282,29 4,02 7,29 2,09 Mediana 0,09 0,45 0,38 0,11 0,23 0,27 0,31 0,29 0,35 0,37 Desvio Padrão 1,34 1,70 5,93 41,73 3,24 11,59 976,34 12,85 23,95 5,43 Insolventes 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 Média 3,56 7,25 2,55 1,83 3,06 5,33 1,30 4,33 8,39 17,34 Mediana 0,80 0,79 1,91 1,52 1,78 2,15 1,02 0,91 3,62 12,21 Desvio Padrão 0,30 20,35 3,05 1,47 3,63 9,07 1,15 7,06 11,42 20,45
Fonte: Elaborada pelo autor
0,09 0,45 0,38 0,11 0,23 0,27 0,31 0,29 0,35 0,37 0,80 0,79 1,91 1,52 1,78 2,15 1,02 0,91 3,62 12,21 0,00 2,00 4,00 6,00 8,00 10,00 12,00 14,00 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 Solventes Insolventes 9
Gráfico 2 – Indicador de Liquidez Corrente
Fonte: Elaborado pelo autor
No gráfico observamos que o valor mínimo e valor máximo das empresas solventes se encontram entre 0,91 a 1,67 enquanto nas empresas em recuperação judicial temos 0,29 a 1,50. É possível perceber que no ano de 2010 a liquidez corrente das empresas em recuperação judicial era 41,74% maior do que as empresas solventes, e que o seu indicador começa a deteriorar-se após o ano de 2011 ocorrendo uma redução no ano de 2011 para 2012 de 51,17% e o das empresas solventes tendo um aumento de 21,19% no mesmo período. Em análise ao período de 2010 a 2019, o indicador para as empresas em recuperação judicial teve uma variação negativa de 80,40% enquanto o das empresas solventes teve uma variação positiva de 79,70%, tendo o melhor índice sendo registrado no ano de 2016, sendo que nesse ano os melhores valores de liquidez corrente se encontravam nas empresas Dohler S/A, Inter S/A Construtora e Incorporadora e Sondotécnica Engenharia de Solos S/A.
Tabela 2 – Dados Estatísticos – Liquidez Corrente
Solventes 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 Média 0,06 1,74 1,67 1,97 2,22 1,81 1,70 2,76 1,90 2,22 Mediana 0,09 1,23 1,49 1,38 1,62 1,67 0,91 1,52 1,39 1,33 Desvio Padrão 1,20 1,18 1,01 1,64 1,87 1,44 1,88 3,63 1,54 2,16 Insolventes 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 Média 1,64 1,29 0,92 0,92 0,79 0,68 0,58 0,56 0,56 0,54 Mediana 1,50 1,46 0,71 0,72 0,91 0,44 0,34 0,31 0,32 0,29 Desvio Padrão 0,30 0,75 0,66 0,68 0,58 0,60 0,59 0,64 0,65 0,74
Fonte: Elaborada pelo autor 0,09 1,23 1,49 1,38 1,62 1,67 0,91 1,52 1,39 1,33 1,50 1,46 0,71 0,72 0,91 0,44 0,34 0,31 0,32 0,29 0,00 0,20 0,40 0,60 0,80 1,00 1,20 1,40 1,60 1,80 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 Solventes Insolventes 10
Gráfico 3 – Indicador de Retorno sobre o Patrimônio Líquido
Fonte: Elaborado pelo autor
No gráfico observamos que o valor mínimo e valor máximo das empresas solventes se encontram entre 0,90% a 12,46% enquanto nas empresas em recuperação judicial temos os seguintes valores -176,54% a 4,84%. Observamos que após o ano de 2014 temos uma redução de 92% dos indicadores das empresas solventes, porém o índice volta a aumentar a partir do ano de 2016 chegando a um crescimento de 84%. As empresas em recuperação judicial tem um ROE positivo nos períodos de 2010 a 2011, porém sofre uma redução de 576,16% no ano de 2012, e no período de 2017 a 2019 uma redução de 751,08%. A empresa Eternit S/A tem o valor mais baixo do ano 2018, chegando a mais de 1000% negativo, seguido da empresa Viver Incorporadora e Construtora S/A. Os melhores valores no ano de 2014 são registrados pela empresa Metalúrgica Riosulense S/A, do setor de autopeças, e Inter S/A Construtora e Incorporadora, do setor de construção de edifícios residenciais.
Tabela 3 – Dados Estatísticos – Retorno sobre o Patrimônio Líquido
Solventes 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 Média 0,06 0,02 -0,64 -1,31 0,23 -1,08 -6,95 -0,27 -0,06 -0,49 Mediana 0,09 0,09 0,05 0,08 0,12 0,01 0,03 0,01 0,02 0,05 Desvio Padrão 0,15 0,20 1,80 4,26 0,33 3,49 25,38 0,84 0,74 1,89 Insolventes 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 Média -0,09 -0,13 -1,64 -0,44 -1,19 -2,06 -0,26 -1,18 -3,29 -0,57 Mediana 0,02 0,05 -0,23 -0,03 -0,16 -0,20 -0,09 -0,06 -1,77 -0,49 Desvio Padrão 0,30 0,49 4,52 0,84 2,42 4,98 0,41 2,33 4,72 0,60
Fonte: Elaborada pelo autor
9,48% 8,83% 5,10% 8,45% 12,46% 0,90% 2,80% 0,69% 2,29% 5,16% 1,63% 4,84% -23,03% -2,88% -16,10% -19,65% -9,16% -5,74% -176,54% -48,82% -2,00 -1,50 -1,00 -0,50 0,00 0,50 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 Solventes Insolventes 11
Este trabalhou buscou identificar os indicadores financeiros que são relevantes em uma análise entre uma empresa solvente e em recuperação judicial.
Podemos perceber através dos gráficos e das análises que todos os indicadores das empresas em recuperação judicial estão abaixo dos valores de mercado ou valores das empresas solventes considerados sustentáveis para uma organização.
O índice de endividamento, para cada R$ 1,00 de capital próprio investido, tem em média dos anos observados 1,64 de passivos de terceiros onerosos, demonstrando a sua dependência financeira das empresas em recuperação judicial pela utilização de capital de terceiros.
Para Silva (2017) a liquidez decorre da capacidade de a empresa ser lucrativa, da administração de seu ciclo financeiro e de suas estratégias de investimento e financiamento.
Podemos observar que o índice de liquidez corrente das empresas em recuperação judicial na maioria dos anos observados não ultrapassa os 0,50, o que demonstra que a saúde financeira estava em risco, e que se a empresa necessitasse honrar todos os seus compromissos financeiros, ela não teria recursos suficientes.
A rentabilidade quanto maior, melhor, pois demonstra o retorno obtido pelos investimentos feitos, e os índices de retorno sobre o patrimônio líquido das empresas insolventes, na maioria dos anos estão negativos, o que demonstra uma dificuldade em gerar valor aos seus acionistas ao longo do tempo, e pode significar que a empresa não é lucrativa, pois ou o patrimônio líquido ou o lucro líquido é negativo, duas características ruins.
Para os próximos estudos seria interessante analisar outros indicadores financeiros e econômicos que o mercado considera importantes para avaliar o futuro das empresas de companhias abertas e indicadores específicos para as micro e pequenas empresas, pois de acordo com o Indicador Serasa Experian de Falências e Recuperações, as micro e pequenas empresas lideraram os pedidos em Julho de 2019 com o crescimento de 131% na comparação com o mês de Julho do ano de 2018.
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