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A Genealogia Humana. Capítulo Um

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Academic year: 2021

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A história do nosso corpo não começou quando os nossos antepassados macacos desceram das árvores. Nessa altura, já a história tinha atrás de si um longo caminho percorrido, desde a evolução dos primeiros peixes, há cerca de 500 milhões de anos. Nós somos descendentes desses peixes, da mesma forma que o são todos os animais que viveram desde então e que tinham espinha dorsal, das mais pequenas rãs e lagartos até aos enormes elefantes e dinossauros.

A partir do momento em que os peixes apareceram nos oceanos da antiguidade, a sua espécie espalhou-se cada vez mais. Alguns mudaram-se para águas doces e depois para terra. A selecção natural fez o seu trabalho e surgiram os pri-meiros anfíbios. Alguns destes anfíbios transformaram-se nos primeiros vertebrados em solo seco, os répteis, e, enquanto um grupo de répteis evoluía aumentado cada vez mais o ta-manho dos seus corpos até se transformarem em dinossauros, outros tornaram-se nos primeiros mamíferos — e o tamanho do seu corpo foi diminuindo. Quando os dinossauros desa-pareceram, deixando apenas os seus descendentes, os pás-saros, para dominar os céus, os mamíferos tomaram conta do solo e das árvores. Até que, finalmente, um grupo de mamí-feros começou a erguer-se e a sair da floresta. O resto, como se costuma dizer, é história.

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Esta é a estória dos factos que originaram essas histórias. Vamos explorar a nossa vivência como peixes e acompanhar a evolução através do nosso passado enquanto anfíbios e rép-teis, até às nossas vidas enquanto mamíferos. Cada um destes estágios de evolução deixou a sua marca nos nossos corpos e para entender o aspecto que apresentamos hoje em dia, deve-mos perceber primeiro de onde videve-mos.

Como vertebrados, podemos localizar as origens de mui-tas partes importantes do nosso corpo nos primeiros peixes, mas a nossa forma global é ainda mais antiga.

Há 500 milhões de anos, os oceanos estavam repletos de animais, mas todos eram uma espécie de invertebrados. Hoje em dia, conhecemos relativamente bem muitos dos seus des-cendentes: insectos, aracnídeos e crustáceos (com os seus cor-pos encastrados em conchas articuladas); moluscos (incluindo as amêijoas com as suas duas conchas ligadas, caracóis com conchas em espiral e polvos sem qualquer concha); equino-dermes, assim chamados devido à sua «pele espinhosa» (como as estrelas-do-mar, ouriços-do-mar e pepinos do mar); vermes segmentados e os seus parentes (minhocas, vermes poli-quetas e sanguessugas); ascarídeos e planarias não segmen-tados; anémonas marinhas, corais e medusas, entre outros grupos menos conhecidos e demasiado numerosos para listar.

Nestes oceanos antigos repletos de invertebrados, surgiu uma inovação que viria a mudar para sempre o aspecto da natureza. Uma espécie evoluiu em redor de um eixo rígido posicionado no centro do seu corpo. Tornou-se um peixe. Este eixo viria a transformar-se mais tarde, por meio da selec-ção natural, numa fileira de ossos, as vértebras, e nós, os ver-tebrados, tínhamos apenas começado a nossa viagem épica. Os cientistas ainda não sabem a que grupo de invertebrados devemos agradecer pela nossa espinha dorsal, uma estrutura tão dominante nos nossos corpos e mentes que até nos refe-rimos a ela no singular, embora conte mais de vinte e seis

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ossos distintos, e a referenciemos na linguagem diária: «Tens de manter uma postura recta» ou «Ele é a espinha dorsal da equipa». Contudo, podemos dizer algumas coisas sobre o corpo dos nossos antepassados invertebrados.

O que herdámos dos nossos antepassados invertebrados

Os corpos dos animais podem assumir as mais variadas formas. Alguns expandem-se para o exterior em todas as di-recções a partir de um eixo central, como as estrelas-do-mar ou os corais moles, mas a maioria é constituída por lados que são o espelho um do outro. O que têm de um dos lados tam-bém têm no outro e muitos dos órgãos surgem aos pares. Em todas as partes da anatomia, normalmente apenas um órgão, o intestino, se posiciona por cima da linha central.

O invertebrado que se transformou em peixe, era uma destas criaturas bilaterais simétricas. Todas as formas verte-bradas que existiram desde então seguiram este padrão, incluindo nós, os humanos. Temos um par de braços e per-nas, olhos, ouvidos, nariper-nas, pulmões, rins, ovários e testí-culos e, na linha central do nosso corpo, temos um cérebro (com alguns aspectos agrupados em pares), uma coluna ver-tebral, um coração (que se inclina para a esquerda), um órgão reprodutor e um intestino (bastante enrolado e que pode chegar a ter o comprimento equivalente a seis vezes a nossa altura) com o seu ponto de entrada e outro de saída.

Os nossos antepassados invertebrados mais afastados eram aparentemente animais que se deslocavam no ambiente que os rodeava, já que também herdámos uma cabeça e uma cauda; mas, desde que começámos a caminhar sobre as per-nas, a cabeça e a cauda transformaram-se na parte de cima e na parte de baixo do nosso corpo. Qualquer animal que se

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loco-mova — seja uma minhoca, uma lagosta ou um caracol — desenvolveu órgãos sensoriais na parte de cima do corpo, a parte que contacta em primeiro lugar com o meio ambiente. Ter todos os órgãos sensoriais concentrados na cauda não ia ter grande valor evolutivo. Um animal precisa de saber que está prestes a rastejar para dentro da boca de um predador, não que acabou de entrar nela. Pela mesma razão, a boca de um animal está normalmente localizada na parte da frente do corpo, para que seja a primeira a encontrar-se com a comida. Este facto é especialmente importante para os predadores cuja «comida» é capaz de fugir se for avisada previamente (os leões não iam conseguir jantar muitas vezes se primeiro emba-tessem nas zebras com a parte posterior do corpo).

Esta disposição sensorial conduziu, em quase todos os grupos de animais, à evolução de uma cabeça, que nós usa-mos como uma bola curiosamente esculpida, empoleirada no cimo do torso, mas que os restantes animais mantiveram à frente do corpo. A maior parte dos nossos órgãos sensoriais está localizada na cabeça: a visão, o olfacto, o paladar e a au-dição e é também por aí que ingerimos a comida. Com a quantidade de informação que passa por estes órgãos sen-soriais em direcção às células nervosas, o seu processamento também é feito na cabeça. Foi por esse motivo que o cérebro evoluiu aí. Devemos todos estes aspectos fundamentais do nosso corpo aos nossos antepassados invertebrados.

Sincronização

Este livro ainda mal começou e já estou a falar-vos des-contraidamente da evolução, sem ter dito primeiro do que se trata. Antes de continuarmos com a nossa história, descre-vendo a nossa vivência como peixes, vamos fazer uma pausa e explorar em termos simples as escalas temporais envolvidas

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e os conceitos de ciência, evolução e selecção natural que sus-tentam o conhecimento que temos de nós mesmos. Podemos começar por colocar a evolução da vida em perspectiva.

A Terra tem cerca de 4 550 000 000 (quatro biliões e qui-nhentos e cinquenta milhões) de anos. Se comprimíssemos todo este tempo no espaço de um ano e determinássemos que a Terra teve o seu início a 1 de Janeiro e que hoje é dia 31 de Dezembro, os primeiros seres microscópicos teriam surgido por volta do dia 1 de Março, mas os ancestrais peixes — os primeiros invertebrados — só teriam aparecido no dia 21 de Novembro. Para evoluir do estado puramente químico, a vida precisou de 750 milhões de anos, depois de mais três mil milhões de anos (dois terços da idade da Terra) para conseguir criar a complexidade dos peixes. Daí para a frente, as coisas mudaram rapidamente, mas até que alguns peixes tivessem colonizado a terra, já teríamos chegado a Dezembro. Os anfí-bios teriam aparecido no dia 2 de Dezembro, seguidos pelos répteis a 8. Os mamíferos no dia 13 e os dinossauros ter-se--iam extinguido um pouco depois da hora do lanche do dia 26. Os humanos só teriam chegado na noite de 31, há poucas horas.

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Neste livro, vamos explorar a história do corpo humano. Uma vez que todas as coisas que vamos abordar foram descobertas por várias gerações de cientistas, vale a pena despender um ou dois minutos para perceber exacta-mente o que é esta disciplina chamada ciência.

A palavra «ciência» provém do latim e significa «conheci-mento», mas através da história, nem sempre foi constante o conhecimento que as pessoas acreditavam ter do universo. Na Europa medieval, os estudiosos observavam o mundo que os rodeava e teorizavam sobre a sua natureza. Depois reuniam e debatiam as suas teorias numa tentativa de convencer os res-tantes a aceitar os seus pontos de vista. Esta convenção de atin-gir uma explicação aceite pela generalidade das pessoas através da argumentação acabou por cair em desuso e veio a ser subs-tituída no século XVIIpelo aparecimento do método científico.

O método científico é uma abordagem do conhecimento que pode ser visualizada através de um triângulo. Em primeiro lugar, observamos o universo (ou, mais usualmente, a parte que nos interessa). Depois, compomos uma teoria para explicar aquilo que observámos — uma hipótese. Até aqui, não há muitas diferenças em relação à abordagem mais antiga, mas entretanto foi acrescentada uma nova etapa. Em vez de dis-cutir sobre os pontos fortes e fracos da teoria, colocamo-la à

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prova, normalmente por meio de um tipo de experimentação. Quando obtemos o resultado da experimentação, voltamos ao início do triângulo e fazemos uma nova observação.

O método científico

Podemos dar a volta a este triângulo as vezes que forem necessárias para nos convencermos de que entendemos final-mente o fenómeno em causa, modificando a teoria e desen-volvendo novas experimentações.

O método científico predomina actualmente na maioria das culturas, mas não é uma invenção inovadora. É simples-mente uma extensão da forma como vivemos a nossa vida quotidiana. Por exemplo, imagine que vai a descer a rua e vê à sua frente uma bola castanha com a superfície irregular do tamanho de um punho. Isto é uma observação (Etapa 1). Questiona-se sobre o que será e especula que talvez seja um coco que rolou do mercado ali próximo. Já tem uma teoria: «é um coco» (Etapa 2). Curva-se para examinar melhor a bola e fá-la mexer-se com o pé. Está nesse momento a conduzir uma experimentação para testar a sua teoria (Etapa 3). Quan-do está a observar o resultaQuan-do Quan-do teste à teoria (novamente Etapa 1), fica admirado por constatar que a bola ganha vida

Observação

Referências

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