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Uma introdução ao Totalitarismo

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Academic year: 2021

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Uma introdução ao Totalitarismo

Esse trabalho se propõe a fazer uma breve introdução da obra: Origens do Totalitarismo de Hannah Arendt. O livro é dividido em três partes: Antissemitismo, Imperialismo e Totalitarismo. Serão abordados alguns tópicos relevantes sobre o termo totalitarismo em especial suas principais singularidades, presente na terceira parte e nos seus respectivos capítulos e subcapítulos.

Pode-se destacar que o século XX passou por profundas transformações políticas e sociais. Surge nesse contexto, os movimentos totalitários e o aniquilamento sistemático de milhares de judeus e outros povos. Em grande medida, o pensamento de Hannah Arendt está vinculado com sua experiência direta em relação as atrocidades do nazismo na Europa.

Para buscar compreender esse fato inaudito sem precedentes na história mundial, Hannah Arendt escreveu em 1949 uma extensa obra: As origens do Totalitarismo, que conforme a própria autora em seu prefácio (1966) foi concluída quatro anos após a derrota de Hitler e 4 anos antes da morte de Stalin. De suas várias contribuições ao pensamento político ocidental, a análise do fenômeno totalitário se encontra entre as principais da autora. Hannah Arendt nasceu na cidade de Hannover na Alemanha no ano de 1906. Estudou nas Universidades de Marbug e Freiburg e obteve seu doutorado de filosofia na Universidade de Heidelberg sob a orientação de Karl Jaspers. Em 1933 mudou-se para Paris e com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, exilou-se nos Estados Unidos. Nos EUA foi professora de diversas instituições, entre elas: New School for Social Research de Nova York. Também foi articulista de jornais como New York Times. Escreveu importantes obras como: A condição humana, Entre o Passado e o Futuro, Homens em tempos Sombrios, Da Violência, Eichmann em Jerusalém e Responsabilidade e julgamento. Arendt faleceu em 1975.

É importante notar que anteriormente as reflexões de Hannah Arendt sobre o fenômeno do totalitarismo, na Itália já se falava em Estado totalitário por volta da metade da década de 20. A expressão está presente na palavra “Fascismo” da Enciclopédia Italiana (1932), seja na parte escrita por Gentile, ou na parte redigida por Mussolini, onde o mesmo afirma a novidade histórica de um partido que governa totalitariamente uma nação. Na Alemanha nazista, o termo teve pouca repercussão, preferindo-se utilizar a expressão

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Estado autoritário. Após o período da Segunda Guerra Mundial, o termo se tornou mais abrangente e passou a ser utilizado para designar todas as formas de ditaduras monopartidárias. Com o tempo, passaram a ser formuladas teorias mais aprofundada sobre o assunto através de pensadores como Carl J. Friedrich e Zbigniew (1956) e como já citado pela própria Hannah Arendt (1949 [2009]).

Assim, em sua obra: Origens do Totalitarismo, Arendt retratou o estabelecimento dos governos totalitários através do apoio das massas. Segundo Arendt (1949 [2009]) o governo totalitário é algo radicalmente novo, diferenciando-se de tiranias, despotismos e ditaduras anteriores. Contudo, para a pensadora o termo totalitarismo deve ser utilizado com bastante cautela, pois se trata de um termo restrito a um determinado contexto que possui características próprias de outras formas de governo ou movimentos.

Inicialmente, procurando compreender o fenômeno do totalitarismo observou que o governo totalitário é uma forma de dominação política singular, exclusiva de países que possuem semelhanças organizativas como no caso da Rússia stalinista (1930 em diante) e a Alemanha hitlerista (1938 em diante). Arendt também evidenciou que outros países como a China maoísta dificilmente podem ser classificados como governos ou até mesmo movimentos totalitários. No caso desse país, o mesmo conseguiu se isolar de uma forma muito mais radical do que a Rússia stalinista. Apesar de obter poucas informações esclarecedoras sobre a China, na época Arendt (1949 [2009]) constatou que esse regime após sangrentos expurgos, não propiciou massacres de pessoas inocentes, nem categorias de inimigos objetivos, nem teve julgamentos para fins de propagandas.

Para Arendt (1949 [2009]) os regimes totalitários são baseados na supressão das classes e através do apoio e controle das massas que através de um sistema unipartidário que transfere o centro do poder do exército para a polícia. Assim, os movimentos totalitários objetivam controlar as massas e não as classes (ARENDT, 1949 [2009], p.358) Com relação a lealdade das massas, de forma assustadora mesmo diante de acusações de muitos crimes, os membros dos partidos continuem a colaborar com suas próprias condenações mesmo que isso resulte na sua própria sentença de morte.

Segundo Arendt (1949 [2009]), o termo massa diz respeito não só ao número de pessoas, mas também com relação a sua indiferença pelos partidos políticos ou organizações profissionais e por não exercer o seu poder de voto. A principal característica de um homem de massas para a autora é quanto ao seu isolamento e a falta de interações sociais normativas.

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É importante notar que, conforme Arendt (1949 [2009]) afirmou, o sucesso entre os movimentos totalitários entre as massas dissipou a ilusão de que a maior parte da população participava ativamente da democracia. Outra desmitificação é quanto a concepção de que as massas são indiferentes e que não poderiam ser mobilizadas conforme interesses de grupos ou partidos políticos. Isolados dentro dos movimentos totalitários distinguem-se de outros partidos e movimentos devido a lealdade total e inalterável de cada membro que apoia o regime.

Arendt (1949 [2009]) evidência que o movimento totalitário só poder emergir através de uma enorme força brutal e de um grande contingente populacional que possa ser descartado dentro de um determinado território nacional. Diante dessa singularidade, a autora afirmou que o regime totalitário é algo muito improvável em países com o contingente populacional relativamente pequenos. “Na verdade, esses países simplesmente não dispunham de material humano em quantidade suficiente para permitir a existência de um domínio total” (ARENDT, 1949 [2009] p.360). Ademais, os ditadores e tiranos desses pequenos países – como no caso da Itália de Mussolini, Romênia, os Estados bálticos (Lituânia e Letônia) Polônia, Hungria, Portugal e Espanha – com o tempo foram obrigados a uma maior moderação e métodos menos sangrentos de domínio pelo motivo de não poderem correr o risco de perder uma parcela significativa de sua população.

Outra característica marcante dos regimes totalitários é com relação aos meios de utilização da propaganda. Durante a angariação ao poder ainda em um governo constitucional com liberdade de opinião, faz com que o partido que constitui o movimento totalitário busque na propaganda a aderência de um grande público que ainda não se encontra completamente atomizado. Mas para Arendt (1949 [2009]) no momento em que o regime totalitário assume o poder total, substitui-se a propaganda pelo emprego da violência e a doutrinação que tem como meta impor um caráter organizativo. “O fato essencial é que as necessidades da propaganda são sempre ditas para o mundo exterior, por si mesmos os movimentos não propagam e sim doutrinam (ARENDT ,1949 [2009], p.393). Desse modo, a propaganda passa a ser dirigida prioritariamente par o público externo ou em alguns casos, para as camadas da população que ainda não foram satisfatoriamente doutrinados. Mas no âmbito de uma guerra psicológica o terror e a ideologia passam a ser ainda mais fundamentais do que a propaganda passando a ser a base dos regimes e movimentos totalitários.

No caso da ideologia, conforme constata Arendt (1949 [2009]), ela só passou a ser plenamente eficaz como uso político através de Hitler e Stalin. Assim, nos regimes

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totalitários ela forma uma verdade absoluta sobre o movimento histórico. “No mundo totalitário a ideologia é o instrumento essencial para explicar absolutamente e de maneira total o curso da história: “os segredos do passado, as complexidades do presente, as incertezas do futuro” (ARENDT, 1949 [2009], p.521). O projeto político dos regimes totalitários não pode se voltar meramente de assuntos específicos, passando a operar através de um sistema de valores que mobilizam as massas de uma forma a estarem sempre em movimento através das leis da história (dialética) ou biológico (racial) tendo como meta o domínio mundial, mesmo que para isso leve séculos (ou mais) para ser concretizado.

Para Arendt o totalitarismo é uma forma de governo cujo a sua essência é o terror.

Arendt (1949 [2009]) aponta que os regimes totalitarismos jamais se contentam em exercer

o seu poder por meios externos, eliminando a distância entre governantes e governados buscando subjugar e aterrorizar sua população internamente. “O terror é a realização da lei do movimento. O seu objetivo é tornar possível a força da natureza ou da histórica propagar-se livremente por toda humanidade sem estorvo de qualquer ação humana

espontânea” (ARENDT, 1949 [2009], p.517). Desse modo, o movimento converte em

realidade a lei natural ou da história ao selecionar os seus inimigos através do terror. E o terror total exercido pelo totalitarismo contra a população não pode ser efetivado sem os campos de concentração. Conforme a autora observou, “Os campos de concentração e de extermínio totalitários servem como laboratórios onde se demonstra a

crença fundamental do totalitarismo de que tudo é possível” (ARENDT, 1949 [2009],

p.488). Perto disso para Arendt (1949 [2009]), todos os horrores, tornam-se secundários. Como em uma espécie de pesadelo que foge a compreensão e experiência humana – conforme o relatos de sobreviventes - os campos de concentração servem para degradar e exterminar, transformando humanos em meras coisas.

Para a autora (1949 [2009]) não há paralelos históricos para se comparar a vida nos

campos de concentração. ”Passa a existir um lugar onde os homens podem ser torturados e massacrados sem que nem os atormentadores nem os atormentados e muito menos os observadores de fora, saibam o que está acontecendo, é algo mais do que um jogo cruel ou

um sonho absurdo”(ARENDT 1949 [2009], p.496). Esse inferno totalitário não podem ser

inteiramente descritos, pois diante de um domínio total os sobreviventes vivenciam uma espécie de realidade extremamente maligna e quando retornam ao ‘mundo dos vivos’ começam a duvidar de suas experiências passadas nesses locais.

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através do terror e da lógica da ação ideológica, é necessário isolar todos os homens. Através do isolamento das pessoas, gera-se a impotência e a incapacidade de agir e de se organizar contra o poder vigente. ”Sabemos que o cinturão de ferro do terror total elimina o espaço para a vida privada e que a autocoerção da lógica totalitária destrói a capacidade

humana de sentir e pensar tão seguramente como a capacidade de agir” (1949 [2009],

p.527),

Por sua vez, o isolamento no terreno da política pode levar a solidão na esfera social. Para a autora solidão não é mesma coisa que o isolamento. Aqueles que vivem sozinhos sempre podem se tornar pessoas solitárias. ”O que prepara os homens para o domínio totalitário no mundo não-totalitário é o fato de que a solidão, que já foi uma experiência fronteiriça, sofrida geralmente em certas condições sociais marginais como a velhice, passou a ser em nosso século, a experiência das massas cada vez maiores”

(ARENDT 1949 [2009] p.530). Isso resulta na perda da confiança nos outros e do próprio

eu. Destruindo todo o espaço de solidariedade entre os homens, engendra-se não só sob a

forma de impotência da própria condição humana como também uma solidão organizada submetida a vontade despótica de um só homem.

Em suma, a análise de Hannah Arendt sobre o fenômeno totalitário contribuiu para desvendar os elementos do governo totalitário, tornando-se uma leitura fundamental do pensamento político contemporâneo. Para a autora (1949 [2009]), o preço dos movimentos totalitários foram tão alto que logo após o processo de destotalitarização da Alemanha nazista e a Rússia stalinistas, ainda continuaram sofrendo terríveis consequências como a interrupção do crescimento populacional, a retração da arte, a expatriação causada pela guerra, as caóticas condições de produção de alimentos e o sofrimento de milhares de vítimas.

Por último, Arendt (1949 [2009]), constatou que mesmo com o término do totalitarismo, a crise desses tempos sombrios geraram uma forma inteiramente singular de governo e que a partir de então, corre-se o risco continuo de seus principais aspectos políticos e sociais permanecerem conosco assim como outras formas de governos (repúblicas, monarquias, ditaduras, despotismos e tiranias) de diferentes momentos históricos ainda se fazem presente.

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Referências

ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo. Tradução de Roberto Raposo. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

BOBBIO, Norberto; MATTEUCI, Nicolas; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de política. 12. ed. Brasília UNB, 2004.

Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/biografias/hannah-arendt.jhtm> Acesso em 16 de fevereiro de 2014

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