=:= DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO =:= ESTUDO DOS PRINCIPAIS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO Disciplina: Direito Penal Especial – 5° PERÍDODO
Professora: Inessa Trocilo Rodrigues Azevedo DO FURTO
No furto inexiste uso de violência ou grave ameaça pelo sujeito ativo do crime. Art. 155 caput – furto simples – crime comum, comissivo e material.
§1° - furto noturno - repouso noturno – é causa de aumento de pena - reconhecimento somente para o furto simples – Não há um critério fixo para a perfeita caracterização do furto noturno. A doutrina majoritária tem entendido que, para o reconhecimento do aumento de pena do repouso noturno, é necessário que no momento do furto a casa esteja habitada com pessoa repousando. Se os moradores da casa estiverem festejando NÃO caracteriza, portanto, dependerá da análise do caso concreto. Há também julgados que reconhecem o furto noturno, independentemente se o local do delito estiver habitado ou não, com o fundamento de que esta causa de aumento de pena justifica-se porque durante o repouso noturno o bem jurídico (patrimônio) tende a ficar menos protegido.
§2° Furto Privilegiado – Para o reconhecimento do furto privilegiado é necessário a existência de dois requisitos: 1. Primariedade (agente primário) 2. Pequeno valor da cosia furtada.
*Primariedade – Só não é primário quem pratica novo crime, depois de haver sido irrecorrivelmente condenado por crime anterior no país ou no exterior. E, no caso de reincidência, o condenado retorna a qualidade de primário, após 05 (cinco) anos do cumprimento ou da extinção da pena imposta pela condenação anterior.
*Réu primário – é aquele que não comete novo crime, após o transito em julgado da sentença condenatória por crime. Sendo que, mesmo cometendo o crime, após 05 anos da sentença condenatória transitada em julgado, é considerado primário.
Ex. JOAO foi condenado ao cumprimento de uma pena de 06 anos, pela prática de homicídio simples em 10/05/1995, com trânsito em julgado em 10/06/1995. Passado mais de 05 anos, em 10/07/2003, comete outro homicídio. João é considerado tecnicamente primário.
*Coisa de pequeno valor – Há duas diretrizes: 1ª Refere-se ao prejuízo sofrido pelo ofendido. 2ª É relativo ao valor da coisa. O PARÂMETRO É SEMPRE O SALÁRIO MÍNIMO VIGENTE A ÉPOCA DO CRIME.
A determinação do pequeno valor da coisa furtada deve-se dar pela consideração de vários fatores conjuntamente, dentre eles: O EFETIVO PREJUÍZO SOFRIDO PELA VÍTIMA; A AVALIAÇÃO DA COISA E O SALÁRIO MÍNIMO VIGENTE À ÉPOCA DO FURTO.
§3° Furto de energia elétrica – Equiparam-se a energia elétrica: radioatividade, mecânica, térmica, vapor.
Obs: O furto de eletricidade é crime permanente.
“Se o furto consiste na subtração de coisa móvel, entre as quais a energia elétrica que permite o funcionamento do sistema telefônico, o momento consumativo do delito está na utilização do telefone para quaisquer ligações”. (TACrim – RJD 9/102).
§4° Furto qualificado
I – destruição ou rompimento de obstáculo – é a violência utilizada contra o obstáculo. Ex. Quebrar uma porta, uma janela.
II – Abuso de confiança – Não basta a relação de emprego, é necessária a relação subjetiva de confiança. Obs: não comunica aos partícipes, quando no concurso de pessoas. Se apenas 01 autor tinha relação de confiança, os outros não respondem por esta qualificadora.
Mediante fraude – a fraude é empregada para iludir a atenção ou vigilância do ofendido que nem percebe que a coisa está sendo subtraída.
Escalada – é a entrada no local por via anormal. Ex. Escada, subir na árvore. Requer a utilização de algum instrumento ou esforço incomum. Obs: pular janela ou muro baixo NÃO caracteriza.
Destreza – É a esperteza do agente.
III – Emprego de chave falsa – “é todo instrumento, com ou sem forma de chave, de que se utilize o ladrão para fazer funcionar, em lugar da chave verdadeira, o mecanismo de uma fechadura ou dispositivo análogo, possibilitando ou facilitando, assim, a execução do furto.” (TACrim – JTACrim, 50/45).
IV – Concurso de duas ou mais pessoas.
Obs: Quando ocorre a hipótese de duas qualificadoras ocorre o furto duplamente qualificado. Ex. Dois agentes (concurso de pessoas) furtam a casa de Maria, com emprego de chave falsa.
§5° Requisitos: 1. veículo automotor (automóvel, caminhões, ônibus, motocicletas, lanchas, aeronaves) 2. que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior. Significado da qualificadora “que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior”.
Há dois posicionamentos:1
1°) qualifica-se o crime quando o objeto material, durante a fase de execução da subtração ou depois da consumação, estiver sendo ou tiver sido conduzido na direção de outro Estado ou para o exterior, não se exigindo que haja transposto os limites estaduais ou nacionais.
2°) a incidência da circunstância exige que o veículo tenha transposto os limites do Estado ou do território nacional.
Art. 156 – Furto de coisa comum – Sujeito ativo: o condômino, co-herdeiro, ou sócio Sujeito passivo: o condômino, co-herdeiro, ou sócio, ou terceira pessoa possuidora legítima.
A coisa comum é aquela que pertence a ambos (agente e vítima). Ex. O sócio que furta a sociedade. Obs: Se já estava na posse da coisa é APROPRIAÇÃO INDÉBITA. §1° Ação Penal Pública Condicionada a representação
§2° Causa especial de exclusão da antijuridicidade ou ilicitude – Requisitos 1. coisa comum fungível 2. valor não excedente a cota a que tem direito o agente.
Fungíveis são bens móveis que podem substituir-se por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade.
OBS: A CONDIÇÃO DE SÓCIO SE COMUNICA AOS CO-AUTORES QUE SABEM DA SOCIEDADE.
DO ROUBO
Art. 157, caput. Roubo simples – Chamado roubo próprio, pois a violência ou grave ameaça é empregada contra pessoa, no início ou concomitante à subtração da coisa, ou seja, antes ou durante a retirada do bem. Consuma-se quando a cosia é retirada da esfera de vigilância da vítima.
§1° Chamado de Roubo Impróprio - pois a violência ou grave ameaça é empregada APÓS A SUBTRAÇÃO.
OBS. TROMBADA – choque ou batida que o ladrão dá na vítima para praticar o crime. Quando é apenas para desviar a atenção da vítima é FURTO QUALIFICADO PELA DESTREZA. Entretanto, se a violência for empregada contra a vítima, e consistir em vias de fato ou lesão corporal, e tiver por fim a redução ou a paralisação dos movimentos da vítima, o crime será o de ROUBO.
§2° Causas de aumento de pena Incisos I a V
OBS: USO DE ARMA DE BRINQUEDO. Há dois posicionamentos, a saber: 1° MAJORITÁRIO = O posicionamento que atualmente prevalece é o de que o uso de arma de brinquedo para prática do crime de roubo NÃO caracteriza a causa de aumento pena prevista no Art. 157, §2°, I do CP, pois a arma utilizada pelo agente deve ter idoneidade ofensiva, capacidade de colocar em risco a integridade física da vítima, o que não ocorre com o emprego da arma de brinquedo. Assim, o agente responderá pelo delito de roubo em sua forma simples (Art. 157, caput); a não ser que exista outra causa de aumento de pena a ser reconhecida.
2° Outros doutrinadores defendem o contrário. Afirmam que a arma de brinquedo deve ser equiparada à arma verdadeira, para os fins específicos do tipo que define roubo, já
que sua finalidade se restringe à intimidação da vítima, o que é perfeitamente possível fazer com um simulacro.
OBS: O Superior Tribunal de Justiça chegou a editar a Súmula 174 que previa: “No crime de roubo, a intimidação feita com arma de brinquedo autoriza o aumento de pena”. Ocorre que, a 3ª Seção do Superior Tribunal de Justiça em 24/10/2001 CANCELOU ESTÁ SÚMULA.
Obs: A mesma discussão doutrinária e jurisprudencial tem ocorrido a respeito do uso da arma descarregada ou sem munição ou defeituosa.
§3° Figuras qualificadas pelo resultado: 01) roubo seguido de lesão corporal grave ou roubo qualificado pelo resultado lesão corporal grave; 02) roubo seguido de morte ou roubo qualificado pela morte (famoso latrocínio).
Obs: Independente se o agente tinha a intenção ou não de matar a vítima após, ou antes, da subtração, o crime será o de latrocínio. Posicionamento majoritário. SÚMULA 610 DO STF. “Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não realize o agente a subtração de bens da vítima”.
DA EXTORSÃO
Art. 158 Extorsão Comum
Objeto jurídico: o patrimônio, a liberdade e a incolumidade pessoais. Suj ativo e passivo – qualquer pessoa – crime comum
Constranger é coagir, obrigar e deve ser praticada mediante violência ou grave ameaça (promessa de causar mal sério).
Constrangimento para fazer (certa coisa); tolerar que se faça (obrigar a permitir) ou deixar de fazer.
FINALIDADE: OBTER INDEVIDA VANTAGEM ECONÔMICA
Para a maioria da doutrina é um CRIME FORMAL, consuma-se independente da obtenção da vantagem indevida. (STF).
CONSUMAÇÃO: com o efeito da ação de constranger, ou seja, com o comportamento da vítima fazendo, tolerando que se faça ou deixando de fazer alguma coisa, sem dependência da obtenção do proveito.
DIFERENÇA DA EXTORSÃO E DO ROUBO
Na extorsão é a vítima quem entrega a coisa sob coação. Ex. A vítima é forçada a entregar as jóias, logo, É INDISPENSÁVEL O COMPORTAMENTO DA VÍTIMA, enquanto no roubo este comportamento é dispensável. No roubo, regra geral, o agente é quem retira da esfera de vigilância da vítima a coisa alheia móvel.
§1° Causa de aumento de pena – crime cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma. (aplicam-se as mesmas regras do crime de roubo para o uso de arma de brinquedo).
§2° Extorsão seguida de lesão corporal grave e seguida de morte
§3° Extorsão com restrição da liberdade da vítima, com resultado de lesão corporal grave e morte.
Art. 159 Extorsão mediante seqüestro
Objeto jurídico, suj. ativo e passivo – semelhantes aos da extorsão. É crime formal, pois independe da obtenção de vantagem.
É crime permanente, enquanto durar o seqüestro, ou seja, a privação da liberdade.
OBS: Se não houver a intenção de obter vantagem, o agente responde pelo crime de seqüestro ou cárcere privado, previsto no Art. 148.
§1° - APLICAÇÃO DE PENA MAIS GRAVE QUANDO:- a privação de liberdade dura mais de 24 h;
a vítima é menor de 18 anos; a vítima é maior de 60 anos;
o crime é praticado por quadrilha ou bando (v. Art. 288 do CP)
2° - extorsão mediante seqüestro seguida de lesão corporal grave -pena mais grave 3° - extorsão mediante seqüestro seguida de morte - pena mais grave.
§4° - Redução de pena – 1 a 2/3 - hipótese de delação premiada. Art. 160 Extorsão indireta
Objeto jurídico: o patrimônio e a liberdade individual Suj ativo – qualquer pessoa não apenas o agiota Suj. passivo – qualquer pessoa
Exigir = impor, obrigar. Receber = tem o sentido de tomar, aceitar.
O objeto material é documento que pode dar causa a procedimento criminal, isto é, que seja capaz de dar causa a procedimento criminal. O documento precisa realmente ser apto a provocar ação penal contra o ofendido ou outra pessoa.
Como garantia de dívida, na opinião da doutrina, inclui qualquer contrato, de empréstimo ou não; a garantia pode ser de dívida anterior, presente ou futura. Para a tipificação do crime é necessário também que o agente atue abusando da situação de alguém. O autor do crime deve ter a consciência da situação de necessidade, aflição ou precisão da vítima ou de outra pessoa, ao exigir o documento.
DO DANO
Art. 163. Dano simples
Ação nuclear: DESTRUIR – demolir, desmanchar, exterminar, desfazer. Ex.Quebrar a vidraça de uma janela, queimar um livro
Inutilizar – tornar inútil – Ex. furar os olhos de um cão de guarda (Damásio)
Deteriorar – reduzir o valor da coisa. Ex.Manchar com outras tintas uma obra de arte. OBS: DANO QUALIFICADO – Art. 163, parágrafo único, Incisos I ao IV
OBS: Haverá concurso material de crimes quando o agente empregar violência contra a pessoa para a pratica do crime de dano. Ocorrerá dano + lesão corporal (analisar a gravidade da lesão).
DA APROPRIAÇÃO INDÉBITA
Art. 168 Apropriação indébita – Ao contrário do furto e do estelionato, NA APROPRIAÇÃO INDÉBITA INEXISTE A SUBTRAÇÃO OU A FRAUDE.
Apropriar-se é tomar para si. O agente já tem a posse ou a detenção da cosia alheia móvel – É NECESSÁRIA A INVERSÃO ARBITRÁRIA DA POSSE DA COISA. §1° CAUSAS DE AUMENTODE PENA
I - Depósito necessário – é o depósito que se efetua por ocasião de alguma calamidade: incêndio, inundação.
II – tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante, testamenteiro, ou depósito judicial.
III – relação de confiança.
as de fato ou lesão corporal leve, destinadas a reduzir ou paralisar seus movimentos, haverá ROUBO.
DO ESTELIONATO
Art. 171 Estelionato – crime material, comissivo, comum OBJETO JURÍDICO = inviolabilidade do patrimônio Suj ativo = qualquer pessoa
Suj passivo = a pessoa enganada
Artifício = significa fraude no sentido material. Utilizar algum documento, filmes, etc...para fraudar a vítima.
Ardil = é fraude no sentido imaterial. É a alteração da inteligência da vítima. “cara-de-pau”
Fraude é a astúcia para causar engano, dano. Induzir ou manter alguém em erro. Consumação: O estelionato é crime material, consumando-se no momento e local em que o agente obtém vantagem ilícita, em prejuízo alheio.
DIFERENÇA ENTRE ESTELIONATO E EXTORSÃO – A diferença está no ânimo da vítima. Na extorsão há a entrega da coisa, conquanto o ofendido não quisesse a entregar, e no ESTELIONATO, por estar iludida, a vítima entrega conscientemente a coisa. NO ESTELIONATO a fraude precisa ser anterior à obtenção da vantagem ilícita.
Requisitos do Estelionato: 1) Fraude 2) Lesão Patrimonial
Ex. Pratica estelionato quem assina cartão de crédito, que sabe não lhe pertencer, logrando efetuar compras em loja.
Ex. O agente vende linhas telefônicas e recebe do comprador de boa fé o preço total da transação, mas não as transfere sob alegação de que as linhas estão indisponíveis. É estelionato, pois o agente vende o que não tem.
Ex. Pratica estelionato o candidato que procura aprovação no vestibular por meios ilícitos, causando prejuízos aos demais concorrentes.
OBS: SE HOUVER FRAUDE, MAS NÃO HOUVER PREJUÍZO FALA-SE EM TENTATIVA DE ESTELIONATO – Art. 171 c/c Art. 14, Inciso II do CP.
Art. 171, §1°- Estelionato privilegiado – Causa de diminuição de pena – Requisitos: 1) Primariedade do agente 2) Pequeno valor do prejuízo (ver comentário do Art. 155, §2°).
Art. 171, §2°, Incisos I a VI – figuras equiparadas do crime de estelionato Art. 171, § 2°
I – disposição de coisa alheia como própria
II – é o silêncio sobre o ônus ou encargo que pesam sobre a coisa que constitui a fraude. III – Art. 1431 CC. O agente defrauda mediante alienação (venda, doação) ou por outro modo (destruição, abandono, ocultação) a garantia pignoratícia. Ex. o devedor que vende parte do gado comete defraudação de penhor.
IV – Fraude na entrega da coisa
V – para recebimento de indenização ou seguro – ex. colocar fogo no veículo segurado VI – Fraude no pagamento por meio de cheque
Emitir é colocar em circulação. Frustrar o pagamento é obstar pelo bloqueio da conta. CONSUMAÇÃO: no momento e local em que o Banco recusa o pagamento.
OBS: não basta a simples assinatura no cheque, é necessário colocá-lo em circulação. Art. 171, §3° Estelionato qualificado. Causa de aumento de pena.
Lesão a interesse social. Entidade de Direito Público: União, Estados, Município e Distrito Federal, autarquias e entidades paraestatais.
Art. 180 - RECEPTAÇÃO SIMPLES Obj. jurídico – PATRIMÔNIO.
Suj ativo: qualquer pessoa, exceto o autor ou co-autor do crime original.
Suj. passivo – é o próprio sujeito passivo do crime de que adveio a coisa receptada. É indispensável que o objeto material deste delito seja coisa produto de crime. Art. 180, §1° ao §6° - receptação qualificada
Bibliografia
ANDREUCCI, Ricardo Antônio. Manual de Direito Penal. Parte Especial. Volume 2. ed. Saraiva: São Paulo, 2004;
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Parte Especial. Volume 2. ed. Saraiva: São Paulo, 2003;
DELMANTO, Celso. Código Penal Comentado. Ed. Renovar: São Paulo, 2002; JESUS, Damásio E. Direito Penal. 2° volume – parte especial. Ed. Saraiva, São Paulo, 1999