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DESAFIOS E POSSIBILIDADES NAS ESCOLAS MULTISSERIADAS: REFLEXÕES A PARTIR DAS EXPERIÊNCIAS DO PIBID

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Academic year: 2021

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ISSN 2176-1396

DESAFIOS E POSSIBILIDADES NAS ESCOLAS MULTISSERIADAS:

REFLEXÕES A PARTIR DAS EXPERIÊNCIAS DO PIBID

Maura Danielly Mariano Monteiro1 -UEPA Letícia Vasconcelos Pinho2 - UEPA

Mayana Cristina Lopes Cavalcante3 - UEPA Nayane Lislene Pinho Mendonça 4- UEPA Eixo – Educação indígena, quilombola e do campo. Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo

Este trabalho é o resultado de uma pesquisa realizada em uma escola pública da zona rural numa classe multisseriada pelo Programa Institucional de Iniciação a Docência - PIBID, vinculado ao Curso de Pedagogia da Universidade do Estado do Pará – UEPA- Campus X, Nordeste Paraense. A problemática surgiu a partir das observações feitas pelos acadêmicos inseridos no PIBID/Subprojeto Pedagogia durante as interferências pedagógicas na escola, e partiu da seguinte questão: Em que medida a realidade da escola multisseriada tem se configurado como um desafio e uma possibilidade de superação? O objetivo principal foi investigar as dificuldades encontradas nas escolas rurais multisseriadas, visando analisar, compreender e buscar meios de contribuir para a melhoria do trabalho pedagógico. Metodologicamente foi realizado um estudo teórico, tendo como base pesquisadores como: Arroyo, Hage, Leite, entre outros que pesquisam e publicam acerca da temática proposta. Este trabalho apresenta uma abordagem metodológica qualitativa, utilizando para recolhimento de dados, observações e entrevistas semiestruturadas. A partir da pesquisa de campo, procuramos descrever o ambiente escolar onde realizou-se o estudo, a fim de nos aproximarmos de sua realidade e buscando identificar possíveis dificuldades. Como resultados destacam-se a precariedade da infraestrutura da escola, a necessidade de formação continuada para os professores que atuam nas escolas do campo, o distanciamento do currículo escolar com a realidade dos alunos, a ausência de políticas públicas voltadas para esse segmento educacional, as dificuldades na organização do trabalho pedagógico, a ausência de

1 Autora. Graduanda em Licenciatura Plena Pedagogia. Bolsista do PIBID-Pedagogia da Universidade do Estado

do Pará-Campus X, E-mail: mauradanielly.mm@gmail.com

2 Co-autora. Graduanda em Licenciatura plena Pedagogia. Bolsista do PIBID-Pedagogia da Universidade do

Estado do Pará-Campus X, E-mail: leticiavasconcelloos@hotmail.com

3 Co-autora. Graduanda em Licenciatura Plena Pedagogia. Bolsista do PIBID-Pedagogia da Universidade do

Estado do Pará-Campus X, E-mail: lopesmayana.ac@gmail.com

4 Co-autora. Graduanda em Licenciatura Plena Pedagogia. Bolsista do PIBID-Pedagogia da Universidade do

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acompanhamento da secretaria de educação e a falta de colaboração por parte dos pais na escolarização dos filhos.

Palavras-chave: Escola Multisseriada. PIBID. Educação do Campo. Introdução

Esta pesquisa foi realizada em uma escola pública da zona rural numa classe multesseriada, localizada na cidade de Igarapé-Açu, Nordeste da Amazônia Paraense , pelos acadêmicos bolsistas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação a Docência- PIBID- Pedagogia, vinculado a Universidade do Estado do Pará, Campus X.

O principal foco deste estudo foi investigar as dificuldades encontradas nas escolas rurais multisseriadas, partindo das indagações que surgiram graças às interferências pedagógicas realizadas nesta escola com as turmas do terceiro, quarto e quinto ano do Ensino Fundamental. Face aos problemas encontrados pelos bolsistas ao trabalhar com alunos que se encontram em diferentes níveis de escolaridade e aprendizagem, temos consenso que as escolas no formato de multisseriação desafiam as redes de ensino por possuir uma organização contrária às normas do sistema de ensino seriado.

Diante das particularidades das escolas multisseriadas, da falta de incentivo por parte das secretarias de educação e os problemas infraestruturais, é necessário refletir sobre os desafios e igualmente sobre as potencialidades que essas escolas possuem. Em que medida a realidade da escola multisseriada tem se configurado como um desafio e uma possibilidade de superação? Pautados nessa questão, este trabalho foi realizado, a fim de refletirmos sobre os desafios das escolas do campo diante de inúmeras dificuldades, encontrar meios de contribuir para a melhoria do trabalho pedagógico nas escolas rurais multisseriadas e buscar enfatizar não somente os desafios, mas também as possibilidades que estas escolas podem proporcionar aos alunos e aos docentes.

Fundamentação Teórica

Teoricamente este estudo está fundamentado nas pesquisas e publicações dos autores Arroyo, Hage, Leite, entre outros que realizam pesquisas sobre a educação do campo. Fazemos referências igualmente às pesquisas realizadas pelo GEPERUAZ- Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação do Campo na Amazônia, da Universidade Federal do Estado do Pará.

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Ao realizarmos pesquisas sobre as escolas multisseriadas no portal da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), os quais reúnem pesquisas dos cursos de pós-graduação stricto sensu no Brasil, nos deparamos com a escassez de pesquisas sobre a educação do campo. Este fato confirma o que mostram as pesquisas realizadas pelo Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação do Campo na Amazônia-GEPERUAZ, onde é enfatizado que “as escolas multisseriadas precisam sair do anonimato e serem inseridas nas agendas dos órgãos públicos sem prerrogativas” (GEPERUAZ, 2010, p.11.).

Vemos que apesar das escolas multisseriadas serem centenárias e de fazerem parte significativamente da educação brasileira, o interesse por essas escolas surgiu recentemente sendo assim as pesquisas e dados ainda são escassos e de difícil acesso.

Metodologia

A pesquisa foi delineada com base na abordagem qualitativa. Inicialmente foi realizadas observações in lócus, objetivando fazer um levantamento das principais dificuldades encontradas em sala de aula, seguido da entrevista com a professora. A entrevista foi direcionada por quatro perguntas semiestruturadas e através dessas perguntas podemos abordar questões relativas a sua formação e as suas praticas pedagógicas como docente em uma escola do campo, no regime multisseriado.

A realidade escolar do campo

Escolas Multesseriadas

A partir da ultima década do século XX, por força dos movimentos populares, principalmente através do Movimento dos Sem Terra – MST, a educação das populações camponesas passou a ser discutida. As reivindicações surgiram da necessidade de uma educação do campo voltada para a emancipação dos sujeitos das comunidades rurais e para o reconhecimento do campo como espaço produtor de cultura, de saberes e com um estilo de vida próprio. Apesar dos avanços trazidos pela Lei de Diretrizes e Bases de 1996, e dos programas educacionais voltados para essa área da educação, as escolas do campo continuam desprovidas de políticas públicas comprometidas com a oferta de um ensino voltado para o

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desenvolvimento das comunidades rurais, e que se identifique com a diversidade cultural do meio camponês.

A educação do campo permanece às margens das legislações, programas e dos projetos que regem o sistema educacional brasileiro e esta marginalização da educação no meio rural, se traduz em escolas com condições precárias, onde persiste a modalidade escolar multisseriadas. Além da precarização dos espaços físicos das escolas, existem ainda as barreiras entre a formação dos professores que atuam neste segmento e as diversas realidades escolares, as lacunas deixadas pelo currículo escolar que se distancia da realidade dos sujeitos e uma gestão insatisfatória e omissa por parte dos órgãos governamentais responsáveis.

Os problemas encontrados pelas escolas do meio rural não começam nem se limitam aos aspectos físicos das escolas, mas encontram origem na sua formação. As dificuldades inerentes à educação do campo são frutos de uma construção histórica, que até os dias atuais ainda marcam a organização educacional das escolas rurais. Como afirma Leite:

A educação rural no Brasil, por motivos sócio-culturais, sempre foi relegada a planos inferiores e teve por retaguarda ideológica o elitismo acentuado do processo educacional aqui instalado pelos jesuítas e a interpretação politico-ideológica da oligarquia agraria, conhecida popularmente na expressão: “gente da roça não carece de estudos. Isso é coisa de gente da cidade” (LEITE, 1999, p.14).

Observamos que existe um entrelaçamento de problemas ligados à formação das escolas do campo que são historicamente esquecidas pelas políticas públicas educacionais. Essa negação da existência das escolas rurais se fundamenta na concepção das elites de que os camponeses não precisam ser instruídos para trabalhar a terra. Estes problemas são agravados com a existência da visão urbanocêntrica que privilegiam as escolas urbanas, tornando-as um modelo a ser seguido, inferiorizando assim a identidade e os saberes rurais, negando aos sujeitos do campo uma educação que resguarde sua cultura e que comtemple todas as suas diversidades, empurrando assim as escolas do campo para um estado de marginalização.

Ao discutirmos sobre a educação do campo, vale lembrar que a quase totalidade das escolas dos pequenos municípios ainda funcionam a partir do sistema de multisseries. A multisseriação consiste em agrupar em um único espaço e sob os cuidados de somente um docente, alunos com idade e séries diferentes. Geralmente o ensino ofertado nessas escolas contemplam apenas as séries iniciais do ensino fundamental, após o término do ciclo inicial para que os alunos continuem estudando é necessário se deslocar até as escolas das cidades próximas. As escolas multisseriadas persistiram ao longo dos anos e mesmo estando presente

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de forma significativa no meio rural, pouco se discutem a respeito dessa modalidade de ensino.

De acordo com Hage:

As classes multisseriadas constituem-se na modalidade predominante de oferta do primeiro segmento do ensino fundamental no meio rural do estado do Pará e da região amazônica. (...) elas se encontram ausentes dos debates e das reflexões sobre educação rural no país e nem mesmo "existem" no conjunto de estatísticas que compõem o senso escolar oficial (HAGE, 2003, p. 02).

Vemos que a multisseriação é uma das principais características das escolas do campo, e que é mais presente em alguns estados. Portanto apesar da significativa presença no meio rural, não existe uma preocupação com esse modo de ensino, ele esta ausente dos debates sobre a educação, ausente do currículo nos cursos de licenciaturas que formam os professores para os anos iniciais do ensino básico e estão ausentes até das estatísticas do senso escolar oficial.

Existe um silenciamento quando se trata de discutir sobre as possibilidades que a educação do campo concede para os sujeitos, pouco se discute sobre o fato de ela ainda existir e desafiar a organização educacional vigente. Por que as escolas multisseriadas ainda sobrevivem? Porque elas viabilizam aos habitantes do meio rural ascender à educação, mesmo que seja de forma precária. O acesso às primeiras séries do ensino fundamental possibilita que esses alunos possam adquirir uma instrução que poderá vir a ser um fator de mudanças efetivas em suas vidas.

A ausência de estudos sobre a organização das escolas multisseriadas, vinculada ao desinteresse dos órgãos educacionais responsáveis que omitem direitos fundamentais para esses alunos, relegam para essas instituições de ensino um papel isolado e longe dos interesses das políticas educacionais. Pouco se discute a respeito de meios que possam melhorar o trabalho pedagógico e pouco se busca estratégias de ensino que contemplem as diferenças desta modalidade. Como vemos na citação antes especificada, até nos dados estatísticos, busca-se silenciar a existência e a importância das escolas rurais multisseriadas. Sobre esse descaso que pesa sobre as escolas rurais, Arroyo (2009) e colaboradores afirmam que:

Silenciamento e até desinteresse sobre o rural nas pesquisas é um dado histórico que se torna preocupante [...]. Um dado que exige explicação: “somente 2% das pesquisas dizem respeito às questões do campo não chegando à 1% as que tratam especificamente da Educação escola no meio rural. O que para muitos um dado preocupante (ARROYO; CALDART; MOLINA, 2009, p.8).

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Apesar das conquistas dos movimentos sociais do campo, em prol de uma educação de qualidade para o meio rural, muitas dificuldades ainda são encontradas ao se tentar ter acesso às políticas públicas educacionais, que considerem as diferenças desse segmento educacional que sofre com o descaso e esquecimento por parte dos órgãos responsáveis e que não aparecem sequer nas estatísticas dos estudos voltados para a educação.

Pesquisa de campo

Entrevista

Observamos os espaços físicos da escola com a intenção de descrever sua infraestrutura e realizamos igualmente observações participativas a fim de nos aproximarmos da realidade escolar dos alunos e dos demais envolvidos. Assim como a entrevista, a observação, segundo Ludke e André (2013, p.30) “ocupa lugar privilegiado nas novas abordagens de pesquisa educacional, pois viabiliza o contato pessoal e estreito do pesquisador com o fenômeno estudado”. Esse contato é essencial para o pesquisador, pois através desta experiência não nos limitamos somente aos fatos observáveis.

Começamos nossa análise pelas respostas dadas pela professora aos nossos questionamentos sobre suas experiências de trabalho em uma escola multisseriada. Nossas primeiras perguntas tiveram como objetivo abordar as principais dificuldades encontradas ao se trabalhar com classes na modalidade multisseriadas e o que poderia ser feito de acordo com a docente, para a melhoria do trabalho pedagógico na escola onde ela atua. Segue o depoimento:

Bom, a maior dificuldade pra nós, eu não vejo dificuldade em trabalhar com crianças na multissérie, várias series e várias idades, não vejo. A dificuldade é a falta de uma formação continuada mesmo, que a gente não tem, e também, a questão do apoio pedagógico, também não vem. Vocês podem perceber, vocês já passaram por aqui, quantas vezes vocês já viram alguma visita, ninguém vem, é uma escola aqui do meio rural que fica assim abandonada, principalmente essa porque é só uma sala, a exemplo da merenda já tá sendo distribuída no município e tudo, mas na nossa ainda não veio, talvez porque exista só uma sala, ai eles não vem. Então pra mim é a formação continuada que deveria ter e não tem em uma escola multisseriada, e também a questão do apoio pedagógico, porque o último que teve aqui, foi o“Pacto”, mas a gente não concorda por que o “Pacto” é pensado de cimapra baixo, eles não sentam pra ver, ele diz que ele quer todo mundo sabendo ler, mas ele não tá nem ai se tem um aluno especial no meio (PROFESSORA, 2017). Vemos no depoimento da docente, que as principais dificuldades são, a ausência de uma formação adequada que capacite o professor para o ensino nas escolas rurais e a falta de

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acompanhamento pedagógico por parte dos órgãos responsáveis, através de projetos que considerem a realidade dos alunos. Nossa segunda questão procurou identificar se para a professora uma classe multisseriada representava um problema para a aprendizagem dos alunos:

Não, nenhum problema, porque eu gosto de trabalhar dividindo em grupos, pra mim é até melhor, porque os meninos do quinto ano eles já sabem mais um pouco, eles já fazem a leitura do texto com aqueles que ainda não sabem, e eu gosto de trabalhar em grupo, trabalhando em grupo eu acho muito bom, não há nenhuma dificuldade quanto a isso (PROFESSORA, 2017).

De acordo com a resposta da professora, podemos afirmar que as diferenças de idades e séries em um único ambiente escolar, trazem benefícios para a aprendizagem dos alunos, pois os possibilitam a troca de experiências entre eles. Nosso terceiro questionamento foi sobre o que poderia ser feito, considerando a longa experiência da professora com as escolas multisséries, para a melhoria do ensino nessas escolas. Tivemos como resposta:

Eu não digo nem assim apoio como computador, materiais, porque aqui tem muita coisa que podemos usar, aqui mesmo no meio, mas eu volto a dizer seria uma capacitação, para as escolas rurais, principalmente as multissseriadas, que a gente tivesse mais capacitação, que tivesse uma semana pedagógica, um curso voltado para essa modalidade (PROFESSORA, 2017).

Novamente foi enfatizada a necessidade de uma formação continuada para os professores da zona rural. De acordo com a professora, a necessidade da formação continuada é ainda mais importante que a ausência de materiais pedagógicos para a escola.

A última questão teve como objetivo saber a importância das interferências do PIBID, tanto para a escola, quanto para os alunos bolsistas. Em relação ao Projeto Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência – PIBID, a professora se posicionou da seguinte forma:

Eu acho de extrema importância, por que tanto para os alunos, professores bolsistas, como pra nós, por que eles trazem novidades, vão fazendo um trabalho com os alunos, que alunos ficam desinibidos, eles começam a participar mais, e também o professor, eu vejo que muitos professores eles fazem sua formação, eles chegam na sala e não sabem, chegam no emprego e não sabem, e de repente eles são mandados pra zona rural, chegando lá , ele se depara com a realidade totalmente diferente que a formação não deu, então no PIBID, os meninos já sabem, é fácil praquele bolsista que foi do PIBID, trabalhar com a multissérie. Então digo tanto é bom, quanto para os alunos, e é bom pra nós professores, é bom pra escola, se esse projeto tivesse mais e em outras escolas seria muito bom (PROFESSORA, 2017).

Vemos a importância da relação Universidade-Escola para a formação docente, pois somente essa relação é capaz de formar futuros professores, aptos para enfrentar as diferentes

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faces da educação brasileira. Através da entrevista realizada, podemos perceber que as dificuldades não se encontram somente nos espaços físicos da escola, os espaços são precários e inadaptados para uma educação satisfatória, portanto além desses problemas as dificuldades maiores são a ausência de políticas públicas educacionais voltadas para a formação dos professores e para a elaboração de projetos que sejam realmente eficazes para o êxito da educação no meio rural.

Espaço escolar

Os espaços físicos da escola se encontram em um estado precário, a escola é constituída de um prédio com dois compartimentos: a sala de aula e um pequeno espaço usado como depósito e cozinha, a escola não possui computadores nem biblioteca, a sala de aula é pequena e não possui janelas para melhorar a ventilação, o que é totalmente inadequado para o clima e as altas temperaturas da região amazônica. A referida instituição desenvolve atividades com as turmas do 1°, 2°, 3°, 4° e 5°ano. A comunidade onde está localizada a escola é composta por agricultores e por trabalhadores que se deslocam todo dia para trabalharem na cidade ou em uma fábrica de óleo de palmas, localizada a alguns quilômetros de distância da cidade e da comunidade.

A questão da estrutura da escola, e as condições precárias em que o prédio se encontra, de acordo com a professora, são as razões pelas quais a Secretaria de Educação da cidade de Igarapé-Açu não dá assistência necessária para o bem funcionamento da instituição. Segundo a professora, por ser uma escola pequena e isolada, ela não recebe os recursos que as outras escolas do município recebem, a exemplo, a merenda escolar que não chegou depois que o ano letivo começou, e por essa razão o tempo de aula é reduzido pela metade, o que dificulta o bom encaminhamento das mesmas.

Ao abordarmos a estrutura física desta escola, não estamos defendendo o modelo das escolas urbanas, como modelo a ser seguido pelas escolas do campo, mas estamos tentando enfatizar a precariedade desta escola, que não possui as condições mínimas necessárias para uma aprendizagem plena garantida através de leis que resguardam os princípios fundamentais da educação e que defendem que a educação é direito de todos e dever do estado.

O Decreto Presidencial 7.352 de 04 de Novembro de 2010, artigo 3º (BRASIL, 2010, P.03.), faz referencia as exigências básicas para que a escola seja considerada apta a garantir um processo de ensino e aprendizagem satisfatório. De acordo com o Art. 3º incisos III e IV:

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Caberá à União e criar e implementar mecanismos que garantam a manutenção e o desenvolvimento da educação do campo nas politicas publicas educacionais, com o objetivo de superar as defasagens históricas de acesso à educação escolar pelas populações do campo, visando em especial:

III - garantir o fornecimento de energia elétrica, água potável e saneamento básico, bem como outras condições necessárias ao funcionamento das escolas do campo; e IV - contribuir para a inclusão digital por meio da ampliação do acesso a computadores, à conexão à rede mundial de computadores e a outras tecnologias digitais, beneficiando a comunidade escolar e a população próxima às escolas do campo.

Apesar das diretrizes do Decreto citado a cima, as escolas do campo conhecem um estado de verdadeiro descaso, que são refletidos em espaços inadequados para os alunos. As escolas rurais multisseriadas não possuem condições de fornecer os requisitos básicos para uma educação desejável. Os professores sofrem com uma carga de trabalho exaustiva, assumindo por vezes diversas tarefas além da docência. Seu trabalho pedagógico é dificultado pela padronização dos currículos escolares enviados pelas secretarias de educação, que são voltados para as escolas seriadas e inadaptados para as escolas multisseriadas.

Questões para orientar debates sobre a realidade das escolas multisseriadas

Estudos realizados pelo GEPERUAZ-Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação do Campo na Amazônia, vinculado ao Instituto de Educação da Universidade do Estado do Pará-UFPA, fazem um levantamento sobre a educação do campo na Amazônia, região que apresenta um numero significativo de escolas multisseriadas. Os dados das pesquisas mostram que “das 9.483 escolas rurais, 7.670 são multisseriadas (80.9%)” (GEPERUAZ, 2010, p.05). Diante da relevância desses dados, algumas questões devem nortear os debates sobre as escolas multisseriadas tais quais, analisar as escolas multisseriadas a partir dos seus contextos socioculturais, econômicos e ambientais; estabelecer um currículo escolar pautado nas peculiaridades do campo e a organizado segundo a multisseriação; compreender que as escolas multisseriadas fazem parte do cenário educacional brasileiro e que esta forma de educação não é o que restou da educação urbana nem ao menos é, “um mal necessário”, mas é a escola dos povos camponeses, educação que eles podem aceder e que resiste ao tempo.

Considerações Finais

Neste estudo buscou-se averiguar as dificuldades encontradas nas escolas do campo no regime multisseriado. Outro objetivo da pesquisa foi identificar as possibilidades desse modo de ensino para os sujeitos do campo como um meio de superação para os mesmos.

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Seriamos capaz de definir em qual medida essas escolas representam dificuldades ou meio de superação para os alunos? As dificuldades estão presentes em toda parte, elas estão impregnadas desde a formação histórica das escolas do campo até os dias atuais e comprometem seu funcionamento de forma generalizada. Portanto as escolas rurais e no regime multisseriado, ainda sobrevivem e sua existência é justificada pela importância e pelo o que elas representam para as comunidades, pois as escolas do campo são frutos de lutas dos movimentos sociais em prol de uma educação para as comunidades tradicionais.

A realidade das escolas rurais não deve ser negada, o que se faz necessário é a existência de políticas públicas educacionais comprometidas com a educação do campo que aceite-a como uma realidade existente no meio rural brasileiro e não como um problema que deve ser negado e nem como escolas que devem ser fechadas, as escolas do campo devem ser apreendidas como uma escola no meio rural, para o meio rural, respeitando os valores das comunidades camponesas e resguardando assim suas particularidades, sua cultura e seus saberes.

REFERÊNCIAS

ARROYO, CARDART; MOLINA, Apresentação. In: ARROYO, M. G.; CARDART, R. S.; MOLINA, M. C. Por uma educação do campo. Petrópolis – RJ: Vozes, 2004.

BRASIL. Decreto nº 7.352, de 4 de novembro de 2010. Brasília, 2010 Disponível em: < http://portal.mec.gov.br/docman/marco-2012-pdf/10199-8-decreto-7352-de4-de-novembro-de-2010/file >. Acesso em: 28 abril 2017

HAGE, Salomão. Classes multisseriadas: desafios da educação rural no Estado do Pará, Região Amazônica. Belém, PA: Geperuaz 2003.

HAGE, Salomão; BARROS, Oscar. Currículo e Educação do Campo na Amazônia:

referências para o debate sobre a multisseriação na escola do campo. Espaço do Currículo, v.3, n.1, pp.348-362, mar.2010 a set.2010. Disponível em:

http://periodicos.ufpb.br/index.php/rec/issue/view/785. Acesso em: 22 jun. 2017.

LEITE, S.C. Escola rural: urbanização e políticas educacionais. São Paulo: Cortez, 1999. LÜDKE, Menga; ANDRÉ, Marli. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. 2 ed. Rio de Janeiro: E.P.U., 2013.

Referências

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