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Violao 15

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Academic year: 2021

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VIOLAO

+

Quarteto

Maogani

Ano 2 - Número 15 - Novembro 2016 www.violaomais.com.br

Sonoridade

diversificada e

consolidada

Camilo Carrara

A visão diferente do músico publicitário

E mais:

A história da viola de 12 cordas

Arpejos, aproximação cromática e notas alvo

“Odara”, de Caetano Veloso, para você tocar

Software: Sibelius e seus sucessores

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editorial

Editor-técnico

Luis Stelzer

editor@violaomais.com.br

Colaboraram nesta edição

Eduardo Padovan, Fabio Miranda,

Felipe Coelho, Junior da Violla, Paulo Porto Alegre, Reinaldo Garrido Russo, Ricardo Luccas,

Samuca Muniz, Saulo Van der Ley,

Os artigos e materiais assinados são de responsabilidade de seus autores. É permitida a reprodução dos conteúdos publicados aqui desde que fonte e autores sejam citados e o material seja enviado

Ano 2 - N° 15 - Novembro 2016

VIOLAO

+

Estou parecendo aquele cara que fica olhando a vida e falando: olha, como passou rápido! Pois é, nem deu para sentir este mês! Em um ano difícil, cheio de acontecimentos

no Brasil e no mundo, temos que celebrar a vida e a música. Violão+ número 15 traz

em sua capa o quarteto Maogani, fomado há mais de vinte anos por estudantes da

UFRJ. Com carreira sólida e vários trabalhos registrados em CD, são de uma qualidade impressionante, com arranjos muito bem cuidados e execução absolutamente perfeita, sem deixar de ser emocionada. A entrevista deles é fantástica, revelando, inclusive, um disco gravado há mais de sete anos, que só será lançado no ano que vem! Na seção Retrato, trazemos Camilo Carrara, que é, definitivamente, um cara diferente. De técnica

impressionante como violonista, é também arranjador, compositor, professor... Até aí, tudo bem. Mas estudar linguística e marketing, isso não tinha visto ainda! Sua entrevista está cheia de visões diferentes da que um músico normalmente tem. Trazemos também

Paulo Porto Alegre, nos oferecendo um trabalho incrível para quem procura novos

materiais para lecionar e para quem está começando a tocar violão a sério: ele nos faz uma análise das suas 52 Peças Fáceis

para violão. O detalhe: esse material ele oferece gratuitamente. Outro presente nos dá Junior da Violla, com a história da viola

de seis ordens e 12 cordas, rara, mas de sonoridade e extensão maravilhosas! Na

seção Você na V+, Micael Chaves, jovem

violonista, já com carreira consolidada, seguindo os mestres da família Assad. Na seção Em Pauta, você fica sabendo dos principais lançamentos, novos trabalhos e shows de grandes artistas. Nossas colunas técnicas não deixam por menos: cada vez melhores. Leia! Comente! Compartilhe!

Violão+ é para você. Espero que goste!

Luis Stelzer Editor-técnico

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índice

Foto de capa Silvana Marques Publicidade/anúncios comercial@violaomais.com.br Contato contato@violaomais.com.br

Publisher e jornalista responsável

Nilton Corazza (MTb 43.958)

publisher@violaomais.com.br

Gerente Financeiro

Regina Sobral

financeiro@violaomais.com.br

Diagramação Rua Nossa Senhora da Saúde, 287/34Jardim Previdência - São Paulo - SP

52

Siderurgia

49

Sete Cordas

40

Especial

4

Você na V+

6

Em Pauta

10

Retrato

20

História

30

Quarteto Maogani

44

Em Grupo

55

Iniciantes

60

Tecnologia

74

De Ouvido

70

Viola Caipira

80

Coda

78

Flamenco

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Mostre todo seu talento!

Os violonistas do Brasil têm espaço garantido em nossa revista.

Como participar:

1. Grave um vídeo de sua performance.

2. Faça o upload desse vídeo para um canal no Youtube ou para um servidor de transferência de arquivos como Sendspace.com, WeTransfer.com ou WeSend.pt. 3. Envie o link, acompanhado de release e foto para o endereço editor@violaomais.com.br

4. A cada edição, escolheremos um artista para figurar nas páginas de Violão+, com

direito a entrevista e publicação de release e contato.

Violão+ quer conhecer melhor você, saber sua

opinião e manter comunicação constante, trocando experiências e informações. E suas mensagens podem ser publicadas aqui! Para isso, acesse,

curta, compartilhe e siga nossas páginas nas redes sociais clicando nos ícones acima. Se preferir, envie críticas, comentários e sugestões para o e-mail contato@violaomais.com.br

você na violão+

Edição 14

Parabéns a toda a equipe da Violão+ pelo maravilhoso trabalho. A cada mês espero ansioso pela revista, matérias, entrevistas de excelente qualidade, obrigado pela dedicação. Só me resta apreciar este material! (Thiago Campos, por e-mail)

A revista para quem gosta de ouvir e tocar violão. O Brasil sempre teve e tem grandes e influentes violonistas. Aqui, esse instrumento é tocado de forma diferente. Já começa pelo nome: nada de guitarra, aqui é VIOLÃO! Abram, conheçam a revista, é fácil, bonita, bem-feita, digital e grátis. (Norma Nacsa, em nossa página no Facebook)

Excelente a matéria sobre Henrique pinto. Parabéns! (Miriam Bemelmans, por e-mail)

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você na violão+

Micael Chaves é de Santo André, cidade do ABC paulista. Começou a estudar com Jorge Assad, patriarca de uma família de músicos - pai de Sérgio e Odair, mais conhecidos como Duo Assad, e Badi. Es-tudou harmonia com José Roberto Vital e violão com Henrique Pinto. Depois, in-gressou no Conservatório de Tatuí, onde concluiu curso ministrado por Geraldo Ribeiro. Fez turnê pela Alemanha com a orquestra de Violões & Cia., também

to-seguindo os mestres

cou em um concerto solo no “Junge Gi-tarrensolisten de Heidelberg”. O trabalho eclético de Chaves é um diferencial. Atu-almente, toca em musicais pela cidade de São Paulo e outros estados. Partici-pou, em 2015, do I Festival Assad, to-cando em trio com o próprio Duo Assad. É professor de violão da prefeitura de São João da Boa Vista, cidade natal dos Assad, onde se realiza o festival. Tam-bém é professor de violão e bandolim.

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EM PAUTA

CROWNDFUNDING

O violonista argentino radicado no Brasil Conrado Paulino está lançando o

projeto A Canção Brasileira, que será realizado por meio de crowndfunding. A palavra é complicada, mas, atualmente, essa é uma das formas de viabilizar novos trabalhos: o financiamento coletivo. O crowndfunding é a troca de fundos por produtos e serviços, e quem apoia a iniciativa pode receber de CDs gravado a shows particulares. Para participar, basta clicar no ícone.

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EM PAUTA

Quem também está

viabilizando novo trabalho pelo crowndfunding é

Diego Salvetti, violonista

italiano radicado no Brasil. O álbum O Brasil Me

Pegou apresenta músicas compostas pelo próprio artista homenageando cidades, estados ou paisagens típicas dos

estados brasileiros. Clique no ícone para apoiar o

projeto.

FESTIVAL E DOCUMENTÁRIO

Um documentário sobre a carreira e o novo projeto, Hora Certa, de

Felipe Coelho, abre o Festival de

Música de Foz do Iguaçu, no fim de novembro. Coelho, um de nossos novos colaboradores, é um virtuose do violão, possui domínio técnico fantástico e é grande pesquisador. Utiliza técnicas da música erudita, popular, flamenco e jazz, com extrema fluência, compondo e arranjando, com a mesma qualidade, para violão solo, pequenas formações, orquestra e trio. Além do documentário e de se apresentar em recital, Felipe coelho ministrará oficinas dos dias 23 a 27.

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EM PAUTA

PARA ENTENDER DILERMANDO

O violonista professor da UNICAMP

Gilson Antunes irá dissertar sobre a

vida, a obra e o legado de Dilermando Reis, um dos principais nomes da história do violão no Brasil. A obra de Dilermando é constantemente executada tanto por músicos clássicos quanto populares, já tendo sido revisitada por instrumentistas como Raphael Rabello, Turíbio Santos, Baden Powell e muitos outros. Com imensa discografia, na qual imortalizou obras

de autores como Américo Jacomino “Canhoto” e Mozart Bicalho, além de ter gravado com músicos de renome como Francisco Petrônio e até com orquestras sinfônicas, Dilermando Reis é um dicionário perpétuo sobre o violão brasileiro. A palestra será realizada no dia 21 de novembro, no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc, em São Paulo e as inscrições devem ser feitas antecipadamente neste link.

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L’Arpeggiata

A musicista Christina Pluhar criou,

no ano 2000, o conjunto vocal e instrumental L’Arpeggiata que, em uma década e meia de atividades, se consolidou como um dos mais importantes e interessantes com base na música antiga. Construída em torno das cordas dedilhadas, a sonoridade do grupo revive repertório do início do século 17. O conjunto, sediado na França, reúne artistas de diversas origens musicais e estará se apresentando em São Paulo nos dias 30 de novembro e 1º de dezembro, no SESC Bom Retiro.

EM PAUTA

Recentemente lançado, o CD

Catamarã, do violonista, arranjador,

multi-instrumentista e compositor

André Siqueira, é realmente muito

diferente. Segundo suas próprias palavras, uma tentativa de releitura do modernismo dos anos 1920, flertando com as técnicas de composição do século 20 e a cultura brasileira de matriz rural. Clique na capa do álbum para conhecer o trabalho.

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RETRATO

Por Luis Stelzer

Camilo Carrara

© T iago S or mani

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RETRATO

Uma visão

diferente

O violonista Camilo Carrara fala sobre música, carreira,

publicidade, marketing, mercado e muito mais

Camilo Carrara é um daqueles casos em que você se cansa só de olhar para o currículo. Já fez muita coisa! Tocou, ganhou concurso, compôs, improvisou, tocou com orquestra, arranjou, trabalhou como produtor musical, estudou muito, gravou muito, acompanhou cantores, escreveu para outros instrumentos, compôs para orquestra, deu aulas em tudo o que é lugar... Não para um segundo! Nessa agitação toda, além do violão e da música, foi estudar linguística e... marketing! Com toda essa correria, um cara amável, disposto, colaborativo. Como ele lida com tudo isso, a gente sabe agora, neste papo bem legal

Chama a atenção um músico ter formação em marketing e em linguística, além do bacharelado. Como tudo isso colabora para todas as suas atividades?

Sempre fui interessado e curioso por outras áreas e sinto que, no fim das contas, tudo vai se complementando. Depois que me formei em música pelo Departamento de Música da ECA-USP, ingressei no curso de Linguística, na

FFLCH-USP. Sempre tive interesse pelo universo das letras e tenho muito orgulho de ter estudado lá. Uma pena não ter conseguido me formar. Faltou tempo para conciliar o volume de trabalho com o estudo. Tive aulas com nomes como Adélia Bezerra de Menezes, Luiz Tatit, José Miguel Wisnik e Alfredo Bosi, apenas para citar alguns. Dessa época, trago a paixão desses mestres pela tradição que aborda a importância e a beleza da linguagem, da forma como a poesia se manifesta em todas as artes, da reflexão sobre a Comunicação em seus vários níveis. A especialização em marketing foi mais recente e fez parte de uma mudança no meu eixo de atuação. Em 2010, passei a focar na área da Comunicação, trabalhando em produtora de som para publicidade e senti necessidade de mais conhecimento nessa área. Percebi que era uma lacuna na minha formação. Por conta disso, fiz um MBA em Gestão de Marketing Estratégico na FEA-USP. O curioso é que o que realmente me motivou a estudar marketing foi descobrir o “sound branding” ou “music branding”. Meu trabalho de conclusão foi

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RETRATO

justamente sobre essa disciplina que trata da identidade sonora das marcas e a sua influência no desempenho das organizações. Procurei mostrar de que forma a integração dos sentidos humanos - visão, audição, tato, olfato e paladar - foi incorporada às estratégias de comunicação das marcas. Só para ter uma ideia, os estudos apontam que é possível moldar a percepção de um “bem” ou de um “serviço” por meio de estímulos sensoriais, evidenciando tanto aspectos positivos quanto negativos das marcas. Ou seja, em grande medida, a “utilização consciente” dos sentidos configura-se como um artifício de diferenciação

competitiva, sobretudo para as marcas cujos atributos físicos, as características técnicas ou os preços são facilmente imitáveis. É uma área muito interessante para nós músicos e tenho dado consultoria nesse campo. Também pretendo abrir uma empresa de marketing sensorial.

Suas atividades extrapolam em muito o que normalmente se espera de um violonista. Como faz para dar conta de tamanha agenda?

Às vezes fico sem dormir e ganho uns novos cabelos brancos, mas, de forma geral, aprendi a priorizar alguns projetos mais valiosos.

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ainda não estava muito aberto para esse universo. Só queria saber de clássico. Ouvia, sem parar, John Williams, Julian Bream, Los Romeros, irmãos Assad, Duo Abreu, entre outros. Depois de alguns anos, caiu a ficha do quanto foi importante estudar com o Valdo. Logo na sequência, fui estudar com o Paulo Porto Alegre, no Conservatório do Brooklin. Aí foi muito marcante. O ambiente do Conservatório era fora de série e o Paulo mudou a minha vida em vários sentidos. Lembro da primeira aula: “Fantasia X”, de Mudarra. Além de toda a parte técnica, som, postura, ele fez uma análise formal da peça, algo que nunca tinha visto. Dali em diante levei o violão muito a sério. Com ele, aprendi a organizar o tempo e ter método de estudo; me ajudou a abrir a cabeça, ter menos preconceito e a ser menos careta. Quando decidi fazer música na faculdade, por exemplo, ele sentou comigo e fez um superplanejamento. O Paulo foi um paizão, devo muito a ele. Por fim, meu último professor regular de violão clássico foi o Edelton Gloeden, na USP. Eu já tinha estudado com o Edelton durante o CIVEBRA, Festival

RETRATO

Como foi a sua trajetória inicial na

música? E o violão, quando chamou sua atenção?

Comecei a estudar música com 10 anos, em Itu, no interior de São Paulo. Minha família é de São Paulo, mas vivemos lá por quatro anos. Nessa época, meu pai resolveu que todos em casa deveriam estudar algum instrumento. Eu queria tocar bateria, mas como não tinha no conservatório da cidade, optei pelo violão, que era o instrumento escolhido pelo meu vizinho e melhor amigo! Ou seja, foi totalmente sem querer! Tive a sorte de ter sido aluno de violão da Célia Trettel, que, por sua vez, era aluna do Pedro Cameron. Comecei tocando o repertório clássico e lendo partitura. Fui pegando gosto e, com três anos de violão, ganhei um concurso nacional, o Marcelo Tupinambá.

Quais foram os professores que mais marcaram a sua vida? Pode falar um pouco deles, no que cada um foi importante?

Minha primeira professora, Célia Trettel, foi incrível. A aula era muito leve. Lembro que ela tocava as peça novas pra ver se eu gostava e daí me pedia para ler. Com ela, também aprendi a ter respeito pelo instrumento. Sabe aqueles pequenos gestos que fazem a diferença: lavar as mãos antes de tocar, limpar o violão, guardar bem guardado. Ela me apresentou a música de forma muito lúdica. Depois de alguns anos, minha família voltou para São Paulo e tive aula por seis meses com o Valdo Luir, no CLAM. O Valdo começou a introduzir o violão popular, a me fazer tocar de

ouvido. O maluco é que, nessa época, © T

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de Música em Brasília, em 1983. Foi marcante. Aliás, foi lá que decidi ser músico profissional. O Edelton também foi fundamental na minha formação. Com ele fiz uma super-reestruturação técnica. Foram anos aprimorando o som e a postura da minha mão esquerda. Com ele aprendi a colocar a música acima do instrumento. Também desenvolvi o gosto pela música da câmara, além de ampliar o tipo de repertório. O Edelton é reconhecido no meio pela sua cultura musical vastíssima. E também por ser um paizão. Muita sorte a minha! Na área do violão popular, meu grande mestre foi o Conrado Paulino. Estudei anos com ele e aprendi tudo: montar e inverter acorde, escala, improvisação, levadas, tocar de ouvido. Dele, trago o rigor com a harmonia e na escolha das notas pra improvisar. Também frequentei muitos cursos avulsos com grandes nomes do violão como Turíbio Santos, Ulisses Rocha, Ralph Towner, Orlando Fraga, Paulo Bellinati, Marco Pereira, Marcus Llerena, Giacomo Bartoloni, Jaime Zenamon. Destacaria também meus professores de guitarra e improvisação: Fernando Corrêa, Paulo

Hidelbrand, Nelson Faria. Trago um pouco de todos eles.

Você tem trabalhos com grandes cantores. No que difere o trabalho de música instrumental para o cantado? Quais são as principais diferenças para o violonista, se existem?

Tive a sorte de acompanhar grandes cantores e cantoras e isso fez toda a diferença na minha formação como intérprete. De fato, vejo que os cantores têm outra relação com a música, comparando com os instrumentistas. Vejo isso na importância que eles dão ao texto das canções, na respiração das frases e mesmo na postura de palco. Os cantores estão mais próximos dos atores com relação ao respeito pelo palco como um lugar especial. Musicalmente falando, acho que uma das coisas mais importantes é de assumir ser parte da “cozinha”. Segurar uma bela base. Essa é a grande qualidade do acompanhador.

Você tem um sólido trabalho como professor, atuando inclusive no exterior. A veia de ensinar sempre esteve presente ou foi uma consequência dos trabalhos realizados?

É verdade, gosto muito de ser professor. O curioso é que demorei para começar. Não me sentia preparado. Foi na faculdade, durante o Festival de Prados-MG, em que os alunos da USP iam pra tocar e dar aulas, que me arrisquei pela primeira vez. Ali, peguei gosto! Sinto que é uma forma de transmitir o legado que aprendi e tenho a obrigação de repassar. Coisa minha. Em se tratando especificamente de pedagogia musical,

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RETRATO

o meu grande mestre é o Ricardo Breim, que foi o responsável pela área de música dos PCNs (os Parâmetros Currilulares Nacionais, do Governo Federal). Com ele, aprendi a refletir profundamente sobre pedagogia musical. Aplico cada conhecimento que aprendi com ele. O Ricardo é fora de série, um dos nossos principais pedagogos.

No meio musical, você é elogiadíssimo não só em sua performance, impecável e original, mas também como diretor e produtor musical. Conte sobre alguns de seus principais trabalhos como diretor ou produtor musical.

Aos poucos, fui abrindo essa frente na minha carreira. Comecei a fazer direção musical para teatro e a compor trilhas para dança. Com o tempo, investi em tecnologia de áudio. Aprendi a trabalhar com editores de partitura, primeiro com o Encore, depois com o Sibelius e, na sequência com o Logic, programa de gravação e produção de áudio. Hoje, é o meu programa do dia-a-dia. Posso dizer que domino muito bem esse software. Com essas ferramentas, posso cobrir todas as etapas para realização de um CD ou de um espetáculo, por exemplo. Ou seja, faz parte do meu escopo: criar, arregimentar músicos e estúdios, gravar, editar, mixar e masterizar. Comecei fazendo arranjos para bandas como Meas Palavras (nos anos 80 e 90), Kibe Kru, Café com Menta. Fiz direção musical do Projeto Nascente (Prêmio Abril, da USP). Produzi a cantora Fortuna, a Carmina Juarez. Compus para cinema “Além das Horas”, curta-metragem de Eliane Coster, que ganhou o prêmio Crônicas da Cidade,

da Prefeitura de São Paulo, e do 19º Cinérail d’Or du Documentaire, no Festival Cine-Rail, em Paris, França. Na área da dança, destaco meus trabalhos com a bailarina e diretora Susana Yamamuchi. Compus a trilha de Wabi Sabi e Pedrinho Brasilândia, sobre Petruska de Stravinsky. Nos últimos cinco anos, tenho produzido o Natal do Palácio Avenida, em Curitiba. Sou responsável pelo CD e pela trilha do espetáculo, considerado um dos maiores branded contents do Brasil. Reúne mais de 400 mil pessoas todo ano e, atualmente, é realizado pelo Bradesco. É uma forma das marcas gerarem conteúdo para se conectar afetivamente com seus consumidores.

E os trabalhos com Orquestra? Para muitos, é o ápice da carreira. Como é para você? O que muda em uma apresentação instrumental com banda para tocar com uma orquestra? Quais foram os seus principais concertos?

Tocar com orquestra é um sonho. É uma delícia ouvir aquela profusão de sons e sentir a energia que acontece ali entre

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os músicos. É um privilégio. Tenho uma história longa de participações, não apenas como solista, mas, principalmente, como músico convidado ou “músico extra”. Comecei tocando bandolim na 7ª Sinfonia de Mahler, com regência do Eleazar de Carvalho. Por conta da minha leitura e do meu treinamento em música clássica, tenho sido chamado pelas orquestras para tocar todos os instrumentos de cordas dedilhadas quando precisam. Assim como os compositores usam o piano na orquestra, não como solista, mas como uma “cor” a mais, vários deles incluíram bandolim, banjo, guitarra elétrica, violão e até serrote! Com isso,

já toquei sob a batuta de nomes como Eleazar de Carvalho (Brasil), Filip Rathe (Bélgica), Gennady Rozhdestvensky (Rússia), Gil Jardim (Brasil), Guga Petri (Brasil), Heinz Holliger (Suiça), Ira Levin (EUA), Isaac Karabtchevsky (Brasil), João Maurício Galindo (Brasil), Jamil Maluf (Brasil), John Neschling (Brasil), Julio Medaglia (Brasil), Marcos Sadao Shirakawa (Brasil), Marin Alsop (EUA), Olaf Henzold (Alemanha), Peter Maxwell Davies (Inglaterra), Ricardo Bologna (Brasil), Richard Rosenberg (EUA), Roberto Duarte (Brasil), Roberto Farias (Brasil), Wagner Politschuk (Brasil) e Yan Pascal Tortelier (França). Vale destacar duas turnês com a

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OSESP. A primeira europeia, com o John Neschling, e uma brasileira, com Yan Pascal Tortelier (França). Também gravei com a OSESP e Neschling para o selo escandinavo BIS. Toquei o violão na Floresta do Amazonas, de Villa-Lobos, e bandolim nas Festas Romanas, de Ottorino Respighi. Como solista, destacaria o Concerto Carioca nº3, de Radamés Gnatalli, com a Jazz Sinfônica, sob a regência de João Maurício Galindo. Em 2012, compus uma peça chamada Cadência e Dança para Violão e Orquestra e estreei nos Estados Unidos sob a regência de Richard Rosemberg, com a Orquestra do National Music Festival.

Como você tem visto o panorama do ensino do violão e da música, no Brasil e no exterior? Está melhor do que quando você começou? E o advento da internet, das aulas online, você vê isso tudo como contribuição ou como confusão de informações?

De forma geral, o nível aumentou muito. Só para ficar no âmbito do violão, é impressionante o que as novas gerações estão tocando. Eu sou fã de tecnologia, penso que quando é bem usada só traz vantagens. De fato, a oferta de informação pode ser um problema para quem não tem critério. Só temos que trabalhar nisso: separar o joio do trigo. Se bem que um pouco de trash não faz tão mal assim. Acho até bom!

Como é seu trabalho de compositor e arranjador? Como é trabalhar para campanhas e agências de publicidade?

Sempre gostei muito do universo da

criação e ao mesmo tempo demorei para começar a colocar a mão na massa. Boa parte da minha formação musical foi centrada na interpretação e tinha muita insegurança nesse campo. Com o tempo, fui me arriscando e aproveitando o conhecimento adquirido com professores como a Vera Cury, com quem aprendi contraponto, por exemplo. Foi na faculdade que comecei a compor e arranjar com mais frequência, em grande parte por conta do estímulo de professores-compositores como Willy Correia de Oliveira, Gilberto Mendes, Mario Ficarelli, Gil Jardim, Olivier Toni e Aylton Escobar. Depois, estudei por muito tempo com o Claudio Leal Ferreira, que foi um divisor de águas nessa área. Também devo muito ao Ricardo Rizek e ao Ricardo Breim. Falei desses professores, pois trago um pouco de cada um deles na forma de pensar a criação musical. Hoje, não consigo me ver sem o desafio de partir de uma página em branco e construir algo novo depois de um tempo, seja lá para o que for! É muito gratificante. Também gosto muito de escrever para outros instrumentos. Já tive a chance de escrever algumas vezes

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para orquestra, para Banda sinfônica e grupos de câmara. Quanto ao trabalho na área da publicidade, desde cedo convivi com esse universo por conta do meu pai, Otoniel Santos Pereira, que foi redator e diretor de criação em algumas das principais agências. Apesar dele ser uma espécie de “antipublicitário”, pois era politicamente de esquerda, pouco ligado ao mundo dos negócios, cresci acostumado com as novidades, com os lançamentos de produtos, com os filmes premiados em festivais. Com ele, peguei gosto por direção de arte, pelo texto publicitário conciso e ao mesmo tempo sedutor e engraçado, por cinema e fotografia. Ele pertence à geração anterior a nomes como Washington Olivetto, Nizan Guanaes, Alexandre Gama e Marcello Serpa, citando apenas alguns dos atuais expoentes do segmento. Quando decidi trabalhar em produtora de som, entrei em contato com esse mundo que conhecia, em parte, da infância. Sinto que trabalhar nessa área significa pertencer à uma peça fundamental da engrenagem do sistema de produção: a indústria da Comunicação. Ela é gigante, com cargos, funções e hierarquias muito bem definidas. Falando em termos de nomenclatura de marketing, pra você ter uma ideia, a comunicação faz parte do composto ou mix de marketing, juntamente com “produto”, “local de venda” e “precificação”. São os “famosos” Quatro Ps: product, price, place, promotion, em inglês. São quatro elementos completamente interligados. E aplica-se o composto de marketing para absolutamente tudo que envolva troca. Troca por dinheiro, por tempo, o

que for. Em resumo, qualquer bem ou serviço precisa ser definido enquanto produto (nome, forma, garantia), ter um preço e ser encontrado em algum lugar. E precisa ser comunicado. As pessoas precisam saber da sua existência, quais valores representa etc. A publicidade é a comunicação que chama atenção, que atrai e seduz. De fato, a lógica da publicidade é bem diferente da arte. O som, nesse contexto, serve como parte da estratégia de comunicação. Às vezes tem muita relevância, às vezes quase não tem. Para quem é artista, pode ser um campo árido de atuação. Muita gente endurece, fica menos sensível. Da minha parte, acho que lido bem e consigo separar os universos.

Quais são os projetos mais recentes?

Meus últimos anos foram muito dedicados à publicidade e ao marketing. Paralelamente a isso, abri uma frente de atuação artística nos Estados Unidos. Há 5 anos, sou professor no National Music Festival, em Maryland. Por conta desse festival, gravei um CD com a cantora de jazz Sue Matthews e tenho feito shows e concertos por lá. Quero muito me dedicar ao duo com meu irmão Tiago Sormani, multi-instrumentista de sopro. Como temos nomes artísticos diferentes, muita gente não sabe de nosso parentesco. Meu nome completo é Camilo Sormani Carrara Santos Pereira. Por ironia do destino, cada irmão escolheu um sobrenome diferente pra usar...No ano que vem, abro o National Music Festival (EUA), como solista do Concerto Opus 8 de Carulli, com a Orquestra de Câmara de Cascais (Portugal) e regência de Nikolay Lalov (Bulgária).

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história

Um panorama sobre o instrumento, suas origens, seu apogeu, decadência e sua existência no México, nos Estados Unidos e no Brasil

Viola de 12 cordas

Por Junior da Violla

A guitarra - chamada aqui no Brasil de violão - no período que compreendemos como período clássico ou classicismo, que vai de cerca de 1750 a 1830, é a

guitarra de seis ordens de cordas ou 12 cordas dispostas em seis pares. Este instrumento está para o período clássico assim como a guitarra de quatro ordens está para o período do renascimento, a guitarra de cinco ordens está para o período barroco, a guitarra de seis cordas simples conhecida por viola francesa ou violão romântico está para o romantismo ou o violão moderno está para a música contemporânea do século 20. É um trabalho de garimpo encontrar informações sobre esse instrumento, pois trata-se de uma guitarra de transição entre a guitarra de cinco ordens barroca e o violão romântico. Por volta de 1790, era possível encontrar os três modelos sendo construídos e usados ao mesmo tempo: a de cinco ordens ainda reinava na Itália, a de seis ordens já reinava na Espanha e a de seis cordas simples se tornou xodó dos franceses. Por conta da complexidade de suas 12 cordas ante a simplicidade das seis cordas simples, o instrumento sucumbiu em pouco tempo na Europa, mas, assim como o instrumento de cinco ordens, também se tornou folclórico, principalmente no Brasil, onde chegou a ser fabricado por grandes marcas como Giannini, Di Giorgio e Casa Lira até a primeira metade do século 20. Em

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história

nossas terras, na época do classicismo, reinava absoluta a viola de dez cordas, divididas em cinco ordens, porém, a guitarra de 12 cordas foi também aceita no Brasil. Até hoje encontramos exemplares dessa viola feita nos mais afastados rincões do País. Se Bach tocasse guitarra, provavelmente tocaria uma barroca de cinco ordens. Já Mozart, provavelmente a de seis 6 ordens...

A guitarra no período clássico

Ao longo de toda a história dos instrumentos de cordas pinçadas em formato de 8, três instrumentos com seis ordens de cordas existiram em três períodos diferentes: a vihuela espanhola do século 16 e 17; a guitarra deseis ordens de cordas, que esteve em voga entre 1760 e 1830; e nossa atual guitarra (ou já nomeado como violão) de 12 cordas construída em sistema americano, também conhecido como folk. Poderíamos citar um quarto instrumento e, talvez, de todos, o que mais se assemelha a guitarra clássica de seis ordens: a raríssima viola brasileira de 12 cordas. E, porque não, um quinto instrumento, o bajo sexto mexicano. A vihuela espanhola foi um instrumento criado por volta de 1400 e tinha a clara intenção de ser um substituto do alaúde de influência moura, uma vez que, nessa época, os mouros perderam o poder na Espanha. Ou seja, estava mais para o alaúde do que para a guitarra em si, que nesta época já existia, porém com quatro ordens de cordas. A guitarra de seis ordens clássica nada tinha de influências da vihuela, não herdou seu repertório, apesar de que fisicamente fosse possível tocar o repertório do

instrumento quinhentista, por conta de ter o mesmo número de ordens e de ser possível aceitar a afinação de seu antecessor. Esta foi a evolução natural, da guitarra de quatro ordens quinhentista e depois da guitarra de cinco ordens barroca. Após o auge do século 18, na Europa, a antiga guitarra de cinco ordens, que reinou durante 200 anos, foi “substituída” pela de seis ordens. Dessa vez a ordem acrescentada foi o bordão, o par mais grave afinado em Mi. Alguns exemplares traziam cinco cordas duplas e uma simples ou duas simples e quatro duplas (como na Figura 2). Outros já traziam seis pares de cordas. A afinação chega finalmente à usada atualmente: Mi, La, Ré, Sol, Si e Mi, do grave para o agudo. Os pares, na maioria dos casos, eram afinados em uníssono. Raramente, algum guitarrista usava intervalos de oitava, como em um violão de 12 cordas moderno. A prática era idêntica à utilizada na época do instrumento de cinco ordens. A intenção da corda a mais era claramente aumentar a tessitura do instrumento. Já o violão de 12 cordas moderno, a princípio, não possui nenhum parentesco com a guitarra de seis ordens clássica,

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história

tratando-se mais de uma modificação dos violões construídos nos Estados Unidos em fins do século 19. Além disso, possui uma forma de encordoar totalmente diferente dos instrumentos antecessores, sendo usado aço e tendo, no terceiro, quarto, quinto e sexto pares, cordas oitavadas, e no primeiro e segundo pares, cordas em uníssono. Mas há quem defenda que

há um parentesco longínquo que passa pelo bajo sexto mexicano.

No Brasil, foram fabricadas no século passado, com maior intensidade na primeira metade do século, violas com 12 cordas divididas em seis ordens (não confundir com violas de 12 cordas divididas em cinco ordens). Sabemos que as violas brasileiras são herdeiras legítimas das guitarras de cinco ordens barroca. Não seria nenhum absurdo afirmar que estas violas de 12 cordas possam ser herdeiras diretas das guitarras de seis ordens clássicas, uma vez que são idênticas na construção, algumas exibindo escala “meia regra” (que vai somente até a 12ª casa) e outras já exibindo escala “regra inteira”, como feito atualmente. De todos os três exemplos, as violas brasileiras são as que mais se assemelham as guitarras clássicas de seis ordens.

Dizer que a guitarra de cinco cordas foi “substituída” pela de seis ordens é um exagero, já que, ao mesmo tempo, tivemos três exemplares de guitarras sendo construídas na Europa. Na Itália, a guitarra de seis ordens não foi bem aceita e não conseguiu desbancar a guitarra de cinco ordens. Esta ganhou cordas de arame e até hoje é um instrumento típico da Itália, conhecido atualmente por guitarra batente. Apesar disso, é provável que a guitarra de seis ordens tenha nascido na Espanha, já que na segunda edição do método “Principios para tocar guitarra de seis órdenes”, de Federico Moretti, com segunda edição de 1799, o autor diz: “Ainda que eu utilize a guitarra de sete ordens simples, me pareceu mais oportuno adaptar estes Princípios para

Guitarra de seis ordens do período clássico, fabricada entre 1760 e 1830 Vihuela Renascentista, séculos 15 e 16

Viola de 12 cordas produzida no Brasil no século 20 Violão moderno folk de 12 cordas americano

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a de seis ordens, por ser a que se toca geralmente na Espanha: esta mesma razão me obrigou a imprimi-los em italiano, no ano de 1792, adaptados à guitarra de cinco ordens, pois naquele tempo ainda não se conhecia a [guitarra] de seis [ordens] na Itália. (MORETTI, 1799).”

Na Espanha, por volta de 1700, havia dois estilos distintos de se tocar guitarra: um citado por Gaspar Sanz em seu método de 1674, em que o autor denomina como “música ruidosa”, que consistia no modo como os plebeus tocavam, rasgueando seus instrumentos, muito semelhante ao violão popular, tocado com acordes e batidas rítmicas nos dias de hoje e, provavelmente, sendo a origem do que conhecemos hoje por música flamenca; e a “música da corte”, que consistia em composições refinadas para a aristocracia, tocada de forma dedilhada, semelhante ao nosso violão erudito atual. Talvez esteja aí o início da rivalidade entre flamencos e eruditos na Espanha. Referências para as técnicas de rasgueado, similares ou idênticas às usadas por guitarristas flamencos da atualidade, são citados em publicações para guitarra barroca. O desejo dos espanhóis, para tirar mais som de seus instrumentos em bares barulhentos, foi provavelmente uma das razões para a adição do sexto par à guitarra barroca de cinco ordens. No entanto, outra razão foi que o sexto par eliminou as inversões de acordes inábeis, exigidos na guitarra de cinco ordens. Há também quem defenda que a guitarra de seis ordens tenha nascido na Itália ou França, porém a observação

feita por Moretti em 1799, em que não Exemplos da afinação utilizada tanto no método de Ferendiere quanto para o método de Moretti

se conhecia a guitarra de seis ordens na Itália em 1792, põe em dúvida essa teoria.

Apesar de alguns indicarem que as guitarras de seis ordens já fossem fabricadas no início da década de 1750, o fato é que a informação mais antiga sobre o instrumento data de 1760 e vem por meio de um anúncio de venda de instrumentos na Casa Granadino, na Calle de Atocha, em Madri. O granadino Joseph Contreras (1710/1780) foi um famoso luthier de violinos, que fazia cópias de grande qualidade de Stradivarius e Guarnerius. É possível que tenha sido ele, um renomado luthier, o responsável por introduzir o sexto par na guitarra, apesar de não haver provas que atestem esta afirmação nem informações sobre a guitarra de seis ordens antes disso. Em 1799, apesar de já haver guitarras de seis cordas simples, principalmente na França, os espanhóis ainda optavam pelas guitarras de seis ordens. Outra prova irrefutável dessa afirmação é que

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a maioria das guitarras de seis ordens que chegou até nossos dias tenha sido construída por luthieres espanhóis, principalmente de Madrid.

O primeiro método para a guitarra de seis ordens foi escrito pelo gaditano Juan Antonio de Vargas y Guzmán, o “Explicación de la guitarra” (1773), seguido pelo “Obra para Guitarra de Seis Órdenes” (1780), de Antonio Ballesteros, e o italiano Federico Moretti em “Principios para tocar la guitarra de seis órdenes” (1792). Mas foi no ano de 1799 que, talvez, tenha acontecido o auge da guitarra de seis ordens. Nesse ano, foram escritos na Espanha os três métodos mais importantes sobre o instrumento: “Escuela para tocar con perfección la guitarra de cinco y seis órdenes”, dos portuguêses Antônio Abreu e Victor Pietro; “Arte, reglas y escalas armónicas para aprehender a templar y puntear la guitarra espanõla de seis órdenes según el estilo moderno”, de Juan Manuel Garcia Rubio; e “Arte de tocar la guitarra espanõla por música”, de Fernando Ferandiere, além da segunda edição de Principios para tocar guitarra de seis órdenes de Federico Moretti, esta sim para guitarras de seis ordens, ja que a primeira edição foi escrita em italiano para guitarras de cinco ordens. Em dois desses métodos, a afinação é idêntica a utilizada pelo violão atual, o que difere é a forma de encordoar o primeiro par e a afinação do sexto par: no método de Fernando Ferandiere (1799), o autor sugere o uso de corda simples no primeiro par e notas oitavadas para o sexto par. Já na segunda edição do método de Federico Moretti (1799), o autor sugere

Guitarra Joseph Páges, ano de 1791, Espanha

Guitarra Joseph Páges, ano de 1802, Espanha Guitarra Joseph Martinez, ano de 1800, Madrid, Espanha Guitarra Joseph Guera, ano de 1798, Cadiz, Espanha Guitarra Lorenzo Alonso, ano de 1785, Madrid, Espanha

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tanto corda simples como duplas para o primeiro par e notas uníssonas para o sexto par. No método de Juan Manuel García Rubio, o mesmo também sugere a afinação de notas oitavadas para o sexto par, assim como Ferandiere.

Até 1830, houve uma produção constante de guitarras de seis ordens. Podemos citar alguns exemplares que chegaram até nós, curiosamente todos feitos na Espanha, nas cidades de Madrid, Cadiz ou Servilha. A partir de 1830, não há nenhum registro sobre a fabricação dessas guitarras na Europa, onde o último modelo que encontramos data de 1830, uma Benedid, fabricada na Espanha.

Algo muito importante que aconteceu nesse período foi a substituição da tablatura, sistema que vinha sendo utilizado desde a época dos vihuelistas espanhóis, pela notação moderna, em pauta, utilizando a Clave de Sol, assim como no violino. Muitos dos principais músicos de guitarra eram violinistas (o mais famoso deles era Nícolo Paganini, que tocava de forma assombrosa ambos os instrumentos). Provavelmente, este

fato tenha contribuído para a mudança de escrita.

É algo contraditório imaginar que, logo após seu apogeu, a guitarra de seis ordens tenha rapidamente caído em desuso, primeiramente por conta da popularidade alcançada pela guitarra de seis cordas simples, mais fácil de manusear e com melhor definição sonora. Com o avanço do século 19, o violino e o pianoforte se adaptavam melhor às formas musicais dos novos tempos e, assim, a guitarra, em geral, entrou em decadência. O instrumento com seis cordas simples, que ganhou a denominação de guitarra espanhola na Europa e, em um primeiro momento, de viola francesa no Brasil, teve um período de enorme popularidade até por volta de 1830, onde guitarristas virtuosos desfilavam pelos salões e teatros europeus.

Não encontramos nenhuma informação disponível sobre guitarras de seis ordens entre 1830 e 1890. O que aconteceu nesse período é ainda um mistério. Um fato que também ocorreu com a guitarra barroca de cinco ordens

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foi esse instrumento se enraizar no folclore de colônias. No caso do Brasil, tivemos a inserção de instrumentos portugueses no nosso folclore. Não há nada que confirme, mas no México, antiga colônia espanhola surgiu um instrumento de seis pares de cordas chamado bajo sexto. A história do bajo sexto não é clara, mas há evidências de que o instrumento tenha sido levado para o México pelos espanhóis. Este instrumento possui, além dos seis pares de cordas, a afinação em uníssono, muito semelhante à guitarra de seis ordens clássica.

Uma das teorias sobre o surgimento do violão de 12 cordas americano diz que este nada mais é do que uma evolução do bajo sexto mexicano. O violão de 12 cordas americano seguiu vida própria. Além disso, possui uma forma de encordoamento toda própria, com cordas de aço e pares oitavados. Atualmente, alguns fabricantes americanos se dedicam as “parlor guitars”, instrumentos com escala de 61 cm que em muito se assemelham às antigas guitarras de seis ordens. Poderíamos dizer que se a guitarra de seis ordens não tivesse caído em desuso, elas teriam estas características encontradas nas parlors guitars nos dias de hoje

No Brasil, a guitarra de seis ordens também chegou, o que talvez se

explique a existência de violas de seis pares de cordas construídas por aqui na primeira metade do século 20. Acredita-se que o instrumento tenha chegado junto com os imigrantes espanhóis. Calcula-se que, entre 1808 e 1822, cerca de 4.500 estrangeiros, em maioria espanhóis, desembarcaram no Rio de Janeiro. Mas, assim como ocorreu na Europa, o instrumento não gozou de grande popularidade em nossas terras. Aparentemente, não há nenhum registro de que esse instrumento era fabricado no período do barroco brasileiro e nem ao longo de século 19. Foi encontrada a foto de uma viola de 12 cordas feita de forma artesanal, o que atesta, assim como as violas de Queluz e as violas “meia-regra” feita por artesãos do interior paulista, a viola de 12 cordas também foi fabricada fora das fábricas, porém, é claro, em bem menor número que as de dez cordas. Até o momento, podemos citar três fabricantes de instrumentos musicais que se destacaram pela produção desse instrumento no seculo 20: a Giannini, que denominava o instrumento como “viola portugueza”, a Di Giorgio e a Casa Lira.

Os artesãos fabricavam violas de 12 cordas, porém a maioria com cinco ordens, divididas em três pares e dois trios. As primeiras informações concretas sobre violas de 12 cordas no Brasil vêm de uma foto de 1917, em que aparece o renomado violonista João Pernambuco de posse de uma viola de 12 cordas. Outra referência é do final da década de 1920, com a dupla Mandi e Sorocabinha, pioneiros da gravação de modas de viola em disco. Tanto Mandi como Sorocabinha utilizavam violas de

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João Pernambuco, o segundo sentado á esquerda com um chapéu, onde se lê “Guajurema”, segura uma viola de 12 cordas, em foto de 1917

12 cordas divididas em seis pares de cordas. A Giannini, importante fábrica de instrumentos musicais do Brasil, tem registrado em seus catálogos de 1950, 1954 e 1960 a inclusão do instrumento denominado “viola portugueza”, uma viola de 12 cordas, dividida em seis pares, com 92 centímetros de comprimento. No catálogo de 1954, inclusive, há também referência ao jogo de cordas para esse instrumento, que a Giannini fabricava. No catálogo de 1969, já não há referência a este modelo de viola de 12 cordas. Outra menção ao instrumento aconteceu em um festival de violeiros, ocorrido em algum ponto

da década de 1980 e televisionado pela extinta TV Manchete. Nesse festival, uma das duplas participantes se notabilizou por conta de seu violeiro, de pseudônimo Mineirinho estar de posse de uma viola de 12 cordas, inclusive o apresentador (Erwin Puller) chega a tecer um comentário sobre a raridade daquele instrumento.

Atualmente, notamos um resgate desse instrumento nas mãos de violeiros como Heraldo do Monte (ex-integrante do Quarteto Novo), que utiliza uma viola de 12 cordas desde 2004. Zeca Colares, que utiliza o instrumento desde 2007, Ricardo Vignini, Thiago Paccola

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entre outros, usam também. Eu utilizo a viola de 12 cordas desde Março de 2013, quando meu primeiro protótipo feito pela Rozini ficou pronto. Como não tinha referência a seguir, apenas fotos, me guiei pela intuição na hora de sugerir o projeto à fabrica: utilizamos um corpo pequeno do modelo ponteio da Rozini, o braço do modelo RV151, um pouco mais largo e com a cabeça um pouco mais comprida, e as medidas, tanto do nut como do rastilho, seguiram as medidas do violão de 12 cordas moderno. Isso evitaria dores de cabeça na hora de trabalhar com piezos, já que a medida máxima que temos de piezos com pólo é 59 mm de abertura. Me surpreende e me causa estranheza saber que um instrumento tão rico e

tão completo tenha sido quase extinto. Posso falar pela minha experiência com ela: o instrumento me dá tanto a opção de pensar como um violeiro tradicional, com a mesma usando afinações convencionais de viola como cebolão (podendo afinar em Ré - DADF#AD, Mi Bemol – EbBbEbGBbEb ou mi – EBEG#BE ), quanto pensar como um violonista e entender o instrumento como um miniviolão de 12 cordas usando afinação natural (EADGBE ). Nos EUA, é fabricado um modelo de violão que eles chamam de “mini”: possui escala de 57,9 cm, muito semelhante aos 58 cm de escala de nossa viola. Dessa forma o instrumento me permite tocar todo o repertório destinado à viola caipira de dez cordas e também todo o repertório destinado ao violão de seis ou de 12 cordas. Atesto isso, pois utilizo o instrumento tanto em minhas aulas de viola, tocando repertório voltado ao cancioneiro caipira com afinação cebolão, como em meu bacharelado de violão, onde estudo obras de

À esquerda, viola de 12 cordas na mão do violeiro Mandi da dupla Mandi e Sorocabinha, em foto feita em 1929. À direita, anúncio da Giannini, datado de 1950, sobre a viola portugueza

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Junior da Violla

Violeiro, professor, concertista, endorse das marcas Rozini (violas/violões) e Giannini (cordas).

Referências bibliográficas

VIOLÃO E IDENTIDADE NACIONAL, Marcia Taborda, Ed. Civilização Brasileira, 2011

DOMINGOS FERREIRA - Um violeiro português em Vila Rica, Paulo Castagna, Maria José Ferro de Souza, Maria Tereza Gonçalves de Souza, 2012

EARLY ROMANTIC GUITAR: Gallery of Dated Instruments - http://www. earlyromanticguitar.com/erg/gallery.htm

VIOLÃO IBÉRICO, Carlos Galilea, Trem Mineiro Produções Artísticas, 2012 THE GUITAR AND ITS MUSIC: FROM THE RENAISSANCE TO THE CLASSICAL ERA, James Tyler e Paul Sparks, OUP Oxford, 2007 A GUITARRA DO SÉCULO XIX EM SEUS ASPECTOS TÉCNICOS E ESTILÍSTICO-HISTÓRICOS A PARTIR DA TRADUÇÃO COMENTADA E ANÁLISE DO “MÉTODO PARA GUITARRA” DE FERNANDO SOR. Guilherme de Camargo, 2005

1799 – O ANO DOS MÉTODOS PARA GUITARRA DE SEIS ORDENS, Paulo César Veríssimo Romão, 2011

Junior da Violla

Baden Powell, Dilermando Reis, João Pernambuco ou estudos de Carcassi e Carulli, com afinação natural (a mesma do violão moderno). Em todos os casos, o instrumento se mostra apto para fazê-lo. O encordoamento é de aço. Utilizo para os cinco primeiros pares, cordas de viola. No sexto par, utilizo cordas 045 e 024, ambas encapadas. Difere-se do violão de 12 cordas apenas no par 5, em que a corda lisa é de calibre mais grosso do que a utilizada na viola.

Conclusão

A guitarra de seis ordens é um instrumento misterioso, pois muito pouco se sabe, se discutiu ou se escreveu sobre ele. Foi um instrumento de transição. Seu auge durou muito pouco, 80 anos, se comparado à vihuela espanhola, que esteve em voga por cerca de 170 anos, à guitarra de cinco ordens, que esteve em voga por cerca de 200 anos, e o violão moderno que já dura 150 anos. Mas, é um instrumento fascinante, sendo o mais completo dos instrumentos de cordas duplas fabricados até 1800. Era

o único instrumento capaz de tocar toda a produção musical para instrumentos das famílias das guitarras e da vihuela, já que as guitarras de quatro e cinco ordens exigiriam adaptações. Talvez ainda sobreviva, tendo como herdeiros o bajo sexto mexicano, o violão folk de 12 cordas americano ou até mesmo na raríssima viola de 12 cordas brasileira.

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matéria de capa

Por Luis Stelzer

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O quarteto de três?

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ana Mar

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O Maogani é um grupo consolidado. O quarteto de violões formado, atualmente, por Carlos Chaves, Paulo Aragão, Marcos Alves e Maurício Marques, também teve em sua formação Marcus Tardelli e o peruano Sérgio Valdeos. Estudantes da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), montaram o quarteto em 1995 e, já em 1997, gravavam seu primeiro disco. De lá para cá, muita história, muitos discos, muitas viagens, pelo Brasil e pelo exterior, muitos sons. A pesquisa incessante os levou a instrumentos com maior tessitura, para acomodar melhor os arranjos. Daí, chegaram os violões requinto (mais agudos), de 7 (mais graves) e de 8 cordas, que tem extensão ainda maior. O trabalho é muito intenso,

extremamente elaborado, sem solistas fixos, com muitos arranjos e também peças autorais. Uma vontade de tocar não apenas o repertório mais conhecido dos compositores, mas trazer o seu “Lado B” à tona. Também produz muito como grupo acompanhador, como é o caso do álbum e do show Canela, com o cantor Renato Braz, nos quais passeiam de maneira deliciosa sobre o repertório de música latino-americana. No Sesc Belenzinho, em outubro passado, foram pegos de surpresa por um contratempo que vitimou Marcos Alves, o impedindo de estar presente. O quarteto, então, teve que se desdobrar e virou, momentaneamente, um trio. Essa e muitas outras histórias eles contam aqui, com muito bom humor.

quarteto maogani

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Violão+: Como o Maogani foi criado?

Aragão: A gente começou em 1995. Eu,

o Carlos, o Marcos (que não está aqui hoje) e o Sérgio Valdeos (peruano, que fundou com a gente o grupo). Éramos alunos de violão da UFRJ, fazíamos aula com o Marco Pereira. Todos nós fazíamos violão clássico, que é o que tinha lá, não havia outra possibilidade. A aula de harmonia do Marco era a única voltada para a música popular. E todos nós já tínhamos experiência com música popular. Esse grupo começou como uma coisa de testar os arranjos, vendo o que estava sendo aprendido. Em 1996, a gente começou a fazer os primeiros shows, montamos repertório, começamos a mostrar para as pessoas. Algumas dessas pessoas foram muito importantes nesse começo. O Guinga foi uma delas: ouviu a gente através do Marcos, que era cliente dele (não podemos esquecer que o Guinga é dentista). Ele deu a maior força pra gente, pra escrever os arranjos. Chegando 1997, a gente foi consolidar

quarteto maogani

esse repertório para gravar o nosso primeiro CD, no final do mesmo ano. Aí, seguiu o barco, as coisas ficaram mais amarradas, ensaiamos bastante. Em 1999, o Sérgio Valdez foi embora para o Peru, e o Marcus Tardelli entrou no lugar. O Tardelli ficou cinco anos com a gente. Nesse período, a gente gravou dois discos, o Quadras Cruzadas e o Água de Beber. Em 2005, ele quis fazer carreira solo, estava com outras ideias. Então, a gente convidou o Maurício Marques. Com o Maurício gravamos o Impressão de Choro, em 2007. Em 2009 gravamos, nos Estados Unidos, um disco que não saiu até hoje. A gente quer lançar para o ano que vem, está inédito ainda...

Violão+: Cada história que a gente encontra: um disco inédito há tantos anos gravado...há quanto tempo mesmo?

Aragão: 2009!

Marques: Na verdade, de 2006 a 2009. Aragão: Nós fomos para Los Angeles em

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2006. Gravamos uma demo de três músicas que acabaram valendo para o disco. Em 2009, voltamos para lá. Gravamos mais 10 músicas. O disco foi produzido pelo Sérgio Mendes, que gostou muito do nosso trabalho. Ele bancou esse disco, falou que queria lançar. Ele tinha o contato de uma gravadora que era quente. Mas foi justamente naquela época da grande crise das gravadoras americanas. De uma hora para outra, a gravadora não tinha mais dinheiro, o lançamento foi cancelado e o disco, ficou parado. Ano passado, a gente conseguiu pegar o master e deu uma força para lançar. Acho que vai se lançado no ano que vem.

VIOLÃO+: Ele está bem encaminhado! Aragão: Pois é, em 2013 a gente lançou

o Pairando e, em 2014, o Canela.

Chaves: Na verdade, o Canela a gente

gravou antes do Pairando, lá no Peru. O Pairando a gente gravou depois, aproveitando os 150 anos de (Ernesto) Nazareth. Mas lançamos o Canela depois. E o Canela, na verdade, foi gravado com cinco violões.

VIOLÃO+: Foi com cinco?

Aragão: Cinco violonistas, pois o

Sérgio gravou também. O Sérgio é peruano fazendo um disco de música latino-americana. Ele foi mais que um quinto violonista, foi um diretor musical. A maior parte dos arranjos é dele.

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VIOLÃO+: Ouvi no show que vocês falaram inclusive sobre acertos de andamentos...

Aragão: Exatamente! Foi muito legal a

gente ter gravado lá no Peru, foi uma coisa que ele sugeriu e foi o melhor para o trabalho.

Chaves: Foi um mergulho na cultura

latino-americana. Ter todo aquele ambiente musical perto faz toda a diferença.

VIOLÃO+: Nessa, entra o Renato

(Braz). Como foi essa união, essa combinação?

Braz: A gente já frequentava os shows

uns dos outros. E já faz um bom tempo, desde 2002, 2003. No meio dessas andanças, surgiu a ideia de gravar, não sei bem de onde que veio. Eu também queria cantar o repertório latino-americano. Aí, surgiu a ideia de fazer um trabalho todo dedicado à música da América latina.

Aragão: Isso foi em 2011. De lá para

cá, ficamos pesquisando uns dois anos. Não é a nossa praia, vamos dizer assim. Ficamos pesquisando esse material. o Sérgio mostrando muita coisa pra gente. Levamos até mais tempo do que o normal ensaiando, descobrindo, porque era um idioma diferente. Então, levamos dois anos até começarmos a gravar.

VIOLÃO+: Esse trabalho toca muito

na questão emocional, tanto pela voz do Renato quanto pela integração de vocês!

Aragão: Realmente ficamos muito felizes

e orgulhosos com o resultado desse disco. Em todos aspectos, foi tudo muito

cuidadoso, a escolha do repertório...

Marques: A gente ouviu muita coisa,

foi se apaixonando, ouvia juntos a cada show. Uma imersão mesmo. A gente deu esse tempo, foi se maturando.

Chaves: Ter gravado no Peru também

fez grande diferença, pois o Sérgio nos levou para assistir a shows de música local. Foi sensacional! Fez diferença no resultado do nosso trabalho, e muita.

Marques: Há uma coisa, diferente da

questão técnica, da capacidade técnica de tocar ou de ler bem, de arranjar: quando se reporta a outro idioma, você tem que entender e pensar na música. E aprender a música requer essa maturação, apesar de a gente ter tocado há mais tempo com o Renato outras músicas do repertório, houve essa demora na preparação. Um grande aprendizado para todo mundo, eu acho. Achar o som.

VIOLÃO+: Buscar 7, 8 cordas, violão

requinto, como é que é essa história? Chaves: Acredito que veio de uma

necessidade, mesmo. No primeiro disco, a gente gravou tudo com violões de 6 cordas. Teve uma música que o Sérgio fez com o requinto, um improviso numa faixa. A gente sentiu que era bacana, outra sonoridade. E a gente querendo expandir a tessitura, tanto mais para o agudo quanto mais para o grave, acabou que, no outro disco, a gente já encomendou um violão requinto e um de 8 cordas. O requinto, no caso, o Tardelli tocava. O violão de 8, o Paulo assumiu.

Aragão: O que acontecia era isso: com

quatro violões, quatro instrumentos iguais, a gente tem que ficar buscando regiões para enriquecer o som. Na verdade, esses instrumentos que trabalham mais

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no grave e mais no agudo facilitam os arranjos. Com os violões de 6, já era assim: muda a afinação da sexta corda para Ré, para Dó, para Si...ficava uma loucura, tudo muito complicado...

Chaves: Sem contar que nem afinava

direito. No fim da música, o Dó já estava quase um Ré (risos).

VIOLÃO+: Todo mundo que trabalha

com arranjo gosta de ter mais tessitura. E vocês, com todos esses instrumentos diferentes, trabalham com o mesmo luthier?

Aragão: Sim, desde 2006, 2007, a gente

encomendou os violões do Lineu Bravo. Todos os violões usados pelo Maogani são feitos por ele. Dois de 8, um de 7, o Marquinhos ficou com o de 6, tem o requinto também.

VIOLÃO+: A exceção virou o violão

de 6! (risos). Agora, vamos para o inusitado: vocês estão aqui, hoje, no Sesc Belenzinho (São Paulo), em um quarteto de três. Como é essa história e como lidar com um problema desses?

Aragão: Mas todo mundo sabe que

quarteto tem três pessoas! (risos). Só tu

Luizinho com Euclides Marques

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que não tá sabendo disso! Não sei o que tem de inusitado nisso...(risos)

Maurício: Também é o teste para o

Renato entrar para o quarteto como violonista!

VIOLÃO+: Renato, muito da sua

carreira é com o violão no colo. E aí, tem jeito?

Braz: Pois é, mas nesse vestibular eu

não vou passar, eles tocam muito! Mas eu me contento cantando, já está bom! É um lugar privilegiado.

Aragão: Mas é verdade, inusitado

mesmo, em vinte e dois anos de carreira do grupo, nunca tinha acontecido isso. Num outro tipo de trabalho, você pode chamar um “sub” (substituto), o cara lê e tal... O nosso trabalho não dá para ter sub, porque é uma situação muito diferente. Os arranjos são fechados, escritos, mas a gente mexe muito neles. O que está na partitura já não corresponde exatamente ao que tocamos.

Marques: E também não é só a leitura:

tem a respiração, a musicalidade...não dá para ter sub.

Aragão: Nossa sorte é que foi num

show com a voz do Renato. Se fosse um totalmente instrumental, dificilmente conseguiríamos fazer. Com voz, a gente fica mais à vontade, pode mexer nisso ou naquilo de última hora. Mas quando é só com os violões, fica impossível. Tanto que, das peças instrumentais previstas para hoje, a gente vai fazer uma só. E tivemos que adaptar. A gente teve que mexer no repertório. Hoje vai ser um show diferente, apesar de a proposta de fazer um show praticamente igual ao da Caixa Cultural. Uma das músicas com a voz acabou tendo que ser substituída,

pois o arranjo exige demais dos quatro violonistas, não teria como fazer.

Chaves: Tivemos que trocar uma ou

duas músicas, adaptamos o que dava para adaptar. Ontem ficamos adaptando, ensaiando, hoje também.

Marques: Também essa convivência que temos ajudou muito: buscamos coisas antigas, revisitamos músicas de outros repertórios...

Aragão: Respeitamos ao máximo o

repertório do disco Canela, mas a história do Maogani ajudou a gente a montar o show novamente. Então, é um pouco diferente, mas está sendo legal. A gente está quase ligando pro Marquinhos e falando: cara, foi legal, mas você dançou! (risos)

Marques: Então, a gente não sentiu

falta. (risos)

Chaves: a gente queria agradecer a sua

participação (risos). A partir de agora, você é participação especial (risos).

Braz: Coloquei no Facebook que o

quarteto finalmente me aceitou como violonista, tem gente me dando parabéns (risos).

VIOLÃO+: Então, hoje, vamos ter:

dois violões de 8, um 7...

Aragão: Na verdade, eu e o Maurício,

que estamos com os violões de 8, nem lembramos disso. Há músicas em que não utilizamos toda a extensão, mas nem por isso vamos mudar para o violão de 6.

Marques: Trocar de instrumento por isso

não faz sentido. Faz muito tempo que estou mais com o de 8. Há essa coisa espacial do violão: você se acostuma. S a música precisa só de 6 cordas, vou no de 8 mesmo. Pensa: não vou usar

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essa região aguda do piano, então corta o piano ali (risos).

VIOLÃO+: E sobre esse disco gravado

fora há tanto tempo, que vai finalmente chegar até nós?

Aragão: É um disco com um repertório

mais conhecido. Gravamos clássicos da música brasileira, regravações de discos antigos, além de participações especiais muito bacanas: Hamilton de Holanda, Airto Moreira, Marcos Suzano... É um disco bem diferente dos que a gente tem feito. A gente gravou o Impressão de Choro, gravamos coisas desde Callado até Hermeto Pascoal, a gente fez um passeio por todo esse universo, com pouquíssimos clássicos. No disco do Nazareth, a gente praticamente só

passou pelo “Lado B”, a gente mergulhou, pesquisou. Já esse disco é um pouco diferente, porque tem clássicos, além de algumas músicas americanas. Era um disco para penetrar no mercado americano. Era para ser um cartão de visitas do Maogani por lá. É um disco bem bacana. Ficou um resultado muito bom, o som está ótimo, o pessoal lá tem os microfones, os equipamentos...

VIOLÃO+: E há previsão de quando

ele estará no mercado?

Chaves: Acredito que no ano que vem.

Aragão: Falta um acertinho de edição, mixar, masterizar e, fundamentalmente, arrumar dinheiro para finalizar o processo. Vamos ver, temos expectativa de que ele saia em abril ou maio de 2017.

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Incentivar o interesse pelo novo é a única maneira possível de progredir e espero com esta obra ter contribuído de alguma maneira para a formação de nossos alunos

Este artigo tem por objetivo continuar a brilhante exposição que Thales Maestre fez sobre os meus 30 Duos Fáceis na

edição anterior de Violão+. Thales

tem toda a razão: os meus estudos anteriores - 28 Estudos por Posições, 12 Estudos Populares e 24 Estudos Modais - sempre foram considerados difíceis. Ainda que fossem normalmente tocados os 10 primeiros dos 28 Estudos Por Posições, “Solidão” (Estudo nº6), dos 12 Estudos Populares, e os estudos “Lídio” e “Eólio” dos 24 Estudos Modais, eles realmente são complicados, tanto tecnicamente quanto musicalmente.

No mesmo ano em que compus os 30 Duos Fáceis, por encomenda de Jorge Elias, coordenador de violão do Projeto Guri na época, escrevi um Método de Violão com algumas ideias diferentes. Infelizmente esse método ainda não foi editado, mas escrevê-lo exigiu de mim uma reelaboração do conceito de “Estudo Básico” para violão. Daí nasceram as 52 Pecas Fáceis.

A Obra

As 52 Peças Fáceis têm por objetivo principal desenvolver no estudante

52 peças fáceis

para violão

não só a técnica básica do instrumento como também fazê-lo desenvolver-se na linguagem da música atual. Estão todas escritas nas primeiras posições do braço do violão, o que simplifica não só a leitura como a compreensão imediata da obra.

Sem jamais desvalorizar o material didático do passado (em especial aquele produzido na ‘Era de Ouro’ do violão, século 19), acredito que o trabalho com estudos modernos dirige mais facilmente o aluno no trabalho que o levará a abordar o repertório contemporâneo.

Acho da maior importância tocar obras dos séculos 20 e 21, nossa época. Mas a discussão desse assunto poderá ficar para outra ocasião. Vamos nos deter nas 52 Peças Fáceis.

A obra é dividida em seis partes: • Exercícios Introdutórios (1-7)

• Elementos da Técnica Violonística (8-22)

• Ostinatos (23-27)

• Exercícios Melódicos (28-38) • Intervalos (39-45)

• Formas Musicais (46-52)

Referências

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