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VARA DA AUDITORIA JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL

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Academic year: 2021

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AÇÃO ORDINÁRIA DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE ATO ADMINISTRATIVO C/C REINTEGRAÇÂO EM CARGO PÚBLICO E INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS N° 0027858-58.2014.8.16.0013

AUTOR: MARCOS SALVATI RÉU: ESTADO DO PARANÁ

RELATÓRIO

Marcos Salvati ajuizou a presente Ação Ordinária, a qual nominou de Declaratória de Nulidade de Ato Jurídico c/c reintegração em cargo público e indenização por danos materiais e morais contra do Estado do Paraná, aduzindo, em síntese, que:

1) foi submetido ao Conselho de Disciplina nº 023/2010, em decorrência de ter, em tese, presenciado agressão física de um colega militar, o Sd. César Silvério dos Santos, contra adolescentes e a uma mulher, sem ter intervindo para cessá-la, bem como, por ter ativamente agredido dois menores;

2) o Conselho de Disciplina, por unanimidade, opinou pela permanência do Autor nas fileiras da PMPR em razão das divergências existentes entre as versões dos depoimentos apresentadas quanto à existência ou não da omissão frente às agressões praticadas pelo seu colega;

3) inobstante o parecer do Conselho de Disciplina e o próprio reconhecimento pelo Comandante-Geral da PMPR de que não havia provas de agressão física cometida pelo Autor, concluiu a autoridade da força militar estadual, por bem, excluí-lo dos quadros da corporação, a bem da disciplina;

4) tal decisão violou os princípios da legalidade e proporcionalidade, por deixar de observar circunstâncias atenuantes na dosimetria da punição disciplinar;

5) inexistiu conduta omissiva capaz de configurar falta grave que pudesse determinar a exclusão do Autor das fileiras da PMPR;

6) não há enquadramento da conduta do Autor nas hipóteses legais constantes no libelo acusatório;

7) diante da nulidade do ato administrativo de exclusão, devem ser ressarcidas todas as vantagens devidas ao Autor, desde a data de publicação da decisão de exclusão, acrescendo-se ainda a indenização por danos morais, por ter o militar sofrido danos à sua honra e imagem.

Ao final, o Autor formulou o pedido de procedência do pedido, com a declaração de nulidade da decisão demissionária, a consequente

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morais. Juntou documentos.

Pela decisão colacionada ao Evento 6.1 foi concedido ao Autor o benefício da assistência judiciária gratuita.

Devidamente citado, conforme mandado constante no evento 7.1, o Estado do Paraná contestou a ação no evento 12.1, arguindo, em síntese, que: 1) não há violação ao princípio da legalidade ou da proporcionalidade na decisão administrativa ora atacada; 2) a discordância parcial do Comandante da PMPR em relação às investigações não configura fundamento para a suposta divergência de versões dos fatos; 3) as circunstâncias atenuantes não são aptas a manter um policial que perdeu as condições de permanecer nas fileiras da PM; 4) o libelo acusatório não precisa esgotar a fundamentação jurídica e sim os fatos.

Ao final requereu a improcedência total do pedido.

Concedida vista ao órgão Ministerial no evento 13.0. Manifestação do parquet no evento 15.1 pugnando pela desnecessidade de sua intervenção no feito.

Vieram-me conclusos. MOTIVAÇÃO

A demanda comporta julgamento antecipado, nos termos do art. 330 I do CPC, uma vez que a matéria a ser apreciada por este juízo é tão somente de direito.

Inicialmente, o Autor sustenta que efetivamente participou da abordagem realizada a menores de idade acusados de perturbação do sossego e embriaguez na cidade de Palmas-PR, juntamente com o Sd. César Silvério dos Santos.

Contudo, alega que não tomou parte das agressões promovidas pelo seu colega aos menores, nem a qualquer outra pessoa.

Argumenta que eventual omissão no exercício de sua função frente à referida conduta teria se dado em razão de um inequívoco descontrole emocional do Sd. César quando do momento da abordagem, bem como, pelo fato deste estar armado.

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Sustentou que tal condição colocaria em risco sua própria integridade no caso de uma investida mal sucedida, mas que ainda assim, tentou persuadir o colega a parar, por pelo menos duas vezes.

Além disso, sustenta que a decisão administrativa afrontou os princípios da legalidade e da proporcionalidade, haja vista que houve rigor excessivo na pena de exclusão determinada pelo Excelentíssimo Comandante-Geral da PMPR em exercício, Coronel QOPM César Alberto Souza, quando no caso estavam presentes unicamente circunstâncias atenuantes.

Na esfera administrativa, é atribuição do Conselho de Disciplina, nos termos do que define a Lei Estadual n.º 16.544/2010 em seu art. 4º, II:

Art. 4º. O processo disciplinar compreende: (...)

II - Conselho de Disciplina, destinado a julgar a capacidade de praça especial ou de praça, ativa ou inativa, com mais de 10 (dez) anos de serviço prestados à Corporação para permanecer, nas fileiras da PMPR, na condição em que se encontra;

Assim, uma vez provada na esfera administrativa a prática da infração, segundo o entendimento da autoridade processante, em procedimento que observe os princípios constitucionais e administrativos incidentes na espécie, presume-se legal a penalidade imposta.

No caso em concreto, entretanto, tenho certo que a sanção aplicada ao Autor padece de nulidade, por violação aos princípios da razoabilidade e proporcionalidade, comportando revisão por esse juízo.

Com efeito, o controle do ato judicial varia conforme seja o ato administrativo classificado em discricionário ou vinculado.

Com relação aos atos vinculados, “não existe restrição, pois, sendo todos os elementos definidos em lei, caberá ao Judiciário examinar, em todos os seus aspectos, a conformidade do ato com a lei, para decretar a sua nulidade se reconhecer que essa conformidade inexistiu”.1

Quanto aos atos discricionários, também se admite controle pelo Poder Judiciário, desde que, porém, seja respeitada a discricionariedade

1 Direito Administrativo – Maria Sylvia Zanella Di Pietro – 20ª Edição – Editora Atlas AS – p. 202

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lei.

Isto ocorre precisamente pelo fato de ser a discricionariedade um poder delimitado previamente pelo legislador; este, ao definir determinado ato, intencionalmente deixa um espaço para livre decisão da Administração Pública, legitimando previamente a sua opção; qualquer delas será legal. Daí porque não pode o Poder Judiciário invadir esse espaço reservado, pela lei, ao administrador, pois, caso contrário, estaria substituindo, por seus próprios critérios de escolha, a opção legítima feita pela autoridade competente com base em razões de oportunidade e conveniência que ela, melhor do que ninguém, pode decidir diante de cada caso em concreto”.2

Assim, em linhas gerais, nos atos discricionários, o Judiciário pode declarar a sua nulidade se verificar que a Administração ultrapassou os limites da discricionariedade. Esta – discricionariedade – evidencia-se no motivo e no conteúdo do ato administrativo.

Segundo Maria Sylvia Zanella Di Pietro, “será discricionário quando a lei define o motivo utilizando noções vagas, vocábulos plurissignificativos, os chamados conceitos jurídicos indeterminados, que deixam à Administração a possibilidade de apreciação segundo critérios de oportunidade e conveniência administrativa; é o que ocorre quando a lei manda punir o servidor que praticar “falta grave” ou “procedimento irregular”.3

No caso em concreto, diversas expressões constantes em regulamentos e empregadas no ato de punição do militar não foram expressamente definidas pelo legislador e constituem conceitos jurídicos indeterminados, devendo ser aplicados conforme o discernimento da autoridade, de modo a consagrar os valores que a instituição que representa deve preservar.

Vale dizer que a decisão ora impugnada, pela qual foi aplicada punição ao Autor, tem natureza jurídica de ato administrativo discricionário. Sendo assim, não pode o Poder Judiciário invadir o mérito deste ato caso ele seja idôneo.

O Judiciário, quando provocado, deve tão somente verificar se os motivos determinantes são verídicos e se não há mácula aos princípios administrativos da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, eficiência, razoabilidade, proporcionalidade e supremacia do interesse público.

2 Direito Administrativo – Maria Sylvia Zanella Di Pietro – 20ª Edição – Editora Atlas AS – p. 202. 3 Direito Administrativo – Maria Sylvia Zanella Di Pietro – 20ª Edição – Editora Atlas AS – p. 200.

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No caso em tela, vislumbro que o procedimento administrativo de Conselho de Disciplina observou todas as etapas e trâmites previstos na legislação vigente. Além disso, o contraditório foi exercido em plenitude pelos militares estaduais, tanto que sequer a exordial menciona qualquer mácula nesse sentido.

No que tange aos princípios da razoabilidade e proporcionalidade, especialmente tratando-se de ato punitivo, cabe ao juiz ponderar se ato administrativo foi expedido observando os padrões médios e aceitáveis ou, eventualmente, os indicativos previstos em lei para a aplicação da sanção administrativa, sob pena de considerar-se equivocado, sujeito à anulação. No âmbito militar, a edição de ato punitivo pela Administração Castrense observa as regras dispostas no Regulamento Disciplinar do Exército, que é expresso ao determinar que a penalidade aplicada seja proporcional à gravidade da transgressão:

Art. 37. A aplicação da punição disciplinar deve obedecer às

seguintes normas:

I - a punição disciplinar deve ser proporcional à gravidade da transgressão, dentro dos seguintes limites:

a) para a transgressão leve, de advertência até dez dias de impedimento disciplinar, inclusive;

b) para a transgressão média, de repreensão até a detenção disciplinar; e

c) para a transgressão grave, de prisão disciplinar até o licenciamento ou exclusão a bem da disciplina;

...

A transgressão pela qual o Autor foi formalmente acusado e apenado com a exclusão pelo Conselho de Disciplina nº 023/2010, diz respeito à omissão frente à conduta do Sd. César Silvério dos Santos quando da abordagem de jovens pretensamente infratores.

Extrai-se do depoimento dado pelo Oficial Agnaldo César Ferreira, nos autos do Conselho de Disciplina (Evento 1.35), que o Autor procurou a testemunha no dia seguinte ao ocorrido para relatar o fato, denunciando os abusos praticados pelo colega e argumentando que não tentou impedir o ato por motivos de segurança, conforme se extrai do trecho em destaque:

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Tal conduta demonstra que o Autor efetivamente preocupou-se com os abusos perpetrados pelo companheiro de farda, de modo que a reação que teve não pode ser enquadrada como omissão no seu dever de agir, justamente por ter relatado o ocorrido para a autoridade competente logo na sequência.

Verifica-se que o Comandante-Geral aplicou ao Autor, embora não tendo sido comprovado que participou ativamente das agressões, a mesma penalidade imposta ao outro militar (soldado César), cuja agressão restou devidamente comprovada pelos depoimentos colhidos.

Ainda que desejável num plano ideal, a prática de conduta comissiva do Sd Salvati para coibir as agressões perpetradas pelo companheiro de farda (Sd César), verifica-se que objetivamente a questão não era tão simples.

Primeiramente, tem-se que a equipe policial militar era composta por apenas dois homens, ambos armados em igualdade de condições, o que deixa claro que o autor não tinha superioridade de forças para agir com absoluta segurança.

O segundo ponto a ser destacado, é que induvidosamente havia civis no local dos fatos, sendo certo que um confronto, armado ou não, entre os militares, traria desdobramentos imprevisíveis ao desfecho da abordagem, inclusive, com iminente risco à integridade física das pessoas que estavam no local.

Somente por este segundo motivo, estaria justificada eventual comportamento retraído e cauteloso do Sd Salvati, de modo a evitar ofensa à integridade física de civis.

Em terceiro lugar, destaca-se que César Silvério dos Santos era o soldado mais antigo, conforme demonstram os documentos juntados aos autos, portanto, exercia naturalmente a chefia da equipe e tinha precedência

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hierárquica sobre o autor Marcos Salvati, nos termos do disposto no art. 14 § 1º da Lei nº 6880/80 (estatuto dos militares).

O quarto aspecto a ser observado é que a decisão do Comandante-Geral em exercício, Coronel QOPM César Alberto de Souza, aplicou ao Autor, mesmo não havendo prova de que tenha atentado contra a integridade física de quem quer que seja, a mesma penalidade imposta ao outro militar (soldado César), que reconhecidamente agrediu fisicamente os adolescentes ofendidos.

Por fim, a quinta observação a ser feita é que nenhuma circunstância agravante pesa contra o Sd Salvati no caso em tela.

Assim, com as mais sinceras escusas ao nobre Comandante-Geral da PMPR em exercício, Coronel QOPM César Alberto de Souza, concluo que a exclusão do Autor Sd Marcos Salvato foi excessiva e não guardou relação necessária com os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade, merecendo assim a devida anulação.

Nesse sentido, é assente a jurisprudência:

ECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. MILITAR. EXCLUSÃO. OITIVA DE TESTEMUNHAS DE DEFESA E ACUSAÇÃO. INVERSÃO. AUSÊNCIA DE PREJUÍZO. JUNTADA POSTERIOR DE DOCUMENTOS PELA COMISSÃO PROCESSANTE. IRRELEVÂNCIA PARA O RESULTADO DO PROCESSO ADMINISTRATIVO. NULIDADE AFASTADA. COMANDANTE-GERAL DA POLÍCIA MILITAR. COMPETÊNCIA. BIS IN IDEM. INOCORRÊNCIA. ATO DEMISSIONAL. AUSÊNCIA DE MOTIVAÇÃO. INOVAÇÃO RECURSAL. PENALIDADE.

EXCLUSÃO. DESPROPORCIONALIDADE. (...)

VI - Esta c. Corte pacificou entendimento segundo o qual, mesmo

quando se tratar de imposição da penalidade de demissão, devem ser observados pela Administração Pública os princípios da razoabilidade e proporcionalidade e individualização da pena

(Precedentes: MS 13.716/DF, 3ª Seção, de minha relatoria, DJe de 13/02/2009 MS nº 8.693 / DF, 3ª Seção, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, DJe de 8/5/2008; MS nº 7.260 / DF, 3ª Seção, Rel. Min. Jorge Scartezzini, DJ de 26/8/2002 e MS nº 7.077 / DF, 3ª Seção, Rel. Min. Edson Vidigal, DJ de 11/6/2001).

VII - Na espécie, revela-se desproporcional e inadequada a

penalidade de exclusão imposta ao recorrente, tendo em vista os antecedentes funcionais, a ausência de prejuízo ao serviço público, bem como a comprovada boa-fé. Além do mais, quando da

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se mostravam de difícil percepção. Recurso ordinário provido.

(RMS 28.487/GO, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 10/03/2009, DJe 30/03/2009)

Quanto aos danos materiais requeridos na inicial, conforme entendimento assente do Egrégio Superior Tribunal de Justiça, havendo reconhecimento judicial da nulidade do ato administrativo, impõe-se o pagamento das parcelas remuneratórias pretéritas relativas a todo o período entre a exclusão e a efetiva reintegração do militar.

Nesse sentido, cita-se:

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. MILITAR. ALIENAÇÃO MENTAL. IMPOSSIBILIDADE DE VERIFICAÇÃO. REEXAME DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO. SÚMULA 7/STJ. PRESCRIÇÃO. SUSPENSÃO DO PRAZO. ART. 198, I, DO CC. PAGAMENTO DE PARCELAS PRETÉRITAS. POSSIBILIDADE. JUROS MORATÓRIOS CONTRA A FAZENDA PÚBLICA. LEI N. 11.960/09 QUE ALTEROU O ART. 1º-F DA LEI N. 9.494/97. APLICAÇÃO IMEDIATA. EFEITOS RETROATIVOS. IMPOSSIBILIDADE. MATÉRIA JULGADA SOB O RITO DO ART. 543-C DO CPC. (...) 3. Constatada a ilegalidade do ato administrativo que excluiu o militar, é

legítimo o pagamento das parcelas pretéritas relativas ao período que medeia o licenciamento ex officio e a reintegração do militar. Precedentes: AgRg no REsp 1.168.919/RS, Rel. Min. Laurita Vaz, Quinta Turma, DJe 16/8/11; AgRg no REsp 1.211.013/RS, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe 4/2/11; REsp 1.000.461/RS, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, Quinta Turma, DJ de 18/5/09. (...)

(AgRg no REsp 1270630/RS, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado em 16/02/2012, DJe 23/02/2012)

ADMINISTRATIVO. MILITAR. ENFERMIDADE INCAPACITANTE. REFORMA. SÚMULA 7/STJ. OFENSA AO ART. 535 DO CPC NÃO CONFIGURADA. JULGAMENTO EXTRA PETITA NÃO CARACTERIZADO. ATO ILEGAL DE EXCLUSÃO DO MILITAR. PAGAMENTO DE PARCELAS PRETÉRITAS. POSSIBILIDADE. INOVAÇÃO RECURSAL EM AGRAVO REGIMENTAL. INVIABILIDADE. (...) 3. Constatada a ilegalidade do ato administrativo que

excluiu o militar, é legítimo o pagamento das parcelas pretéritas relativas ao período que medeia o licenciamento ex officio e a reintegração do militar. Precedentes do STJ. (...) (AgRg no REsp 1211013/RS, Rel. Ministro HERMAN

BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, DJe 04/02/2011, grifo nosso).

Assim, deverá o Estado reparar o dano material desde a exclusão do Autor, como se não excluído estivesse, com todos os direitos e benefícios a que teria direito.

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Contudo, acerca do pleito de danos morais, o Egrégio Tribunal de Justiça do Paraná possui decisões no sentido de que a exclusão e posterior reintegração do militar aos quadros da Corporação, por si só, não configura dano moral indenizável.

Para que nasça o dever de indenizar, faz-se necessária a presença dos requisitos da responsabilidade civil: o dano sofrido pela pessoa, o ato ilícito que resultou nesse dano e o nexo de causalidade entre o ato e o dano por ele produzido.

Não se verifica, no caso concreto, a ocorrência de um dano à moral e à honra do postulante, a ocasionar sentimentos contundentes de dor, humilhação ou sofrimento, mas, tão-somente, a existência de um desconforto ou aborrecimento ocasionado pelo procedimento administrativo a que ele próprio deu motivo, o que não enseja a reparação por danos morais, recordando que haverá integral reparação do dano material.

Nesse sentido, cita-se:

DIREITO ADMINISTRATIVO. POLICIAL MILITAR REINTEGRADO NO CARGO POR DECISÃO JUDICIAL.DIREITO À RESTITUIÇÃO DOS SALÁRIOS E DAS VANTAGENS REFERENTE AO PERÍODO EM QUE FICOU AFASTADO DE SUAS FUNÇÕES. PRINCÍPIO DO "RESTITUTIO IN INTEGRUM". DANOS MORAIS. NÃO CONFIGURAÇÃO. a) É certo que o servidor público reintegrado no cargo do qual fora expulso tem direito à restituição integral dos vencimentos e das vantagens desde sua demissão até sua reintegração, nos termos dos artigos 271 e 272, da Lei nº 1943/1954 (Código da Polícia Militar do Paraná). b) É bem de ver, ainda, que a reintegração do

Autor, por si só, não enseja a caracterização de danos morais, na medida em que

provém de fato superveniente à sua exclusão, sentença absolutória na instância penal, a qual repercute na esfera administrativa, a fim de manter o equilíbrio e a coerência entre as decisões sancionatórias proferidas a respeito de um mesmo fato. c) Ademais, no caso, não se vislumbra, que o Autor tenha experimentado

dissabor que ultrapassasse, dentro de um juízo de razoabilidade, a esfera do mero aborrecimento, ao quais todos se sujeitam na vida em sociedade e no cargo

em que ocupava. (TJ-PR - REEX: 9403310 PR 940331-0 (Acórdão), Relator: Leonel Cunha, Data de Julgamento: 23/10/2012, 5ª Câmara Cível, grifo nosso)

Assim, não havendo a comprovação de que o Autor tenha sido ofendido em sua honra pelo ato administrativo por ele apontado na exordial, não há que se falar em condenação do Réu à reparação dos danos morais, tendo em vista inexistir prova acerca da lesão alegada.

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Pelo exposto, com base no art. 269 I do CPC, julgo PARCIALMENTE PROCEDENTE a presente ação movida por MARCOS SALVATI contra o ESTADO DO PARANÁ, para anular o ato administrativo de exclusão e determinar a reintegração de Marcos Salvati ao cargo militar que ocupava na PMPR, ou seja, Soldado QPM 1-0 (art. 271 do Código da PMPR).

Ficará a critério da autoridade administrativa a substituição da penalidade por outra menos gravosa e que guarde relação com a conduta praticada e com os critérios estabelecidos pela lei.

Condeno a Fazenda Pública estadual a pagar a título de danos materiais todas as remunerações e gratificações a que teria direito Marcos Salvati e que deixou de receber, desde a sua exclusão até a efetiva reintegração, incluindo eventual adicional por tempo de serviço, férias e 13º salário.

Para fins de atualização monetária, remuneração do capital e compensação da mora será aplicado o art. 1º-F da Lei nº 9494/97. Os índices incidirão a partir da data em que cada pagamento deveria ter ocorrido em favor do militar excluído.

Condeno o Réu ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios da parte Autora que arbitro em R$1.000,00 (mil reais) em observância ao artigo 20, §4º do CPC. 4

Evidentemente, a condenação ultrapassa o limite previsto no art. 475 § 2º do CPC, sujeitando-se ao duplo grau de jurisdição. Assim, caso não haja recurso voluntário, encaminhem-se ao Egrégio TJPR para reexame necessário. Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Ciência ao Ministério Público e ao Comandante-Geral da PMPR. Curitiba, 11 de agosto de 2015.

DAVI PINTO DE ALMEIDA Juiz de Direito

4 "O fato de o Estado do Paraná deter a competência tributária para instituir tributos, tais como as taxas judiciárias

(custas processuais), não o exime da obrigação de pagá-las, em eventual condenação judicial".

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